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1 ANAIS ISSN: XV SEMANA DE ECONOMIA DA URCA ESCASSEZ DE RECURSOS HÍDRICOS E GRANDES PROJETOS ECONÔMICOS NO NORDESTE UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI, URCA ÁREAS TEMÁTICAS DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL AGROPECUÁRIA NORDESTINA E RECURSOS HÍDRICOS RECURSOS HÍDRICOS E POLÍTICAS PÚBLICAS GRANDES PROJETOS NO NORDESTE INFORMAÇÕES: Vol ISSN:

2 XV SEMANA DE ECONOMIA ESCASSEZ DE RECURSOS HÍDRICOS E GRANDES PROJETOS ECONÔMICOS NO NORDESTE REALIZAÇÃO: APOIO: Ficha Catalográfica Elaborada pela Biblioteca Central da URCA XV semana de economia da URCA (15.:2015:Crato-CE) U74 Anais da XV semana de economia da URCA, de 12 a 15 de agosto de 2015, Crato-CE: escassez de recursos hídricos e grandes projetos econômicos no Nordeste/ organizadores: Wellington Ribeiro Justo, Denis Fernandes Alves, Maria Isadora Gomes de Pinho. Crato-CE: URCA, p.; il. Vol ISSN: Economia; 2. Semana de Economia; 3. Recursos hídricos escassez; 4. Desenvolvimento Regional; 5. Políticas públicas. I. Justo, Wellington Ribeiro; II. Alves, Denis Fernandes; III. Pinho, Maria Isadora Gomes de; IV. Universidade Regional do Cariri - URCA; V. Título. CDD: 330 2

3 EDITORIAL PRESIDENTE DA COMISSÃO ORGANIZADORA Denis Fernandes Alves COMISSÃO GERAL Prof. Dr. Francisco do O de Lima Jr. Prof. Dr. Marcos Antônio de Brito José Álison Batista Oliveira Maria Valeria da Silva Freire COMISSÃO CIENTÍFICA Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo Denis Fernandes Alves Susiane da Silva Bezerra COMISSÃO INFRAESTRUTURA Antonio Bruno Fernandes Marcelino Yunna D ávila C. Batista COMISSÃO ORGANIZADORA DOCENTES Prof. Dr. Wellington Ribeiro Justo Prof. Dr. Marcos Antônio de Brito Prof. Dr. Francisco do O de Lima Jr. DISCENTES Antonio Bruno Fernandes Marcelino Denis Fernandes Alves Eduardo Benício do Nascimento José Álison Batista Oliveira Maria Valeria da Silva Freire Matheus Oliveira de Alencar Samuel Sousa Santos Susiane da Silva Bezerra Tayná Parente Timóteo Yunna D ávila Carvalho Batista COMISSÃO DIVULGAÇÃO Samuel Sousa Santos Tayná Timóteo Parente COMISSÃO LOGÍSTICA Matheus Oliveira de Alencar Eduardo Benício do Nascimento 3

4 SUMÁRIO ARTIGOS DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS Nº Título e Autores Pg. 01. IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS NO ESTADO DO CEARÁ NOS ANOS 2006 E 2012 VIA ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO NORMALIZADO (ICN) Maria Daniele Cruz dos Santos, Otácio Pereira Gomes, Alan Marcel Braga Feitosa e Domingos Isaias Maia Amorim INDUSTRIALIZAÇÃO NAS MACRORREGIÕES BRASILEIRAS: CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO À LUZ DOS INCENTIVOS FISCAIS Julio Cesar Martins da Silva e Luís Abel da Silva Filho PANORAMA DA INDÚSTRIA NAS MACRORREGIÕES BRASILEIRAS: ANÁLISE A PARTIR DE MEDIDAS DE LOCALIZAÇÃO Julio Cesar Martins da Silva e Luís Abel da Silva Filho IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS NO ESTADO DO CEARÁ: UMA ABORDAGEM PARA O PERÍODO Cicero Jair Sales Alencar, Carlos Henrique Miranda de Alencar e José Márcio Dos Santos 05. PRODUÇÃO E ÁREA PLANTADA DA MAMONA NO ESTADO DO CEARÁ: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE VETORES AUTORREGRESSIVOS (VAR) José Bruno Tavares Macedo Simões, Wellington Ribeiro Justo e Otácio Pereira Gomes 06. ANÁLISE DA PRODUÇÃO DAS PRINCIPAIS CULTURAS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO CEARÁ: CONSIDERAÇÕES PARA O PERÍODO 1990 A 2011 COM O MODELO SHIFT SHARE Nataniele dos Santos Alencar, Wellington Ribeiro Justo e Kelvio Felipe dos Santos 07. COMPARAÇÃO DOS EFEITOS DISTRIBUTIVOS DO SALÁRIO MÍNIMO NO MERCADO DE TRABALHO BAIANO E CEARENSE Joyciane Coelho Vasconcelos, Jair Andrade Araujo, Janaildo Soares de Sousa e Andréa Ferreira da Silva

5 08. ESTIMAÇÃO DOS FATORES DETERMINANTES DA TAXA MORTALIDADE INFANTIL DOS ESTADOS BRASILEIROS Janaildo Soares de Sousa, Robério Telmo Campos, Andréa Ferreira da Silva, Joyciane Coelho Vasconcelos e Gerlânia Maria Rocha Sousa 09. O IMPACTO DO PRONAF NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR DO CEARÁ Ladislau da Silva Fernandes, Wanny Vieira Pereira, Nataniele dos Santos Alencar e Wellington Ribeiro Justo ANÁLISE DO PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF) COMO FORMA DE CUSTEIO E INVESTIMENTO Gerlânia Maria Rocha Sousa, Emanoel Márcio Nunes, Andréa Ferreira da Silva e Janaildo Soares de Sousa APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUNICIPAL NAS CIDADES DA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI - CE: ANÁLISE DA DIMENSÃO ECONÔMICA Everton Paulo Gonçalves Vieira e Wellington Ribeiro Justo ARTIGOS MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Nº Título e Autores Pg EDUCAÇÃO DO CONSUMIDOR INFATOJUVENIL A FAVOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO DE CASO EM JUAZEIRO DO NORTE CEARÁ Isabelle Bezerra Bem A EMERGÊNCIA DE UMA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL NA FAZENDA BÁLSAMO NO MUNICÍPIO DE SANTANA DO CARIRI - CE Maria Aldejane Lopes Silva, Ana Roberta Duarte Piancó e Edilânio Rodrigues Macário ARTIGOS AGROPECUÁRIA NORDESTINA E RECURSOS HÍDRICOS Nº Título e Autores Pg. 14. ANÁLISE DA PRODUÇÃO E DO COMPORTAMENTO DAS EXPORTAÇÕES DE UVAS PARA O PERÍODO DE : BRASIL E PERNAMBUCO Renato Junior de Lima e Wellington Ribeiro Justo 5

6 ARTIGOS RECURSOS HÍDRICOS E POLÍTICAS PÚBLICAS Nº Título e Autores Pg. 15. AVALIAÇÃO DAS POLITICAS PÚBLICAS PARA O SEMI ÁRIDO NORDESTINO: UMA PERPECTIVA A PARTIR DA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS Priscila de Souza Silva, Francisco Demetrius Monteiro Rodrigues e José Márcio dos Santos CONSUMO SUSTENTÁVEL E CIDADANIA: UMA ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA NAS CIDADES DE CRATO E JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ Isac Alves Correia, Maria Rosa Dionisio Almeida e Otácio Pereira Gomes INSTRUMENTOS NORMATIVOS E ECONÔMICOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS: UM OLHAR SOBRE O ESTADO DO CEARÁ. Rárisson Jardiel Santos Sampaio e Ivanna Pequeno dos Santos PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS FAMÍLIAS BENEFICIADAS COM AS TECNOLOGIAS DE RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE EXU PERNAMBUCO Cicero Jair Sales Alencar, Renato Junior de Lima, Carlos Henrique Miranda de Alencar, Antonio Joandson da Silva e Wellington Ribeiro Justo VARIAÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO DAS CIDADES DO CENTRO SUL DO ESTADO DO CEARÁ, BRASIL Eldir Bandeira da Silva, Kleber Gomes de Macêdo, Anny Kariny Feitosa José Ribeiro de Araújo Neto ARTIGOS GRANDES PROJETOS NO NORDESTE Nº Título e Autores Pg. 20. A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO E SUA RELAÇÃO COM O CINTURÃO DAS ÁGUAS: OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA CIDADE DO CRATO-CE Meryelle Macedo da Silva e Antonia Eugenia de Oliveira

7 RESUMOS EXPANDIDOS DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS Nº Título e Autores Pg. 01. ANÁLISE DAS EXPORTAÇÕES DE MELÕES NOS ESTADOS DE RIO GRANDE DO NORTE E CEARÁ: José Rayres Pereira dos Santos e José Márcio dos Santos RESUMOS EXPANDIDOS MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Nº Título e Autores Pg. 02. DISPOSITIVO PRÁTICO E ECONÔMICO DE ANTI CONTAMINAÇÃO BACTERIANA E VIRAL UTILIZADO EM TORNEIRAS Joéliton José da Silva Pessoa, Cícero Victor de Almeida Souza, Francisco Guilherme Lôbo Brilhante e José Pereira Da Costa Neto 03. VALORAÇÃO ECONÔMICA DA LAGOA SANTA TEREZA NO MUNICÍPIO DE ALTANEIRA/CE Jose Adevanilton da Silva e Pedro Jose Rebouças Filho RESUMOS EXPANDIDOS AGROPECUÁRIA NORDESTINA E RECURSOS HÍDRICOS Nº Título e Autores Pg. 04. A DINÂMICA SALARIAL NA AGROPECUÁRIA REGIONAL: UM COMPARATIVO ENTRE AS REGIÕES NORDESTE SUDESTE ( ) Cicero Jair Sales Alencar, Carlos Henrique Miranda de Alencar e José Márcio Dos Santos 05. AVALIAÇÃO DO GRAU DE REMUNERAÇÃO NO SETOR AGROPECUÁRIO: UM COMPARATIVO NORDESTE E SUDESTE ENTRE 2002 A 2013 Cicero Jair Sales Alencar, Carlos Henrique Miranda de Alencar e José Márcio Dos Santos RESUMOS EXPANDIDOS RECURSOS HÍDRICOS E POLÍTICAS PÚBLICAS Nº Título e Autores Pg. 06. GARANTIAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DE GRANDES AÇUDES DO SEMIÁRIDO E SEUS IMPACTOS NA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS Renato de Oliveira Fernandes e Pedro Victor Batista de Almeida

8 ÁREA TEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS NO ESTADO DO CEARÁ NOS ANOS 2006 E 2012 VIA ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO NORMALIZADO (ICN) MARIA DANIELE CRUZ DOS SANTOS Professora do curso de economia da Universidade Regional do Cariri URCA, campus Iguatu e pós graduanda em Gestão financeira e consultoria empresarial pela URCA. danielecruzeconomia@gmail.com; Cel. (88) OTÁCIO PEREIRA GOMES Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (UFC-MAER) e atualmente é professor temporário da URCA-UDI, campus Iguatu-Ce. otaciopg@gmail.com; Cel.(88) ALAN MARCEL BRAGA FEITOSA Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Unidade Descentralizada de Iguatu (UDI). alanmarcelf@hotmail.com Cel.(88) DOMINGOS ISAIAS MAIA AMORIM Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Unidade Descentralizada de Iguatu (UDI). domingos_isaias@hotmail.com Cel. (88)

9 IDENTIFICAÇÃO DE AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS NO ESTADO DO CEARÁ NOS ANOS 2006 E 2012 VIA ÍNDICE DE CONCENTRAÇÃO NORMALIZADO (ICN) RESUMO: O presente artigo visa identificar as aglomerações produtivas (consideradas especializadas) nos anos de 2006 e 2012 no Estado do Ceará, fazendo uma análise comparativa entre dois anos. Com dados extraídos do Sistema IBGE de Recuperação Automática SIDRA, utilizando-se da metodologia do Índice de Concentração Normalizado (ICN), identificou-se um aumento no número de atividades especializadas, destacando-se o setor industrial com oito atividades entre as doze classificadas, aumento da participação do setor de serviços e redução da participação do setor agropecuário. Palavras-chave: Setores produtivos; índice de concentração; Aglomeração. ABSTRACT This article aims to identify the productive agglomerations (considered specialized) in 2006 and 2012 in the state of Ceará, making a comparative analysis of two years. With data extracted from IBGE Automatic Recovery System - CIDER, using the methodology of Normalized Concentration Index (ICN), we identified an increase in the number of specialized activities, with emphasis on the industrial sector with eight activities among the twelve classified, increased share of the services sector and reducing the contribution of the agricultural sector. Key-words: Productive sectors; Concentration Index; Clusters INTRODUÇÃO Estudar a estrutura produtiva das regiões, visando identificar aglomerações e entendê-las, para propor soluções assertivas de redistribuição de atividades e setores, bem como, para promover um planejamento local com vistas a atender as demandas regionais e aproveitar a mão-de-obra local (para implementar empreendimentos com os menores custos de produção), são algumas das premissas que estudiosos como Losch, Thünen, Weber e Isard se utilizaram para fundamentar suas teorias sobre localização das atividades socioeconômicas (FERREIRA, 1989). Para poder entender a estrutura local de formação de fatores de produção como capital e trabalho, é preciso lançar mão de algumas metodologias as quais visam identificar em que setores estes fatores estão mais concentrados em detrimento da dinâmica adotada na região. O planejamento regional necessita conhecer essa estrutura, para propor políticas que aproveitem o caráter fértil da região a ser desenvolvida, reduzindo custos com aperfeiçoamento dos meios de produção, principalmente do fator trabalho ou com atividades que não seriam tão bem aproveitadas por não atenderem a demanda da região. Não se pretende estudar profundamente a 9

10 formação econômica da dinâmica do Ceará, por já conterem diversas literaturas que se pode verificar disponíveis e ao final do trabalho como referências. A problemática que remeteu os autores desta pesquisa foi a de identificar os setores com aglomerações produtivas do Estado do Ceará nos anos de 2006 e 2012 e compará-los no período, visando a identificação de tendência à concentração das classes de atividade estudadas e de alterações que ocorreram durante esse período. O objetivo principal é conhecer e comparar os setores com aglomerações produtivas no ano de 2006 e Este estudo se justifica pelo fato de apresentar as possíveis transformações ocorridas na estrutura de empregos nos anos de 2006 para 2012, através do índice de concentração normalizado (ICN) que identifica quais os setores são mais especializados em determinadas regiões. Tem caráter exploratório e descritivo, utilizando-se do método dedutivo de investigação. Para os dados teóricos, buscou-se fontes bibliográficas em livros e artigos científicos de eventos publicados na internet. O ICN irá identificar quais classes de atividade possuem maior especialização de acordo com a metodologia proposta. Este trabalho está dividido em seis seções a contar com esta introdução. Na seção dois serão abordadas as teorias de economia regional, de localização e distritos industriais para dar embasamento ao estudo ora proposto. Na seção 3, será apresentada a dinâmica produtiva do Ceará de acordo com estudiosos na área e o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Estado do Ceará IPECE. Na seção 4, descreve-se a metodologia proposta e as fontes de dados. Na seção 5 serão discutidos os resultados e na 6ª. e última seção, apresenta-se as considerações finais. ECONOMIA REGIONAL, TEORIAS DE LOCALIZAÇÃO DE EMPRESAS E OS DISTRITOS INDUSTRIAIS O crescimento das regiões é desigual em detrimento da estrutura local tanto de disponibilidades de fatores de produção como da história da formação econômica das cidades e Estados. Essas diferenciações, se utilizadas como objeto de estudo de planejadores regionais, podem contribuir com a identificação de porque alguns setores são dinâmicos em determinadas áreas como também, entender porque esses mesmo setores podem não alavancar o desenvolvimento em outras. Haddad e Andrade (1989) explicam que o crescimento do emprego é maior em alguns setores do que em outros, e em algumas regiões do que outras. É partindo dessa análise empírica que se fundamenta este trabalho, com vista a explorar a dinâmica setorial do Estado do Ceará a 10

11 partir de dados quantitativos. Sabe-se que já existem estudos na mesma temática, mas, de forma rudimentar, esta pesquisa visa apresentar o processo de identificação de especialização setorial a partir do Índice de Concentração Normalizado (ICN), comparando a estrutura do Estado do Ceará com a do Brasil. Neste intento, pretende-se também abrir portas para a execução de novas pesquisas na área, aumentando o alcance na identificação dessas aglomerações, com a formulação de novas hipóteses para ampliar o nível de assertividade sobre as pesquisas da composição dessas aglomerações. 2.1 AS TEORIAS DE ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO Um fator que pode ter contribuído para as pesquisas na área regional segundo Souza (1981) seria a ineficiência das teorias neoclássicas em explicar as crescentes desigualdades regionais como por exemplo as de renda per capita, como também a existência de custos de transporte, o fator distância que monopoliza determinados produtos, trouxeram à tona conclusões de que a urbanização e industrialização das regiões ocorreram de maneiras distintas no espaço, acentuando as divergências entre regiões ricas e pobres dentro de um mesmo país (SOUZA, 1981). Marshall foi um dos estudiosos que primeiro lançou mão desses estudos. Analisando os distritos industriais da Inglaterra na segunda metade do século XIX, visualizou que a aglomeração de firmas numa mesma região produz vantagens competitivas que não seriam possíveis em instalações isoladas, ratificando seu pensamento com a teoria dos retornos crescentes de escala, essas empresas seriam capazes de apropriarem-se das economias externas 1 gerada por essa concentração (OLIVEIRA; RIBEIRO, 2012) Para Ferreira (1989), há dois tipos de teorias que tentam explicar como o espaço se desenvolve, se concentrando e se desconcentrando à medida que surgem oportunidades melhores para o capital. Para ele, as do tipo a) acreditam que os consumidores se concentram em pontos discretos do espaço geográfico e as do tipo b) considera que os consumidores estão espalhados em diversas áreas de mercado e de diversos tamanhos. Para explicar as do primeiro tipo, leva-se em consideração as teorias de Thünen e Weber e as do segundo, de Losch a Isard (FERREIRA, 1989). 1 Economias externas na visão de Marshall são aquelas geradas por mecanismos externos a firma, ou seja, pela aglomeração como um todo em determinada região e devido à especialização desses agentes. Essas economias, embora não possam ser atribuídas aos esforços de indivíduos pontuais, podem ser apropriadas por grande parte dessas firmas (OLIVEIRA, CARDOSO, 2012). 4 Para maiores informações, ver MATTEO (2011) 11

12 Fatores aglomerativos tais como proximidade de empresas auxiliares, melhor comunicação com o mercado, etc., e fatores desaglomerativos como a renda da terra, tendem a reunir ou afastar as indústrias em determinada região, concentrando-as ou dispersando-as (FERREIRA, 1989). A concentração de atividades econômicas pode contribuir com o desenvolvimento regional local. Entretanto, é preciso identificar quais os tipos de aglomerações estão sendo desenvolvidas para que a partir dessas informações, possa se instaurar políticas públicas voltadas ao atendimento das necessidades locais. A DINÂMICA SETORIAL NO ESTADO DO CEARÁ A historicidade econômica do Brasil e do Ceará implica a atual estrutura de produção do Estado. A integração do atual território brasileiro [...] à expansão ultramarina europeia, como o padrão espacial do complexo nordestino não permitiu condições objetivas de uma integração econômica. Isto porque estava ausência um dos elementos centrais desse processo: uma rede de vilas e cidades capazes de mobilizar, extrair e concentrar quantidades significativas de produtos socialmente definido (MACEDO; LIMA JUNIOR; MORAIS, 2014). Os padrões de desenvolvimento urbano que deram origem a rede urbana cearense, colocando no centro de desenvolvimento sua capital Fortaleza, principalmente a partir do avanço da atividade industrial e da sua região metropolitana, postergaram-se desde então, configurando aos dias atuais essa mesma caracterização (MACEDO; LIMA JUNIOR; MORAIS, 2014). Essa desconcentração só se inicia, embora não haja redução da concentração na Região Metropolitana de Fortaleza RMF, com a interiorização dos investimentos a partir do século XX segundo os autores. É a partir da década de 1990 que o Ceará se destaca impulsionado pelo projeto de modernização do Estado capitalista do país (MACEDO; LIMA JUNIOR; MORAIS, 2014). Políticas públicas de incentivo a iniciativa privada industrial, contribuíram para o Estado aumentar sua participação na pauta de exportações, de 1,1% em 1989 para 13,8% em Grande parte dessa exportação foi alavancada pelo setor calçadista, que possui um forte viés exportador que indica uma forma de apropriação do território com vistas a uma maior articulação local-global promovida pelas grandes empresas do setor[...] (MACEDO; LIMA JUNIOR; MORAIS, 2014). 12

13 O Resultado positivo dessa formação urbana de acordo com Macedo, Lima Junior e Morais (2014), foi uma maior diferenciação do espaço cearense, marcado por algumas áreas dinâmicas, que conseguiram articular-se às economias nacional e internacional. Entretanto, também surgem externalidades negativas que segundo os mesmos autores resultou em regiões [...] com baixo dinamismo, fortemente dependentes de transferências intergovernamentais. De acordo com o IPECE (2013), a economia do Ceará apresentou crescimento nos últimos anos superior à economia do país. De 2011 para 2012, o PIB do Ceará cresceu 3,65% enquanto que no Brasil esse crescimento foi de somente 0,9%. O Instituto atribui o bom resultado em 2012 pelo crescimento do Valor Adicionado dos Serviços (5,81%) e da indústria (2,63%). Ainda segundo o Boletim do IPECE (2013), a expansão da Indústria foi favorecida pelo crescimento da Construção civil (4,72%) e em função do aumento no Valor Adicionado de Eletricidade, gás e água (8,79%). A Indústria de Transformação apresentou uma queda de 1,5%, seguindo o comportamento dessa atividade a nível nacional, onde verificou-se uma queda de 2,5%. O setor de Serviços foi o que apresentou maior crescimento, e dada a sua elevada participação na composição do Valor Adicionado do Ceará (72,13%), essa atividade foi a que mais contribuiu para o crescimento do PIB cearense. Dentre as atividades que a compõe, as que apresentaram maiores taxas de crescimento foram: Transportes (7,99%), Comércio (7,95%) e Alojamento e Alimentação (6,65%). Nota-se uma particularidade de crescimento do Estado do Ceará fortalecido pelas políticas desenvolvimentistas nacionais e sua formação urbana. Esse crescimento também carrega consigo os descompassos das desigualdades regionais do país, com regiões dinâmicas articuladas com a economia nacional e internacional e outras dependentes de transferências governamentais. METODOLOGIA A região selecionada para estudo foi o Estado do Ceará. Está localizado na região Nordeste do Brasil, com limites geográficos ao Norte, com o Oceano atlântico, e todos os limites terrestres são com estados pertencentes ao Nordeste que são: ao sul com o Estado do Pernambuco, a Leste com os Estados do Rio Grande do Norte e paraíba e a Oeste com o Estado do Piauí. Possui uma área de ,6km 2 (aproximadamente 10% do território nordestino e 2% do Brasil) (IPECE, 2007) No que concerne a divisão político-administrativa, é composto por 184 municípios, que estão agregados em 18 microrregiões administrativas, 2 regiões metropolitanas e 8 macrorregiões de planejamento pela divisão da Secretaria do planejamento e Gestão SEPLAG (IPECE, 2007). O 13

14 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divide o Estado em 7 mesorregiões e 33 microrregiões geográficas, agregadas por aspectos físicos e características semelhantes (IPECE, 2007). Foram selecionados artigos de eventos publicados na internet para formação do referencial teórico, bem como livros consagrados em economia regional, como é o caso do Economia regional de Haddad (1989). No site do Sistema IBGE de Recuperação Automática SIDRA, foi escolhida a tabela 987 e selecionados o número de pessoal ocupado e os anos de 2006 e 2012 para formar a matriz de dados que servirão para descobrir os índices propostos pela metodologia de Crocco et al. (2003). Haddad (1989) sugere que se faça a desagregação dos setores para não incorrer em erros de interpretação por conta de valores muito altos devido ao agrupamento das classes. Então optou-se nesse trabalho por uma análise das classes de atividade da CNAE 2.0, por ser uma desagregação bem superior as demais classificações de atividade setorial. A escolha do período analisado foi pela disponibilidade de dados da CNAE 2.0 no SIDRA. A seleção do emprego formal como variável de análise se deu pelo fácil acesso aos dados e também pelo fato de ser uma variável que não sofre alterações em termos absolutos, não precisando de conversão (como é o caso de Renda em determinadas metodologias e séries temporais). Essa metodologia foi escolhida por se encaixar perfeitamente nos estudos que se pretende compor sobre exploração da concentração setorial por classe de atividade em 2006 e Nesse estudo, o cálculo do Índice de Concentração Normalizado (ICN) foi aplicado, visando à identificação da participação das classes das atividades e identificar quais possuem maior representatividade na economia do Ceará. O cálculo do QL é dado da seguinte forma na equação (1): QL = Eij / E.j (1) Ei. / E.. Onde: Eij Emprego no setor i na região j ; E.j Emprego total na região j ; Ei. Emprego do setor i em todas as regiões; E.. Emprego total nacional 14

15 Na parte do numerador tem-se por dedução, a participação do setor na região estudada em relação ao emprego total da mesma, enquanto que no denominador verifica-se a representatividade percentual do setor total nacional. Monastério (2011) afirma que os valores de ICn maiores do que 1, significam que mais especializada é essa região em relação ao setor. Em contrário, os valores menores que um indicam que a região é importadora do bem produzido naquele setor, pois o mesmo tem uma menor representação na região do que no Estado. Ele também sugere alguns cuidados na interpretação desse índice: Se uma região possui uma tecnologia mais intensiva em trabalho do que outras regiões, seu QL pode ser enganoso, sugerindo exportações que não existem. Da mesma forma, caso exista uma diferença sensível no padrão de demanda local, o QL também poderá ser maior do que 1, e a região ser uma importadora do bem. Além disso, o QL é bastante sensível ao nível de análise e ao grau de detalhamento setorial. Em níveis de agregação maiores, o indicador tende a convergir para a unidade (MONASTÉRIO, 2011, p.318). O Quociente de Localização (QL) visa identificar neste estudo, quais os subsetores econômicos que apresentam uma participação relativa superior à verificada na média do Estado. Utilizando da metodologia de análise proposta por Crocco et al. (2003) e Monastério (2011), se o valor do QL for superior a 1, o Estado do Ceará é, em termos relativos, significativamente especializado naquela atividade. O QL foi calculado tendo-se como economia de referência o Estado do Ceará e a empregabilidade nacional. Mas a análise dos critérios do QL deve ser utilizada com mais detalhamento, pois segundo Crocco et. al. (2003), um Quociente Locacional maior que um (QL>1) indicaria apenas certa diferenciação produtiva da atividade; este conceito se aplica possivelmente por conta da dissimetria existente entre as atividades da região e ainda da alta representatividade que uma firma pode representar em uma região. É bastante importante não realizar afirmações concretas acerca do resultado do QL, sem antes mensurá-lo a outros índices que podem desvirtuar o resultado e incorrer em uma análise parcial. Já para calcular o IHH, foi utilizada a seguinte fórmula da equação (2): Para McCann (2001) apud Monastério (2011) IHH = (2) O IHH indica o quanto um setor está concentrado espacialmente. Ele se assemelha ao coeficiente de localização 2, mas os afastamentos das regiões em relação à estrutura 2 O CL (coeficiente de localização) é um índice que mensura o quanto um setor está concentrado espacialmente (quanto mais próximo de 1). Para monastério (2011) o IHH tem uma maior precisão em relação ao CL. Grifo nosso. 15

16 produtiva do país são elevados ao quadrado. Dessa forma, o IHH, que varia entre 0 e 2, é mais sensível a tais afastamentos do que o CL. O resultado positivo deste índice indica que o Ceará estará concentrando a produção do setor em análise e por isso ele terá maior poder de atração econômica devido ao seu nível de especialização. No trabalho de Crocco et al. (2003) este índice é utilizado sem elevação ao quadrado, mas no presente trabalho acredita-se que a elevação ao quadrado capta a maior sensibilidade ao afastamento entre as regiões como explica McCann (2001) apud Monastério (2011). O PR destaca o grau de participação do setor da região estudada. Este índice tem variação entre zero e um, onde quanto mais próximo de um, maior a representatividade da atividade na estrutura do Estado. É adquirido através da equação (3). PR = Eij / E.j (3) Os indicadores acima relacionados são capazes de apresentar os dados necessários para a elaboração de um único indicador de concentração do subsetor de atividade econômica, o Índice de Concentração normalizado (ICN). Crocco et al. (2003) destaca que: Haja vista que cada um dos três índices utilizados como insumos do ICn podem ter distinta capacidade de representar as forças aglomerativas, principalmente quando se leva em conta os diversos setores industriais da economia, faz-se necessário calcular pesos específicos de cada um dos insumos em cada um dos setores produtivos (CROCCO et. al. 2004, p.6). A metodologia utilizada por Crocco et al. (2003) propõe uma combinação linear dos três índices, separada para cada subsetor da região estudada, que segue na equação (4): ICn i j = θ1 QLn i j + θ2 PRn i j + θ3 HHn i j (4) Os θ são os pesos de cada um dos indicadores para cada índice correspondente. Este índice visa corrigir algumas falhas de análise que por ventura os demais índices em separado possam demonstrar (CROCCO et al., 2003, p.7). Eles serão extraídos a partir da análise fatorial (A.F) a parti do método dos componentes principais (ACP). Se tomarmos como base o QL isolado, numa cidade cuja sua PR não seja significante em relação ao país, tende-se a acreditar numa especialização inexistente, cujo aumento do índice se deu em detrimento de uma única fábrica numa cidade de pequeno porte, por exemplo. 16

17 Assim, o uso do ICN da forma como está sendo proposta pode ponderar tais distorções (CROCCO et al., 2003, p. 7). Antes, porém da efetiva substituição dos respectivos pesos encontrados, foi realizada a normalização dos indicadores, para que não haja interferência da significância de um ou outro dado da amostra, tornando-os relativos e deixando-os com a mesma carga de importância na construção e análise do índice. Essa normalização se deu através do cálculo do desvio padrão e da média de cada indicador em cada setor. Ela é feita subtraindo-se do valor do indicador a média e o resultado é dividido pelo desvio padrão. Os valores em negativo representam os setores que ficaram abaixo da média estadual. O cálculo da normalização é dado pela fórmula: In = (Ii IMédia) / IDesvio_padrão (5) Onde: In = Indicador normalizado Ii = Valor do Indicador no setor correspondente IMédia = Média do Indicador IDesvio_padrão = Desvio Padrão do Indicador 4.1 A ANÁLISE FATORIAL (A.F) E O MÉTODO DOS COMPONENTES PRINCIPAIS (ACP) A análise fatorial se baseia na suposta existência de um número de fatores causais gerais, cuja presença dá origem às relações entre as variáveis observadas, de forma que, no total, o número de fatores seja consideravelmente inferior ao total de variáveis. Isso porque muitas relações entre as variáveis são, em grande medida, decorrentes do mesmo fator causal geral. O modelo matemático (conforme FÁVERO et al., 2009) da análise fatorial poderá ser representado de forma simplificada por: Em que: Zj=Σ ajifi+djuj (j=1,2,,n); (i=1,2,,m) (6) Zj = j-ésima variável padronizada; aji = é o coeficiente de saturação referente ao i-ésimo fator comum da j-ésima variável; Fi= é o i-ésimo fator comum; dj = é o coeficiente de saturação referente ao j-ésimo fator específico da j-ésima variável; 17

18 uj= é o j-ésimo fator específico da j-ésima variável. Assim, o objetivo da análise fatorial consiste em determinar um número menor de fatores que representem a estrutura das variáveis originais. Nesta etapa, é determinado o número de fatores comuns necessários para descrever adequadamente os dados, cabendo ao pesquisador a decisão de qual método de extração dos fatores e o número de fatores selecionados para representar a estrutura latente dos dados. A fim de verificar a adequabilidade dos dados para a análise fatorial, serão utilizados o Índice Kaiser-Mayer-Olkin (KMO), o Teste de Esfericidade de Bartlett (BTS). O Índice Kaiser-Mayer-Olkin (KMO), que varia de 0 a 1, serve para comparar as magnitudes dos coeficientes de correlações observados com as magnitudes dos coeficientes de correlações parciais. Portanto, o KMO é uma medida de homogeneidade das variáveis, que compara as correlações parciais observadas entre as variáveis, conforme a seguir: r ij a ij KMO 2 2 é o coeficiente de correlação observado rij entre as a variáveis ij i e j é o coeficiente de correlação observado entre as mesmas variáveis, que é, simultaneamente, uma estimativa das correlações entre os fatores. Os i j deverão estar próximos de zero, pelo fato de os fatores serem ortogonais entre si. A estatística do KMO (Kaiser-Mayer-Olkin) é a seguinte: quanto menor o valor do respectivo teste, menor a relação entre as variáveis e os fatores, podendo o índice variar de 0 a 1. O índice menor do que (0,5) se caracteriza como inaceitável; o uso dessa técnica, caso contrário, com o índice próximo de 1, a utilização da técnica com os dados se torna bastante eficaz. O Teste Bartlett de Esfericidade pode testar a hipótese nula de que a matriz de correlações é uma matriz identidade (o que inviabiliza a metodologia da análise fatorial proposta). Caso a matriz de correlações seja matriz identidade, significa que as inter-relações das variáveis são iguais a zero e, portanto, a análise fatorial não deverá ser utilizada, sendo a hipótese H0 (a matriz de correlações é uma matriz identidade) e a hipótese Ha (a matriz de correlações não é uma matriz identidade). Caso H0 seja aceita a análise fatorial deve ser desconsiderada; se rejeitada, haverá indícios de que existam correlações entre as variáveis explicativas do processo. i j r 2 ij i j a ij A ACP ao tomar p variáveis X1, X2,... Xp, encontra combinações lineares para elas, produzindo as variáveis Z1, Z2,... Zp sendo que 18

19 Zi = αi1x1+ αi2x αipxp (7) Variando tanto quanto possível, desde que condicionadas a αi1 2 + αi αip 2 = 1 (8) As variâncias dos componentes principais são os autovalores dessa matriz, ao passo que os coeficientes ai1, ai2,... aip são os seus autovetores associados. A matriz de variância é simétrica e tem a forma: λ1 + λ λp = C11 + C Cpp (9) Em que: λi são os autovalores, ou variância, de cada um dos i componentes Calculando os pesos via ACP Uma característica dos autovalores é que a soma desses é igual à soma dos elementos da diagonal principal da matriz de covariância: C 11 C 12 C 1p C C= 21 C 22 C 2p C p1 C p2 C pp Conforme explica Crocco et al. (2006) apud Piccicini, Finamore e Oliveira (2011), o procedimento para o cálculo dos pesos se inicia com os resultados extraídos conforme seguem na Tabela 02. Já a Tabela 03 mostra a matriz de coeficientes ou os autovetores da matriz de correlação. Na Tabela 04, apresenta os autovetores recalculados ou a participação relativa de cada índice nos componentes. Tabela 02 - Os autovalores da matriz de correlação ou variância explicada pelos componentes Componente Variância explicada da Variância explicada total componente 1 ß1 ß1 2 ß2 ß1 + ß2 3 ß3 ß1 + ß2 + ß3 (100%) Fonte: Piccicini, Finamore e Oliveira (2011) 19

20 Tabela 03 - Matriz de coeficientes ou autovetores da matriz de correlação Indicador Componente 1 Componente 2 Componente 3 QL α11 α12 α13 IHH α21 α22 α23 PR α31 α32 α33 Fonte: Piccicini, Finamore e Oliveira (2011) A tabela 04 é calculada com os resultados obtidos das tabelas 1 e 2. Tabela 04 - Matriz de auto vetores recalculados ou participação relativa dos indicadores em cada componente Indicador Componente 1 Componente 2 Componente 3 QL α'11 α 11 C 1 α12 α 12 C 2 α13 α 13 C 3 IHH α21 α 21 C 1 α22 α 22 C 2 α23 α 23 C 3 PR α31 α 31 C 1 α32 α 32 C 2 α33 α 33 C 3 Fonte: Piccicini, Finamore e Oliveira (2011). Os valores de α'ij da tabela 3 correspondem aos pesos que cada uma das variáveis assume dentro de cada componente e os autovalores ß1, ß2 e ß3 fornecem a variância dos dados associada ao componente, o peso final de cada indicador insumo é o resultado da soma dos produtos dos α'ij pelo auto valor correspondente em cada componente. Apresentando-se nas equações 10, 11 e 12: Ɵ1 = α 11ß1 + α 12ß2 + α 13ß3 (10) Ɵ2 = α 21ß1 + α 22ß2 + α 33ß3 (11) Ɵ3 = α 31ß1 + α 32ß2 + α 33ß3 (12) Onde respectivamente os pesos Ɵ1, Ɵ2 e Ɵ3 representam o QL, IHH e PR, sendo que a soma dos três pesos deve ser igual a um. Outra observação que deve ser considerada é que o cálculo dos pesos não deve ser feito para a economia como um todo, mas individualmente para cada uma das atividades que se deseja estudar. RESULTADOS O total de empregos no Ceará em 2006 foi de e em 2012 foi de , uma variação positiva percentual de 42,06%. No Brasil essa variação percentual foi menor, passando de em 2006 para em 2012, o que representa 34,73%. Esse crescimento do emprego no Estado representa uma média anual de 6% contra 4,96% nacional. 20

21 A divisão do emprego em grandes setores fica assim distribuída como mostra o gráfico 1. GRÁFICO 1 - Distribuição percentual do emprego por grandes setores no Ceará % 2 % 7 % Agropecuária Indústria Serviço Fonte: SIDRA/IBGE Vê-se que em 2012 o setor de serviços obteve a maior participação no emprego no Ceará com 72% do total. Em seguida vem o setor industrial, com 27% e por último a agropecuária com 1% do total de empregos no Estado. Para cada cem pessoas empregadas no Ceará, 1 estava na agropecuária, 27 estavam na indústria e 72 no setor de serviços. A estrutura do setor de serviços é muito diversificada, possuindo um número elevado de classes de subdivisões do emprego, apresentando diversificação das atividades. Inicialmente, com o intuito de verificar a coesão dos dados coletados, foi calculado o teste Kaiser-Mayer-Olkin (KMO). Assim, observou-se, pela Tabela 05, considerando-se distribuição normal dos dados, que o KMO revelou valor de 0,514, portanto, indicando que os dados são consistentes, ou seja, é um índice medíocre e aceito para análise fatorial. O Teste de Esfericidade de Bartlett indicou valor 302,507, sendo considerado médio para garantir que a matriz de correlações não é uma matriz identidade, ao nível de significância 1%, rejeitando a hipótese nula (H0) de que a matriz de correlação é uma matriz-identidade. Conclui-se, portanto, que os dados amostrais são adequados para uso da análise fatorial. Tabela 05 - Teste de KMO (Kaiser Mayer Olkin) e BTS (Teste de Esfericidade de Bartlett) KMO 0,514 Teste de Esfericidade de Bartlett 302,507 Sig 0,000 Fonte: Resultados da Pesquisa (2015) Foram selecionadas em 2006, 246 classes de atividade segundo a CNAE 2.0 atendendo aos procedimentos metodológicos apresentados anteriormente. Dentre elas, apenas dez puderam ser 21

22 consideradas especializadas, e para não apresentar dados muito longos os quais não podem ser explicados pela metodologia, foram selecionadas apenas as que tiveram ICN igual ou superior a 1, as quais serão analisadas neste estudo. Tabela 06 - Relação das classes de atividade segundo o CNAE 2.0, por ordem descendente do ICN Ranking Código e Atividade CNAE 2.0 ICN 1º Fabricação de calçados 2,30 2º Atividades de apoio à gestão de saúde 1,86 3º Aquicultura 1,73 4º Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais 1,56 5º Tecelagem, exceto malha 1,52 6º Produção de lavouras temporárias 1,43 7º Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais 1,38 8º Horticultura e floricultura 1,33 9º Fabricação de bebidas não-alcoólicas 1,22 10º Pesca 1,14 Tabela de elaboração dos autores com dados extraídos da metodologia. NOTA: números arredondados. Em 2006, a atividade principal, que possuía o índice de concentração normalizado com o valor mais expressivo era fabricação de calçados, com ICN de 2,3. Nesse mesmo ano, a atividade possuía pouco mais de 56 mil empregos e no Brasil esse valor era de aproximadamente 319 mil, representando 17,55% do total da classe nacional e 5,06% do emprego total no Ceará. No grande setor agropecuária, destacam-se quatro subsetores considerados especializados em Pela ordem do maior para o menor, a aquicultura vem em primeiro lugar com ICN de 1,74, seguida da produção de lavouras temporárias com ICN de 1,43, posterior tem-se horticultura e floricultura com 1,33 e por último a atividade de pesca com 1,14. No setor de Indústria, obtiveram destaque cinco subsetores: a atividade de fabricação de calçados como primeiro lugar com ICN 2,30, em segundo lugar veio a fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais com ICN de 1,53. Em terceira colocação vem a atividade de tecelagem, exceto malha com ICN de 1,52; em quarto, moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais com ICN de 1,38 e finaliza com o subsetor fabricação de bebidas nãoalcoólicas com ICN 1,14. No setor de serviços, apenas o subgrupo de Atividades de apoio à gestão de saúde, com ICN de 1,86 foi setor dinâmico expressivo. Caracteriza-se aqui, que o setor industrial no ano de 2006 possui um número maior de atividades que concentram a dinamização produtiva, que em grande parte é explicado pelas políticas 22

23 de desenvolvimento do Estado, iniciado com o governo de mudanças de Tasso Jereissati em 1989 e que deram continuidade pelos governadores sucessores Cid Gomes e Ciro Gomes. Tabela 07 - Relação das classes de atividade segundo o CNAE 2.0, por ordem descendente do ICN Ranking Atividade CNAE 2.0 ICN 1º Aquicultura 3,45 2º Fabricação de calçados 3,15 3º Atividades de apoio à gestão de saúde 1,89 4º Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais 1,60 5º Fabricação de bebidas não-alcoólicas 1,41 6º Fornecimento e gestão de recursos humanos para terceiros 1,37 7º Produção de tubos de aço, exceto tubos sem costura 1,24 8º Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais 1,23 9º Preparação e fiação de fibras têxteis 1,18 10º Horticultura e floricultura 1,10 11º Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado 1,07 12º Obras de infraestrutura para energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e transporte por dutos 1,04 Tabela de elaboração dos autores com dados extraídos da metodologia. NOTA: números arredondados Observando os dados da Tabela 03 de 2012, algumas atividades que foram excluídas da análise pelos critérios metodológicos 3 em 2006, em 2012 já aparecem com dados a serem estudados. Ao todo, puderam ser observadas 256 atividades, dez a mais que o ano base. Dentre essas classes, puderam ser identificadas doze atividades especializadas e que serão classificadas, analisadas e descritas a seguir. Vê-se que no setor agropecuário, houve uma redução de quatro para dois subsetores dinâmicos. A aquicultura foi uma das classes de atividade que permaneceram no ranking inclusive, com elevação do índice para 3,45 e tomando a primeira posição dentre todos os subsetores estudados. O outro setor que permaneceu com especialização produtiva em 2012 foi a atividade de horticultura e floricultura com ICN de 1,09, que teve redução da participação em comparação com O aumento do índice da aquicultura na economia cearense se deu por dois motivos: o primeiro é a redução do emprego nacional no setor, que foi de em 2006 para 9412, com queda de 6,95%. O segundo motivo foi em detrimento do aumento do valor absoluto do emprego no 3 Ver metodologia 23

24 setor no Ceará, que foi de 1382 empregos em 2006 para 2544 em 2012, representando um crescimento de 84,08%. A atividade de horticultura e floricultura, cresceu a nível nacional, passando de 8551 empregos em 2006 para 15618, um salto de 82,65%, enquanto que no Ceará essa modificação apesar de ter sido expressiva, não fora na mesma proporção, passando de 900 empregos em 2006 para 1343 em 2012, totalizando um crescimento de 49,22%. A indústria, ao contrário do que aconteceu com a agropecuária, aumentou significativamente a participação do número de atividades que concentram dinamismo e especialização produtiva, passando de cinco em 2006 para oito em O setor de Fabricação de calçados teve um aumento expressivo do seu dinamismo. Com ICN de 3,14, ocupa a segunda posição no ranking de especialização no ano de O emprego na atividade também aumentou no Brasil, de em 2006 para em 2012, o que configura um aumento de 5,63%, gerando novos postos na atividade. Ainda assim, esse número é bem menor se for comparado ao do Estado, tanto em termos absolutos quanto em valor percentual, que cresceu 45,56% no período analisado, passando de para emprego registrados com o incremento de novos trabalhadores. O Ceará cresceu na geração de emprego na atividade calçadista, em comparação com o crescimento nacional, 42,09% a mais. A atividade de moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais obteve um ICN de 1,60, um número um pouco maior que o ano de Esse setor possuía no Brasil e no Ceará respectivamente em 2006, e empregos. Em 2012 esses números aumentaram para a nível nacional e no Ceará, representando crescimentos de 36,08% e 57,17%. Também nessa atividade, o Ceará obteve crescimento superior que o crescimento nacional em termos percentuais. Fabricação de bebidas não-alcoólicas teve um incremento na sua especialidade produtiva, atingindo um ICN de 1,41. Este setor obteve um crescimento no número de empregos no Ceará de 62,04%, maior que o restante do Brasil, que foi de 42,86% no período analisado. A atividade de fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais, teve uma leve queda no índice de ICN para 2012, saindo do 4º. Lugar em 2006 e ocupando no ranking geral a 8ª. colocação, com índice de 1,23. Isso pode ter sido ocasionado pelo número do emprego nessa atividade, que no Brasil teve crescimento de 18,07%, enquanto que no Ceará, houve queda de 6,87%. Algumas atividades do setor industrial, porém, apresentaram-se dinamicamente produtivas apenas para o ano de É o caso das atividades de produção de tubos de aço com o ICN de 1,24, 24

25 preparação e fiação de fibras têxteis com ICN de 1,18, preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado com ICN de 1,07 e obras de infraestrutura para energia elétrica, telecomunicações, água, esgoto e transporte por dutos com ICN de 1,04. A seguir, a Tabela 04 mostra o número dos empregos dessas atividades para os anos de 2006 e 2012 e o percentual de crescimento: CONSIDERAÇÕES FINAIS Das 291 atividades extraídas do banco de dados do SIDRA, só foram observadas 246 em 2006 e 256 em 2012, devido a não obtenção dos dados numéricos como já fora explicado na metodologia. A maioria dos setores teve o número percentual de empregos crescendo no período estudado maior do que a variação percentual do Brasil. Isso pode ser considerada uma externalidade positiva, mostrando que na maioria das atividades concentradas, o Ceará cresce mais do que o Brasil. Esse crescimento só corrobora com o valor crescimento do emprego total, que também no comparativo entre Ceará e Brasil, aquele obteve números percentuais maiores que este. Observa-se em 2012, uma tendência aglomerativa do setor industrial cearense, impulsionado por algumas classes de atividade específicas que no ano de 2012 surgiram com número do emprego bastante significativo, onde passaram de cinco atividades para oito no período de seis anos. Esse resultado pode ser explicado por conta das políticas governamentais de incentivo a industrialização do Estado do Ceará, iniciado em O setor de calçados se manteve no ranking das classes especializadas nos dois anos estudados. Essa informação corrobora com o que afirmam Macedo, Lima Junior e Lacerda (2014) que o setor de calçados é o setor mais dinâmicos da economia cearense. Isso graças as configurações de produção para exportação segundo esses autores. Já no setor de serviços, verifica-se convergência para a diversificação da estrutura produtiva, ou seja, há muitos empregos em muitas classes de atividade, o que também se configura uma externalidade positiva, tendo em vista que a diversificação pode ser uma maneira de preservar certo nível de emprego quando uma ou mais atividades estiverem em crise. Faz-se necessário, porém, realizar outras análises, tais como a diferenciação da estrutura produtiva do Ceará, a diversificação dessa produção, entre outras investigações que possam explicar a tendência de aumento no emprego no setor industrial e a diversificação no setor de serviços. 25

26 Abre-se aqui um parêntese para estimular a produção de novos trabalhos (tendo em vista o caráter exploratório deste estudo) visando identificar esses pontos, a partir da metodologia aqui utilizada ou com o incremento de outras que expliquem tais fenômenos. O que se pode considerar sobre os setores produtivos do Estado do Ceará ao longo de 2006 para 2012 é que: 1) o setor industrial passou a ter uma maior participação em atividades especializadas; 2) que o setor agropecuário ao longo do mesmo período, houve uma retração de atividades especializadas. 7 REFERÊNCIAS CROCCO, Marco Aurelio et al. Metodologia de identificação de arranjos produtivos locais potenciais: uma nota técnica. Belo Horizonte: UFMG/Cedeplar, (Texto para discussão; 191) FÁVERO, L. P.; BELFIORE, P.; SILVA, F. L.; CHAN, B. L. Análise de dados: modelagem multivariada para tomada de decisões. Primeira edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009, p FERREIRA, Carlos Mauricio de C. As teorias de localização e organização espacial da economia. In: HADDAD, P. R. et. al. Economia Regional: Teorias e métodos de análise. (1989) BNB - ETENE p HADDAD, Paulo Roberto. Medidas de localização e especialização. In:, P. R. et. al. Economia Regional: Teorias e métodos de análise. (1989) BNB ETENE p , Paulo Roberto; ANDRADE, Thompson A. Métodos de Análise Regional. In:, P. R. et. al. Economia Regional: Teorias e métodos de análise. (1989) BNB ETENE p IPECE Conjuntura. Boletim da conjuntura econômica cearense. 4º. Trimestre de Governo do Estado do Ceará. Fortaleza: Dez. (2013) IPECE, Ceará em mapas. Disponível em: < Acesso Em 16 de mai MACEDO, Fernando Cézar de; LIMA JUNIOR, Francisco do O de; MORAIS, José Micaelson Lacerda. Dinâmica econômica e rede urbana cearense no início do século XXI. 26

27 In: MORAIS, José Micaelson Lacerda; LIMA JUNIOR, Francisco do O de; MACEDO, Fernando Cézar de. Ceará: Economia, Urbanização e Metropolização. RDS Editora. Crato, p. p MATTEO, Miguel. Teorias de Desenvolvimento Territorial. In: CRUZ, Bruno de Oliveira de. et al. (orgs). Economia Regional e Urbana: Teorias e métodos com ênfase no Brasil. IPEA. 406p. Brasília, p MONASTERIO, Leonardo. Indicadores de análise regional e espacial. In: CRUZ, Bruno De Oliveira et al. (org.) Economia regional e urbana: teorias e métodos com ênfase no Brasil. Brasília: Ipea, 2011 OLIVEIRA, Altina Silva; RIBEIRO, Alcimar das Chagas. Análise de aspectos de aglomeração produtiva baseados em externalidades marshallianas no distrito de Raposo-RJ. XII Seminário Internacional RII Belo Horizonte. Anais eletrônicos. Disponível em: < externalidadesmarshallianasnodistritoderaposo.pdf>. Acesso em 30 Abr PICCININI, Fabio Junior; FINAMORE, Eduardo B. M. C; OLIVEIRA, Guilherme de. Identificação e mapeamento de aglomerações produtivas no Rio Grande do Sul: um enfoque na região da produção. Disponível em: evistas/index.php/rce/article/download/1184/623+&cd=1&hl=pt-br&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 10 Jan SOUZA, Nali de Jesus. Economia Regional: Conceitos e fundamento teóricos. In: Revista Perspectiva Econômica, Universidade do Vale do Rio dos Sinos: Ano XVI, v.11, n. 32, 1981, p Disponivel em: < Acesso em: 17 Mai

28 ÁREA TEMÁTICA: 4. DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS INDUSTRIALIZAÇÃO NAS MACRORREGIÕES BRASILEIRAS: CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO À LUZ DOS INCENTIVOS FISCAIS JULIO CESAR MARTINS DA SILVA Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA juliocmartins@msn.com Cel. (88) LUÍS ABEL DA SILVA FILHO Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp/CESIT Mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Professor do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri - URCA abeleconomia@hotmail.com Cel. (88)

29 INDUSTRIALIZAÇÃO NAS MACRORREGIÕES BRASILEIRAS: CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO À LUZ DOS INCENTIVOS FISCAIS Resumo: A concentração produtiva regional brasileira no Sudeste do país é cerne central de investigação empírica de uma série de estudos que abordam a concentração e as disparidades regionais do país. Diante disso, este artigo tem como objetivo analisar a concentração e a desconcentração produtiva regional brasileira à luz das políticas de incentivos fiscais. Como suporte metodológico, revisa-se a literatura e, em seguida, como respaldo empírico recorre-se aos dados da Relação Anual de Informações Sociais RAIS do Ministério do Trabalho e Emprego MTE, dando ênfase à evolução das unidades produtivas (estabelecimentos industriais) nas macrorregiões brasileiras no período de 1985 a Os resultados mostram que as políticas de desenvolvimento regional não conseguiram o efeito desejado, qual seja, a descentralização de estabelecimentos industriais localizados na região mais desenvolvida do país. Mesmo sendo observada uma redução relativa das unidades produtivas industriais no Sudeste brasileiro, que registrava 61,3%, em 1985, e passou a registrar 47,5%, em 2012, ainda há concentração significativa das indústrias instaladas nessa região, segundo os registros da RAIS-MTE. Palavras-chave: Concentração industrial; incentivos fiscais; industrialização; Estado. Abstract: The Brazilian regional production concentration in the Southeast of the country's central core of empirical research in a number of studies that discuss the concentration and regional disparities in the country. Therefore, this paper aims to analyze the concentration and the Brazilian regional production decentralization in light of the tax incentive policies. As a methodological support, reviews to literature and then as empirical support refers to data from the Annual Relation of Social Information - RAIS of the Ministry of Labor and Employment MTE, emphasizing the evolution of the productive units (industrial plants) in Brazilian macro-regions in the period. The results show that regional development policies have failed the desired effect, namely the decentralization of industrial establishments located in the most developed region of the country. Even being observed a relative reduction of industrial production units in southeastern Brazil, which recorded 61.3% in 1985 and began to record 47.5% in 2012, there are still significant concentration of industries located in this region, according to the records RAIS-MTE. Keywords: Industrial concentration; tax breaks; industrialization; State. 29

30 1. Introdução No começo do século XX teve início no Brasil um fenômeno econômico que ficou conhecido na literatura como concentração industrial, visto ser caracterizado essencialmente, pela concentração de indústrias em poucos estados brasileiros e, mais acentuadamente, concentradas numa única região, a região Sudeste, sendo o núcleo industrial desta região, o estado de São Paulo. A importância deste fenômeno para os estudos econômicos, bem como para os formuladores de políticas públicas deve-se aos efeitos da concentração industrial que são sentidos em escala nacional, o que, considerando tal magnitude, trata-se de um fenômeno que tem chamado a atenção de vários especialistas que procuram dar respostas para questões que versam sobre as causas da concentração e seus efeitos econômicos e sociais sobre as demais regiões brasileiras. A persistência da concentração industrial no Sudeste é significativa e prejudicial ao desenvolvimento regional com equidade e distribuição, visto que, conforme a conclusão de muitos autores, a concentração acentua as disparidades econômicas regionais. Os especialistas procuram também sugerir medidas econômicas para uma melhor distribuição das indústrias entre as regiões brasileiras. É neste ambiente que surge a contrapartida desse fenômeno, isto é, a desconcentração industrial, cujo processo se caracteriza pelo deslocamento de indústrias para as demais regiões do país, notadamente para as regiões Norte e Nordeste. Ganham destaque, neste sentido, o papel dos incentivos fiscais com a criação de órgãos de desenvolvimento regional, a exemplo da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia SUDAM e a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste SUDENE, cujos incentivos oferecidos pelo Governo Federal contribuíram para fomentar a industrialização dessas regiões pela disponibilização de infraestrutura que viabilizasse um processo de industrialização mais intenso. Como impulsionadores dessa dinâmica de crescimento regional, cabe ressaltar o papel dos incentivos fiscais viabilizados pelos órgãos de desenvolvimento regional já mencionados, bem como a postura político-econômica assumida pelos próprios estados do Nordeste a partir da flexibilização proporcionada pela Constituição Federal de 1988 que, ao descentralizar o poder de arbitrar sobre a concessão de incentivos fiscais estaduais, aumentou os graus de liberdade dos Estados nessa matéria, deixado cada Estado implementar as medidas fiscais que considerassem convenientes para o crescimento de suas economias (SOARES et al. 2007). 30

31 A partir de informações da Relação Anual de Informações Sociais RAIS, o presente trabalho faz uma análise acerca da evolução das unidades produtivas (estabelecimentos industriais) do setor industrial nas macrorregiões brasileiras no período de 1985 a 2012, mostrando quais foram as regiões que tiveram maiores ganhos relativos em números de estabelecimentos industriais e as que apresentaram perdas, também relativas, neste período, evidenciando assim, o movimento de desconcentração industrial promovido pelos Estados através dos programas de atração de investimentos industriais. O estudo evidencia que a região Sudeste vem perdendo posição relativa frente às demais macrorregiões brasileiras, processo este que, no entanto, ainda não causou a plena desconcentração industrial desta região; há estudos recentes que tratam sobre a reconcentração industrial na região Sudeste em decorrência de mudanças tecnológicas (DINIZ, 2005). Além das considerações iniciais, o trabalho está dividido em mais cinco seções. Na segunda seção, por meio de uma revisão bibliográfica, discute-se a questão do processo de concentração industrial no Brasil, onde são feitas considerações sobre o seu surgimento e seus determinantes. Na terceira seção faz-se uma discussão sobre a relação entre a concentração industrial e as desigualdades regionais enfatizando, dentre as macrorregiões brasileiras, a região Nordeste, por ser uma das regiões mais destacadas nas discussões sobre políticas de desenvolvimento regional buscando, nesta discussão, apresentar os pontos de vista de alguns autores sobre a questão. Na quarta seção são apresentadas as tabelas com a distribuição regional das unidades produtivas do setor industrial, assim como é feita a análise dos dados buscando esclarecer os movimentos mais acentuados no período analisado. Finalmente, na quinta seção, são feitas as considerações finais. 2. Breve histórico acerca do processo de concentração industrial no Brasil Conforme Cano (2007), a concentração industrial no Brasil teve início no estado de São Paulo, no começo do século XX. No período de 1907 a 1919 a indústria paulista daria, um grande salto quantitativo, apresentando crescimento nominal na ordem de 8,5 vezes, passando de 15,9% de representatividade na indústria brasileira para 31,5% neste período. A indústria das demais regiões seguiria com crescimento inferior, crescendo apenas 3,5 vezes e, portanto, com decréscimo de sua participação em relação à indústria brasileira de 84,1% para 68,5%. Ainda, segundo o autor, a década de 1920 ostentaria novo crescimento da indústria em São Paulo com defasagem desse 31

32 crescimento no resto do país, o que consolidaria de vez o processo paulista de concentração industrial. A economia cafeeira, considerada a economia central devido a sua importância, foi o ponto de partida para o surgimento do processo de concentração industrial em São Paulo, pois havia representado a atividade econômica de maior dinamismo nacional, sendo que, à época de seu processo de expansão, com o auxílio do Estado e o ímpeto dos capitalistas daquela região, foram feitas melhorias na infraestrutura, nas ferrovias, portos e comunicações, o que possibilitou a formação de economias externas à economia central, que mais tarde contribuiriam para a formação industrial daquele Estado (CANO, 2007). A esse respeito, Diniz (2009) ressalta o papel da integração territorial do país, colocando em evidência que foram fundamentais para esta integração e, pode-se dizer, para a formação de economias externas que contribuíram para o fortalecimento da economia central, a saber, da economia do Sudeste a introdução do trabalho livre, os efeitos de encadeamento da atividade cafeeira e os processos migratórios para o Sudeste incentivados por esta atividade, bem como a demanda de alimentos e matérias-primas, assim como a expansão ferroviária. Rumos diferentes tomaram, no mesmo período em que se formava a indústria paulista, as demais regiões brasileiras. O estado da Guanabara, por exemplo, entrou em retrocesso industrial devido a fatores como a mão de obra escrava predominante em sua economia cafeeira pois a necessidade de compra de escravos, bem como a necessidade de importações de meios de subsistência para esta mão de obra impediam a expansão do excedente da economia, e pelo mercado interno restringido desta região, justamente pela predomínio do trabalho escravo, o que impediu uma industrialização mais ampla (CANO, 2007). O Nordeste, por sua vez, perdeu espaço para a economia do Sudeste no momento em que esta passou a explorar também a produção de algodão e açúcar, outrora importados do Nordeste. O Norte, na década de 1920, diminuiu sua participação na produção industrial brasileira, passando de 4,3% para 1,1%, conforme Cano (2007). Sobre o Nordeste, Diniz (2009) afirma que, conforme analisado por Furtado, o crescimento e a concentração industrial no Centro-Sul, aliados a outros fatores, como a manutenção de uma economia primária no Nordeste, faziam com que os superávits gerados no Nordeste pelas exportações para o exterior fossem utilizados para financiar importações do Centro-Sul brasileiros, ao tempo em que a indústria têxtil do Nordeste era enfraquecida pela penetração de bens industriais do Centro-Sul. 32

33 Araújo (1999) diz que, devido ao processo de concentração industrial, em 1970, o Sudeste respondia por 81% das atividades industriais do país, sendo que apenas a sua capital, São Paulo, gerava 58% da produção industrial existente. Assim, a concentração industrial porque passava o estado de São Paulo imprimiu às demais regiões fortes condicionantes ao seu crescimento econômico, uma vez que a economia paulista passava a ser também concorrente das demais regiões em relação às exportações de produtos primários para o exterior, e ainda restringiam estas, à medida que produzia internamente, as suas importações de produtos tradicionais (CANO, 2007). Araújo (2013, p. 50) chama a atenção para o problema da concentração econômica, enfatizando que esta concentração que beneficiou o Sudeste e o Sul durante o século XX, embora atenuada, ainda é uma marca muito forte no cenário do desenvolvimento regional brasileiro, em especial a concentração industrial. Diante de tal quadro, vale pôr em evidência o indispensável papel que o Estado tem quando se trata de promover o equilíbrio econômico regional. A este respeito, Cano (2007, p. 261) deixa claro que os Estados possuem forças capazes de atenuar as diferenças econômicas regionais, e destaca que a ativação dessas forças endógenas que possibilitariam as demais regiões romper com o quadro de dependência do Sudeste, e assim promover o seu crescimento econômico interno com suas próprias forças, somente poderia se dar através de uma ação maior do Estado. 3. A concentração industrial e as desigualdades regionais: o caso do Nordeste Diniz (2009) declara que, no período anterior à Segunda Guerra Mundial, a discussão sobre economia regional centrava-se basicamente na localização regional da agricultura e da indústria, dos serviços ofertados, assim como da hierarquia urbana, ou seja, da localização regional das cidades mais desenvolvidas. Tratava-se, portanto, de uma área da economia voltada para o estudo da localização das atividades econômicas numa determinada região. Assim, embora, antes da "Crise de 1929", já tivesse havido uma primeira experiência de planejamento regional nos Estados Unidos, Diniz (2009) afirma que foi somente a partir da recessão provocada por esta crise que veio à tona o problema das desigualdades regionais em alguns países industrializados, ensejando, portanto, a criação de políticas de desenvolvimento regional com vistas a promover a equidade econômica entre as regiões. 33

34 Em relação às desigualdades regionais no Brasil, as discussões acerca da região Nordeste tornaram-na um importante objeto de estudo em relação à implementação de políticas voltadas para a promoção do desenvolvimento regional. Segundo Diniz (2009), o Nordeste já havia sido objeto de esforços empreendidos para resolver os problemas das secas nordestinas desde a segunda metade do Século XIX, quando em 1877 fora instituída a Comissão Imperial que funcionava como uma espécie de corpo técnico destinado a estudar e propor soluções para o problema das secas. Neste período, o Sudeste avançava com ritmo acelerado na produção cafeeira que lhe possibilitava obter elevada acumulação de capital e a consequente inversão na indústria que se formava. Assim, como consequência deste crescimento industrial concentrado, acentuaram-se ainda mais as desigualdades econômicas e sociais entre as demais regiões (CANO, 2007). Cano (2007, p. 265) sustenta que as desigualdades regionais, no entanto, não foram provocadas pela concentração industrial ocorrida no Sudeste, e argumenta a esse respeito que a expansão industrial de São Paulo se deu pelo dinamismo de sua própria economia e não, como se poderia pensar, pela apropriação líquida de recursos, provenientes da periferia nacional. Araújo (1999) traz à discussão a questão de que as maiores ações do Governo Federal, pelo menos na década de 1990, pareciam estar voltadas para o fortalecimento da concentração de novos recursos financeiros em alguns focos competitivos. No tocante às desigualdades regionais, Diniz (2009) explica que, conforme análise feita por Furtado, tal fenômeno é provocado pelos condicionantes estruturais a que fora submetida cada região desde a sua formação histórica vale dizer, o processo de formação econômico-social de cada região e seus fatores condicionantes, tais como a estrutura política, as formas de produção e as relações sociais, determinam quão economicamente desenvolvida será aquela região. O Brasil herdou alguns traços do período colonial cujas consequências mais marcantes foram sentidas pelo Nordeste devido a fatores como a monocultura engendrada pelas relações patriarcais que persistem até à atualidade; às deficientes técnicas de produção que contribuíram para o avanço da economia de subsistência no campo que, à proporção que avançava, contribuía para o agravamento da pobreza devido à forma desarticulada em que se desenvolvia; e ainda às relações patriarcais dominantes na precária estrutura econômica da época (ARAÚJO, 2009; GUIMARÃES NETO, 1997). Araújo (2009) comenta ainda que estas características iriam funcionar como condicionantes tanto para a persistência da concentração da renda quanto para o lento processo de formação do mercado interno nordestino, dificultando assim a ampliação da demanda, e como 34

35 consequência, retardando o progresso econômico regional. Este quadro era agravado ainda até o início do século XX pelo rápido crescimento industrial do Sudeste que se desenvolve de maneira não integrada com as demais regiões. O fenômeno da concentração industrial surge como fator agravante das desigualdades regionais. A este respeito, Diniz (2009) argumenta que, conforme análise feita por Furtado no GTDN, devido à elevada concentração industrial que se formara na região Centro-Sul, o Nordeste mantinha com ela relações comerciais desvantajosas, o que caracterizava entre elas a predominância do aspecto centro-periferia. Para além do Nordeste, cabe ressaltar os argumentos de Araújo (1999) acerca de um trabalho realizado por Guimarães Neto para o IPEA (GIMARÃES NETO, 1996), em que destaca que a concentração industrial contribui para atrair investimentos produtivos privados para as regiões já desenvolvidas do país. Evidencia que, por conta desse processo, há uma tendência de concentração dos investimentos produtivos nas regiões mais industrializadas em detrimento de outras menos desenvolvidas, aumentando assim a heterogeneidade econômico-social por que já passam as regiões. O resultado é a permanência da concentração de segmentos produtivos de maior densidade de capital nas regiões mais modernas, enquanto segmentos leves da indústria procuram as regiões menos desenvolvidas, que viabilizarão sua implantação pelos reduzidos custos de mão de obra que oferecem, dentre outros benefícios. Trata-se de constatação confirmada por Diniz (2001) quando, ao discutir a dinâmica regional brasileira do ponto de vista da abertura externa, afirma que a indústria com maior densidade de capital segmento industrial denominado por ele de núcleo duro da indústria mostra uma tendência de localização nas metrópoles de segundo nível da macrorregião, ou seja, as unidades situadas no interior da macrorregião, numa área que vai de Minas ao Rio Grande do Sul, que ele denominou de desenvolvimento poligonal. Enquanto isso, segmentos industriais com menor densidade de capital e baixo nível tecnológico, e, por isso, pouco exigentes em termos de mão de obra qualificada, tendem a deslocar-se para o Nordeste em virtude da disponibilidade de matérias-primas, mão de obra abundante a custo reduzido e, sobretudo, pelos incentivos fiscais oferecidos. A concentração industrial gera efeito determinante para a atração de mão de obra qualificada que, uma vez atuando nas regiões industrializadas, contará com bons Centros de Pesquisa para a produção científica e melhor estrutura em termos de recursos humanos. As indústrias, por sua vez, a partir do momento em que aí se instalam, terão à disposição uma gama de 35

36 fornecedores locais de produtos e serviços, reforçando, assim, o processo de concentração industrial (ARAÚJO, 1999). Em artigo apresentado ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, sobre a questão regional brasileira, Diniz (2002) analisa as transformações que àquela época estavam ocorrendo no Brasil, e que, segundo suas pesquisas, trariam possíveis impactos regionais relacionados ao problema da concentração industrial para as regiões menos desenvolvidas. Tal situação faz aumentar as diferenças regionais pelo fosso na oferta de infra-estrutura, contribuindo para manter ou aumentar as desigualdades regionais (DINIZ, 2002, p. 264). 4. Distribuição regional das unidades produtivas do setor industrial Conforme discutido nas seções anteriores, o fenômeno da concentração industrial originouse no estado de São Paulo na primeira década do século XX e avançou nas décadas seguintes atingindo seu ápice no início da década de 1970, perdendo fôlego a partir de então (ARAÚJO, 2013; CANO, 2007; DINIZ, 1995). Pacheco (1996) relata que, diferentemente do que ocorreu na década de 1970, as décadas de 1980 e início dos anos 1990 foram marcadas por grave crise na economia nacional, apresentando um quadro de recessão e elevação do desemprego. Neste contexto, Araújo (2013) enfatiza que a partir de 1970 já se avistava um comportamento de desconcentração industrial com deslocamento da indústria para fora de São Paulo, paralelamente à intensificação da ocupação do Centro-Oeste. A partir destas constatações, a tabela 1 mostra, em termos macrorregionais, o movimento das unidades produtivas do setor industrial nas grandes regiões do Brasil, no período de 1985 a 2012, evidenciando o movimento de desconcentração industrial por unidades produtivas. Tabela 1: Número de indústrias por estado, segundo as regiões brasileiras Grandes Regiões ABS % ABS % ABS % ABS % Norte , , , ,2 Nordeste , , , ,3 Sudeste , , , ,5 Sul , , , ,7 Centro-Oeste , , , ,3 Total , , , ,0 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da RAIS/MTE. 36

37 * ABS (Absoluto). Corresponde aos valores absolutos do total das unidades produtivas / estabelecimentos industriais de cada região. Em 1985 o Sudeste contava com o maior parque industrial do Brasil, comportando aproximadamente estabelecimentos industriais, que correspondiam a 61,3% do total nacional. Nesta mesma tabela, a economia sulina também entra em destaque, detendo, no mesmo ano, o total de empresas no setor industrial. São números que deixam evidente a força concentradora no eixo Sudeste-Sul. Em relação às demais regiões, em 1985 apenas o Nordeste apresenta um percentual relevante de unidades produtivas no setor industrial, detendo 8,7% dos estabelecimentos do setor. Esse percentual, no entanto, se comparado com as regiões industrialmente concentradas, equivale a apenas 1/3 da segunda região mais concentrada do país (o Sul), o que evidencia a concentração industrial no Sudeste e Sul do Brasil. Diniz (1995), no entanto, chama a atenção para o movimento de desconcentração industrial que começou a partir de 1970, enfatizando-o como um processo de inversão da concentração industrial e reversão da polarização das indústrias na área metropolitana de São Paulo. Os determinantes deste movimento inverso, ainda conforme Diniz (1995), foram, dentre outros, o surgimento de deseconomias de aglomeração na área metropolitana de São Paulo e a criação de novas economias de aglomeração em outros Estados; a intervenção do Estado por meio de investimentos em infraestrutura e concessão de incentivos fiscais; e a unificação do mercado nacional viabilizada pelo desenvolvimento da infraestrutura de transportes e comunicações, que permitiu intensificar a competição interindustrial. Embora tenha havido a implementação de políticas potencializadoras do processo de desconcentração industrial, e em paralelo, a busca dos setores público e privado por recursos naturais em outras regiões do país o que também potencializava o processo de desconcentração, o fato de o Sudeste ainda manter um elevado número de empresas no setor industrial em relação às demais economias regionais é explicado pelo espraiamento industrial que ocorreu no estado de São Paulo, porém em direção ao seu próprio interior. Com isso, São Paulo passava pelo processo de desconcentração industrial, mas o Sudeste mantinha-se concentrado (DINIZ, 1995). Este movimento de desconcentração pode ser observado quando se compara o número absoluto de estabelecimentos industriais no Sudeste em 1995 em relação a O Sudeste mostrou um aumento de 38,5% neste período, reduzindo significativamente esse percentual em 2005 quando 37

38 apresenta um crescimento de apenas 15% em relação a 1995, recuperando-se parcialmente em 2012, quando o aumento de estabelecimentos industriais de 2005 a 2012 foi de 24,5%. Pacheco (1996), analisando os determinantes da desconcentração industrial, destaca o deslocamento da fronteira agrícola e mineral; o processo de integração produtiva do mercado nacional; o surgimento de deseconomias de aglomeração no estado de São Paulo; o papel do Estado na implementação de políticas de desenvolvimento regional; e os diferentes impactos da crise econômica, bem como os ajustes microeconômicos feitos pelas grandes empresas. O movimento de desconcentração industrial é evidenciado ainda quando se compara o total dos estabelecimentos industriais do Sudeste com o total nacional de cada ano. Em 1985 o Sudeste contava com 61,3% dos estabelecimentos industriais em relação ao total nacional, e seguiu perdendo posição relativa nos anos seguintes, passando para 57,7% em 1995, 49,6% em 2005 e atingindo apenas 47,5% em Assim, de 1985 a 2012, o Sudeste teve perda relativa de 13,8 pontos percentuais em relação ao total nacional, o que representa uma redução média de 0,5% ao ano. Ao longo do período em análise, as demais regiões apresentaram movimentos ascendentes em relação ao número de unidades produtivas, com destaque para o Nordeste e o Sul. Em cada período analisado, o Nordeste apresenta participação relativa importante em relação ao total nacional. Em 1985 participava com 8,7% em relação ao total nacional. No decênio seguinte, essa participação sobe para 9,6%; e para 11,8 e 13,3% no período de 2005 a O Sul, que vinha mostrando crescente participação em relação ao total nacional desde 1985, apresentará, em 2012, uma participação um pouco menor do que o que havia apresentado em Essa diminuição em relação ao total nacional deve-se ao fato da crescente participação do Nordeste e Centro-Oeste, que, de 2005 a 2012, tiveram um aumento significativo no número de unidades produtivas, com crescimento de 47 e 49%, respectivamente. A tabela 2 mostra os valores absolutos correspondentes à quantidade de unidades produtivas em cada Estado do Norte. Destaca-se então o Pará, que, em 1985 respondia por mais da metade das unidades produtivas da região, num total de unidades, equivalente a 51,3% do total regional naquele ano. 38

39 Tabela 2: Número de indústrias nos estados da Região Norte Estados da Região Norte ABS % ABS % ABS % ABS % Rondônia , , , ,4 Acre 116 3, , , ,9 Amazonas , , , ,7 Roraima 32 1, , , ,5 Pará , , , ,0 Amapá 87 2, , , ,4 Tocantins 0 0, , , ,1 Total , , , ,0 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da RAIS/MTE. * Não há dados disponíveis para o estado de Tocantins no ano de Conforme apontado por Diniz (1995), de 1970 a 1990 o Norte já havia ampliado a sua participação no conjunto da produção industrial nacional de 0,8 para 3,1%, tendo grande peso nesta variação o papel desempenhado pelos incentivos fiscais proporcionados pela Sudam e pela Suframa, viabilizando a instalação de indústrias de bens eletrônicos de consumo e outros bens leves. Neste contexto, Diniz (1995) enfatiza que o Pará, que figurava, em 1985, e nas décadas seguintes, como detentor do maior número de unidades produtivas, ainda foi beneficiado pelo aproveitamento de recursos naturais de que dispunha em sua área geográfica e pela formação de um mercado consumidor de relativa expressão. Fora o Pará, apenas os estados do Amazonas e Rondônia tiveram crescimentos expressivos entre 1985 a Rondônia, que em 1985 participava com 17,2% do total das unidades produtivas do Norte, aumenta essa participação em 1995 para 21,3% e em 2012 para 21,4%. O Amazonas, por sua vez, embora seja o segundo estado do Norte com o maior número delas em 1985, aumenta o número de unidades produtivas ao longo dos anos 1995 a 2012, porém perde participação relativa em relação ao estado de Rondônia, participando em 2012 com apenas 17,7% do total regional. Historicamente menos desenvolvida do que o Sudeste e o Sul, o Nordeste, cujos estados são apresentados na tabela 3, foi marcado pelo fraco dinamismo econômico mostrado em décadas anteriores ao período analisado no presente trabalho, devido à base produtiva instalada na região, caracterizada pelo setor primário-exportador (ARAÚJO, 1997). 39

40 Tabela 3: Número de indústrias nos estados da Região Nordeste Estados da Região Nordeste ABS % ABS % ABS % ABS % Maranhão 810 6, , , ,9 Piauí 568 4, , , ,0 Ceará , , , ,9 Rio Grande do Norte 856 6, , , ,6 Paraíba , , , ,1 Pernambuco , , , ,4 Alagoas 618 4, , , ,9 Sergipe 503 3, , , ,4 Bahia , , , ,8 Total , , , ,0 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da RAIS/MTE. O relatório do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste - GTDN propunha estimular a sua industrialização como medida para resolver o problema da incapacidade que o setor primário-exportador nordestino tinha de promover o desenvolvimento econômico da região via base econômica agroexportadora (ARAÚJO, 1997). Assim, já na década de 1960, a dinâmica modesta da economia nordestina foi rompida com a criação da Sudene, que passa a coordenar a concessão de incentivos fiscais pelo sistema 34/18- Finor; a isenção do imposto sobre a renda; o investimento de empresas estatais como a Petrobrás e a Vale do Rio Doce; e os recursos de empresas privadas. Como resultado, de 1967 a 1989, a agropecuária havia reduzido seu peso no PIB da região, enquanto a indústria o aumentou em 6,7% (ARAÚJO, 1997). Visto que o movimento de integração econômica havia atingido e direcionado o Nordeste para a dinâmica da economia nacional e suas tendências, Araújo (1997, p. 9 - grifo do autor) conclui que não se verifica mais o fato de a economia do Nordeste ir mal, enquanto o Centro-Sul vai bem. A integração produtiva articulara a dinâmica econômica nas diversas regiões brasileiras. O Estado foi de extrema importância para o crescimento econômico do Nordeste, pois, como assevera Araújo (1997, p. 12) acerca do patrocínio estatal para o crescimento econômico nas diversas regiões brasileiras, em relação ao Nordeste pode-se afirmar que sua presença foi fator fundamental para explicar a intensidade e os rumos do crescimento econômico ocorrido nas últimas décadas. 40

41 Neste contexto, a tabela 3 apresenta a distribuição das unidades produtivas no Nordeste, onde o destaque vai para os estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia, que já em 1985 apresentavam os maiores valores absolutos em termos de unidades produtivas instaladas. Essa distribuição contém diferenças significativas entre os estados quando analisada em períodos isolados. Por exemplo, em todos os anos analisados, os estados do Ceará, Pernambuco e Bahia, apresentam valores maiores que os dos demais estados. Porém, no intervalo de tempo estabelecido, 1985 a 2012, o que se observa ao longo do período é um crescimento relativamente gradual em todos os Estados, com alguns saltos ou retrações no número de estabelecimentos industriais em algumas unidades federativas. Por exemplo, o estado do Piauí apresentou em 2005 um aumento de 108% no número de unidades produtivas, em relação ao ano de 1995; em 2012, em relação a 2005, o aumento foi de apenas 42%. O estado do Ceará, por sua vez, apresentou em 1995 um aumento de 89% em relação ao ano de 1985, sendo que, de 1995 a 2005 este percentual foi de 69%, e de 2005 a 2012 o crescimento foi de 50%; o Ceará, portanto, foi o estado nordestino que mais cresceu neste período. O Rio Grande do Norte em 2005, cresceu no número de unidades produtivas 91% em relação ao decênio anterior, isto é, em relação ao ano de Em 2012, porém, este aumento foi de apenas 44% em relação ao ano de O estado de Sergipe registrou crescimento de 92% em 1995 em relação a 1985, porém, assim como o estado do Ceará, esse aumento se reduziu ao longo do período analisado, registrando em 2012, um aumento de apenas 43% em relação ao ano de Em relação ao estado da Bahia, o destaque é o polo petroquímico de Camaçari, implantado no final na década de 1970 pela Petrobrás. Este complexo é visto como um dos grandes responsáveis pelo aumento da produção de bens intermediários no Nordeste, contribuindo, dentre outros, com relevante participação na receita gerada para o estado da Bahia e no seu aumento de exportações (ARAÚJO, 1997) O Ceará, por seu turno, conta com importante polo têxtil e de confecções na cidade de Fortaleza, sendo bastante competitivo nacionalmente e, em relação à fiação, passa a ser competitivo internacionalmente. Já o estado do Maranhão conta com o complexo minero-metalúrgico ou complexo de Carajás formado na década de 1980, com implantação da infraestrutura fornecida pela Companhia Vale do Rio Doce para a exploração e exportação do minério de ferro (ARAÚJO, 1997). A tabela 4 a seguir, apresenta um panorama da distribuição da indústria no Sudeste com valores absolutos bastante elevados, quando comparados com os valores das demais regiões 41

42 brasileiras. São Paulo sobressai em relação aos demais estados do Sudeste contando já em 1985 com 60,9% do total das unidades produtivas desta região. Em 1985, São Paulo respondia por 60,9% do conjunto do Sudeste, sendo que nos anos posteriores este percentual passaria a diminuir até atingir os 57,9% em 2012, em termos de participação paulista no Sudeste, mostrando, assim, um movimento de queda ao longo do período em relação ao conjunto do Sudeste. Tabela 4: Número de indústrias nos estados da Região Sudeste Estados da Região Sudeste ABS % ABS % ABS % ABS % Minas Gerais , , , ,1 Espírito Santo , , , ,6 Rio de Janeiro , , , ,4 São Paulo , , , ,9 Total , , , ,0 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da RAIS/MTE. Do conjunto dos estados do Sudeste, o Rio de Janeiro vem perdendo posição ao longo do período considerado, com participações relativas que vão de 17,4% em 1985 a 11,4% em De fato, pela tabela 4, este é o estado do Sudeste que mais sofreu queda acentuada na participação relativa no conjunto do Sudeste. Em 1995, o Rio de Janeiro cresceu apenas 5% no número de unidades produtivas em relação ao ano de 1985, frente a participações acima de 38% apresentadas pelos demais estados da mesma região em idêntico período. Em 2005, o Rio de Janeiro cresceu negativamente -7% em relação ao ano de 1995, tornando-se o único estado do Sudeste a sofrer um crescimento negativo no número de unidades produtivas no período considerado na análise. Este processo de perda é assim reforçado por Diniz (1995, p. 12): O estado do Rio de Janeiro vem em um processo de perda e decadência ao longo do século, ao que se poderia chamar de desindustrialização relativa. Em 2012, porém, há um crescimento de 31% no seu número de unidades produtivas em relação ao ano de 2005, percentual este superior à maioria dos estados do Sudeste no mesmo período. O estado de Minas Gerais, ao contrário, vem ganhando participação relativa ao longo do período analisado, mostrando, de 1985 a 2012, um aumento total de 175% no número das unidades produtivas e apresentando em 2012 uma participação relativa de 26,1% no conjunto do Sudeste. Sobre este crescimento mineiro, Diniz (1995) comenta que Minas Gerais foi um dos poucos 42

43 estados do Sudeste que, devido à sua base de recursos minerais, conseguiu manter a sua participação relativa frente ao forte processo de concentração industrial por que passava São Paulo. Não obstante o processo de desconcentração produtiva a partir dos anos 1970, Diniz (1995) chama a atenção para o movimento de reconcentração na região mais desenvolvida do país, devido às mudanças tecnológicas. Conforme Diniz (1995, p. 14), observa-se uma tendência a uma relativa reconcentração no polígono definido por Belo Horizonte-Uberlândia-Londrina/Maringá-Porto Alegre-Florianópolis-São José dos Campos-Belo Horizonte. Em relação ao processo de modernização tecnológica, as regiões onde há maior concentração industrial se beneficiam da melhor infraestrutura disponível para se adequar a tais mudanças. Neste sentido, Diniz (2002) destaca, como fatores positivos para adequação à modernização tecnológica, a melhor disponibilidade de infraestrutura industrial, maior oferta de serviços e a infraestrutura de conhecimento, isto é, a diversidade de centros acadêmicos e instituições públicas e privadas voltadas para a pesquisa, e conclui, sob esta perspectiva, que, pelo fato de esta infraestrutura estar disponível no Sudeste e no Sul, há uma tendência de que a concentração industrial nestas regiões seja reforçada, o que implica o aumento das desigualdades regionais. Pela concentração industrial demonstrada nas tabelas 1 e 4, e como já fartamente analisado pela literatura, segue-se que os segmentos de bens de consumo duráveis e de capital encontram-se em sua maioria instalados no eixo Sudeste-Sul, onde as vantagens de competitividade num quadro de estabilização da renda e incremento das exportações, como analisado por Pacheco (1996), seriam, e são, maiores do que nas demais regiões. Assim, segundo Pacheco (1996, p. 131), é nas condições de acumulação destes setores que se decide a sorte da continuidade do movimento cíclico, havendo poucas possibilidades de sustentar um crescimento duradouro exclusivamente sobre o desempenho exportador. Diante desse quadro, as economias das demais regiões, por não serem contempladas pela concentração destes setores, estariam em desvantagem frente à economia do Sudeste. A tabela 5 mostra o Sul com comportamentos distintos nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul ao longo do período analisado se considerados os valores absolutos correspondentes ao número de estabelecimentos industriais neste estados. O Rio Grande do Sul apresenta um movimento descendente de 1985 a 2012 em relação à sua participação relativa no conjunto da região em cada período. Ou seja, ao longo do período analisado as taxas de crescimento do Rio Grande do Sul em relação aos períodos imediatamente anteriores mostram-se ascendentes, porém o 43

44 Estado segue perdendo posição relativa em cada ano considerado em seu conjunto regional, apresentando uma participação total no Sul de 45,4% em 1985, caindo para 36,8% em Este arrefecimento é explicado em grande parte, pela transferência de unidades produtivas do Rio Grande do Sul para o estado de Santa Catarina que, no mesmo período apresenta ganho relativo proporcional à perda relativa do Rio Grande do Sul. Tabela 5: Número de indústrias nos estados da Região Sul Estados da Região Sul ABS % ABS % ABS % ABS % Paraná , , , ,2 Santa Catarina , , , ,0 Rio Grande do Sul , , , ,8 Total , , , ,0 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da RAIS/MTE. Esta desconcentração produtiva por que passa o Rio Grande do Sul também é explicada por Diniz (2002) que, analisando o processo de reversão da concentração relativa nas regiões Sudeste e Sul, argumenta haver uma tendência relacionada com a transferência de indústrias têxteis e calçados para o Nordeste, viabilizada pelas matérias-primas que utilizam, pela grande oferta de mão de obra e pelos baixos salários pagos, visto que a produção não necessita de mão de obra especializada, contando ainda com um sistema de incentivos fiscais. Em relação ao Centro-Oeste, Diniz (1995) avalia como sendo uma das mais modestas em termos de produção industrial, devido à baixa densidade econômica e populacional; mesmo assim esta região vem se expandindo economicamente. Tabela 6: Número de indústrias nos estados da Região Centro-Oeste Estados da R. Centro-Oeste ABS % ABS % ABS % ABS % Mato Grosso do Sul , , , ,1 Mato Grosso , , , ,7 Goiás , , , ,5 Distrito Federal , , , ,7 Total , , , ,0 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da RAIS/MTE. Esta expansão, de unidades produtivas apresentada na tabela 6, pode ser verificada em todo o período considerado, com destaque para o Mato Grosso, que de 1985 a 2012 aumentou o número 44

45 de unidades produtivas em 450%; seguido de Goiás que apresentou, também no mesmo período, um aumento de 350% em estabelecimentos produtivos; e do Distrito Federal com crescimento de 373% ao longo do período. O destaque, no entanto, em termos de participação relativa no conjunto da região, em relação ao número de estabelecimento industriais, vai para Goiás, que em 2012 respondia com 50,5% desses estabelecimentos no conjunto do Centro-Oeste. As razões para este crescimento são apontadas por Diniz (1995) como efeitos derivados da expansão gradual da fronteira agrícola e do aproveitamento de recursos minerais. Ainda segundo Diniz (1995), os efeitos do crescimento urbano são fatores que também podem influenciar o crescimento industrial. 5. Considerações finais O presente trabalho teve como objetivo discutir a questão da industrialização nas macrorregiões brasileiras no contexto dos incentivos fiscais, com ênfase na região Nordeste, e constatou que a região Sudeste continua sendo a região mais industrializada do país, não obstante o processo de desconcentração industrial por que vem passando esta região desde a década de A variável base considerada para este estudo foi o número de unidades produtivas distribuídas entre as cinco macrorregiões brasileiras. Por meio da análise de tabelas com números absolutos e relativos desta variável, pôde-se observar que a região Sudeste detém o maior número de estabelecimentos industriais no período analisado. Nesta região, destaca-se o estado de São Paulo, tradicionalmente concentrador da atividade industrial do país. Esta concentração ocorreu devido ao processo histórico de formação econômica do Brasil que, por ter crescido de forma desigual, fez com que algumas regiões se desenvolvessem mais do que outras. A região Sudeste, favorecida pelas condições naturais de clima e terra favoráveis ao plantio de café, cedo se destacou na produção desta commodity e, com a intervenção do Estado, logo veio a industrialização desta região. Rumos diferentes tomaram as demais regiões do país, a exemplo da região Nordeste que, tradicionalmente arraigada em processos deficientes de produção, mantendo ainda formas de trabalho escravo e dominada pelos interesses particulares de grandes proprietários de terras, não acompanhou o ritmo de industrialização da região Sudeste. Neste contexto destaca-se também a região Sul como a segunda maior região concentradora de estabelecimento industriais no país, detendo 24,0% dos estabelecimentos 45

46 industriais do país em 1990 e 29% destes em Este fato demonstra que, embora as regiões Sudeste e Sul tenham apresentado perdas relativas no conjunto nacional ao logo do período analisado conforme fora demonstrado no estudo, a concentração industrial ainda está fortemente localizada no eixo Sudeste-Sul, o que reforça a hipótese de que as políticas de desenvolvimento regional fomentadas pelo Governo Federal através de órgãos como a Sudene, Sudam, Suframa e afins, ainda não foram suficientes para promover uma melhor equidade econômica entre as regiões do país pela distribuição de estabelecimentos industriais nas regiões ditas periféricas. Com isso, tem-se que as políticas de desenvolvimento regional não conseguiram o efeito desejado, qual seja, a descentralização de estabelecimentos industriais localizados na região mais desenvolvida do país. Assim, as políticas estaduais de atração de investimentos industriais ainda continuam como um forte recurso utilizado pelos governos estaduais para o desenvolvimento das economias regionais. Sobre isto, há que se considerar que estas políticas geram efeitos positivos no que diz respeito à atração de empresas e geração de empregos; por outro lado, os governos abrem mão de importantes receitas estaduais que poderiam ser aplicadas em educação, segurança e saúde, sem contar que os governos estaduais nada fazem em relação às melhorias das condições de trabalho oferecidas pelas empresas incentivadas. Diante deste quadro, faz-se necessário uma política nacional de desenvolvimento regional, na qual os governos estaduais não tenham que lançar mão do mecanismo da guerra fiscal pela renúncia de receitas estaduais, o que acarreta em prejuízos para os estados pois, se de um lado ganham em geração de postos de trabalho e em algumas externalidades positivas geradas pelas grandes empresas industriais, por outro, perdem pela ausência de receita que deveria ser investida no próprio estado, em infraestrutura, segurança, educação e saúde. 6. Referências bibliográficas ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Desigualdades regionais e Nordeste em Formação Econômica do Brasil. In: 50 anos de Formação Econômica do Brasil: ensaios sobre a obra clássica de Celso Furtado. ARAÚJO, Tarcisio Patricio de; WERNECK, Salvador Teixeira; MACAMBIRA, Vianna e Júnior (orgs). Rio de Janeiro: Ipea, cap. 7, pp , novembro, Por uma política nacional de desenvolvimento nacional. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, vol. 9, nº 2, pp , abr-jun,

47 . Tendências do desenvolvimento regional recente no Brasil. In: Pacto federativo, integração nacional e desenvolvimento regional. BRANDÃO, Carlos e SIQUEIRA, Hipólita (orgs). São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, pp , CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. Campinas: Editora Unicamp. IE, Concentração e desconcentração econômica regional no Brasil: 1970/95. Economia e Sociedade, Campinas, nº 8, pp , junho, DINIZ, Clélio Campolina. A dinâmica regional recente da economia brasileira e suas perspectivas. Texto para discussão n 375, IPEA, Brasília, Celso Furtado e o desenvolvimento regional. Nova Economia, vol. 19, nº 2, pp , maio-agosto, A questão regional e as políticas governamentais no brasil. Texto para discussão n 159, CEDEPLAR/FACE/UFMG, Belo Horizonte, Repensando a questão regional brasileira: tendências desafios e caminhos. In: Desenvolvimento em debate: Painéis do desenvolvimento brasileiro II. CASTRO, Ana Célia (org). Rio de Janeiro: BNDES, pp , GUIMARÃES NETO, Leonardo. Trajetória econômica de uma região periférica. In: Dossiê Nordeste I. Estudos Avançados v. 11, nº 29, pp , abril, PACHECO, Carlos Américo. Desconcentração econômica e fragmentação da economia nacional. Economia e Sociedade, Campinas, nº 6, pp , junho, SOARES, Francisco de Assis; SANTOS, Sandra Maria dos; TENÓRIO, José Nelson Barbosa; FRAGOSO, Shirley Nascimento. Interiorização e reestruturação da indústria do Ceará no final do século XX. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, vol. 38, nº 1, pp , jan-mar,

48 ÁREA TEMÁTICA: 4. DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS PANORAMA DA INDÚSTRIA NAS MACRORREGIÕES BRASILEIRAS: ANÁLISE A PARTIR DE MEDIDAS DE LOCALIZAÇÃO JULIO CESAR MARTINS DA SILVA Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri - URCA juliocmartins@msn.com Cel. (88) LUÍS ABEL DA SILVA FILHO Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp/CESIT Mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Professor do Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri - URCA abeleconomia@hotmail.com Cel. (88)

49 PANORAMA DA INDÚSTRIA NAS MACRORREGIÕES BRASILEIRAS: ANÁLISE A PARTIR DE MEDIDAS DE LOCALIZAÇÃO Resumo: Devido ao grande número de indústrias localizadas na região Sudeste do Brasil, convivendo com a existência de regiões menos industrializadas e menos desenvolvidas, surge na questão regional discussões sobre os fenômenos da concentração e desconcentração industrial, com vistas a dar explicações sobre suas origens, desdobramentos e consequências econômico-sociais para o país. Neste contexto, este artigo tem como objetivo verificar o comportamento do setor industrial brasileiro pela análise do movimento de suas unidades produtivas entre as macrorregiões. A partir de dados obtidos da Relação Anual de Informações Sociais RAIS do Ministério do Trabalho e Emprego MTE, e fazendo uso de medidas de localização, o estudo mostra o comportamento dos estabelecimentos industriais nas macrorregiões no período de 1990 a 2010, e põe em evidência que as políticas de desenvolvimento regional implementadas pelos governos federal e estadual não foram suficientes para promover o desenvolvimento econômico das regiões periféricas pela atração estabelecimentos industriais, mantendo-se o Sudeste ainda no posto de região mais industrializada do país. Palavras-chave: Desenvolvimento regional; concentração industrial; Estado. Abstract: Because the large number of industries located in Brazil's Southeast region, living with the existence of less industrialized and less developed regions, arises in the regional matter discussions about the phenomena of concentration and industrial decentralization, in order to give explanations about its origins, developments and economic and social consequences for the country. In this context, this paper aims to verify the behavior of the Brazilian industrial sector by analyzing the movement of its plants among regions. From data obtained from the Annual Relation of Social Information RAIS of the Ministry of Labor and Employment MTE, and making use of location measures, the study shows the behavior of the industrial establishments in the macro-regions in the period, and evidence that regional development policies implemented by federal and state governments were not enough to promote economic development of peripheral regions by attracting industrial establishments, maintaining the Southeast still as a most industrialized region of the country. Keywords: Regional development; industrial concentration; State. 49

50 1. Introdução No contexto brasileiro, a intervenção econômica do Estado faz-se mostrar bastante evidente quando se analisam as políticas públicas de incentivos fiscais que se destinam a fomentar o crescimento da economia de determinadas regiões pela atração de investimentos industriais. O Sudeste assume a liderança no processo de acumulação capitalista expresso pelo número de indústrias que nesta região se instalara. Devido ao grande número de indústrias, a região Sudeste, convivendo com regiões menos industrializadas, e por isso menos desenvolvidas a exemplo das regiões Norte e Nordeste surge, nos estudos regionais, temas a respeito dos processos de concentração e desconcentração industrial, com vistas a explicar tais fenômenos no que diz respeito às suas origens, desdobramentos, consequências econômicas e sociais para o país, e propor políticas desenvolvimentistas que possibilitassem resolver o problema das regiões menos desenvolvidas. Segundo Cano (2007b), a concentração industrial paulista seria consolidada definitivamente na década de 1920 depois de apresentar crescimento industrial nominal de 8,5 vezes, enquanto a indústria do resto do país registrava crescimento de apenas 3,5 vezes. Assim, uma vez consolidada a concentração industrial na região Sudeste, surgem posteriormente movimentos de desconcentração industrial com unidades produtivas sendo deslocadas para as regiões periféricas movimentos estes que Diniz (1996) analisa, argumentando que o fenômeno da desconcentração industrial no caso brasileiro foi determinado por algumas variáveis complementares entre si, das quais uma foi o papel exercido pela política econômica no sentido de promover investimentos produtivos diretos e incentivos fiscais em âmbito regional. Em relação às regiões Norte e Nordeste, Diniz (1996, p. 85) considera que houve uma forte intencionalidade da política econômica em promover o processo de desconcentração industrial, Cano (2007a) não vê a industrialização das regiões menos desenvolvidas como a forma mais eficiente de resolver os problemas regionais, sendo que nestas regiões poderiam ser explorados setores em potencial como a agricultura, o comércio urbano e a construção civil. A partir de dados obtidos da Relação Anual de Informações Sociais RAIS, e utilizandose de medidas de localização para avaliação dos dados, o presente tralho faz uma análise da indústria nas macrorregiões brasileiras, considerando como variável base para o estudo as unidades produtivas, isto é, os estabelecimentos industriais de 14 subsetores da indústria distribuídos entre as cinco grandes regiões brasileiras, e, observando os diferentes valores assumidos pela variável 50

51 base, procura-se verificar o comportamento dos processos de concentração e desconcentração industrial no período analisado. Para tanto, além desta introdução, o trabalho está dividido em mais quatro seções, sendo que, na segunda seção são apresentados os aspectos metodológicos utilizados para a análise dos dados do presente trabalho. Na terceira seção será apresentada a revisão de literatura acerca dos problemas regionais em relação aos processos de concentração e desconcentração industrial. Como a variável base é a unidade produtiva, distribuída nas cinco grandes regiões brasileiras, as medidas de localização tornam-se convenientes para analisar a distribuição dessas unidades entre as macrorregiões brasileiras. A quarta seção, juntamente com suas 2 subseções, trata da análise empírica dos dados. Enfim, na quinta seção são tecidos alguns comentários a título de conclusão. 2. Aspectos Metodológicos Para o presente estudo, utilizar-se-ão dados secundários obtidos a partir de bancos de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), sendo que, para a interpretação dos dados, recorrer-se-á à utilização de medidas de localização, de modo que a base de dados será formada pelas variáveis abaixo: i Up j = Unidades produtivas do setor industrial i na macrorregião j ; j i i j Up = Unidades produtivas do setor industrial i de todas as macrorregiões; i j Up = Unidades produtivas de todos os setores industriais da macrorregião j ; i j Up = Unidades produtivas de todos os setores industriais de todas as macrorregiões. i j 2.1 Medidas de localização Serão utilizadas como medidas de localização o Quociente Locacional e o Coeficiente de Localização, para identificar a localização de concentrações de unidades produtivas no setor industrial de determinada macrorregião em relação ao total das unidades produtivas do conjunto nacional. 51

52 Assim, o Quociente Locacional ( QL ) será utilizado com vistas a proporcionar a observação da participação relativa das unidades produtivas de um determinado setor industrial de uma macrorregião com a participação relativa do total das unidades produtivas do setor industrial do conjunto nacional. Este Quociente será expresso pela seguinte equação: i i Up j Up j j QL 1 i i Up j Up j i i j Se o QL estiver próximo de zero, considera-se que a macrorregião detém poucas unidades produtivas do setor industrial analisado e portanto baixo nível de industrialização neste setor em relação ao conjunto nacional. Se o QL for igual ou superior à unidade, a região analisada possui relevante número de unidades produtivas do setor analisado capaz de produzir um excedente exportável (HADDAD, 1989 apud BALANCO; SANTANA, 2007). O Coeficiente de Localização (CL ) será utilizado para mostrar a distribuição percentual das unidades produtivas entre as grandes regiões naturais com a distribuição percentual das unidades produtivas do conjunto nacional. A equação a ser utilizada será a seguinte: 2 i i i i Upj Upj Upj Upj j j i CL i j 2 Para valores iguais a 0 (zero), tem-se que o setor i está distribuído regionalmente, isto é, está disperso entre as macrorregiões brasileiras da mesma forma que o conjunto de todos os setores estão distribuídos nacionalmente. Se o CL apresentar valores iguais ou acima de 1 (um), tem-se que o setor i está mais concentrado regionalmente, caracterizando que há concentração industrial do setor i na macrorregião considerada (LIMA et al. 2006). As medidas propostas na metodologia permitem analisar o comportamento do setor industrial nas macrorregiões brasileiras, possibilitando a realização de observações acerca do processo de industrialização de cada macrorregião. 3. Problemas regionais: concentração e desconcentração industrial 52

53 A questão regional brasileira, segundo Cano (2007a), manifestou-se sobretudo nos movimentos revolucionários regionais do século XIX; por via da produção literária e, no final do século XIX, também pelo problema das secas do Nordeste. Na mesma linha, segue Diniz (2009) argumentando que as discussões sobre a região Nordeste tornaram-se em importante matéria de estudo da questão regional, visto a região Nordeste já haver sido objeto de esforços empreendidos para resolver os problemas das secas desde a segunda metade do Século XIX quando, em 1877 fora instituída a Comissão Imperial para tratar deste problema. Devido ao grande número de indústrias situadas na região Sudeste do Brasil, convivendo paralelamente com regiões menos industrializadas e por isso menos desenvolvidas a exemplo do Nordeste surge, na questão regional, as discussões sobre os fenômenos da concentração e desconcentração industrial, no intuito de procurar dar explicações sobre suas origens, desdobramentos, consequências econômicas e sociais para o país, e ainda propor políticas econômicas para o desenvolvimento de regiões menos desenvolvidas vis-à-vis às mais industrializadas. Cano (2007b), ao tratar da concentração industrial no Brasil, demonstra que esta originouse no estado de São Paulo, no começo do século XX, onde nas primeiras duas decas até 1919, portanto, a indústria paulista apresentaria crescimento nominal na ordem de 8,5 vezes, enquanto que as demais regiões do país seguiriam com crescimento industrial inferior, de apenas 3,5 vezes. A concentração industrial paulista seria consolidada de vez na década de 1920, sendo a economia cafeeira foi o motor impulsionador do processo de concentração industrial em São Paulo, juntamente com o mercado de trabalho desenvolvido no complexo cafeeiro. Quanto ao Nordeste, Cano (2007a) informa que o complexo econômico desta região já vinha em decadência, com sinais marcantes de crise na principal atividade escravista da região, a saber: a produção de açúcar. Guimarães Neto (1997) explica que a diferença entre as regiões Sudeste e Nordeste se deu principalmente devido ao processo de formação das classes dirigentes do Sudeste; às estruturas comerciais que lá se desenvolveram; à intervenção efetiva do Estado; e à constituição de formas de trabalho assalariado. As demais regiões brasileiras não seguiram os rumos da economia do Sudeste com a mesma dinâmica. O estado da Guanabara, por exemplo, entrou em retrocesso industrial em razão da mão de obra escrava predominante em sua economia cafeeira (CANO, 2007b). A Amazônia, até o 53

54 início da segunda metade do século XIX, mantinha-se como economia extrativista, com baixa produtividade e praticamente sem integração com as demais regiões do país (CANO, 2007a). Portanto, devido ter crescido de forma concentrada, as regiões Sudeste e Sul vem sendo objetos de importantes estudos acerca dos efeitos da concentração industrial causados nas demais regiões. Diniz (2009), valendo-se de Furtado, explica que a concentração industrial no Centro-Sul, aliada a existência de uma economia primária no Nordeste, fazia com que os superávits gerados pelas exportações Nordestinas para o exterior fossem utilizados para financiar importações do Centro-Sul brasileiros, o que acabava por enfraquecer a indústria têxtil do Nordeste pela entrada de produtos industrializados do Centro-Sul. Araújo (2013, p. 50) enfatiza o problema da concentração econômica, argumentado que a concentração que beneficiou o Sudeste e o Sul durante o século XX, embora atenuada, ainda é uma marca muito forte no cenário do desenvolvimento regional brasileiro, em especial a concentração industrial. Cano (2007b, p. 265) defende que as causas das desigualdades regionais não foram devido à concentração industrial na região Sudeste, e coloca que a expansão industrial de São Paulo se deu pelo dinamismo de sua própria economia e não, como se poderia pensar, pela apropriação líquida de recursos, provenientes da periferia nacional. O Governo Federal realizou para promover a industrialização das demais regiões pela criação de órgãos de desenvolvimento regional implantados a partir da década de 1960, a exemplo da SUDENE que, envidaria esforços para promover em maior ou menor grau, a desconcentração industrial. A este respeito, Cano (2007a) argumenta que as políticas para o desenvolvimento da industrialização regional apoiaram a implantação da indústria de capitais forâneos no Norte e Nordeste, e que os segmentos industriais incentivados e instalados nestas regiões não promoverem um aumento satisfatório do emprego e não resolveram o problema da concentração de renda. O Nordeste, por exemplo, foi uma das regiões periféricas que se tornou atraente para os investimentos econômicos públicos e privados, devido aos incentivos governamentais em âmbito federal e estadual. Esta fase de integração produtiva da região Nordeste com o restante do país, representa a forma de atuação do Estado brasileiro, mais notadamente da sua esfera federal, para com as regiões brasileiras menos desenvolvidas (GUIMARÃES NETO, 1997). Araújo (1999) por sua vez, traz à discussão a questão de que as maiores ações do Governo central na década de 1990, pareciam estar voltadas a priorizar a implantação de novos investimentos 54

55 em alguns focos competitivos, evidenciando assim, que a concentração industrial tende a atrair investimentos públicos e privados para as regiões já concentradas, em maior volume do que seria dirigido às regiões mais pobres, fato que, por si, já se constitui num agravante ao aprofundamento das disparidades regionais. Cano (2007a) trata como mito persistente tanto no meio acadêmico como no político a questão de tomar as regiões mais industrializadas, a exemplo de São Paulo, como modelo do desenvolvimento a ser adotado nas regiões menos desenvolvidas, promovendo nestas, políticas de industrialização como meio para resolver os problemas das disparidades regionais como pobreza e desemprego, e considera que apenas um sistema de planejamento regional não é suficiente para resolver o problema da questão regional. Neste contexto, convém ressaltar o indispensável papel do Estado no que diz respeito à promoção da equidade econômica regional. Cano (2009, p. 261) afirma que os Estados possuem forças suficientes para minimizar as disparidades regionais, e destaca que a ativação dessas forças endógenas que possibilitariam às regiões menos desenvolvidas romper com a dependência do Sudeste, e com isso promover o seu crescimento econômico interno, somente poderia se dar através de uma ação maior do Estado. 4. Comportamento das macrorregiões brasileiras em relação aos estabelecimentos industriais A tabela 1 contém a participação percentual do setor industrial em número de unidades produtivas nas grandes regiões brasileiras no período de 1990 a 2010 e ressalta em cada uma delas o resultado das políticas de industrialização. Sobre o Norte, Diniz (1995) mostrou que de 1970 até 1985 esta região havia apresentado expressivo crescimento em relação à participação na produção industrial brasileira, beneficiada que foi pelos incentivos fiscais concedidos pela Sudam e Suframa, que viabilizaram a instalação de fábricas de materiais eletrônicos e de consumo e bens leves. De acordo com a tabela 1, que apresenta em percentual, a participação regional da indústria brasileira por estabelecimentos industriais, o Norte foi a que teve menor participação no período compreendido na tabela, variando positivamente em apenas um ponto percentual entre 1990 e 2010, passando de 2% para 3,1% de representatividade no período. 55

56 Tabela 1: Participação percentual de indústrias por macrorregião Regiões Norte 2,0 2,2 2,7 3,1 3,1 Nordeste 8,3 9,6 11,3 11,8 12,7 Sudeste 61,4 57,7 52,4 49,6 48,0 Sul 24,0 25,5 27,8 29,1 29,3 Centro-Oeste 4,3 5,0 5,8 6,4 6,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da RAIS/MTE. Depois do Sul, o Nordeste foi o que mais teve representatividade em número de estabelecimentos industriais, saltando de 8,3% do total nacional em 1990 para 12,7% em 2010 uma variação acumulada, portanto, de 4,4 pontos percentuais positivos. Muito contribuiu para tanto os mecanismos de atração industrial adotados pelos Estados nordestinos, assim como investimentos federais aplicados na região. De fato, Silva Filho, Queiroz e Silva (2011, p. 185) corroboram abaixo esses pontos de vista, afirmando que Além de incentivos fiscais e financeiros, as indústrias instaladas na região Nordeste encontraram o cenário ideal para a reprodução do capital, principalmente pela disponibilidade de mão-de-obra barata. Araújo (1997) mostrou que, a partir dos anos 60, o Nordeste despontou rumo à industrialização, incentivada sobretudo pelos incentivos fiscais do sistema 34/18-Finor e isenção do imposto sobre a renda, ambos geridos pela Sudene, então recentemente criada. Em paralelo houve investimentos de empresas estatais na Bahia e no Rio Grande do Norte com a Petrobrás, e no Maranhão com a Companhia Vale do Rio Doce. Seguiu-se a esses investimentos o acréscimo do número de empresas locais, nacionais e multinacionais. O polo petroquímico de Camaçari localizado na Bahia, vem contribuindo desde a década de 1970 para a crescente produção de bens intermediários no Nordeste. O estado do Ceará, por exemplo, detém um importante polo têxtil que, em 2008 contava com um parque industrial neste setor com o maior número de indústrias 36,60% do total das indústrias deste setor no Nordeste sendo o maior empregador do Nordeste neste setor; 39,51% do total de empregados neste setor no Nordeste, estavam alocados nas indústrias têxteis do Ceará (SILVA FILHO; QUEIROZ; REMY, 2011). O sistema de incentivos fiscais do Ceará tem peso relevante na atração de indústrias para o Estado. As empresas também são beneficiadas por incentivos fiscais e financeiros da Sudene e do 56

57 Banco do Nordeste. Com isso, o Ceará figura como um dos Estados nordestinos que mais se beneficiaram com as políticas de atração de indústrias (SILVA FILHO; QUEIROZ; SILVA, 2011). Destaque-se também o coplexo minero-metalúrgico do Maranhão, o projeto Celmar, destinado o produzir celulose, e o projeto Alumar voltado para a produção de alumina, também localizado no Maranhão (ARAÚJO, 1997). Vê-se ainda, pela tabela 1, que o Sudeste vem perdendo participação relativa no conjunto nacional. De 61,4% de participação nacional em 1990, o peso da indústria do Sudeste, em termos de estabelecimentos industriais, diminuiu para 48% em 2010, uma variação, portanto, negativa de 13,4 pontos percentuais ao longo do período analisado. Para tanto contribuem vários fatores fartamente analisados pela literatura, sendo os mais significativos o processo de desconcentração industrial a partir de 1970 e as recentes disputas interestaduais pela atração de investimentos industriais pautadas na renúncia fiscal e oferta de mão de obra barata. O Sul, por sua vez, foi a que mais cresceu entre 1990 e 2010, passando de 24% de participação nacional em 1990 para 29,3% em Trata-se de uma região favorecida pela proximidade que tem com o Sudeste. Diniz (2002) argumenta que, devido à expansão de áreas industriais de médio porte num grande número de cidades do Sudeste e do Sul, predomina nessas áreas o que ele chama de núcleo duro da indústria, assim como as indústrias de alta tecnologia. Há, portanto, segundo o autor, uma reaglomeração macroespacial da indústria nesta região, sendo o Sul favorecido por esse processo. O Centro-Oeste, por sua vez, subiu de 4,3% em 1990 para 6,9% em 2010, aumento, portanto, de 2,6 pontos percentuais em duas décadas. Este crescimento relativo sublinha sua tradicional posição de região central e mais vazia do país, em termos de população; cenário que, segundo Araújo (2013), vem mudando nas últimas décadas devido à recente mudança de localização pela qual está passando a população no território nacional, o que vem provocando, em termo regionais, adensamento econômico e demográfico. 4.1 Quociente Locacional dos subsetores industriais das grandes regiões Como já esclarecido na metodologia, o Quociente Locacional procura identificar o setor básico para a região analisada, e se esta região está especializada neste setor a tal ponto que seja capaz de produzir para exportação. Assim, para esta análise e para a das próximas medidas de localização e especialização, foram selecionados 14 subsetores industriais da economia, com vistas a oferecer um estudo mais detalhado das economias de cada região em relação ao conjunto nacional. 57

58 Tabela 2: Quociente Locacional (QL): Subsetores e Regiões Naturais Subsetores industriais Norte Nordeste Sudeste Sul C-Oeste Subsetor industrial 1990 Extrativa Mineral 1,11 1,05 1,00 0,92 1,26 Prod. Mineral não Metálico 0,76 1,10 0,98 1,06 0,92 Indústria Metalúrgica 0,61 0,61 1,08 0,99 0,83 Indústria Mecânica 0,46 0,45 1,11 1,06 0,41 Elétrico e Comunicação 1,22 0,54 1,24 0,63 0,43 Material de Transporte 0,90 0,58 1,08 1,01 0,71 Madeira e Mobiliário 2,53 0,92 0,69 1,57 1,65 Papel e Gráfica 0,85 1,12 1,07 0,78 1,13 Borracha, Fumo e Couros 0,71 0,74 1,14 0,83 0,65 Indústria Química 0,65 1,07 1,14 0,71 0,57 Indústria Têxtil 0,18 0,79 1,16 0,77 0,76 Indústria de Calçados 0,07 0,53 0,98 1,35 0,63 Alimentos e Bebidas 1,71 2,03 0,77 1,04 1,74 Serviço Ind. Utilidade Pública 2,20 1,98 0,84 1,03 0,62 Subsetor industrial 2000 Extrativa Mineral 0,88 1,06 1,09 0,81 1,06 Prod. Mineral não Metálico 1,03 1,10 1,04 0,91 0,91 Indústria Metalúrgica 0,52 0,56 1,13 1,05 0,66 Indústria Mecânica 0,50 0,42 1,17 1,10 0,38 Elétrico e Comunicação 0,78 0,35 1,30 0,82 0,48 Material de Transporte 1,18 0,56 1,14 0,91 0,98 Madeira e Mobiliário 2,43 0,70 0,67 1,52 1,41 Papel e Gráfica 0,91 0,95 1,13 0,77 1,11 Borracha, Fumo e Couros 0,68 0,74 1,09 1,00 0,88 Indústria Química 0,58 0,85 1,20 0,81 0,58 Indústria Têxtil 0,29 1,04 1,06 0,95 0,95 Indústria de Calçados 0,06 0,56 0,92 1,53 0,44 Alimentos e Bebidas 1,32 1,73 0,85 0,88 1,38 Serviço Ind. Utilidade Pública 2,88 1,88 0,82 0,69 1,52 Subsetor industrial 2010 Extrativa Mineral 1,56 1,18 1,08 0,66 1,29 Prod. Mineral não Metálico 1,28 1,28 0,95 0,90 1,14 Indústria Metalúrgica 0,65 0,67 1,08 1,10 0,81 Indústria Mecânica 0,60 0,52 1,13 1,11 0,64 Elétrico e Comunicação 0,98 0,50 1,27 0,89 0,50 Material de Transporte 1,37 0,68 1,13 0,93 0,82 Madeira e Mobiliário 2,06 0,74 0,68 1,46 1,26 Papel e Gráfica 1,04 1,06 1,07 0,83 1,11 Borracha, Fumo e Couros 0,81 0,87 1,10 0,92 0,92 Indústria Química 0,68 0,88 1,19 0,83 0,75 Indústria Têxtil 0,33 1,10 1,03 0,98 0,96 Indústria de Calçados 0,05 0,57 0,99 1,44 0,39 Alimentos e Bebidas 1,42 1,48 0,90 0,85 1,27 Serviço Ind. Utilidade Pública 2,62 1,38 0,85 0,83 1,37 Fonte: Elaborado a partir de dados da RAIS - MTE. 58

59 Em 1990 o Norte possui cinco setores com maior dinamicidade para a sua economia, a saber: o setor extrativo mineral, o elétrico e de comunicação, o de madeira e mobiliário, o de alimentos e bebidas e o de serviços industriais de utilidade pública, todos com índices acima de 1 (um), sendo, portanto, setores regionais básicos. O destaque vai para o setor de madeira e mobiliário e o de serviços industriais de utilidade pública, com índices de 2,53 e 2,20 respectivamente. Tal se deve ao predomínio desses estabelecimentos industriais. Em 1990 havia unidades produtivas no setor de madeira e mobiliário, número equivalente a 34% do total das unidades produtivas. O setor de serviços industriais de utilidade pública por sua vez, apresenta um índice acima de 2 (dois); mas o fato se deve à sua baixa representatividade no conjunto nacional, fator que faz aumentar o índice em regiões com poucas unidades produtivas. Outro setor com elevada representatividade é o de alimentos e bebidas: em 1990 contava com 861 estabelecimentos industriais, número equivalente a 21% do total de todos os estabelecimentos industriais de todos os setores desta região. Em 2000, os setores extrativo mineral e elétrico e comunicação perdem representatividade no Norte, enquanto os setores de produtos minerais não metálicos e o de material de transporte ganham representatividade, mediante índices acima da unidade. Os setores de madeira e mobiliário, alimentos e bebidas e serviços de utilidade pública permanecem com índices elevados e sem variações significativas. Na década seguinte (2010) os setores que mais ostentaram representatividade no Norte foram o extrativo mineral, com índice de 1,56, o de produtos minerais não metálicos com índice de 1,28, o de material de transporte com índice de 1,37, o de papel e gráfica e o de alimentos e bebidas com índices de 1,04 e 1,42 respectivamente. Os setores de madeira e mobiliário e serviços industriais de utilidade pública permanecem com índices elevados, acima de 2,00. O Nordeste, por sua vez, de 1990 a 2010 permanece especializado em quatro setores, a saber: indústria extrativa mineral, indústria de produtos minerais não metálicos, alimentos e bebidas e serviços industriais de utilidade pública, com índices maiores que 1 (um). O setor de alimentos e bebidas foi o único que apresentou um QL de 2,03 em 1990 devido às suas unidades produtivas, correspondentes a 25% do total das unidades produtivas da própria região, e 16% do total do conjunto nacional. Nas duas décadas seguintes, porém, apesar de o número de unidades produtivas deste setor haver dobrado em 2000 e quase triplicado em 2010, seu índice diminuiu relativamente ao número de estabelecimentos no mesmo setor e em relação ao conjunto nacional. 59

60 A indústria de papel e gráfica, que em 1990 apresentou um índice de 1,12, experimentou leve redução em 2000, passando para 0,95, recuperando-se em 2010, quando apresentou um QL de 1,06. Em 2000 houve um aumento de 64% no número de estabelecimentos deste setor em relação ao ano de 1990, enquanto que em 2010 houve um aumento de 83% em relação ao ano 2000, duplicando em 2010, portanto, o número de estabelecimentos em relação ao ano de As indústrias metalúrgica, mecânica, indústria de material elétrico e comunicação e a indústria de material de transporte obtiveram índices acima da unidade em todo o período analisado, mostrando um padrão de representatividade diferente das demais regiões, inclusive do Sul, o que evidencia o Sudeste como a mais industrializada nos setores que compõem a indústria pesada. Este mesmo comportamento foi seguido pelos setores industriais de papel e gráfica; borracha, fumo e couros; indústria química e indústria têxtil. Lograram índices acima de 1 (um) nas três décadas em apreço, o que não se deu nas demais regiões. O Sudeste segue, portanto, com o maior número de estabelecimentos industriais, tendo como base para a região, todos os setores da indústria pesada no período considerado, em relação ao conjunto nacional. O Sul também se revela bastante industrializado em setores industriais importantes. A indústria metalúrgica que em 1990 apresentou índice de 0,99, em 2000 e 2010 logrou índices de 1,05 e 1,10, respectivamente. É o setor básico para a região nas três décadas em estudo. A indústria mecânica também seguiu a mesma tendência, a saber: índices acima da unidade nas três décadas apreciadas. A indústria de material de transporte teve índice de 1,01 em 1990 e seguiu com índice pouco representativo em 2000, quando mostrou um QL de 0,91, e em 2010, quando apresentou índice de 0,93. A indústria de madeira e mobiliário também mostrou índices acima da unidade em todo o período, provando ser um setor básico para o Sul, assim como a indústria de calçados, que manteve índices acima de 1 (um) nas mesmas três décadas. O Centro-Oeste, embora ostente especializações diversificadas em alguns setores em 1990, segue quase que com os mesmos setores básicos nas décadas seguintes. O setor extrativo mineral é um setor básico para a região nos três períodos. Os setores de madeira e mobiliário, papel e gráfica e alimentos e bebidas também são básicos nos três períodos analisados, todos lograram índices acima de 1 (um). O setor serviços industriais de utilidade pública aparecerá também como setor básico para a região em 2000, quando apresentou índice de 1,52, e, em 2010, quando o índice foi de 1,37. 60

61 4.2 Coeficiente de Localização dos subsetores industriais das grandes regiões Por meio do Coeficiente de Localização é possível saber qual região apresenta maior concentração de setores em relação ao conjunto nacional. Essa medida, levando em conta as cinco regiões naturais e os subsetores industriais de cada região, proporciona uma análise do grau de concentração industrial dos subsetores industriais em cada região, em termos de estabelecimentos industriais. Tal como na medida de localização utilizada anteriormente, a saber, o Quociente Locacional, a ênfase da análise feita pelo Coeficiente de Localização é dada em valores próximos a 1 (um). O cálculo efetuado para os períodos de 1990 e 2010 resultou em valores menores do que a unidade para todos os subsetores industriais em todas as regiões naturais, sendo que os maiores índices calculados não chegaram significativamente próximos à unidade, denotando que no período analisado todas as macrorregiões mostraram diversificação produtiva em sua estrutura conômica, não apresentando índices expressivos de concentração de unidades produtivas por setor industrial. 61

62 Tabela 3: Coeficiente de Localização (CL): Subsetores e Regiões Naturais Subsetores industriais Norte Nordeste Sudeste Sul C-Oeste Subsetor industrial 1990 Extrativa Mineral 0,00 0,00 0,00 0,01 0,01 Prod. Mineral não Metálico 0,00 0,00 0,01 0,01 0,00 Indústria Metalúrgica 0,00 0,02 0,03 0,00 0,00 Indústria Mecânica 0,01 0,02 0,03 0,01 0,01 Elétrico e Comunicação 0,00 0,02 0,07 0,04 0,01 Material de Transporte 0,00 0,02 0,02 0,00 0,01 Madeira e Mobiliário 0,02 0,00 0,09 0,07 0,01 Papel e Gráfica 0,00 0,00 0,02 0,03 0,00 Borracha, Fumo e Couros 0,00 0,01 0,04 0,02 0,01 Indústria Química 0,00 0,00 0,04 0,03 0,01 Indústria Têxtil 0,01 0,01 0,05 0,03 0,01 Indústria de Calçados 0,01 0,02 0,01 0,04 0,01 Alimentos e Bebidas 0,01 0,04 0,07 0,00 0,02 Serviço Ind. Utilidade Pública 0,01 0,04 0,05 0,00 0,01 Subsetor industrial 2000 Extrativa Mineral 0,00 0,00 0,02 0,03 0,00 Prod. Mineral não Metálico 0,00 0,01 0,01 0,01 0,00 Indústria Metalúrgica 0,01 0,03 0,03 0,01 0,01 Indústria Mecânica 0,01 0,03 0,04 0,01 0,02 Elétrico e Comunicação 0,00 0,04 0,08 0,02 0,02 Material de Transporte 0,00 0,02 0,04 0,01 0,00 Madeira e Mobiliário 0,02 0,02 0,09 0,07 0,01 Papel e Gráfica 0,00 0,00 0,03 0,03 0,00 Borracha, Fumo, Couros 0,00 0,01 0,02 0,00 0,00 Indústria Química 0,01 0,01 0,05 0,03 0,01 Indústria Têxtil 0,01 0,00 0,02 0,01 0,00 Indústria Calçados 0,01 0,02 0,02 0,07 0,02 Alimentos e Bebidas 0,00 0,04 0,04 0,02 0,01 Serviço Utilidade Pública 0,03 0,05 0,05 0,04 0,02 Subsetor industrial 2010 Extrativa Mineral 0,01 0,01 0,02 0,05 0,01 Prod. Mineral não Metálico 0,00 0,02 0,01 0,01 0,00 Indústria Metalúrgica 0,01 0,02 0,02 0,01 0,01 Indústria Mecânica 0,01 0,03 0,03 0,02 0,01 Elétrico e Comunicação 0,00 0,03 0,07 0,02 0,02 Material de Transporte 0,01 0,02 0,03 0,01 0,01 Madeira e Mobiliário 0,02 0,02 0,08 0,07 0,01 Papel e Gráfica 0,00 0,00 0,02 0,02 0,00 Borracha, Fumo e Couros 0,00 0,01 0,03 0,01 0,00 Indústria Química 0,00 0,01 0,05 0,02 0,01 Indústria Têxtil 0,01 0,01 0,01 0,00 0,00 Indústria de Calçados 0,01 0,03 0,00 0,06 0,02 Alimentos e Bebidas 0,01 0,03 0,03 0,02 0,01 Serviço Ind. Utilidade Pública 0,02 0,02 0,04 0,03 0,01 Fonte: Elaborado a partir de dados da RAIS - MTE. 62

63 Seguindo o critério proposto para esta análise, tem-se que o Norte não possui setores com índices relevantes em relação ao conjunto nacional, não ostentando relevância em nenhum setor considerado na análise, em relação ao conjunto nacional. O Nordeste obteve índices um pouco mais relevantes que o Norte somente em três setores e em apenas dois dos três períodos considerados. O setor de alimentos e bebidas e o de serviços industriais de utilidade pública lograram índices de 0,04 em 1990, demonstrando que a região tem alguma representatividade nestes setores em termos de unidades produtivas existentes. De fato, o Nordeste possuía em % do total dos estabelecimentos industriais do setor de alimentos e bebidas em relação ao total nacional e 16% dos estabelecimentos do setor de serviços industriais de utilidade pública. Em 2000, o setor de material elétrico e de comunicação alcançou índice de 0,04 contra apenas 0,02 em Embora o índice de 0,04 ainda seja pouco expressivo, fica demonstrado que houve uma variação pequena, refletindo o aumento no número de estabelecimentos industriais neste setor que, ainda em 2000, foi seguido pelos de alimentos e bebidas e serviços industriais de utilidade pública, com índices de 0,04 e 0,05 respectivamente, com o mesmo comportamento apresentado. Os demais setores mantiveram índices inferiores nos três períodos analisados reforçando, com isso, que o Nordeste, apesar dos incentivos fiscais, ainda não revela um quadro de representatividade industrial em nenhum setor considerado, em relação ao conjunto nacional. O Sudeste, por sua vez, tradicionalmente considerado pela literatura como a região mais concentrada industrialmente, alcançou índices um pouco mais expressivos relativamente às regiões anteriormente analisadas; porém, assim como elas, nenhum índice se aproxima da unidade. Assim, os índices mais expressivos apresentados pelo Sudeste explicam que esta região, em relação às demais, ainda continua mantendo um grande número de estabelecimentos industriais em diversos setores da indústria. O setor de madeira e mobiliário apresentou índice de 0,09 em 1990; o maior índice, inclusive, de todos os apresentados na tabela 3; valor que se repetiu para este setor no período seguinte. Este setor, portanto, apresenta maior representatividade no Sudeste em relação ao conjunto nacional. Os setores de borracha, fumo e couros e indústria química obtiveram em 1990 índices de 0,04, ao passo que os setores indústria têxtil e serviços industriais de utilidade pública obtiveram no mesmo período, índices de 0,05, demonstrando modesto movimento ascendente em relação ao conjunto nacional. Depois do setor de madeira e mobiliário, os setores que mais foram 63

64 representativos no Sudeste em 1990 foram os de alimentos e bebidas, com índice de 0,07 e o de material elétrico e de comunicação, também com índice de 0,07. Em 2000, os setores da indústria mecânica e da indústria de material de transporte, cujos índices em 1990 ficaram abaixo de 0,04, apresentaram em 2000 índices de 0,04 cada um, o que traduz um pequeno movimento seu de representatividade no Sudeste em relação ao conjunto nacional. Os setores de material elétrico e de comunicação e a indústria de madeira e mobiliário seguem com índices um pouco mais representativos, 0,08 e 0,09, respectivamente. Em 2010, o Sudeste também teve seu maior índice no setor de madeira e mobiliário, com CL de 0,08 contra 0,09 alcançado em A indústria química apresentou índice de 0,05 e o setor de material elétrico e de comunicação manteve o mesmo índice do período anterior, a saber, 0,07. Os resultados apresentados mesmo com índices de valores pequenos mostram o Sudeste como a região mais representativa em número de estabelecimentos industriais, o que denota que as políticas de atração de investimentos industriais oferecidas pelos Estados das demais regiões ainda não conseguiram reverter a concentração industrial no Sudeste. O Sul também logrou índices modestos abaixo de 0,04 em todos os períodos considerados. Porém, pelo menos três setores industriais ao longo dos três períodos analisados atestaram índices iguais ou acima de 0,04, o que fez com que o Sul se destacasse como a região mais representativa industrialmente, em termos de estabelecimentos industriais, na comparação com as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, reforçando, assim, que a concentração industrial está localizada no eixo Sudeste-Sul. A indústria de material elétrico e de comunicação apresentou um índice de 0,04 em 1990, contra o índice de 0,02 obtido pelo Nordeste no mesmo período e 0,01 pelo Centro-Oeste, o que comprova que, no conjunto nacional, o setor possui modesta representatividade no Sul, perdendo apenas para o Sudeste, que teve índice de 0,07. A indústria de calçados também foi outro setor que apresentou em 1990, no Sul, participação maior do que suas demais congêneres. Com índice de 0,04 em 1990, apenas o Nordeste conseguiu manter-se mais próximo, com índice de 0,02. Diniz (2002) destacou que havia uma tendência à transferência de indústrias de calçados para o Nordeste devido aos baixos salários e aos de incentivos fiscais oferecidos pelos Estados via programas de atração de indústrias. Isto explica, em parte, por que o Nordeste, depois do Sul, detém o maior número de unidades produtivas da indústria de calçados. Essa tendência mostrou-se evidente ainda em 2000, quando a região Sul 64

65 aumentou sua participação neste setor com índice de 0,07, e em 2010, quando apresentou índice de 0,06. O Nordeste, por sua vez, subiu de 0,02 em 1990 e 2000 para 0,03 em A indústria extrativa mineral, que em 1990 havia obtido índice de apenas 0,01, saltou em 2010 para 0,05, demonstrando assim a maior participação neste setor dentre todas as regiões consideradas. O Sudeste foi, em 2010, a única região que se aproximou do Sul neste setor, com índice de 0,02, bem inferior ao apresentado pelo Sul. O setor elétrico e de comunicação que, em 1990 teve índice de 0,04, diminuiu em 2000 e 2010 para 0,02. O Centro-Oeste, região central e tradicionalmente menos industrializada, manteve a uniformidade em todos os setores considerados, com baixos índices ao longo dos três períodos, equiparando-se, portanto, ao Norte, que também só conseguiu baixos índices de representatividade industrial nestes três períodos. 5. Considerações finais O presente trabalho teve como objetivo analisar o comportamento das unidades produtivas de 14 subsetores industriais da economia distribuídos entre as cinco grandes regiões brasileiras e, por meio desta análise, observar também os processos de concentração e desconcentração industriais nas macrorregiões brasileiras. A variável base considerada neste estudo foi o número de unidades produtivas ou estabelecimentos industriais. Por meio desta variável, e utilizando medidas de localização, pôde-se observar que as regiões Sudeste-Sul continuam sendo as regiões mais concentradas industrialmente, como destaque para o Sudeste, e neste, mais notadamente o estado de São Paulo. Em 1920 São Paulo já havia se consolidado como o estado com maior número de indústrias e também como a economia mais desenvolvida do país. As demais regiões do país diferenciaram-se sensivelmente da economia do Sudeste. As mediadas de localização utilizadas neste trabalho procuraram investigar quais dos subsetores industriais da economia apresentaram maior significância para as regiões naturais no período de 1990 a O Sudeste ainda é a região que possui o maior número de setores básicos e diversificados em sua estrutura produtiva. O Coeficiente de Localização possibilitou mostrar o grau de concentração industrial de cada região no período analisado. O Sudeste é a região mais concentrada do país, ficando o Sul em 65

66 segundo lugar, bem próximo do Nordeste. Este resultado indica que a concentração industrial no Sudeste ainda continua bastante acentuada, mas que o Nordeste ganhou destaque ao longo dos anos. Pelo presente estudo, pôde-se observar que as políticas de desenvolvimento regional não conseguiram promover a industrialização efetiva das regiões periféricas, o que dá margem à prática de concessões de incentivos fiscais estaduais. Visto tais concessões atuarem no âmbito da chamada guerra fiscal, cabe ao Governo central, com vistas a promover um maior desenvolvimento regional, atuar de forma mais efetiva nas economias regionais pela implementação de políticas de desenvolvimento regional que considerem não somente a industrialização das regiões periféricas, mas também os estímulos necessários em diversos setores potenciais das economias além do setor industrial; tais setores, se devidamente estimulados, podem contribuir efetivamente para expandir o emprego e a renda da população destas regiões. 6. Referências bibliográficas ARAÚJO, Tânia Bacelar de. Desigualdades regionais e Nordeste em Formação Econômica do Brasil. In: 50 anos de Formação Econômica do Brasil: ensaios sobre a obra clássica de Celso Furtado. ARAÚJO, Tarcisio Patricio de; WERNECK, Salvador Teixeira; MACAMBIRA, Vianna e Júnior (orgs). Rio de Janeiro: Ipea, cap. 7, pp , novembro, Tendências do desenvolvimento regional recente no Brasil. In: Pacto federativo, integração nacional e desenvolvimento regional. BRANDÃO, Carlos e SIQUEIRA, Hipólita (orgs). São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, pp , Herança de diferenciação e futuro de fragmentação. In: Dossiê Nordeste I. Estudos Avançados v. 11, nº 29, pp. 7-36, abril, Por uma política nacional de desenvolvimento nacional. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, vol. 9, nº 2, pp , abr-jun, BALANCO, Paulo; SANTANA, Geidson. A indústria de transformação do Nordeste no período : uma análise espacial e estrutural. Revista Desenbahia, nº 7, pp , setembro, Questão regional e política econômica nacional. In: Desenvolvimento em debate: Painéis do desenvolvimento brasileiro II. CASTRO, Ana Célia (org). Rio de Janeiro: BNDES, pp ,

67 . Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil São Paulo: Editora UNESP, 2007a.. Raízes da concentração industrial em São Paulo. Campinas: Editora Unicamp. IE, 2007b.. Da década de 1920 à de 1930: transição rumo à crise e à industrialização no Brasil. Revista EconomiA, vol. 13, nº 3b, pp , setembro/dezembro, DINIZ, Clélio Campolina. A dinâmica regional recente da economia brasileira e suas perspectivas. Texto para discussão n 375, IPEA, Brasília, Celso Furtado e o desenvolvimento regional. Nova Economia, vol. 19, nº 2, pp , maio-agosto, Repensando a questão regional brasileira: tendências desafios e caminhos. In: Desenvolvimento em debate: Painéis do desenvolvimento brasileiro II. CASTRO, Ana Célia (org). Rio de Janeiro: BNDES, pp , A questão regional e as políticas governamentais no brasil. Texto para discussão n 159, CEDEPLAR/FACE/UFMG, Belo Horizonte, Reestruturação econômica e impacto regional: o novo mapa da indústria brasileira. Nova Economia, vol. 6, nº 1, pp , julho, GUIMARÃES NETO, Leonardo. Trajetória econômica de uma região periférica. In: Dossiê Nordeste I. Estudos Avançados v. 11, nº 29, pp , abril, LIMA, Jandir Ferrem de; ALVES, Lucir Reinaldo; PIFFER, Moacir; PIACENTI, Carlos Alberto. Analise regional das mesorregiões do estado do Paraná no final do século XX. Revista Análise Econômica, ano 24, nº 46, pp. 7-25, setembro, Ministério do Trabalho e Emprego MTE. Relação Anual de Informações Sociais RAIS. Disponível em: SILVA FILHO, Luís Abel da; QUEIROZ, Silvana Nunes de; REMY, Maria Alice Pestana de Aguiar. Indústria de transformação: localização e emprego formal nos estados do nordeste /2008. Informe Gepec, Toledo, vol. 15, número especial, p , SILVA FILHO, Luís Abel da; QUEIROZ, Silvana Nunes de; SILVA, Adriano Olivier de Freitas e. Industrialização e emprego formal: avaliação empírica no Ceará vis-a-vis o Piauí 1998/ Informe Gepec, Toledo, vol. 15, número especial, p ,

68 DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS: 2015 IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS NO ESTADO DO CEARÁ: UMA ABORDAGEM PARA O PERÍODO CICERO JAIR SALES ALENCAR (Graduando, URCA-CESA, Ceará-Brasil <jairalencar91@hotmail.com>telefone: (88) ) CARLOS HENRIQUE MIRANDA DE ALENCAR (Graduando, URCA-CESA, Ceará-Brasil <carloshenrique9640@hotmail.com>telefone: (87) ) JOSÉ MÁRCIO DOS SANTOS (Mestre, URCA-CESA, Ceará-Brasil <jmarcio.santos@hotmail.com> telefone: (88) ) 68

69 IDENTIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS NO ESTADO DO CEARÁ: UMA ABORDAGEM PARA O PERÍODO RESUMO: Apesar da redução da participação no PIB, a agropecuária mantém relativa representatividade na economia do estado do Ceará. Isto porque a maioria dos empregos formais deste segmento está ligada a pequenos empreendimentos. Dentro deste contexto, o objetivo do trabalho é identificar a nível microrregional a distribuição espacial dos estabelecimentos agropecuários no estado do Ceará. A metodologia empregada na pesquisa constituiu-se da estimação das medidas de localização e especialização referentes às 33 microrregiões do Estado do Ceara, onde a base de dados foi retirada da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), entre o período de 2000 a Os resultados demonstraram que, mesmo após com o avanço das atividades industriais, as atividades agrícolas ainda apresentam elevados graus de representatividade em microrregiões específicas do Estado do Ceará, podendo, com isso, considerar a hipótese de que as políticas de incentivo a pequena produção são de significativa importância para manutenção destes estabelecimentos, e consequentemente, dos empregos deste setor. Palavras-chaves: Agropecuária, estabelecimentos agropecuários, Economia Cearense. ABSTRACT: Despite the reduction of your quota in GNP, the agriculture remains relative representation in Estado do Ceará economy. This is because most of formal employment in this segment is linked to small businesses. Within this context, this paper objective to identify on the micro-regional levels the spatial distribution of agricultural businesses on the Estado do Ceará. The methodology used in the research consisted of the estimation of measures of location and specialization regarding the 33 regions of the Estado do Ceará, where using the database from the Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), between the period 2000 to The results showed that even after with the advancement of industrial activities, agricultural activities still have high degrees of representativeness in specific regions of the State of Ceará, and may, therefore, consider the hypothesis that policies encouraging small-scale production are significant importance for maintenance of these properties and consequently of the jobs in this sector. Keywords: Agricultural, agricultural establishments, Ceará Economics. 69

70 1. Introdução Ao longo do seu processo de formação histórica, a economia nordestina adquiriu características que deram a ela a identidade de economia voltada para o meio rural; devido a uma maior concentração de atividades agrícolas e um número reduzido de empreendimentos de caráter industrial ou produtivo. Guimarães Neto (1989) afirma que dado à concentração do desenvolvimento de novas técnicas no Sudeste do país a região Nordeste volta-se basicamente para a exploração de atividades primarias. Dadas as disparidades crescentes entre as regiões Sudeste e Nordeste, a partir de 1950 algumas políticas de incentivo ao desenvolvimento local começaram a serem implantadas no Nordeste no intuito de fortalecer as atividades terciárias e secundárias, oriundas de estratégias decorrentes da implementação de órgãos federais para a região, como a Subintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), o Banco do Nordeste (BNB), o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), dentre outros. Tais estratégias focaram, especialmente, a implantação e desenvolvimento da atividade industrial como forma de promover o crescimento econômico regional. Contudo, isto implicou na reversão da tendência histórica da economia nordestina. A respeito dessa afirmação Gomes e Virgulino (1995) destacam que de 1965 para 1990 a participação do setor agrícola na formação do PIB nordestino caiu de 29,1% para 14,4%, enquanto o setor industrial e de serviços aumentavam seus níveis de participação, sendo uma elevação de 23,1% para 28,2% na indústria e de 47,8% para 57,4% no setor de serviços. No contexto da economia cearense a dinâmica expressa é semelhante à apresentada pela região nordeste, conforme ressalta Beltrão (2003) na tabela 1 a seguir. Tabela 1 Composição do PIB setorial do estado do Ceará entre Anos Agropecuária Indústria Serviços ,30 25,60 46, ,56 25,64 60, ,47 47,80 42,73 Fonte: Beltrão, Como se observa na tabela 1 a participação da agropecuária na formação do PIB estadual passa por uma significativa redução ao longo das décadas finais do século XX. Porém, mesmo 70

71 diante de tal retrocesso, o setor agropecuário carrega consigo uma representatividade no que diz respeito a sua composição haja vista que é atualmente é formado, sobretudo, de pequenos empreendimentos. Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) mostram que 72,4% dos empreendimentos agropecuários formais do estado do Ceará são caracterizados com microempresas, dado o limite máximo de 19 trabalhadores, enquanto que apenas 0,3% das empresas do setor são de grande porte unidades com número superior a 499 empregados. Desta forma, a pequena unidade produtiva assume no contexto atual a representatividade das atividades agropecuárias no âmbito da economia cearense refletindo uma tendência deste segmento no cenário nacional. Ciente desta tendência, o governo federal vem desenvolvendo programas de estímulos à pequena produção agrícola como forma de promover a manutenção destes empreendimentos de menor tamanho e que, sobretudo, não dispõe de muito capital. Dentre estas estratégias, a mais representativa politicas publica criada para este finalidade fora o Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Familiar (PRONAF). Constituído com um conjunto de ações direcionado ao pequeno produtor, o programa parte do princípio que a pequena produção á a base da agropecuária, sobretudo aquelas de caráter informal. Segundo Malysz e Chies (2012) o PRONAF se constituiu instrumento importante de manutenção da pequena produção familiar no espaço agrário brasileiro, promovendo, se não a ampliação, a conservação destes empreendimentos produtivos e se constituindo uma ferramenta eficaz para a fixação do trabalhador rural na sua atividade econômica. Diante do contexto ressaltado, fica visível à importância das pequenas unidades rurais no âmbito da agropecuária cearense. Sendo assim, o presente trabalho se prontifica a identificar a nível microrregional a distribuição espacial dos estabelecimentos agropecuários no estado do Ceará, tal como indicar as microrregiões onde as atividades agropecuárias apresentam uma maior representatividade dentro da economia cearense. Desta forma, o trabalho se mostra relevante no sentido de que contribui na possibilidade de identificar as áreas do estado do Ceará que concentraram empreendimentos ligados às atividades agropecuárias, o que permite traçar um panorama sobre a estrutura e organização da atividade produtiva no interior do estado. 71

72 A metodologia empregada consiste no uso das medidas de localização e especialização como forma de dimensionar, através dos indicadores a serem obtidos, o perfil da concentração e da especialização do setor de agropecuária, silvicultura e pesca no estado do Ceará. Além desta introdução, o presente trabalho apresenta outras quatro partes. Na segunda parte discutir-se-á como os programas de estimulo impactam sobre a pequena produção. Na terceira parte, será apresentada a metodologia empregada na análise realizada. Na quarta parte, serão apresentados e discutidos os resultados obtidos. Por fim, serão feitas as considerações finais sobre o trabalho e os resultados obtidos. 2. Impacto dos Programas de Incentivo a Agricultura Familiar sobre os pequenos empreendimentos agrícolas 2.1 Conceito da agricultura familiar Ultimamente, o conceito de economia familiar tem ganho difusão no cenário acadêmico tendo em vista os constantes debates em torno das questões sociais que a cercam. Contudo, também é importante destacar a essência do que venha a ser agricultura familiar no âmbito econômico, não só em torno das questões acerca das condições do trabalho, mas também refleti-la como um modelo de produção que tem importância representativa, haja vista que em sua maioria os empreendimentos agrícolas podem ser classificados como micro e pequenas empresas quando estes apresentam o registro formal. França (2009) descreve que a Região Nordeste continha metade do total dos estabelecimentos familiares ( ) e 35,3% da área total deles. Nela, os estabelecimentos familiares representaram 89% do total dos estabelecimentos e 37% da área total, sendo que no Ceará tem , ou 7,8% do total. Assim, como modelo de produção, a agricultura familiar pode ser abordada por diversos aspectos. Segundo Denardi (2001), a economia familiar pode ser caracterizada quando há um processo econômico sob qual orbita os próprios membros da família que detêm os meios de produção, a terra e as ferramentas, podendo ou não conter ajuda de pessoas que não sejam moradores daquele ambiente familiar. Assim, segundo este autor, os empreendimentos familiares possuem como características fundamentais o fato de serem administrados pelas próprias famílias e 72

73 por estes membros trabalharem diretamente nela, com ajuda ou não de terceiros contratados sob diferentes formas de remuneração. Para Malysz e Chies (2012), a agricultura familiar é um trabalho direcionado e realizado pela própria família, que o exerce em torno de certa área de terra, através dos seus próprios membros diretos e mais próximos parentes em primeiro e segundo grau. Contudo, tal dimensão familiar por vezes não se faz totalmente apta nos períodos de safra, onde neste momento as unidades de produção familiar demandam trabalhadores terceirizados que em sua maioria são assalariados por dia que recebem em função do auxilio de forma complementar ao trabalho familiar. Altafin (2009) destaca que o termo ou expressão agricultura familiar ainda é relativamente novo dentro do debate acadêmico atual, decorrente da sua recente aceitação dentro deste meio. Segundo este autor, residia sobre este modelo de produção forte preconceito e discriminação dentro das escolas acadêmicas, e mesmo na esfera da sociedade tecno-científica, por serem vistos como reflexo de um reduto de atraso, precariedade, pobreza e produção ineficiente. Ainda segundo Altafin (2009), o reconhecimento da condição da produção familiar mostrase como sendo o resultado do modelo de desenvolvimento adotado para o campo, que procura classificar o conjunto dos trabalhadores empregados nestas atividades de acordo com o tamanho de suas áreas e do seu volume de produção; dividindo-os finalmente entre pequenos, médios e grandes produtores. Apesar de tais classificações esconderem as dificuldades existentes nos pequenos empreendimentos, esta segmentação permitiu reconhecer a existência de categorias de produção distintas, permitindo a criação e o direcionamento de políticas e ações públicas voltadas para estas agentes de forma particular As características do programa Nas últimas décadas muitas políticas para incentivo do setor agropecuário foram criadas, com o intuito de dinamizar esse setor, que vem puxando o crescimento do PIB brasileiro. Verificase que a maioria dos estabelecimentos da agricultura brasileira é de base familiar. De acordo com o Censo Agropecuário, IBGE 1995/96 os estabelecimentos familiares (85,2% do total) ocupam 30,5% da área total de estabelecimentos rurais e correspondem a 37,9% do valor bruto da produção. Dentre as mais importantes politicas de incentivo a pequena produção agrícola, o Programa Nacional de Fortalecimento a Agricultura Familiar (PRONAF) mostrou-se como sendo o mais relevante em termos de atuação e de maior abrangência sobre a agricultura brasileira. 73

74 Como é retratado por Silva (2000) o PRONAF é uma das políticas públicas do Governo Federal para apoiar os agricultores familiares, a coordenação do Programa é do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que custeia projetos individuais ou em grupo, que gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária, possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos rurais, além das pequenas taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do País. O PRONAF foi criado em 1995 e vem a cada ano adquirindo grande importância e tornando-se uma das mais importantes políticas públicas que atuam no meio rural brasileiro, estando presente na maioria dos municípios do país, além de ter tornado o acesso ao crédito mais democrático quebrando as barreiras existentes a um público que até então tinha grandes dificuldades de acesso ao crédito. (SCHNEIDER, 2005) Os objetivos principais do PRONAF são descritos por Magalhães (2006) da seguinte forma: (1) reduzir a pobreza na agricultora familiar; (2) promover facilidades de acesso ao crédito com juros baixos para os pequenos produtores; (3) alocar os pequenos produtores em outros programas de desenvolvimento rural. De acordo com Corrêa (2007) o PRONAF abrange em sua área de atuação três modalidades, são elas: (1) Crédito, essa objetiva conceder apoio financeiro às atividades agropecuárias e não agropecuárias. Esta modalidade estende-se a vários grupos, liberando recursos financeiros de acordo com o tipo de agricultor, classificados de A a E, de acordo com critérios típicos de cada um, ou seja, de acordo com a renda familiar. (2) Infraestrutura e serviços, essa busca priorizar a implantação, ampliação e modernização da infraestrutura necessária ao fortalecimento da agricultura familiar. (3) Capacitação, objetiva habilitar os agricultores familiares e técnicos no levantamento das demandas por crédito, obedecendo a determinadas prioridades, definindo as ações a serem desenvolvidas para atendimento às demandas, e na elaboração e monitoria dos Planos Municipais de Desenvolvimento Rural (PMDRs). 2.3 Reflexos as políticas de incentivo a pequena produção agrícola Como foi visto o PRONAF liga os produtores rurais ao crédito, ou em outras palavras abre as portas dos bancos para os produtores rurais financiarem seus projetos de empreendedorismo rural, de forma a amenizar as dificuldades sofridas no campo, principalmente pelos pequenos produtores. 74

75 Outro grande benefício fornecido pelo PRONAF é a redução do êxodo tanto da zona rural quanto em nível regional através de linhas de crédito acessíveis à produção familiar, quanto a isso Malysz e Chies (2012) descreve que esse programa é uma estratégia vinculada às políticas públicas direcionadas ao agricultor familiar, com objetivo de apoiar e promover incentivos aos produtores em trabalhar a terra tanto para sua subsistência quanto para proporcionar rentabilidade, amenizando, dessa forma, a dificuldade encontrada pelo agricultor familiar em permanecer no espaço. A evolução da distribuição regional do crédito do PRONAF entre 1996 e 1999 é descrita por Fernandes (2013), na tabela 2, a seguir: Tabela 2 Distribuição regional do crédito do PRONAF de 1996 a 1999 (em %) Regiões Norte 0,91 2,06 2,06 3,12 Nordeste 6,66 11,91 15,74 25,67 Sudeste 12,05 21,26 17,37 16,63 Sul 78,28 62,28 61,78 48,99 Centro-Oeste 2,1 2,49 3,05 5,59 Fonte: Fernandes (2013) Como se observa nas informações descritas na tabela 2 a região Sul é a que mais concentrou volumes de crédito do PRONAF entre os períodos, nota-se também uma evolução significativa e constante do número de contratos do PRONAF realizados no Nordeste, com isso pode-se afirmar que as atividades agropecuárias continuam em vigor e ganhando forças, no Nordeste. Essa ideia pode ser reforçada com as informações contidas na tabela 3, descritas também por Fernandes (2013). 75

76 Tabela 3 Porcentagem de contratos do PRONAF por ano agrícola ANO- NORTE NORDESTE SUDESTE CETRO- SUL AGRICOLA OESTE 2002/2003 7% 61% 25% 6% 0% 2003/2004 7% 39% 14% 4% 36% 2004/ % 59% 25% 6% 0% 2005/2006 5% 42% 16% 4% 33% 2006/2007 7% 42% 16% 4% 32% 2007/2008 8% 33% 18% 4% 37% 2008/2009 7% 31% 17% 3% 42% 2009/2010 7% 35% 15% 3% 39% Fonte: Fernandes (2013) Como se observa as informações descritas na tabela 3 revelam que a partir de os contratos do PRONAF passam a se concentrar com maior frequência no Nordeste, isso pode ser entendido como um avanço das atividades rurais na região, refletindo positivamente na melhoria das condições de vida do homem do campo já que o princípio do PRONAF é amenizar as dificuldades sofridas pelo pequeno produtor. Dessa forma entende-se que o PRONAF surge como uma grande inovação na estrutura das políticas públicas brasileiras, fortalecendo a produção agropecuária em nível de pequenos estabelecimentos, promovendo melhoria na formação de renda dos pequenos produtores e, em consequência disso, a redução do êxodo rural. Em outras palavras o PRONAF promove a fixação dos estabelecimentos rurais. 3.Procedimentos metodológicos Para uma melhor compreensão acerca dos procedimentos metodológicos que serão empregados na pesquisa, a descrição da metodologia a ser empregada na pesquisa será constituída de duas partes, onde será abordado o modelo teórico e a base de dados Modelo teórico: Medidas de localização e especialização O modelo teórico a ser empregado na pesquisa constitui da estimação das medidas de localização e especialização. As medidas de localização e especialização são indicadores capazes de 76

77 identificar os padrões de crescimento de uma dada variável em termos regionais, demonstrando se este crescimento ocorre de forma centralizada ou desconcentrada. Desta forma, estes métodos têm sua base analítica nas informações sobre a distribuição espacial da variável em termos de região e atividades econômicas em um dado período de tempo. Atualmente, estas medidas são empregadas em diversos estudos de natureza exploratória que abrangem a questão geográfica ou espacial. No presente caso, a variável base a ser analisada é o número de estabelecimentos econômicos; onde ser averiguará sua distribuição ao longo do espaço sobre as diversas atividades econômicas. Segundo Haddad (1989), diversos estudos usam tais variáveis como variável-base devido a maior disponibilidade de informações em nível de desagregação setorial e espacial desejável, ao certo grau de uniformidade para medir e comparar a distribuição dos setores ou atividades no tempo e pela sua representatividade em refletir o crescimento econômico da região. Apesar da sua popularidade e poder explicativo, esta variável também apresenta limitações a medida que o mesmo não consegue capaz os diferenciais de produtividade e tecnologia presentes nas distintas localidades (HADDAD, 1989) Medidas de localização As medidas de localização são indicadores que permitem identificar padrões de concentração ou dispersão espacial de uma dada variável, no presente caso emprego, distribuída entre setores específicos para um dado período de tempo, ou entre períodos de tempo distintos. Sua relevância se concentra na análise setorial, buscando avaliar a localização de variáveis-base distribuídas nas atividades econômicas dispersas regionalmente. As principais medidas de localização empregadas em avaliações regionais são o Quociente locacional, Coeficiente de localização e o Coeficiente de redistribuição. O quociente locacional é empregado para comparar a participação percentual da mão-deobra de uma área com a participação percentual no total de outra área de maior dimensão. O quociente locacional pode ser analisado a partir de setores específicos ou no seu conjunto. A importância da área no contexto geral (maior dimensão), em relação ao setor estudado, é demonstrada quando o QL assume valores > 1. Nesse caso, há representatividade do ramo em uma microrregião específica. Assim, a interpretação dos resultados mostra que quando o QL 1 o parâmetro é significativo indicando os ramos de atividade que são de exportação, ou seja, os ramos básicos (exógenos). Quando os valores se encontram entre 0,50 QL 0,99 o grau de exportação é 77

78 médio, enquanto QL 0,49 é ido como fraco o grau de representatividade. Ao contrário, quando o QL < 1, as atividades são não-básicas ou endógenas, sem efeitos de exportação ou repercussão sobre as outras áreas (HADDAD, 1989). O Coeficiente de localização relaciona a distribuição percentual da mão-de-obra num dado setor entre as mesorregiões, com a distribuição percentual da mão-de-obra do estado. Se o coeficiente de localização for igual a zero (0), significa que o setor i estará distribuído regionalmente da mesma forma que o conjunto de todos os setores. Se o valor for igual a um (1), demonstrará que o setor i apresenta um padrão de concentração regional mais intenso do que o conjunto de todos os setores. O coeficiente de redistribuição relaciona a distribuição percentual de emprego de um mesmo setor em dois períodos, um período base e um período futuro. Seu objetivo é verificar se está prevalecendo para o setor algum padrão de concentração ou dispersão espacial ao longo do tempo. Coeficientes próximos à zero (0) indicam que não ocorreram mudanças significativas no padrão espacial de localização da atividade produtiva, e próximos a um (1) demonstram que ocorreram mudanças no padrão espacial de localização das atividades produtivas (HADDAD, 1989) Medidas de especialização 78

79 As medidas de natureza regional se concentram na análise da estrutura produtiva de cada região, com o objetivo de investigar o grau de especialização das economias regionais num dado período, assim como o processo de diversificação observado entre dois ou mais períodos. As medidas de especialização difundidas são o Coeficiente de Especialização e o Coeficiente de Reestruturação. O coeficiente de reestruturação avalia a estrutura da mão-de-obra por área (microrregião) entre dois períodos, um período base e um período futuro. Tal indicador busca verificar o grau de mudanças na especialização das mesorregiões que compõem o Estado. Coeficientes iguais a zero (O) indicam que não ocorreram modificações na estrutura setorial da mesorregião, e iguais a um (1) demonstram uma reestruturação bem substancial (HADDAD, 1989). Através do coeficiente de especialização, compara-se a economia de uma microrregião com a economia do estado como um todo. Para resultados iguais a O (zero), a mesorregião tem composição idêntica à do estado. Em contrapartida, coeficientes iguais ou próximos a 1 demonstram um elevado grau de especialização ligado a um determinado setor, ou uma estrutura de mão-de-obra totalmente diversa da estrutura de mão-de-obra regional (HADDAD, 1989). 3.2.Base de dados Em relação à base de dados utilizada, os dados sobre o número de estabelecimentos (empresas) foram obtidos coletados no banco de dados on-line do Ministério do Trabalho e Emprego, sendo oriundos de forma específica da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Seguindo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1994, que quando segmentada pelo critério divisão da CNAE, permite decompor a economia em 58 tipos de atividades econômicas distintas, as estudadas nesse caso foram: Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados, Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços Relacionados e Pesca, Aquicultura e Serviços Relacionados. 79

80 Em termos geográficos, a pesquisa abrangeu o estado do ceara como um todo, decompondoo a nível microrregional a área de análise, permitindo identificar áreas especificas de localização do emprego. Utilizando a divisão a nível microrregional proposto pelo IBGE, foram selecionados os dados provenientes do emprego alocado no interior do Estado do Ceará, representado em suas 33 microrregiões. 4. Interpretação dos resultados Esta seção abordará a interpretação dos resultados obtidos em cima da pesquisa realizada sobre os setores agropecuários das microrregiões cearenses nos períodos, 1995, 2000, 2005 e 2010, sendo analisados os seguintes indicadores: medidas de localização: Quociente Locacional (QL), Coeficiente de Localização (CL), Coeficiente de Redistribuição (CRd), e medidas de especialização: Coeficiente de Reestruturação (CRe) e Coeficiente de Especialização (CE) Análise do Quociente Locacional Sabendo-se que o QL indica que determinado setor em determinado período é significativo se representar valores maiores que 1 (um), e considerando o requisito de que quanto mais significante for o valor do QL mais representativo será o setor, retiram-se as seguintes conclusões: Agricultura, Pecuária e Serviços relacionados Para o período de 1995 observou-se, de acordo com os critérios do QL, que das 33 microrregiões analisadas apenas seis apresentaram grau de representatividade fraco em relação ao setor de Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados, ou seja, os valores do QL foram iguais ou menores que 0,49. As microrregiões que presentaram valores do QL entre 0,50 e 0,99 totalizaram quatro, assim dentre as 33 microrregiões analisadas quatro tiveram um médio grau de exportação quanto à atividade de Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados. As demais microrregiões (23) apresentaram elevados graus de representatividade (valores do QL maiores ou iguais à 1) quanto ao setor de Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados, sendo assim, esse setor identifica-se como sendo de exportação nessas microrregiões, os principais destaques foram em Meruoca (QL=7,56), Baixo Curu (QL=8,55), Chorozinho (QL=13,61), Cascavel (QL=9,81) e Pacajus (QL=11,16). 80

81 Para o período de 2000 os principais destaques foram nas microrregiões de Meruoca (QL=18), Chorozinho (QL=7,2), Cascavel (QL=7,01) e Pacajus (QL=6,14), o que diferenciou esse período do anterior foi à elevação do número de microrregiões com elevados graus de significância para o setor em questão, ou seja, com valores do QL iguais ou maiores que um (passou de 23 em 1995 para 24 em 2000). As microrregiões que passaram a ter graus de representatividade foram Iguatu e Lavras da Mangabeira, outra modificação importante ocorreu na microrregião de Sertão de Crateús na qual o valor do QL passou de 1,18 em 1995 para 0,38 em 2000, ou seja, o setor de Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados, que representativo passou a ser tido como fraco nessa microrregião. No período de 2005 observou-se que as principais modificações nos resultados do QL com relação ao setor de Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados em comparação ao período anterior foram nas microrregiões de Iguatu, de Caririaçu e de Barro, onde o setor em questão saiu de um elevado para um baixo grau de representatividade, e de Sobral e Várzea Alegre, nas quais ocorreu situação inversa à ocorrida nas microrregiões de Iguatu e de Barro. Com isso o resultado quantitativo das microrregiões onde o setor em questão apresentou elevados graus de significância foi de 23 das 33 analisadas. Para o período de 2010 os resultados apresentaram maiores mudanças em relação ao período anterior, em três microrregiões os valores do QL para o setor em questão evidenciaram a passagem significante para não significante, ou seja, os valores do QL passaram a ser menores que um, foram elas: Sobral, Sertão de Senador Pompeu e Várzea Alegre. Apenas em uma microrregião o setor em questão apresentou valor do QL com passagem de menor para maior que um, ou seja, tornou-se representativo. No geral em 21 microrregiões o setor em questão apresentou-se representativo. Em resumo, não ocorreram mudanças drásticas entre os períodos e os principais resultados do QL foram observados sempre nas microrregiões descritas no início dessa seção Meruoca, Baixo Curu, Chorozinho, Cascavel e Pacajus. Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços Relacionados Para o setor de Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços Relacionados, no período de 1995, observou-se que Fortaleza (QL=1,17) e Iguatu (QL=7,89) foram às únicas microrregiões que apresentaram resultados do QL acima de um, ou seja, foram as únicas que apresentaram elevados 81

82 graus de representatividade, sendo que as demais microrregiões (31) não manifestaram nenhum valor no calculo do QL. Passados cinco anos, período de 2000, o número de microrregiões que apresentaram os valores do QL em níveis significantes aumentou, no entanto nas microrregiões que haviam apresentado o setor em questão como representativo os valores do QL tornaram-se menores que um, ou seja, deixaram de ser representativos. No geral Baixo Curu, Baturité, Cascavel, Pacajus e Litoral de Aracati foram às únicas microrregiões que apresentaram elevados graus de representatividade, sendo as demais, exceto Fortaleza (QL= 0,71), com valores do QL iguais a zero. Para o período de 2005 observou-se que o número de microrregiões onde o setor em questão foi representativo passou de cinco em 2000 para seis em 2005, sendo que fazendo um paralelo entre os dois períodos observa-se que em três microrregiões que não haviam apresentado o setor em questão representativo o setor tornou-se representativo: Médio Curu, Chorozinho e Baixo Jaguaribe. E deixou de ser representativo em dois Baturité e Pacajus. No período de 2010 seis microrregiões apresentaram o setor em questão representativo, dessas apenas a microrregião de Litoral de Aracati havia apresentado altos graus de representatividade do setor em questão em períodos anteriores, as outras cinco foram: Coreaú, Itapipoca, Sertão de Quixeramobim, Sertão de Senador Pompeu e Cariri. Pesca, Aquicultura e Serviços relacionados Ao analisar o setor de Pesca, Aquicultura e Serviços Relacionados, no período de 1995 observou-se um pequeno número de microrregiões que apresentaram valores do QL superiores a um, apenas três, foram elas: Litoral de Camocim e Acaraú (QL= 22,65), Cascavel (QL= 12,6) e Litoral de Aracati (QL= 28,71), ou seja, essas foram as únicas microrregiões onde os valores do QL tornaram o setor em questão representativo, sendo que nas demais microrregiões todos os valores do QL foram iguais a zero. Para o período de 2000 o número de microrregiões onde o setor de Pesca, Aquicultura e Serviços Relacionados foi representativo, aumentou para seis, nas microrregiões de Litoral de Camocim e Acaraú (QL= 25,01), Cascavel (QL= 6,43) e Litoral de Aracati (QL= 18,49) o setor em questão manteve-se representativo, as outras três microrregiões onde o setor apresentou-se representativo foram: Itapipoca (QL= 4,09), Baixo Curu (QL= 12,28) e Médio Curu (QL= 20,61). 82

83 No período de 2000 além do setor em questão ter sido representativo nas mesmas microrregiões do período anterior (Litoral de Camocim e Acaraú, Cascavel, Litoral de Aracati, Itapipoca, Baixo Curu e Médio Curu), também foi representativo nas microrregiões de Canindé, Pacajus, Sertão de Senador Pompeu e Baixo Jaguaribe. Assim em dez microrregiões o setor em questão apresentou-se com elevados graus de representatividade. Para o período de 2010 observou-se que em onze microrregiões o setor de Pesca, Aquicultura e Serviços Relacionados apresentou-se com elevados graus de representatividade, foram elas: Litoral de Camocim e Acaraú, Santa Quitéria, Itapipoca, Baixo Curu, Médio Curu, Baturité, Cascavel, Pacajus, Litoral de Aracati, Baixo Jaguaribe e Médio Jaguaribe. Esse período foi o que o setor em questão apresentou-se representativo no maior número de microrregiões em relação aos outros períodos estudados Coeficiente de Localização O Coeficiente de Localização (CL) indica se em determinada microrregião um determinado setor tem um padrão de concentração elevado, ou seja, se determinado setor e distribuído com mais intensidade que o conjunto dos demais setores em determinada microrregião. Para avaliar os resultados do CL considera-se que determinado setor em determinada região é consideravelmente mais intenso que os demais se ele apresentar valor do CL igual a um, sendo que se o valor do CL for igual à zero o setor e distribuído na microrregião com a mesma intensidade do conjunto de todos os setores. Diante dessas informações buscou se valores do CL iguais ou maiores que um para com isso indicar os setores de maiores intensidades nas microrregiões analisadas, porém para todos os períodos os valores do CL encontrados foram todos menores, iguais ou bem próximos a zero. Isso indica que nos seis períodos em análise nenhuma das microrregiões analisadas apresentaram setores com elevado grau de distribuição microrregional Coeficiente de Redistribuição O Coeficiente de Redistribuição (CRd) demonstra em seus requisitos se se esta prevalecendo em um determinado setor algum padrão de concentração ou dispersão espacial ao longo do tempo, ou seja, de um período para outro. Para que mudanças no padrão espacial de localização sejam 83

84 observadas é necessário que o valor do CRd seja próximo de um, se o valor do CRd for próximo de zero não conclui-se que não ocorreu mudanças significativas no padrão espacial de localização. Com base nessas informações constata-se que nos períodos e nas microrregiões em análise não ocorreu nenhuma mudança no padrão espacial de localização significativa em nenhum dos setores analisados, ou seja, os valores, gerais, do CRd encontrados foram todos diferentes dos exigidos, conforme os critérios do CRd, pois para todas as microrregiões e todos os setores em todos os períodos os valores do CRd foram menores, iguais ou bem próximos a zero Coeficiente de Reestruturação O Coeficiente de Reestruturação (CRe) visa demonstrar se ocorreram mudanças na estruturas dos setores para cada microrregião, sendo analisado de um período para outro, os requisitos abordados indicam que para valores do CRe iguais a um, em nível microrregional, o setor em questão apresentou um significativo padrão de reestruturação, o caso inverso ocorre para valores do CRe iguais a zero. As conclusões retiradas para o estudo do CRe nos períodos e nas microrregiões em questão são que não ocorreram em nenhum período mudanças nas estruturas setoriais de nenhuma microrregião, dado que os valores do CRe foram no geral insignificantes, pois foram menores, iguais ou bem próximos de zero Coeficiente de Especialização O coeficiente de especialização (CE) busca através de sua análise demonstrar se uma determinada microrregião apresentou em sua estrutura setorial um determinado setor com alto nível de especialização a nível estadual, sendo que para ser especializado um determinado setor de uma determinada microrregião deve apresentar o valor do CL próximo ou igual a um. Com base no estudo realizado verificou-se que em nenhuma das microrregiões analisadas ocorreu um caso de um setor com elevado nível de especialização, ou seja, que fugiu do padrão estadual, pois em todos os períodos os resultados do CL foram menores, iguais ou bem próximos à zero. 84

85 5. Considerações Finais O presente trabalho analisou a dinâmica das atividades agropecuárias no estado do Ceará, fazendo uma abordagem da importância de tais atividades para a economia do estado, também, abordou-se, uma breve discursão a respeito dos pequenos estabelecimentos familiares dentro da estrutura econômica do estado, discutiu-se, também, sobre as políticas públicas de incentivo aos pequenos produtores como meio de fixar do pequeno produtor no campo, de forma a evitar o êxodo rural e, em consequência, desenvolver a produção familiar. Conclui-se, com base nas informações descritas na interpretação dos resultados, que as informações mais relevantes foram as apresentadas na interpretação do Quociente Locacional, dado que os resultados dos outros indicadores não apresentarão nenhuma ocasião que tornasse uma ou mais microrregião com um ou mais setores de comportamentos diferenciados, seja na estrutura, seja no padrão de dispersão ou concentração. Assim conclui-se, para os resultados do Quociente Locacional, que ao longo dos períodos, mesmo com o desenvolvimento industrial recente, as atividades ligadas à agropecuária ainda demonstram elevados graus de representatividade a nível microrregional, porém para os coeficientes que indicam especialização da produção os resultados não foram bons, isso indica que os setores em estudo (Agricultura, Pecuária e Serviços Relacionados; Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços Relacionados; e Pesca, Aquicultura e Serviços Relacionados) não se especializaram ao longo dos períodos estudados. Dada à significância dos setores rurais, principalmente do setor de agricultura e pecuária que demonstrou elevados índices de representatividade em todos os períodos na maior parte das microrregiões estado do Ceará (ver anexos), pode-se considerar que as políticas de apoio à pequena produção deram certo dinamismo aos setores componentes da agropecuária, sendo que além de as atividades que compõem a agropecuária estarem ativas, os setores que englobam essas atividades demonstram elevados graus de representatividade em determinadas microrregiões. Nota-se que os principais graus de representatividade foram visualizados nas microrregiões do interior do estado, nessas perspectivas pode-se considerar a ideia de que as políticas de apoio ao pequeno produtor estão garantindo a manutenção dos estabelecimentos agropecuários e dessa forma evitando o êxodo rural, permitindo a diversificação produtiva no estado. 85

86 6. Referencias ALTAFIN, Lara. Reflexões sobre o conceito de agricultura familiar Disponível em: < Acesso em: 05 de março de BELTRÃO, Hélio. Industrialização no Estado do Ceará: 20 anos. Disponível em: < Acesso em: 7 setembro CABRAL, Renan. Das ideias à ação: a Sudene de Celso Furtado oportunidade histórica e resistência conservadora. Rio de Janeiro: Cadernos do Desenvolvimento, v. 8, p , CHARINI, T. Análise da pobreza no Ceará Revista de Economia, Curitiba, v. 34, FERNANDES, Alana Miguel Serafini. O Pronaf na agricultura familiar: Sua criação, distribuição e principais resultados. [Dissertação de mestrado]. Porto Alegre: Departamento de Ciências Econômicas da UFRGS FRANÇA, Caio Galvão de. et. al. O censo agropecuário 2006 e a agricultura familiar no Brasil. Brasília: MDA, Disponível em: Acesso em: 08 de setembro de GUIMARÃES NETO, Leonardo. Introdução à formação econômica do Nordeste. Recife: Massangana, HADDAD, P. R., Medidas de Localização e de Especialização. Economia Regional: Teorias e Métodos de Análise. Fortaleza: BNB-ETENE, IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário de Disponível em: >. Acesso em: 08 de setembro de Lei nº , de 15 de dezembro de Institui a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste e dá outras providências de setembro de MAGALHÃES, André Matos et al. A experiência recente do PRONAF em Pernambuco:uma análise por meio de Propesinty Score. Econ. Aplicada, 10(1): 57-74, jan-mar Disponível em: Acesso: 10 de stembro de MALYSZ, P. A. ; CHIES, Claudia. A importância do Pronaf na permanência do agricultor familiar no campo. In: XXI Encontro Nacional de Geografia Agrária, 2012, Uberlândia. XXI Encontro Nacional de Geografia Agrária,

87 SCHNEIDER, Sérgio. A pluratividade e o desenvolvimento rural brasileiro. Cadernos do CEAM, Agricultura Familiar e Desenvolvimento Territorial Contribuições ao Debate. Brasília, ano V, n. 17, p , fev SCHNEIDER, S. HISTÓRICO, CARACTERIZAÇÃO E DINÂMICA RECENTE DO PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. Porto Alegre: Políticas Públicas e Participação Social no Brasil Rural, SILVA, E. R. A. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Pronaf: uma avaliação das ações realizadas no período 1995/1998. Brasília: MDA, p. Disponível em: < Acesso em: 10 de setembro

88 Anexos Tabelas com valores do Quociente Locacional AGROPECUARIA SILVICULTURA ANO Litoral de Camocim e Acaraú 2,13 1,45 2,73 2,62 0,00 0,00 0,00 0,00 Ibiapaba 2,78 2,80 3,22 4,46 0,00 0,00 0,00 0,00 Coreaú 0,00 0,00 0,85 0,00 0,00 0,00 0,00 52,14 Meruoca 7,56 18,00 12,79 5,64 0,00 0,00 0,00 0,00 Sobral 0,87 0,95 1,15 0,79 0,00 0,00 0,00 0,00 Ipu 0,00 0,00 0,25 0,66 0,00 0,00 0,00 0,00 Santa Quitéria 2,21 3,21 2,57 1,71 0,00 0,00 0,00 0,00 Itapipoca 3,56 1,54 2,99 1,72 0,00 0,00 0,00 12,86 Baixo Curu 8,55 4,31 9,14 6,91 0,00 20,06 17,73 0,00 Uruburetama 2,91 1,80 1,46 1,50 0,00 0,00 0,00 0,00 Médio Curu 4,99 3,10 2,33 3,93 0,00 0,00 34,27 0,00 Canindé 2,32 2,08 1,96 1,77 0,00 0,00 0,00 0,00 Baturité 2,62 3,01 3,12 3,16 0,00 10,88 0,00 0,00 Chorozinho 13,61 7,20 6,77 5,49 0,00 0,00 41,58 0,00 Cascavel-Ce 9,81 7,01 7,58 5,75 0,00 15,75 23,27 0,00 Fortaleza 0,65 0,65 0,47 0,44 1,17 0,71 0,45 0,30 Pacajus 11,16 6,14 4,58 3,67 0,00 14,79 0,00 0,00 Sertão de Cratéus 1,18 0,38 0,30 0,25 0,00 0,00 0,00 0,00 Sertão de Quixeramobim 3,10 4,63 2,62 3,30 0,00 0,00 0,00 6,04 Sertão de Inhamuns 1,91 1,39 1,10 1,06 0,00 0,00 0,00 0,00 Sertão de Senador Pompeu 1,46 1,39 1,15 0,94 0,00 0,00 0,00 10,60 Litoral de Aracati 3,60 3,30 2,87 2,59 0,00 11,32 9,18 9,32 Baixo Jaguaribe 2,41 2,11 3,95 5,00 0,00 0,00 3,99 0,00 Médio Jaguaribe 0,71 0,49 0,33 0,85 0,00 0,00 0,00 0,00 Serra do Pereiro 1,65 3,37 2,48 1,10 0,00 0,00 0,00 0,00 88

89 Iguatu 0,95 1,08 0,98 0,89 7,89 0,00 0,00 0,00 Várzea Alegre 0,00 0,00 1,07 0,52 0,00 0,00 0,00 0,00 Lavras da Mangabeira 0,00 1,12 1,62 1,78 0,00 0,00 0,00 0,00 Chapada do Araripe 0,00 0,00 0,00 0,67 0,00 0,00 0,00 0,00 Caririaçu 2,65 2,25 0,00 1,40 0,00 0,00 0,00 0,00 Barro 2,15 1,53 0,45 0,69 0,00 0,00 0,00 0,00 Cariri 0,49 0,66 0,74 0,48 0,00 0,00 0,00 4,03 Brejo Santo 1,72 1,89 1,33 1,06 0,00 0,00 0,00 0,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS. PESCA E AQUICULTURA ANO Litoral de Camocim e Acaraú 22,65 25,01 19,83 21,01 Ibiapaba 0,00 0,00 0,00 0,00 Coreaú 0,00 0,00 0,00 0,00 Meruoca 0,00 0,00 0,00 0,00 Sobral 0,00 0,00 0,17 0,34 Ipu 0,00 0,00 0,00 0,00 Santa Quitéria 0,00 0,00 0,00 1,71 Itapipoca 0,00 4,09 8,58 5,72 Baixo Curu 0,00 12,28 5,88 4,50 Uruburetama 0,00 0,00 0,00 0,00 Médio Curu 0,00 20,61 3,79 5,35 Canindé 0,00 0,00 1,14 0,00 Baturité 0,00 0,00 0,51 1,02 Chorozinho 0,00 0,00 0,00 0,00 Cascavel-Ce 12,60 6,43 5,14 3,72 Fortaleza 0,67 0,55 0,36 0,21 Pacajus 0,00 0,00 1,43 2,52 89

90 Sertão de Cratéus 0,00 0,00 0,00 0,00 Sertão de Quixeramobim 0,00 0,00 0,00 0,34 Sertão de Inhamuns 0,00 0,00 0,00 0,00 Sertão de Senador Pompeu 0,00 0,00 1,34 0,00 Litoral de Aracati 28,71 18,49 19,27 23,81 Baixo Jaguaribe 0,00 0,82 3,08 2,40 Médio Jaguaribe 0,00 0,00 0,00 2,84 Serra do Pereiro 0,00 0,00 0,00 0,00 Iguatu 0,00 0,00 0,00 0,00 Várzea Alegre 0,00 0,00 0,00 0,00 Lavras da Mangabeira 0,00 0,00 0,00 0,00 Chapada do Araripe 0,00 0,00 0,00 0,00 Caririaçu 0,00 0,00 0,00 0,00 Barro 0,00 0,00 0,00 0,00 Cariri 0,00 0,00 0,00 0,00 Brejo Santo 0,00 0,00 0,00 0,00 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS. 90

91 Grupo de trabalho 4: Desenvolvimento Regional e Políticas Públicas PRODUÇÃO E ÁREA PLANTADA DA MAMONA NO ESTADO DO CEARÁ: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE VETORES AUTORREGRESSIVOS (VAR) José Bruno Tavares Macedo Simões. Economista (URCA). Especialista em Administração Financeira (URCA). jbrunomacedo@hotmail.com Wellington Ribeiro Justo. Professor Associado da URCA. Prof. do PPGECON (UFPE-CAA). Doutor em economia pelo PIMES (UFPE). justowr@yahoo.com.br Otácio Pereira Gomes. Professor Do Curso de Economia da URCA (Campus Iguatu). Mestre em Economia Rural (UFC). otaciopg@gmail.com 91

92 PRODUÇÃO E ÁREA PLANTADA DA MAMONA NO ESTADO DO CEARÁ: UMA APLICAÇÃO DO MODELO DE VETORES AUTORREGRESSIVOS (VAR) Resumo Neste artigo examinaram-se os efeitos de choque de oferta e demanda na produção e área plantada da mamona no estado do Ceará. Com dados compreendendo o período entre 1947 e 2014 e utilizando-se da metodologia de Vetores Autoregressivos (VAR), os resultados apontaram que há um forte efeito inercial na dinâmica das duas variáveis tanto através da função de impulso resposta como pela análise da composição da variância. Dito de outra forma, em sua maior magnitude a dinâmica da produção é explicada pelo comportamento da própria variável. Isto é, choques de oferta através da produtividade e demanda através do PIB não influenciam a produção. Já a dinâmica da área plantada é explicada em sua maior parte pela própria dinâmica, mas também em menor magnitude através do choque na produtividade e no preço e não foi influenciada pelo choque de demanda. Palavras-chave: Mamona; produtividade; VAR. Abstract This paper examined whether the supply shock effects and demand in production and acreage of castor bean in the state of Ceará. With data covering the period between 1947 and 2014 and using the Vector Autoregressive methodology (VAR), the results showed that there is a strong inertial effect on the dynamics of the two variables both through the impulse response function as the analysis of the composition of the variance. In other words, for the most dynamic magnitude of production is explained by the very variable behavior. That is, supply shocks through productivity and demand through the GDP does not influence the production. Have the dynamics of the planted area is explained mostly by the dynamics, but also to a lesser degree through the shock on productivity and price and was not influenced by the demand shock. Key words: Castor bean; productivity; VAR. 1. Introdução O atual cenário econômico mundial busca à renovação de sua matriz energética, haja vista a necessidade de crescimento aliado à sustentabilidade, pois devido a vários acordos e normais internacionais os níveis de gases causadores do efeito estufa deverá ser reduzido, o que ajudará a manter a temperatura da terra em níveis aceitáveis 4 sem que haja danos à natureza e que tal redução ocorra sem grandes prejuízos à economia global. 4 O aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera terrestre, decorrente da queima de combustíveis fósseis, provoca um aumento na temperatura da Terra, acentuando o efeito estufa. O aumento de 1 C nas médias de temperatura já é suficiente para causar efeitos desastrosos, como os sentidos em 2014, o ano mais quente desde que as temperaturas começaram a ser registradas, secas e chuvas inventaram o cenário nacional. 92

93 Fato esse que mobilizou um acordo feito por EUA e China, que prevê novas metas para dedução de gases-estufa, gesto que antecipa a pauta da Conferencia do Clima de Paris 5, prevista para o fim do ano, onde novas fontes e métodos menos poluentes devem ser incorporados a matriz energética já existente. Dentre inúmeras fontes renováveis de energia temos os chamados biocombustíveis, combustíveis fabricados a partir de matéria orgânica, principalmente de origem vegetal. Diferentemente do que ocorre com os combustíveis fósseis, os quais não podem ser produzidos, cultivados, os biocombustíveis são fontes renováveis de energia, ou seja, fontes que podem ser repostas, aliando crescimento à sustentabilidade, além de propiciarem geração de emprego e renda em diversos setores da economia e nas diversas classes sociais. Segundo HOLANDA ( 2004, p.200): Para cada 1% de substituição de óleo diesel por biodiesel produzido com a participação da agricultura familiar, podem ser gerados cerca de 45 mil empregos no campo, com uma renda anual de aproximadamente 4.900,00, por emprego. E como afirma Abreu, Vieira e Ramos (2006,p. 11): Admitindo-se que, para cada emprego no campo, são gerados até três empregos no restante da cadeia produtiva, podem ser criados até 180 mil empregos para cada um ponto percentual de substituição do combustível fóssil. A produção de matérias-primas seria uma atividade complementar à agricultura de subsistência, representando uma forma de obtenção de renda monetária e ocupação da força de trabalho familiar por mais tempo, no próprio estabelecimento. Dentre os biocombustíveis podemos destacar o biodiesel que é produzido a partir de plantas oleaginosas como a soja, algodão, mamona, girassol, babaçu, amendoim, dendê e também a partir da gordura animal. Podendo ser utilizado in natura, puro, ou adicionado ao óleo diesel, combustível de origem fóssil, permitindo assim um melhor rendimento e redução na emissão de dióxido de carbono CO2. Sendo assim, a produção do Biodiesel pode ser adequada à realidade do País e ou região em que se deseja utilizar tal fonte de energia. No Brasil são produzidos vários tipos de oleaginosas nas suas diferentes regiões (SILVA; BISERRA, 1986). Segundo Meirelles (2003) destacam: as produções de dendê, babaçu e soja no Norte brasileiro; soja, mamona, algodão, girassol, dendê, milho e nabo forrageiro no Centro-Oeste; soja, 5 Conferência Internacional do Clima (COP 21), que pretende estipular novas metas até 2020, substituindo o Protocolo de Kyoto, 1997, que obteve resultados decepcionantes. 93

94 mamona, algodão, milho e girassol no Sudeste; soja, canola, girassol, algodão, milho e nabo forrageiro no Sul; e babaçu, pinhão manso, dendê, milho, algodão e mamona na Região Nordeste. Na região do semiárido nacional, que ocupa aproximadamente de km², de acordo dados da SUDENE (1996), poucas culturas apresentam as características encontradas na a mamona, Ricinus communis L., a qual apresenta excelente resistência a períodos de seca (WEISS, 1983) e mesmo exposta a tais condições extremas, apresenta excelente produção, com altos níveis de rentabilidade. Além da alta capacidade de resistência e ótimos níveis de produtividade a mamona pode ser consorciada a outras culturas dentro da agricultura familiar, haja vista que o chamado cultivo solteiro ou isolado se mostra mesmo rentável, segundo a Embrapa (2003). Sendo assim, a mamona pode a vir a tomar um cenário de destaque dentro da produção agrícola familiar, deixando de ser um elemento apenas secundário ou cultivo de sequeiro e passando a ser cultura principal na geração de renda dos agricultores familiares, não só do Ceará mais de outras partes do Semiárido Nordestino. Portanto este estudo tem como objetivo mensurar a trajetória da produção e área plantada de mamona no estado do Ceará no período entre 1947 e 2014, avaliando-se, os impactos de choque de oferta e demanda na sua dinâmica. Este artigo avança na literatura ao estimar choques de oferta e demanda na produção e área plantada da mamona no estado do Ceará com base na maior série histórica disponível e utilizandose de instrumental teórico e metodológico amplamente testados. O artigo está estruturado em cinco seções além desta introdução. A seção dois trata de aspectos culturais da mamona. A seção três trata de características edafoclimáticas do Ceará. Na seção quatro apresenta-se o modelo teórico. Na seção cinco é apresentada a metodologia. A seção seguinte traz os resultados e discussão e a última seção traz as principais conclusões. 2. Modelo Econômico Proposto O modelo aqui apresentado utiliza as ideias básicas desenvolvidas por Blanchard e Quah (1989), e adaptadas ao setor agrícola por Spolador (2006) e Alves (2006), que atribui a evolução da economia a choques de oferta (produtividade) e demanda (oferta monetária). Neste caso, pretendese verificar em que medida o desempenho da produção e da área colhida de mamona no Ceará pode ser atribuído a choques de oferta (produtividade), de demanda (renda nacional mercado interno), assim como qual a influência dos preços sobre estas variáveis. Contrariando o modelo de Blanchard 94

95 e Quah (1989), não será imposta restrição de longo prazo para captar os efeitos permanentes e temporários. dada por: Neste modelo, a demanda pela mamona cearense (em logaritmos) seguindo Alves (2006) é d y t = mt -pt onde y é a quantidade produzida, m a renda nacional real e p é o preço do produto. O produto (em logaritmos) é dado ainda por: y = - s t t t em que η é a área plantada e θ a produtividade da terra. Os impactos no modelo são dados pelos seguintes choques: d -choques de renda interna ( e ): (1) (2) m = m t t-1 - e d t (3) s -choques de produtividade, que afetam a oferta ( e ): = - e s t t-1 t (4) p -choques de preços ( e ): p = pt-1- e p t t (5) e -choques de área colhida ( ): η η t= E(p) - e t em que e = e t-1+ ut (6) Todos os choques, exceto u t, têm média zero, são não-correlacionados e não apresentam autocorrelações. O modelo econômico apresentado anteriormente será estimado através da metodologia de Auto-Regressão Vetorial (VAR). Segundo Alves (2006) a metodologia VAR é bastante utilizada na análise de questões macroeconômicas, assim como em estudos relacionados à economia agrícola, podendo-se citar, nesse caso, Barros (1991), Barros (1992), Myers, Piggot e Tomek (1990), Bacchi (1994), Burnquist et al. (1994), Aguiar (1994), Barros e Bittencourt (1997), Bacchi e Burnquist (1999), Alves (2002), Bacchi e Alves (2004) entre outros. 3. Metodologia 95

96 A metodologia VAR foi introduzida por Sims (1980) como uma técnica que poderia ser usada na macroeconomia para caracterizar comportamentos dinâmicos conjunto de um conjunto de variáveis sem requerer fortes restrições para identificar os parâmetros estruturais. Embora a estimação do VAR não exija fortes restrições como hipóteses, algumas das mais úteis aplicações como a função de impulso resposta ou a decomposição da variância requerem a identificação das restrições. Uma típica restrição é a hipótese sobre a relação dinâmica entre um par de variáveis, por exemplo, se x afeta y somente com uma defasagem, ou se x não afeta y no longo prazo. Um VAR contém um conjunto de m variáveis, cada uma das quais expressas como função linear de p defasagens delas mesmas e de todas as outras m-1 variáveis mais o termo de erro. Com duas variáveis x e y. Um VAR de ordem p seria expresso por: y = β + β y + + β y + β x + + β x + ν y t y0 yy1 t-1 yyp t-p yx1 t-1 yxp t-p t y = β + β y + + β y + β x + + β x + ν x t x0 xy1 t-1 xyp t-p xx1 t-1 xxp t-p t (7) Uma característica fundamental da equação (7) é que não há variáveis contemporâneas aparecendo no lado direito de qualquer das equações. Isto torna mais plausível, embora nem sempre certo, que os regressores de (7) são fracamente exógenos e que, se todas as variáveis são estacionárias e ergódicas. A estimação por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) pode produzir estimadores assintoticamente desejáveis. Variáveis que são conhecidos por serem exógenas podem ser modeladas ao adicionar ao lado direito das equações VAR sem dificuldade, e, obviamente, sem incluir equações adicionais para modelá-las. Quando se estima um modelo VAR com mais de duas variáveis, deve-se considerar a possibilidade de mais de uma relação de cointegração entre as variáveis. 4. Resultados e Discussão A figura 1 traz o comportamento da série histórica das variáveis: produção, área, produtividade, preço e PIB no período 1946 a Observa-se uma grande queda tanto na produção como na área plantada a partir do final da década de oitenta e início da década de 90 em virtude do fechamento de grandes empresas que produzia torta e óleo da mamona. Entre a década de 90 e início dos anos 2000 há uma grande variação tanto na produção como na área plantada ora com grandes aumentos ora com grandes reduções. A partir de 2003 as séries apresentam uma tendência de crescimento com mais uma oscilação negativa no final da série. Possivelmente estes 96

97 últimos movimentos sejam em virtude do programa de biodiesel que influenciou a produção e a área plantada de mamona especialmente na região Nordeste. A queda no final do período ocorre justamente em virtude da queda da produção nordestina com o fechamento de algumas usinas de biodiesel na região bem como pela seca que vem assolando a região nos últimos três anos 6. A produtividade, contudo oscila dentro de uma média indicando possivelmente que a série é estacionária. Uma variação mais acentuada ocorre no final da série. Como dito anteriormente, provavelmente afetada pelo fechamento das usinas de biodiesel no nordeste e pela seca. A série de preços apresenta alguns picos nas décadas de 70 e 80 e depois uma ligeira tendência de queda até o início dos anos A partir de então a tendência é de crescimento até o final da série. Esta tendência ascendente coincide com o período em que é implantado o programa da biodiesel. Finalmente no último gráfico da figura 1 observa-se que a série do PIB apresenta uma tendência de crescimento ao longo do período. Contudo, observa-se que há oscilações negativas nos anos 80 com a crise da dívida e início dos anos 2000 com os efeitos das crises internacionais do México, Rússia, Argentina, Tigres Asiáticos e o próprio Brasil e uma ligeira queda no final da série, esta refletindo o efeito da crise financeira internacional iniciada nos Estados Unidos com a bolha no mercado imobiliário e posteriormente se estendendo para o lado real da economia refletindo em toda a economia mundial. 6 Um dos objetivos do programa de biodiesel era incentivar a agricultura familiar nas regiões Norte e Nordeste com a produção da mamona como matéria-prima para as indústrias de Biodiesel. Contudo, como apontam Nunes, Justo e Rodrigues (2014) em virtude de não conseguirem oferta suficiente de mamona dos agricultores familiares nestas regiões que permitisse que as empresas se enquadrassem no regime de incentivos fiscais de acordo com a legislação, várias empresas mudaram para estados do Centro-Oeste e passaram a produzir biodiesel a partir da soja. Outras que permaneceram substituíram a mamona pela soja e sebo animal. 97

98 Produtividade Anos 0 Produção Área Anos Preço Pib Anos Anos Figura 1 Produção, Área Plantada, Produtividade e Preço da Mamona e PIB: Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB. A figura 2 apresenta a série das variáveis: produção, área plantada, produtividade e pib no período 1946 a 2014 com as variáveis em logaritmo. A suavização das séries com as variáveis em logaritmo tende a tornar as séries estacionarias Lnprodut Ano Lnprodução Lnárea Ano Lnpreço Lnpib Ano Ano Figura 2 LnProdução, LnÁrea Plantada, LnProdutividade e LnPreço da Mamona e LnPIB:

99 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB. Na tabela 1 são apresentadas as estatísticas descritivas das variáveis. A produção média anual da mamona é de cerca de 15,6 mil toneladas. A produtividade é de pouco menos de 563 kg/ha. Contudo, o valor mínimo é de 189 kg/ha e o valor máximo de 920,2kg/ha. O preço médio é de R$ 1,23/kg. O PIB médio é de aproximadamente US$ 2 trilhões. A produtividade é a variável que apresenta a menor variabilidade. Já a produção é a que apresenta a maior variabilidade. Tabela 1 Estatística Descritiva Variável Média Desvio padrão Mínimo Máximo CV (%) Produção ,32 Área ,22 Produtividade ,61 Preço ,41 PIB ,43 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB. A tabela 2 traz o resultado dos testes de identificação das defasagens que devem ser incorporadas no modelo. Segundo Baum (2013) se forem introduzidas muitas defasagens perdemse muitos graus de liberdade. Por outro lado se forem incluídas poucas defasagens pode ocasionar erro de especificação do modelo e autocorrelação dos resíduos. Desta forma, faz-se necessária a utilização de testes para identificar a quantidade ótima de defasagens no modelo. A maioria dos testes aponta para a necessidade de incorporar uma defasagem. Desta forma, o modelo estimado incorpora uma defasagem de cada uma das variáveis. Tabela 2 Testes para identificar o número de defasagens do modelo Lag LL LR df p FPE AIC HQIC SBIC * e * * * e-06* e * e * Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB. 99

100 A tabela 3 traz os resultados do teste de Dickey-Fuller aumentado para analisar a estacionaridade das séries. Os resultados apontam que apenas a série do logaritmo da produtividade é estacionária considerando a confiabilidade de 95% para o teste de Dickey-Fuller Augmented. Tabela 3 Teste de raiz unitária: Dickey-Fuller Augmented Variável Estatística Z(t) Valor Crítico (1%) p-value lnprodução lnárea lnprodutividade lnpreço lnpib Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB. A tabela 4 apresenta o resultado do teste de Phillips-Perron para analisar a estacionaridade das séries. Percebe-se que apenas a série do logaritmo da produtividade e do lnpib seriam estacionárias coma confiabilidade de 99% segundo este critério. Assim, partiu-se para a diferenciação das séries não estacionárias a fim de torná-las estacionárias. Tabela 4 Teste de raiz unitária: Phillips-Perron Variável Estatística Z(t) Valor Crítico (1%) p-value lnprodução lnárea lnprodutividade lnpreço lnpib Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB. A tabela 5 traz os resultados do teste de Phillips-Perron para as séries em primeira diferença e os resultados apontam que as séries em primeira diferença são estacionárias. Tabela 5 Teste de raiz unitária com as variáveis em primeira diferença: 100

101 Variável Estatística Z(t) Valor Crítico (1%) p-value DlnProdução DlnÁrea DlnPreço DlnPib Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB. Na figura 3 pode-se observar a função impulso-resposta do var estimado 7. Observa-se que um choque no lnpib afeta de forma positiva o preço e este efeito dissipa-se após 2 períodos. Já um choque na variável lnpreço tem um forte efeito positivo na própria variável, mas este efeito permanece positivo, mas com menor magnitude ao longo do tempo. O efeito deste choque no lnpreço, contudo, incialmente é menor, cresce e depois se estabiliza nas variáveis lnprodução e lnprodutividade. Por sua vez, um choque na variável lnprodutivade tem um forte efeito inicial, cresce e estabiliza após 10 períodos na própria variável. O efeito deste choque, praticamente não é sentido nas demais variáveis. Exceto na produção que tem um pequeno efeito positivo que logo se estabiliza. Finalmente um choque na variável lnprodução não tem efeito inicial na variável lnpreço, mas após o segundo período o efeito é crescente até se estabilizar a partir do décimo período. Este choque é positivo, porém decrescente na variável lnprdutividade. Este mesmo choque tem um forte efeito positivo na própria variável, mas decresce até o quinto período e passa a diminuir lentamente ao longo do tempo. 7 Uma vez que as séries não são integradas de mesma ordem o que indica que não há necessidade de inclusão de vetores de cointegração para recuperar, se for o caso, as relações de longo prazo das séries. Para os dois modelos estimados o primeiro englobando produção e o outro com área plantada. Por falta de espaço, optou-se em apresentar o resultado da estimação do VAR para os dois modelos com as variáveis em logaritmo apesar de algumas não serem estacionárias. Foram estimados também o VAR para os dois modelos com todas s variáveis estacionárias em primeira diferença. Os resultados são similares. Vários autores, como por exemplo, Silva, Souza e Maia (2013) sugerem que ainda que as variáveis não sejam todas estacionárias que seja estimado o VAR com todas as variáveis em nível ou em primeira diferença como foi realizado, neste artigo. 101

102 1 Modelo1, lnpib, lnpib Modelo1, lnpib, lnpreço Modelo1, lnpib, lnprodut Modelo1, lnpib, lnprodução Modelo1, lnpreço, lnpib Modelo1, lnpreço, lnpreço Modelo1, lnpreço, lnprodut Modelo1, lnpreço, lnprodução Modelo1, lnprodut, lnpib Modelo1, lnprodut, lnpreço Modelo1, lnprodut, lnprodut Modelo1, lnprodut, lnprodução Modelo1, lnprodução, lnpib Modelo1, lnprodução, lnpreço Modelo1, lnprodução, lnprodut Modelo1, lnprodução, lnprodução step 95% CI orthogonalized irf Graphs by irfname, impulse variable, and response variable Figura 3 Função impulso resposta do modelo 1 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da SEAGRI e CONAB. Uma das hipóteses para que o VAR seja estável é que os valores absolutos dos autovalores da matriz dinâmica fiquem dentro do círculo unitário. Conforme a figura 4 os resultados apontam que o VAR estimado é estável atendendo a hipótese. Roots of the companion matrix Imaginary Real Figura 4 Teste de estacionaridade do modelo. Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR 102

103 A validação dos resultados do VAR estimado pressupõe, também, ausência de autocorrelação nos resíduos do modelo. Conforme o resultado do teste LM apresentado na tabela 7 observam-se que os resíduos não são autocorrelaciondos, haja vista que aceita-se a hipótese nula. Tabela 7 Testando a ausência de autocorrelação no modelo: teste LM 1 Lag chi2 Df Prob>chi Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB. Nota: H0: no autocorrelation at lag order. A figura 5 traz a decomposição dos erros de previsão da variância. Observa-se que a variável lnpib é praticamente explicada por ela mesma. O mesmo ocorre coma variável lnpreço e lnprodutividade. Já para a variável lnprodução a decomposição dos erros de previsão da variância mostra que esta é explicada com maior magnitude pela própria variável e pela variável produtividade em menor magnitude. 1 Modelo1, lnpib, lnpib Modelo1, lnpib, lnpreço Modelo1, lnpib, lnprodut Modelo1, lnpib, lnprodução Modelo1, lnpreço, lnpib Modelo1, lnpreço, lnpreço Modelo1, lnpreço, lnprodut Modelo1, lnpreço, lnprodução Modelo1, lnprodut, lnpib Modelo1, lnprodut, lnpreço Modelo1, lnprodut, lnprodut Modelo1, lnprodut, lnprodução Modelo1, lnprodução, lnpib Modelo1, lnprodução, lnpreço Modelo1, lnprodução, lnprodut Modelo1, lnprodução, lnprodução step 95% CI fraction of mse due to impulse Graphs by irfname, impulse variable, and response variable 103

104 Figura 5 Decomposição da Variância do primeiro modelo Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB. A figura 6 traz a função impulso resposta para o segundo modelo. Ou seja, a ideia como dito anteriormente é tentar captar possíveis efeitos de choques de oferta e demanda na área plantada da mandioca no estado do Ceará. São apresentados os resultados do VAR com as variáveis logaritmizadas Modelo2, lnarea, lnarea Modelo2, lnarea, lnpib Modelo2, lnarea, lnpreço Modelo2, lnarea, lnprodut Modelo2, lnpib, lnarea Modelo2, lnpib, lnpib Modelo2, lnpib, lnpreço Modelo2, lnpib, lnprodut Modelo2, lnpreço, lnarea Modelo2, lnpreço, lnpib Modelo2, lnpreço, lnpreço Modelo2, lnpreço, lnprodut Modelo2, lnprodut, lnarea Modelo2, lnprodut, lnpib Modelo2, lnprodut, lnpreço Modelo2, lnprodut, lnprodut step 95% CI orthogonalized irf Graphs by irfname, impulse variable, and response variable Figura 6 Função impulso resposta do VAR com as variáveis em nível do segundo modelo. Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB. Observa-se que um choque na variável lnárea tem um choque positivo na própria variável, mas que vai se dissipando ao longo do tempo. O efeito desaparece após 8 períodos. Este choque praticamente não afeta a variável lnpib. Causa inicialmente um pequeno efeito negativo e depois positivo, mas que logo se dissipa na variável lnpreço. Há, contudo, um efeito inicial positivo seguido por efeito negativo que também se dissipa após 4 períodos na variável lnprodutividade. 104

105 O choque na variável lnpreço causa impactos positivos na variável lnarea. No entanto este efeito desaparece após quatro períodos. Além deste efeito, ocorre um pequeno efeito negativo seguido de efeito positivo, mas que também desaparece após quatro períodos na própria variável. Finalmente, um choque na variável lnprodutividade causa um efeito positivo na variável lnarea que é dissipado após dois períodos. Este choque causa também um forte efeito positivo na própria variável, contudo este efeito desaparece já no segundo período. Na figura 7 observa-se a decomposição da variância do segundo modelo com as variáveis em logaritmo. Vê-se que a variância do logaritmo do pib é praticamente explicada pela própria variável. Comportamento similar ocorre com a variável lnpreço e lnprodutividade. Já a decomposição da variância da variável logaritmo da área é explicada em maior magnitude pela própria variável, mas em menor magnitude por todas as variáveis do modelo. 1 modelo2, deltalnpib, deltalnpib modelo2, deltalnpib, deltalnpreço modelo2, deltalnpib, deltlnarea modelo2, deltalnpib,lnprodut modelo2, deltalnpreço, deltalnpib modelo2, deltalnpreço, deltalnpreço modelo2, deltlnapreço, deltalnrea modelo2, deltalnpreço, lnprodut modelo2, deltlnarea, deltalnpib modelo2, deltalnrea, deltalnpreço modelo2, deltalnrea, deltalnrea modelo2, deltalnrea, lnprodut modelo2,ln produt, deltalnpib modelo2, lnprodut, deltalnpreço modelo2ln, produt, deltalnrea modelo2,ln produt,ln produt step 95% CI fraction of mse due to impulse Graphs by irfname, impulse variable, and response variable Figura 7 Decomposição da variância do segundo modelo com as variáveis em logaritmo. Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB. Similarmente como foi feito no primeiro modelo, partiu-se para testar a estabilidade do modelo. A figura 8 mostra que as condições de estabilidade são satisfeitas. 105

106 Roots of the companion matrix Imaginary Real Figura 8 Estacionaridade do modelo Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB. A tabela 8 traz o teste LM para verificar a hipótese que os resíduos são não autocorrelacionados no segundo modelo. Os resultados apontam para a aceitação da hipótese nula. Tabela 8 Testando a ausência de autocorrelação no modelo: teste LM 8 Lag chi2 Df Prob>chi Fonte: Elaborado pelos autores com base nos resultados do VAR a partir dos dados da SEAGRI e CONAB. Nota: H0: no autocorrelation at lag order. 5. Conclusões Este artigo procurou mensurar a trajetória da produção e área plantada de mamona no estado do Ceará no período entre 1947 e 2014, avaliando-se, os impactos de choque de oferta e demanda na sua dinâmica. Os resultados obtidos pela metodologia VAR puderam se analisados através das funções de impulso respostas e pela decomposição da variância. Nos dois casos, verificou-se que a 8 Nos dois modelos foram feitos testes de normalidade dos resíduos com as variáveis estacionárias em primeira diferença com duas defasagens e aceitou-se a hipótese nula da normalidade dos resíduos. 106

107 produção de mamona é explicada não apenas por ela mesma, mas também pela produtividade e preço. Os efeitos de um choque na produção, contudo, dissipasse-se rapidamente. Estes resultados puderam ser observados com as variáveis em logaritmo como em primeira diferença, embora tenham sido apresentados apenas os resultados da primeira. A dinâmica da área plantada de mamona no estado do Ceará é explicada em maior magnitude pela própria variável e em menor magnitude pela produtividade e preço. Isto é, choque de oferta afeta a área plantada. O mesmo não pode ser observado no choque de demanda. Observou-se, no entanto, que o efeito de um choque na área plantada tem um efeito mais duradouro na sua dinâmica quando comparado com o efeito na produção. Estes resultados apontam que há um forte efeito inercial na dinâmica destas duas variáveis, o que me parte é explicado pelo fato da mamona ser uma cultura voltada para o mercado mesmo que a produção seja realizada em grande medida pelos agricultores familiares. Assim há uma resistência por parte do agricultor tanto na decisão de iniciar a exploração desta cultura como substituí-la por culturas mais tradicionais como feijão e milho quando avaliar que o preço não é atrativo. No Ceará, nos últimos anos o governo procurou incentivar o cultivo da mamona estabelecendo uma política de preço mínimo com o intuito de garantir uma produção, através da agricultura familiar, suficiente para que as empresas que se instalaram no estado com o objetivo de produzir biodiesel utilizando a mamona como matéria prima conseguisse oferta suficiente para viabilizar a produção. Contudo, como pode ser observado, esta política parece não ter sido suficiente, haja vista o baixo impacto do preço na produção e área plantada. Estes resultados corroboram com outros trabalhos, como por exemplo, Nunes, Justo e Rodrigues (2014) que se utilizando de outra metodologia apontaram que esta política não tem conseguido viabilizar as empresa produtoras do biodiesel no estado e que as empresas remanescentes têm substituído a mamona pela soja e sebo animal na produção do biodiesel no estado. 6. Referências ABREU, F. R.; VIEIRA, J. N. de S. RAMOS, S. Y. Programa Nacional para a Produção e Uso do Biodiesel Diretrizes, desafios e perspectivas. Revista de Política Agrícola, Ano XV Nº 3 Jul./Ago./Set., p.5-18, 2006 Agência Nacional de Águas - ANA (Brasil). Disponível em: Atlas Brasil : abastecimento urbano de água : panorama nacional / Agência Nacional de Águas; Engecorps/Cobrape. Brasília : ANA : Engecorps/Cobrape,

108 Agencia Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível/is ANP (Brasil). Boletim de Setembro AGUIAR, D. Custo, risco e margem de comercialização de arroz e feijão no Estado de São Paulo: análise dinâmica e testes de modelos alternativos p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, ALVES, L. R. A. A reestruturação da cotonicultura no Brasil: fatores econômicos, institucionais e tecnológicos f. Tese (Doutorado em Economia Aplicada). Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz. USP, Piracicaba, BACCHI, M.R.P. Previsão de preços de bovino, suíno e frango com modelos de séries temporais p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, BACCHI, M.R.P.; ALVES, L.R.A. Formação de preço do açúcar cristal empacotado ao varejo da região Centro-sul do Brasil. Agricultura em São Paulo, São Paulo, v. 52, n. 1, p. 5-22, BARROS, G.S.A. de C. Impacts of monetary and real factors on the US dollar in identifiable VAR models. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 45, n. 4, p , BARROS, G.S.A. de C. Effects of international shocks and domestic macroeconomic policies upon Brazilian agriculture. Agricultural Economics, Amsterdam, v. 7, n. 2, p , BARROS, G.S.A. de C.; BITTENCOURT, M.V.L. Formação de preços sob oligopsônio: o mercado de frango em São Paulo. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 51, n. 2, p , BERNANKE, B.S. Alternative explanations of the money-income correlation. Carnegie-Rochester Conference Series on Public Policy, Rochester, v. 25, p , BAUM, C. VAR, SVAR and VECM models. EC 823: Applied Econometrics. Boston College, Spring BLANCHARD, O.J.; QUAH, D. The dynamic effects of aggregate demand and supply disturbances. The American Economic Review, New York, v. 39, n. 4, p , Sep BRITO, L. T. de L.; MOURA, M. S. B. de; GAMA, G. F. B. (Ed.). Potencialidades da água de chuva no semiárido brasileiro. Petrolina: Embrapa Semiárido, cap. 2, p DICKEY, D.A.; FULLER, W.A. Likelihood ratio statistics for autoregressive time series with a unit root. Econometrica, Chicago, v. 49, n. 4, p , July Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EMBRAPA (Brasil). 108

109 , Mamona: Árvore do Conhecimento e Sistemas de Produção para o Semiárido Brasileiro, ISSN , Campina Grande, PB Setembro, 2003 Disponível em:, Mamona: Árvore do Conhecimento e Sistemas de Produção para o Semiárido Brasileiro, ISSN , Campina Grande, PB Outubro, ENDERS, W. Applied econometric time series. New York: John Wiley & Sons, ENGLE, R.F.; GRANGER, C.W.J. Co-integração and error corretion: representation, estimation, and testing. Econometrica, Chicago, v. 55, n. 2, p , Mar FAVERO, E. A Seca na Vida das Famílias Rurais de Frederico Westphalen-RS. Dissertação de Mestrado, Santa Maria, RS, UFSM, 2006 HAMILTON, J.D. Time series analysis. Princenton: Princenton University Press, HOLANDA, A. Biodiesel e inclusão social. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, p. (Caderno de Altos Estudos, 1) JACOMINE, P. K. T. Solos sob caatingas Características e uso agrícola. In: ALVAREZ, V. H.; FONTES, L. E. F.; FONTE, M. P. F. (Ed.). O solo nos grandes domínios morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentado. Viçosa: SBCS/UFV Ministério Da Agricultura, Pecuária E Abastecimento - MAPA (Brasil). As Portarias de Zoneamento Agrícola de Risco Climático por Unidade da Federação. MEIRELLES, F. de S. Biodiesel, Brasília. FAESP/SENAR-SP, 2003 MENDES, B. V. Biodiversidade e desenvolvimento sustentável do Semiárido. Fortaleza: SEMACE, p. MENDES, R.A. Diagnóstico, Análise de Governança e Proposição de Gestão para a Cadeia Produtiva do Biodiesel da Mamona (CP/BDM): o Caso do Ceará. Fortaleza, XIX, 159 fl., Dissertação (Mestrado em Engenharia de Transportes) Programa de Mestrado em Engenharia de Transportes, Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, MYERS, R.J.; PIGGOTT, R.R.; TOMEK, W.G. Esthimating sources of fluctuations in the australian wool market: an application of VAR methods. Australian Journal of Agricultural Economics, Collingwood, v. 34, p , Nova Delimitação do Semiárido Brasileiro (Brasil), Secretária de Políticas de Desenvolvimento Regional, Ministério da Integração MI. NORDESTE sertanejo: a região semiárida mais povoada do mundo. Estudos Avançados, São Paulo, v. 13, n. 35 p.60-68, Mai/Ago

110 NUNES, E. de S.; JUSTO, W.R.; RODRIGUES, R. E. de A. Efeito da produção de biodiesel na economia e no emprego formal na agricultura. Revista de Política Agrícola, No 2. Abr./Maio/Jun, p.51-68, Revista de política agrícola. Ano 1, n. 1 (fev. 1992) -. Brasília: Secretaria Nacional de Política Agrícola, Companhia Nacional de Abastecimento, SSN , Publicação Trimestral, Ano XV Nº 3, Jul./Ago./Set. 2006, Brasília, DF. Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura SEAGRI (Bahia). Secretaria de Desenvolvimento Agrário DAS (Ceará). SILVA, A. C. A. da; SOUZA, W. P. S. de F.; MAIA, S.F. preços de alimentos e dinâmica inflacionária no Brasil: uma Aplicação do modelo de vetores autoregressivos (var). In: Anais do 51º Congresso da SOBER. Belém-PA, SIMS, C.A. Macroeconomics and Reality. Econometrica 48 (1):1-48, SPOLADOR, H.F.S. Impactos dinâmicos dos choques de oferta e demanda sobre a agricultura brasileira p. Tese (Doutorado em Economia Aplicada) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, WEISS, E.A. Oil seed crops. London: Longman, p. 110

111 ÁREA TEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS ANÁLISE DA PRODUÇÃO DAS PRINCIPAIS CULTURAS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO CEARÁ: CONSIDERAÇÕES PARA O PERÍODO 1990 A 2011 COM O MODELO SHIFT SHARE NATANIELE DOS SANTOS ALENCAR (Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri. Bolsista de Iniciação Científica. nataniele-santos@hotmail.com Telefone: (88) ). WELLINGTON RIBEIRO JUSTO (Engenheiro Agrônomo (UFRPE). Economista (URCA). Mestre em Economia Rural (UFC). Doutor em Economia pelo PIMES (UFPE). Professor Associado do Curso de Economia da URCA. justowr@yahoo.com.br Telefone: (81) ). KELVIO FELIPE DOS SANTOS (Formado em Ciências Econômicas pela (URCA). Mestre em Economia Rural (UFC). Professor do Instituto Federal de Brasília (IFB- Campus Taguatinga Centro) kelviofelipe@yahoo.com.br Telefone: (61)

112 ANÁLISE DA PRODUÇÃO DAS PRINCIPAIS CULTURAS DA AGRICULTURA FAMILIAR NO CEARÁ: CONSIDERAÇÕES PARA O PERÍODO 1990 A 2011 COM O MODELO SHIFT SHARE RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar o comportamento das principais culturas da agricultura familiar no Ceará e em suas mesorregiões no período de 1990 a 2011, para identificação dos efeitos explicativos. As culturas analisadas são: arroz, feijão, milho e mandioca. O foco foi na área plantada e colhida, rendimento e produção. Para a identificação dos efeitos explicativos utilizou-se da metodologia shift share. Logo, foi possível decompor o efeito total em efeito área, rendimento e localização assim como o efeito total em termos de taxa de crescimento para cada uma das culturas no estado e nas mesorregiões. Os resultados apontaram que a cultura do milho foi a mais expressiva em termos de área enquanto na produção o destaque ficou para a mandioca. O modelo shift share por sua vez apontou um efeito total positivo para as culturas do milho e feijão e negativo para as culturas do arroz e mandioca. Palavras-chaves: Agricultura Familiar, Produção, Ceará, Shift Share. ABSTRACT: This study aims to analyze the behavior of the main crops of the family farm in Ceará and its regions, in the period as well to identify the explanatory effects. Cultures analyzed are: rice, beans, maize and cassava. The focus was on planted area and. To identify explanatory purposes we used the methodology shift share. Thus it was possible to decompose the total effect on area effect, yield and location, as well as the overall effect in terms of growth rate for each crop in the state and in the regions. The results showed that the corn crop was the most significant in terms of the production area while the highlight was cassava. The shift share model in turn showed a total positive effect for crops of corn and bean and negative for rice and cassava. Keywords: Family Farming, Production, Ceará and Shift Share. 112

113 1. Introdução Devido às condições precárias na qual vivem as pessoas da zona rural, muitas migram em busca de melhores condições de vida, por isso o grande êxodo rural, crescendo então a população da zona urbana, como também no que se refere ao número de favelas. Contudo, recentemente foram adotadas políticas voltadas para o fortalecimento e a criação de novas unidades familiares no meio rural, medidas estas que tem como objetivo propor melhores condições de vida, diminuindo assim a miséria e a pobreza nesse meio e contribuindo para a fixação do homem no campo. Segundo VASCONCELOS (2013), o mercado está cada vez mais globalizado e competitivo, de modo que a agricultura brasileira vem passando por transformações principalmente a partir de meados da década de 1990, isso decorrente da abertura comercial. Logo observa-se que durante vinte e um anos ocorreram mudanças na produção, de acordo com o presente estudo analisado, de forma a atender a demanda desse novo cenário econômico. Além das desigualdades entre regiões e estados, os instrumentos de políticas utilizados pelo Governo, acabaram por gerar crescimento desigual também entre os produtos cultivados, programas importantes de incentivo ao setor, como o crédito rural, não chegou a contemplar de maneira homogênea os estados, as regiões e até mesmo as lavouras. As alterações ocorridas no meio rural foram enormes, principalmente a partir da década de 1990, entre essas alterações teve-se o incremento tecnológico, a abertura comercial, a perda de capacidade de financiamento da agricultura pelo estado e a carência quase que total de informações no tocante ao cultivo das lavouras temporárias. Com os avanços tecnológicos de máquinas para produção, os agricultores passaram a ter a possibilidade de aumentar a sua produção, utilizando-se de máquinas modernas na plantação, colheita e transformação da matéria prima em produto final. Nos últimos anos, os países intensificaram a procura para melhorar as condições de vida da população de um modo geral. Nesse contexto, a agricultura familiar como forma de produção sustentável, vem sendo intensamente estudada, impulsionada pela discussão corrente sobre desenvolvimento sustentável, como instrumento de geração de emprego e renda no meio rural. Nas últimas décadas, os países de um modo geral têm se empenhando em promover o desenvolvimento econômico (SOUSA; KHAN; PASSOS, 2004). Em particular ao Ceará, a grande fornecedora dos produtos que compõem a cesta alimentar é a agricultura familiar, segundo JÚNIOR (2010), aproximadamente dois terços do que chega à mesa do cearense são produzidos em terras cultivadas por agricultores familiares. 113

114 A agricultura sempre colaborou com a geração de riqueza do país e o Estado do Ceará. Busca-se, portanto com este trabalho, analisar o comportamento das principais culturas da agricultura familiar no período de 1990 para 2011, não só para o estado, mas também para as mesorregiões, rumo a identificar quais culturas tem efeitos positivos na produção no Ceará, como também as de efeitos negativos. Este trabalho avança na literatura ao tratar de forma conjunta as quatro principais culturas da agricultura familiar no Ceará bem como compreendendo um período de tempo maior. Outra contribuição é a metodologia utilizada que possibilita identificar o efeito área, rendimento e efeito localização. Assim é possível contribuir para adoção de políticas públicas com enfoque mais específicos. O presente trabalho está estruturado em seis seções, incluindo esta introdução; a seção dois faz uma retrospectiva de alguns conceitos e conhecimentos literários no que se refere a agricultura familiar e as principais culturas cultivadas. Na seção três descreve-se a metodologia trabalhada; na seção quatro são apresentados os resultados e discussões. Já a seção cinco se refere às considerações finais. 2. Revisão de Literatura 2.1 Agricultura Familiar É fundamental compreender previamente a definição do que vem a ser agricultura familiar, para que assim haja o desenvolvimento dessa área. Nesse contexto, é importante ressaltar que ela não pode ser confundida com agricultura de subsistência, logo, a mesma é uma definição bem prática de agricultura familiar, pois ao mesmo tempo em que a família detém os meios de produção, ela própria trabalha no estabelecimento produtivo. Agricultura familiar pode ser entendida basicamente como um modo de produção, onde há interação, pois o próprio agricultor familiar é quem comanda o processo produtivo, sendo lembrada por sua importância no que cerne ao fluxo de emprego e na produção de alimentos voltada principalmente para o autoconsumo. É notório observar algumas características da agricultura familiar: A agricultura familiar tem como características, a gestão e trabalho intimamente ligados; o processo produtivo dirigido diretamente pelo produtor; a ênfase na diversificação; a ênfase na durabilidade dos recursos naturais e na qualidade de vida; o fato do trabalho assalariado ser apenas complementar; as decisões imediatas, adequadas ao alto grau de imprevisibilidade do processo produtivo; as decisões tomadas in loco, condicionadas 114

115 pelas especificidades do processo produtivo e a ênfase no uso de insumos internos. (AZEVEDO; PESSÔA, 2011). Em relação à agricultura familiar no Nordeste, esta apresenta uma diversidade de condições agroecológicas e de relações sociais de produção. Dessa forma, determina uma formação de multiplicidade de sistemas agrários e de produção, muitos dos quais em acelerado processo de transformação. Essa região caracteriza-se pela concentração de estabelecimentos familiares em algumas áreas geográficas, pelas unidades produtivas que geram um baixo nível de renda, por ter uma escassa base de recursos naturais, hídrico e fundiário. Segundo EVANGELISTA (2000), o Nordeste é a região brasileira que detém a maior parcela dos estabelecimentos agrícolas familiares do país (49,7%), comparado com as demais regiões. Para muitas famílias no Ceará, o cultivo de arroz, feijão, milho ou mandioca é uma fonte de renda e emprego, onde com o investimento e planejamento em atividades que facilitem esse trabalho, é obtida a partir desse momento, uma inclusão produtiva e social da agricultura familiar, consequentemente aumento da renda, assim é possível evitar o êxodo rural para as cidades. No Estado do Ceará de acordo com os dados da FUNCEME (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos), citado por JACINTO (2014), é possível afirmar que nos anos de 1990, 1992, 1993, 1998, 2001, 2002, 2005 e 2010 o Estado enfrentou imensas dificuldades devido à seca, afetando assim diretamente a produção agrícola, onde nesse sentido, os agricultores possuem na maioria das vezes perspectivas negativas em relação à chuva para os anos seguintes, mas mesmo assim eles arriscam e apostam na plantação com objetivos de bons colhimentos e pequenos prejuízos, sendo dessa forma surpreendido com a estiagem além do esperado, causando assim prejuízo financeiro e consequentemente afetando o bem estar familiar. 2.2 Principais Culturas da Agricultura Familiar No que se refere à produção, o cultivo, entre outros procedimentos necessários, é interessante compreender individualmente cada cultura e sua posição, ou seja, as facilidades e dificuldades encontradas pelos produtores cearenses. O arroz é uma cultura que necessita de muita água para ser produzido, perdendo assim espaço para culturas mais econômicas, que facilmente se adaptam ao clima semiárido. Com o passar do tempo, percebe-se uma redução no seu plantio, podendo ser destacado alguns fatores como: baixo preço de comercialização, elevado custo de produção, ocorrência de secas e até mesmo 115

116 inundação das áreas tradicionais de cultivo em decorrência das cheias dos açudes e lagoas, tudo isso fazendo que os produtores desistam da atividade. O feijão por outro lado é um vegetal que é pouco exigente, ele necessita apenas de solos de fertilidade média e climas que não sejam nem muito quentes ou frios, nem muito chuvosos ou muito secos. Assim, o plantio de feijão é feito com razoável facilidade em quase todas as áreas agrícolas do país. Sendo assim, essa cultura é uma das mais importantes do Brasil e envolve uma grande área da produção cultivada na maior parte por pequenos agricultores. Segundo Távora e Diniz (2006), o Brasil é o maior produtor mundial de feijão, responsável por 16,5% da produção mundial, seguido pela Índia e México, responsáveis respectivamente por 16,4% e 9% da produção. De acordo com o Ministério da Agricultura, nas safras de 2009 para 2010, o Brasil foi o terceiro maior produtor mundial de milho. A maior parte da produção deste é utilizada como ração, partes menores são destinadas ao consumo humano, como também é usada de maneira indireta na composição de outros produtos, ela é ainda uma das culturas mais cultivadas pela agricultura familiar brasileira. No Ceará, é possível encontrar uma vasta expansão do cultivo de milho, segundo DUARTE (2008) a expansão do cultivo de milho se deve ao aumento da demanda por este produto, que foi impulsionada pelo crescimento da produção de aves no Estado e no vizinho Pernambuco. Tratando-se da cultura da mandioca, segundo GROXKO (2012) o Brasil está entre os principais países produtores. Sendo que o fato da substituição do consumo de mandioca pelas rações balanceadas na suinocultura, juntamente com a mudança nos hábitos alimentares como maior demanda pelos produtos do trigo, a competição de culturas mais rentáveis, de menor ciclo e a falta de mão-de-obra, certamente está impactando para a estagnação ou até mesmo redução na produção da mesma em alguns Estados. A mandioca tem concentração maior no Nordeste, apesar de ser cultivada em todos os Estados brasileiros, é nessa região que devido às frequentes secas, a cultura da mandioca apresenta maior resistência se comparada aos plantios do milho e do feijão que são mais exigentes em volume de chuvas. Tem como principais produtores a Bahia, Maranhão e Ceará. 3. Metodologia 3.1 Área de Estudo O trabalho terá como foco o Estado do Ceará e as principais lavouras da agricultura familiar. As culturas selecionadas foram: arroz, feijão, milho e mandioca. A área de estudo compreenderá sete mesorregiões cearenses, segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e 116

117 Estatística (IBGE): Centro-Sul Cearense, Jaguaribe, Metropolitana de Fortaleza, Noroeste Cearense, Norte Cearense, Sertões Cearense e Sul Cearense conforme a figura 1. Figura 1 Estado do Ceará por Mesorregiões Fonte: IPECE (2014). O Ceará tem como principais atividades econômicas: agricultura, pecuária, comércio, indústria, turismo e mineração. Segundo o IPECE (2012) o PIB per capita em 2010, do Ceará foi de R$ 9.217,00, enquanto o do Nordeste foi de R$ 9.561,00 e o do Brasil de R$ ,00. Já se tratando da população, observa-se na tabela 1 que a população urbana é a que mais cresce. Tabela 1- Taxa média geométrica de crescimento anual da população (%) Situação do domicílio 1980/ / /2010 Total 1,7 1,7 1,3 Urbana 3,6 2,8 1,8 Rural -1,1-0,5-0,1 Fonte: IPECE/ Ceará em números Natureza e Fonte de Dados 117

118 Com o propósito de analisar o comportamento da produção das principais culturas da agricultura familiar no Ceará, no período 1990 a 2011, o estudo abordou as seguintes variáveis: área plantada, área colhida e quantidade produzida e produtividade, para o Estado e suas mesorregiões. Os dados foram extraídos da Produção Agrícola Municipal (PAM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O período analisado compreende os anos de 1990 a Em termos de localização geográfica, o estudo compreende o Estado do Ceará e suas sete mesorregiões, onde segundo a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são: Centro- Sul Cearense, Jaguaribe, Metropolitana de Fortaleza, Noroeste Cearense, Norte Cearense, Sertões Cearenses e Sul Cearense. 3.3 Modelo Shift Share O modelo "shift-share" busca explicar a dinâmica da produção agrícola através da decomposição dos fatores no qual são responsáveis pela variação da produção. Segundo Almeida et al (2006), o crescimento das culturas pode ser explicado por dois componentes: o estrutural, ligado à composição setorial das atividades da região, e o diferencial, associado às vantagens locacionais comparativas. Assim, podem-se relacionar três efeitos explicativos na variação da produção: I - efeito área - EA; II - efeito rendimento ou produtividade - ER; III - efeito localização geográfica - EL; O efeito área aponta as mudanças na produção que advém de modificações na área cultivada, mantendo os demais efeitos constantes ao longo do tempo. Assim, um aumento na produção é relacionado à incorporação de novas áreas que implica o uso extensivo do solo. O efeito rendimento mostra a variação na produção gerada da variação da produtividade, mantendo-se os outros efeitos fixos. Afirma Almeida et al (2006) que a variação no rendimento pode refletir mudanças tecnológicas pela adoção de novos insumos, técnicas de produção e melhoria do capital humano. O efeito localização geográfica reflete as alterações na produção produzidas das vantagens locacionais, ou seja, originadas de mudanças na localização das culturas entre regiões, mantendo-se fixos os demais componentes. O sub-índice c indica a cultura estudada e varia de 1 a n, com c assumindo os valores {1, 2, 3, 4}, representando, respectivamente, as culturas de arroz, feijão, milho e mandioca, para o 118

119 Ceará e para cada mesorregião. O subíndice m representa a mesorregião de estudo, variando de 1 a k (com m variando de 1 a 7). O subíndice t define o período de tempo. O período inicial é representado por i e o período final por f. 3.4 Descrição das Variáveis Utilizadas X ct quantidade produzida da c-ésima cultura no estado, no período t; W cmt área total cultivada com a c-ésima cultura, na m-ésima mesorregião, no período t; W ct área total cultivada com a c-ésima cultura no estado, no período t; W mt área total cultivada das culturas, em hectares, na m-ésima mesorregião do estado, no período t; W t área total cultivada com as culturas, em hectares, no estado, no período t; Z cmt rendimento da c-ésima cultura, na m-ésima mesorregião do estado, no período t; U cmt proporção da área total cultivada com a c-ésima cultura na m-ésima mesorregião, na área cultivada da c-ésima cultura no estado (W cmt / W ct ), no período t; P coeficiente que mensura a modificação na área total cultivada das culturas entre o período inicial e final (W f /W i ). 3.5 Descrição do Modelo Matemático Na tentativa de medir efeitos explicativos, foram utilizadas as transformações matemáticas feitas por Almeida et al (2006). A quantidade produzida, no estado, da c-ésima cultura, no período t, pode ser apresentada pela seguinte equação: k X ct = (W cmt Z cmt ) m=1 (1) Com base na equação (1), pode-se determinar a quantidade produzida, no estado, da c-ésima cultura, no período inicial "i". k k X ci = (W cmi Z cmi ) = (U cmi W ci Z cmi ) m=1 m=1 (2) 119

120 As variáveis W cmf e Z cmf são, respectivamente, área cultivada e rendimento da c-ésima cultura na m-ésima mesorregião no período final ( f ), assim, a quantidade produzida da c-ésima cultura no período final (X cf ) pode ser mensurada da seguinte forma: k k X cf = (W cmf Z cmf ) = (U cmf W cf Z cmf ) m=1 m=1 (3) Se, no período considerado, apenas a área total cultivada com a cultura no estado se alterar, a produção final (X cf W ) será: k X cf W = (U cmi W cf Z cmi ) m=1 (4) No entanto, se a área e o rendimento variarem, permanecendo constantes a localização geográfica e a composição da produção, a quantidade produzida no período f (X cf WZ ) será: k X cf WZ = (U cmi W cf Z cmf ) m=1 (5) E se, por último, variarem a localização geográfica, juntamente com a área e com o rendimento, a produção final será descrita por: k X WZG cf = (U cmf W cf Z cmf ) = X cf (6) m=1 Pode-se expressar a mudança total da quantidade produzida da c-ésima cultura do período inicial i para o período final f (X cf X ci ) pela equação: k k X cf X ci = U cmf W cf Z cmf (U cmi W ci Z cmi ) m=1 m=1 (7) Que também pode ser expressa da seguinte forma: X cf X ci = (X cf W X ci ) + (X cf WZ X cf W ) + (X cf X cf WZ ) (8) Onde: (X cf X ci ) variação total da produção da c-ésima cultura entre o período inicial e final; (X W cf X ci ) variação total da quantidade produzida da c-ésima cultura entre o período inicial e final, quando apenas a área cultivada se altera, sendo denominada de efeito área (EA); 120

121 (X WZ cf X W cf ) variação total da produção da c-ésima cultura entre i e f, quando o rendimento varia e as outras variáveis permanecem constantes, sendo chamada de efeito rendimento (ER); (X cf X WZ cf ) variação total da quantidade produzida da c-ésima cultura entre os períodos i e f, devido à mudança da localização geográfica, mantendo constantes as outras variáveis, sendo conhecida por efeito localização geográfica (EL). 4. Resultados e Discussões 4.1. Produção das Quatro Culturas no Ceará As variáveis, área plantada, área colhida e quantidade produzida, são muito importantes na análise da produção de cada cultura, que são: arroz, feijão, milho e mandioca. Deste modo, foi feita uma análise sobre as mesmas, envolvendo o período estudado que compreende os anos de 1990 a No Ceará o milho é a cultura mais plantada no decorrer dos anos, como mostra o gráfico 1, com exceção apenas dos anos 1990, 1991, 1992, 1993, 1994 e 1995, onde segundo os dados da FUNCEME estes anos foram respectivamente de seca, normal, seca, seca, normal e chuvoso. Nesses anos a cultura com maior área plantada foi o feijão. Já o arroz foi a cultura menos plantada na maioria dos anos, pois diferentemente do feijão, esta cultura não pode ser plantada facilmente em qualquer área agrícola, em virtude da elevada necessidade desta cultura por água para ser produzida ficando limitada nas áreas de baixio. Os anos de 1996 e 1997 são aqueles em que a mandioca ocupa sua posição de menor área plantada Arroz Feijão Milho Mandioca Gráfico 1: Área Plantada por cultura no Estado do Ceará no período: Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA. 121

122 Tratando-se da área colhida no estado, o milho continua sendo a cultura que apresenta uma maior área no decorrer dos anos, como mostra o gráfico 2, com exceção apenas dos anos de 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995 e 1998, anos estes que a maior área esteve para o feijão. O arroz continua apresentado uma área menor com exceção dos anos de 1996 e 1997, pois nesses anos foi a mandioca a cultura com menor área colhida Arroz Feijão Milho Mandioca Gráfico 2: Área Colhida por cultura no Estado do Ceará no período: Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA. Conforme o gráfico 3, a mandioca é a cultura com a maior quantidade produzida no decorrer dos anos no Ceará. A explicação é em função da diferença de produtividade. Pois a cultura da mandioca apesar de apresentar baixa produtividade em relação às demais regiões brasileiras, ainda assim é bem superior à produtividade, também baixa, das demais culturas no estado. Com exceção apenas dos anos de 1996 e 2011, anos estes que o milho apresentou a maior quantidade produzida a mandioca apresentou a maior produção Arroz Feijão Milho Mandioca Gráfico 3: Quantidade Produzida por cultura no Estado do Ceará no período: Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA. 122

123 4.2 Efeitos Explicativos na Variação da Produção: Modelo Shift Share Com o modelo shift-share, foi possível obter três efeitos explicativos para análise do comportamento da produção das principais culturas da agricultura familiar no Ceará, os cálculos foram feitos para o Estado e para cada uma das mesorregiões no período analisado. O efeito total é decomposto nos efeitos área, rendimento e localização. Assim consegue-se identificar a parcela de cada um no resultado final. As tabelas de 2 a 5 apresentam em conjunto estes efeitos para o Estado e mesorregiões para cada uma das culturas além de constar a taxa de crescimento do efeito total no período analisado. Observa-se na tabela 2 que tanto para o Estado como para as mesorregiões, todos os efeitos área são negativos, o que implica dizer que a área plantada do arroz em 1990 foi maior que a produção de 2011 em todas as mesorregiões e, por conseguinte no Estado. Já os efeitos rendimento e localização são positivos, mas não suficientes para compensar o efeito área. Desta maneira, tem-se um efeito total negativo para o Estado. O efeito total em taxa foi negativo em 2,17%. Ou seja, em média a área plantada de arroz no Estado declinou nesta magnitude anualmente ao longo do período analisado. Analisando o efeito área por mesorregião observa-se que o maior efeito negativo foi na mesorregião do Centro Sul Cearense e o menor foi na Metropolitana de Fortaleza. Vale salientar que estas são respectivamente as que apresentam a maior e menor área plantada desta cultura no Ceará. Em relação ao efeito rendimento todas as mesorregiões apresentaram efeito positivo. O maior efeito absoluto foi na mesorregião Centro Sul e a menor na Metropolitana de Fortaleza. Analisando o efeito localização observa-se comportamento similar em relação ao efeito rendimento. Isto é, em todas as mesorregiões o efeito foi positivo. Contudo, o maior efeito foi na Mesorregião Sul Cearense e o menor na Metropolitana de Fortaleza. O efeito total para a produção de arroz foi positivo em quatro das mesorregiões indicando que o efeito rendimento e localização compensaram o efeito negativo área. Enquanto em três mesorregiões estes efeitos apesar de positivo não compensaram o efeito área finalizando um efeito total negativo. O maior efeito positivo foi na Mesorregião Noroestes Cearense e o menor no Centro Sul Cearense. 123

124 Em termos relativos o maior efeito total positivo foi na Mesorregião Noroeste que apresentou um crescimento anula de 2,17% enquanto o maior efeito total negativo na produção de arroz foi na Metropolitana de Fortaleza com uma diminuição anual de 9,36%. Tabela 2 - Efeitos explicativos na variação da produção do arroz Unidade da Federação e Mesorregiões Geográficas Efeito Área Efeito Rendimento Efeito Localização Efeito Total Efeito Total (taxa) Ceará , , , ,17-2,17 Noroeste Cearense ,93 163, , ,12 2,17 Norte Cearense ,61 353, ,57 826,95 0,52 Metropolitana de Fortaleza ,85 4,07 247, ,82-9,36 Sertões Cearense ,83 265, ,05 928,52 1,01 Jaguaribe , , ,70 20,70 0,00 Centro-Sul Cearense , , , ,51-4,41 Sul Cearense , , , ,13-3,23 Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados obtidos com os dados do SIDRA/IBGE. Analisando a decomposição do efeito total da produção de feijão nos efeitos área, rendimento e localização para o Ceará observa-se que o efeito área é negativo enquanto o efeito rendimento e localização são positivos e compensam o efeito área. Desta forma, o efeito total é positivo. Em termos relativos observa-se que o efeito total cresce a uma taxa anual de 3,36% no Estado entre 1990 e 2011 conforme a tabela 3. Na mesma tabela tem-se que em todas as mesorregiões o efeito área é negativo. O maior efeito negativo é na Mesorregião dos Sertões Cearense e o menor na Metropolitana de Fortaleza. Por outro lado, o efeito rendimento é positivo em seis das mesorregiões. É negativo, apenas na Metropolitana de Fortaleza. O efeito rendimento positivo é maior na Mesorregião Sertões Cearense. O efeito Localização na produção de feijão é positivo em todas as mesorregiões, com maior e menor magnitude nas Mesorregiões Sertões Cearense e Noroeste Cearense, respectivamente. Apenas na Mesorregião Metropolitana de Fortaleza o efeito total é negativo. Nas demais mesorregiões os efeitos rendimento e localização são positivos e compensa o efeito área negativo. Em termos absolutos o maior efeito total positivo é na Mesorregião Sertões Cearense. Já em termos relativos o maior efeito é no Noroeste Cearense com crescimento anula do efeito total de 5,56%. Já na metropolitana de Fortaleza o efeito total diminuiu anualmente a uma taxa de 0,20%. 124

125 Tabela 3 - Efeitos explicativos na variação da produção do feijão Unidade da Federação e Mesorregiões Geográficas Efeito Área Efeito Rendimento Efeito Localização Efeito Total Efeito Total (taxa) Ceará , , , ,79 3,36 Noroeste Cearense , , , ,80 5,56 Norte Cearense , , , ,29 2,88 Metropolitana de Fortaleza ,21-11, ,01-173,67-0,20 Sertões Cearense , , , ,91 4,17 Jaguaribe , , , ,39 0,93 Centro-Sul Cearense ,34 413, , ,50 0,73 Sul Cearense , , , ,57 3,52 Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados obtidos com os dados do SIDRA/IBGE. Os efeitos explicativos para a cultura do milho pode ser visto na tabela 4. Tem-se um efeito área negativo para o Estado do Ceará. Contudo. Porém, os efeitos positivos do rendimento e da localização contrapõem este efeito e tem-se um efeito total positivo para esta cultura no período analisado. Em termo relativo, verifica-se um efeito total positivo que cresce a uma taxa anual de 7,45% no Ceará. Examinado os efeitos por mesorregião para a cultura do milho observa-se que em todas as mesorregiões há um efeito área negativo. A Mesorregião Sul Cearense foi a que apresentou a menor redução de área. Assim como aconteceu para o Estado como um todo, observa-se que tanto o efeito rendimento como o efeito localização é positivo em todas as mesorregiões. O maior efeito rendimento positivo foi na região Sul Cearense enquanto o maior efeito localização positivo foi na Mesorregião Sertões Cearense. Ressalta-se que o efeito rendimento no Sul Cearense se dá, em parte, pelo programa de plantio direto implantado na região através da EMATERCE. Em termos absolutos todas as mesorregiões apresentaram efeito total positivo com destaque para a Mesorregião Sertões Cearense. Já em termos relativos, também quem apresentou a maior taxa de crescimento anual do efeito total foi a Mesorregião Sertões Cearense com a taxa de 9,14%. Tabela 4 - Efeitos explicativos na variação da produção do milho Unidade da Federação e Mesorregiões Geográficas Efeito Área Efeito Rendimento Efeito Localização Efeito Total Efeito Total (taxa) Ceará , , , ,36 7,45 Noroeste Cearense , , , ,53 7,26 Norte Cearense , , , ,64 5,48 Metropolitana de Fortaleza ,54 64, , ,73 7,06 Sertões Cearense , , , ,87 9,14 Jaguaribe , , , ,10 5,79 Centro-Sul Cearense , , , ,12 6,42 Sul Cearense , , , ,36 7,41 Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados obtidos com os dados do SIDRA/IBGE. 125

126 A tabela 5 traz a decomposição da variação total da produção de mandioca nos efeitos área, rendimento e localização assim como o efeito total em termos relativos para o Estado do Ceará e as Mesorregiões. Observa-se que há um efeito área negativo para o Estado seguido de um efeito rendimento e localização positivo. Contudo estes efeitos em conjunto não contrapõem o efeito área negativo o que resulta em um efeito total negativo para o Estado na cultura da mandioca. A taxa de crescimento anual do efeito total para a cultura da mandioca no Ceará no período 1991 a 2011 é de - 0,91%. Analisando o efeito área para esta cultura nas mesorregiões do Estado do Ceará, observa-se que este efeito é negativo em todas elas e com maior magnitude no Norte Cearense. Já o efeito rendimento é positivo em cinco das mesorregiões e negativo em duas. O maior efeito rendimento positivo é ocorreu no Norte Cearense e o maio efeito negativo ocorreu no Sul Cearense. O efeito localização, por sua vez apresentou-se positivo em todas as mesorregiões do estado. Porém o seu maior efeito positivo foi registrado no Noroeste Cearense. O efeito total na produção da mandioca foi positivo apenas no Noroeste Cearense. Em todas as outras seis mesorregiões o efeito total foi negativo. O maior impacto negativo no efeito total ocorreu no Sul Cearense. Já em termos relativos, na única mesorregião que apresentou efeito total positivo, este efeito cresceu anualmente a uma taxa de apenas 0,03%. Já o destaque em termos relativos no efeito total da produção de mandioca foi O Centro Sul Cearense onde a produção de mandioca declinou a uma taxa anual de 15,67%. Tabela 5 - Efeitos explicativos na variação da produção da mandioca Unidade da Federação e Mesorregiões Geográficas Efeito Área Efeito Rendimento Efeito Localização Efeito Total Efeito Total (taxa) Ceará , , , ,60-0,97 Noroeste Cearense , , , ,93 0,03 Norte Cearense , , , ,54-0,70 Metropolitana de Fortaleza , , , ,08-0,10 Sertões Cearense ,45 140, , ,26-6,19 Jaguaribe ,05 507, , ,13-3,94 Centro-Sul Cearense ,89-1,15 403, ,71-15,67 Sul Cearense ,31-76, , ,81-1,18 Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados obtidos com os dados do SIDRA/IBGE. 126

127 5. Considerações Finais A Agricultura Familiar tem um papel de destaque no desenvolvimento rural de qualquer economia, pois o seu fortalecimento é capaz de fixar o homem no campo contribuindo para a diminuição do êxodo rural e com ele problemas causados como o crescimento desordenado das cidades. No Nordeste, e especificamente no Ceará, os sistemas baseados na produção de subsistência é utilizado entre os agricultores familiares mais pobres, tendo a característica de produzir alguma renda externa, contando também com uma pequena produção para o autoconsumo. Este trabalho examinou a produção de arroz, feijão milho e mandioca que são as principais culturas da agricultura familiar do Estado do Ceará no período de 1991 a Observou-se que a cultura do milho destacou-se por apresentar a maior área plantada. Um programa da EMATERCE em conjunto com a associação dos criadores de Aves do Estado contribuiu, em parte para este desempenho. Por outro lado, a cultura do arroz foi a que apresentou a menor área plantada nesse período. A cultura da mandioca foi a que apresentou a maior produção, o que é explicado por apresentar o maior rendimento entre as culturas analisadas. Em um segundo momento foi feita a decomposição do efeito total da produção de cada uma das culturas nos efeitos área, rendimento e localização assim como o efeito total relativo, ou seja, teremos a taxa de crescimento tanto para o Estado do Ceará como para as mesorregiões do Estado utilizando a metodologia do shift share. Em geral tem-se um efeito área negativo para todas as culturas e praticamente em todas as mesorregiões do Estado. Contudo, tem-se em geral um efeito rendimento e localização positivo nas culturas em quase todas as mesorregiões. Em algumas mesorregiões a soma destes efeitos positivos contrapõe o efeito área negativo e tem-se um efeito total positivo. Para o Ceará, o efeito total positivo ocorreu para as culturas do milho e feijão, o negativo para as culturas do arroz e da mandioca. Desta forma foi possível identificar de forma mais detalhada o que vem ocorrendo com a produção das principais culturas da agricultura familiar no Estado do Ceará o que pode contribuir para adoção de políticas agrícolas mais direcionadas para este setor de grande importância do ponto de vista social na economia cearense. Extensão deste trabalho se dará no sentido de identificar os determinantes dos efeitos explicativos em cada uma das sete mesorregiões do Estado. 127

128 Referências ALMEIDA, Paulo Nazareno A. et al. Componentes do Crescimento das Principais Culturas Permanentes do Estado da Bahia. Anais do II Encontro de Economia Baiana. Salvador, Setembro de Disponível em: < Acesso em: 30 mar AZEVEDO, F. F.; PESSÔA, V. L. S. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar no Brasil: UMA ANÁLISE SOBRE A SITUAÇÃO REGIONAL E SETORIAL DOS RECURSOS. Soc. & Nat., Uberlândia, ano 23 n. 3, , set/dez Disponível em: < Acesso em: 10 jan DUARTE, J. O. Cultivo do Milho: Mercado e comercialização. Embrapa Milho e Sorgo, Sistemas de Produção, 2, ISSN X, Versão Eletrônica, 4 ª ed. Set Disponível em: < tm>. Acesso em: 30 mar EVANGELISTA, F. R. A agricultura familiar no Brasil e no Nordeste. Banco do Nordeste do Brasil, p. 7, 29 dez Disponível em: < %20Brasil%20e%20no%20Nordeste.PDF>. Acesso em: 31 dez GROXKO, M. Mandiocultura: Análise da Conjuntura Agropecuária. Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Departamento de Economia Rural, Out Disponível em: < Acesso em: 30 mar INSTITUTO de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), Ceará em números 2011, Fortaleza, p.63, Disponível em: < _2011.pdf>. Acesso em: 31 mar INSTITUTO de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), Informe, n 49: A Evolução do PIB dos Municípios Cearenses no Período dezembro de Disponível Em: < Acesso em: 18 jun JACINTO, L. V. Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos - FUNCEME, dados via em: 11 de fev JÚNIOR, A. D. Agricultura Familiar Ganha Mesa do Cearense. Diário do Nordeste, Fortaleza, 01. Maio Disponível Em: < Acesso em: 10 mar LIMA, O. C.; SILVA, W. S. Agricultura Familiar: análise a partir da fundamentação de autores a cerca do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAF. Disponível 128

129 em: < %20Enviar.pdf> Acesso em: 10 jan MINISTÉRIO da Agricultura. Culturas: Milho. [S.I.:s.n.] Disponível em: < Acesso em: 30 mar MONTES, C. L. A Multifuncionalidade da Agricultura Familiar. Proposta N 87. Dezembro de Disponível em: < Acessado em: 23 de Março de MOREIRA, José César Pontes; MERA, Ruben Dario Mayorga; MAYORGA, Maria Irles de Oliveira. Análise Revisional de Estudos do Cultivo da Mamona na Região dos Inhamuns, no Estado do Ceará. XLVI Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural - SOBER. Rio Branco Acre, 20 a 23 de julho de Disponível em: < >. Acessado em: 17 de Março de RIBEIRO, Elisa de Castro Marques e SILVA, Mª Michelina da Costa. Um Retrato do Semiárido Cearense. IPECE. Texto para discussão nº 74. Fortaleza CE, Janeiro de Disponível em: < uploads/2010>. Acessado em: 4 de Março de Sistema IBGE de Recuperação Automática SIDRA, Tabela Disponível em: < Acesso em set/dez SOUSA, M. C.; KHAN, A. S.; PASSOS, A. T. B. Qualidade de vida da agricultura familiar em assentamentos de reforma agrária no Rio Grande do Norte. SOBER, Disponível em: < Acesso: 31 dez TÁVORA, F. J. A. F.; DINIZ, B. L. M. CULTURA DO FEIJÃO COMUM (Phaseolus vulgaris L.), Universidade Federal Do Ceará, Fortaleza-CE, Julho de Disponível em: < Acesso: 16 mar VASCONCELOS, K. S. L.; FERREIRA, M. O. Especialização produtiva e mudança estrutural na agricultura Nordestina: Análise para as lavouras temporárias e permanentes ( ). VII SOBER Nordeste, Parnaíba-PI, Disponível em: < > Acesso: 08 jan

130 ÁREA TEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS COMPARAÇÃO DOS EFEITOS DISTRIBUTIVOS DO SALÁRIO MÍNIMO NO MERCADO DE TRABALHO BAIANO E CEARENSE JOYCIANE COELHO VASCONCELOS (Mestre em Economia Rural. Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará UFC. Fone: (88) joyciane.c.v@gmail.com) JAIR ANDRADE ARAUJO (Doutor em Economia. Professor do Programa de Pós-graduação em Economia Rural (MAER) da Universidade Federal do Ceará UFC. Fone: (85) jaraujoce@gmail.com) JANAILDO SOARES DE SOUSA (Especialista em Políticas Públicas Sociais e de Habitação UNIARA. Economista. Mestrando em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará UFC. Fone: (85) janaildo18@hotmail.com) ANDRÉA FERREIRA DA SILVA (Economista. Mestre em Economia Rural. Doutoranda em Economia pela Universidade Federal da Paraíba- UFPB. Fone: (85) andrea.economia@yahoo.com.br.) 130

131 COMPARAÇÃO DOS EFEITOS DISTRIBUTIVOS DO SALÁRIO MÍNIMO NO MERCADO DE TRABALHO BAIANO E CEARENSE RESUMO: Este artigo investiga a contribuição do salário mínimo (SM) para o processo de desconcentração dos rendimentos do mercado de trabalho dos Estados da Bahia e do Ceará no período Os microdados utilizados são oriundos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Utilizou-se a metodologia de simulação proposta em DiNardo, Fortin e Lemieux (1996) a partir da estimativa de funções densidade Kernel contrafactuais. As simulações foram realizadas para pessoas do gênero feminino e masculino. Os resultados revelaram por meio das decomposições que o salário mínimo, o grau de formalização e os atributos pessoais tiveram impactos desconcentradores para trabalhadores do gênero feminino e masculino para os Estados do Ceará e da Bahia. Todavia, para as mulheres, o efeito desconcentrador do salário mínimo é mais intenso na amostra em relação aos homens no Estado da Bahia. Em síntese, as simulações apontam a importância do salário mínimo para a redução da dispersão dos rendimentos do trabalho no período recente. Palavras-chaves: Concentração dos rendimentos. Salário mínimo. Mercado de trabalho. ABSTRACT: This paper investigates the contribution of the minimum wage (MW) for the devolution of income from the labor market of the state of Bahia in the period The micro data used are from the National Sample Survey (PNAD) of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE). Used the simulation methodology proposed in DiNardo, Fortin and Lemieux (1996) from the estimated counterfactual Kernel density functions. The simulations were performed for people females and males. The results revealed by the decompositions than the minimum wage, the degree of formalization and the personal attributes had impacts not concentrators to workers female and male to the states of Ceará and of Bahia. However, for women, the de-concentrating effect of the minimum wage is more intense in the sample compared to men in state of Bahia. In summary, the simulations indicate the importance of the minimum wage to reduce the dispersion of labor income in recent years. Keywords: Concentration of income. Minimum wage. Labor market. 131

132 1. Introdução Os Estados do Ceará e da Bahia possuem elevada desigualdade socioeconômica, pois a má distribuição de renda é um dos problemas da economia. Embora continue ocupando um patamar alto, a concentração de renda apresenta, nos últimos anos, uma trajetória de queda para ambos os Estados. Oliveira (2010) destaca que existem diversos determinantes para esta queda na desigualdade, no entanto, destaca-se a contribuição da parcela do rendimento proveniente do trabalho. Segundo Pinho Neto e Miro (2011), sendo localizado na Região Nordeste, reconhecidamente a mais pobre e desigual do Brasil, o Estado do Ceará apresenta uma elevada proporção de pobres e um grau de concentração de renda relativamente elevado. A análise da evolução da desigualdade de rendimentos do trabalho é um elemento fundamental para se entender as mudanças na desigualdade de renda como um todo. Já que grande parcela da redução da desigualdade, nos anos recentes, deve-se a mudanças nos próprios rendimentos do mercado de trabalho, cabe compreender os determinantes desta parcela da renda. Nota-se, que há uma valorização do salário mínimo (SM) nos últimos anos no Brasil. À guisa de ilustração, quando se compara o valor real do SM do ano de 2002 e o de 2012, observa-se um aumento de 66% (DIEESE,2014). Dado que o salário real é um dos principais determinantes dos níveis de emprego, bem como um dos indicadores de distribuição de renda do país. Assim sendo, surge-se a necessidade de analisar o impacto que esta evolução do SM real teve sobre a desigualdade de renda nos Estados do Ceará e da Bahia. A análise deste artigo será para pessoas do gênero masculino e feminino, pois se observa na literatura que existe discriminação de sexo onde os homens são melhores remunerados que as mulheres. Este artigo se diferencia da literatura, pois se compara, no entanto, qual é o efeito da elevação do salário mínimo real sobre os rendimentos das diferentes categorias de empregados para os Estados. Isto posto, este trabalho tem como objetivo investigar a contribuição do salário mínimo para o processo de desconcentração dos rendimentos do trabalho no intervalo de 2002 a A amostra estudada contempla todos os trabalhadores que recebem renda com valor positivo e com idade maior do que 15 anos e menor do que 60 anos, dummies de gênero e raça como fatores de discriminação, sindicato, formal, ocupação e setor de atividade. 132

133 Como procedimento delineado, constrói-se a chamada distribuição contrafactual, a qual pode ser confrontada com a distribuição original dos salários da população. As variáveis causais consideradas neste artigo foram salário mínimo (SM), o grau de formalidade e os atributos pessoais. Pelo exercício contrafactual busca-se saber qual seria a contribuição das variáveis causais na distribuição de renda dos empregados. Para tanto, utiliza-se a abordagem não paramétrica tal qual apresentada por DiNardo, Fortin e Lemieux (1996) que mensura, por meio da função densidade, o fator que influencia no comportamento dos salários e os efeitos que ele incide sobre os mesmos. Além da introdução, o presente trabalho está organizado da seguinte forma: a seção dois mostra alguns fatos estilizados. A terceira faz uma revisão da literatura em termos de arcabouços teóricos e empíricos. A quarta é apresentada a metodologia de DiNardo, Fortin e Lemieux (1996). A quinta seção faz uma descrição da base de dados. A sexta seção apresenta os resultados e as discussões. E por último, são tecidas as considerações finais. 2. Fatos Estilizados A discussão acerca da desigualdade de renda vem se apresentando como tema recorrente tanto no meio acadêmico quanto nas distintas esferas de governo. Reduções no grau de desigualdade de renda são metas perseguidas por determinadas políticas públicas que promovem a igualdade entre os indivíduos, além de diminuir a pobreza e principalmente, a extrema pobreza. Trabalhos como de Hoffmann (2009), Barros et all. (2010), ressaltam uma convergência decrescente nos indicadores da desigualdade de renda no Brasil no período de 2001 a Entretanto, nota que esse declínio não segue homogêneo entre as regiões brasileiras. A gráfico 1, a seguir, mostra a evolução do salário mínimo real durante o período de 2002 a 2012, nota-se que o mesmo passou por um processo de recuperação de seu valor real perdido ao longo das décadas anteriores, pode-se ver que seus valores foram de 200,00 e 305,69 para os anos 2002 e 2012, respectivamente. Logo, ocorreu uma valorização 52,8% no salário real que é um dos principais determinantes dos níveis de emprego. Para Dedecca (2006), a política de valorização do salário mínimo real, além de ter contribuído com a queda recente da desigualdade, tende a ter efeitos cumulativos sobre os níveis de renda. Significa dizer que a elevação do seu valor real tem grande potencial enquanto política de combate à desigualdade. 133

134 Gráfico 1- Evolução do Salário Mínimo Real: R$320,00 R$300,00 R$280,00 R$260,00 R$240,00 R$220,00 R$200,00 R$180,00 R$160, Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da IPEA/ ano base 2002-IPCA. Seguindo a tendência da economia brasileira, no mesmo período, na tabela 1, os Estados do Nordeste também apresentaram uma diminuição na desigualdade de renda, com exceção para o Maranhão. O Ceará apresentou uma queda na desigualdade de 0.61 para 0.52 no período analisado, o que representou um decréscimo de pontos, ou seja, uma redução de 14.7%. Já o Estado Bahia apresentou uma queda na desigualdade de 0.59 para 0.54 no período analisado, o que representou um decréscimo apenas de pontos, ou seja, uma redução de 8.8%. Tabela 01 Índice de Gini para os Estados da Região Nordeste do Brasil: Ano Brasil Maranhão Piauí Ceará RGN Paraíba Pernambuco Alagoas Bahia Sergipe Diferença ( ) Fonte: Elaboração dos autores a partir dos dados da PNAD. Nota: A PNAD não foi realizada no ano

135 Note que com as informações na Tabela 1, nem todos os Estados sofreram uma queda ininterrupta na desigualdade de renda medida pelo Gini no período estudado. Os Estados Alagoas, Pernambuco e Ceará, nessa ordem, apresentaram as maiores reduções de desigualdade. Em linhas gerais, quando se analisa a variação da desigualdade no período, nota-se que o único Estado que, desde 2001, apresentou um aumento na desigualdade foi o Maranhão, com 7.1%. A simultaneidade dessa redução sugere que o aumento do salário mínimo teria contribuído para a redução das desigualdades de rendimento. Desta forma dado que a desigualdade de renda existente entre as regiões brasileiras é um problema recorrente. Constitui-se importante campo de pesquisa o entendimento dos efeitos do salário mínimo sobre os diferentes setores da economia e as diversas categorias de empregados. 3. Revisão da Literatura 3.1 Os impactos distributivos do salário mínimo No Brasil, o debate sobre os efeitos do mínimo sobre a desigualdade ganhou eficácia com o artigo de Macedo e Garcia (1978), no qual os autores contestaram a importância do salário mínimo na determinação dos salários dos trabalhadores não qualificados. Tal artigo desencadeou uma série de trabalhos que investigavam a importância do mínimo sobre a distribuição de salários. Hoffmann (1998) investigou a influência do salário mínimo sobre a pobreza e a desigualdade no Brasil, entre os anos de 1979 e Ajustando equações para captar o efeito do salário mínimo, o autor encontrou que aumentos no salário mínimo contribuem para reduzir a desigualdade.. Fajnzylber (2001) por sua vez, utilizou dummies para cada faixa de salários em suas regressões a fim de captar esses efeitos diferenciados e investiga os efeitos do SM sobre os rendimentos e o emprego dos trabalhadores, por meio dos dados longitudinais da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE no período de 1982 a O autor utilizou a metodologia desenvolvida por Neumark, Schweitzer e Wascher (2000) e estimou a variação percentual dos ganhos de um indivíduo como função da variação percentual do salário mínimo e da variação percentual do salário mínimo defasado em um ano, além de alguns controles. Os resultados revelaram efeitos significativos do SM sobre os rendimentos individuais em toda a distribuição de renda dos trabalhadores formais e informais. As elasticidades obtidas são próximas de um para aqueles com remuneração próxima do mínimo e caem à medida em que os rendimentos ficam 135

136 maiores. Esses efeitos tendem a serem maiores no curto prazo, para homens, para chefes de famílias e valem tanto para os trabalhadores do setor formal como para os do setor informal. Na mesma perspectiva, Firpo e Reis (2006) analisaram o papel do aumento do salário mínimo (SM) na redução da desigualdade dos rendimentos do trabalho principal de 2001 a Obtém a contribuição do salário mínimo para a desigualdade pela diferença entre o indicador de desigualdade medido por meio da distribuição ressalvada e o indicador calculado via distribuição contrafactual dos rendimentos. Os resultados identificam que o salário mínimo teria contribuído como 36% da redução do índice de Gini no período de 2001 a Já, Neder e Ribeiro (2010) investigaram a contribuição do salário mínimo para o procedimento de desconcentração dos rendimentos do trabalho no intervalo de 2002 a 2008, utilizaram a metodologia proposta em DiNardo, Fortin e Lemieux (1996), com alguns ajustamentos. As variáveis causais consideradas no estudo foram o SM, o grau de formalidade e os atributos pessoais. Os efeitos das simulações para trabalhadores do gênero feminino e masculino assinalaram que o salário mínimo teve impacto equalizador em ambos os casos, contudo o impacto referente às mulheres é mais acentuado. 3.2 Desigualdade de renda e características individuais Na economia, a discriminação é definida como tratamento desigual de iguais baseados em critérios irrelevantes para a atividade envolvida. Entre os diversos tipos de discriminação econômica a discriminação no mercado de trabalho é destaque na literatura. De fato, rendimentos desiguais podem ser reflexos de discriminação tanto incluso quanto fora do mercado de trabalho, no que tange as condições de acesso à educação e a outros recursos. De acordo com Lam (1999), no Brasil, os negros, que têm pais menos educados, permanecem com um baixo nível educacional em virtude da forte correlação entre níveis educacionais dos pais e dos filhos. Logo é refletido no mercado de trabalho na forma de rendimentos inferiores para os negros. Segundo Ramos e Vieira (2000) disparidades salariais, podem ser geradas por quatro grupos de fatores: forma de ressarcimento por postos de trabalho que tem diferenças como risco de acidente, insalubridade, mas ocupados por trabalhadores com idêntico potencial produtivo; heterogeneidade de trabalhadores como educação e experiência; segmentação no mercado entre trabalhadores igualmente produtivos sem base em critérios tangíveis, como posição geográfica; atributos não produtivos, discriminatórios, como raça e gênero. 136

137 Já Cambota (2005) analisou a discriminação salarial por raça e gênero dentro das densidades das distribuições de rendimento dos setores de atividade, comparando as regiões Nordeste e Sudeste. A autora utilizou os dados da PNAD 2002 e uma metodologia semi-paramétrica e outra paramétrica. Concluiu que existe discriminação contra mulheres e negros no mercado de trabalho nas regiões, e que esta é maior contra mulheres. Como destaca Cacciamali e Hirata (2005), a discriminação existe quando pessoas com atributos iguais, exceto pela sua raça e gênero, são remuneradas de forma diferente, tendo em vista apenas estes atributos não produtivos. Se não houvesse discriminação, pessoas com as mesmas características produtivos, independente de raça ou gênero, teriam salários similares. Recentemente, Souza et al. (2013) analisaram para o Brasil e regiões, a partir dos dados das PNADs de 2001 e 2011 quanto da desigualdade de renda entre os grupos de raça e gênero é explanada pela discriminação e quanto pela diferença de habilidades dos trabalhadores. Utilizaram a decomposição de Oaxaca-Blinder (1973) e de Machado e Mata (2005) que leva em consideração o resultado por quantil, a partir de regressões quantílicas. Concluíram que a discriminação é o que explica a diferença salarial entre gêneros; diferenças de atributos produtivas é a principal causa da diferença salarial entre as raças; há diferentes padrões regionais e por quantis da discriminação. Bourguignon et al. (2002) por meio de uma extensão de Oaxaca- Blinder (1973) analisam as diferenças entre a distribuições de renda do Brasil, EUA e México, essa metodologia consiste na simulação de distribuições contrafactuais construídas a partir da substituição dos valores originais dos parâmetros da distribuição outro país. Mede o efeito na distribuição de renda de um país caso alguma atributo dos indivíduos, identificada por um parâmetro da distribuição de renda, seja igualada a de outro país. Concluem que a desigualdade de dotação de capital humano e transferências explicam cerca de 2/3 da diferença de desigualdade entre o Brasil e o EUA. 4. Metodologia 4.1 Estimador Kernel As funções de densidade Kernel com ponderação, em especial o método intitulado Adaptive kernel density estimation 9, e o comando denominado akdensity foram utilizados nas estimativas em nosso estudo. Esse método propicia melhores resultados para distribuições multimodais com bandwidth variável. A função de densidade Kernel é expressa por meio da seguinte equação: 9 Ver Kerm (2003) e Jann (2007). 137

138 n f (x) = 1 nh K ( x Xi h ) (1) i=1 Sendo que: K(.): é uma função simétrica chamada Kernel, satisfazendo as seguintes propriedades: K(t)dt = 1, tk(t)dt = 0 e t 2 K(t)dt = k 0. Quando K(.) for uma função não negativa ela será uma função densidade de probabilidade, o que implica que f (x) será também uma função densidade de probabilidade; h: é a largura dos intervalos de classes também conhecida como parâmetro de suavização. No caso das funções de densidade Kernel estimadas para os anos de 2002 e 2012, utilizou-se os pesos da PNAD, porém normalizados para assegurar que o somatório dos pesos fosse igual a um. Em relação às funções de densidade contrafactuais, os pesos são obtidos por meio do produto dos pesos de amostragem da PNAD e os pesos obtidos pela metodologia de reponderação. Mais uma vez, esse produto foi normalizado para assegurar que o somatório dos pesos fosse igual a um. Os valores das funções de densidade Kernel foram estimados em 1000 pontos da variável x, que corresponde ao logaritmo natural do rendimento mensal do trabalho principal. No presente trabalho, acompanhando as sugestões de DiNardo, Fortin e Lemieux (1996) e Butcher e DiNardo (1998), adota-se o núcleo gaussiano e trabalha-se com o logaritmo da renda do trabalho para reduzir o problema de assimetria. A estimação de densidades contrafactuais é realizada conforme proposto por DiNardo, Fortin e Lemieux (1996), onde se escolhe funções de reponderação da amostra. Pode-se considerar que cada observação da amostra é um vetor (w,z), onde w representa os salários (uma variável contínua) e z, os atributos de cada indivíduo. A densidade de salários em um ponto do tempo ft (w) pode ser escrita como a integral da densidade de salários condicionada a um conjunto de atributos individuais e ao tempo tw, sendo expressa como f(w z,tw;mt), sobre a distribuição de atributos individuais F(z tz) na data tz: Em que : f ( w) df( w, z t t; m ) f ( w z, t t; m ) df( z t t) t w, z t w t z z z z z f ( w; t t, t t, m ) w z t z é o domínio de definição dos atributos individuais. Conforme DiNardo, Fortin e Lemieux (1996), para a estimação das funções de densidade contrafactuais, é necessária a combinação de diferentes períodos do tempo. A última linha da equação (2) tem como finalidade completar essas condições ao introduzir a notação que leva em (2) 138

139 f ( w; t 2002, 2002, conta essa combinação. Por exemplo, w tz m2002) é a função densidade efetiva de salários em 2002; f(w, t w = 2002, t z = 2012, m 2002) é a função densidade (contrafactual) que prevaleceria em 2002 se a distribuição dos atributos individuais fosse a mesma de No intuito de estimar a função de densidade contrafactual anterior, considera-se a hipótese f ( w; z, t 2002, de que a estrutura de salários de 2002 (representada por w m2002) ) não depende da distribuição de atributos. Nesse caso, a densidade hipotética f(w, t w = 2002, t z = 2012, m 2002) é: f(w, t w = 2002, t z = 2012, m 2002 ) = f(w z, t w = 2002, m 2002 )df(z t z = 2012) = f(w z, t w = 2002, m 2002 )ψ z (z)df(z t z = 2002) A equação (3) define a densidade de renda do trabalho de 2002, que prevaleceria se as condições fossem similares às de 2012 e, conforme pode ser observado, é idêntica à definição em (2), exceto pela função de reponderação. Na verdade, o problema de estimação da função de densidade contrafactual desejada fica reduzido ao cálculo de ponderações apropriadas. Logo, estima-se as funções de densidade contrafactuais usando o método de estimadores de núcleo ponderados, onde usa-se um novo ponderador que contém uma estimativa para ψ z. Sendo que ψ z é uma função de reponderação definida por: ψ z (z) = df(z t z = 2012)/dF(z t z = 2002) e f (w; t w = 2002, t z = 2012, m 2002 ) = Σ iϵs2002 θ i h ψ z(z i )K( w W i h ) (5) O termo h é o parâmetro que regula o grau de suavidade de uma densidade Kernel. Esse parâmetro é denominado de janela ou bandwidth. 4.2 Efeitos das mudanças no grau de formalidade do mercado de trabalho e outros atributos Os atributos individuais z consiste do status de formalização da ocupação u (representado por uma variável dummy) e um vetor x de atributos que inclui experiência 10, escolaridade, raça, formal, região e área censitária. Em uma linguagem algébrica, a distribuição dos atributos F(z tz=t) é igual ao produto de F(u x,tu x=t) e F(x tx=t). A função densidade dos salários em 2002 é definida a partir da equação (2). Ou seja, essa equação corresponde a: 10 A variável experiência corresponde à diferença entre a idade do trabalhador e a idade em que esse trabalhador começou a trabalhar. (3) (4) (6) 139

140 f ( w; t 2002, t 2002, t 2002, m ) w u x x 2002 f ( w u, x, t 2002; m ) df( u x, t 2002) df( x t 2002) w 2002 u x x O primeiro passo na estimação da função densidade hipotética corresponde à construção da função densidade de salários que teria prevalecido em 2002 se os graus de formalidade e informalidade, mas não os outros atributos, tivessem o mesmo nível de A partir desse objetivo, introduz-se uma hipótese adicional em que a função densidade condicional f ( w u, x, tw; mt) não depende do grau de formalidade e informalidade. Assim, calcula-se a função densidade que prevaleceria em 2002 se os graus de formalidade e informalidade fossem os mesmos registrados no ano de 2012, embora os demais atributos permanecessem nos níveis de Essa função é na verdade uma versão re-ponderada da função densidade de 2002: f(w, t w = 2002, t u/x = 2012, t x = 2002, m 2002 ) f(w u, x, t w = 2002, m 2002 )df(u x, t u/x = 2012) df(x t x = 2002) f(w u, x, t w = 2002, m 2002 )ψ z (u, x)df(x t u/x = 2002) df(x t x = 2002) (7) ux (, ) O termo ux é uma função re-ponderada e definida como: ψ u/x (u, x) = df(u x, t x = 2012)/dF(u x, t x = 2002) = u. Pr(u = 1 x, t u x = 2012) Pr(u = 1 x, t u x = 2002) + [1 u] Pr(u = 0 x, t u x = 2012) Pr(u = 0 x, t u x = 2002) A última parte da equação (8) é obtida e considera que o status de formalidade u toma somente os valores de zero (setor informal) e 1 (setor formal), e portanto, df( u x, tu x) u Pr( u 1 x, tu x) [1 u]pr( u 0 x, tu x). Para levar em consideração a influência dos demais atributos (vetor x), considera-se a densidade de salários que teria prevalecido em 2002 se a distribuição de u e x fossem as mesmas de 2012: f(w, t w = 2002, t u/x = 2012, t x = 2012, m 2002 ) (8) f(w u, x, t w = 2002, m 2002 )df(u x, t u/x = 2012) df(x t x = 2012) (09) 11 O texto de DiNardo et al. (1996) investigou o impacto da variável sindicalização sobre os indicadores de desigualdade, porém no mercado de trabalho Brasileiro os ganhos auferidos na negociação coletiva são repassados para todos os trabalhadores, independente da sindicalização. Diante disso, optou-se por substituir essa variável pelo grau de formalidade ou informalidade do mercado de trabalho, na medida em que esses mercados têm determinantes dos rendimentos distintos. 140

141 f(w u, x, t w = 2002, m 2002 )ψ z (u, x)df(x t u/x = 2002) df(x t x = 2002) Em que ψ x (x) = df(x t x = 2012)/dF(x t x = 2002). Aplicando a regra de Bayes, esta relação pode ser escrita como: ψ x (x) = Pr(t x = 2012 x) Pr(t x = 2002 x). Pr(t x = 2002) Pr(t x = 2012) (10) 4.3 Efeitos das mudanças no SM Para construir a função densidade contrafactual em 2002, sob a hipótese de vigência do SM em seu nível mais elevado de 2012, seleciona-se parte da função de densidade de 2002 acima do SM de 2012 e parte da função densidade de 2012 que corresponde ao valor exato do SM em 2012, bem como os valores inferiores a esse valor. Outro procedimento adotado é que se pré-multiplique a função densidade de 2012 por uma função de reponderação ψ w (z, m 2012 ) para assegurar que a integral definida total da função obtida seja igual a 1. Em linguagem algébrica, essas operações correspondem à equação abaixo: Em que: f(w z, t w = 2002, m 2012 ) = I (w m 2012 )ψ z (z, m 2012 )f(w t w = 2012, m 2012 ) + [1 I(w m 2012 )]f(w z, t w = 2002, m 2002 ) ψ z (z, m 2012 ) = Pr(w m 2012 z, t w = 2002) Pr(w m 2012 z, t w = 2008) (12) Para obter o efeito do SM sobre a distribuição total de salários em 2002, integra-se a densidade condicional na equação (13) sobre a densidade de atributos: f(w; t w = 2002; t z = 2002; m 2012 ) = (w z, t w = 2002, m 2012 )df(z t z = 2002) = (11) I (w m 2012 )ψ w (z, m 2012 )f(w t w = 2012, m 2012 ) df(z t z = 2002) + (13) [1 I(w m 2012 )]f(w z, t w = 2002, m 2002 )df(z t z = 2002) I (w m 2012 )ψ w (z, m 2012 )f(w t w = 2012, m 2012 ) ψ z (z) 1 df(z t z = 2012) + [1 I(w m 2012 )]f(w z, t w = 2002, m 2002 )df(z t z = 2002) O termo ψ w (z, m 2012 ) é definido na equação (14) e o termo ψ z (z) 1 segue definido abaixo: ψ z (z) 1 = Pr (t w = 2002 z, w m 2012 ) Pr (t w = 2012 z, w m 2012 ). Pr (t w = 2012) Pr (t w = 2002) (14) 141

142 5. Resultados e discussão Os dados utilizados nesse trabalho foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho faz uma análise dos determinantes dos rendimentos entre os empregados do gênero feminino e masculino para os Estados do Ceará e da Bahia. As estimativas serão geradas a partir dos períodos, 2002 e Abaixo segue o quadro completo das variáveis analisadas. Quadro 01 Descrição das Variáveis para os Estados VARIÁVEL DESCRIÇÃO Variável do rendimento mensal do trabalho principal para pessoas de 10 anos ou mais. Renda do trabalho Número de horas trabalhadas por semana nesse trabalho. Em seguida denomina-se variável principal remuhorar representa remuneração por hora. Variável binária que assume valor unitário quando o ano for 2002 e valor nulo se o ano for Ano Assume valores de 0 a 15. O valor nulo mostra que o indivíduo não completou o primeiro ano de escolaridade. Os valores de 1 a 14 mostram o número de anos de educação Educação completos do indivíduo. O valor 15 significa que o indivíduo possui 15 ou mais anos de escolaridade. Variável binária que representa a filiação do trabalhador a alguma entidade sindical; assume Formal valor unitário quando o trabalhador é sindicalizado e valor nulo em caso contrário Gênero Variável binária que assume valor unitário para mulheres e nulo para homens. Exp Experiência potencial (Idade anos de estudo). Exp2 Experiência potencial ao quadrado. Variável binária que toma valor unitário para trabalhadores de raça branca e valor nulo em Raça caso contrário. Varia de 18 a 59 de acordo com os anos completos de idade do indivíduo. Para mostrar que Idade o logaritmo natural dos salários não varia linearmente à idade, a variável idade2 também é utilizada. Variável binária que representa a filiação do trabalhador a alguma entidade sindical. Sind Assume valor unitário quando o trabalhador é sindicalizado e valor nulo em caso contrário. Dummies de ocupação (empregados sem carteira de trabalho assinada, conta própria, empregadores) e empregados com carteira de trabalho assinada é a base de comparação. Por Ocupação possuírem uma dinâmica salarial diferente, os servidores públicos, civis ou militares, foram excluídos da amostra. Dummies de setor de atividade (indústria de transformação, construção civil, comércio e Setor de atividade serviços, administração pública, educação saúde e cultura, serviços domésticos) e agricultura é à base de comparação. Urbano Variável binária que toma valor unitário para área rural e valor nulo caso contrária Fonte: Elaboração dos autores. Na tabela 1 e 2, a seguir, têm-se os resultados da decomposição dos indicadores calculadas a partir dos valores que constam efetivamente nas PNADs no período estudado para os Estados do Ceará e da Bahia, respectivamente. Os fatores de decomposição são o SM real, mercado formal, considera-se os trabalhados que pertencem carteira de trabalho assinada e atributos pessoais. Ademais, tem-se os valores dos indicadores de desigualdade estimados para as funções de densidade contrafactuais do ano de Primeiramente, essa função contrafactual é construída 142

143 para o valor real do salário mínimo de 2012 (2002cf), em seguida estima-se essa função a partir da manutenção das características de formalidade de 2012 sobrepostas à distribuição contrafactual anterior (2002cfFormal). Por último, na estimação da função densidade hipotética do ano de 2002, utilizam-se os atributos individuais de 2012 sobrepostos às distribuições contrafactuais anteriores (2002cfAtributo). Após a estimação de cada função densidade contrafactual, calculam-se os indicadores de desigualdade. A construção da quinta coluna da Tabela 1 e 2 por meio dos cálculos das medidas de desigualdade de renda (índices de Theil e de Gini) a partir das funções de densidade Kernel efetivas estimadas em 2002 e Os valores da diferença (dif) dos resíduos são obtidos a partir da diferença entre o indicador de concentração dos rendimentos correspondente à função densidade contrafactual dos atributos individuais dos trabalhadores e o valor real de Os valores do salário mínimo são obtidos a partir da diferença entre o valor do indicador de desigualdade correspondente à função densidade efetiva em 2002 e o valor do indicador de desigualdade correspondente à função densidade contrafactual do salário SM e o valor real de 2012 no ano de A linha do mercado formal corresponde à diferença entre o valor do indicador de concentração de rendimentos correspondente à função densidade contrafactual do SM e o valor do indicador de desigualdade para a função densidade contrafactual do grau de formalização. Caso, o valor dessa diferença é negativo significa que o efeito sobreposto das condições de formalização do mercado de trabalho é redistributivo. Já a última linha, atributos, encontram-se os valores das diferenças entre o indicador de desigualdade correspondente à função densidade contrafactual do grau de formalização e o indicador de concentração dos rendimentos correspondente à função densidade contrafactual dos atributos individuais dos trabalhadores. Os valores positivos da coluna Dif devem ser interpretados como efeitos desconcentradores, enquanto que valores negativos referem-se a efeitos concentradores dos fatores. Ou seja, caso se verifique que o resultado dessa diferença tem valor negativo, observa-se que a elevação do SM real quando sobreposta à distribuição de salários de 2002, causaria efeito equalizador sobre essa distribuição de rendimentos. A Tabela 1 contém os indicadores de desigualdade estimados para trabalhadores do gênero masculino e feminino para o Estado do Ceará. No caso das pessoas do sexo feminino, o índice de 143

144 Theil se reduziu em 0,1383 entre 2002 e Desse total, 0,2494 pode ser atribuído ao salário mínimo, 0,0930 se deve ao grau de formalização e 0,0721 aos atributos. Assim, na construção da função densidade hipotética, considera-se os efeitos da elevação do valor real do salário mínimo, do grau de formalização e dos atributos sobre os indicadores de desigualdade dos rendimentos do trabalho em Constata-se que ambos teriam efeitos desconcentradores, ou seja, reduziriam o grau de concentração dos rendimentos. O resíduo da decomposição do indicador da desigualdade corresponde a -0,0351. Focalizando a contribuição desses fatores para a variação total do índice de Theil em termos relativos, pode-se observar que o salário mínimo, o grau de formalidade, os atributos e o resíduo contribuíram respectivamente com 180,4%, 67,26% e 52,14% dessa variação. Ou seja, ambos tiveram impactos desconcentradores. Esse exercício de decomposição refeito para o índice de Gini revela resultados semelhantes aos encontrados na decomposição do índice de Theil. O elevado valor relativo do resíduo da decomposição se deve ao fato de que não utilizamos fatores de variação na oferta e demanda do trabalho 12. Esses fatores, no trabalho de DiNardo, Fortin e Lemieux (1996), tiveram uma contribuição relativa da ordem de 30%, enquanto os resíduos assumiram um valor equivalente a tal contribuição. Cabe lembrar que os resíduos contemplam fatores desconhecidos que certamente estão afetando a distribuição dos rendimentos, mas o seu valor elevado não invalida os valores relativos estimados para os três fatores considerados. Tabela 1 - Resultados da decomposição de índices de distribuição de renda pelo método DFL para todos para todos os trabalhadores do gênero masculino ou feminino do Estado do Ceará e 2012 Ano Índice Fator Mulheres Homens Valor dif % valor dif % 2002 Theil 0,6245 0,1383 0,5569 0, Theil Resíduo 0,4862-0, ,79 0,3861-0, , cf Theil Salário mínimo 0,3751 0, ,40 0,3083 0, , cfFormal Theil Formal 0,2821 0, ,26 0,2730 0, , cfAtributos Theil Atributos 0,2100 0, ,14 0,2401 0, , Gini 0,5163 0, ,93 0,5146 0, , Gini Resíduo 0,4666-0, ,83 0,4317-0, , cfminimo Gini Salário mínimo 0,3965 0, ,65 0,3719 0, , cfFormal Gini Formal 0,3450 0, ,25 0,3550 0,0169 9, cfAtributos Gini Atributos 0,2968 0, ,86 0,3298 0, ,75 Fonte: Elaborado pelos autores 12 Esse procedimento foi adotado por DiNardo, Fortin e Lemieux (1996). 144

145 Por outro lado, os indicadores de desigualdade estimados para as mulheres sinalizam uma queda na dispersão dos rendimentos. A título de exemplo, o índice de Theil variou de 0,56 em 2002 para 0,39 em As decomposições revelam também um impacto maior do salário mínimo para pessoas do gênero feminino. A decomposição do índice de Gini calculado para homens revelou o mesmo impacto dos fatores, embora o efeito do salário mínimo seja menos elevado, do grau de formalidade e os atributos maiores em termos absolutos, quando comparados com os resultados do índice de Theil. Observa-se na tabela 2, a seguir, os indicadores de desigualdade estimados para trabalhadores do gênero masculino e feminino para o Estado da Bahia. No caso das pessoas do sexo feminino, o índice de Theil se reduziu em 0,1647 entre 2002 e Desse total, 0,2519 pode ser atribuído ao salário mínimo, 0,0020 se deve ao grau de formalização e 0,0803 aos atributos. Assim, na construção da função densidade hipotética, considera-se os efeitos da elevação do valor real do salário mínimo, do grau de formalização e dos atributos sobre os indicadores de desigualdade dos rendimentos do trabalho em Constata-se que ambos teriam efeitos desconcentradores, ou seja, reduziriam o grau de concentração dos rendimentos. O resíduo da decomposição do indicador da desigualdade corresponde a -0,1695. Focalizando a contribuição desses fatores para a variação total do índice de Theil em termos relativos, pode-se observar que o salário mínimo, o grau de formalidade, os atributos e o resíduo contribuíram respectivamente com 152,94%, 1,20% e 48,77% dessa variação. Ou seja, ambos tiveram impactos desconcentradores. Esse exercício de decomposição refeito para o índice de Gini revela resultados semelhantes aos encontrados na decomposição do índice de Theil, exceto para o grau de formalidade que apresentou efeito concentrador. Por outro lado, os indicadores de desigualdade estimados para as mulheres sinalizam uma queda na dispersão dos rendimentos. A título de exemplo, o índice de Theil variou de 0,65 em 2002 para 0,52 em As decomposições revelam também um impacto maior do salário mínimo para pessoas do gênero feminino para os Estados do Ceará e da Bahia. Comparando os Estados, nota-se que o índice de Theil obteve uma variação maior no Estado da Bahia para sexo feminino e já para sexo masculino a variação do índice foi maior no Estado do Ceará. As decomposições revelam também um impacto maior do salário mínimo para pessoas do gênero feminino para o Estado da Bahia. E para o sexo masculino, as decomposições 145

146 revelam um impacto maior do salário mínimo para pessoas do Estado do Ceará. Os atributos têm maior importância na desconcentração para ambos os sexos no Estado do Ceará. Observa-se que o grau de formalidade para as mulheres no Estado da Bahia não explica muito essa redução da desconcentração de renda, mas para os homens já é mais notório o seu efeito, sendo que é maior para o Estado da Bahia a importância da formalização para desconcentração do que para o Estado do Ceará. Tabela 2 - Resultados da decomposição de índices de distribuição de renda pelo método DFL para todos para todos os trabalhadores do gênero masculino ou feminino do Estado da Bahia e 2012 Ano Índice Fator Mulheres Homens Valor dif % valor dif % 2002 Theil 0,6905 0,1647 0,6509 0, Theil Resíduo 0,5258-0, ,91 0,5150-0, , cf Theil Salário mínimo 0,4386 0, ,94 0,4412 0, , cfFormal Theil Formal 0,4366 0,0020 1,20 0,3554 0, , cfAtributos Theil Atributos 0,3563 0, ,77 0,3459 0,0096 7, Gini 0,5304 0, ,30 0,5262 0, , Gini Resíduo 0,4722-0, ,05 0,4798-0, , cfminimo Gini Salário mínimo 0,4323 0, ,52 0,4280 0, , cfFormal Gini Formal 0,4379-0,0056-3,38 0,3964 0, , cfAtributos Gini Atributos 0,3816 0, ,22 0,3837 0,0127 9,33 Fonte: Elaborado pelos autores 6. Considerações finais A metodologia de simulação, adaptada do estudo de DiNardo, Fortin e Lemieux (1996), foi aplicada para as diferentes categorias de empregados do gênero masculino e feminino do Estados do Ceará e da Bahia, tanto para a decomposição do índice de Theil como para a decomposição do índice de Gini. A decomposição do índice de Theil para os trabalhadores do sexo feminino revelou que a maior contribuição relativa correspondeu ao salário mínimo que, assim como o grau de formalização e os atributos pessoais, tiveram impactos desconcentradores sobre os rendimentos. Idêntico exercício de decomposição, repetido para o índice de Gini, revelou resultados semelhantes. As decomposições revelam também um impacto maior do salário mínimo para pessoas do gênero feminino para os Estados. Nota-se que o índice de Theil obteve uma variação maior no Estado da Bahia para sexo feminino e já para sexo masculino a variação do índice foi maior no Estado do Ceará. Observa-se que o grau de formalidade para as mulheres no Estado da Bahia não explica muito essa redução da desconcentração de renda, mas para os homens já é mais notório o seu efeito, sendo que é maior para o Estado da Bahia a importância da formalização para 146

147 desconcentração do que para o Estado do Ceará. Isso pode ser explicado por meio da discriminação de sexo no mercado de trabalho. Em suma, as simulações confirmam a importância do salário mínimo para a desconcentração dos rendimentos no mercado de trabalho no período 2002 a 2012 para os trabalhadores do Estados do Ceará e da Bahia. Dessa forma, pode-se inferir que a política de elevação gradual do salário mínimo real estabelecida no período de 2002 a 2012 não coincidiu com uma elevação do desemprego e, simultaneamente, permitiu uma redução na dispersão dos rendimentos do trabalho. Noutras palavras, o impacto das variações nominais do salário mínimo sobre o nível de demanda possivelmente ultrapassou seus efeitos sobre os custos, permitindo uma elevação do patamar de produção e do emprego. As simulações confirmam a importância do salário mínimo, como o grau de formalização e os atributos individuais para a desconcentração dos rendimentos no mercado de trabalho cearense no período 2002 a Logo promover políticas públicas focando essas variáveis casuais tem efeito importante para redução da desigualdade de renda tanto para as mulheres como para os homens. 7. REFERÊNCIAS BARROS, R. P.; CARVALHO, M.; FRANCO, S.; MENDONÇA, R. Determinantes da Queda na Desigualdade de Renda no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, jan (Texto para Discussão, 1460). BLINDER, A. S. Wage discrimination: reduced form and structural estimates. Journal of Human Resources, v. 8, n. 4, p , BOURGUIGNON, F.; FERREIRA, F.; LEITE, P. Beyond Oaxaca-blinder: accounting for differences in household income distributions across countries Mimeo. BUTCHER, K. F.; DINARDO, J. The immigrant and native-born wage distributions: evidence from United States censuses. NBER Working Paper Series 6630, CACCIAMALI, M. C.; HIRATA, G. I. A Influência da Raça e do Gênero nas Oportunidades de Obtenção de Renda Uma Análise da Discriminação em Mercados de Trabalho Distintos: Bahia e São Paulo. Estudos Econômicos, São Paulo, v.35, n.4, p , out-dez., CAMBOTA, J. N. Discriminação Salarial por Raça e Gênero no Mercado de Trabalho das Regiões Nordeste e Sudeste: Uma Aplicação de Simulações Contrafactuais e Regressão Quantílica. Dissertação (Mestrado em Economia) CAEN, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 55f.,

148 DEDECCA, C. S. A redução da desigualdade no Brasil: uma estratégia complexa. In: BARROS, R. P. de; FOGUEL, M. N.; ULYSSEA, G. (Org.). Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recente. Rio de Janeiro: Ipea, V. 1. DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS- DIEESE. Rotatividade e políticas públicas para o mercado de trabalho / Departamento Intersindical de Estatística Estudos Socioeconômicos.140 p.,são Paulo, DINARDO, J; FORTIN, N. M.; LEMIEUX, T. Labor Market Institutions and the Distribution of Wages, : A Semiparametric Approach. Econometrica, v. 64, n. 5, p , Sept FAJNZYLBER, P. Minimum wage effects throughout the wage distribution: evidence form Brazil s formal and informal sectors. UFMG: Cedeplar, June 28, 2001 (Texto para Discussão, n. 151). FIRPO, S.; REIS, M. C. O salário mínimo e a queda recente da desigualdade no Brasil. In: BARROS, P.B.; FOGUEL, M.; ULYSSEA, G. Desigualdade de renda no Brasil: uma análise da queda recente. Brasília: Ipea, p v. 2, HOFFMANN, R.. Pobreza e desnutrição de crianças no Brasil: diferenças regionais e entre áreas urbanas e rurais. Economia Aplicada, v. 2, n. 2, p , Desigualdade da distribuição da renda no Brasil: a contribuição de aposentadorias e pensões e de outras parcelas do rendimento domiciliar per capita. Economia e Sociedade, Campinas, v. 18, n. 1 (35), p , abr JANN, B. Univariate Kernel density estimation. ETH Zurich, Switzerland, KERM, P. van. Adaptive Kernel density estimation. In: UK STATA USERS MEETING, 9th. May 19-20, 2003, London. Royal Statistical Society, London, LAM, D. Generating Extreme Inequality: Schooling. Earnings, and Intergenerational Transmission of Human Capital in South Africa and Brazil. University of Michigan, processed LEMIEUX, T. Decomposing Changes in Wage Distributions: A Unified Approach. The Canadian Journal of Economics, 35, p , MACEDO, R. B.; GARCIA, M. E. Salário mínimo e taxa de salário no Brasil: comentário. Pesquisa e Planejamento Econômico, Rio de Janeiro, v. 3, n. 10, p , NEDER, H. D.; RIBEIRO, R. Os Efeitos Distributivos do Salário Mínimo no Mercado de Trabalho Brasileiro no período : Enfoque a partir de distribuições contrafactuais. Pesquisa e Planejamento Econômico (Rio de Janeiro), v. 40, p. 4, NEUMARK, D.; SCHWEITZER, M.; WASCHER, W. The effects of minimum wages throughout the wage distribution. Feb (NBER Working Paper, n ). OAXACA, R. Male Female Wage Differentials in Urban Labor Markets. International Economic Review, v.14, n.3, p , out.,

149 PARZEN, E. On Estimation of a Probability Density Function and Mode. In: The Annals of Mathematical Statistcs, vol 3, nº3, p , set., PINHO NETO, V. R.; MIRO, V. H. Produção e Reprodução de Desigualdades no Mercado De Trabalho Cearense: Uma Análise de Decomposição para o Período Fortaleza, texto para discussão n.99, IPECE, nov RAMOS, L.; VIEIRA, M. L. Determinantes da desigualdade de renda no Brasil nos anos 90: discriminação, segmentação e heterogeneidade dos trabalhadores. In: HENRIQUES, RICARDO (ORG), Desigualdade e pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, Cap.6 p ,2000. ROSENBLATT, M. Remarks on Some Nonparametric Estimates of a Density Function. In: The Annals of Mathematical Statistcs, vol 27, nº3, p , set SOUZA, P. F. L. de; SALVATO, M. A.; FRANÇA, J. M. de. Ser Mulher e Negro no Brasil ainda leva a menores salários? Uma Análise de Discriminação para Brasil e Regiões: 2001 E In: 41º ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA/ANPEC-2013, Fortaleza, CE. Anais. Fortaleza: ANPEC,

150 ÁREA TEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS ESTIMAÇÃO DOS FATORES DETERMINANTES DA TAXA MORTALIDADE INFANTIL DOS ESTADOS BRASILEIROS JANAILDO SOARES DE SOUSA (Especialista em políticas públicas sociais e de habitação. Economista. Mestrando em Economia Rural (MAER) Campus do Pici/UFC Fortaleza/Ceará. janaildo18@hotmail.com Tel: (83) ) ROBÉRIO TELMO CAMPOS (Prof. Dr. Adjunto do Curso de Mestrado em Economia Rural (MAER) - Campus do Pici/UFC. Fortaleza/Ceará. roberio@ufc.br Tel: (85) ) ANDRÉA FERREIRA DA SILVA (Economista. Mestre em Economia Rural. Doutorando em Economia pela Universidade Federal da Paraíba UFPB. Andrea.economia@yahoo.com.br Tel: (88) ) JOYCIANE COELHO VASCONCELOS (Economista. Mestre em Economia Rural. Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará UFC, Campus do Pici/UFC. Fortaleza/Ceará. joyciane.c.v@gmail.com - Tel: (85) GERLÂNIA MARIA ROCHA SOUSA (Economista, Mestre em Economia Rural, Professora substituta da Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA). gerlaniarocha@gmail.com - Tel: (88) ) 150

151 ESTIMAÇÃO DOS FATORES DETERMINANTES DA TAXA MORTALIDADE INFANTIL DOS ESTADOS BRASILEIROS RESUMO: O artigo tem por objetivo mensurar os fatores determinantes da Taxa de Mortalidade Infantil - TMI no Brasil. Esta análise será mensurada por outras variáveis que são condicionantes na redução da TMI, como: Cobertura do Programa Saúde da Família - PSF, desigualdade de renda mensurada pelo coeficiente de Gini, Produto Interno Bruto Estadual per capita, e a média de anos de estudos das mulheres com 25 anos ou mais e domicílios com acesso a saneamento sanitário. A série temporal do estudo compreende o período de 2001 a 2011, o que diferencia o referente trabalho da literatura empírica já existente, além do uso de novas variáveis na análise que não foram utilizados em outros estudos com tal metodologia. Para esta análise utilizou-se a metodologia dados em painel, utilizando ainda os modelos efeito fixo e aleatório. Os resultados estimados confirmam a hipótese de que as variáveis: Cobertura PSF, Índice de Gini, PIB per capita e a média de anos de estudos mulheres, desigualdade de renda, renda per capita e saneamento básico são fatores determinantes na redução infantil da mortalidade para o Brasil. As evidências empíricas desse estudo podem ser utilizadas para o planejamento e/ou formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e crescimento socioeconômico como estratégica de redução da TMI. Palavras-chave: Taxa de Mortalidade Infantil. Desigualdade de renda. Políticas públicas. ABSTRACT: The article aims to measure the determinants of infant mortality rate - IMT in Brazilian states. This analysis will be measured by other variables that are determinants in reducing IMR, such as: Health Program coverage Family - FHP, income inequality measured by the Gini coefficient, State Domestic Product per capita gross, and the average years of studies women 25 years or older and households with access to health sanitation. The study of time series covers the period , which sets the related work of the existing empirical literature, and the use of new variables in the analysis that were not used in other studies using this methodology. For this analysis we used the methodology panel data, even using fixed and random effects models. The estimated results confirm the hypothesis that the variables: PSF coverage, Gini index, GDP per capita and the average years of studies women, income inequality, per capita income and basic sanitation are key factors in child mortality reduction for states Brazilians. The empirical evidence of this study can be used for planning and / or formulation of public policies for the development and socio-economic growth as a strategic reduction of TMI. Key words: Infant mortality rate. Income inequality. Public policies. 151

152 1. Introdução Durante meados do século XX ocorreram mudanças favoráveis às condições de saúde no Brasil, principalmente na mortalidade infantil. Tais mudanças trouxeram como melhorias, a qualidade de vida da população e a queda da mortalidade infantil, aliadas aos avanços tecnológicos. Segundo Palloni (1980) as mudanças ocorridas durante o século XX se deram por meio da incorporação das políticas de saúde para a redução da mortalidade infantil, porém nos países menos desenvolvidos essa redução foi prematura, foi incompleta sem os mesmos resultados dos países desenvolvidos, em que alcançaram ganhos importantes na esperança de vida, com elevada redução da mortalidade infantil; por sua vez, o declínio da mortalidade no primeiro ano de vida não evoluiu de forma tão acentuada entre os países menos desenvolvidos. A Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) é um indicador comumente utilizado por organismos internacionais para acompanhar os avanços das condições básicas de saúde dos países em desenvolvimento. É um indicador muito importante, haja vista que tem um peso significante na expectativa de vida ao nascer. A redução da mortalidade infantil na infância faz parte dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), compromisso assumido pelos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) para que, com a globalização, o mundo se torne mais inclusivo e equitativo no novo milênio (GARCIA; SANTANA, 2011). No Brasil, as taxas de mortalidade infantil têm mostrado declínios importantes nas últimas décadas, mas são ainda maiores do que o esperado quando comparadas com outros países com economias semelhantes. Em relação aos principais determinantes da tendência de queda observada, os estudos apontaram para a importância da implementação de políticas públicas de saneamento básico e nutrição, na década de 1980; e a expansão da atenção primária de serviços de saúde, especialmente materna e infantil ( AQUINO; OLIVEIRA; BARRTETO, 2009). Na literatura empírica nacional e internacional há diversos estudos que abordam a estreita relação que a mortalidade infantil apresenta com os fatores sociais e econômicos, sendo reconhecida há muito tempo (MONTEIRO; SZARFARC, 1987; PAIM et al. 2011; YUNES & ALBUQUERQUE, 1983, SOUSA; LEITE FILHO, 2008, AQUINO, OLIVEIRA; BARRETO, 2009, SILVA ET AL, 2011, ALMEIDA; SZWARCWALD, 2012, LOURENÇO et al, 2014). Levando em consideração a complexidade e o dinamismo dos processos que envolvem a mortalidade infantil, faz-se necessário o seu contínuo acompanhamento, de modo que se possa 152

153 dispor de informações que permitam a análise da situação de saúde em nível local, regional e em nível nacional para que se possam programar medidas de controle pertinentes à redução. A contribuição deste estudo em relação aos anteriores realizados no Brasil, citados acima, é, primeiro, desenvolver uma análise mais robusta da real situação da TMI no Brasil com base no modelo de dados de painel; a metodologia de dados em painel permite considerar de modo mais eficiente o efeito específico das variáveis não observadas ao cobrir o período de 2001 a 2011, um período recente de análise. Dessa forma, o estudo apresenta uma análise empírica inovadora, haja vista que leva em consideração que não só o Programa Saúde da Família (PSF) reduz a TMI, mas que as condições socioeconômicas participam e influenciam nesse processo de redução. A justificativa em delimitar esse período, se deu por ser um marco na formulação e execução de políticas públicas redistributivas, período governamental sob a liderança do Partido dos Trabalhadores. Nesse período, ocorreram algumas mudanças nas políticas de saúde e saneamento, crescimento de alguns indicadores, bem como na redução de outros, inclusive da TMI e da pobreza. Assim, o presente trabalho tem como objetivo mensurar os fatores condicionantes da redução da Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) no Brasil entre os anos de 2001 a A despeito de a mortalidade infantil ser resultado de uma série de processos sociais, econômicos e demográficos complexos, este trabalho propõe um modelo econométrico detalhado por Mendonça (2006) para tentar definir seus principais determinantes. Assim, procura-se avaliar a situação dos estados brasileiros quanto aos níveis e determinantes da mortalidade infantil uma vez que o diagnóstico preciso da situação é o primeiro passo para a proposição de políticas públicas mais eficazes. Este estudo ganha importância adicional, na medida em que o Brasil é um dos signatários da Declaração do Milênio, assinada em 2000, que entre suas metas inclui a redução da mortalidade infantil. Além desta introdução, o artigo tem mais quatro seções: (ii) referencial teórico em que aborda a taxa de mortalidade infantil e seus condicionantes; (iii) metodologia que trata da base de dados utilizada na pesquisa e o modelo econométrico empregado para as estimações; (iv) análise dos resultados e discussão e, por fim, (v) são apresentadas as principais conclusões do estudo. 2. Referencial Teórico 2.2 A Taxa de Mortalidade Infantil TMI e seus condicionantes socioeconômicos: Algumas evidências empíricas 153

154 O debate sobre os determinantes da TMI foram tema de uma ampla discussão que envolve diversas áreas, especialmente a de saúde e de economia aplicada. Atualmente, as discussões sobre a temática são bastante instigantes, haja vista que vários estudos demonstram algumas das causas da Mortalidade Infantil no Brasil. Vários pesquisadores já apresentaram contribuições sobre a referente temática, os estudos divergem em razão do uso de metodologias e modelos empíricos diferentes, porém os resultados são semelhantes, o que evidencia que de fato tais variáveis são fatores condicionantes da redução da TMI. As pesquisas já realizadas até abordam uma parte das variáveis do presente estudo, entretanto o estudo inova pela análise em conjunto das mesmas e pela série temporal a ser analisada (2001 a 2011). Sendo assim, nessa seção serão apresentados alguns relatos empíricos internacionais e nacionais que tratam sobre os fatores condicionantes da redução da TMI. Alves e Belluzo (2004) estudaram a saúde da criança e a mortalidade infantil no Brasil. O objeto da análise foi investigar os determinantes da mortalidade infantil, em nível municipal, e para obter uma análise mais detalhada, considerando os fatores que afetam a saúde infantil a nível municipal, utilizaram o modelo de dado em painel dinâmico. Utilizaram como base de dados, os dados censitários de 1970 a Os principais resultados da pesquisa indicam que o saneamento, educação e renda per capita contribuiu para o declínio da mortalidade infantil no Brasil no período, sendo o efeito mais forte no longo prazo do que no curto prazo. Aquino, Oliveira e Barreto (2009) analisaram a execução da Programa Saúde da Família - PSF nos municípios brasileiros. O estudo teve como objeto de pesquisa analisar o impacto do Programa Saúde da Família PSF na redução da mortalidade infantil nos municípios brasileiros. Os dados utilizados na pesquisa foram: a cobertura do PSF e a Taxa de Mortalidade Infantil TMI para 771 de municípios brasileiros no período de 1996 a Para estimarem os efeitos do PSF sobre a TMI utilizaram a técnica de regressão análise multivariada.as taxas de cobertura e de mortalidade infantil do PSF para 771 de municípios brasileiros de 1996 a Foi realizada a técnica de análise multivariada para dados em painel com uma resposta binomial negativa usando modelos de efeitos fixos que controlaram as variáveis demográficas, sociais e econômicas. Os principais resultados revelaram que o impacto do PSF sobre a TMI é altamente significativo. Garcia e Santana (2011) avaliaram a evolução das desigualdades socioeconômica e a mortalidade infantil no Brasil. O estudo teve como objetivo investigar a evolução temporal da magnitude das desigualdades na mortalidade infantil e na infância, segundo a escolaridade materna 154

155 e a renda domiciliar per capita, no período , no Brasil. Foram utilizados microdados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (PNAD). A medida de desigualdade empregada foi o índice de concentração (IC), calculado para os óbitos infantis e na infância, segundo escolaridade materna e renda domiciliar per capita.os resultados apontaram que no período em análise (1993 a 2008), houve uma acentuada redução das desigualdades na mortalidade infantil. E que a escolaridade materna e a renda domiciliar per capita influenciam significativamente na redução das mesmas. Em 2008, a concentração dos óbitos na infância entre crianças cujas mães tinham menor escolaridade era maior do que a concentração dos óbitos infantis. E por fim, Nishimura e Sampaio (2014) estudaram o efeito do Programa Pacto pela redução da Mortalidade Infantil - PMI no Nordeste de na Amazônia legal. O objeto de estudo foi analisar se a execução do PMI conseguiu reduzir mortes infantis. Os dados utilizados para as estimações foram coletados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD). A metodologia utilizada se deu por meio da técnica de dados em painel em nível de município e a estratégia de identificação via modelo de diferença em diferenças. Os resultados mostram que o Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil atinge seu objetivo ao reduzir significativamente mortes de crianças de 0 a 1 ano de idade, particularmente atingindo grupos que se encontram em regiões de baixa renda e com maiores índices de mortalidade. Revelou que a pobreza, e as condições de moradia são determinantes na taxa de mortalidade infantil. Além da explanação, é preciso então que haja o redirecionamento do debate acerca dos fatores condicionantes da redução da TMI, e o ponto de partida são as análises empíricas. 3 Base de Dados Os dados básicos utilizados no presente estudo foram coletados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), do banco de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA (IPEADATA), e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) referentes aos anos de 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, Sendo que o ano de 2010 foi feito uma interpolação por não ter PNAD para o ano, em função da realização do Censo. A partir dos dados do DATASUS, IPEADATA e das PNADs serão utilizadas informações econômicas, demográficas, educacionais, de infraestrutura e saúde de cada estado brasileiro referente aos anos de 2001 a 2011, tais variáveis serão confrontadas com a TMI de cada estado 155

156 brasileiro. Deste modo, tem-se uma base de dados combinada entre informações dos tipos crosssection e série temporal, também conhecida como dados em painel. Os dados extraídos do DATASUS foram: Taxa de Mortalidade Infantil TMI; Cobertura do Programa Saúda da Família PSF. Espera-se que quanto maior a cobertura do PSF no Brasil, menor seja a TMI. A TMI é o número de óbitos de menores de um ano de idade por mil nascidos vivos na população residente em determinado espaço geográfico. Já as variáveis: Índice de Gini (GINI), Renda familiar per capita (RENPERCAP) e anos de estudo (ANOSEST) foram retiradas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD. A renda familiar per capita foi construída pelos dados da PNAD, a preços constantes em reais do ano de 2011, deflacionados pelo deflator para rendimentos da PNAD. O Índice de Gini é um indicador utilizado para medir o grau de concetração de renda, o qual varia entre o e 1. Quando o índice tem valor igual a 1 há uma concentração máxima de renda, ou seja, existe perfeita desigualdade, isto é, a renda domiciliar per capita é totalmente apropriada por um único indivíduo. Quando ele tem valor igual à zero (0), há total ausência de concentração, temse perfeita igualdade, isto é, a renda é distribuída na mesma proporção para todos os domicílios. Quanto mais próximo da unidade, maior a desigualdade na distribuição de renda (NORONHA; ANDRADE, 2005). Espera-se que o sinal do índice de Gini seja positivo, o que evidencia que a desigualdade de renda é um fator determinante da TMI. A variável Índice de Gini foi logaritimizada, logo, sua interpretação será descrita como elasticidade da desigualdade de renda. Enquanto que a renda per capita é um indicador que contribui para a análise do grau de desenvolvimento de um país ou região e consiste na divisão da renda nacional (produto nacional bruto menos os gastos de depreciação do capital e os impostos indiretos) pela sua população (SILVA; JUSTO, 2004). Espera- se que um aumento na renda reduza a TMI, uma vez que as famílias estariam auferindo novas condições de qualidade de vida que dependem diretamente da renda. Assim, o sinal esperado dessa variável é negativo. No presente estudo a média da escolaridade das mulheres 25 anos ou mais (ANOSEST 13 ) será utilizada como proxy para a escolaridade da mãe de pelo fato de a criança estar necessariamente atrelada aos cuidados da mãe. Espera-se também um sinal negativo. O que valida à hipótese de que a escolaridade da mãe faz parte do conjunto de fatores responsáveis pela TMI. 13 No ano de 2010 utilizou o método matemático de interpolação, haja vista que não há dados disponibilizados pela PNAD por ter sido um ano de Censo. Logo a interpolação obedeceu ao seguinte procedimento: An 2010= (Σ ani2009+σ ani2011)/n. Nesse caso n=2. 156

157 E por fim, a variável domicílio com acesso a saneamento sanitário (DOASAN). Conforme Mendonça e Mota (2007) o acesso às condições adequadas de saneamento está ligada a renda do indivíduo. Acredita-se que o sinal dessa estimação apresente um sinal negativo, sinalizando que o acesso a saneamento básico reduz a TMI. A variável domicílios com acesso a saneamento básico sanitário também foi logaritimizada, logo, sua interpretação será descrita como elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento. Há na literatura especializada a comprovação empírica da existência da forte relação entre anos de estudos e renda, quanto maior o tempo em que às pessoas se dedicam aos estudos melhores serão as suas rendas, pois as pessoas se tornariam bem mais qualificadas para ingressar no mercado de trabalho e por isso conseguiriam melhores salários, devido ao capital humano por elas adquirido (SACHSIDA; LOUREIRO; MENDONÇA, 2004). 4 Metodologia O modelo empírico escolhido busca incorporar explicitamente, para o nível agregado, os fatores condicionantes mais importantes da redução da Taxa de Mortalidade Infantil TMI, isto é, a probabilidade de óbitos da criança antes do primeiro ano de vida. Vale destacar que esse conjunto de variáveis é similar ao utilizado em outros trabalhos empíricos que utilizam dados agregados, como Corman et al. (1987), apud Serra (2004), Frank et al. (1992), apud Serra (2004), Hanratty (1996), apud Serra (2004), Goldman e Grossman (1982), apud Serra (2004) e Joyce (1987), apud Serra (2004), entre outros O objeto da análise econométrica empreendida foi verificar estimação das variáveis socioeconômicas resulta em um impacto positivo na redução da TMI, que sirva para a adoção e/ou formulação de políticas públicas direcionadas a cada um dos estados em análise. A hipótese do modelo econométrico pode ser justificada pela equação (1), utilizada por Andrade (2012). TMI = f ( cpsf, Gini, Ren, Anest, Dsan) (1) Em que: TMI é a variável dependente do modelo proposto. Essa variável depende de um vetor (cpsf) de cobertura do Programa Saúde da Família PSF na área, da renda familiar per capita local (Ren) - a qual serve como proxy para a capacidade de aquisição de insumos não observados no 157

158 modelo, como calorias -, de um vetor de variáveis exógenas de risco para a saúde infantil medidas em nível local (Anest) e (Dsan), ditas como variáveis condicionantes a saúde materno-infantil. Entretanto, em razão de o presente estudo adotar um modelo de regressão com dados em painel com n observações, T períodos e k variáveis, a equação (1) pode ser reapresentada conforme mostra a equação (2). Y it = α i + βx it + u it, i =1,., N; t =1,., T (2) Em que uit = αi+μit Dessa forma, Yit é a variável dependente da análise e compreende a TMI condicionada pelos fatores socioeconômicos inadequados dos estados nordestinos i no ano t, Xit representa um vetor de variáveis explicativas associadas ao modelo. Como pode ser observado numa estrutura básica do modelo de dados em painel, o distúrbio εit é formado por dois componentes, αi é o termo estocástico inerente às unidades individuais, de forma que αi ~(0, σα²) que se denomina efeito individual, ao passo que μit é um distúrbio estocástico, tal que uit ~(0, σn²). Além disso, tem-se ainda que E[uit αi ] = 0 e E[uit xit]= Dados em painel O uso de dados em painel possibilita uma melhor investigação sobre a dinâmica das mudanças nas variáveis, tornando possível considerar o efeito das variáveis não observadas pelo modelo. Assim, o presente estudo utilizará o modelo de regressão com dados em painel para contribuir numa melhor estimação e análise das possíveis correlações entre a Taxa de Mortalidade Infantil - TMI e seus fatores condicionantes. Uma característica dos dados em painel é por terem observações em duas dimensões, em geral, o tempo e o espaço, em que as unidades observáveis são os estados brasileiros e o período de tempo compreende os anos de 2001 a A especificação do modelo linear simples com dados em painel pode ser representada a seguir: Y it = α i + βx it + u it (3) em que Y it é a variável dependente, X it representa a matriz das variáveis explicativas, β é o vetor de coeficientes angulares a serem estimados, α i refere-se ao parâmetro de intercepto desconhecido para cada indivíduo e representa a heterogeneidade não observada do modelo, u it é o erro estocástico em que, por suposição E( u it X i, α i ) = 0. O subscrito i denota i = 1, 2,..., n, para as 158

159 diferentes unidades observáveis. E o subscrito t representa t = 1, 2,..., t, para o período de tempo que será analisado. Conforme Cameron e Trivedi (2005), o uso de dados em painel fornece informações sobre os indivíduos tanto por meio do tempo, quanto entre eles, utilizando uma gama muito maior de modelos e estimadores. Enquanto que na visão de Loureiro e Costa (2009), nas análises que usam dados em painel há uma melhor compreensão das variáveis, haja vista, tal método possibilitar uma melhor investigação da sinergia das mudanças nas variáveis, tornando presumível considerar o efeito das variáveis não observadas. Outro benefício é a avanço na inferência dos parâmetros estudados, pois eles proporcionam mais graus de liberdade e maior variabilidade na amostra em análise com dados em cross-section ou em séries temporais, o que valida à eficiência dos estimadores econométricos Heterogeneidade Não-observada Nos estudos empíricos com dados em painel um dos problemas é a heterogeneidade não observada. Nesse caso, teriam outros fatores condicionantes que estariam influenciando a variável dependente, mas que não estão sendo levados em consideração no modelo da equação do conjunto de variáveis explicativas, por não serem absolutamente observáveis ou quantificáveis (LOUREIRO; COSTA, 2009). Induzindo o problema da heterogeneidade não observada, a equação (4) pode ser reescrita da seguinte forma: Y it = α i + βx it + c i + u it (5) em que c i representa a heterogeneidade não observada em cada unidade observacional (no presente caso, cada estado) constante ao longo do tempo. Se a heterogeneidade não observada (c i ) apresentar correlação com qualquer variável em X it e tentar aplicar o modelo tradicional por Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), nesse caso as estimativas serão não só viesadas, como também inconsistentes (WOOLDRIDGE, 2002) Modelo efeito fixo No intuito de estimar a equação (1) de forma consistente, a abordagem mais usual no contexto de dados longitudinais é a de Efeitos Fixos. Nesse método de estimação, a ideia é eliminar 159

160 o efeito não observado, c i. A estimação é feita considerando que existe heterogeneidade entre os indivíduos e que ela é captada pela constante de modelo, que é diferente de indivíduos para indivíduos. Ou seja, supõe-se que o intercepto varia de um indivíduo a outro, mas é constante ao longo do tempo. O modelo de Efeitos Fixos é representado pela expressão abaixo: Y it = α i + βx it + u it (6) em que α i representa a constante que é diferente para cada indivíduo e capta as diferenças que são invariantes no tempo. Neste estudo serão utilizados quatro modelos para cada efeito. O modelo 1 compreende a seguinte equação: TMIit = αi +β0cbrpsf +β1lngini +β2renpercapit +β3lnsaneasan +(ci + uit) (7) Em que: αi= intercepto β0cbrpsf= cobertura do Programa Saúde da Família β1lngini= elasticidade do índice de gini β2renpercapit= renda per capita β3lnsaneasan= elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento sanitário Enquanto que o modelo 2 pode ser representado da seguinte forma: TMIit = αi +β0lngini +β1renpercapit +β2anosestudm + β3lnsaneasan +(ci + uit) (8) Em que: αi= intercepto β0lngini= elasticidade da desigualdade de renda β1renpercapit= renda per capita β2anosestudm= anos de estudos das mulheres com 25 anos ou mais β3lnsaneasan= elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento Modelo de efeitos aleatórios A estimação no modelo de Efeitos Aleatórios é realizada avaliando o efeito não observado c i, que é posto junto com o termo de erro estocástico, u it. Considerando a heterogeneidade dos indivíduos como sendo parte integrante do termo de erro. O modelo é representado da seguinte forma: 160

161 Y it = α i + βx it + (c i + u it ) (9) em que α i = α + c i e c i representam o efeito aleatório individual não observável. Ou seja, os modelos de efeitos aleatórios consideram a constante não mais como sendo parâmetro constante, mas como um parâmetro aleatório não observável. Assim, a principal diferença entre os dois modelos está no fato de que o modelo de efeitos fixos considera que as diferenças entre os indivíduos são captadas na parte constante, enquanto que, no modelo de efeitos aleatórios, essas diferenças são captadas no termo de erro. Da mesma forma será no efeito aleatório. Serão utilizados dois modelos também. O modelo 3 compreende a seguinte equação: TMIit = αi +β0cbrpsf +β1lngini +β2renpercapit +β3lnsaneasan +(ci + uit) (10) em que: αi= intercepto β0cbrpsf= cobertura do Programa Saúde da Família β1lngini= elasticidade da desigualdade de renda β2renpercapit= renda per capita β3lnsaneasan= elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento Enquanto que o modelo 4 pode ser representado da seguinte forma: TMIit = αi +β0lngini +β1renpercapit +β2anosestudm + β3lnsaneasan +(ci + uit) (11) em que: αi= intercepto β0lngini= elasticidade da desigualdade de renda β1renpercapit= renda per capita β2anosestudm= anos de estudos das mulheres com 25 anos ou mais β3lnsaneasan= elasticidade dos domicílios com acesso a saneamento Teste de Hausman A escolha da abordagem entre os dois efeitos (Efeito fixo e Efeito aleatório) será definida pelo teste de Hausman. O teste de Hausman é um teste de especificação de referência para inferir sobre a endogeneidade dos repressores. Podendo ser utilizado noutro contexto, o teste de Hausman procura comparar estatisticamente dois estimadores β EF e β EA para o mesmo modelo de vetor de parâmetros β. 161

162 Seja β EF o vetor de estimativas de efeitos fixos e β EA o vetor de estimativas de efeitos aleatórios, sob a hipótese nula de: H 0 : β EF β EA = 0 (i.e efeitos aleatórios é válido), a estatística: H = [β EF β EA ] [V (β EF ) V (β EA ) ] 1 [β EF β EA ] (12) Possui distribuição X 2 com K-1 graus de liberdade. Se essa estatística exceder o valor tabelado, devemos utilizar efeitos fixos. Assim sendo, o Teste de Hausman determina qual o modelo adequado para cada estimação. O Modelo de Efeitos Fixos é adequado quando a estatística do teste rejeita a hipótese nula. Não obstante, o Modelo de Efeitos Aleatórios é o melhor modelo quando aceita a hipótese nula do Teste de Hausman. 5 Resultados e Discussão Os estimadores da equação (10 e 11) foram estimados usando um modelo linear de dados em painel, em que, após a realização do teste de Hausman (12), identificou-se que a estimação por efeito fixo é a mais adequada para a presente estrutura dos dados. Ao rejeitar a hipótese nula, o modelo de efeitos fixos é o mais apropriado para explicar as variações na redução da taxa de mortalidade infantil. A diferença entre os estimadores obtidos pelos dois métodos revela esse resultado. Logo, essa análise dará ênfase aos resultados estimados pelo efeito fixo. A Tabela 1 apresenta a regressão para um painel de dez anos (2001 a 2011), no qual foram considerados todos os estados brasileiros. Os resultados mostram que a Cobertura do Programa Saúde da Família - PSF (cbrpsf) apresentou significância estatística de 1%, bem como exibiu o sinal esperado. Essa variável negativa valida à hipótese de que o aumento dos investimentos na política pública (PSF) reduz a Taxa de Mortalidade Infantil - TMI. Tais dados corroboram com Aquino, Oliveira e Barreto (2009) que analisaram o impacto do PSF na redução da TMI nos municípios brasileiros. Segundo os autores após a implantação da política houve uma redução constante da TMI, isso se deu pelo fato de que o PSF inclui um vasto conjunto de ações (promoção do aleitamento materno, pré-natal, neonatal, e ações para a prevenção e tratamento das doenças prevalentes na infância) identificado como intervenções eficazes em saúde para reduzir a TMI. Conforme o esperado, a elasticidade da desigualdade de renda (Lngini) apresentou o sinal esperado (+), e foi significativa a 1%. Essa variável positiva mostra que a desigualdade de renda 162

163 contribui para o aumento da TMI, o que pode ser observado para o Brasil no período em análise. Esse resultado corrobora com os estudos de Silva (2014), Campelo (2013), Andrade et al (2013), Wilkinson e Pickett (2006) e Marmont (2002). As demais variáveis (renpercapit e saneasan) condicionantes da redução da TMI também tiveram sinais conforme a literatura empírica. A variável renda per capita foi utilizada para demonstrar que a pobreza familiar é um dos fatores condicionantes da TMI, o que pode ser confirmado na análise de países com menor renda per capita (WORLD BANK, 2013). Logo, aumento de 1% em investimentos que ampliem o saneamento básico, irá contribuir em torno de 2% na redução da TMI. No período de 1993 a 2003 as evidências empíricas comprovam que renda per capita é um contributivo para o aumento da TMI, onde foi possível estimar que o maior número de óbitos infantis se deu em famílias cujas mães tinham menor renda (GARCIA; SANTANA, 2011). Tabela 1 Estimação dos efeitos fixos e dos efeitos aleatórios da redução da TMI para o Brasil, Estimadores Modelo 1 (Efeito fixo)** Modelo 2 (Efeito aleatório) Constante β ( ) 0.000* ( ) 0.000* β1cbrpsf ( ) 0.002* Lnβ2gini ( ) 0.000* β3renpercapita ( ) 0.000* Lnβ4saneasan ( ) 0.000* ( ) 0.000* ( ) 0.000* ( ) 0.000* ( ) 0.000* R N Test Hausman Chic <5% Fonte: Resultados obtidos pelos autores a partir dos dados do IPEADATA, DATASUS e PNADs de 2001 a 2011.Obs: (i) Os valores entre parênteses são os desvios padrão (ii) *Indica nível de significância de 1% (iii) **Modelo a ser analisado (Efeito Fixo) A variável saneamento sanitário capta os domicílios que possuem saneamento sanitário, ou seja, mostra as condições sanitárias da população, sendo estaticamente significativa para os estados um 163

164 brasileiros. Conforme os dados da Tabela 1, a redução da privação de saneamento básico reduz a TMI nos estados brasileiros. Tais dados corroboram com os estudos de Mendonça e Motta (2005). As estimações das elasticidades da Cobertura do Programa Saúde da Família PSF na Tabela 1, pelo efeito fixo (modelo 1), foi de ( ), enquanto que o índice de gini, renda per capita, e acesso a saneamento sanitário nas Tabela 1 e 2 (modelo 1 e 4) foram de ( e ), ( e ) e ( e ), respectivamente. Os resultados indicam que a variável de maior impacto no modelo 1 (Tabela 1) é a cobertura do PSF, seguida do índice de Gini e renda per capita. Dessa forma, tais dados servem para auxiliar o processo de elaboração de políticas públicas de combate da redução da TMI, haja vista que apresentaram maior impacto na análise (efeito fixo). A Tabela 2 apresenta os resultados do modelo da equação (11) e (12) respectivamente. Foram estimados também usando o modelo linear de dados em painel, em que, após a realização do teste de Hausman (12), auferiu-se que a estimação por efeito aleatório é a mais apropriada para a estrutura dos dados. Ao aceitar a hipótese nula, o modelo efeitos aleatórios é o mais apropriado para explicar as oscilações na TMI. Dessa forma, a análise será pautada apenas com os estimadores de efeitos aleatórios. Tabela 2 Estimações dos modelos 3 e 4 pelos efeitos fixos e aleatórios da redução da TMI para o Brasil, Estimadores Modelo 3 (Efeito fixo) Modelo 4** (Efeito aleatório) Constanteβ ( ) 0.000* ( ) 0.000* Lnginiβ ( ) 0.001* β2renpercapit ( ) 0.000* β3anosestud ( ) 0.000* Lnβ4saneasan ( ) 0.000* ( ) 0.000* ( ) 0.000* ( ) 0.003* ( ) 0.000* R N Test Hausman Chic >5% Fonte: Resultados obtidos pelos autores a partir dos dados do IPEADATA, DATASUS e PNADs de 2001 a

165 Obs: (i) Os valores entre parênteses são os desvios padrão. (ii) *Indica nível de significância de 1%. (iii)** Modelo a ser analisado (Efeito Aleatório). As variáveis que causaram maior impacto no modelo 4 (efeito aleatório) foram: índice de Gini, renda per capita e a média de anos estudos das mães com 25 anos ou mais. Os resultados foram de ( ), ( ) e ( ), seguido da variável saneamento sanitário com impacto de ( ), respectivamente. A determinação da TMI via a renda per capita e a escolaridade corrobora com estudos da literatura especializada, pois revela que o maior número de óbitos infantil se dá em famílias de renda baixa, e nas famílias em que as mães possuem uma baixa escolaridade. De conformidade com Maia; Sousa e Mendes (2012) esse resultado assume significância uma vez que a escolaridade materna é tida como um indicador da condição socioeconômica da mãe e de sua família, relacionando-se nesse contexto com o perfil cultural e comportamental, ligados aos cuidados de saúde, agindo como importante determinante da mortalidade infantil. O presente estudo corrobora os resultados encontrados por Macinko et al. (2006), no qual realizou o estudo ecológico incluindo 537 microrregiões no Brasil, onde observou que depois de controlarem outros determinantes da saúde, notaram que um aumento de 10% dos investimentos do PSF acarretava uma queda de 0,45% na taxa de mortalidade infantil. Uma redução maior que o impacto da renda per capita, e anos de estudo das mães, além de confirmar a hipótese que em áreas não cobertas pelo PSF tende a uma maior ocorrência de óbitos infantis (LIRA et al., 2004). 6 Conclusão O objetivo do artigo foi analisar os fatores condicionantes da redução da Taxa de Mortalidade Infantil TMI nos estados brasileiros no período de 2001 a A metodologia empregada utilizada consistiu na estimação de uma equação linear, na qual a variação da redução da TMI é explicada por características socioeconômicas como: cobertura do Programa Saúde da Família, índice de Gini, renda per capita, anos de estudos das mulheres com 25 anos médios de estudo ou mais, e domicílios com acesso a condição de saneamento sanitário para um painel de dados com 26 estados do Brasil mais o Distrito Federal, no período de 10 anos que compreende de 2001 a Em geral, os resultados mostraram que a redução da TMI está intrinsecamente relacionadas às políticas públicas de combate, bem como as condições socioeconômicas do país, região, estados e municípios. Revelou que políticas públicas de combate da desigualdade de renda são mais 165

166 eficientes na redução da TMI do que a própria política vigente (PSF), bem como políticas de combate a pobreza e de acesso à educação são fatores condicionantes a redução da TMI, e por fim políticas que expandam o saneamento básico. Dessa forma, infere-se que a redução da desigualdade de renda, do aumento na renda per capita, ampliação à educação e saneamento compõe uns dos principais determinantes da Taxa de Mortalidade Infantil. Se políticas públicas não forem criadas com base nessas evidências empíricas, corre o risco de uma estagnação da TMI. As evidências deste estudo contribuem para o debate sobre as tendências futuras da TMI nos estados brasileiros. Os resultados indicam que a medida que há aumentos de investimentos no PSF, e em políticas públicas e/ou programas que reduzam a desigualdade de renda, que aumente a renda per capita, expanda o acesso à escolaridade e saneamento, a TMI reduz de forma altamente significativa. Portanto, os resultados dessa pesquisa podem ser utilizados para o planejamento e/ou formulação de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento e crescimento socioeconômico como estratégica de redução da TMI. Uma vez detectada os fatores determinantes da TMI. Cabe ainda resaltar que outros fatores devem ser considerados na análise para futuros trabalhos, a exemplo nos municípios brasileiros no mesmo período do presente estudo, e/ou por regiões, e por fim nos municípios de cada Estado. Referências ALMEIDA, Wanessa da Silva de; SZWARCWALD, Célia Landmann. Mortalidade infantil e acesso geográfico ao parto nos municípios brasileiros. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 46,n. 1,Feb ALVES, Denisard; BELLUZZO, Walter. Child Health and Infant Mortality in Brazil. Economics & Human Biology, Volume 2, Issue 3, December 2004, Pages ANDRADE, M. V.; NORONHA, K. V. M. S.; MENEZES, R. M.; SOUZA, M. N.; REIS, C. B.; MARTINS, R. M. Desigualdade Socioeconômica no acesso aos serviços de saúde no Brasil: Um Estudo Comparativo entre as Regiões Brasileiras em 1998 e Economia Aplicada, v. 17, n. 4, pp , AQUINO, Rosana, OLIVEIRA, Nelson F. de; BARRETO, Mauricio L. Impact of the Family Health Program on Infant Mortality in Brazilian Municipalities. American Journal of Public Health, January 2009, Vol 99, No

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169 SILVA, Carla Conceição de Lima; JUSTO, Wellington Ribeiro. Determinantes da mortalidade infantil no Ceará no período : Uma Abordagem em Dados em Painel. Disponível em: EARA%20NO%20PERIODO%201991_2000.pdf. Acesso em: 18.mar SILVA,Vera Lucia Schmidt da; SANTOS, Iná S;MEDRONHA, Nélida Souza; MATIJASEVICH, Alicia. Mortalidade infantil na cidade de Pelotas, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, no período : uso da investigação de óbitos na análise das causas evitáveis. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 21(2): , abr-jun SOUSA, Tanara Rosângela Vieira; LEITE FILHO, Paulo Amilton Maia. Análise por dados em painel do status de saúde no Nordeste Brasileiro. Rev Saúde Pública. São Paulo, 2008; 42(5): THE WORDL BANK. Disponível em:< Acesso em: 20. Fev WILKINSON, R.G.; PICKETT, K. E. Income inequality and population health: a review and explanation of the evidence. Social Science & Medicine, 62(7), p , WOOLDRIDGE, Jeffrey M. Econometric Analysis of Cross Section and Panel Data.The MIT Press, Cambridge, MA, YUNES, Garcia N.M, ALBUQUERQUE, B.M. Monoparentalidade,pobreza e resiliência: entre as crenças dos profissionais e as possibilidades da convivência familiar. Psicol Reflex Crit 2007; 20:

170 ÁREA TEMÁTICA: 4 DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS O IMPACTO DO PRONAF NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR DO CEARÁ LADISLAU DA SILVA FERNANDES Graduando, Universidade Regional do Cariri (URCA), Ceará-Brasil <ladislau.trumpet2009@hotmail.com> WANNY VIEIRA PEREIRA Graduanda, Universidade Regional do Cariri (URCA), Ceará-Brasil <wannyfleres@hotmail.com> WELLINGTON RIBEIRO JUSTO Doutor, Universidade Regional do Cariri (URCA), Ceará-Brasil <justowr@yahoo.com.br> NATANIELE DOS SANTOS ALENCAR Graduanda, Universidade Regional do Cariri (URCA). nataniele-santos@hotmail.com 170

171 IMPACTO DO PRONAF NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR DO CEARÁ RESUMO: O PRONAF é uma das principais políticas agrícolas implantada no Brasil nos últimos anos voltadas para o agricultor familiar. O objetivo deste trabalho é estimar uma função de produção para as principais culturas cultivadas pelos agricultores familiares: arroz, feijão, milho e mandioca no estado do Ceará. Buscou-se também analisar possíveis efeitos do PRONAF na produção destas culturas, assim como fazer uma análise comparativa da produção entre as mesorregiões do estado. Utilizaram-se dados do SIDRA-IBGE para o período 1990 a Foram estimados modelos de regressão múltipla com variáveis dummies com dados em painel. Os resultados apontaram que o PRONAF impactou de forma positiva apenas na produção do Arroz elevando a produção em mais de 50%. A mesorregião Sul destacou-se na liderança da produção das culturas analisadas. Palavras-Chave: Agricultura Familiar; PRONAF; Função de Produção. ABSTRACT: PRONAF is a major agricultural policies implemented in Brazil in recent years focused on the family farm. The objective of this paper is to estimate a production function for the main crops cultivated by the farmers: rice, beans, maize and cassava in the state of Ceará. Attempt was also made to analyze possible effects of PRONAF in the crop yields as well as a comparative analysis of production between the areas of the State. We used data from SIDRA-IBGE for the period 1990 to Multiple regression models were estimated with dummy variables with panel data. The results showed that the PRONAF positively impacted only in raising the production of rice production by over 50%. The South mesoregion stood out in the lead crop production analyzed. Key-Words: Family Farming; PRONAF; Productivity. 1. INTRODUÇÃO Muito se discute sobre a importância da agricultura familiar, pois se sabe que ela é responsável por grande parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, assim como pela geração de emprego e renda no campo contribuindo para a permanência do homem no campo. Em território brasileiro, por volta da década de 1990, a agricultura foi fortemente afetada pelo processo de abertura comercial e de desregulamentação dos mercados (CASTRO; CAMPOS, 2010, p. 95). Ainda segundo Castro e Campos (2010), atualmente pode-se ter uma noção que estes elementos realmente eram submetidos a uma concorrência intensa com países do Mercosul, em face das sucessivas dificuldades que se instalou a partir da crise da segunda metade da década de Segundo a AIAF (Ano Internacional da Agricultura Familiar ) a agricultura familiar consiste em um meio de organização da produção rural que são gerenciadas e operadas por uma família e predominantemente dependente de mão de obra familiar. Ou seja, a agricultura familiar 171

172 inclui todas as atividades agrícolas de base familiar e está ligada a diversas áreas do desenvolvimento rural. Nesse sentido, este artigo busca estimar a função de produção para as principais culturas cultivadas pelos agricultores familiares cearenses, com finalidade de identificar possíveis impactos do Pronaf na produção destas culturas. Para uma melhor visão das análises feitas, o presente trabalho está estruturado em quatro seções, incluindo esta introdução. A seção dois faz uma retrospectiva de alguns conceitos e conhecimentos literários em relação a agricultura familiar e o programa nacional de fortalecimento da agricultura familiar (PRONAF); na seção três apresenta-se a metodologia utilizada para a construção deste estudo e as variáveis utilizadas. A seção quatro traz os resultados das análises iniciais assim como das estimações e finalmente a última seção traz as conclusões e sugestões. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. Agricultura Familiar Em nível mundial há uma grande dificuldade de definição homogênea para a agricultura familiar. No Brasil, de acordo com a lei de 24 de julho de 2006, agricultor familiar é toda pessoa que desenvolve atividades econômicas no âmbito rural e que possui propriedade de até 4 módulos fiscais (5 a 100 ha) bem como, apresenta mão de obra da própria família e que tenha sua renda advinda em maior parte da atividade agropecuária (BRASIL, 2006). O termo agricultura familiar não é necessariamente uma novidade, mas seu uso recente vem adquirindo novos significados, por conta da vasta abrangência nos meios acadêmicos, nas políticas governamentais e nos movimentos sociais. A definição do que vem a ser agricultura familiar é fundamental para que haja o desenvolvimento dessa área. Nesse contexto, é importante ressaltar que esta não pode ser confundida com agricultura de subsistência. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que consiste no órgão responsável pelas políticas nacionais de desenvolvimento social, agricultura familiar pode ser entendida basicamente como um modo de produção onde há interação, pelo fato do próprio agricultor familiar já ser a pessoa que comanda o processo produtivo. Assim, é evidenciada por sua 172

173 importância no que cerne ao fluxo de emprego e na produção de alimentos, voltada principalmente para o autoconsumo. Desse modo, o segmento familiar da agricultura brasileira, ainda que muito heterogêneo, responde por importante parcela da produção agropecuária. No que se refere ao estado do Ceará, de acordo FUNCEME (Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos), apud O Povo (2013), é possível afirmar que nos anos de 1990, 1992 e 1993 o estado enfrentou imensas dificuldades devido à seca 14, afetando assim diretamente a produção agrícola e as perspectivas dos agricultores sobre a produção futura e o bem estar familiar. Diante deste contexto, o governo tem se preocupado, implantando políticas públicas no combate à redução das desigualdades e buscando melhorar o bem estar das famílias inseridas no meio rural. Busca-se também, promover o acesso democrático aos recursos produtivos, atribuindo assim diversos mecanismos de fomento à produção, o combate à fome e geração de emprego e renda (DAMASCENO; KHAN; LIMA, 2011). Nesse sentido, de imediato, a iniciativa concreta ocorreu em meados dos anos 1996, com a instituição do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), na qual o elevado custo e a escassez de crédito eram apontados como os principais problemas enfrentados pelos agricultores (GUANZIROLI, 2002). Em suma, o PRONAF surge, portanto, com o objetivo de promover o aumento da capacidade produtiva, ampliação da renda e, consequentemente, contribuir com a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e familiares. A seguir será abordado de forma mais detalhada ações desta política pública Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF O PRONAF é uma das principais políticas brasileira, tanto na área social quanto na área da agricultura. Iniciou-se na segunda metade da década de 1990, mais precisamente em 1995, pela resolução CMN/BACEN nº de 24/08/95, porém, só foi criado definitivamente em 08 de junho de 1996, pelo decreto presidencial nº Visando melhorar as condições do produtor familiar. O PRONAF oferece crédito para financiar investimentos no âmbito rural. O PRONAF, em 1996, foi criado para atender a uma antiga reivindicação das organizações dos (as) trabalhadores (as) rurais, as quais demandavam a formulação e a implantação de políticas de desenvolvimento rural especificas para o maior segmento da agricultura 14 Existem diversos conceitos de seca. A seca climatológica refere-se à ocorrência, em um dado espaço e tempo, de uma deficiência no total de chuvas em relação aos padrões normais que determinaram as necessidades. Esse tipo de seca tem como causa natural a circulação global da atmosfera e pode resultar em redução na produção agrícola e no fornecimento de água, seja para abastecimento, seja para outros usos (CAMPOS e STUDARD, 2001,pg 3.). 173

174 brasileira, porém o mais fragilizado em termos de capacidade técnica e de inserção nos mercados agropecuários (GRYBOWSKI et al, 2006, p.8). O PRONAF foi desenvolvido pelo ministério do desenvolvimento agrário (MDA), num momento em que os custos elevadíssimos e a falta de financiamento eram vistos pelos agricultores como os principais problemas que impediam o desenvolvimento da produção familiar (GUANZIROLI, 2007). Desse modo, o programa veio a oferecer custeio para projetos agropecuários sejam eles grupais, coletivos ou individuais. Tal programa, com suas baixíssimas taxas de juros proporcionam assim, facilidade nas negociações e diminui a inadimplência dos financiamentos rurais. Essa ideia surgiu a partir da década de 1990 quando o Governo a criou numa tentativa de proporcionar uma melhoria de vida para os agricultores. Com relação ao funcionamento do programa, podem-se destacar, de acordo com o Banco Central do Brasil, quatro instrumentos básicos: (1) oferta de linhas de crédito especiais, a taxas de juros preferenciais, e com menores exigências de garantias do que as existentes no mercado; (2) financiamento, a fundo perdido, de investimentos em infraestrutura econômica de sustentáculo aos pequenos produtores; (3) oferta de assistência técnica aos beneficiários do programa; (4) oferta de oportunidades de capacitação profissional. O PRONAF encontra-se dividido em várias modalidades, entre as quais o PRONAF (A, A/C, B, C, D, E) bem como linhas especiais (PRONAF semiárido, mulher, jovem, agroecologia, eco, custeio e comercialização entre outros) (BRASIL, 2006). A partir do surgimento do PRONAF, os agricultores familiares passaram a dispor de crédito com juros mais barato e em maior quantidade, no qual possibilitou deslumbrarem novas perspectivas de investimento e financiamento da produção buscando elevar a sua renda. Por serem responsáveis por uma parcela significativa da produção dos principais alimentos consumidos pela população, os agricultores almejavam obter significantes resultados positivos através desse programa Declaração de Aptidão ao PRONAF A Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), de acordo com o Manual do Credito Rural (MCR) consiste em um instrumento de identificação dos agricultores familiares bem como, suas formas associativas organizadas em pessoas jurídicas, aptos a realizarem operações de crédito rural ao amparo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Esse documento pode ser emitido em qualquer órgão ou entidades credenciadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MCR p. 12). 174

175 No que se referem às características, a DAP apresenta distinções com relação à emissão, podendo ser enquadradas em (I) DAP para pessoa física, onde cada unidade familiar pode adquirir apenas uma, com validade de seis anos a contar da data de envio e tem sua origem vinculada ao município onde reside a família. (II) DAP para pessoa jurídica que, por sua vez tem validade de um ano ou quando o número de associados superar 10% do número de associados considerados inicialmente e por fim a (III) DAP para entidade familiar, que compreende o conjunto da família nuclear (marido ou companheiro, esposa ou companheira, e filhos) e eventuais agregados, que explorem o mesmo estabelecimento rural sob as mais variadas condições de posse, de gestão estritamente da família, incluídos os casos em que o estabelecimento seja explorado por indivíduo sem família Tipos de PRONAF que se enquadra o Agricultor Familiar Podem-se destacar entre as diversas modalidades do PRONAF, o PRONAF B, C, A/C, D e E, como sendo as que enquadram mais adequadamente o agricultor familiar. Diante disso, na sequência serão apresentadas as características de cada um deles. De acordo com o Manual do Credito Rural (MCR) (2013) o grupo "B" enquadra agricultores familiares que explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário ou parceiro; residam nas propriedades ou em local próximo; não disponham, de área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor; obtenham, no mínimo, 30% (trinta por cento) da renda familiar da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento; tenham o trabalho familiar como base na exploração do estabelecimento e obtenham renda bruta anual familiar de até R$4.000,00 (quatro mil reais), excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades rurais. Para o grupo "C" destacam-se agricultores familiares que explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA); residam na propriedade ou em local próximo; não disponham, a qualquer título, de área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor; obtenham, no mínimo, 60% (sessenta por cento) da renda familiar da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento; tenham o trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, utilizando apenas eventualmente o trabalho assalariado, de acordo com as exigências sazonais da atividade agropecuária e obtenha renda bruta anual familiar acima de 175

176 R$4.000,00 (quatro mil reais) e até R$18.000,00 (dezoito mil reais), excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades rurais. Para o grupo "A/C" cabem os agricultores familiares egressos do Grupo "A" ou que já contrataram a primeira operação no Grupo "A", que não contraíram financiamento de custeio nos Grupos "C", "D" ou "E" e que apresentarem a DAP para o Grupo "A/C" fornecida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) para os beneficiários do PNRA ou pela Unidade Técnica Estadual ou Regional (UTE/UTR) para os beneficiados pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário. O grupo "D" também se assemelha aos anteriores já que conta com agricultores familiares que explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do PNRA; residam na propriedade ou em local próximo; não disponham, a qualquer título, de área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor; obtenham, no mínimo, 70% (setenta por cento) da renda familiar da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento; tenham o trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, podendo manter até 2 (dois) empregados permanentes, sendo admitido ainda o recurso eventual à ajuda de terceiros, quando a natureza sazonal da atividade o exigir e obtenham renda bruta anual familiar acima de R$18.000,00 (dezoito mil reais) e até R$50.000,00 (cinquenta mil reais), incluída a renda proveniente de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele, por qualquer componente da família, excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades rurais. E por fim o grupo "E" que, por sua vez, conta com agricultores familiares que explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do PNRA; residam na propriedade ou em local próximo; não disponham, a qualquer título, de área superior a 4 (quatro) módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor; obtenham, no mínimo, 80% (oitenta por cento) da renda familiar da exploração agropecuária e não-agropecuária do estabelecimento; tenham o trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, podendo manter até 2 (dois) empregados permanentes, admitido ainda a eventual ajuda de terceiros, quando a natureza sazonal da atividade o exigir e obtenham renda bruta anual familiar acima de R$50.000,00 (cinquenta mil reais) e até R$ ,00 (cento e dez mil reais), incluída a renda proveniente de atividades desenvolvidas no estabelecimento e fora dele, por qualquer componente da família, excluídos os benefícios sociais e os proventos previdenciários decorrentes de atividades rurais. 176

177 Nota-se, nestes casos, que as características para cada tipo de PRONAF são quase idênticas modificando, apenas, o valor bruto anual da renda e o percentual mínimo da renda familiar obtida a partir da exploração agropecuária Créditos de Custeio, Comercialização e Investimento De acordo com o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (SICOOB), que consiste no órgão responsável pela disponibilização de linhas de crédito, o crédito de comercialização é destinado a auxiliar o produtor rural na comercialização de seus produtos no mercado. Por sua vez, esse recurso pode ser repassado por três tipos de programas: pré-comercialização a partir de recursos obrigatórios; desconto de duplicata e nota promissória rural e pré-comercialização PRONAF. O crédito de custeio agrícola destina-se à aquisição de insumos, realização de tratos culturais e colheita, beneficiamento ou industrialização do produto financiado e produção de mudas e sementes certificadas e fiscalizadas. Os recursos para estes programas são oriundos do PRONAF (agricultura familiar); PRONAMP (médio produtor) e poupança Rural. A linha de crédito destinada para investimentos agrícola dispõe de recursos para a ampliação e modernização da produção. Inclui a aquisição de tratores, máquinas agrícolas, colheitadeiras, caminhões, carrocerias, implementos, projetos de correção e recuperação do solo, construção, reformas ou ampliação de armazéns, silos, galpões, implantação de sistemas de armazenagem, de irrigação, de beneficiamento, industrialização e comercialização, ações de adequação e preservação ambiental, entre outros. Tendo como programas de distribuição os mesmos citados no custeio. 3. METODOLOGIA 3.1. Área de Estudo e Fonte de Dados O presente estudo tem como foco, analisar a dinâmica de produtividade das principais culturas da agricultura familiar no estado do Ceará, a partir das mesorregiões: Centro-Sul Cearense, Jaguaribe, Metropolitana de Fortaleza, Noroeste Cearense, Norte Cearense, Sertões Cearenses e Sul Cearense. As culturas que estão sendo analisadas são: arroz, feijão, milho e mandioca Variáveis Utilizadas e Modelo Empírico As variáveis utilizadas nos modelos estimados são: produção, área plantada, produtividade, valor da produção, dpronaf que é uma dummy que assume valor 1 para os anos onde ocorreram 177

178 contratações, nas mesorregiões, de alguma das modalidades do Pronaf: Custeio, Investimento e Comercialização. Foram criadas variáveis dummies para as seis mesorregiões para captar possíveis comportamentos distintos da produção das culturas analisadas entre as mesorregiões. A mesorregião de referência é a Sul Cearense. O modelo empírico utilizado é o de regressão linear múltipla com dados em painel com variáveis dummies. As variáveis estão em logaritmo, assim têm-se as elasticidades parciais da produção em relação a cada uma das variáveis explicativas. O modelo a ser estimado é o modelo com efeitos aleatórios. Os modelos com efeitos aleatórios consideram a constante não como um parâmetro fixo, mas como um parâmetro aleatório não observável. O modelo a ser estimado segue a seguinte equação seguindo Greene (2008): Y it N aidi i 1 bx it... u it (1) Com Di a variável Dummy referente ao indivíduo i (mesorregião). T compreende o período: 1991 a Admite-se que todos os erros são homoscedásticos e não autocorrelacionados. A autocorrelação dos erros dentro do próprio indivíduo (within-unit autocorrelation) torna os estimadores OLS não eficientes e os erros padrão inválidos. A solução é estimar o modelo de efeitos aleatórios pelo método GLS (Método dos Mínimos Quadrados Generalizados), obtendo-se estimadores eficientes. Para corrigir problemas de heteroscedaticidade serão estimados erros padrões robustos por meio de bootstrap. As estimações serão feitas no STATA RESULTADOS 4.1. Estatística Descritiva Nesta seção optou-se por organizar as estatísticas descritivas das variáveis por mesorregião. Desta forma tem-se não somente uma visão de cada variável ao longo do tempo, mas também a distribuição geográfica destas. O período de análise vai de 1990 a Nas tabelas 1, 2, 3 e 4 são apresentadas respectivamente as variáveis: área plantada, produção, produtividade e contratos do PRONAF. Sendo feito uma análise comparativa entre todas as culturas estudadas, referindo-se aos valores da média, desvio padrão, do valor mínimo, máximo e do coeficiente de variação. Na tabela 1 observa-se que na cultura do arroz destacam-se com maior média de área plantada ao longo do período as mesorregiões do Centro-Sul e Sul Cearense, áreas estas tradicionais na 178

179 produção desta cultura. A maior variabilidade, contudo é na mesorregião Metropolitana que também apresenta a menor média entre todas as áreas analisadas. Na área plantada com a cultura do feijão destacam-se respectivamente a mesorregião dos Sertões e Noroeste, respectivamente com as maiores médias de área plantada. A Mesorregião do Jaguaribe, contudo foi a área com maior variabilidade desta variável ao longo do período analisado. A área plantada do milho apresentou as maiores médias nas mesorregiões dos Sertões e Sul Cearense. Vale ressaltar que estas áreas têm recebido atenção especial da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (EMATERCE) que implantou o programa de plantio direto. Este projeto recebe o apoio da associação dos criadores de aves do estado. Tabela 1: Área plantada das principais culturas da agricultura familiar nas mesorregiões do Estado do Ceará MESORREGIÕES MÉDIA DESVIO PADRÃO CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA VARIÁVEL: ÁREA PLANTADA ARROZ MÍNIMO MAXIMO COEFICIENTE DE VARIAÇÃO , , , , , ,1551 JAGUARIBE 6.413, , ,3435 NOROESTE CEARENSE 5.292, , ,2030 NORTE CEARENSE 5.090, , SERTÕES CEARENSE 3.997, , ,4612 SUL CEARENSE , , ,5070 TOTAL 7.142, , ,8084 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA FEIJÃO , , , , , ,3439 JAGUARIBE , , ,3652 NOROESTE CEARENSE , , ,1999 NORTE CEARENSE , , SERTÕES , , ,

180 CEARENSE SUL CEARENSE , ,2307 TOTAL , , ,6895 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA MILHO , , , , , ,1652 JAGUARIBE , , , 3559 NOROESTE CEARENSE , ,1799 NORTE CEARENSE , , SERTÕES CEARENSE , , ,2437 SUL CEARENSE , , ,1230 TOTAL , , ,0800 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA MANDIOCA 306, , , , , ,3480 JAGUARIBE 4.914, , ,5729 NOROESTE CEARENSE , ,2864 NORTE CEARENSE , , SERTÕES CEARENSE 3.322, , ,5715 SUL CEARENSE , , ,3509 TOTAL , , ,0800 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA/IBGE. As mesorregiões com a maior média de área plantada com a cultura da mandioca no Ceará são, respectivamente, Noroeste Cearense e Norte. A maior variabilidade, contudo é na Centro-Sul que não apresenta tradição no cultivo desta cultura. A variabilidade da produção da mandioca é a maior entre as culturas analisadas. A mandioca diferentemente das demais culturas que são anuais tem o seu ciclo maior levando cerca de 18 a 24 meses para ser colhida. Desta forma está mais exposta a variação dos invernos que são irregulares no estado. 180

181 A tabela 2 traz a estatística descritiva da variável Produção das culturas de arroz, feijão, milho e mandioca no período analisado, ou seja, entre 1990 e Na qual a maior média anual da produção do arroz é na mesorregião Centro-Sul com um valor de mais de 33 mil toneladas. A mesorregião Metropolitana de Fortaleza, é a que apresenta a menor média anual de produção com cerca de 2 mil toneladas e com a maior variabilidade na produção. Ressalta-se que, em geral, a variabilidade da produção do arroz é maior que a variabilidade da variável área plantada. Este resultado é de certa forma esperado, pois se tem tanto a produção de sequeiro como em áreas de várzea e irrigadas o que faz, especialmente as áreas de sequeiro mais vulneráveis às estiagens comuns no estado. Ainda na tabela 2 observa-se que a mesorregião Sertões Cearenses se destaca com a maior média anual da produção do feijão com cerca de 43 mil toneladas. A Mesorregião Metropolitana de Fortaleza apresenta a menor média anula com cerca de 3,5 mil toneladas, assim como a maior variabilidade. A produção do feijão, em média tem uma variabilidade menor que a produção do arroz. Em parte, isto é explicado em virtude do tipo de feijão mais cultivado no estado ser o feijão do tipo macassar 15 que tem ciclo menor que 90 dias o que o torna menos exposto às variações que o arroz que tem ciclo de vida maior. Há também uma maior homogeneidade da produção do feijão entre as mesorregiões do estado quando comparado ao arroz. A produção do milho é bastante concentrada nas mesorregiões Sertões e Sul Cearense, com média anual de 127 e 114 mil toneladas, respectivamente. A menor média da produção do milho é na mesorregião Metropolitana de Fortaleza com cerca de 4 mil toneladas. Contudo, a maior variabilidade da produção ocorre na área que mais produz, isto é, os Sertões Cearenses, tornado assim a produção do estão bastante instável. Em geral, a variabilidade da produção do milho é maior que a cultura do feijão. Tabela 2: Produção das principais culturas da agricultura familiar nas mesorregiões do Estado do Ceará MESORREGIÕES MÉDIA DESVIO PADRÃO CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA VARIÁVEL: PRODUÇÃO ARROZ MÍNIMO MAXIMO COEFICIENTE DE VARIAÇÃO , , , , , , Também conhecido popularmente como feijão de corda abrange variedades da espécie Vigna unguiculata. 181

182 JAGUARIBE , , ,6023 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE 2.992, , , , , , , , ,8899 SUL CEARENSE , , ,8569 TOTAL , , ,3455 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA FEIJÃO 9.723, , , , , ,6504 JAGUARIBE , , ,5360 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE , , , , , , , ,6049 SUL CEARENSE , , ,5205 TOTAL , , ,8270 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA MILHO , , , , , ,4609 JAGUARIBE , , ,5545 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE , , , , , , , , ,7267 SUL CEARENSE , , ,6207 TOTAL , , ,0891 MANDIOCA 182

183 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA 2.683, , , , , ,3455 JAGUARIBE , , ,7275 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE , , , , , , , ,5061 SUL CEARENSE , , ,4131 TOTAL , , ,0327 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA/IBGE Ainda na tabela 2 têm-se as informações da produção da cultura da mandioca entre as mesorregiões estaduais. A produção desta cultura é bastante concentrada nas mesorregiões Noroeste e Norte Cearense com média anual de produção, respectivamente, de 259 e 225 mil toneladas. A mesorregião do Jaguaribe apresenta a menor média anula de produção, mas com a maior variabilidade. A cultura da mandioca é das mais tradicionais no estado e tem como objetivo maior a produção de farinha e goma, muito utilizada na culinária cearense, especialmente a primeira, na mesa dos mais pobres. As estatísticas descritivas da produtividade das culturas: Arroz, Feijão, Milho e Arroz nas mesorregiões cearenses são apresentadas na tabela 3. A maior produtividade média anual da cultura do arroz foi na mesorregião do Jaguaribe, o que de certa forma pe esperado já nesta mesorregião têm-se maiores áreas irrigadas e de várzeas mais propícias para esta cultura. A produtividade média anual nesta mesorregião é de cerca de 3,6 mil kg/ha e é bastante superior que a produtividade nas demais mesorregiões. A produtividade na mesorregião Noroeste, que é a menor entre as mesorregiões é de cerca de 547 kg/ha. A produtividade do arroz apresenta uma das mais baixas variabilidades entre todas as variáveis analisadas. Em geral a produtividade do feijão é bastante baixa em todas as mesorregiões do estado. A menor produtividade média anual foi na mesorregião Noroeste com cerca de 238 kg/ha e maior na mesorregião do Jaguaribe com cerca de 409kg/ha. Contudo, a máxima produtividade conseguida foi de 553 kg/ha na mesorregião dos Sertões Cearenses. 183

184 A maior produtividade média anual do milho foi na mesorregião Sul com cerca de 1050 kg/ha. Foi também nesta mesorregião que se registrou a maior produtividade nesta cultura com cerca de 2090kg/ha. Este resultado é esperado tendo em vista o programa de plantio direto adotado pela EMATERCE que tem forte impacto na produtividade por manter por mais tempo a umidade do solo assim como melhorar a sua conservação. Dentre todas as culturas analisadas a mandioca foi a que apresentou menor variabilidade da produtividade média entre as mesorregiões do estado. O destaque fica por conta da mesorregião Sul com produtividade acima das 10t/ha enquanto a menor foi registrada em Jaguaribe. A cadeia produtiva da mandioca tem recebido atenção especial no município de Araripe na Mesorregião Sul Cearense. Este município destaca-se entre os maiores produtores de mandioca no Ceará (OLIVEIRA e JUSTO, 2013). Tabela 3: Produtividade das culturas: Arroz, Feijão, Milho e Mandioca nas mesorregiões do Estado do Ceará MESORREGIÕES MÉDIA DESVIO PADRÃO CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA VARIÁVEL: PRODUTIVIDADE ARROZ MÍNIMO MAXIMO COEFICIENTE DE VARIAÇÃO 2,1483 0,7896 0,7142 3,5793 0,3675 0,8874 0,5136 0,0804 2,2088 0,5787 JAGUARIBE ,4591 0,3766 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE 0,5471 0,2796 0,1005 1,1360 0,5111 0,9111 0,4450 0,1895 1,6791 0,4884 0,7519 0,4785 0,0497 1,4989 0,6364 SUL CEARENSE 0,9817 0,5590 0,0884 1,9496 0,5694 TOTAL 1,4089 1,2461 0,0497 6,4591 0,8844 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA FEIJÃO 0,2898 0,1049 0,1276 3,5793 0,3622 0,3336 0,1177 0,0497 2,2088 0,3527 JAGUARIBE 0,4049 0,1424 0,0982 6,4591 0,

185 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE 0,2480 0,1070 0,0597 0,4754 0,4316 0,2383 0,1152 0,0455 0,4440 0,4833 0,2444 0,1352 0,0160 0,4800 0,5533 SUL CEARENSE 0,3169 0,1550 0,0864 0,5721 0,4891 TOTAL 0,2966 0,1363 0,0160 0,6254 0,4598 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA MILHO 0,7002 0,4209 0, ,6011 0,5300 0,2433 0,0116 0,8830 0,4591 JAGUARIBE 0,6696 0,3145 0,0400 1,3596 0,4696 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE 0,4584 0,2096 0,0527 0,5017 0,2781 0,0307 0,5823 0,3610 0,0096 0,8103 0,4572 0,9998 0,5543 1,2854 0,6199 SUL CEARENSE ,5840 0,1784 2,0905 0,5554 TOTAL 0,6368 0,3973 0,0096 2,0905 0,6239 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA MANDIOCA 9,6112 3,1518 1, ,9764 0,3279 9,0225 2,2675 4, ,4573 0,2513 JAGUARIBE 7,0917 2,7475 1, ,1798 0,3874 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE 7,8198 3,4096 2, ,6345 0,4360 7,7022 2,2870 2, ,1800 0,2969 8,2025 3,2795 1, ,1505 0,3998 SUL CEARENSE 10,0148 3,1315 0, ,7314 0,3127 TOTAL 8,4950 3,0427 0, ,6345 0,3582 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA/IBGE 185

186 Na tabela 4 é apresentada a estatística descritiva do número de contratos do pronaf: Custeio, Investimento, Comercialização e Total por mesorregião do estado do Ceará. Tratando-se do número de contratos de custeio, a maior média anual ocorreu na mesorregião Sertões Cearense com 4,8 mil contratos. Contudo, a menor média anual destes contratos ocorreu na mesorregião Metropolitana de Fortaleza onde apenas 159 contratos foram efetivados anualmente. O maior valor de contratos anuais do Pronaf Custeio, no período analisado, foi de quase 15 mil contratos na Mesorregião Sertões enquanto o menor número foi na Metropolitana de Fortaleza com apenas 34 contratos. Tabela 4: Estatísticas descritivas do número de contratos do PRONAF por finalidade nas mesorregiões do Estado do Ceará MESORREGIÕES MÉDIA DESVIO PADRÃO CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA VARIÁVEL: CONTRATOS DO PRONAF CUSTEIO MÍNIMO MAXIMO COEFICIENTE DE VARIAÇÃO 1.740, , , , , ,3092 JAGUARIBE 1.697, ,4896 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE 2.070, , , , , , , , ,7911 SUL CEARENSE 2.969, , ,6097 TOTAL 2.603, , ,9854 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA INVESTIMENTO 1.081, , , , , ,8719 JAGUARIBE ,7218 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE 7.747, , , , , ,7218 SERTÕES 5.626, , ,

187 CEARENSE SUL CEARENSE 2.635, , ,8310 TOTAL 4.228, , ,5988 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA COMERCIALIZAÇÃO 1,4286 1, , , , ,5070 JAGUARIBE 3, , ,3343 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE 11, , ,9056 6, , ,9506 3, , ,9201 SUL CEARENSE 0, , ,6408 TOTAL 15, , ,0697 CENTRO-SUL CEARENSE METROPOLITANA DE FORTALEZA PRONAF 2.823, , , , , ,7327 JAGUARIBE 3.170, , ,0750 NOROESTE CEARENSE NORTE CEARENSE SERTÕES CEARENSE 9.828, , , , , , , , ,2 0,8366 SUL CEARENSE 5.605, , ,5631 TOTAL 6.847, ,6522 Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do SIDRA/IBGE Em relação ao número total de operações de contrato do PRONAF, tem-se ainda segundo a tabela 4 que a maior média ocorreu na mesorregião Sertões com mais de 10 mil contratos. A menor média do número total de operações do PRONAF ocorreu na mesorregião Metropolitana de Fortaleza. Isto não surpreende haja vista esta área compreender vários municípios com alto índice de urbanização e pouca tradição na agricultura. 4.2 Resultados das Estimações 187

188 A tabela 5 traz os resultados das estimações da equação (1) para as culturas da Mandioca, Arroz, Feijão e Milho para o período 1991 a Para cada uma das culturas analisadas tem-se que a variável dependente é o logaritmo da produção. Na função de produção da mandioca, tem-se que os coeficientes das variáveis: Lnárea, Lnprodv, são significantes a 1% e apresentam os sinais esperados. Ou seja, uma elevação de 1% na área plantada eleva a produção em 0,85%. O mesmo aumento na produtividade eleva a produção em 0,93%. O coeficiente da variável valor da produção não foi significante, desta forma não se pode afirmar sobre o efeito desta variável na variável dependente. O coeficiente da dummy pronaf não foi significante. Este resultado indica que não há diferença na produção da mandioca no Ceará antes e depois da implantação do PRONAF. O coeficiente da dummy2 foi significante a 1% e negativo. Este resultado mostra uma diferença de aproximadamente 9% desfavorável à produção média da mandioca da mesorregião Norte em relação à mesorregião Sul que é a área de referência. Como os demais coeficientes das dummies das mesorregiões não foram significativas indica não haver diferença na produção média destas em relação à mesorregião Sul. Na estimação da função de produção do arroz, tem-se pela tabela 5 que os coeficientes das variáveis Dpronaf foi significante a 1%, ou seja, há uma diferença na produção média do arroz, após a implantação do PRONAF, de cerca de 58%. O coeficiente da variável Lnvp também é significante a 1%, logo uma elevação no valor da produção em 1% eleva a produção em 0,79%. O coeficiente da variável LN área foi significante a 10%, neste caso, uma elevação de 1% da área eleva a produção em 0,21%. O coeficiente da variável Lnprodv foi significante a 5%, sendo assim uma elevação de 1% na produtividade do arroz eleva a produção desta cultura em 0,24%. Não há diferença na produção média das mesorregiões Noroeste, Norte e Centro-Sul em relação à mesorregião Sul, haja vista que os coeficientes das dummies destas mesorregiões não foram significantes. Contudo, a produção média anual de arroz nas mesorregiões: Metropolitana, Sertões e Jaguaribe são menores que à produção média anual da mesorregião Sul em aproximadamente, 21,5%, 12,6% e 8,5%, respectivamente. Não se observou diferença na produção média anual do feijão entre as sete mesorregiões analisadas tendo em vista que os coeficientes das dummies regionais não forma significantes. Contudo, os coeficientes das variáveis Lnvp, Lnárea e Lnprodv são significantes a 1% no modelo que estima a função de produção do feijão. Um aumento de 1% no valor da produção do feijão eleva a produção em 0,3%. Aumentando a área plantada em 1% a produção do feijão cresce 0,67%. Já um aumento de 1% na produtividade do feijão, que é bastante baixa, como verificado na 188

189 estatística descritiva, eleva a produção em 0,78%. A implantação do PRONAF não teve efeito na produção do feijão haja vista que o coeficiente da variável Dpronaf não foi significativo. Tabela 5: Função de produção das culturas: Arroz, Feijão, Milho e Mandioca nas Mesorregiões do Estado do Ceará: Mandioca Arroz Feijão Milho Variável Coeficiente Coeficiente Coeficiente Coeficiente Dpronaf (1.08) (4.25) * (1.30) (1.21) Lnvp (1.62) (6.71) * (2.33)* (22.55)* Lnárea (9.80)* (1.82)*** (4.43)* (1.97)** Lnprodv (18.60)* (1.96)** (7.09)* (2.77)* dum (1.80) (0.36) (1.58) (3.94)* dum (2.12)* (0.84) (1.96) (5.42)* dum (1.56) (2.27)* (1.31) (4.68)* dum (1.40) (2.24)* (0.29) (2.52)* dum (1.43) (1.81)*** (1.65) (3.33)* dum (1.96) (1.67) (0.73) (0.94) Constante (1.62) (2.62)* (0.42) (5.42)* N Wald chi2(10) Prob (0.0000) Prob (0.0000) Prob (0.0000) Prob (0.0000) Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da XXXX. Nota: Estatística t entre parêntesis. * Signficiante a 1%, ** significante a 5% e *** significante a 10%. 189

190 A estimação da função de produção do Milho no estado do Ceará pode ser visto na última coluna da tabela 5. Os coeficientes das variáveis Lnvp, Lnprodv foram significantes a 1% e o coeficiente da variável Lnárea foi significante a 5%. Um aumento de 1% no valor da produção, na área plantada e na produtividade do milho, elevam, respectivamente à produção do milho em: 0,8%, 0,04% e 0,17%. O PRONAF também não se mostrou relevante na produção do milho haja vista a não significância do coeficiente desta variável. A média anual da produção do milho na mesorregião Centro-Sul não difere da mesorregião Sul. Contudo, as demais mesorregiões apresentaram médias anuais de produção menores. As diferenças são aproximadamente: Noroeste - 22,9%; Norte -37,5%; Metropolitana de Fortaleza -59,3%; Sertões -14,8% e Jaguaribe -19,1%. Os modelos estimados das funções de produção da Mandioca, Arroz, Feijão e Milho foram validados como podem ser vistos pelos prob dos testes de Wald. 6. CONCLUSÕES E SUGESTÕES O Pronaf é uma política pública que busca permitir os agricultores familiares acesso ao crédito rural com intuito de elevarem o seu bem-estar através da elevação da renda das propriedades familiares. Este trabalho buscou estimar a função de produção das culturas do arroz, feijão, milho e mandioca que são as principais culturas cultivadas pelos agricultores familiares no Ceará. Com base nos SIDRA-IBGE, utilizando dados em painel tendo como unidade as mesorregiões do estado do Ceará e compreendendo o período de 1990 a Os resultados apontaram que as variáveis: área plantada, valor da produção e produtividade são importantes para explicar a produção das culturas analisadas. O Pronaf foi significativamente importante para a elevação da produção do arroz com impacto na produção de mais de 50%. O mesmo, contudo, não aconteceu nas demais culturas. A cultura de arroz, mesmo entre os agricultores familiares, costuma ter um nível de tecnologia mais avançado incluindo a irrigação. É possível, então, que agricultores que cultivem esta cultura tenham buscado maior volume de crédito do Pronaf explicando em parte estes resultados. 190

191 Observaram-se também, diferenças significativas na produção destas culturas entre as mesorregiões do estado. A mesorregião Sul destacou-se na produção liderando isoladamente ou dividindo a liderança com outra mesorregião a depender da cultura analisada. Estes resultados, contudo devem ser vistos com cautela haja vista que a ausência de dados de outras variáveis para o período analisado pode mascarar estes resultados. Outra questão é que não foi possível obtenção dos valores do Pronaf isoladamente para cada uma das culturas, mas somente o número de contratos e valor por modalidade do Pronaf. Uma variável omitida é a seca. Não há consenso, no entanto, em classificar os anos de seca para as mesorregiões dada a irregularidade das chuvas em cada um dos municípios das mesorregiões. Fica como sugestão para trabalhos futuros estimar os modelos com variável que apreenda os anos de seca assim como os valores dos contratos do Pronaf por cultura. Referências AZEVEDO, F. F.; PESSÔA, V. L. S. Sociedade & Natureza. Uberlândia, ano 23 n. 3, Disponível em: < >. Acesso em: 22 out BITTENCOURT, G. A.; BIANCHINI, V. Agricultura Familiar na Região Sul do Brasil, Consultoria UTF/036-FAO/INCRA, Disponível em: < Acesso em: 13 out CAMPOS,J.N.B.;STUDARD,T.M.C. Secas no nordeste do brasil: origens, causas e soluções. DEHA: UFC. Fortaleza, Disponível em << _de_junho_def.pdf>>. Acesso em 16/08/2014. CASTRO, F. J. A.; CAMPOS, R. T. Os Impactos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar na qualidade de vida dos beneficiários no estado do Ceará: um estudo de caso. Revista de desenvolvimento do Ceará IPECE. Nº 01. p. 20. Out DAMASCENO, N. P.; KHAN, A. S.; LIMA, P. V. P. O Impacto do PRONAF sobre a Sustentabilidade da Agricultura Familiar, Geração de Emprego e Renda no Estado do Ceará. Revista de Economia e Sociologia Rural, Brasília, vol.49, jan./mar Disponível em: < Acesso em: 01 fev FAMILIAR Ano Internacional da Agricultura (AIAF). [S.I.:s.n.] disponível em: < acesso em 01 fev FRANÇA, C. G. de; DEL G. M. E.; MARQUES, V. P. M. de A. O censo agropecuário 2006 e a Agricultura Familiar no Brasil Brasília: MDA, p. Disponível em: < Acesso em: 16 out

192 FREITAS, S. H. A.; MATOS, V. D. Estimativa do mercado de carne suína no Estado do Ceará: uma aplicação do método dos mínimos quadrados ordinários em dois estágios. [S.I.:s.n] p. 6, Disponível em: < Acesso em: 08 fev GREENE, William H. Econometric Analysis. (6ª ed.) New Jersey: Pearson Prentice Hall, GUANZIROLI, C. E. PRONAF dez anos depois: resultados e perspectivas para o desenvolvimento rural. Revista de Economia e Sociedade Rural. RER, Rio de Janeiro, vol. 45, nº 02, p , abr/jun Impressa em abril Disponível em: < Acesso em: 13 dez GUANZIROLI, C. E. PRONAF dez anos depois: Resultados e Perspectivas para o desenvolvimento rural, Santa Cruz: [s.n.] GRZYBOWSKI, C. et al. Instituto Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas (IBASE). Rio de Janeiro/RJ: [s.n.] Disponível em: < %20Enviar.pdf>. Acesso em: 23 out INSTITUTO Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Brasil: disponível em: < na=1>.acesso em: 13 out INSTITUTO Nacional de Colonização e Reforma Agrária. Novo Retrato da Agricultura Familiar O Brasil redescoberto. Brasília, Disponível em: < Acesso em: 03 nov MARY, A.; TÚLIO, D. A história da seca no Ceará. Fortaleza: O POVO online, Disponível em: < Acesso em: 05 de fev de MANUAL DO CRÉDITO RURAL (MCR). Banco Central do Brasil, Disponível em<< Acesso em 19/08/2014. MINISTÉRIO do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). [S.I.:s.n.] disponível em: < Acesso em: 22 out OLIVEIRA, R.M.; JUSTO, W.R..; Análise da cadeia produtiva da mandioca no município de Araripe(CE) em In: Anais da VIII SOBER NORDESTE. Parnamirin (PI), PRESIDÊNCIA da República. LEI Nº , DE 24 DE JULHO DE [S.I.:s.n.] disponível em: < Acesso em: 09 fev PRESIDÊNCIA da República/Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. [S.I.:s.n.] disponível em: < Acesso em: 22 out PRONAF. Plano safra para a agricultura familiar Brasília, Disponível em: < Acesso em: 20 out PRONAF Manual do crédito rural plano safra da agricultura familiar Brasília, [s.n.] Disponível em: < Acesso em: 20 out

193 REZENDE, O. L. T. ; FREITAS, R. C. O. Coordenadoria de Matemática: Estatística Descritiva. P. 3. [19-?] disponível em <ftp://ftp.cefetes.br/cursos/matematica/gelson/estatistica/estatistica_descritiva.pdf> Acessado em 10 de fev. de 2014 SISTEMA de Cooperativas de Crédito do Brasil (SICOOB). [S.I.:s.n.] disponível em: < 247, 249>. Acesso em: 01 fev

194 ÁREA TEMÁTICA: Desenvolvimento Regional e Políticas Públicas ANÁLISE DO PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF) COMO FORMA DE CUSTEIO E INVESTIMENTO Gerlânia Maria Rocha Sousa Economista, Mestre em Economia Rural, Professora substituta da Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA), gerlaniarocha@gmail.com, telefone: (88) Emanoel Márcio Nunes Economista, Doutor em Desenvolvimento Rural, Professor adjunto da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), emanoelnunes@uern.br, telefone: (84) Andréa Ferreira da Silva Economista, Doutoranda em Economia... Janaildo Soares... Economista, Mestrando em Economia Rural, ..., telefone: (83) Meire Eugênia Duarte Economista, Professora substituta da Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA), meire.duarte@hotmail.com, telefone: (84)

195 ANÁLISE DO PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR (PRONAF) COMO FORMA DE CUSTEIO E INVESTIMENTO RESUMO: O presente artigo tem como objetivo analisar as ações do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), buscando interpretar e explicar as ações do mesmo na produção agrícola, analisando quais os impactos em relação à disponibilização de crédito para custeio e investimento e a influência nas diferentes formas de organizações coletivas para os agricultores dos municípios de Apodi (RN) e Janduís (RN) vinculados a Rede Xique Xique de Comercialização Solidária. Os dados trabalhados foram retirados dos questionários correspondentes à pesquisa já sistematizada e desenvolvida em dez núcleos/ municípios do estado do Rio Grande do Norte pelo grupo de pesquisa Desenvolvimento regional: agricultura e petróleo do DEC/FACEM/UERN, através do projeto A construção de mercados para a agricultura familiar: processos e práticas da produção agroecológica e de comercialização solidária da Rede Xique-Xique. O resultado aponta que o PRONAF vem ganhando grande proporção nos últimos anos e se constituiu em um importante avanço em termos da ampliação do acesso ao crédito rural formal. Observou-se um forte impacto nos dois municípios, porém ainda há uma grande deficiência em relação ao fato da maior parcela do crédito ser destinado para o investimento. Essa realidade demonstra uma necessidade de mais apoio no desenvolvimento das diferentes formas de organizações além do fornecimento de serviços de acompanhamento técnico e de suporte para os agricultores familiares. Palavras-chaves: Agricultura Familiar; Crédito Rural; PRONAF. ABSTRACT: This article aims to analyze the actions of the National Family Farming Strengthening Program (PRONAF), seeking to interpret and explain the actions of the same in agricultural production, analyzing the impacts regarding the availability of credit for working capital and investment and the influence the different forms of collective organizations for farmers in the municipalities of Apodi (RN) and Janduís (RN) linked to Xique Xique of Solidarity Network Marketing. Data were taken from questionnaires worked corresponding to the already systematic research and developed over ten nuclei / municipalities in the state of Rio Grande do Norte by the research group "Regional development: agriculture and oil" from the DEC / FACEM / UERN through the project " building markets for family farmers: processes and practices of agroecological production and joint marketing of Xique-Xique network ". The result shows that PRONAF has gained large proportion in recent years and became an important advance in terms of expanding access to formal rural credit. There was a strong impact in both cities, but there is still a great deficiency in relation to the fact that the largest share of credit be allocated for investment. This reality demonstrates a need for more support in the development of different forms of organizations beyond the provision of technical assistance and support services for family farmers. Keywords: Family Farming; Rural credit; PRONAF. 195

196 1. Introdução A agricultura familiar, principalmente no Brasil, sempre foi considerada por defensores da modernização agrícola um segmento atrasado, de pouco interesse econômico para sociedade e menor significância analítica para a academia. Por um longo período, os chamados camponeses 16 foram mantidos fora do alcance das políticas públicas, estas necessárias para sua participação no processo de desenvolvimento econômico. Neste contexto, o acesso às políticas, o reconhecimento da capacidade de organização coletiva e a inserção em mercados com o domínio de habilidades de comercialização sempre representaram grandes obstáculos para o segmento da agricultura familiar. As práticas de comercialização dos agricultores familiares sempre geraram certa falta de estímulo, pois na maioria das vezes só tinham condições para cultivar alimentos para o próprio consumo, ou em outros casos, destinavam sua colheita a intermediários ou atravessadores que determinavam o preço e pagavam bem abaixo do que o custo para produzi-la. Diante desses problemas e limitações comuns a este segmento, em meados dos anos 1990 movimentos de reivindicação conseguem fazer com que o governo desenvolva ações no sentido de criar políticas públicas voltadas para a agricultura familiar, visando o fortalecimento dos mercados locais e regionais em dinâmicas de desenvolvimento rural. Das políticas, os enfoques de desenvolvimento dos anos 1990 e territorial para o rural dos anos 2000 deram a característica maior para as políticas públicas, representando vias mais adequadas para pensar o planejamento e ações no nível local e regional, ressaltando, portanto, o caráter pluriativo 17 das famílias e multifuncional das unidades familiares de produção e sua inserção em mercados cada vez mais dinâmicos. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) foi a mais importante política pública dos anos 1990 em favor da agricultura familiar, sendo um instrumento estratégico de política agrícola exclusivo para os agricultores familiares. O PRONAF caracteriza-se como uma política com o foco na oferta, voltada apenas para o financiamento da produção e da estrutura econômica através de uma quantidade significativa de crédito dividida entre custeio e investimento. Segundo Sousa (2006), apesar da região Nordeste 16 Camponeses são unidades domésticas com acesso a seus meios de vida na terra, utilizando principalmente trabalho familiar na produção agropecuária, sempre localizadas num sistema econômico global, mas fundamentalmente caracterizadas pelo seu engajamento parcial em mercados que tendem a funcionar com alto grau de imperfeição (Ellis apud Abramovay, 1998, pg. 126.) 17 Para Schneider (2006), a pluriatividade refere-se a um fenômeno que se caracteriza pela combinação das múltiplas inserções ocupacionais das pessoas que pertencem a uma mesma família. A emergência da pluriatividade ocorre em situações em que os membros que compõem as famílias domiciliadas nos espaços rurais combinam a atividade agrícola com outras formas de ocupação em atividades não agrícolas. 196

197 concentrar cerca de 50,0% dos estabelecimentos familiares, historicamente, o volume de recursos é bem inferior ao aplicado na região Sul, embora o volume dos financiamentos realizados nas regiões Nordeste, Norte e Sudeste tenham crescido. Assim, o presente artigo tem como objetivo analisar quais os impactos do PRONAF em relação à disponibilização de crédito para custeio e investimento e a influência nas diferentes formas de organizações coletivas para os agricultores dos municípios de Apodi (RN) e Janduís (RN) vinculados a Rede Xique Xique de Comercialização Solidária. Para um melhor entendimento, o trabalho está estruturado em cinco partes. Na primeira seção temos a introdução; na segunda seção são apresentadas as bases teóricas, estas relevantes para a interpretação e explicação da análise da pesquisa proposta. A seção três se refere à metodologia aplicada; na seção quatro está a análise dos resultados da pesquisa com dados sobre o PRONAF. Na seção cinco têm-se as considerações finais e, por último, na seção seis segue as referências bibliográficas utilizadas no trabalho. 2. Referencial Teórico 2.1 Agricultura Familiar no Âmbito do Desenvolvimento Rural No Brasil, a partir dos anos 1990 começaram a emergir as discussões a respeito da agricultura familiar principalmente na região Sul, reduzindo a antiga ideia de que o campesinato é um simples modo de produção associado com a agricultura pobre e de subsistência e que estaria condenado ao desaparecimento. Dentre alguns estudos referentes ao campesinato, os agricultores deste modo de produção eram vistos como empecilho ao desenvolvimento capitalista. Porém, essa afirmativa errônea é contrastada com a visão atual de que o agricultor familiar (camponês) é a base do desenvolvimento rural local, através da sua capacidade de organização coletiva e de diversificação produtiva, reduzindo custos e abrindo novos mercados locais e regionais. Abramovay (1998) afirma que no segmento da agricultura familiar subentende que a gestão da propriedade e o trabalho estejam sobre o controle da família, ou seja, advém da não separação entre o trabalho e sua gestão, em que os meios de produção pertencem aqueles que os utilizam. Nesses ambientes, a produção familiar pode produzir a um baixo custo, pois não há remuneração de mão-de-obra numa lógica de submissão, a exemplo do assalariamento nas relações de trabalho. Schneider (2009) destaca que a agricultura familiar é uma forma social reconhecida e legítima em 197

198 vários países desenvolvidos, nos quais a estrutura agrária é composta por explorações em que o trabalho da família é de grande importância. Nesse contexto, a agricultura familiar passa a se inserir nas discussões a respeito do desenvolvimento rural, que implica na diversificação dos produtos e na inserção em mercados, buscando um baixo custo para a produção, não perdendo o caráter familiar. Como afirma Kageyama (2004), o desenvolvimento rural procura formas de redução de custos a partir de novos padrões tecnológicos; tenta reconstruir a agricultura não apenas no nível dos estabelecimentos, mas em termos regionais e da economia rural como um todo. É uma forma de fuga das limitações impostas para os agricultores familiares, buscando não só o desenvolvimento rural, mas a diversificação produtiva e o aumento dos níveis de renda. As formas que os agricultores familiares têm para se fortalecerem e se incluírem nos mercados são por meio da criação de organizações (grupos, cooperativas e associações), como uma forma diferenciada de valorizar e diversificar a produção e fornecer aos seus sócios melhores condições de trabalho, renda e modo de vida, em que a igualdade e o respeito são condições primordiais. Manter o nível das organizações é um desafio para o meio rural, porém ao longo dos anos vêm sendo desenvolvidas políticas públicas no sentido de estruturar e estimular os agricultores familiares nas suas dinâmicas de desenvolvimento rural. 2.2 Políticas Públicas para o Desenvolvimento da Agricultura Familiar Até o final dos anos 1980, as políticas públicas eram voltadas priorizando as grandes fazendas e empresas agrícolas. Segundo Nunes (2009), nesse período de modernização conservadora da agricultura brasileira a produção era praticada por grandes empresas agrícolas para culturas de exportação, e teve o apoio do Estado brasileiro através de políticas agrícolas, a exemplo do crédito, da pesquisa agropecuária, da assistência técnica e da formação de mercados. O modo camponês de fazer agricultura era visto como um atraso ao desenvolvimento e, como afirma Ploeg (2008), mesmo com sua existência reconhecida, as realidades camponesas sempre foram vistas pelos defensores da modernização agrícola como um obstáculo à mudança, obstáculo esse que poderia ser melhorado através da transformação desses camponeses em agentes econômicos mais capitalizados e estruturados, apesar de serem produtores simples de mercadorias. Essa visão tornou-se um empecilho para essa categoria, pois a falta de concepção a respeito do modo familiar de fazer agricultura resultou no desvio de políticas públicas, as quais ficaram voltadas exclusivamente para grandes agricultores. 198

199 Do dos anos 1980 para o início dos anos 1990, ocorreu no Brasil um processo de transição, fazendo emergir políticas públicas governamentais com certa preocupação com a agricultura familiar, ajudando e tentando resgatar e valorizar a produção de produtos agrícolas tradicionais e, consequentemente, aquecer e fortalecer os mercados locais e regionais. De acordo com Nunes (2009), esse processo de transição possibilitou a valorização daquelas regiões menos favorecidas, a exemplo da região Nordeste e parte da região Sul, as quais ainda não tinham sido predominantemente tocadas pelas ações homogeneizantes da revolução verde e das forças da globalização, mantendo preservada ainda uma considerável heterogeneidade e diversidade regional. Como afirma Silva (2006), no período acima citado, a economia brasileira também passava por profundas transformações decorrentes da crise fiscal e de ajuste macroeconômico dos anos 1980 e da intensificação do processo de liberalização comercial e financeira dos anos Dessa forma, mudou-se o foco acerca do papel do Estado no âmbito das políticas públicas e de seus programas, gerando impactos importantes principalmente no setor agrícola. A incorporação da expressão agricultura familiar também ganhou projeção e respaldo em meados dos anos Para Schneider (2009), a manifestação da expressão agricultura familiar na literatura brasileira parece ocorrer, quase concomitantemente, em duas esferas diferentes, no início da década de No campo político, a adoção da expressão parece estar relacionada aos embates que os movimentos sociais, especialmente o sindicalismo rural ligado à central única dos trabalhadores (CUT), tiveram nas discussões acerca do espaço e papel dos agricultores familiares. Através disso, os sindicatos e movimentos sociais de reivindicação ligados ao campo, começaram a se interessar pelos problemas ligados aos agricultores familiares, que até o final dos anos 1980 eram vistos apenas como camponeses opostos aos latifúndios e congregava várias categorias sociais encaixadas sobre uma mesma denominação. Em nosso país, é notório destacar a rica diversidade e heterogeneidade ainda mantida na região Sul, abrindo mesmo assim, espaço para a modernização. Dessa forma, segundo Nunes & Schneider (2012), surgiram políticas públicas direcionadas cada vez mais para a formação de estruturas organizacionais nos meios rurais (cooperativas, associações, redes, grupos, etc.) e institucionais (cooperativismo, associativismo, cooperação, etc.). Tais políticas buscavam apoiar de forma financeira e organizacional o agricultor familiar, trazendo, conforme Nunes & Schneider (2012), a ideia de que além do apoio financeiro, a formação bem sucedida de estruturas de produção econômica e de organização, como as citadas anteriormente, é de suma importância para uma maior autonomia dos agricultores familiares, assim como para a produção diversificada, podendo assim 199

200 haver melhor negociação na inserção em mercados e concorrência com as grandes agroindústrias, promovendo desenvolvimento local. A fim de atender determinadas necessidades, a partir do início dos anos 1990 as políticas públicas tomaram um grau de diferenciação, voltando-se mais especificamente para as temáticas ambientais, sociais, de desenvolvimento rural e de apoio à produção de agricultores familiares. Em meio ao surgimento de algumas políticas voltadas para o agricultor familiar, pode-se citar como uma das ações de política agrícola mais importante a criação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), o qual surgiu em 1996 para ampliar a oferta de crédito para os agricultores. De Acordo com Schneider, Este programa, que em larga medida foi formulado como resposta às pressões do movimento sindical rural, aquelas realizadas desde o início da década de 1990, nasceu com a finalidade de prover crédito agrícola e apoio institucional às categorias de pequenos produtores rurais que vinham sendo alijados das políticas públicas ao longo da década de 1980 e encontravam sérias dificuldades de se manter na atividade. (Schneider, 2009, pg. 35) Com a criação do PRONAF, os movimentos sociais de reivindicação, principalmente os movimentos coordenados pelos sindicalistas, passaram a exigir mais ajuda governamental para a nova categoria intitulada agora como agricultores familiares, acarretando aprimoramento do PRONAF e a necessidade do surgimento de outras políticas de apoio. As avaliações feitas por Nunes (2009) dão conta de que o PRONAF, na forma de crédito individual ou de subsídio para equipamentos coletivos, beneficiou principalmente os agricultores familiares de maior estrutura econômica e de organização, aqueles mais abastados em capital e articulados com a rede bancária, essencialmente nos estados da região Sul do país O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) O PRONAF é caracterizado como uma política com foco na oferta e surgiu em 1996 com o objetivo de subsidiar os agricultores familiares de todo o país para que esses fossem mais capazes de coletivamente desenvolver suas aptidões agrícolas e impulsionar o processo de desenvolvimento rural. De acordo com seu manual operacional, os objetivos gerais do programa são: (i) ajustar políticas públicas à realidade da agricultura familiar; (ii) viabilizar a infraestrutura rural necessária à melhoria do desempenho produtivo e da qualidade de vida da população rural; (iii) fortalecer os serviços de apoio ao desenvolvimento da agricultura familiar; (iv) elevar o nível de 200

201 profissionalização de agricultores familiares, propiciando-lhes novos padrões tecnológicos e gerenciais; e, (v) favorecer o acesso de agricultores familiares e suas organizações ao mercado. De acordo com o quadro 1, o programa possui as seguintes classificações principais: Quadro1: PRONAF: Classificação dos agricultores familiares por grupo em GRUPO Pronaf A Pronaf B PÚBLICO Produtores assentados da Reforma Agrária e/ou beneficiários do Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF do INCRA). Agricultores familiares com renda bruta anual de até R$ 4 mil. Pronaf A/C Egressos do Grupo Pronaf A. Pronaf C Agricultores familiares com renda bruta anual acima de R$ 4 mil e até R$ 18 mil. Pronaf D Pronaf E Fonte: MDA/SAF/PRONAF, Agricultores familiares com renda bruta anual acima de R$ 18 mil e até R$ 50 mil. Agricultores familiares com renda bruta anual acima de R$ 50 mil e até R$ 110 mil. Com o PRONAF, segundo Nunes & Schneider (2012), o Estado tem tentado redirecionar a sua política agrícola para estimular condições necessárias para que forças endógenas possam emergir e se desenvolver através da iniciativa e escolhas dos agricultores familiares no nível local e regional. Porém, ainda ocorrem limitações no ambiente institucional, pois há uma dificuldade para fazer funcionar de forma ampla e eficiente. Numa comparação feita de acordo com pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e do Banco Central do Brasil (BACEN), com relação ao destino de recursos financeiros no país, verifica-se que a quantidade maior de custeio do PRONAF é destinada a região Sul. Já a quantidade maior de investimento do PRONAF é destinada a região Nordeste, o que demonstra uma desigualdade regional na distribuição de recursos financeiros. Esta pequena comparação mostra cada vez mais a definição da região Sul como a de maior obtenção do recurso de custeio (recurso importante e destinado à geração de riqueza onde já existe estrutura econômica e de organização), e a região Nordeste se mostrando como de significativa carência em estrutura econômica e de organização para processar recursos de custeio sendo, consequentemente, a que necessita de mais investimento. Os gráficos 1 e 2 confirmam essas proposições. 201

202 Gráfico 1: Números de Contratos (custeio e investimento) do PRONAF Região Nordeste, Fonte: Bacen, Gráfico 2: Números de Contratos (custeio e investimento) do PRONAF Região Sul, Fonte: Bacen, Um aspecto que suscita preocupação e tem provocado um longo debate em torno dos agricultores familiares, associações, sindicatos e federações ligadas ao campo, é o fato de que, enquanto a região Nordeste concentra a maior quantidade de estabelecimentos familiares, a região 202

203 Valores em R$ Sul concentra a obtenção da maior parte dos recursos financeiros e, consequentemente, de contratos do PRONAF. Quanto ao destino dos recursos financeiros do PRONAF por região, a região Nordeste apresenta um desempenho crescente de 2002/2003 até 2006/2007, e depois declina sendo ultrapassada pela região Sudeste que assume a segunda posição, conforme gráfico 3. Dessa forma, percebe-se mais uma vez a desigualdade da distribuição de recursos financeiros do PRONAF, tão importante para o desenvolvimento regional, especialmente em relação à região menos desenvolvida, a Nordeste, e as regiões mais ricas e desenvolvidas, a Sul e a Sudeste , , , , , , ,00 0,00 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Gráfico 3: PRONAF - Distribuição de recursos (R$) por região do Brasil no período de 1998 a Fonte: IPEA (Anexo Estatístico): PRONAF/SAF/MDA, Elaboração dos autores. Numa comparação entre as regiões, os dados do gráfico 4 mostram que 50% dos agricultores familiares do Brasil se encontram na região Nordeste e obtiveram no período de 1998 a 2010 apenas 19,67% dos recursos do PRONAF. Entretanto, 47,14% dos recursos financeiros do PRONAF são destinados para a região Sul que possui apenas 20% dos agricultores familiares do país, revelando uma disparidade regional, condizente com a realidade apresentada nos gráficos anteriores. 203

204 60,00 50,00 50% 47,14% 40,00 30,00 20,00 19,64% 16% 19,02% 20% 10,00 9% 7,88% 5% 6,32% 0,00 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste % Agricultores Familiares % Crédito do PRONAF Gráfico 4: PRONAF: Agricultores familiares de 1996 a 2008 Fonte: IPEA (Anexo Estatístico): PRONAF/SAF/MDA, Elaboração dos autores. A maior parcela dos recursos liberados pelo PRONAF no período acima citado foi direcionada para a região Sul do Brasil, enquanto coube a região Nordeste uma pequena participação, em relação ao seu elevado número de agricultores familiares existentes na região. Nesta monografia a hipótese que defendemos, e que se estende para a comparação entre os municípios de Apodi e Janduís, é a de que o fator determinante que gera essa diferença entre o Nordeste e a região Sul especialmente é o nível de capacidade de estrutura econômica e de organização coletiva para a geração de riqueza por parte dos agricultores familiares. Como já citado anteriormente, os agricultores da região Sul são mais estruturados, possuem um maior nível organizacional e obtém a partir da combinação entre estes elementos uma renda bem mais considerável que os agricultores familiares nordestinos, podendo ter acesso a mais financiamento, especialmente o de custeio. Isto reforça a necessidade de se repensar em estratégias que possibilitem condições de acesso às linhas de crédito numa relação menos desigual aos estabelecimentos familiares em todo o Brasil, com vistas a reduzir as desigualdades entre as regiões. Nesse sentido, de acordo com Nunes & Schneider (2012), é necessário enfatizar que a promoção de políticas públicas que vislumbram o estímulo às dinâmicas de desenvolvimento rural local em um formato mais horizontal, irá corroborar com a construção de ferramentas para a introdução de uma política agrícola de crédito rural mais dinâmica, menos burocrática, que responda às singularidades locais e dinamize a produção e a economia no nível local e regional. A política de crédito rural é um dos instrumentos mais relevantes de impulso ao desenvolvimento 204

205 rural, e o PRONAF, apesar de não ser tão igualmente disseminado em todas as regiões do país como é na região Sul, onde representa a principal política que os agricultores familiares utilizam para produzirem e comercializarem seus produtos. De acordo com Silva (2006), desde o início dos anos 2000, ocorreram algumas mudanças que, teoricamente, estariam alterando o perfil do PRONAF, no sentido de buscar direcionar os recursos para um número maior de agricultores carentes, estimulando o desenvolvimento rural local. 3. Metodologia O método utilizado no presente artigo consistiu em um estudo comparativo para interpretar e explicar as ações da política pública PAA na produção agrícola, e sua contribuição para o de desenvolvimento das formas de organizações coletivas da agricultura familiar nos municípios Apodi (RN) e Janduís (RN). Quanto à definição da amostra, os dados de caráter descritivo foram retirados dos questionários correspondentes à pesquisa já sistematizada e desenvolvida em dez núcleos/municípios do estado do Rio Grande do Norte pelo grupo de pesquisa Desenvolvimento regional: agricultura e petróleo do DEC/FACEM/UERN, através do projeto A construção de mercados para a agricultura familiar: processos e práticas da produção agroecológica e de comercialização solidária da Rede Xique-Xique. Foram aplicados na pesquisa 175 questionários em Apodi e 13 questionários em Janduís, conforme tabela 1, aos agricultores vinculados a Rede XiqueXique de Comercialização Solidária, no ano de 2011 tomando como referência o ano agrícola Tabela 1: Universo e Número de Comunidades Pesquisadas por Dinâmica (Município) Estudada. TOTAL APODI JANDUÍS N = 188 N = 175 N = 13 Comunidades = 30 Comunidades = 24 Comunidades = 6 Fonte: Elaboração dos Autores a partir da Pesquisa de Campo Realizada em Para o tratamento das informações coletadas na pesquisa de campo, os dados foram manipulados em ambiente SPSS versão Análise dos Resultados Os municípios potiguares de Apodi e Janduís são dois dos doze núcleos integrantes da Rede Xique Xique e dois dos dezessete municípios do Território da Cidadania Sertão do Apodi (RN). O 205

206 município de Apodi (RN) encontra-se localizado na microrregião da Chapada do Apodi da mesorregião Oeste Potiguar. O município é um dos maiores do Território, possui uma área 1.602,480 Km² e habitantes sendo, de acordo com dados do IBGE (2010), uma população rural composta por 52,15% e a urbana 47,85%. Para realização da pesquisa, foram estudados 175 estabelecimentos de agricultura familiar, sendo os mesmos pertencentes a 24 comunidades diferentes que fazem parte da Rede Xique Xique de Comercialização Solidária 18. O município de Janduís (RN) está localizado no Oeste Potiguar, mais precisamente na região do Médio Oeste e, de acordo com o censo do IBGE do ano 2008 sua população era estimada em habitantes em uma área territorial de 305 km². A população rural é composta por 32,80% e a urbana 67,20%. Dentre os estabelecimentos caracterizados como da agricultura familiar, 13 fizeram parte da pesquisa e estão distribuídos em 06 comunidades que também fazem parte da Rede Xique Xique de Comercialização Solidária. Os dois municípios estudados no presente trabalho estão dentro do Território Sertão do Apodi, o qual se localiza na região ocidental do estado do Rio Grande do Norte junto à divisa com o Ceará. O Território Sertão do Apodi é composto por 17 municípios: Apodi, Campo Grande, Itaú, Janduís, Rodolfo Fernandes, Umarizal, Caraúbas, Felipe Guerra, Governador Dix-Sept Rosado, Messias Targino, Olho-d`Água do Borges, Paraú, Patu, Rafael Godeiro, Severiano Melo, Triunfo Potiguar e Upanema. Os instrumentos de política agrícola como o PRONAF vêm ganhando grande proporção nos últimos anos e se constituiu em um importante avanço em termos da ampliação do acesso ao crédito rural formal que antes era destinado em sua maior parte para grandes produtores agrícolas. Nos últimos cinco anos, o perfil do PRONAF vem sendo modificado, ou seja, um número maior de recursos está sendo destinado de um lado para agricultores familiares mais estruturados do Centro-Sul do país e, por outro, para agricultores familiares mais carentes, especialmente da região Nordeste. O governo tem dado mais atenção aos agricultores familiares de pequeno porte, 18 A Rede XiqueXique foi criada em 1999 por um grupo de mulheres, mas sua estruturação direta se deu cinco anos depois com a criação do Espaço de Comercialização Solidária na cidade de Mossoró no ano de A sua estrutura principal é constituída por cerca de 60 grupos produtivos distribuídos em 12 núcleos, tendo sido sistematizados pela pesquisa do projeto A construção de mercados para a agricultura familiar: processos e práticas da produção agroecológica e de comercialização solidária da Rede Xique-Xique apenas 41 grupos em 10 municípios, figura 1 (Dentre eles Apodi e Janduís), no estado do Rio Grande do Norte. A Rede se apresenta como uma experiência de diversificação da agricultura familiar que reúne tanto a prática de uma agricultura sustentável, esta baseada nos princípios da agroecologia, como a ação coletiva via organizações da Economia Solidária. 206

207 principalmente os da região Nordeste. Isso demonstra uma estratégia de inserção de mercados e de tentativas de desenvolvimento rural no nível local. Como citado acima, o estado do Rio Grande do Norte como integrante da região Nordeste possui um grande número de estabelecimentos de agricultores familiares. E com relação à agricultura familiar, os municípios de Janduís e Apodi utilizados na pesquisa para este artigo, assim como o Rio Grande do Norte e como o Nordeste constituem duas realidades parecidas. Nestes dois municípios integram de forma predominante grandes grupos de agricultores familiares carentes que, quando têm acesso, dependem de políticas públicas, a exemplo do PRONAF, para conseguirem produzir e se inserir nos mercados. Abaixo segue as análises quanto à política do PRONAF nos dois municípios. Quanto à obtenção de financiamento ou empréstimo, os dados da pesquisa mostram através do gráfico 6 que nos dois municípios a maioria dos agricultores familiares entrevistados não os obtiveram no ano agrícola Apenas 32% deles em Apodi e 46% em Janduís obtiveram algum tipo de crédito. Entretanto, um dado que chama a atenção é que em Janduís as cooperativas foram as fontes de maior acesso ao crédito para os agricultores familiares, apresentando um percentual em torno de 67%. Essa realidade se deu devido ao fato da maioria dos agricultores familiares desse município estar cooperado da Cooperativa de Crédito Solidário da Agricultura Familiar do Oeste Potiguar (CREDIOSTE SOL) 19 com sede em Apodi (RN). É importante ressaltar que o crédito recebido pelos sócios dessa cooperativa são via PRONAF, o que demonstra uma nova realidade e um diferencial nas políticas de crédito para a agricultura familiar que estão se desenvolvendo atualmente, tornando cada vez mais fácil o acesso ao mesmo. De acordo com Búrigo (2006), desde o início dos anos 2000 as cooperativas de crédito vêm elevando sua participação no PRONAF, principalmente as cooperativas de modelo solidário, a exemplo da CREDIOSTE SOL. A parceria entre as cooperativas de crédito com outros fundos de desenvolvimento é um exemplo interessante e promissor diante das necessidades financeiras dos agricultores familiares mais pobres e das comunidades rurais em que desenvolvem suas atividades. Em relação ao município de Apodi, os dados da pesquisa mostrados no gráfico 7 revelam uma importante ligação dos agricultores familiares a cooperativa, entretanto cerca de 60% dos entrevistados responderam ter sua fonte de crédito em outras linhas de financiamento dos bancos. O acesso ao PRONAF por meio da cooperativa CREDIOSTE SOL em Apodi também é bem 19 Cabe ressaltar que a CREDIOSTE SOL, com sede em Apodi (RN), é a única cooperativa de crédito do Rio Grande do Norte voltada para o atendimento aos agricultores familiares. 207

208 Apodi Janduís significativo, em torno de 37%, e vem obtendo o crescimento considerável como destacado anteriormente. Não sabe Não JANDUÍS APODI Sim Gráfico 6: Obtenção de financiamento ou empréstimo no ano agrícola 2010 (%). Fonte: Elaboração dos autores Pesquisa de Campo, Cooperativas Banco Fundo municipal Cooperativas Banco Gráfico 7: Fontes de Financiamento (%). Fonte: Elaboração dos autores Pesquisa de Campo, Uma vez destacadas as principais fontes de crédito ou financiamento dos municípios de Apodi e de Janduís, é importante analisar a finalidade e destino dos recursos. O crédito para custeio do PRONAF, o qual está relacionado com a geração de riqueza, encontra-se muitas vezes relacionado à manutenção do agricultor familiar destes municípios na compra de animais e de 208

209 insumos para a produção e reforma de instalações. Já o crédito para investimento, o qual geralmente é para construir a estrutura econômica e de organização, é sim utilizado pelos agricultores familiares destes municípios para criação, ampliação ou modernização da infraestrutura e benfeitorias ligadas à produção agrícola na unidade de produção. Além disso, serve para a aquisição de algumas máquinas e equipamentos voltados para a melhoria do processo produtivo. Através dos dados da pesquisa mostrados no gráfico 8, é perceptível que nos dois municípios estudados a maior parte da finalidade do crédito do PRONAF é destinada ao investimento, demonstrando uma realidade de possível inexistência e/ou deficiência de estrutura econômica e de organização. É como na comparação feita acima utilizando a referência da região Sul que, apesar de ter uma parcela menor de agricultores familiares em comparação com a região Nordeste, recebe maior parte dos recursos do PRONAF, sendo a maioria do crédito destinada a custeio, fortalecendo o grau de diferenciação tecnológica entre os agricultores familiares das duas regiões. É importante destacar que no município de Apodi uma parcela considerável de crédito, ou seja, mais de 40% é designada a custeio. Essa é uma realidade positiva que vem aumentando ao longo dos anos em consequência do aumento do número de grupos, cooperativas e de associações no município de Apodi. Na verdade, na medida em que os agricultores familiares se juntam nessas formas de organizações coletivas eles passam a vender grande parte da produção coletivamente, elevando o grau de diversidade produtiva e abrindo mais oportunidade em mercados locais e regionais. Dessa forma, os agricultores familiares começam a possuir cada vez mais bens coletivos que são utilizados nos estabelecimentos rurais para a produção agrícola. No gráfico 9 são detalhadas informações da pesquisa acerca dos tipos de organizações coletivas e a quantidade existente nos dois municípios. Em Janduís a organização coletiva de grupos, cooperativas e associações ainda é quase inexistente, predominando o maior número de unidades familiares, mesmo que estas utilizem a cooperativa, a exemplo da CREIOESTE-SOL. É por isso, por estarem mais individualizados que surge a necessidade dos agricultores familiares em adquirir crédito mais para investimento que custeio, pois não têm recursos financeiros suficientes para a compra de materiais e construção de infraestrutura de produção. O PRONAF gera um forte impacto nos dois municípios, porém ainda há uma grande deficiência em relação ao fato da maior parcela do crédito ser destinado para o investimento. Essa realidade demonstra uma necessidade de mais apoio na construção de grupos, cooperativas e de associações, além do fornecimento de serviços de acompanhamento técnico e de suporte para os 209

210 Apodi Janduís agricultores familiares. É nestes termos que o PRONAF, na condição de foco na oferta, necessita ser articulado com uma política com foco na demanda, como o PAA. Havendo demanda, haverá capital e, consequentemente, evolução das unidades produtivas fortalecendo cada vez mais as dinâmicas de desenvolvimento rural no nível local e regional. Investimento Custeio Investimento Custeio Gráfico 8: Finalidade para crédito ou financiamento (%). Fonte: Elaboração dos autores Pesquisa de Campo, Apodi Janduís UNIDADE FAMILIAR GRUPO ASSOCIAÇÃO COOPERATIVA Gráfico 9: Tipos de Organizações. Fonte: Elaboração dos autores Pesquisa de Campo,

211 A tabela abaixo apresenta o número de contratos firmados e o montante investido do PRONAF de 2002 a 2012 nos municípios de Apodi e Janduís. De acordo com os números apresentados percebe-se que em ambos os municípios a partir de 2007 ocorreu uma queda no número de contratos firmados e de montante investido, principalmente no município de Apodi. Isso demonstra os números apresentados anteriormente, ou seja, em Apodi vem ocorrendo um aumento no valor do PRONAF destinado para custeio por isso à queda no montante destinado a investimento. Isso também ocorre por conta da evolução das diferentes formas de organizações, diminuindo o número de contratos firmados. Tabela 2: Contratos firmados e montante investido 2002 a Ano Contratos Montante Contratos Montante Firmados/Apodi Investido/Apodi Firmados/Janduís Investido/Janduís , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,24 251, , , , , , ,7 30, , , ,186 82, ,0195 Total , , , ,816 Fonte: MDA, Elaboração dos autores. 5. Considerações Finais Os aspectos abordados nesse artigo buscaram interpretar e explicar as ações da política pública PRONAF na produção agrícola quanto ao crédito destinado a custeio e investimento, e sua relação com as formas de organizações coletivas da agricultura familiar nos municípios de Apodi (RN) e Janduís (RN). Em ambos os municípios a maior parcela do crédito foi destinada para o investimento e a menor para o custeio, o que sugere a reprodução de regiões carentes e pobres em estrutura econômica e de organização a exemplo do Nordeste. Porém, nota-se algo interessante em Apodi, este revela um considerável aumento do crédito destinado para custeio assim como um aumento das formas de organizações, revelando uma sincronia entre ambos. A interpretação das duas finalidades custeio e investimento, em ambos os municípios demonstram uma realidade específica e de atraso na organização produtiva, específica dos agricultores familiares nordestinos, sendo o PRONAF fundamental para a criação e expansão da estrutura econômica e de 211

212 organizações, necessitando de uma política de apoio para a comercialização e desenvolvimento das formas de organizações. Referências ABRAMOVAY, Ricardo. Paradigmas do Capitalismo Agrário em Questão. 2ª Ed. São Paulo: Editora Unicamp, BCB. Banco Central do Brasil. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONAF. Disponível em: < Acesso em: 20 out BCB. Banco Central do Brasil. Anuário Estatístico do Crédito Rural Disponível em: < Acesso em: 01 nov DENARDI, R. A. Agricultura Familiar e Políticas Públicas: alguns dilemas e desafios para o desenvolvimento rural sustentável. Revista Agroecologia, Porto Alegre, v.2, n.3, jul./set FRANÇA, Andreya Raquel Medeiros de. Agroecologia, Agricultura Familiar e Economia Solidária: Uma Associação para a Diversificação e Sustentabilidade da Rede Xique Xique Trabalho de Conclusão de Curso (Curso Gestão Ambiental) Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UERN. Mossoró, GEHLEN, I. Políticas públicas e desenvolvimento social rural. Revista São Paulo em perspectiva, v. 18, n. 2, Abril/Junho ISSN GLIESSMAN, Stephen. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 4ª edição Porto Alegre, Editora da UFRGS, GUANZIROLI, E. C. Pronaf dez anos depois: resultados e perspectivas para o desenvolvimento rural. Artigo disponível em: < Acesso em: 02 set KAGEYAMA, Angela. Desenvolvimento Rural: conceito e medida. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, v. 21, n. 3, Set/Dez MDA. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Disponível em: < Acesso em: 10 jan MDS. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome. Programa de Aquisição de Alimentos PAA. Disponível em: < Acesso em: 10 nov MORAES, D. A. Crédito rural, sustentabilidade e cidadania: o caso do Pronaf - crédito na agricultura familiar do semi-árido Baiano. Trabalho de conclusão de curso (mestrado), Centro de Filosofia e Ciências Humanas - Universidade Federal de Pernambuco, Recife,

213 NUNES, Emanoel Márcio; SCHNEIDER, S. Economia Agrícola, Instituições e Desenvolvimento Rural: uma análise comparativa da diversificação econômica do Pólo Assu/Mossoró (RN). Revista Econômica do Nordeste, v. 43, p , NUNES, Emanoel Márcio et al. A Inserção da agricultura familiar em mercados: o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) no Território da Cidadania Sertão do Apodi (RN). Artigo disponível em: < Acesso em: 10 set NUNES, Emanoel Márcio. Reestruturação agrícola, instituições e desenvolvimento rural no Nordeste: as dinâmicas regionais e diversificação da agricultura familiar no Pólo Açu Mossoró (RN). Trabalho de conclusão de curso (doutorado), Faculdade de Ciências Econômicas Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, PLOEG, J. D. Van der. Camponeses e Impérios Alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era de globalização. Porto Alegre: Editora UFRGS, PNUD. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Disponível em: < M%2091%2000%20Ranking%20decrescente%20(pelos%20dados%20de%202000).htm> Acesso em: 15 jan SABOURIN, Eric. Camponeses do Brasil: entre a troca mercantil e a reciprocidade. Rio de Janeiro: Garamond, SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e industrialização: pluriatividade e descentralização industrial no Rio Grande do Sul. Porto Alegre, Editora da Universidade, UFRGS, SDT. Secretaria de Desenvolvimento Territorial. Disponível em: < Acesso em: 18 jan TIBÚCIO, B. et al. Políticas de desenvolvimento rural territorial: desafios para construção de um marco jurídico normativo. Série de desenvolvimento rural sustentável, v. 13, Maio A. TIBÚCIO, B. et al. Políticas de desenvolvimento rural territorial: desafios para construção de um marco jurídico normativo. Série de desenvolvimento rural sustentável, v. 14, Agosto B. 213

214 ÁREA TEMÁTICA: DESENVOLVIMENTO REGIONAL E POLÍTICAS PÚBLICAS APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUNICIPAL NAS CIDADES DA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI - CE: ANÁLISE DA DIMENSÃO ECONÔMICA EVERTON PAULO GONÇALVES VIEIRA Graduado em Administração (UFC); Pós-graduando em Administração Financeira na Universidade Regional do Cariri (URCA). Administrador na Universidade Federal do Cariri (UFCA) e.p.g.v@hotmail.com Telefone: (88) WELLINGTON RIBEIRO JUSTO Engenheiro Agrônomo (UFRPE). Economista (URCA). Mestre em Economia Rural (UFC). Doutor em Economia (PIMES-UFPE). Professor Associado do Curso de Economia da URCA. Professor do PPGECON (UFPE). justowr@yahoo.com.br 214

215 APLICAÇÃO DO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL MUNICIPAL NAS CIDADES DA REGIÃO METROPOLITANA DO CARIRI - CE: ANÁLISE DA DIMENSÃO ECONÔMICA RESUMO: O conceito de desenvolvimento sustentável passou do campo teórico para o prático para os economistas há poucas décadas. Foram surgindo metodologias que permitiram incorporar este conceito através de indicadores. A disponibilidade de dados das diversas variáveis que contemplam estes conceitos possibilitou os avanços na mensuração de desenvolvimento nesta visão mais ampla. Este artigo buscou mensurar o índice de desenvolvimento sustentável dos nove municípios da região metropolitana do Cariri cearense a partir dos dados do IPECE para o ano de A metodologia utilizada foi a estimação do Índice de desenvolvimento Sustentável. Os resultados apontaram que a depender do indicador, há discrepância entre os municípios. No índice geral, destacaram-se os municípios de Crato e Juazeiro do Norte por apresentarem nível de desenvolvimento aceitável. Palavras-chaves: Índice de desenvolvimento; Sustentabilidade; Dimensão econômica. ABSTRACT: The concept of sustainable development has moved from the theoretical field for practical for economists a few decades ago. Methodologies have emerged that allowed incorporate this concept through indicators. The availability of data of different variables that come with these concepts enabled advances in the measurement of development in this broader view. This paper aims to measure the sustainable development index of the nine municipalities in the metropolitan region of Cariri in Ceará with IPECE data for the year The methodology used was the estimation of the Sustainable Index. The results pointed that depends on the indicator; there is a discrepancy between the municipalities. Overall index, stood out the municipalities of North Crato and Juazeiro by presenting acceptable level of development. Keywords: Index of development; sustainability; economic dimension. 215

216 1. Introdução A questão da sustentabilidade tem sido discutida intensamente nas últimas décadas. O Brasil teve contribuição importante na busca por um planeta mais sustentável com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, evento que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992, e contou com a presença de representantes de mais de 150 países. A Rio 92, como ficou conhecida a conferência, obteve entre os principais resultados a criação da Agenda 21, documento contendo diretrizes para a construção de uma sociedade mais sustentável para as gerações futuras. Da escala global para a municipal, a preocupação com o bem-estar do meio ambiente, e de todos que fazem parte dele, visando o futuro, passou do campo conceitual para a busca por ferramentas práticas com o objetivo de descobrir os reais problemas e solucioná-los. A criação de um índice foi uma maneira objetiva para atender esta demanda. Dessa forma, o Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal (IDSM) foi uma metodologia criada pelos pesquisadores paraibanos Martins e Cândido (2008), tendo como base o Índice de Desenvolvimento Sustentável (IDS) Brasil, com o objetivo de verificar as condições da sustentabilidade dos municípios comparadas à situação dos demais que compõem o Estado. Este artigo tem como objetivo principal aplicar o IDSM nas cidades que compõem a Região Metropolitana do Cariri³. Como o IDSM é bastante amplo, aborda diversos indicadores na formulação de seus índices, e estes são obtidos pela comparação com todas as cidades do estado (para simular um cenário de ambiente similar a todos os municípios), optou-se trabalhar apenas com parte dele, a dimensão econômica. O IDSM mostra-se uma ferramenta de análise mais completa em relação a outros indicadores, pois engloba as cinco dimensões da sustentabilidade, e dentro delas, diversas variáveis. Além disso, este indicador se utiliza do contexto regional dos municípios que compõem o estado como parâmetro de avaliação. Esta pesquisa tem o ano de 2010 como base, pois este é o ano mais recente que possui dados mais completos para o cálculo da dimensão econômica. Além desta introdução este artigo está dividido em mais três seções. A segunda sessão trata de apresentar alguns conceitos básicos sobre desenvolvimento sustentável. A terceira busca explicar a metodologia utilizada, referindo-se a natureza e fonte dos dados, caracterização da área de estudo e a metodologia do IDSM. A última sessão refere-se aos resultados e discussão acerca da aplicação do indicador. ³ Criada pela Lei Complementar Estadual do Ceará Nº 78 de 26 de junho de Disponível em: 216

217 2. Desenvolvimento Sustentável A premissa básica para a formação do conceito de sustentabilidade é justamente a preocupação com o planeta nos anos que virão. Com base neste princípio, o Relatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum definiu, em 1987, desenvolvimento sustentável como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO apud SANTOS, 2011). Por mais simples que o conceito de desenvolvimento sustentável possa parecer, ele é motivo de discussões há várias décadas. A complexidade deste tema é visível a partir da percepção do quão abrangente ele é. Para Sachs apud VASCONCELOS (2011, p. 23) a sustentabilidade é formada pela integração de cinco dimensões: Figura 1: Dimensões da Sustentabilidade Fonte: Sachs apud Vasconcelos (2011) De acordo com Silva et al. (2012, p. 29) a pluridimensionalidade abordada por Sachs sinaliza diretrizes que devem, sobretudo, buscar soluções para o sistema como um todo, interagindo com as diferentes demandas quer sejam em aspecto ambiental, social, econômico, geográfico ou espaço-territorial, político e cultural. Das cinco dimensões da sustentabilidade é importante destacar a econômica. Goodland & Ledoc apud Baroni (1992, p. 2) relatam que o objetivo primeiro do desenvolvimento sustentável é alcançar um nível de bem-estar econômico razoável e equitativamente distribuído que pode ser perpetuamente continuado por muitas gerações humanas. Na visão de Martins & Cândido apud Vasconcelos (2011, p. 147) a dimensão econômica engloba um conjunto de informações relacionadas aos objetivos ligados ao 217

218 desempenho econômico e financeiro e aos rendimentos da população, considerados de extrema relevância para a implementação do desenvolvimento sustentável. 3. Metodologia 3.1 Natureza e Fonte dos Dados Os dados contidos neste trabalho são de natureza secundária e foram em sua totalidade obtidos através de pesquisas em livros, artigos e web sites, principalmente nas páginas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil e Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. O tipo de pesquisa realizada na produção deste artigo é a pesquisa bibliográfica, definida por Lima (1997, p. 63) como atividade de localização e consulta de fontes diversas de informações escritas, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de um tema. Para Vergara (2006, p. 48), pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral. A maneira como são coletados os dados neste tipo de pesquisa e, principalmente, de que forma serão utilizados eficientemente são questões importantes enfatizadas por Laville e Dionne (1999, p ): Os documentos aportam informação diretamente: os dados estão lá, resta fazer sua triagem, criticá-los, isto é, julgar sua qualidade em função das necessidades da pesquisa, codificá-los ou categorizá-los [...]. Para simplificar, pode-se concluir que a coleta da informação resume-se em reunir os documentos, em descrever ou transcrever eventualmente seu conteúdo e talvez em efetuar uma primeira ordenação das informações para selecionar aquelas que parecem pertinentes. 3.2 Caracterização da Área de Estudo Este trabalho tem como objeto de estudo a Região Metropolitana do Ceará (RMC). Esta região é constituída pelo agrupamento dos municípios de Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Jardim, Missão Velha, Caririaçu, Farias Brito, Nova Olinda e Santana do Cariri para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum (CEARÁ, 2009). O Quadro abaixo mostra dados sobre estes municípios: 218

219 Município Barbalha Quadro 1: Informações básicas Municípios da RMC Informações Básicas Área: 479,18 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: 405 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012) Área: 623,82 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: Caririaçu 375 km; Clima Tropical Quente Semi-árido e Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012) Área: 1.009,20 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: Crato 400 km; Clima Tropical Quente Semi-árido Brando e Tropical Quente Sub-úmido. (IPECE, 2012) Área: 503,7 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: 375 Farias Brito km; Clima Tropical Quente Semi-árido e Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012) Área: 457,03 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: Jardim 435 km; Tropical Quente Semi-árido Brando e Tropical Quente Sub-úmido. (IPECE, 2012) Área: 248,55 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: Juazeiro do Norte 396 km; Clima Tropical Quente Semi-árido e Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012) Área: 651,11 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: Missão Velha 395 km; Clima Tropical Quente Semi-árido e Tropical Quente Semi-árido Brando. (IPECE, 2012) Área: 284,40 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: Nova Olinda 393 km; Clima Tropical Quente Semi-árido, Tropical Quente Semi-árido Brando e Tropical Quente Sub-úmido. (IPECE, 2012) Área: 768,77 km²; População: (2010); Distância em linha reta a capital: Santana do Cariri 406 km; Clima Tropical Quente Semi-árido, Tropical Quente Semi-árido Brando e Tropical Quente Sub-úmido. (IPECE, 2012) Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2012) Visto que as informações básicas sobre desenvolvimento sustentável e a região objeto de estudo desta pesquisa foram apresentados, a metodologia do cálculo do Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal é a próxima etapa na construção desta pesquisa. 3.3 Metodologia do Cálculo do IDSM Martins & Cândido (2011) afirmam que a construção da metodologia do Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal foi formulada com base em critérios mundiais para este tipo de índice, e que as dimensões e variáveis tem por referência propostas de Waquil et. al. (2006) e da publicação Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil Sinteticamente, o IDSM é um índice que propõe calcular o nível de sustentabilidade de determinado município, tomando como orientação a comparação com os demais municípios que fazem parte do mesmo estado. As dimensões da sustentabilidade compõem o IDSM, porém, a 219

220 dimensão espacial foi dividida em demográfica e em político-institucional, e a ecológica foi renomeada como ambiental. No quadro abaixo estão discriminadas as dimensões da sustentabilidade suas respectivas variáveis: Quadro 2: Dimensões e variáveis da sustentabilidade Fonte: Martins & Cândido (2008). As variáveis possuem unidades de medidas diferentes, por isso, foi necessário ajustar os valores numa escala de 0 (zero) a 1 (um). Determinada a variação mínima e máxima da escala, constatou-se que algumas variáveis apresentam relações positivas e negativas. A relação positiva significa que quanto maior o indicador, melhor seu índice, e quanto menor o indicador, pior será o índice. Já a negativa é o oposto. Para a conversão de variável em índice, estas relações podem ser calculadas da seguinte forma (Martins & Cândido, 2011): 220

221 Figura 2: Fórmulas da relação positiva e negativa das variáveis do IDSM Fonte: Martins & Cândido (2011) Após o cálculo da relação positiva ou negativa (dependendo de qual dos dois contextos esteja inserido), o índice é classificado em um nível de sustentabilidade (crítico, alerta, aceitável ou ideal) de acordo com o valor obtido. O quadro a seguir mostra as classificações dos índices dentro da escala de 0 a 1 e suas respectivas representações em cores: Quadro 3: Classificação e representação dos índices em níveis de sustentabilidade. Fonte: Martins & Cândido (2008) Na relação positiva, o menor resultado dentre todos será classificado como 0,0000 e o maior como 1,0000, sendo que os outros resultados variantes entre estes extremos serão classificados a partir do cálculo da relação positiva na figura 2. O mesmo acontece com a relação negativa obedecendo a sua singularidade. 221

222 Definidos todos os pontos principais do IDSM, o passo seguinte é a aplicação nos indicadores que fazem parte da dimensão econômica, no conjunto de municípios que formam a Região Metropolitana do Cariri. 4. Resultados e Discussão A tabela 1 traz a estatística descritiva das variáveis das nove cidades da RMC, além dos valores mínimos e máximos de cada variável em todo estado do Ceará (necessário para o cálculo do IDSM), as médias e os desvios padrão: Município PIB per capita Participação da Indústria no PIB Tabela 1: Variáveis e Estatísticas Descritivas Saldo da Balança Comercial Renda per capita Rendimentos Provenientes do Trabalho Índice de Gini de Distribuição de rendimento Barbalha , ,9 67,57 0,16 Caririaçu , ,1 57,05 0,23 Crato , ,46 71,17 0,23 Farias Brito , ,88 43,64 0,36 Jardim , ,09 54,93 0,27 Juazeiro do Norte Missão Velha Nova Olinda Santana do Cariri , ,53 76,46 0, , ,16 56,46 0, , ,1 62,53 0, , ,7 50,03 0,29 Mínimo , ,62 33,48 0,11 Máximo , ,36 79,75 0,69 Média 5.444,64 0, ,4 267,64 56,46 0,26 Desviopadrão 4.024,56 0, ,92 76,34 9,46 0,09 222

223 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2012/2013), DataSus (2010), Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (2010) e Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010). Devido à especificidade da variável Renda familiar per capita, foi necessário a colocação dos dados em uma tabela à parte, conforme pode ser visto na tabela 2. Tabela 2: Variável Renda Familiar per capita e Estatísticas Descritivas Renda Familiar per capita (%) Município Até ¼ (salário mínimo) Mais de ¼ a ½ (salário mínimo) Mais de ½ a 1 (salário mínimo) Mais de 1 a 2 (salário mínimo) Mais de 2 a 3 (salário mínimo) Mais de 3 (salário mínimo) Barbalha 21,5 32,11 29,59 9,52 2,27 3,07 Caririaçu 36,74 25,45 26,45 5,73 0,78 0,85 Crato 16,92 29,82 29,65 12,01 3,77 5,12 Farias Brito 35,82 22,98 26,78 7,15 0,87 0,7 Jardim 36,17 26,13 25,12 5,62 0,94 1,1 Juazeiro do Norte 15,77 31,6 31,31 11,21 2,89 3,75 Missão Velha 34,48 28,31 26,13 6,66 1,19 1,32 Nova Olinda 32,78 29,19 24,29 5,43 1,18 1,16 Santana do Cariri 42,28 21,57 23,59 5,63 1,06 0,98 Mínimo 7,76 21,57 17,05 2,72 0,38 0,25 Máximo 48,59 39,34 35,73 17,57 6,04 11,86 Média 32,33 27,57 26,16 6,57 1,25 1,24 Desviopadrão 7,96 3,53 3,44 2,1 0,65 1,12 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2012). 223

224 4.1 Produto Interno Bruto per capita A tabela 3 apresenta os índices do Produto Interno Bruto per capita dos municípios da RMC em A relação é positiva, pois quanto maior a variável, maior será a renda média da população local. Tabela 3: Índices do Produto Interno Bruto per capita dos municípios da RMC em Município Saldo Barbalha 0,1368 Caririaçu 0,0118 Crato 0,1032 Farias Brito 0,0197 Jardim 0,0185 Juazeiro do Norte 0,1269 Missão Velha 0,0342 Nova Olinda 0,0381 Santana do Cariri 0,0302 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2013). Todas as cidades da Região Metropolitana do Cariri apresentaram nível crítico de sustentabilidade em relação ao Produto Interno Bruto per capita no ano de Barbalha, Juazeiro do Norte e Crato, respectivamente, foram as que obtiveram os resultados mais expressivos. A primeira, no entanto, é a maior em território e a menor em população das três. 4.2 Participação da Indústria no PIB A tabela 4 traz os índices da participação da indústria no PIB. A relação dessa variável é positiva, pois quanto maior a participação da indústria no PIB, melhor para a economia da região que prioritariamente depende da agricultura e comércio. Tabela 4: Índices da Participação da Indústria no PIB dos municípios da RMC em Município Saldo Barbalha 0,5000 Caririaçu 0,1346 Crato 0,1923 Farias Brito 0,0962 Jardim 0,0577 Juazeiro do Norte 0,2500 Missão Velha 0,2308 Nova Olinda 0,3269 Santana do Cariri 0,

225 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2013). As cidades de Barbalha e Nova Olinda foram as únicas entre as nove cidades a apresentarem o nível de sustentabilidade alerta. As demais se encontram em estado crítico. É importante destacar os resultados das cidades de Juazeiro do Norte e Crato, que apesar de haver grandes indústrias instaladas em ambas, não obtiveram sequer o nível de alerta. Isso provavelmente deve-se a participação do comércio no PIB desses municípios, caracterizando-se como principal atividade econômica, principalmente em Juazeiro do Norte. 4.3 Saldo da Balança Comercial A tabela 5 apresenta os índices do saldo da balança comercial. A relação dessa variável é positiva, pois realizado o cálculo de subtração entre as exportações e importações, quanto maior o resultado, melhor para a economia. Tabela 5: Índices do saldo da balança comercial dos municípios da RMC em Município Saldo Barbalha 0,7394 Caririaçu 0,7663 Crato 0,7794 Farias Brito 0,7663 Jardim 0,7663 Juazeiro do Norte 0,7677 Missão Velha 0,7663 Nova Olinda 0,7663 Santana do Cariri 0,7663 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (2010). Os resultados acima demonstram que oito cidades que compõem a RMC estão em situação ideal, pois obtiveram índices superiores a 0,7501. A única cidade que obteve um resultado menor, entretanto, considerado aceitável, foi o município de Barbalha. 4.4 Renda Familiar per capita em Salários Mínimos A tabela 6 traz os índices da renda familiar per capita em salários mínimos divididos em seis faixas salariais. A relação é negativa até um salário mínimo e positiva para os que recebem acima. 225

226 Tabela 6: Índices da renda familiar per capita em salários mínimos dos municípios da RMC em Município Até 1/4 + de ¼ a 1/2 + de ½ a 1 + de 1 a 2 + de 2 a 3 + de 3 Barbalha 0,6635 0,4069 0,3287 0,4579 0,3339 0,2429 Caririaçu 0,2902 0,7817 0,4968 0,2027 0,0707 0,0517 Crato 0,7757 0,5357 0,3255 0,6256 0,5989 0,4195 Farias Brito 0,3128 0,9207 0,4791 0,2983 0,0866 0,0388 Jardim 0,3042 0,7434 0,5680 0,1953 0,0989 0,0732 Juazeiro do Norte 0,8038 0,4356 0,2366 0,5717 0,4435 0,3015 Missão Velha 0,3456 0,6207 0,5139 0,2653 0,1431 0,0922 Nova Olinda 0,3872 0,5712 0,6124 0,1825 0,1413 0,0784 Santana do Cariri 0,1545 1,0000 0,6499 0,1960 0,1201 0,0629 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do IPECE (2012). A tabela 6 difere das demais por destrinchar o indicador em diversos segmentos, compreendendo desde a faixa de renda familiar daqueles que recebem ¼ do salário mínimo até os que recebem mais de três salários mínimos. É possível notar que os índices acima de um salário mínimo pioram à medida que aumentam, chegando a sete cidades em nível crítico no índice referente a mais de três salários mínimos. Em relação ao resultado geral, Crato foi o município que apresentou o resultado mais regular, pois não demonstrou nível crítico em nenhuma faixa salarial. Do outro lado, a cidade de Santana do Cariri foi a mais irregular entre as nove, apresentando nível crítico em quatro das seis faixas salariais. 4.5 Renda per capita A tabela 7 apresenta os índices da renda per capita dos municípios da RMC em A relação é positiva, pois quanto maior a variável, maior será o índice. Tabela 7: Índices da renda per capita dos municípios da RMC em Município Saldo Barbalha 0,2835 Caririaçu 0,1059 Crato 0,4429 Farias Brito 0,0893 Jardim 0,1030 Juazeiro do Norte 0,3971 Missão Velha 0,1801 Nova Olinda 0,1489 Santana do Cariri 0,0609 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010). 226

227 Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte obtiveram os melhores resultados em relação ao indicador renda per capita, porém não alcançaram o nível aceitável de sustentabilidade. 4.6 Rendimentos provenientes do trabalho A tabela 8 traz os índices de rendimentos provenientes do trabalho. A relação é positiva, ou seja, quanto maior a variável, maior será o índice. Tabela 8: Índices de rendimentos provenientes do trabalho dos municípios da RMC em Município Saldo Barbalha 0,7368 Caririaçu 0,5094 Crato 0,8146 Farias Brito 0,2196 Jardim 0,4636 Juazeiro do Norte 0,9289 Missão Velha 0,4967 Nova Olinda 0,6278 Santana do Cariri 0,3577 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2010). Cinco das nove cidades que formam a Região Metropolitana do Cariri apresentaram nível aceitável ou ideal de sustentabilidade em relação ao indicador de rendimentos provenientes do trabalho. Apenas a cidade de Farias Brito estava em nível crítico no ano de Índice Gini de distribuição de rendimento A tabela 9 traz o índice de Gini de distribuição de rendimentos. A relação é negativa, visto que quanto maior a variável, menor será o índice e vice-versa. Tabela 9: Índice de Gini de distribuição de rendimento dos municípios da RMC em Município Saldo Barbalha 0,9138 Caririaçu 0,7931 Crato 0,7931 Farias Brito 0,5690 Jardim 0,7241 Juazeiro do Norte 0,8793 Missão Velha 0,7931 Nova Olinda 0,6207 Santana do Cariri 0,

228 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do DataSus (2010). Cinco cidades apresentaram nível ideal de sustentabilidade e as outras quatro, nível aceitável. Isso significa que todos os municípios da Região Metropolitana do Ceará tinham, em 2010, uma distribuição equilibrada de rendimentos. 4.8 Dimensão Econômica Calculando a média aritmética de todos os índices, é possível obter o índice da dimensão econômica dos municípios, conforme tabela 10: Tabela 10: Dimensão Econômica dos municípios da RMC em Município Saldo Barbalha 0,4801 Caririaçu 0,3725 Crato 0,5313 Farias Brito 0,3497 Jardim 0,3654 Juazeiro do Norte 0,5117 Missão Velha 0,3916 Nova Olinda 0,3930 Santana do Cariri 0,3717 Fonte: Elaborado pelos autores com base na média das variáveis da IDSM (2015). Crato e Juazeiro do Norte, respectivamente, foram as cidades com níveis de sustentabilidade superiores as outras, encontrando-se em situação aceitável no ano de As demais mantiveram equilíbrio e apresentaram o nível alerta de sustentabilidade. Realizando uma comparação com a dimensão econômica dos municípios da Paraíba, é possível notar estreita semelhança entre as duas regiões. Crato e Juazeiro do Norte se juntam ao rol de nove cidades da Paraíba que obtiveram resultado aceitável. Todos os outros duzentos e quatorze municípios encontravam-se em situação de alerta. Tabela 11: IDHM dos municípios da RMC em 2010 Município IDHM Barbalha 0,683 Caririaçu 0,578 Crato 0,713 Farias Brito 0,633 Jardim 0,614 Juazeiro do Norte 0,694 Missão Velha 0,622 Nova Olinda 0,625 Santana do Cariri 0,612 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2015). 228

229 Em comparação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), calculado considerando três dimensões (longevidade, educação e renda), os municípios de Crato e Juazeiro do Norte, novamente, demonstram obter os melhores resultados da RMC. 7. Considerações Finais Ao analisar a situação dos municípios da Região Metropolitana do Cariri conclui-se que a dimensão econômica é bastante contrastante em relação aos sete indicadores que a compõem. Enquanto o saldo da balança comercial e o índice Gini de distribuição de rendimento dos municípios estudados apresentam resultados excelentes, nos quais todas as cidades alcançaram níveis de sustentabilidade aceitáveis ou ideais, os indicadores de renda familiar per capita em salários mínimos e rendimentos provenientes do trabalho não possuem regularidade nenhuma entre os próprios municípios. A pior situação encontra-se na análise dos indicadores de Produto Interno Bruto per capita, participação da indústria no PIB e renda per capita, tendo estes, quase em sua totalidade, apresentados níveis críticos de sustentabilidade. Em relação às cidades individualmente, Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte foram as que mantiveram nível alto de sustentabilidade em praticamente todos os indicadores, mesmo que em alguns, o nível fosse crítico. No lado oposto, Caririaçu, Farias Brito, Jardim e Santana do Cariri demonstraram um cenário negativo em diversos indicadores. Missão Velha e Nova Olinda não apresentaram bons resultados no geral, mas também não foram ruins, o que mostra que estão no caminho certo para o desenvolvimento econômico sustentável. Em geral, nenhum município estava, em 2010, em estado crítico em relação à dimensão econômica no todo, e Crato e Juazeiro do Norte destacaram-se pelos níveis aceitáveis de sustentabilidade. A partir desta aplicação inicial, fica aberto o caminho para que mais pesquisas sejam realizadas englobando todas as variáveis propostas por Martins & Cândido (2008). Ainda que a aplicação da metodologia do Índice de desenvolvimento Sustentável Municipal tenha apontado resultados interessantes, porém, a aplicação do índice em todas as suas dimensões da sustentabilidade, e que esta pesquisa seja realizada com dados mais recentes fica como sugestão para pesquisas futuras. 229

230 8.Referências ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL. Disponível em: < Acesso em 22 de março de BARONI, Margaret. Ambigüidades e Deficiências do Conceito de Desenvolvimento Sustentável, p. 2, Disponível em: < Acesso em: 8 de setembro de CEARÁ. Lei Complementar Nº 78, de 26 de junho de Dispõe sobre a criação da Região Metropolitana do Cariri. Diário Oficial do Estado, Ceará, 26 jun Disponível em: < Acesso em: 9 de setembro de DATASUS. Disponível em: < Acesso em: 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Barbalha. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Caririaçu. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Crato. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Farias Brito. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Jardim. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Juazeiro do Norte. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Missão Velha. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de

231 IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Nova Olinda. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de IPECE Perfil Básico Municipal 2012 Santana do Cariri. Disponível em: < Acesso em: 11 de setembro de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Barbalha. Disponível em: < Acesso em 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Caririaçu. Disponível em: < Acesso em 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Crato. Disponível em: < Acesso em 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Farias Brito. Disponível em: < Acesso em 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Jardim. Disponível em: < Acesso em 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Juazeiro do Norte. Disponível em: < Acesso em 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Missão Velha. Disponível em: < Acesso em 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Nova Olinda. Disponível em: < Acesso em 22 de março de IPECE Perfil Básico Municipal 2013 Santana do Cariri. Disponível em: < Acesso em 22 de março de LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A construção do Saber: Manual de Metodologia da Pesquisa em Ciências Humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora UFMG,

232 LIMA, Manolita Correia. A Engenharia da Produção Acadêmica. São Paulo: Unidas, MARTINS, Maria de Fátima; CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde. Índice de Desenvolvimento Sustentável para Municípios (IDSM): metodologia para análise e cálculo do IDSM e classificação dos níveis de sustentabilidade uma aplicação no Estado da Paraíba. João Pessoa: Sebrae, MARTINS, Maria de Fátima; CÂNDIDO, Gesinaldo Ataíde. Índices de Desenvolvimento Sustentável para Municípios: Uma Proposta Metodológica de Construção e Análise, Disponível em: < Acesso em: 10 de setembro de MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Disponível em: < Acesso em: 22 de março de SANTOS, Mateus Carlos dos. Desenvolvimento Sustentável: Interpretações Crítico - cientificas, p. 23, Disponível em: < Acesso em: 8 de setembro de SILVA, Antônio Sergio da; SOUZA, José Gilberto de; LEAL, Antônio Cezar. A Sustentabilidade e Suas Dimensões Como Fundamento da Qualidade de Vida, p. 29, Disponível em: < Acesso em; 8 de setembro de VASCONCELOS, Ana Cecília Feitosa de. Índice de Desenvolvimento Municipal Participativo: Uma Aplicação no Município de Cabaceiras PB, p. 33, Disponível em: < 921/Publico/arquivototal.pdf>. Acesso em: 8 de setembro de VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 7. ed. São Paulo: Atlas,

233 ÁREA TEMÁTICA: MEIO-AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EDUCAÇÃO DO CONSUMIDOR INFANTOJUVENIL A FAVOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO DE CASO EM JUAZEIRO DO NORTE CEARÁ. ISABELLE BEZERRA BEM Graduanda em Administração de Empresas pela Faculdade Paraíso do Ceará, Departamento financeiro da Industria de Sandalinas Gregas Ltda., participante no Laboratório de pesquisa sobre Ócio, Tempo Livre e Trabalho (OTIUM). bell.bb@hotmail.com Telefone: (88)

234 EDUCAÇÃO DO CONSUMIDOR INFANTOJUVENIL A FAVOR DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UM ESTUDO DE CASO EM JUAZEIRO DO RESUMO: NORTE CEARÁ. As mudanças nos padrões organizacionais, que primam por políticas de certificações ambientais cada vez mais rígidas visando a preservação do meio ambiente, esquecem-se da educação para o consumo. A expansão do consumo alcança patamares maiores a cada ano, sendo impossível desvincular a prática do consumo do cotidiano dos jovens. Entretanto deve-se compreender a pratica de consumir não como nociva, mas passiva de adequação ao cenário atual de escassez de recursos primários. Para tanto faz-se necessário compreender a dinâmica do consumo infantojuvenil, que se encontra exposta as mais variadas formas de sugestões consumistas que são propagadas por meio das mídias de massa, responsáveis pelo empoderamento de ilusões em face da realidade. É neste contexto, que apresento o objetivo geral desta pesquisa: analisar o comportamento dos jovens na cidade de Juazeiro do Norte, em busca de identificar suas práticas de consumo. Para tanto lanço mão de metodologia bibliográfica, exploratória e descritiva, com método quantitativo a partir da aplicação de um questionário misto com 194 estudantes de escolas públicas e privadas. Aponta-se como principal resultado o fato de que a escola se torna ferramenta fundamental na educação dos consumidores que se encontram imersos em teias ilusórias tecidas pela publicidade e reforçadas pelos grupos sociais e seus símbolos. O esclarecimento e direcionamento desse público jovem deve ocorrer dentro da escola, a qual necessita desenvolver nos alunos uma visão holística dos indivíduos e do meio em que vivem, sendo possível a formação de consciência e atitudes preconizadas na avaliação de ações críticas. Palavras-chaves: Consumo. Educação. Desenvolvimento Sustentável. Infantojuvenil. ABSTRACT: Changes in organizational patterns, policies that aim for environmental certifications increasingly strict aimed at preserving the environment, forget education for consumption. The expansion of consumption reaches higher levels each year, making it impossible to dissociate the practice of youth everyday consumption. However, one must understand the practice of consuming no way harmful, but passive adaptation to the current situation of scarcity of primary resources. Therefore, it is necessary to understand the dynamics of young consumption, which exposed to various forms of consumerist suggestions that propagated through the mass media, responsible for the empowerment of illusions in the face of reality. It is in this context that I present the general objective of this research: to analyze the behavior of young people in the city of Juazeiro, in order to identify their consumption practices. Therefore, hand haul of literature, exploratory and descriptive method with quantitative method from the application of a mixed questionnaire to 194 students from public and private schools. The main result is the fact that the school becomes a fundamental tool in the education of consumers who immersed in illusory webs woven by advertising and reinforced by social groups and their symbols. The clarification and guidance that young people should take place within the school, which needs to develop in students a holistic view of individuals and the environment they live in, it is possible the formation of conscience and attitudes advocated in the evaluation of critical actions. Keywords: Consumer. Education. Sustainable Development. Children and Youth. 234

235 1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento dessa pesquisa deu-se com o intuito de compreender a dinâmica existente entre o comportamento do consumidor infantojuvenil no contexto socioeducacional em que se observam as manifestações da mídia de massa acerca desses. Abrangendo ainda a questão do consumo sustentável em face do consumismo que se propaga degradando a ideia de sustentabilidade. Com a finalidade de se obter uma maior compreensão do tema, destacar-se-á o avanço da mass media e seu posicionamento hostil em adjunto ao consumo de massa, abordar-se-á a compreensão do conceito de consumo e seus diferentes significados epistemológicos, além da importância da educação para o consumo no contexto escolar. O advento da globalização desencadeou uma série de efeitos colaterais ao meio ambiente em virtude de seu aspecto macro, que amplifica, em nome da expansão capitalista, o descaso com as questões ambientais. Entretanto é possível perceber, principalmente nos países desenvolvidos, a preocupação das empresas em demostrar ao mundo seu caráter responsável e ecologicamente correto, a medida em que se estabelecem os padrões de produção desenvolvem-se as diferentes certificações responsáveis por delimitar quais organizações fazem parte do seleto grupo que cumpre as exigências de responsabilidade ambiental, estas ainda se submetem a fiscalizações sistemáticas a fim de encontrarem-se falhas em seus processos. O que se modifica, entretanto é a relação dos consumidores com a marca, estes passam a selecionar com maior criticidade quais empresas praticam as certificações ambientais. E a publicidade abusiva que alcança a criança e o adolescente, os quais participam ativamente das escolhas de compra, seja em maior ou menor escala. O meio de difusão da mass media toma diferentes formas, tornando-se presente em todos os momentos, até mesmo mais que os próprios educadores e familiares, tendo maior relevância no momento da compra. É neste contexto que se projeta a problemática desta pesquisa: de que modo a mídia influência o comportamento de compra do consumidor infantojuvenil? Compreende-se o objetivo geral é a identificação de interferências midiáticas como influenciadora no processo de compra de crianças e adolescentes, os objetivos específicos são: analisar como a educação ambiental em detrimento do consumismo, de modo a corroborar aos jovens a desenvolverem o criticismo analítico no momento em que se efetiva a compra, além de ampliarem a empatia para com os outros indivíduos, integrando-se de modo a compor, na posteridade, uma sociedade consumidora consciente. 235

236 2. A CULTURA DE MASSA A cultura abrange em sua acepção, um emaranhado de símbolos, signos e normas que se impregnam no imaginário dos indivíduos, gerando e interferindo nas emoções. Estas mesmas criaturas identificam-se e projetam-se nos símbolos e mitos, fornecidos pela cultura como ponto de apoio (MORIN, 2000). O que alimenta estas imagens elaboradas e difundidas homem a homem pela cultura é o próprio homem, por meio da história que vivência sem a plena consciência desse fato. O que ocorre dentro deste contexto é a busca por espelharem-se nos mitos que culmina na aceitação social, entretanto essa busca torna-se infindável já que as classes competem entre si ciclicamente (GOMES, 2009). Schein (2009), divide a cultura em níveis distintos, totalizando de três: O primeiro são os artefatos, comportamentos e produtos, que se desenham através dos elementos tangíveis como comportamento linguagem e vestuário, o segundo refere-se as normas e valores que são expressas por meio das ideias do grupo, devendo ser de conhecimento coletivo. O último nível seria o das assunções básicas que se encontra na parte mais profunda da constituição da cultura, servindo de base fundamental na formulação das crenças. É no contexto da globalização que surge a cultura de massa, incorporando-se as demais culturas, subtraindo as estéticas populares e de elite e dando lugar a segmentação dos povos em um nível global (Gomes, 2009). A industrialização cultural dá lugar a cultura de massa que se expressa por sua habilidade reprodutiva tecnicista em antagonismo a manufatura e suas particularidades pessoais. Morin (2000), salienta a mass media como sendo destinada a uma massa social que se estabelece além das estruturas sociais e prossegue: [...]a cultura de massa é uma cultura: ela constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida prática e à vida imaginária, um sistema de projeções e de identificações específicas. Ela se acrescenta à cultura nacional, á cultura humanista, à cultura religiosa, e entra em concorrência com estas culturas. (MORIN, 2000, P. 15). Deve-se salientar que o mito possui, dentro da cultura, lugar cativo uma vez que este é responsável por nos imergir na cultura nacional, como descreve Morin, (2000), em relação aos heróis da pátria e sua significância, a cultura religiosa que constitui a identificação com deus e por fim de forma mais velada a cultura humanista derrama-se de modo afetivo e sistemático através dos heróis do romance a das artes. Nessa totalidade insere-se a cultura de massa, que também funciona como uma cultura, adicionando-se as demais (nacional, humanista e religiosa) chegando a concorrer 236

237 com essas, ela integra-se a uma realidade policultural na qual possui o poder de haurir e dissipar as outras culturas. Possui atributo de orbivagante, sendo então uma cultura universal (idem, ibid.). Como a cultura de massa é regida pelo sistema industrial, que tende naturalmente ao crescimento, possuindo consequentemente a mesma lógica de máxima produção e máximo consumo, para tanto faz-se necessário uma enorme gama de informações circulando a fim de satisfazer ao maior número possível de indivíduos. Há ainda a necessidade de se aglutinar as informações em virtude do tempo gasto do espaço pago e da retenção de espectadores. O efeito de real, causado pela livre distribuição de imagens e sons, é incitado no espectador, estas tomam poder de verdade sobre os fatos, criando sentimentos fortes, induzindo a reações intensas (BOURDIEU, 1997). Ainda no tocante da homogeneidade dos conteúdos, abordar a necessidade sincrética de unir o setor da informação ao romanesco faz-se essencial para se compreender a dinâmica do mito na sociedade, os fatos reais enquanto informação, intercalem-se com elementos fabulosos que transformam a informação real acentuando suas características mais similares com o fantástico. Perceber o receptor (telespectador) como indivíduo que interage com os estímulos recebidos é de fundamental importância para se analisar o fenômeno da criação do mito a partir dos elementos das narrativas da TV. Como destaca Fischer (1993), esses mitos podem ser entendidos como elementos de interesse comum tratados pela mídia, mas que fazem parte de discursos tidos como intrínsecos aos indivíduos que o percebem como possibilidade de vivencia extra real, ou ainda a capacidade de externação de emoções e experienciação. Deve-se, portanto, abranger a transformação das narrativas em mito muito além do elemento televisivo, esse fenômeno assim incide sobre a condição de vida e sobrevivência dos grupos sociais dentro de contextos que exaltam e perpetuam fatos destinados a serem incrustados na mente dos seus participantes. 3. CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CULTURAL E O CONSUMO. Os modelos míticos funcionam como uma base de parâmetros designados como padrão que servem de guias àqueles que querem seguir os moldes sociais. Entretanto os novos mitos distribuem-se nas imagens televisivas, que expõem um novo padrão a cada estação; cria-se a busca 237

238 pela pureza inalcançável de que trata Bauman (1998), cada nova interação ressurge com novos mitos que trazem consigo a promessa da realização pelo consumo. Entretanto é dado a estes indivíduos o poder de escolha, que logo torna-se em obrigação, dentro da ótica de aceitação social. Rocha e Rodrigues (2013, p. 36) ressalta: o corpo é obrigado a se manifestar, a criança e o jovem confundem-se em suas delineações, há, portanto, um forte apelo ao desenvolvimento físico e social desses indivíduos, inserindo-os numa situação de pressão ao desenvolvimento precoce. O modelo que se forma, trata da busca por identificar-se com os novos mitos expostos pela mídia, Morin (2000), utiliza a denominação adotada por Henri Raymond à estes seres míticos chamando-os de olimpianos. Estas criaturas estão presentes nos filmes, novelas e toda grade televisiva, alastram-se nas redes sociais aproximando-se dos seus seguidores, dando a esses a esperança de tornarem-se como eles. Esta busca retrata a necessidade do ser humano de encontrarse como indivíduo, a busca da transcendência estende-se ao corpo, no qual se busca maximizar sua utilidade, força e beleza. A motivação induz, mas não determina o consumo, o relacionamento com os símbolos e seu empoderamento, capaz de modificar o cotidiano é responsável por ditar os padrões, que podem ou não ser a escolha do consumidor que, por sua vez, possui diferentes experiências que auxiliam na tomada de decisão (GIGLIO, 2013). Quais experiências influenciam a manipulação dos símbolos? O tirocínio da imaginação nos possibilita a crença fantástica de modificação do cotidiano. O que ocorre, entretanto, é a incapacidade de o consumidor identificar as reais possibilidades de mudança, distinguir o factível do impossível. O consumidor infantil, no entanto, encontra-se em processo de desenvolvimento intelectual e psicológico interagindo com o meio social em busca de determinar padrões básicos de comportamento assim como observa Vygotsky (1991), o desenvolvimento sofre implicações das práticas de consumo, mais especificamente do processo imaginativo desencadeado pela publicidade quimérica, gerando o consumo adoecido; o consumismo. A mediação de instituições que atuam e intermediam as mídias direcionadas ao público infantil, visam garantir o desenvolvimento desses indivíduos de forma integral em sua completude e intelectualidade. Campbell (2006), confere ao consumo o poder de definição do indivíduo que o pratica, isto é, as escolhas pressupõem ao consumidor sua identidade social ao mesmo tempo que esse interage com os estímulos da mass media. O autor conclui: Somos definidos por nossos desejos, ou por nossas preferências. (CAMPBELL, 2006, P. 51). As possibilidades inúmeras, existentes no mercado, permite um diálogo entre o consumidor, seus desejos e posteriormente outros 238

239 conhecimentos. Considerar o consumo uma possibilidade de reconhecer-se enquanto indivíduo ressalta ainda mais a natureza intimista do ato de comprar, não sendo apenas uma decisão e sim um processo dinâmico capaz de identificar a possibilidade de concretização dos nossos desejos. Aprofundando-se neste fenômeno, podemos observar os mecanismos de influência desencadeados pelo diálogo entre o desejo e as possibilidades de realiza-lo. Quanto a etimologia do consumo é possível perceber logo em suas origens um significado negativo. Campbell (2006), analisa a posição de Sócrates e Platão em relação ao consumo que era a de deterioração do caráter do homem, enfraquecendo-o diante do sofrimento, esta visão mante-se viva por toda Roma até a idade Média alcançando os dias atuais. Associado a significados negativos, o consumo é postulado e perpetuado no meio social como uma chaga que deveria ser evitada. Toda esta difusão advém da parcialidade em relação a observação dos fatos sociais, que se limitam a apreciações tendenciosa das relações materiais como sendo uma fenomenologia puramente pós-moderna, crer que um dia os objetos não possuíram quaisquer significâncias na vida do homem é ignorar boa parte do desenvolvimento civilizacional que se encontra intricado as relações materiais e suas inclinações. (idem, ibid.). Consumir faz parte do cotidiano e torna-se, muitas vezes, imperceptível ao crivo da razão, entretanto quando se leva em conta seu aspecto vil, faz-se necessário a elaboração de justificativas que tornem aceitáveis as concessões ao consumo. Dessa maneira, dissimula-se a necessidade de comprar por meio do que Campbell (2006), chama de critérios justificáveis ao ato do consumo que se aplica ao consumo de itens supérfluos, enquanto que as necessidades básicas são acolhidas como validas por seu caráter facilmente justificável. 4. POR UM CONSUMO CONSCIENTE As interações do homem com seus sentimentos tornaram-se mais subjetivos ao longo do tempo em virtude da característica intangível do conhecimento letrado e todo aparato secundário envolvido na aquisição do mesmo (FEATHERSTONE, 1995). O que temos então é o processo civilizador agindo sobre o comportamento dos indivíduos tanto particularmente como coletivamente. Um aspecto ilustrado por Elias (1994a), relacionado com a casa e sua divisão em cômodos cada vez mais intimistas, proporcionando aos moradores mais privacidade e como consequência tornando alguns atos vergonhosos aos olhos dos outros. Trata-se do desenvolvimento 239

240 da vergonha e sua analogia ao processo de ampliação da capacidade de ler. Antes da prensa de Gutemberg os livros eram pouco difundidos e a educação era privilégio de poucos, outro aspecto que se associa a difusão da informação é a criação da ideia de infância como conhecemos atualmente. Postman (1999), elenca quatro pressupostos básicos para o desenvolvimento da infância, seriam estes; a capacidade de ler e escrever seguido da educação do surgimento da noção de vergonha e o último fator que surge em decorrência dos posteriores que seria o aparecimento da infância. A prensa tipográfica precede todos estes fatos e os torna possível com a maior propagação das escolas em toda Europa. O conhecimento letrado divide o mundo entre aqueles que são capazes de decifrar os códigos e apoderar-se das informações contida nos livros mapas e relatórios e os outros que compreendem apenas o que é repassado oralmente, enquadra-se no perfil desses segundos as crianças, surgindo então como uma nova categoria social, que deveria ser cuidada pela família, amparada pelo estado e vigiada pela Igreja para que fossem capazes, por meio da vergonha e do decoro, de aderir aos prazeres do letramento. (ELIAS, 1994a, 1994b; FOUCAULT, 1988; POSTMAN, 1999). Toda nova tendência de comunicação modifica o cenário da infância que carece de um modelo singular em que a comunicação é manipulada tão-somente por adultos. Os meios que permitem uma assimilação cognitiva de rápida absorção foram desenvolvidos, e a informação passa a chegar a criança indiscriminadamente, entretanto o que diferencia essa informação é essencialmente sua composição estrutural e de recepção. A esse respeito Bourdieu (1997), menciona o conceito de ideias feitas de Floubert, as quais já se encontram num estado de banalização que se tornam facilmente aceitas visto que o critério de recepção se encontra preenchido, não existe a necessidade de o receptor assimilar o conhecimento, esse vem previamente assimilável, por meio das múltiplas imagens e cores que efetivam os fatos por menos verdades que sejam. A esse respeito Postman (1999 p. 86) destaca: Imagens não mostram conceitos; mostram coisas. Nunca é demais repetir que, diferentemente das palavras, uma imagem é irrefutável. Ela não lança uma proposição, não implica oposição ou negação de si mesma, não há regras de evidência ou lógica com as quais ela deva estar em conformidade A reação necessária a compreensão da imagem diferencia-se em relação a ideia escrita, enquanto a imagem dinamiza o processo de interação e induz a resposta rápida tornando-se pouco 240

241 provável que se possa analisar criticamente o que foi visto com bases em aprendizados passados, como no caso da leitura. A capacidade de adormecer a mente de que fala Rodolf Arnheim mencionado por Postman (1999), associa a televisão ao fenômeno da transmissão de ideias sem que haja a necessidade de elaboração de conceitos como na escrita e leitura que para serem compreendidos faz-se indispensável uma apreciação crítica e comparativa que desenvolve o raciocínio, a extinção desse procedimento extinguiria o desenvolvimento da mente e consequentemente a ideia de infância dilui-se num mar de informações. O quadro que se forma é o do adoecimento do consumidor infantil por meio da imersão deste em esferas do conhecimento trabalhadas pela mídia de massa para manipular o desejo ascendente de conhecer a si por meio do ato de adquirir novos bens, isto é, o consumo proporciona o reconhecimento e identificação dos indivíduos não simplesmente pelo produto adquirido e sim pela experiênciação do fato e sua interação interpessoal com os sujeitos envolvidos. As consequências ambientais implicam em excessos de resíduos advindos da incessante impressão de busca continua do encontrar-se que não se concretiza por meio da aquisição material de bens, os quais são divulgados pela mídia de massa como solução para os problemas emocionais adquiridos pelo hedonismo exacerbado e a obrigatoriedade de escolha (ROCHA; RODRIGUES, 2013). É inegável o desenvolvimento atingido pela sociedade de consumo, o alcance das informações, as comodidades e os avanços tecnológicos elevam o homem a patamares de conforto nunca antes atingidos, entretanto, o caminho que se trilha é o do consumismo exacerbado que degrada o meio ambiente através da poluição desmatamento e gerando desigualdades sociais, faz-se imperioso gerar a empatia dos jovens e adolescentes tendo em vista a percepção mais apurada do ambiente externo e seus agentes influenciadores da mudança. Conforme a Lei n (BRASIL, 1999, art. 2) a educação ambiental deve estar presente em todos os âmbitos da educação, segue na mesma Lei em seu artigo terceiro atribuindo as instituições educativas a promoção da educação ambiental compreendendo a conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente, visando incutir nos educandos uma percepção mais abrangente da necessidade de mitigar atitudes a fim de se atingir um equilíbrio ambiental. Para Cuba (2010), a educação formal é essencial no alicerce da fundamentação dos valores relacionados a sustentabilidade tendo em vista que o aluno, través dela, percebe-se como membro integrante da sociedade. É factível que as ações humanas, em descompasso, estão diretamente relacionadas com os desequilíbrios ecológicos ocasionados principalmente pela conduta consumista 241

242 que perpetua os excessos à custa da natureza, o autor segue ainda enfatizando a importância da educação ambiental (CUBA, 2010, p. 26): Assim, a educação ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social, capaz de transformar valores e atitudes, construindo novos hábitos e conhecimentos, defendendo uma nova ética, que sensibiliza e conscientiza na formação da relação integrada do ser humano, da sociedade e da natureza, aspirando ao equilíbrio local e global, como forma de melhorar a qualidade de todos os níveis de vida. Para Boff (1999), faz-se mister a modificação dos hábitos em busca do desenvolvimento alinhado com as demandas ambientais e seus limites, não significando, para tanto, um retrocesso dos padrões e sim uma mitigação dos parâmetros consumidores, buscando um consumo sustentável. É possível identificar nos Parâmetros curriculares nacionais para o Ensino Médio (BRASIL, 1997), a asseveração de que não seria possível pela composição convencional das grades curriculares assegurar o desenvolvimento dos alunos enquanto participantes sociais efetivamente, fazendo-se imprescindível a interação sociocultural dos agentes educadores em diferentes esferas da educação. O Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) (BRASIL, 2005), estende estas compreensões de educação ambiental, levando em conta os aspectos múltiplos contidos no Brasil, sejam eles culturais, naturais ou históricos, devendo esses integrarem-se a fim de que se modifique a realidade dos desejos materiais em sua construção simbólico e nos padrões de consumo. Mudar atitudes individuais em busca da melhoria global é o foco da educação ambiental, em a Carta da Terra (1992), a necessidade de uma visão compartilhada é exaltada para que se alcancem critérios aceitáveis de preservação. 5. METODOLOGIA A pesquisa teve como premissa utilizada para produção dos dados a identificação do comportamento de compra infantojuvenil relacionado com a educação ambiental proposta nos colégios. Foram aplicados questionários, compostos por questões abertas e fechadas interdependentes, em colégios estaduais e privados da cidade de Juazeiro do Norte, Ceará (GIL, 2008). Levou-se em conta uma população de estudantes que, de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) referem-se as quantidades de alunos devidamente matriculados no ensino médio e fundamental do 5ª a 8ª série e anos finais, tanto de escolas estaduais como das instituições privadas, o erro amostral aderido foi de 7% com nível de 242

243 confiança em 95%, gerando de acordo com o cálculo, uma amostra de 194 alunos, dando-se pela seguinte fórmula (SANTOS, 2015): n = N. Z 2. p. (1 P) Z 2. p. (1 p) + e 2. (N 1) Onde: n - amostra calculada N - População Z - Variável normal padronizada associada ao nível de confiança p - verdadeira probabilidade do evento e - erro amostral O questionário proposto foi composto por 13 questões que visaram compreender o comportamento do consumidor infantojuvenil, as perguntas foram previamente testadas e garantiuse o sigilo das informações obtidas. Todos os questionários aplicados foram devolvidos, sendo anteriormente distribuída duas vias do termo de consentimento livre esclarecimento para ser preenchido pelos responsáveis legais dos alunos pesquisados (SEVERIANO, 2007). A pesquisa realizou-se durante os dias 22 e 23 de junho em três instituições de ensino sendo duas do estado e uma particular. Foi utilizada a metodologia qualitativa descritiva aplicando-se um questionário a um grupo especifico visando compreender seu comportamento em relação ao consumo (PRODANOV; FREITAS, 2013). 6. NÁLISE DOS DADOS Dos 194 questionários respondidos, 114 respondentes são do sexo feminino, representando 58% da amostra coletada, enquanto aproximadamente 42% dos indivíduos identificaram-se como sendo do sexo masculino, que representa o número de 80 entrevistados. As idades oscilam entre 11 e17 anos de idade, objetivando abranger tanto crianças como adolescentes. 243

244 Gráfico 1 Idade dos questionados anos 12 anos 13 anos 14 anos 15 anos 16 anos 17 anos Fonte: Elaboração própria, A terceira pergunta objetivou identificar qual a influência da mídia nas compras realizadas pelos entrevistados, obteve-se 75% de respostas afirmativas a questão: Para você, a mídia influência nas suas compras? E apenas 25% dos entrevistados responderam negativamente. Fica claro que os questionados têm ciência da influência imposta pela mídia e como esta interfere nas compras posteriores, desse modo é possível esclarecer a preocupação quanto ao consumo consciente, as mídias de massa impulsionam ao hiperconsumo, adoecendo o consumidor infantil (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2014). Gráfico 2- Declaram ser influenciados, durante as compras, pela mídia 25% 75% Sim Não Fonte: Elaboração própria, A intervenção dos pais no processo de compra é fundamental para se analisar o comportamento do consumidor infantil e os agentes influenciadores. A questão quatro identifica a participação dos pais no processo de compra, 57% responderam que os pais participam na escolha da compra, enquanto 43% afirmam comprar o que desejam, independentemente da intervenção paterna. Mesmo a mídia influenciando no processo de compra, é factível que os pais possuem papel determinante na escolha dos produtos, a família possui decisiva participação na construção cultural 244

245 das crianças e adolescentes, atribui-se a ela a tutela de aferir aos seus o sentimento de vergonha a fim de atingirem o pleno desenvolvimento social (ARIÈS, 1978; FOUCALT, 1988). Gráfico 3- Escolha durante a compra 57% 43% Eu compro o que tenho vontade. Meus pais escolhem comigo Fonte: Elaboração própria,2015. A quinta questão refere-se especificamente a percepção do questionado quanto a um possível arrependimento pós compra, que tenha sido determinado pela mídia. Apenas 45% responderam afirmativamente quanto ao arrependimento, enquanto 55% dizem não ter se arrependido de compras induzidas pelas mídias. Relacionando os dados é possível perceber que mesmo os pais interferindo no processo de compra, as crianças e adolescentes se deixam induzir pela ação midiática, que ilude o consumidor fazendo-o crer que ele realmente precisa efetivar a compra levando este a um constante movimento de aquisição, descarte e reaquisição (BAUMAN, 2008). Gráfico 4 - Referente ao arrependimento pós compra. 55% 45% Sim Não Fonte: Elaboração própria, A exposição cotidiana das crianças às mídias de massa representa, muitas vezes, a maior parte das atividades praticadas fora da escola, foi possível identificar, por meio da pergunta cinco, que a principal atividade realizada, durante o tempo livre, entre os participantes da pesquisa é internet e TV, representando 58% dos entrevistados. 245

246 Gráfico 5 - Principal atividade praticada no tempo livre. 12% 4% 6% 1% Estuda Pratica Esporte 19% Internet, TV. Shopping, cinema. 58% Sair na rua (brincadeiras) Não responderam Fonte: Elaboração Própria, Outro aspecto analisado foi a relação entre o tempo de estudo fora da escola e o tempo gasto com acesso à internet, 60% dos questionados afirmaram estudar fora da escola em média 1 hora por dia na pergunta seguinte foi avaliada a quantidades de horas que esses mesmos alunos passam conectados à internet, o resultado demostra que os indivíduos pesquisados passam em média 3,3 horas na internet por dia, praticamente o triplo de tempo que passam estudando fora da escola, é fato que a mídia passa mais tempo em companhia dos jovens e crianças que a própria escola, exercendo sobre eles maior influência sobre seus atos. Gráfico 6 - Se é praticado estudo fora do período de aula. 39% 1% 60% Sim Não Não responderam Fonte: Elaboração própria, Gráfico 7 - Horas de estudo. 39% 1% 8% 31% 21% 1h 2h 3h 4h Não responderam Fonte: Elaboração própria,

247 Gráfico 8 - Horas de conexão (internet). 11% 17% 23% 1% Menos de 1 hora 18% De 1 a 2 horas De 3 a 5 horas De 6 a 8 horas 30% Mais de 8 horas Não responderam Fonte: Elaboração própria, A mídia veicula, em menor escala, promoções ao bem comum e ajudas humanitárias, muitas vezes compelida pelo estado e outrora espontaneamente, entretanto 83% dos participantes afirmaram nunca ter participado de nem um tipo de campanha que visa o bem comum, demostrando, desse modo, que nos encontrámos diante de um crescimento tecnológico em simbiose com a miséria, de forma que para se ter uma vida sustentável deve-se adaptar-se à tecnologia e a ecologia humana, gerando a responsabilidade pessoal em benefício do todo (GADOTTI, 2008). Gráfico 9 - Participação em campanhas promovidas pela mídia visando o bem comum. 17% Sim Não 83% Fonte: Elaboração própria, Outro traço identificado entre os pesquisados foi a simpatia para com personagens televisivos, onde 81% dos entrevistados afirmaram admirar algum personagem, A referida identificação do público infantil com os personagens que protagonizam o happy and cria uma aproximação entre o fantástico mundo ilusório apresentado na mídia e as vidas quotidianas, estes personagens são vestidos pelos olimpianos modernos de que fala Morin (2000), pelas palavras de Henri Raymond, esses olimpianos enquadram-se tanto na categoria do imaginário; aqueles que se desenvolveram dos papeis interpretados em filmes, novelas e séries, como os que nascem de sua 247

248 função sagrada; reis, presidentes e governantes, tem ainda os heroicos; escaladores, alpinistas e desbravadores e os eróticos; advindo das páginas sensuais de revistas e programas do gênero. Gráfico 10 - Existe algum personagem de TV que você admira. 6% 8% Sempre. 44% 42% Com frequência Raramente Nunca Fonte: Elaboração própria, Os entrevistados foram aferidos ainda em relação a seu interesse pelo meio ambiente, 43% afirmaram interessar-se muito pelo meio ambiente enquanto 15% responderam que teriam pouco ou nenhum interesse pelo meio ambiente, entretanto na pergunta seguinte verificou-se que 53% dos questionados escolhiam a qualidade como determinante na compra de determinados produtos, desconsiderando os aspectos ambientais. 50% dos entrevistados afirmaram raramente ou nunca ter acesso, durante as aulas, a assuntos relacionados com meio ambiente, demostrando a carência em se tratar das questões ambientais em sala de aula. Gráfico 11 - Qual seu interesse pelo meio ambiente. 19% Sim Não 81% Fonte: Elaboração própria, Gráfico 12 - Com qual frequência são tratados os assuntos relacionados com meio ambiente. 1% Muito 14% 42% 43% Mais ou menos Pouco Nada 248

249 Fonte: Elaboração própria, Gráfico 13: Aspecto levado em consideração para efetivar a compra. 11% 3% 1% 7% 0% 4% 53% 21% O preço A qualidade A durabilidade As cores A marca A embalagem O descarte Fonte: Elaboração própria, Os dados colhidos demostram o reflexo da dissociação corrente entre educação ambiental e educação formal, apesar de ser reconhecida como ensino obrigatório em instituições de educação sejam privadas ou públicas é um tema pouco abordado em sala de aula, de modo aos jovens, que deveriam ser formados como cidadãos participantes e influentes enquanto indivíduos sociais, ficarem expostos a maior parte do tempo as mídias de massa que são responsáveis por distorcer a realidade em busca de conquistar mais súditos em seu reinado (MORIN, 2000; CUBA, 2010). 7. CONCLUSÃO Os resultados obtidos, através da coleta e análise dos dados, demostram que realmente existe o encantamento por parte dos jovens consumidores em relação aos seus ídolos e que, desse modo, a mídia impacta diretamente na decisão de compra, levando-os ao consumismo e com isso interferindo no que se refere ao panorama lamentável que se encontra o meio ambiente, que é sacrificado em nome da evolução consumista, atingindo, dessa maneira, os objetivos gerais propostos. A escola, mesmo havendo o comprometimento legal, não interfere de forma positiva nas relações dos educandos com o sistema de indução ao consumo, fica claro que há uma demanda de ensino para o consumo sustentável, fato tal que demostra a veracidade dos objetivos específicos. Diante deste cenário há apenas uma forma de combatê-la: por meio da educação para o consumo em 249

250 benefício do meio ambiente. A maior dificuldade de efetivação deste trabalho deu-se em relação a autorização por parte das escolas, para aplicação dos questionários. A relevância desta pesquisa, consiste em seu arrojo e contribuição didática para o tema em questão, servindo de embasamento para outras obras correlatas. 8. REFERÊNCIAS: BARBOSA, L. ; CAMPBELL, C. O estudo do consumo nas ciências sociais contemporâneas. In: BARBOSA, L.; CAMPBELL, C. (Org.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, BARBOSA, L; CAMPELL, C. (Org.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: FGV, 2006 BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, BOFF, Leonardo. Saber Cuidar. Ética do Humano Compaixão pela Terra. Petrópolis, Ed. Vozes, BOURDIEU, Pierre. Sobre a televisão. Rio de Janeiro Jorge: Jorge Zahar Ed, BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de Dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 137, n. 79, 8 abril Seção 1, p Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio. Brasília: MEC/SEMTEC, Versão preliminar.. Ministério do Meio Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental; Ministério da Educação e Cultura. Coordenação Geral de Educação Ambiental. Programa Nacional de Educação Ambiental: ProNEA. 3. ed. Brasília, DF, CAMPBELL, C. Eu compro, logo sei que existo: as bases metafísicas do consumo moderno. In BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, C. (Org.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Ed. FGV, CARTA da Terra Organização das Nações Unidas, 2002, Disponível em: Acesso em: 30 junho CLEBER Cristiano P; ERNANI Cesar de F. Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. Rio Grande do Sul.2 Ed. - Universidade Feevale,

251 CUBA, Marcos Antonio. Educação ambiental na escolas. ECCOM, Lorena, v. 1, n. 2, p , jul./dez Disponível em: < Acesso em: 30 jun MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX- neurose. 9 Ed. Rio de Janeiro Fortense Universitária, ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1994b. ELIAS, Norbert.O processo civilizador Vol. I e II. 2 Ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed,1994a. FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo : Studio Nobel, FISCHER, Rosa Maria Bueno. O mito na sala de Jantar. 2 Ed. Porto Alegre: Editora Movimento, FOUCAULT, Michael. História da sexualidade I: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, GADOTTI, Moacir. Educar para Sustentabilidade: Uma contribuição à Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo: Ed, L, p. (Série Unifreire, 2). GIL, Antonio C. Métodos e Técnicas de pesquisa social. 6 Ed. São Paulo. Atlas, GOMES, Marcelo Bolshaw. A cultura como dupla mediação social. Revista Contrapontos, Itajaí, SC., v. 5, n. 1, p , Mar ISSN Disponível em: < Acesso em: 21 Jun doi: INSTITUTO Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais INEP [online]. Disponível em: inep.gov.br Acesso em: 16 jun MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano de ação para produção e consumo sustentáveis - PPCS: Relatório do primeiro ciclo de implementação. Brasília: MMA, p. ROCHA, E; RODRIGUES, J. Corpo e consumo: roteiro de estudos e pesquisa. Rio de Janeiro: PUC/RJ, s/d. SANTOS, Glauber Eduardo de Oliveira. Cálculo amostral: calculadora on-line. Disponível em: < Acesso em: 20 jun SCHEIN, Edgar. Organizational culture and leadership. United States of America. Jossey-Bass A Wiley Imprint, SEVERIANO, Antônio C. Metodologia do trabalho cientifico.23 Ed. São Paulo. Cortez,

252 ÁREA TEMÁTICA: MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. A EMERGÊNCIA DE UMA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL NA FAZENDA BÁLSAMO NO MUNICÍPIO DE SANTANA DO CARIRI-CE MARIA ALDEJANE LOPES SILVA Graduanda em Licenciatura Plena em Geografia pela URCA (Universidade Regional do Cariri). E- mail: lopesaldejane66@gmail.com. Telefone: (88) ANA ROBERTA DUARTE PIANCÓ Possui graduação em Geografia pela Universidade Regional do Cariri (1990) e mestrado em Geografia: Regionalização e Análise Regional pela Universidade Federal de Pernambuco (1998). Tem experiência na área de Geografia e Ensino de Geografia, com ênfase em Geografia Agrária, atuando principalmente nos seguintes temas: geografia, geografia agrária, assentamento agrário, reforma agrária, metodologia do ensino de geografia, Estágio Supervisionado em Geografia, etc. Coordena o Grupo de Estudos e Pesquisa em Geografia Agrária - GEA desde 2002 na URCA, Exerce a função de Líder de Grupo de Pesquisa no CNPq - Território, Espaço e Movimentos Sociais, tendo como linhas de pesquisa - Sociedade, Ensino, Gênero e Reforma Agrária. robertapianco@hotmail.com. Telefone: (88) EDILÂNIO RODRIGUES MACÁRIO Bolsista do projeto PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), financiado pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e graduando em Licenciatura Plena em História pela URCA (Universidade Regional do Cariri). macario1500@gmail.com. Telefone: (88)

253 A EMERGÊNCIA DE UMA AGRICULTURA SUSTENTÁVEL NA FAZENDA BÁLSAMO NO MUNICÍPIO DE SANTANA DO CARIRI-CE RESUMO: O presente trabalho procura traçar uma breve discursão sobre os impactos ambientais causados pela agricultura convencional na Fazenda Bálsamo, no município de Santana do Cariri- CE. É de extrema importância discutir a respeito da emergência da Agroecologia no contexto de uma agricultura sustentável na aludida localidade. Nas últimas décadas ocorreram mudanças substanciais, em virtude das práticas agrícolas irregulares, que assim ocasionaram sérios problemas ambientais, bem como, desgaste do solo por erosão, desmatamento e queimadas. Nesse sentido, pretendemos aqui, discutir esses problemas, como também, propor soluções por meio de análises e estudos sobre a temática da Agroecologia. Esses estudos, possibilitaram uma abordagem acerca da agroecologia, como ciência capaz de minimizar esses impactos causados pelos métodos tradicionais da agricultura convencional. Contrapondo-se a agricultura convencional, a agroecologia busca minimizar os impactos ambientais causados pelas técnicas convencionais. Sabe-se que, a agroecologia tem como premissa fundamental promover ao homem do campo, uma forma sustentável de plantar, colher e consumir seus alimentos, por meio de recursos menos onerosos, além de promover uma consciência ambiental e uma melhor qualidade de vida. PALAVRAS-CHAVE: Agricultura sustentável, agricultura familiar, agroecologia, agricultura convencional. ABSTRACT: AThis paper seeks to trace a brief increasing discussion on the environmental impacts of conventional farming on the Farm balm, in municipality of Santana do Cariri-CE. It is extremely important to discuss about the emergence of Agroecology in the context of sustainable agriculture in the aforesaid location. In recent decades there were substantial changes, due to irregular agricultural practices, thus caused serious environmental problems, as well as soil erosion wear, deforestation and fires. We intend here to discuss these problems, but also propose solutions through analysis and studies on the topic of Agroecology. These studies made it possible an approach about agroecology, as a science able to minimize these impacts of traditional methods of conventional farming. Opposed to conventional agriculture, agroecology seeks to minimize the environmental impacts of conventional techniques. It is known that agroecology has the fundamental premise promote the country man, a sustainable way to plant, harvest and consume their food, using less expensive resources, and promote environmental awareness and a better quality of life. Keywords: Sustainable agriculture, family farming, agro-ecology, conventional agriculture. 253

254 INTRODUÇÃO A prática da agricultura assim como, da pecuária são atividades muito antigas. Sabe-se que, quando o homem passou da fase de nômade, para fase gregária, percebeu que não só podia caçar e pescar, mas podia também, plantar e cultivar seus alimentos. As primeiras civilizações desenvolveram-se às margens de rios caudalosos e perenes, bem como, em solos férteis. Dentro deste contexto, é de conhecimento, que o homem pratica a agricultura a milhares de anos, procurando satisfazer desde as suas necessidades alimentares, econômicas e culturais. Nesse sentido, a agricultura se tornou uma atividade imprescindível para a manutenção da sociedade, pois a mesma oferece subsídios para o desenvolvimento econômico, social, cultural, política e, sobretudo na vida do homem como ser inseparável ao meio ambiente. Em outras palavras, a agricultura causou uma revolução no mundo, ou seja, foi a partir dela que a humanidade se desenvolveu em todos os âmbitos. No contexto mais veemente podemos dizer que a mesma é indispensável à vida. Pois é a partir da agricultura que tiramos nosso alimento. A agricultura é à base de sobrevivência e reprodução da humanidade, sem ela não há produção de alimentos e sem alimentos não existe vida. Nesse sentido, para que a agricultura continue existindo é preciso que os recursos naturais sejam preservados. Infelizmente isso não vem acontecendo, o meio ambiente está passando por diversas transformações em virtude dos impactos sobre o mesmo, seja no espaço urbano, bem como no espaço rural. Dentro deste contexto, é verídico o quanto o homem vem modificando a natureza por meio das técnicas no trabalho. Os impactos sobre a natureza são provenientes principalmentedas atividades desenvolvidas pelo o homem, os quais passaram a ser mais intensos a partir da revolução industrial. Sabe-se que conforme o desenvolvimento industrial e econômico vai se aprimorando, os impactos no ambiente também vão se intensificando. A agricultura é o alicerce de subsistência da sociedade, mas, afinal, será que a mesma esta sendo praticada de forma correta? Essa indagação nos direciona para o que pretendemos discutir neste trabalho. A agricultura passou por diversas transformações que culminaram na sua modernização. A partir do momento que a atividade agrícola foi se desenvolvendo com a chegada da modernização no campo, que consequentemente ocasionou a degradação dos solos, bem como, da água, comprometendo o equilíbrio do ecossistema e a biodiversidade. Essa modernização alavancou o uso demasiado de técnicas a partir da mecanização do campo, a saber, a indústria da agroquímica, através da propaganda de seus produtos, na qual criou uma visão de 254

255 que só é possível uma grande produtividade agrícola com o uso de adubação química, agrotóxicos, fertilizante, herbicidas e dentre outros disponíveis no mercado, além da utilização de máquinas sofisticadas. Partindo dessa compreensão, é cabível ressaltar que a modernização, pela qual a agricultura passou nos últimos anos, agravou mais ainda a degradação do meio rural, assim comprometendo a manutenção dos recursos naturais com o solo, a água, e o ar, bem como, da flora e fauna. Nesse sentido,objetivamos neste trabalho, traçar uma breve discursão sobre os impactos ambientais causados pela agricultura convencional na Fazenda Bálsamo, no município de Santana do Cariri-CE. É de extrema importância discutir a respeito da emergência da Agroecologia no contexto de uma agricultura sustentável na aludida localidade. Nas últimas décadas ocorreram mudanças drásticas no meio rural dessa localidade, em virtude das práticas agrícolas irregulares, que assim ocasionaram sérios problemas ambientais, como desgaste do solo por erosão, desmatamento desordenado, queimadas, e principalmente o desaparecimento de algumas espécies de pássaros e animais silvestres. Nesse sentido, pretendemos aqui, discutir esses problemas, como também, propor soluções por meio de estudos sobre a temática da agroecologia como meio de minimizar esses impactos. A Agroecologia diverge da agricultura convencional, porque busca manter a dinâmica do ecossistema na qual não agride a natureza, como também, preza pela saúde das pessoas que vivem da agricultura de subsistência. Em outras palavras, a agroecologia tem como premissa minimizar os impactos ambientais causados pelas técnicas da agricultura convencional, além de promover ao homem do campo, uma forma sustentável de produção, mediando um conjunto de procedimentos que o possibilite plantar, colher, e consumir seus alimentos saudáveis, por meio de recursos menos onerosos. Em se tratando da realidade do Cariri Cearense é oportuno, neste trabalho discutir acerca da agricultura de subsistência desenvolvida na Fazenda Bálsamo. Isso porque o meio rural desta localidade está sendo manejado, por meio das práticas agrícolas tradicionais, as quais atingem de forma intensa os recursos naturais, seja por meio das queimadas e/ou desmatamentos, bem como o uso de produtos químicos. O presente trabalho foi desenvolvido a partir de levantamento bibliográfico voltado prioritariamente para o embasamento teórico acerca da agroecologia, como também, a identificação e delimitação da área de estudo. Foram realizadas pesquisas por meio da internet, assim como em livros e, revistas de caráter temático, sobre a problemática em questão. Foram 255

256 realizados também estudos exploratórios de campo, em caráter preliminar para delimitação e ajuste do modelo conceitual e também para realização de questionários socioeconômicos junto com os moradores da localidade. Todas essas atividades possibilitaram um entendimento mais coerente a respeito da temática em questão.a ida ao campo foi à base para o desenvolvimento deste trabalho, pois através da mesma, foi realizada a coleta de dados e informações, organizando e classificando as mesmas de acordo com as variáveis da pesquisa. Foi fundamental a aplicação do questionário socioeconômico com os moradores da referida localidade, assim como, a confecção de relatórios relativos às investigações e conclusões observadas no decorrer da análise sobre o problema em pauta. Registramos os problemas ambientais na aludida localidade, através de fotografias, bem como, por meio de entrevistas com os agricultores mais antigos. Este trabalho encontra-se estruturado em três partes: a primeira consiste na caracterização da área de estudo. A segunda visa mostrar com detalhes os impactos ambientais causados pela agricultura convencional na Fazenda Bálsamo, e para finalizar a terceira parte busca discutir os procedimentos alternativos de produção com ênfase na Agroecologia. 1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A Fazenda Bálsamo é uma localidade rural, localizada a dezesseis quilômetros da sede de seu município Santana do Cariri-CE. Este município faz parte da microrregião do cariri, mesorregião do sul cearense, bem como na Região Metropolitana do Cariri. Esta localidade rural possui, 540 hectares onde são destinados 430 hectares para a atividade rural. Esta localidade é conhecida com Sítio Bálsamo, o número de domicílios ocupados nesta localidade é muito pequeno, nos quais, correspondem aproximadamente trinta e um domicílios, sendo apenas vinte e dois ocupados com moradores. O número de habitantes é de apenas oitenta e três pessoas, sendo a maioria crianças, onde a renda mensal da minoria corresponde a um salário mínimo, visto que, a maioria recebe auxílio do programa do governo federal, bolsa família. É uma localidade muito carente, algumas famílias sobrevivem somente da agricultura e pecuária. Vemos ainda o descaso do poder público com a mesma, pois não há água tratada e nem canalizada, as pessoas buscam água nos poços (cacimbas) transportando-a em baldes ou em 256

257 animais até suas casas. Na maioria das residências, não há banheiros, pois não há rede de esgoto. O lixo é jogado atrás das casas, sem nenhuma preocupação, devido à falta de coleta. 2. IMPACTOS AMBIENTAIS NA FAZENDA BÁLSAMO CAUSADOS PELA AGRICULTURA CONVENCIONAL Os impactos ambientais provenientes das práticas agrícolas irregulares na fazenda Bálsamo se intensificam de uma forma estarrecedora. Nos últimos dez anos, percebeu-se nesta localidade o desaparecimento de algumas espécies de animais silvestres, principalmente pássaros, dentre eles: O sabiá-laranjeira(turdusrufiventris, Vieillot, 1818); o Sofreu(Icterusjamacaí, Gmelin, 1788), O Galode-Campina(ParoariacoronataMiller, 1776), e dentre outros. Além da fauna, a flora também foi comprometida, a saber, pelo desmatamento desordenado, como também pelas queimadas. Todas essas práticas de uso e manejo da área rural para a agricultura corroborou para o desgaste do solo por erosão, comprometendo principalmente a água, esta se encontra limitada em algumas áreas da localidade. O desmatamento e as queimadas são as principais atividades irregulares que os agricultores usam para a preparação do solo para a agricultura. Essa técnica é utilizada também para o cultivo de pastagens. Com esses hábitos os pequenos agricultores acabam colocando em risco a manutenção dos recursos naturais. Assim ocasionando a degradação do solo, devido o desmatamento e queimadas, através das atividades agropecuárias (agricultura e pecuária) ampliam a erosão deixando o solo totalmente erodido. Além da erosão do solo, a escassez de água, devido o desmatamento das matas ciliares e, a falta de pasto para os animais, é uma preocupação enorme para alguns moradores que têm criações de bovinos e caprinos. Essas práticas de manejo e uso do solo para a agricultura estão inseridas no modelo da agricultura convencional, pois são práticas que destroem os recursos naturais, colocando em risco o presente e as futuras gerações. Nessa linha de raciocínio, é contundente que todos esses fatores, estão acontecendo, por meio do uso impróprio da natureza pelo homem. A cada dia está mais preocupante a questão dos impactos ambientais nessa localidade, pois, o grande número de práticas agrícolas, como de outras atividades irregulares de uso e ocupação do solo, vem crescendo e afetando cada vez mais o solo e os lençóis freáticos mais próximos da superfície. Para Santos (2002, p.29) o homem cria seu próprio espaço, isto é: 257

258 É por demais sabido que a principal forma de relação entre o homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica. As técnicas são um conjunto de meios de instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz ao mesmo tempo, cria espaços. As técnicas agrícolas utilizadas na comunidade estão ultrapassadas. Ao (re) criar o espaço o homem dá-lhe uma função social, política, economia e até cultural. E dentro desta perspectiva, por que não ecológica? É contundente que devemos propor a emergência de uma agricultura sustentável na Fazenda, com novas técnicas que possibilitem a (re) produção de novos espaços. Isso, em virtude dos problemas ambientais que a mesma apresenta. Segundo Amorim (2005) dependendo da relação que se estabelece com a natureza, surge diferentes sociedades, caracterizadas pela capacidade e pela forma de produzir objetos. Dessas atividades resultam espaços transformados, que se traduzem em diferentes tipos de paisagens. É possível reverter esse quadro de destruição dos recursos naturais na aludida localidade. Isso é possível por meio do uso correto dos recursos naturais, buscando meios alternativos de produção capaz de gerar renda e qualidade de vida para o morador do campo, bem como, promover o desenvolvimento econômico, social e cultural do agricultor. A agricultura sustentável seria o caminho, pois a mesma engloba várias correntes e ideias de procedimentos, e tem como objetivo permanente a proteção dos recursos naturais, a manutenção e o aumento da produtividade, a redução dos aludidos impactos nos referida localidade. Assim, promovendo o desenvolvimento econômico e social. Nesse contexto, os agricultores da Fazenda Bálsamo precisam mudar seus hábitos para manter o equilíbrio do ecossistema e pautarem-se na produção de alimentos com qualidade, sem o uso intenso de agrotóxicos e sem o manejo inadequado do solo. Conforme o mencionado acima, o grau de utilização da terra pela atividade rural na referida localidade não apresenta, nenhuma área voltada para preservação ambiental. Assim, a fazenda Bálsamo apresenta uma vulnerabilidade acerca dos impactos ambientais causados pela agricultura convencional. Segundo o Agricultor José Lopes da Silva, ocorreram mudanças na paisagem da localidade. O mesmo assegurou que o desmatamento desordenado provocou uma série de problemas, a saber, perda de fertilidade do solo, e o desaparecimento de algumas espécies de animais e até mesmo na diminuição dos recursos hídricos. Os riachos não 258

259 secavam, passava o ano escorrendo, mas nos últimos anos a água seca no período da estiagem, coisa que não acontecia disse o agricultor 20. Ainda segundo o agricultor, é de extrema importância revertemos esse quadro, se quisermos no futuro termos terra produtiva para tirar nosso sustento: A água pode acabar de vez, e o solo ficar cansado, se não mudarmos nossos hábitos. Mas, não conhecemos essas técnicas ecológicas que visem o desenvolvimento sustentável. Na Fazenda Bálsamo o uso do solo para a agricultura é viabilizado pelas práticas agrícolas irregulares por meio do desmatamento (broca) e posteriormente à queimada. Os agricultores plantam e colhem e, a palha é destinada para o gado, bem como para as ovelhas. Esse ciclo vicioso se repete, e por consequência outras áreas são desmatadas e substituídas por pastagens. A falta de recursos dos agricultores gera mais pobreza para os mesmo, por meio de gastos que podiam ser atenuados de forma simples e salutar para todos, viabilizados pelas técnicas alternativas de produção como a apicultura, hortaliças, plantio direto, agroflorestal e dentre outros. Vimos então, que a pratica da Agricultura está subordinada nesta localidade ao uso intensivo de agrotóxicos, bem como, o desmatamento exacerbado, seguidos pelas queimadas. Os pequenos agricultores não tem consciência dos riscos destes métodos de limpeza e manutenção da plantação que por sinal muitas vezes são utilizados próximos a leitos de rios principalmente no período mais chuvoso (Janeiro Março) além de prejudicarem a salubridade dos alimentos e o solo. Nessa linha de raciocínio, torna-se importante ressaltar, que os pequenos agricultores não têm conhecimento de práticas agrícolas ecológicas. Cabe ao poder público subsidiar políticas que visem o incentivo e o amparo, que garantam ao pequeno agricultor, seu desenvolvimento socioeconômico, sua melhor qualidade de vida sem degradar o ecossistema no qual vivem. 3. AGROECOLOGIA: ENTRE A PERSPECTIVA E A PRÁTICA. Em pleno século XXI, diante da culminância do funcionamento do capitalismo nos parece abstrato reforçarmos a adoção de modelos sustentáveis. O uso do próprio discurso já nos parece desgastado. Porém, é preciso deixar claro que as resistências que permanecem a adotar um modelo de produção diferente, neste caso o agrícola, vêm desempenhando importantes indicativos e resultados de que é possível sim, produzir sem agredir os ecossistemas, a partir de uma ciência 20 Entrevista realizada com a o agricultor José Lopes Silva no dia 24 de abril de

260 (Agroecologia) que busque uma atividade prática de intervenção e transformação do mundo (GOMES,2005). Nessas condições, a utilização da monocultura pelas empresas do agronegócio, com o advento da utilização de tecnologias para a produção, pautadas na diminuição de custos e alta produtividade, impulsionou a adoção de técnicas da dita revolução verde, ao qual tem como propósito já mencionado de aumentar a produção agrícola através do desenvolvimento de pesquisas em sementes, mecanização da agricultura, fertilização do solo e principalmente a utilização de agrotóxicos. A priori, essa expressão revolução verde, foi utilizada a partir de discurso dito humanitário de aumentar a produção de alimentos para acabar com a fome nos países em desenvolvimento, e ainda no nosso mundo imagético, de maneira sustentável. Porém, a utilização destas técnicas propiciou um impacto na forma de se manusear o solo, as águas, e de fato a produção. Essa modernização não provoca única e exclusivamente um impacto ambiental, mas também de cunho social. Os Pequenos produtores as quais não se adequam as esses mecanismos de modernização do campo, acabam por, não competirem com os grandes produtores no mercado, tendo muitas vezes até que vender seus terrenos/ suas propriedades para outros produtores, por não possuírem mais o mercado consumidor de antes. Para tanto, podemos fazer uma análise mais nítida sobre essa questão buscando entender o poder da indústria agroquímica na agricultura desde seu advento até os dias atuais. Disto isto, pode-se inferir que A indústria da agroquímica, através da propaganda de seus produtos, criou a falsa visão de que só é possível uma grande produtividade agrícola com o uso de adubação química, agrotóxicos e máquinas sofisticadas (FRANÇA, 1988: 12). Apesar dos impactos sociais e ambientais presentes no modelo convencional agrícola, que acomete a saúde das pessoas devido o uso exacerbado de agrotóxicos. Surge um método alternativo de produção, cujo intuito é sanar com esses impactos, além de proporcionar uma série de benefícios para a sociedade. Estamos nos referindo a agroecologia, ao qual se direciona em eliminar os impactos da produção agrícola (sobretudo a familiar) sobre a natureza. (Re) Produzir técnicas que não agridam o meio ambiente visando um consumo limpo, sem a utilização de agrotóxicos e que não visem à deterioração das terras de cultivo. Assim, percebemos que: Agroecologia proporciona as bases científicas, para a promoção de estilos de agriculturas mais sustentáveis, tendo como um de seus eixos centrais a 260

261 necessidade de produção de alimentos em quantidades adequadas e de elevada qualidade biológica para toda a sociedade (CAPORAL, 2009: p.109). Definir é sempre um papel complicado quanto a sua aplicabilidade, porém reforçamos a abrangência da utilização do conceito de agroecologia quanto seu papel eco-social-político e econômico. A Agroecologia implica-se não somente na racionalização produtiva e econômica, mas em mudanças significativas nas atitudes dos atores sociais quanto a seu meio (CAPORAL, 2009). Não podemos adotar aqui a utilização do discurso Eco tecnocrático, tendência entre as ditas precauções sustentáveis, as quais buscam diagnosticar situações problemas dentro do quadro ambiental, em apontamentos mágicos e visões saudosistas de programas que em nada promovem o equilíbrio natural do meio. E de fato tem como pano de fundo apenas, modelos baseados na lógica de mercado e aquisição de lucro, mesmo reconhecendo os limites impostos pela natureza. É oportuno aqui, destacar e pensar acerca da aplicabilidade da agroecologia, para reconhecer e mudar as formas de exploração da terra. Diante esta perspectiva temos a agroecologia, ao qual se direciona em eliminar os impactos da produção agrícola (sobretudo a familiar) sobre a natureza. Sendo que na concepção de Caporal (2009:30), Agroecologia não se propõe como uma panaceia para resolver todos os problemas gerados pelas ações antrópicas de nossos modelos de produção e de consumo e pelas decisões: uma nova ciência para apoiar a transição a agriculturas mais sustentáveis ambientalmente equivocadas de macro - políticas baseadas na economia neoclássica, nem espera ser a solução para as mazelas causadas pelas estruturas econômicas globalizadas e oligopolizadas, senão que busca, simplesmente, orientar estratégias de desenvolvimento rurais mais sustentáveis e de transição para estilos de agriculturas mais sustentáveis, como uma contribuição para a vida das atuais e das futuras gerações neste planeta de recursos limitados. A agroecologia é imprescindível para a qualidade dos alimentos, pois a mesma não compromete os recursos naturais, assim preservando o meio ambiente e a biodiversidade. O termo sustentável significa para sempre, ou seja, numa perspectiva que promova a qualidade e manutenção dos recursos naturais, com o solo e a água. O solo é a base para a produção dos alimentos, assim com água. Ambos são esgotáveis e precisam ser preservados, devem ser manuseados de forma correta, já que se apresentam como os principais fatores que atendem os anseios da sociedade. É cabível, neste ensaio mencionar o quanto é importante discutir o termo sustentabilidade voltado para a agricultura. Isso por que, a maioria das pessoas desconhece o quão é relevante o 261

262 estudo, bem com a introdução deste método na área rural. O agricultor é o principal ator nesta caminhada, pois este é pautado de experiências abertas para novos caminhos e diálogos. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS No que concerne os impactos ambientais, cabe ressaltar, que esses impactos com o passar dos anos se agravam. Assim deixando um vasto rastro de destruição. Isso porque o homem visa em primeira instância o lucro deixando em segundo plano a natureza. Com o advento do sistema capitalista a sociedade aderiu e estabeleceu seus paradigmas no consumo e no lucro. Dessa maneira coisificando os recursos naturais, sem nenhuma conscientização do que isso possa acarretar futuramente. É lamentável, mas estamos em pleno século XXI, sofrendo as consequências da destruição que causamos na natureza. A escassez de água potável em algumas partes do planeta; enchentes, desertificação, extinção de espécies e principalmente o aquecimento global, dentre outros que conhecemos explicitamente. Nesse contexto, o presente trabalho explana todos os problemas ambientais causados pela agricultura convencional na Fazenda Bálsamo. Diante deste, foi possível identificar as causas dos desastres, como também, alertar aos moradores da mesma, sobre os impactos e a dimensão que os mesmos possam alcançar. Nessa linha de raciocínio, os impactos ambientais averiguados na Fazenda Bálsamo, são oriundos da ação do homem, no uso e ocupação do solo, através das práticas agrícolas e agropecuárias irregulares. Essas práticas são advindas das queimadas, desmatamento e dentre outras, oriundas do método da agricultura convencional. Em linhas gerais, este trabalho redimensionou medidas capazes de sanar com os problemas ambientais na referida localidade. Além de proporcionar um aprendizado satisfatório e peculiar. Pois, através deste, concluímos que o sítio Bálsamo, precisa imediatamente de soluções que possam amenizar, ou melhor, erradicar com esses problemas. Ressaltando que as medidas para minimizar com os aludidos impactos ambientais na mesma, devem partir dos moradores. Fazendo uma análise e reflexão de tudo que foi discorrido sucintamente neste trabalho, é necessário pensar e repensar diante dos resultados e circunstâncias. O homem desde os primórdios transforma o espaço natural em espaços artificiais, isso ocorreu mais forte com o advento da Revolução Industrial no século XVIII. Os recursos naturais passaram a ser explorados em grande escala. 262

263 Nesse sentido, é importante salientar, que não é fácil preservar a natureza, isso porque os grandes órgãos mascaram a realidade com as políticas ambientais que visam à sustentabilidade. Mas, ao invés de tomar decisões e iniciativas, preponderantes para sanar com os impactos ambientais, visamao lucro, desta forma a relação do homem e natureza não tem se preocupado com o equilíbrio ambiental, revelando cenários ambientalmente degradados em favor da produção. Nesse contexto, é evidente a ausência de investimentos e, principalmente iniciativas para erradicar os problemas da degradação ambiental nas áreas rurais. Nessa linha de raciocínio, conforme os resultados dos questionários aplicados, os agricultores da Fazenda Bálsamo, os mesmo não tem subsídios para arcar com as demandas de preservação ambiental, ou seja, eles desconhecem as práticas ecológicas que visem o desenvolvimento sustentável rural, baseados nas ideias e procedimentos da Agroecologia. Foi de suma importância concluir este trabalho, pois o mesmo contribuiu para o desenvolvimento rural sustentável da Fazenda Bálsamo. Isso porque de acordo com os resultados auferidos neste, será possível um diálogo com a comunidade do Sítio, para tentar buscar meios alternativos de produção, assim, preservando o meio ambiente. O motivo ao qual nos levou a realizar este foi exatamente os problemas ambientais que a mesma vem sofrendo nos últimos anos. Problemas esses que podem ser atenuados, por meio de procedimentos alternativos de produção, baseados no conhecimento e bases científicas da Agroecologia. 5.REFERÊNCIAS CAPORAL, F.R. Agroecologia: uma nova ciência para apoiar a transição a agriculturas mais sustentáveis. Brasília, P.30. FRANÇA, Valdo; MOREIRA, Tereza. Agricultor ecológico: Técnicas alternativas de produção. São Paulo, Contexto, GOMES, J.C.C. Bases epistemológicas da Agroecologia. In: AQUINO, A. M. de; ASSIS, R. L. de. (Org.). Agroecologia: Princípios e técnicas para uma agricultura orgânica sustentável. Brasília- DF, Embrapa Informação Tecnológica, 2005, p GRAZIANO, José da Silva. Processos técnicos e relações de trabalho na agricultura. São Paulo, Editora HUCITE,

264 OLIVEIRA, Flávia Paiva Medeiros de. Direito e Meio Ambiente. GUIMARÃES, Flávio Romero. São Paulo, WVC,2004 P.14. SANTOS, Milton. Do meio natural ao meio técnico-científico-informacional. In: A Natureza do Espaço. São Paulo, EDUSP,

265 ÁREA TEMÁTICA: AGROPECUÁRIA NORDESTINA E RECURSOS HÍDRICOS ANÁLISE DA PRODUÇÃO E DO COMPORTAMENTO DAS EXPORTAÇÕES DE UVAS PARA O PERÍODO DE : BRASIL E PERNAMBUCO. RENATO JUNIOR DE LIMA Graduando do Curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA), e- mail: lima.renatojunior@gmail.com, telefone: (87) WELLINGTON RIBEIRO JUSTO Professor associado ao Departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA) e Professor do PPGECON da UFPE. Doutor em Economia pelo PIMES, justowr@yahoo.com.br, telefone:

266 ANÁLISE DA PRODUÇÃO E DO COMPORTAMENTO DAS EXPORTAÇÕES DE UVAS PARA O PERÍODO DE : BRASIL E PERNAMBUCO. RESUMO: A viticultura tem se mostrado importante atividade do agronegócio brasileiro em virtude da geração de renda, emprego e divisas, notadamente no nordeste brasileiro. O principal objetivo desse trabalho é analisar a produção e exportação das uvas de mesa no Brasil e em Pernambuco no período de 2005 a Partindo desse pressuposto, é importante para o setor e para a formulação de políticas públicas, identificar o desempenho do setor produtor e exportador de uvas de mesa do Brasil nesse período. Foram utilizados dados secundários, disponíveis em diversas publicações e sites relacionados com o tema. Além de análise descritiva foram estimados três indicadores, sendo: Coeficiente de exportação, Market Share e Grau de engajamento. Os resultados sugerem aumento na produção, principalmente a produção para exportação cultivada no Vale do São Francisco. O coeficiente de exportação mostrou oscilações no decorrer dos anos analisados. Nota-se que em todos os anos analisados, a participação brasileira na produção mundial de uvas esteve entre 1,83% e 2,26%. No período analisado a produção corresponde entre 1,66 a 2,46 vezes mais do que o consumo brasileiro, gerando assim, excedentes exportáveis, como também para a produção na cadeia produtiva. Verifica-se a necessidade da formulação e adaptação de políticas públicas para o setor da viticultura para tornar os produtores brasileiros de uvas mais competitivos no mercado internacional. Palavras-chaves: Uvas de mesa, exportação, Brasil, Pernambuco, competitivos. ABSTRACT: Viticulture has been an important activity of Brazilian agribusiness due to the generation of income, employment and foreign exchange, especially in Brazilian northeastern. The main objective of this paper is to analyze the production and exportation of grapes in nature in Brazil and Pernambuco from 2005 to Based on this assumption, it is important for the industry and for the formulation of public policies, identifies the performance of the sector producer and exporter of grapes in nature in Brazil during this period. We used secondary data available in various publications and websites related to the topic. Besides descriptive analysis three indicators were estimated, as follows: Coefficient of export, market share and degree of engagement. The results suggest an increase in production, mainly produced for export grown in the São Francisco Valley. The export coefficient showed fluctuations over the years analyzed. We notice that in all the years analyzed, the Brazilian participation in world production of grapes was between 1.83% and 2.26%. In the analyzed period the production is between 1.66 to 2.46 times more than the Brazilian consumption, thus generating exportable surpluses, as well as for production in the supply chain. There is a need for the formulation and adaptation of public policies for the sector of viticulture Brazilian producers to become more competitive in the international market grapes. Key-words: Grapes, Exportation, Brazil, Pernambuco, Competitive. 266

267 1. Introdução A produção agrícola brasileira, de uma maneira geral, é competitiva em relação aos demais países, sendo ainda um dos poucos países do mundo com grande capacidade de expansão de área física para a produção agropecuária. Historicamente o Brasil sempre se destacou com seu modelo agroexportador tornando a agricultura uma das principais fontes de renda do país e gerando divisas. Entre os produtos exportados destacam-se: soja, café, milho e o açúcar. Nesse contexto também merece destaque a fruticultura brasileira que além de ser uma forma de alimentação para a população, destaca-se como uma atividade altamente atraente para o mercado interno/externo e tem uma parcela importante da produção voltada para a exportação contribuindo para a geração de empregos e divisas. Segundo Carvalho e Miranda (2009), é relevante o poder nutricional que possuem as frutas. É possível notar além de várias outras substâncias que auxiliam na prevenção e combate de doenças, tem vitaminas, antioxidantes, sais minerais, carboidratos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Frutas (IBRAF) a cadeia produtiva das frutas em 2012 novamente destacou-se como um dos mais importantes segmentos econômicos do agronegócio brasileiro, com indicadores representativos, sendo o 3º maior produtor de frutas frescas do mundo, com volumes estimados de 43,6 milhões de toneladas. Em constante evolução, a base agrícola já ultrapassou 2,2 milhões de hectares cultivados em todos os estados brasileiros, empregando cinco milhões de pessoas, representando 27% da mão de obra agrícola do agronegócio. Contudo, continua fundamentada em pequenas e médias propriedades, mas atingindo um valor agrícola bruto de R$ 20 bilhões. Para o IBRAF (2012) O volume de exportação de frutas aumentou no ano Já as importações diminuíram. No segmento das frutas frescas, a situação econômica mundial acabou tornando a importação pouco vantajosa. Os produtores investiram mais no mercado interno em 2012, o que possibilitou que o manteve aquecido. A boa safra também colaborou para este cenário e, ainda, auxiliou em um ligeiro aumento das exportações. Segundo o levantamento do IBRAF em 2012, quanto às exportações brasileiras, em 2012 as frutas frescas geraram divisas de US$ 619 milhões, valor 2,3% menor em comparação a 2011, e o volume exportado foi de 693 mil toneladas, 1,73% mais que 2011 demonstrando uma demanda estável. Houve, também, problemas pontuais ocorridos com países habitualmente fornecedores, 267

268 como queda na safra de maçãs na Europa, reduzindo os estoques locais e possibilitou o aumento das nossas exportações de maçãs para aquele continente. Em relação aos estados brasileiros, em volume de exportação das frutas frescas em 2012, o Ceará liderou o ranking, seguido pelo Rio Grande do Norte, Bahia, São Paulo e Pernambuco, que no seu conjunto foram responsáveis por 80% de toda exportação brasileira. Com relação ao valor exportado a Bahia lidera o ranking seguido do Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Este resultado advém do elevado investimento no setor fruticultor nordestino (IBRAF, 2012). Nesse contexto, destaca-se o cultivo da uva como uma das frutas mais cultivadas no país apresentando sempre uma cadeia produtiva dinâmica e com grandes volumes exportados. A uva é uma das frutas mais consumidas no mundo todo na forma in natura e como suco. Percebe-se também, extenso mercado como insumo básico da indústria de vinhos e outros fermentados alcoólicos. De acordo com a Embrapa (2012) a vitivinicultura brasileira está passando por uma transformação. Pois se trata de uma atividade importante para a sustentabilidade da pequena propriedade no Brasil, que tem se tornado igualmente relevante no que se refere ao desenvolvimento de algumas regiões, como as cidades do polo fruticultor do Vale do São Francisco, com a geração de emprego em grandes empreendimentos, que produzem uvas de mesa e uvas para processamento. O principal objetivo desse trabalho é analisar o comportamento do setor exportador brasileiro e pernambucano da uva de mesa para o período de 2005 a Partindo desse pressuposto, faz-se necessário e de grande interesse para o setor e para a formulação de políticas públicas, identificar o desempenho do setor produtor e exportador de uvas de mesa do Brasil, com relação às exportações no período de 2005 a Desta forma, este trabalho avança na literatura ao utilizar de dados mais recentes. 2. A fruticultura no Brasil O Brasil no ano de 2012 foi o 3º maior produtor de frutas frescas do mundo, ficando atrás apenas de China e Índia, com volumes estimados de 43,6 milhões de toneladas. Tem suprido o mercado interno com eficiência, importando pouca quantidade de frutas dos demais países do mundo. Mas é preciso ressaltar que mesmo se caracterizando como um país agroexportador, no setor fruticultor a produção, na sua maioria é absolvida pelo mercado interno. 268

269 Para Carvalho e Miranda (2009) O produtor brasileiro tem capacidade para atender os requisitos de qualidade exigidos pelos importadores adquirindo um grande diferencial para o seu produto e sendo muito aceito no mercado internacional. Desta forma, o Brasil poderá aumentar seu potencial na fruticultura pautado na expansão de suas exportações. De acordo com o Ministério da agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), O setor de fruticultura está entre os principais geradores de renda, emprego e de desenvolvimento rural do agronegócio nacional. Os índices de produtividade e os resultados comerciais obtidos nas últimas safras são fatores que demonstram não apenas a vitalidade como também o potencial desse segmento produtivo. Atualmente, existem pelo menos 30 grandes polos de produção de frutas espalhados por todo o País. A fruticultura é uma atividade com elevado efeito multiplicador de renda e, portanto, com força suficiente para dinamizar economias locais estagnadas e com poucas alternativas de desenvolvimento. O exemplo do polo de Frutas de Petrolina Juazeiro é emblemático da capacidade desenvolvimentista da fruticultura em geral. Na tabela 1, que mostra a produção nacional das principais frutas, percebe-se que a principal fruta produzida com relação à quantidade produzida é a laranja, que em grande parte é utilizada para produção de suco para exportação. Em segundo lugar está a banana, fruta de grande consumo e na maior parte in natura. Em terceiro lugar está a melancia seguida de mamão e uva. Esta última engloba todas as uvas para consumo direto e para utilização na produção de vinhos. Segundo CARVALHO et al (2009), em 2007 a uva aparecia em terceiro lugar, enquanto as duas primeiras permaneceram em suas posições. Mas é preciso ressaltar que ele não considerou na tabela a melancia. 269

270 Tabela 1 Quantidade Produzida e Valor da Produção,Brasil. Frutas Quantidade produzida Valor da produção (Mil (toneladas) reais) Laranja Banana Melancia Mamão Uva Maça Limão Manga Tangerina Maracujá Melão Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal (2012) Ainda segundo a tabela 1 se a análise for feita segundo o valor da produção a laranja e a banana permaneceriam em primeiro e segundo, respectivamente, e a uva passaria a ser a terceira colocada. Já a melancia passaria da terceira colocação para a quinta. O estado de São Paulo é o maior produtor de frutas frescas do Brasil, ofertando cerca de 17,146 milhões de toneladas (mais de 40% do total nacional). O segundo maior é do Estado da Bahia com 4,748 milhões de toneladas. O Estado de Minas Gerais passou de quarta colocada em 2011 para a terceira colocação em Enquanto o Rio Grande do Sul ocupa agora a quarta colocação. O estado de Pernambuco se encontra em décimo lugar com relação ao volume produzido (1,219 milhão de toneladas), mas é o quinto do ranking em receita (R$ 1,129 Bilhão) (ANUÁRIO BRASILEIRO DA FRUTICULTURA 2014). O nordeste é um grande polo da fruticultura brasileira. Há grandes investimentos na fruticultura o que contribui para o desenvolvimento de diversas cidades. Isso devido, principalmente, ao rio São Francisco que possibilita o plantio irrigado em vários polos. 270

271 De acordo com Vital et al (2011) a fruticultura no Nordeste do Brasil está concentrada no Vale do Submédio São Francisco. O Polo de Fruticultura irrigada Petrolina-Juazeiro compreende municípios do Estado da Bahia e de Pernambuco. Os municípios são: Lagoa Grande, Orocó, Petrolina e Santa Maria da Boa Vista em Pernambuco e Casa Nova, Curaçá, Juazeiro e Sobradinho na Bahia. Elevados investimentos veem acontecendo nos últimos anos, tanto do setor público como do privado, com a finalidade de consolidar ainda mais as cadeias produtivas da fruticultura da região Nordeste. Como por exemplo, a transposição do Rio São Francisco. Possivelmente terá um impacto positivo na produção de frutas. Para Carvalho et al (2009) há vários investimentos que possibilitam o desenvolvimento da região Nordeste. Entre eles pode-se destacar o investimento nos sistemas de irrigação, que faz com que aumente a produção de frutas no nordeste, em regiões do semiárido, e diversificando a produção das frutas, das quais merecem destaque o melão, manga e uva. Desta forma, a região pode aumentar sua capacidade produtiva de frutas. Para Oliveira et al (2008) a alta produção frutífera é uma alternativa para promover o desenvolvimento regional, aumentando a renda dos produtores e aumentando a competitividade. Neste contexto, destaca-se o polo fruticultor do Vale do São Francisco, que nos últimos anos apresenta-se como um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento da fruticultura, cada vez expandindo a área cultivada e aumentando a produção, principalmente voltada à exportação. 3. A viticultura no mundo e no Brasil A produção mundial de uvas aumentou nos manteve-se estabilizada nos últimos anos, ocorrendo pequenas variações. Sendo que os maiores produtores no ano de 2012 são: China, Estados Unidos da América, Itália, França, Espanha, Turquia, Chile, Argentina, Irã e África do Sul conforme pode ser visto na tabela 2. O Brasil encontra-se em 12º no ranking mundial de produção de uva (FAO, 2012). 271

272 Tabela 2- Quantidade de produção de Uvas Mil Toneladas País Mundo º China º EUA º Itália º França º Espanha º Turquia º Chile º Argentina º Irã º África do Sul º Austrália º Brasil Fonte: (FAOSTAT, 2012) A viticultura é importante para a sustentabilidade de milhares de pequenas propriedades e tem se tornado determinante no desenvolvimento de algumas regiões e na geração de empregos em grandes empreendimentos que produzem uvas [...] Mas, nos últimos anos, por um lado pela crise econômica mundial; por outro lado associada ao ingresso de outros países no mercado, dificultou as exportações de uvas de mesa do Vale do São Francisco [...] em 2012 houve redução de 0,52% na produção de uvas no Brasil, no comparativo com A maior queda produtiva ocorreu no Paraná (-32,86%), seguido pela Bahia (-4,80%). Nos estados de Pernambuco, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul houve aumento na colheita de uvas de 7,71%, 3,09%, 4,64% e 1,29%, 272

273 respectivamente. Nesse mesmo ano 57,07% da produção foi destinado ao processamento e 42,93% foi dirigido ao consumo in natura (ANUÁRIO BRASILEIRO DA FRUTICULTURA, 2013). De acordo com a tabela 3 tem-se que o estado maior produtor de uvas é o estado do Rio Grande do Sul, concentrando basicamente sua produção para processamento (vinhos e suco de uva) responsável por cerca de 90% da produção nacional de vinhos e, em segundo lugar aparece o estado de Pernambuco, onde a principal finalidade é a produção de uvas de mesa. Tabela 3 Estados Brasileiros maiores produtores de uva. Estado Quantidade produzida Valor da produção (mil (toneladas) reais). Brasil º Rio Grande do Sul º Pernambuco º São Paulo º Paraná º Santa Catarina º Bahia º Minas Gerais º Goiás º Paraíba º Espírito Santo Fonte: (IBGE, 2012). Os principais municípios brasileiros produtores de uvas são: Petrolina-PE ( toneladas), Bento Gonçalves-RS ( toneladas), Flores da Cunha-RS ( toneladas) e Caxias do Sul-RS ( toneladas) (IBGE, 2012). No ano de 2013 o Brasil exportou cerca de toneladas de uvas de mesa. Os principais destinos das exportações foram: Países Baixos (Holanda), respondendo por quase metade do destino das exportações brasileiras de uvas, Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e Noruega (AliceWeb, 2014). 273

274 Nesse contexto internacional, o polo do Vale do São Francisco é responsável por cerca de 80% das exportações brasileiras de uvas e possui aproximadamente uma área cultivada de 5000 hectares. Mesmo assim, o consumo interno é alto e as exportações são baixas, chegando a ser cerca de 4% da produção total, enquanto o Chile exporta cerca de 40% de sua produção. (Veloso et al, 2008 apud Araújo 2004). Por sua vez, os principais países exportadores continuaram sendo o Chile, Estados Unidos, África do Sul, Turquia e Índia, que em conjunto contribuíram com 74% das exportações mundiais (IBRAF, 2012). Apesar da importância econômica que a uva representa nos mercados nacional e internacional, esta cultura na região do Submédio do Vale do São Francisco, ainda não atingiu um nível de exportação que reflita o seu verdadeiro potencial. Ainda necessita de ajustes no seu sistema de produção com o objetivo de promover continuamente a melhoria de qualidade do produto e a sua competitividade nos mercados internacionais (OLIVEIRA et al, 2009). 4. Material e métodos 4.1 Métodos O estudo caracteriza-se como exploratório (VERGARA, 2008) analisando-se dados secundários de produção e exportações de frutas (especificamente das uvas) no Estado de Pernambuco e no Brasil. As fontes utilizadas foram: Instituto Brasileiro de Fruticultura (IBRAF), Ministério do desenvolvimento, indústria e comércio exterior (MDIC/SECEX), Ministério da agricultura, pecuária e abastecimento (MAPA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Empresa brasileira de pesquisa agropecuária (EMBRAPA) e Organização das Nações Unidas Para Alimentação e Agricultura (FAO). Além de livros técnicos e artigos publicados nos mais diversos congressos regionais e nacionais e revistas. Utilizou-se uma estatística descritiva, com analise tabular, com uso de gráficos e tabelas. Além de três indicadores, conforme se verifica adiante. 4.2 Técnicas de análise Para alcançar os objetivos foram estimados indicadores seguindo o modelo proposto por Veloso et al (2008). Assim, foram estimados três indicadores de desempenho: coeficiente de exportação, Market share doméstico e Grau de engajamento. O primeiro indicador de desempenho utilizado é o coeficiente de exportação; ou seja, é uma relação: valor das exportações da atividade/valor total da produção da atividade. Mede a participação das exportações na receita total do setor. 274

275 I1= X VP (1) Em que: X = Exportações totais de uvas de mesa, em dólares (US$); VP = Valor da Produção total da atividade selecionada, em dólares (US$). O segundo indicador de desempenho selecionado consiste na porção da produção total do setor pertencente ao País selecionado na pesquisa. Este indicador é chamado de Market share doméstico e é expresso como sendo: I2= Pi Pm Em que: Pi = Produção interna, do país selecionado, por atividade frutícola( em toneladas); Pm = Produção mundial da atividade em toneladas. O terceiro indicador de desempenho selecionado é a Grau de Engajamento, que representa a parcela da demanda interna atendida pela produção doméstica. I3 = Pi Dj Em que: Pi = Produção de uvas de mesa da região analisada, em toneladas; Dj = Demanda interna total por uvas de mesa, em toneladas. (2) (3) 5. Resultados e discussões Todos os dados obtidos para este trabalho foram coletados junto a sites do IBGE, do MDIC, por meio do sistema Aliceweb, da FAO, entre ostros já citados nos materiais e métodos. Exceto, o valor da produção brasileira em dólares, que foi calculado o preço médio da tonelada exportada e multiplicado pela quantidade produzida, fornecida pelo IBGE. 5.1 Produção brasileira e pernambucana de uvas Analisando os dados descritos na tabela 4, nota-se que, a produção brasileira de uvas, tanto em quantidade, quanto na área colhida cresceu 14,78% e 8,44%, respectivamente no período de 2005 a Em Estado de Pernambuco percebe-se que, tanto na quantidade produzida, quanto na área colhida aumentaram 51,65% e 39,31% respectivamente, no mesmo período analisado. Ainda de acordo com a tabela 4, observa-se que no Brasil os maiores aumentos na produção ocorreram nos anos de 2007: 9,11% e 2011 com aumento de 13,77%. Nos últimos anos da série, 275

276 2012 e 2013, apresentaram reduções de 1,77% e 6,41%, respectivamente. Com relação à área colhida, em quase todos os anos o Brasil aumentou sua área, exceto no último ano que teve redução de 3,27%. Em relação ao Estado de Pernambuco, em quase todos os anos apresentou aumento na produção, exceto, nos anos de 2008 e 2009 em que houve redução de 3,08% e 3,97%, respectivamente. No ano de 2010 em relação a 2009, teve um aumento de 23,12%, isto é, o maior aumento nos anos analisados. Em relação à área colhida, a redução ocorreu nos anos de 2011 e 2012, com redução de 2,04% e 0,86% respectivamente. Tabela 4 Quantidade Produzida (Toneladas) de uvas e Área Colhida (Hectares), Brasil e Pernambuco. Ano Produção Brasileira Produção Pernambucana Toneladas Var(%) Há Var(%) Tonelada Var(%) ha Var(%) , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,35 Var% 14,78 8,44 51,65 39,31 Fonte: IBGE, adaptado pelos autores. De acordo com o Anuário Brasileiro de Fruticultura (2013), no ano de 2012 houve redução da produção principalmente nos estados do Paraná e Bahia. Em sentido contrário em Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul houve aumento da produção. Em relação aos maiores aumentos 276

277 de área se destacaram Paraná e Santa Catarina. Já nos estados de Pernambuco e Bahia houve reduções. 5.2 Exportações brasileira e pernambucana de uvas Analisando-se os dados da tabela 5, verifica-se que houve oscilações dentro do período analisado. Mas considerando, a variação de 2005/2013, houve redução tanto na quantidade exportada, quanto no valor das exportações (em US$ FOB), reduzindo 15,69% e 4,00% respectivamente. No estado de Pernambuco, aconteceu o inverso, isto é, houve aumento, tanto da quantidade exportada, quanto na receita de exportação com valores correspondente a 10,79% e 29,44%, respectivamente. Ainda de acordo com a tabela 5, nota-se que nos últimos anos o Brasil vem reduzindo o volume exportado, bem como o valor arrecadado. Nos três últimos anos ocorreram reduções de 2,32%, 12,42% e 16,99%. Em Pernambuco, em 2012 e 2013, houve redução de 21,53% e 11,13% na quantidade exportada e de 18,29% e 11,90% no valor recebido com as devidas exportações. Estes resultados refletem em parte o auge da crise financeira de 2009 que atingiu o lado real da economia com magnitudes diferentes entre os países atingidos. Segundo o Anuário Brasileiro de Fruticultura (2014) essa redução da exportação das uvas de mesa do Brasil, ocorreu também em virtude de um aumento da oferta mundial na janela de mercado onde o Brasil está inserido. A produção do Vale do São Francisco foi mais afetada haja vista a elevação dos custos de produção e aumento da concorrência. Por outro lado, houve aumento na demanda do mercado interno e a maior parte da produção foi destinada ao mercado interno. 277

278 Tabela 5 Quantidade exportada (Toneladas-Ton) e Valor das exportações (US$ FOB). Ano Exportação Brasileira Exportação Pernambucana Ton Var(%) Mil US$ FOB Var(%) Ton Var(%) MilUS$ FOB Var( %) , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,90 Var % -15,69-4,00 10,79 29,44 Fonte: FAOSTAT, adaptado pelos autores. No período analisado (2005/2013) o Brasil exportou cerca de toneladas de uva, sendo que 61,71% foi exportado pelo estado de Pernambuco ( toneladas). Com relação ao valor recebido com as exportações, nesse período o Brasil arrecadou cerca de US$ mil (FOB), e o estado de Pernambuco US$ mil (FOB), representando 63,32% do valor recebido. A análise evidencia a importância do Vale do São Francisco e consequentemente do estado de Pernambuco para o setor da viticultura brasileira, notadamente a produção voltada para a exportação haja vista que as exportações brasileiras vêm perdendo espaço no cenário internacional. Desta forma fica evidente o espaço para a formulação de políticas públicas destinadas a esse setor, 278

279 com a finalidade de reduzir custos, aumentar a produção destinada ao mercado externo, consolidando a posição brasileira no mercado internacional Coeficiente de exportação O coeficiente de exportação serve para mostrar a participação do valor das exportações de uma determinada atividade em relação ao valor total da produção dessa atividade. De acordo com o gráfico 1, observa-se que o coeficiente de exportação brasileiro das uvas tem oscilações no decorrer dos anos analisados. Entre 2005 e 2008 o coeficiente cresceu passando de 4,16% para 6,02%. Gráfico 1 Coeficiente de Exportação, Brasil a ,00% 6,00% 5,00% 4,00% 3,00% 2,00% 1,00% 0,00% 4,16% Coeficiente de Exportação-Brasil 6,02% 5,77% 4,96% 4,00% 4,49% 3,85% 3,43% 3,05% Fonte: Elaboração com base nos dados da pesquisa. Ainda de acordo com o gráfico 1, verifica-se que a partir de 2008 o coeficiente de exportação declinou. De 2008 para 2009 passou de 6,02% para 4%. No ano de 2010 cresceu cerca de 0,5%, mas logo no ano seguinte voltou a cair. Até chegar em 2013 representando apenas 3,05%. Ou seja, das receitas advindas das vendas de uvas apenas 3,05% provém das exportações. O gráfico 2, mostra o coeficiente de exportação especificamente para o estado de Pernambuco. De acordo com esse gráfico, pode-se constatar comportamento similar ao apresentado para o Brasil, porém a participação das exportações encontra-se em maior magnitude. 279

280 Gráfico 2 Coeficiente de Exportação Pernambuco, Coeficiente de Exportação-Pernambuco 35,00% 30,00% 27,31% 30,50% 25,00% 20,00% 15,00% 17,54% 21,93% 20,85% 21,18% 20,15% 14,68% 12,82% 10,00% 5,00% 0,00% Fonte: Elaboração com base nos dados da pesquisa. Ainda com base no gráfico 2, nota-se que o ano com maior pico foi 2008, no qual as exportações de uvas pernambucana atingiram o teto de 30,50% das receitas de uvas do estado. E nos últimos anos vem reduzindo sua participação, chegando a 12,82% no ano de Assim, percebe-se o efeito da crise financeira internacional nas exportações da viticultura brasileira e pernambucana. 5.4 Market share doméstico O coeficiente Market Share é a fatia de mercado que o país tem em uma determinada atividade. De acordo com o gráfico 3, constata-se que a participação do Brasil na produção mundial de uvas aumentou no decorrer dos anos analisados. Com base no gráfico, nota-se que em todos os anos analisados a participação brasileira na produção mundial de uvas esteve entre 1,83% e 2,26%. Gráfico 3 Market share doméstico. 0,0250 0,0200 0,0150 0,0100 0,0050 0,0000 Market share doméstico 280

281 Fonte: (Dados da Pesquisa) Ainda de acordo com o gráfico 3, o aumento da participação brasileira na produção mundial está relacionada com o dinamismo da viticultura no Vale do São Francisco, principalmente na cidade de Petrolina que é a cidade maior produtora de uva do Brasil. Mesmo assim, o Brasil ainda possui uma pequena parcela da produção mundial Grau de Engajamento O grau de engajamento ou taxa de auto suprimento, representa a parcela da demanda interna atendida pela produção doméstica. De acordo com o gráfico 4, observa-se que em todos os anos analisados o Brasil foi autossuficiente na produção de uva. No período analisado a produção corresponde entre 1,66 a 2,46 vezes mais do que o consumo brasileiro, gerando assim excedentes exportáveis, como também pra a produção dos demais produtos da cadeia produtiva. Gráfico 4 Grau de Engajamento, Brasil (Dados da pesquisa) Grau de Engajamento-Brasil 3,00 2,50 2,00 1,77 1,66 1,91 1,98 2,05 1,84 2,46 2,42 1,93 1,50 1,00 0,50 0,00 Resultado similar tinha sido demonstrado por Veloso et al (2008), sendo a análise de 1990 a 2005, a taxa de auto suprimento mostrou que a produção foi de 1,5 e 2,5 vezes a mais que a demanda interna. 6. Considerações finais Notou-se que a cadeia produtiva das frutas em 2012 novamente destacou-se como um dos mais importantes segmentos econômicos do agronegócio brasileiro, com indicadores representativos, sendo o 3º maior produtor de frutas frescas do mundo. O país ocupa a 12ª colocação do ranking de produção de uva. 281

282 O polo do Vale do São Francisco é responsável por quase 100% das exportações brasileiras de uvas, embora o maior estado produtor seja Rio Grande do Sul, focado principalmente na produção de vinhos. A produção Brasileira de uvas vem apresentando oscilações nos últimos anos, sendo que o estado de Pernambuco foi um dos únicos que tem aumentado, consecutivamente, sua produção nos últimos quatro anos. O estado no ano de 2013 foi responsável por 16,85% da receita nacional proveniente da produção de uvas. Verificou-se que apesar do aumento da produção, as exportações diminuíram. Sendo que a maior parte da produção é destinada ao mercado interno, seja para consumo in natura, ou como matéria prima para a indústria. Recentemente tem sentido o impacto da competitividade de outros países no mercado internacional, inclusive com a entrada de novos países. Constata-se que em volume, a demanda interna por uvas é totalmente suprida pela produção nacional com o excedente exportado e utilizado na produção de suco e vinho. A baixa participação brasileira no mercado internacional é um fator a ser explorado. Nota-se que em todos os anos analisados a participação brasileira na produção mundial de uvas esteve entre 1,83% e 2,26%. Assim, Verifica-se a necessidade da formulação e adoção de políticas públicas para o setor da viticultura visando tornar os produtores brasileiros de uvas mais competitivos nos mercados internacionais. Pois este setor vem permitindo elevados rendimentos, gerando emprego e renda e promovendo o desenvolvimento regional. 7. Referências bibliográficas Anuário brasileiro da fruticultura 2012 / Heloísa Poll... [et al.]. Santa Cruz do Sul: Editora Gazeta Santa Cruz, p. : il. ISSN Disponível em: tura_2013.pdf>. Acesso em: 10 de janeiro de Anuário brasileiro da fruticultura 2014 / Cleiton Evandro dos Santos... [et al.]. Santa Cruz do Sul : Editora Gazeta Santa Cruz, p. : il. ISSN Disponível em: < ultura_2014.pdf>. Acesso em: 15 de agosto de CARVALHO, José Márcio ; MIRANDA, Diogo Leitão. As exportações brasileiras de frutas: um panorama atual. In: XLVII Congresso da SOBER, 2009, Porto Alegre-RS. Anais do XLVII 282

283 Congresso da SOBER, Disponível em: Acessado em: 12 de maio de EMBRAPA Empresa Brasileira De Pesquisa Agropecuária. Vitinicultura Brasileira: Panorama Disponível em: < Acessado em: 23 de dezembro de FAO- Organização das Nações Unidas Para Alimentação e Agricultura. FaoStat. Disponível em: < Acesso em: 16 de setembro de IBRAF INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTAS. Panorama da cadeia produtiva das frutas Disponível em: < %C3%B3cios_MAPA.pdf.> Acessado em: 14 de junho de IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal Disponível em: <http// Acesso em 14 de junho de IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Previsão de Safra Disponível em: < >. Acesso em: 14 de junho de IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal Disponível em: Acesso em: 14 de junho de MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cadeia produtiva de frutas. Secretaria de Política Agrícola, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura. Brasília : MAPA/SPA, p. (Agronegócios ; v. 7). Brasília, MDIC - Ministério do desenvolvimento, indústria e comércio exterior. Sistema AliceWeb. Disponível em: < Acesso em: 18 de setembro de MELLO, L.M.R. de. Viticultura Brasileira: Panorama Embrapa Uva e Vinho. Bento Gonçalves, RS. Disponível em: Acesso em: 12 de julho de

284 MELLO, L.M.R. de. Viticultura Brasileira: Panorama Embrapa Uva e Vinho. Bento Gonçalves, RS. Disponível em: Acesso em: 13 de julho de OLIVEIRA, J. E. de M; LOPES, P. R. C; MOREIRA, A. N. Avanços e sucessos da produção integrada de uva no vale do São Francisco. In: seminário brasileiro de produção integrada de frutas, 11.; Seminário sobre sistema agropecuário de produção integrada, 3., 2009, Petrolina. Produção integrada: base de sustentabilidade para a agropecuária brasileira. Petrolina: Embrapa Semi-Árido: Valexport, Disponível em: < Acessado em: 13 de janeiro de OLIVEIRA, José Eudes de Morais. et al.produção integrada de uva no Vale do São Francisco. In: Congresso Brasileiro de Fruticultura, 20; annual meeting of the interamerican society for tropical horticulture, 54. Vitória, Frutas para todos : estratégias, tecnologias e visão sustentável: mini-cursos. Vitória: INCAPER: Sociedade Brasileira de Fruticultura, Disponível em: Acesso em: 14 de janeiro de VELOSO, A. F. ; CORREA, C. C. ; LIMA FILHO, D. O ; Rodrigues, F. S. Demanda Mundial e Desempenho das Exportacoes Brasileiras de Uva de mesa no periodo de 1990 a In: XLVI Congresso Brasileiro de Administracao, Economia e Sociologia Rural, 2008, Rio Branco/AC. XLVI Congresso Brasileiro de Administracao, Economia e Sociologia Rural. Rio Branco/AC, Disponível em: < Acesso em: 15 de maio de VERGARA, S. C. Métodos de pesquisa em administração. 3ª Edição, Editora Atlas, VITAL, T. W. ; MÖLLER, Horst Dieter ; FAVERO, L. A. ; SAMPAIO, Y. ; Elias Silva. A Fruticultura de Exportação do Vale do São Francisco e a Crise Econômica: Efeitos Sobre a Convenção Coletiva de Trabalho Rama : Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, v. 4, p ,

285 ÁREA TEMÁTICA: 1. Recursos Hídricos e Políticas Públicas AVALIAÇÃO DAS POLITICAS PÚBLICAS PARA O SEMI ÁRIDO NORDESTINO: UMA PERPECTIVA A PARTIR DA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS PRISCILA DE SOUZA SILVA Graduanda em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) pryscila.souzas@hotmail.com Fone: (88) FRANCISCO DEMETRIUS MONTEIRO RODRIGUES Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA) demetriusmonteiro85@gmail.com Fone: (88) JOSÉ MÁRCIO DOS SANTOS Professor Assistente da Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestre em Economia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Graduado em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA) jmarcio.santos@hotmail.com Fone: (88)

286 AVALIAÇÃO DAS POLITICAS PÚBLICAS PARA O SEMI ÁRIDO NORDESTINO: UMA PERPECTIVA A PARTIR DA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS RESUMO: A presente discussão aborda os paradigmas orientadores dos modelos de desenvolvimento do semiárido brasileiro, materializado em políticas públicas de combate à seca. Os programas de combate à seca implementados pelo governo federal, desde 1877, mostram esgotamento devido sua atuação estar baseada na reversão climática da região, em face de obras hídricas faraônicas de dimensões macroeconômicas. Trata-se de uma contribuição para reavaliar e discutir as estratégias desenvolvimentistas no tangente as obras públicas para a região do semiárido, tendo como ponto central a condução das obras hídricas ao longo do processo. O estudo demonstra a necessidade de readequação das políticas, em prol do fortalecimento e melhores condições de vida para região, com base no manejo adequado e sustentável da caatinga, através de tecnologias simples e contínuas de fornecimento de água, como as cisternas, cultura milenar que apresenta resultados positivos para as famílias difusas e mais desassistidas. Este artigo é resultado de uma revisão bibliográfica, a partir de artigos e revistas científicas, buscando um maior direcionamento acerca da busca de alternativas para gestão dos recursos hídricos e convivência com o semiárido. Palavras-chaves: Políticas públicas. Semiárido. Combate à Seca. Recursos Hídricos. ABSTRACT: This discussion addresses the guiding paradigms of the Brazilian semiarid development models, materialized in public policies to combat drought. The drought relief programs implemented by the federal government since 1877, show exhaustion due his performance be based on climate reversal of the region in the face of pharaonic water works macroeconomic dimensions. It is a contribution to re-evaluate and discuss development strategies in tangent public works for the regions semi-arid, with the central point the conduct of water works through the process. The study demonstrates the need for readjustment of policies in favor of strengthening and better living conditions for the region, based on adequate and sustainable management of the savanna, through simple and continuous water supply technologies, such as tanks, ancient culture that it shows positive results for diffuse and more underserved families. This article is the result of a literature review, from articles and scientific journals, seeking greater guidance on searching for alternatives for managing water resources and coexistence with the semiarid region. Keywords: Public policy. Semiarid. Drought. Water Resources. 286

287 1. Introdução O Nordeste brasileiro, socialmente caracterizado, ou melhor, discriminado como o lugar da seca e região problema, fruto de julgamentos superficiais e imagens historicamente construídas, também passou a ser considerado pelos sertanejos como região da desolação e calamidades devido à perspectiva destorcida do governo e suas medidas estruturais, aonde a seca tornou-se madrasta dos pobres e mãe dos ricos (CIRILO, 2008). O fenômeno climático natural do semiárido nordestino, como ressaltam, Campos e Studart (2001, p. 9), adquiriu uma conotação bem particular, [...] está intimamente associada à penúria, à fome, ao êxodo rural, aos carros pipas e às frentes de serviço. Diversas estratégias visaram reverter a seca no Nordeste, desde 1877, quando uma catastrófica seca assolou a população pobre e também prejudicou os coronéis e grandes latifundiários. Desde então, foram intensificadas as decisões políticas, que resultaram na formação e implementação de programas e projetos governamentais, com a finalidade explícita de enfrentamento das consequências climáticas do semiárido, através de obras hídricas que pretendiam abastecer toda população difusa da região. Contudo, elas não demostraram grandes resultados, devido sua implementação estar baseada na reversão em face do modelo desenvolvimentista vigente. Em sua maioria favoreciam apenas grandes latifundiárias e populações ribeirinhas das grandes obras hídricas, tais como: adutoras e açudes (SILVA, 2006). Durante décadas, as políticas públicas eram implementadas na tentativa de corrigir distorções conjunturais, através da construção de obras faraônicas, que estimulavam as disparidades sociais em um círculo vicioso de dependência e saquiamento das famílias pobres em detrimento das mais abastadas, tornando a seca culpada pelo o atraso econômico da região e de sua gente (CIRILO, 2008). Na indústria da seca, a escassez de água ajudou a justificar inúmeras ações governamentais e todo um arcabouço econômico e político se cristalizou a partir desse fenômeno ambiental [...] (CHACON & BURSZTYN, 2005, p. 1). Consequência da transposição de experiências exógenas, as políticas públicas implementadas ao longo dos anos, só repercutiram em inúmeros fracassos, pois embora, diversas regiões semiáridas do mundo atuem implantando infraestruturas hídricas em dimensões macroeconômicas, para suprir o abastecimento em regiões de disponibilidade de água insuficientes. No caso do Nordeste brasileiro, esse esforço não condiz com a necessidade imediata da população local. 287

288 Diante disto, surge o seguinte questionamento: porque houve tanto descaso de ações governamentais quanto a convivência com o semiárido? Será que havia interesses pessoais em questão? O desenvolvimento deste texto, tenta responder estes questionamentos. Dessa forma, essa pesquisa tem como objetivo discutir as políticas públicas implementadas no combate à seca, com foco original nas iniciativas do governo quanto a gestão dos recursos hídricos no semiárido nordestino, e mostrar que é possível conviver com a seca adotando medidas eficazes de acordo com a necessidade. Para tal reflexão este estudo consiste em uma revisão bibliográfica na literatura acerca deste assunto, procurando contribuir com uma revisão histórica de como a questão vem sendo tratada. Para atingir o objetivo proposto, o artigo encontra-se, assim estruturado: além da introdução, a segunda seção explora o perfil das obras contra à seca ao longo do desenvolvimento do semiárido; na terceira seção, apresenta algumas limitações do modelo de reversão do cenário climático; a quarta seção enfatiza novas propostas e abordagens sobre a implementação das obras hídricas no Nordeste; e, por último, disponibilizam-se algumas considerações finais. 2. O perfil das obras contra à seca no âmbito desenvolvimentista Na tentativa de circunscrever a realidade do Semiárido nordestino, nos deparamos com a intervenção governamental, que se fez, e ainda é, decisiva na formação socioeconômico desse espaço tão maltrato por questões climáticas e políticas (SILVA, 2006). Panorama singular, perceptível no Brasil desde o período colonial, aonde a intervenção governamental e as políticas públicas atuam em prol do desenvolvimento do país, mesmo que, as efetivamente implantas não repercutam no tão esperado progresso (CHACON & BURSZTYN, 2005). Contudo, haja visto as perspectivas para a prosperidade econômica do Nordeste brasileiro, comumente os diagnósticos e as proposições têm como referência imagens historicamente construídas sobre um espaço problema, terra das secas, região de fome e da miséria [...] (ROCHA, 2013, p. 2). Aonde, as políticas públicas atuam mais no sentindo de manter grupos no poder do que promover o bem-estar social (CHACON & BURSZTYN, 2005) Todavia, a seca, fenômeno natural que atinge a população carente do semiárido nordestino não é um problema novo combatido pelo governo brasileiro na ótica dos interesses políticos das elites locais. Os efeitos drásticos da seca são conhecidas, no Brasil, desde o século XVI (VASCONCELOS et al, 2010, p. 4). E, seus prejuízos só foram considerados grande problema em 288

289 1877, quando uma catastrófica seca assolou a população pobre e também prejudicou os coronéis e grandes latifundiários. Desde então, foram intensificadas as decisões políticas, que resultaram na formação e implementação de programas e projetos governamentais, [...], com a finalidade explícita de enfrentamento das consequências da seca no Semi-árido (SILVA, 2006, p. 34). Através de décadas, surgiram inúmeras ações de políticas públicas sociais na tentativa de corrigir distorções conjunturais, devido ao fenômeno das secas, entretanto nenhuma delas conseguiu resultados permanentes (PASSADOR et al, 2007, p. 1). Por meio de políticas centralizadas e fragmentadas o governo concretizava suas ações, criando órgãos nacionais de combate à seca (Iocs, IFOCS, DNOCS, GTDN, SUDENE) que se transformaram em objeto de disputa de poder entre a elite rural. Vale salientar, como ressalta, Passador et al (2007, p. 4): A ação desenvolvida por esses órgãos limitava-se a construção de grandes açudes públicos perenizando grandes extensões de rios, sobretudo, a construção de milhares de pequenos e médios açudes dentro de propriedades privadas de forma a assegurar água para a produção agropecuária e o funcionamento de agroindústrias. Daquela data até a metade do atual século, a política de combate às secas [...] limitavam-se a obras de infra-estrutura hídrica, assim como ações emergenciais, assistencialistas e dispersas [...] (ROCHA, 2013, p. 6). Embora, diversas regiões semiáridas do mundo atuem implantando infraestruturas hídricas faraônicas, para suprir o abastecimento em regiões de disponibilidade de água insuficientes. No caso do Nordeste brasileiro, esse esforço não condiz com a necessidade imediata da população local, que necessitam de medidas eficientes, contínuas e duradouras de gestão das águas, ao invés, de grandes canais e adutoras que beneficiam sempre aqueles próximos aos traçados da obras e grandes latifundiários que concentram renda e aumentam ainda mais as disparidades regionais, salientando cada vez mais que a seca é a madrasta dos pobres e a mãe dos ricos (CIRILO, 2008). Sempre que chegam as secas, surgem propostas revolucionárias que apregoam uma solução definitiva a baixo custo (CAMPOS & STUDART, 2001, p. 5), que só favorecem as elites dominantes. Por sua vez, a seca torna-se nessa perspectiva um negócio das oligarquias, que concentravam poder e renda, beneficiando-se das calamidades e misérias geradas por estes. 21 Assim, como ressaltam Campos e Studart (2001, p. 4), a seca é um momento político por 21 FERREIRA, IramaSonary de Oliveira; OLIVEIRA, Lívia Freire de. Dualismo no Semi-Árido: combate a seca versus convivência. Disponível em:< Acesso em: 29 jun

290 excelência, que proporciona para a maioria pobre: descaso e perda da autoestima, com políticas públicas que não revertem a pobreza e exclusão social na busca do desenvolvimento. Mas, que acomoda o sertanejo em um círculo vicioso de políticas equivocadas e compensatórias (CHACON & BURSZTYN, 2005). Que utilizam como forma de aliviar o sofrimento das populações desassistidas, as soluções de sempre: carros-pipa para transporte de água, frentes de trabalho para assegurar-lhes alguma renda para sustento. Em síntese, medidas puramente paliativas (CIRILO, p. 14). Além desse contingente populacional atingido pela seca, a economia da região que já é frágil por conta da estiagem e que depende basicamente da atividade agrícola, vem sendo duramente afetada [...]. Com a morte do gado e a quebra da safra há perdas na produção e conseqüente aumento nos preços, gerando a inflação de preços dos produtos básicos, como milho, feijão, mandioca e leite. Com isso, a população vê minguar sua renda e seu poder de compra. Deve-se salientar que além da inflação de preços dos produtos básicos, há o abuso de preço de serviços essenciais, como o do carro-pipa, cujo valor tem tido mais de 100% de aumento. Assim, o que se constata, é que mesmo nesse cenário de desolação e colapso, há aqueles que querem lucrar e acabam por criar a indústria da seca, explorando de forma impiedosa os mais necessitados e afetados pelo problema. 22 Na indústria da seca, os impactos sobre a população pobre, são diferenciados dos impactos, ou, prejuízos que sofrem os grandes proprietários de terra no período das secas. Estes, se beneficiam de forma direta ou indireta dos recursos federais que tentam combater com políticas públicas - em sua maioria obras hídricas a seca no semiárido (VASCONCELOS et al, 2010). Assim, a escassez de água ajudou a justificar inúmeras ações governamentais e todo um arcabouço econômico e político se cristalizou a partir desse fenômeno ambiental [...] (CHACON & BURSZTYN, 2005, p. 1). As diversas políticas de combate ao fenômeno das secas, implementadas pelo governo tanto em âmbito federal, como regional, podem ser subdivididas em três períodos distintos, conforme analisa, Passador et al (2007): de 1877 até os anos 1940, o Estado atuava através de medidas de salvação, distribuindo alimentos, ajuda de custo, construindo açudes, poços profundos e barragens. No segundo período 1950 até 1970 a atenção da política anti-seca do governo atuava criando órgãos que atenuavam as disparidades regionais, aproveitavam racionalmente os recursos hídricos com desenvolvimento planejo. A partir de 1970, constitui-se o terceiro período, marcado por 22 CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICIPIOS. Análise sobre a seca do Nordeste. Disponível em: < Acesso em: 30 jun

291 projetos de cunho socioeconômico, tais como: PROTERRA (1971), PROVALE (1972), POLONORDESTE (1974), PROJETO SERTANEJO (1976) e PROHIDRO (1979). Apesar dessas inúmeras ações implementadas no semiárido, estas eram incompletas, muitas não condiziam com a realidade do sertanejo e não eram contínuas e duradouras, pois sua existência dependia das vontades do poder dominante. Os inúmeros fracassos de políticas implementadas no semiárido, são consequência da transposição de experiências exógenas, que não utilizam do conhecimento específico do que é necessário, ou, se adapta melhor na região, seja, na adoção de atividades produtivas apropriadas ou na modificação da estrutura socioeconômica que promova acesso aos recursos naturais de forma igualitária, e assim, desdobre em fortalecimento econômico (SILVA, 2006). Embora a água, ou falta dela, sempre tenha sido a maior motivação para as políticas públicas para a região Nordeste (CHACON & BURSZTYN, 2005, p. 15). A imagem de espaço problema, como afirma Rocha (2013), sempre foi deliberado pelos interesses políticos das elites locais que explicavam todo atraso econômico como condicionado pelas condições naturais adversas do Nordeste. Mesmo em plena era da informação, da tecnologia e de mudanças sociais, no semiárido nordestino a água continua chegando para muitos sertanejos no lombo de jumentos puxados por crianças, ou ainda nos velhos carros-pipas dos políticos, quando a coisa aperta (CHACON & BURSZTYN, 2005, p. 21). Nesse contexto, todas as políticas desenvolvidas no semiárido, sempre se confrontaram no dualismo de combater a seca, ou, conviver com ela. Ainda que, a convivência seja a melhor opção, na busca pelo desenvolvimento socioeconômico, o combate à seca e seus vultuosos recursos disponibilizados pelo governo federal, inibiam a promoção da harmonia entre homem e natureza e do bem-estar social de todos As limitações do modelo de reversão do cenário climático O Nordeste brasileiro, socialmente caracterizado, ou melhor, descriminado como o lugar da seca é composto pelas seguintes unidades políticas: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, 23 FERREIRA, IramaSonary de Oliveira; OLIVEIRA, Lívia Freire de. Dualismo no Semi-Árido: combate a seca versus convivência. Disponível em: < Acesso em: 29 jun

292 Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Distrito Estadual de Fernando de Noronha (FILGUEIRA, 2011), apresenta uma área geográfica caracterizada pela deficiência hídrica, aridez do clima, imprevisibilidade das precipitações pluviométricas e pela presença de solos pobres em matéria orgânica. É dividido por suas características físicas e econômicas em quatro sub-regiões: Zona da Mata, Agreste, Sertão e Meio Norte. Embora, o clima semiárido só esteja presente no Sertão do Nordeste, este é banalizado como região problema por todo seu histórico de secas catastróficas (VENTURA et al, 2013). Todavia, o Nordeste produz cerca de 16% do PIB brasileiro e o seu PIB per capita corresponde a 56% do PIB por habitante do Brasil (DUARTE, 2001, p. 425). O semiárido, segundo Rocha (2013), atinge 86,48% da região do Nordeste, ocupa uma área total de ,3 Km² com uma população de habitantes, [...] apresenta clima quente e seco com altas temperaturas com chuvas pouco frequentes, os solos da região são rasos, de baixa fertilidade e a vegetação característica é a caatinga (ROCHA, 2013, p. 1). Conforme ressalta, Passador et al (2007), o maior desafio no Nordeste semiárido é armazenar água da chuva, tendo em vista, que os solos são rasos, com baixa capacidade de retenção de água. Além do mais, na região as precipitações são variadas com má distribuição, há falta de rios perenes, evaporação das águas da superfície de grandes açudes e o aproveitamento das águas é realizado de forma deficiente (ROCHA, 2013). No que se refere à ocorrência de águas subterrâneas, como o território nordestino é em mais de 80% constituído por rochas cristalinas, há predominância de águas com teor elevado de sais [...] (CIRILO et al, 2010, p. 6). A economia do Sertão ainda está baseada nos produtos primários, altamente dependentes dos ciclos hidrológicos e climáticos. Nesse sentido, os habitantes do Sertão inevitavelmente se organizam em função da água, ou da falta dela. Entre os agricultores tradicionais que ainda se mantêm no Sertão praticamente não há excedentes. O modo de produção é précapitalista ou marginal ao capitalismo. O capitalismo só toma conhecimento da região quando é de seu interesse (eleições, por exemplo). As principais culturas ainda são as culturas de sequeiro, arroz, milho, feijão e mandioca, dependentes das precipitações pluviométricas para produzir. Depois da agricultura, as outras fontes de renda são raras e irregulares (CHACON & BURSZTYN, 2005, p. 18). De um modo geral, a seca, fenômeno natural agravado pelas tentativas de modernidade no Sertão, atinge 38% da população do semiárido. As políticas equivocadas, paulatinas e emergenciais de curto prazo implementadas pelo governo, amenizam, mas não resolvem o problema. Pois, estas tentam combater um fenômeno climático e não ensinam o sertanejo a conviver com o semiárido. O ideal seria a aplicação de políticas de longo prazo [...], com investimentos em infraestrutura, como 292

293 construção de barragens e cisternas, sendo que as que estão em andamento nos dias de hoje são insuficientes. 24 Para elaborar uma boa política, é importante que se entenda a particularidade das soluções. Não se pode imaginar que grandes canais e adutoras irão abastecer as populações rurais difusas [...] (CIRILO et al, 2010, p. 12) é necessário mudar os ângulos de análise e buscar medidas que promovam o bem-estar social através de ações eficientes no melhor aproveitamento da água e convivência com a seca, para assim alcançar o desenvolvimento sustentável contínuo do semiárido nordestino. 4. Novas propostas e abordagens sobre a implementação das obras hídricas no Nordeste Fruto de julgamentos superficiais e imagens historicamente construídas, o Nordeste brasileiro, diariamente é banalizado como região problema (ROCHA, 2013). Aonde o fenômeno climático natural da seca adquiriu uma conotação bem particular, [...] está intimamente associada à penúria, à fome, ao êxodo rural, aos carros pipas e às frentes de serviço (CAMPOS & STUDART, 2001, p. 9). Nessa perspectiva destorcida, o governo atuou durante décadas combatendo um fenômeno natural climático, com obras faraônicas, que estimulavam as disparidades sociais em um círculo vicioso de dependência e saquiamento das famílias pobres em detrimento das mais abastadas, tornando a seca culpada pelo o atraso econômico da região e de sua gente. Tornou-se comumente a seca na concepção do sertanejo, madrasta dos pobres e mãe dos ricos, os únicos que se beneficiavam com toda calamidade sofrida pelo povo despreparado (CIRILO, 2008). Para o caso brasileiro, o consenso básico que existe sobre a maneira de enfrentar esse fenômeno climático inevitável é que a convivência com a seca só será possível através de obras hídricas estruturadoras: barragens, interligação de bacias a partir do São Francisco, infraestrutura para a agricultura irrigada e gestão permanente da água CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICIPIOS. Análise sobre a seca do Nordeste. Disponível em: < Acesso em: 30 jun CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICIPIOS. Análise sobre a seca do Nordeste. p. 1. Disponível em: < Acesso em: 30 jun

294 Todavia, e essencial salientar que o déficit hídrico que caracteriza essa região não significa falta de chuva ou água, mas a evaporação, pois esta é três vezes maior do que a precipitação, por isso é essencial saber reter essa água [...]. 26 O Semiárido nordestina necessita de projetos e políticas públicas eficientes, adequadas a realidade do sertanejo, coerentes e principalmente contínuas, que surtam efeitos no curto prazo, e sobretudo, no longo prazo, tornando o sertanejo pobre e carente de assistência capaz de enfrentar todos os problemas encontrados no período das secas. Como afirma Vasconcelos et al, (2010, p. 6) [...] tem de desenvolver projetos menores em escala de propriedades, realizando, ao lado de uma política macro, de construção de grandes obras, em escala regional, uma política de micro, em escala de propriedades de médio e pequeno porte. Na convivência com a seca e os momentos de dificuldade geradas por esta, o sertanejo deve aprender a captar e armazenar água, a plantar cultivos apropriados para a região, utilizar medidas preventivas de maior viabilidade, deve-se adaptar a sua realidade e aprender a lhe dar com ela. Nesse contexto, a criação de micro barragens, poços e cisternas são mais eficientes para o produtor rural do que grandes adutoras (CIRILO, 2008). A cisterna é uma forma milenar de armazenamento de água das chuvas em regiões que não dispõem de fonte de água permanente, como o Semi-Árido Nordestino, possibilitando a população obter água limpa e fácil de ser tratada (PASSADOR et al, 2007, p. 1). Em seu estudo, Passador et al, (2007), afirma que a colheita, ou, captação de água da chuva, com correto armazenamento indicada para o consumo humano, é algo milenar difundido em diversas partes do mundo, especialmente em regiões semiáridas que sofrem com déficit hídricos. Uma tecnologia simples e muito mais eficiente no meio rural, consideradas uma dádiva de Deus como ressalta o autor, para famílias pobres e carentes do semiárido nordestino. Outros autores também realimentam essa ideia, como Rocha (2013, p. 5), As construções das cisternas têm como público alvo os agricultores de baixa renda do semi-árido sem condições de armazenar água para o consumo familiar. Soluções simples, que condizem com a realidade do semiárido e proporcionam bem-estar social, autonomia, autoestima do sertanejo e correto gerenciamento das águas, em uma região com déficit hídrico (PASSADOR et al, 2007). 26 FERREIRA, IramaSonary de Oliveira; OLIVEIRA, Lívia Freire de. Dualismo no Semi-Árido: combate a seca versus convivência. Disponível em: < Acesso em: 29 jun p. 2, apud, MALVEZZI,

295 As cisternas, com capacidade de acumulação normalmente entre 7 e 15 metros cúbicos, representam a oferta de 50 litros diários de água durante 140 a 300 dias, admitindo-a cheia no final da estação chuvosa e nenhuma recarga no período. Tomados os devidos cuidados com a limpeza do telhado, da cisterna, calha e tubulação, é uma solução fundamental para o atendimento das necessidades mais essenciais da população rural difusa. Embora existam aos milhares, espalhadas por todo o Nordeste, a quantidade de cisternas ainda é ínfima, quando comparada à necessidade da população rural (CIRILO, 2008, p. 8). Vale destacar, que o custo de uma cisterna, com todos os componentes, gira em torno de R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais). Sendo que, cerca de R$ 350,00 (trezentos e cinqüenta reais) constitui a contra-partida das famílias (PASSADOR et al, 2007, p. 9 apud PEREIRA, 2006), para conservar água limpa, captadas pelo telhado, canalizadas por calhas ou bicas da casa. A capacidade das cisternas instaladas é de litros de água potável, água suficiente para abastecer no período de seca uma família de até cinco pessoas com consumo de 14 litros/pessoas. Uma nova proposta com tecnologia simples regional de implementação de obras hídricas no Nordeste, capaz promover desenvolvimento sustentável e contínuo para milhares de famílias carentes de assistência (PASSADOR et al, 2007). A construção de cisternas acompanhadas por um processo educativo de gerenciamento de uso da água captada, tem se mostrado eficiente no combate à seca nordestina. Dados colhidos em Iguaracy, município com menor índice pluviométrico na região do Pajeú (344,6mm), mostram que foi possível conseguir uma captação mínima de litros de água por residência através de telhados com 78m², subtraindo perdas de 10%. Estima-se que os gastos com água para beber, cozinhar e para higiene bucal (consumo humano) são da ordem de 14 litros/pessoa/dia ou litros/família/oito meses (PASSADOR et al, 2007, p.8). Em Iguaracy, assim como, em outras regiões aonde as cisternas constituem exemplos de experiências bem-sucedidas, estas constituem num melhoramento significativo da vida dessas famílias que, anteriormente ao Programa, gastavam horas do dia na busca de água para beber, nos períodos de seca (PASSADOR et al, 2007, p.8). Assim, a convivência com a seca no gerenciamento de água demostrasse mais benéfica tanto para famílias difusas, como para os recursos provenientes do governo, menos para uma pequena minoria com grande poder local, que exerce influência nas políticas públicas empregadas na região, em prol do seu próprio beneficiamento e a desgraça dos demais. O discurso sempre é novo, mais as razões para essa elite sempre são as mesmas: poder. O Nordeste tem soluções sem gastar bilhões nem transpor rios, essas soluções estão distribuídas nas instituições Governamentais e Não 295

296 Governamentais em toda região, agora o que não existe é vontade política de acabar com tudo isso (VASCONCELOS et al, 2010, p. 8). 5.Considerações Finais A materialização do combate à seca, está enraizado na cultura nordestina, e a duros passos caminha para aprendizagem de convivência com as condições climáticas do semiárido. O Estado formula planos e mais planos, e mesmo no cenário de desolação e colapso, há aqueles que querem lucrar, na indústria da seca, explorando de forma impiedosa os mais prejudicados, necessitados e afetados pelo problema, num jogo de interesses pessoais das elites dominantes. Culturalmente o lugar da seca, região problema do país, o Nordeste apresenta uma área geográfica caracterizada pela deficiência hídrica, com a seca atingindo cerca de 86,48% da região numa área total de Km². Porém, este produz cerca de 16% do PIB brasileiro e o seu PIB per capita corresponde a 56% do PIB por habitante do Brasil. Mesmo assim, no semiárido nordestino, a água continua chegando para muitos sertanejos no lombo de jumentos puxados por crianças, ou ainda nos velhos carros-pipas dos políticos, quando a coisa aperta. Embora a água, ou falta dela, sempre tenha sido a maior motivação para as políticas públicas para a região, o consenso básico que existe sobre a maneira de enfrentar esse fenômeno climático inevitável é que a convivência com a seca só será possível através de obras hídricas faraônicas, tais como: barragens, interligação de bacias, açudes, dentre tantas outras infraestruturas para gestão permanente da água. Mesmo em plena era da informação, da tecnologia e de mudanças sociais, o insucesso das ações governamentais e descaso com a convivência com o semiárido, dá-se porque as políticas públicas adotadas são experiências exógenas, que não consideram que o déficit hídrico que caracteriza essa região não significa falta de chuva ou água, mas a evaporação, pois esta é três vezes maior do que a precipitação, por isso é essencial saber reter essa água. Nesse contexto, como observado, o maior desafio no Nordeste semiárido é armazenar água da chuva, tendo em vista, que os solos são rasos, com baixa capacidade de retenção de água. Considerações, das quais, as políticas equivocadas, paulatinas e emergenciais de curto prazo implementadas pelo governo não sintetizam. Amenizam, mas não resolvem o problema. 296

297 Haja visto, o estudo demonstrou que o Semiárido nordestina necessita de projetos e políticas públicas eficientes, adequadas a realidade do sertanejo, coerentes e principalmente contínuas, que surtam efeitos no curto prazo. Necessita de readequação das políticas de combate à seca para políticas de convivência, em prol do fortalecimento e melhores condições de vida para região, com base no manejo adequado e sustentável da caatinga. O sertanejo deve aprender a captar e armazenar água, a plantar cultivos apropriados para a região, utilizar medidas preventivas de maior viabilidade, deve-se adaptar a sua realidade e aprender a lhe dar com ela. Nesse contexto, o governo deve gastar seus recursos na criação de micro barragens, poços e cisternas que são mais eficientes para o produtor rural do que grandes adutoras. A cisterna, forma milenar de armazenamento de água das chuvas em regiões que não dispõem de fonte de água permanente, como o Semiárido Nordestino, possibilita a população obter água limpa e fácil de ser tratada. Com um custo irrisório e que proporciona ganhos muitos maiores nos períodos em que a coisa aperta. O Nordeste possui assim, soluções adequadas sem gastar milhões, tecnologias simples e muito mais eficientes no meio rural, que são consideradas uma dádiva de Deus, para famílias pobres e carentes do semiárido nordestino, do que, enormes transposições que beneficiam elites favorecidas pelo poder dominante. Enfim, é necessário mudar os ângulos de análise e buscar medidas que promovam o bemestar social através de ações eficientes no melhor aproveitamento da água e convivência com a seca, para assim alcançar o desenvolvimento sustentável contínuo do semiárido nordestino. 6. Referências Bibliográficas CAMPOS, J. N. B. ; STUDART, T. M. C.. Secas no Nordeste do Brasil: origens, causas e soluções. In: FourthInter-American Dialogue onwater Management, 2001, Foz do Iguaçu. Anais do IV Diálogo Interamericano de. Porto Alegre: Associação Brasileira de Recursos Hídricos, v. 01. CHACON, Suely. S.; BURSZTYN, M..Análise das políticas públicas para o sertão semi-árido: promoção do desenvolvimento sustentável ou fortalecimento da pobreza?. In: VI Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica, 2005, Brasília-DF. VI Encontro da Sociedade Brasileira de Economia Ecológica. Brasília-DF: ECO-ECO, CIRILO, J. A. ; MONTENEGRO, S.M.G.L. ; CAMPOS, J. N. B.. A questão da água no semiárido brasileiro. In: Bicudo, C.E. de M; Tundisi, J.G.; Scheuenstuhl, M.C.B.. (Org.). ÁGUAS 297

298 DO BRASIL ANÁLISES ESTRATÉGICAS. 1ed.São Paulo: Instituto de Botânica, 2010, v. 1, p CIRILO, José Almir. Políticas públicas de recursos hídricos para o semi-árido.estud. av. vol.22 no.63 São Paulo, CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICIPIOS. Análise sobre a seca do Nordeste. Disponível em: < Acesso em: 30 jun DUARTE, R. S..Seca, Pobreza e Políticas Públicas no Nordeste do Brasil. In: Alicia Ziccardi. (Org.). Pobreza, Desigualdad Social y Ciudadanía. 1ed.Buenos Aires: CLACSO, 2001, v. 1, p FERREIRA, IramaSonary de Oliveira; OLIVEIRA, Lívia Freire de. Dualismo no Semi-Árido: combate a seca versus convivência. Disponível em: < Acesso em: 29 jun FILGUEIRA, Maria Conceição Maciel. Eloy de Souza: uma interpretação sobre o Nordeste e os dilemas das secas. Natal: EDUFRN, p. (Coleção Dissertação e Teses do CCHLA- UFRN PASSADOR, Cláudia Souza; PASSADOR, João Luiz; ARRAES, Andréa Moreira Duarte; ARRAES, Helder Feitosa Libório. Políticas Públicas de Combate a Seca no Brasil e a Utilização das Cisternas nas Condições de Vida de Famílias na Região do Baixo Salitre (Juazeiro - BA): Uma Dádiva De Deus?.In XXXI Encontro da ANPAD. Rio de Janeiro/ RJ 22 a 26 de setembro de ROCHA, V. S..Políticas públicas de combate à seca a partir do melhor aproveitamento da água. In: i workshop internacional sobre água no semiárido brasileiro, 2013, Campina Grande. Anais Workshop Internacional sobre Água no Semiárido Brasileiro. Campina Grande: Realize, v. 1. p SILVA, Roberto Marinho Alves da. Entre o combate à seca e a convivência com o Semi Árido: Transições paradigmáticas e sustentabilidade do desenvolvimento. Disponível em: Acesso em: 29 jun VASCONCELOS, R. O.; JESUS, Givaldo Santos de Jesus ; COSTA, Jailton Oliveira ; COSTA, José Eloízio. A Convivência com os Efeitos da Seca no Espaço Rural do Nordeste. In: I Simpósio Regional de Desenvolvimento Rural, 2010, São Cristóvão. Os Desafios dos Territórios da Cidadania e da Pluriatividade. São Cristóvão: UFS, v. 01. p

299 VENTURA, Andréa Cardoso; FERNÁNDEZ, Luz; ANDRADE, José Célio Silveira. Tecnologias Sociais para Enfrentamento às Mudanças Climáticas no Semiárido: Caracterização e Contribuições. Rev. Econ. NE, Fortaleza, v. 44, n. especial, p , jun

300 ÁREA TEMÁTICA: RECURSOS HÍDRICOS E POLÍTICAS PÚBLICAS CONSUMO SUSTENTÁVEL E CIDADANIA: UMA ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA NAS CIDADES DE CRATO E JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ. ISAC ALVES CORREIA Graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri URCA.Assistente Fiscal da Empresa Tecnus Contabilidade Ltda. isc.correia49@gmail.com; Cel.(88) MARIA ROSA DIONISIO ALMEIDA Economista pela Universidade Regional do Cariri- URCA. Fiscal de Tributos da Secretaria Municipal da Fazenda de Mauriti-Ce. mariarosa_dionisio@hotamil.com Cel. (88) OTÁCIO PEREIRA GOMES Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Regional do Cariri (URCA), Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (UFC-MAER) e atualmente é professor temporário da URCA-UDI, campus Iguatu-Ce. otaciopg@gmail.com; Cel.(88)

301 CONSUMO SUSTENTÁVEL E CIDADANIA: UMA ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DA ÁGUA NAS CIDADES DE CRATO E JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ. RESUMO: Em pleno século XXI há uma crescente preocupação com relação ao consumo desenfreado das pessoas, e isso tem se refletido no comportamento das mesmas. Por outro lado, o debate acerca da preocupação com a escassez dos recursos naturais por parte de ONGs em defesa do meio ambiente tem passado a ser prioridade dos governos de países que almejam o desenvolvimento sustentável e essa ideia tornou-se também uma das mais discutidas nas pautas empresariais, decorrente do marketing embutido nas campanhas de preservação ambiental e de investimento em tecnologia e sustentabilidade, além dos incentivos fiscais e financeiros concedidos a empresários com atitudes ecologicamente corretas. A água, por ser um recurso tão essencial à sobrevivência, se tornou o ponto de maior discussão por parte dos ambientalistas. O cenário atual aponta para uma intensa necessidade de planejamento da distribuição e de gestão dos recursos hídricos. A metodologia empregada é de natureza bibliográfica utilizando-se literatura relacionada ao tema, como Daniela Gomes de Vasconcellos, além de dados provenientes de entidades e órgãos como IBGE, IPECE SRH e a Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura.Desse modo, a presente pesquisa pretende promover um debate acerca da utilização da água nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte, marcada pela geração do consumismo do mundo capitalista ao passo em que são introduzidos os conceitos de cidadania e desenvolvimento sustentável, com intuito de contribuir para uma reflexão construtiva sobre a conservação dos recursos naturais a fim de garantir as necessidades das gerações futuras. Palavras-chaves:Consumo Consciente. Sustentabilidade.Juazeiro do Norte. Crato. ABSTRACT: In the twenty-first century there is a growing concern about the rampant consumption of people, and this has been reflected in the behavior of the same. On the other hand, the debate about the concern over the shortage of natural resources by NGOs in defense of the environment has come to be a priority of governments of countries that aims sustainable development and this idea has also become one of the most discussed in corporate guidelines, due to the built-in marketing campaigns for environmental preservation and investment in technology and sustainability and the tax and financial incentives to entrepreneurs with environmentally friendly attitudes.water, as a resource so essential to survival, became the point of further discussion by the environmentalists. The current scenario points to an intense need for distribution planning and management of water resources. The methodology is bibliographical using literature related to the theme, the Daniela Gomes de Vasconcellos, and data from bodies and organs as IBGE, IPECE SRH and the United Nations Educational Scientific and Cultural Organization. Thus, this research aims to promote a debate about the use of water in the cities of Crate and Juazeiro, marked by consumerism generation of the capitalist world while on the concepts of citizenship and sustainable development are introduced, aiming to contribute for constructive reflection on the conservation of natural resources to ensure the needs of future generations. Keywords:Conscious Consumption. Sustainability.Juazeiro.Crato. 301

302 1. Introdução Situadas no triângulo CRAJUBAR termo utilizado para designar a área dos municípios de Crato, Juazeiro e Barbalha as cidades de Crato e Juazeiro estão localizadas na Bacia do Araripe, Região do Cariri e possuem os melhores aquíferos do Ceará por serem possuidoras das maiores reservas de água subterrânea. O abastecimento é feito através de água subterrânea e complementado por fontes do Crato. (CAVALCANTE et al., 2006). A localização da área de estudo é ao Sul do estado do Ceará a pouco mais de 500 km da capital, Fortaleza. Possui clima semiárido, com um período seco de duração de 4 a 6meses e outro chuvoso de 7 a 8 meses e temperaturas que variam durante o ano com média de 35 C. A cidade de Juazeiro do Norte, com área de 248 Km² é a metrópole da Região Metropolitana do Cariri por ser o mais populoso e com maior economia da região. Possui 263 mil habitantes (IBGE 2014) e é o terceiro maior polo da indústria de calçados brasileiro e também considerado o maior centro universitário do Ceará com 104 cursos superiores. O município de Crato destaca-se na região pela sua área de Km², IDH alto e uma das maiores reservas florestais do país. A região detém de grande potencial de recursos naturais hídricos e minerais, favorecendo a exploração de diversas atividades, tais como agrícolas, com fruticultura irrigada, floricultura, cultivo de arroz, feijão e cana de açúcar, bovinocultura, apicultura e exploração de minérios de alto valor comercial (SOUZA e AMARAL FILHO, 2004). Sabe-se, porém que o desenvolvimento assume formas variadas e muitas vezes desequilibradas conforme cada região. Desse modo, busca-se analisar as relações de consumo com a conservação dos recursos naturais, sobretudo da água nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte com o intuito de promover uma discussão teórica a respeito do assunto e de gerar iniciativas que busquem uma economia mais sustentável. 2. Referencial Teórico 2.1 Consumo sustentável e cidadania No Brasil, assim como também em todo o planeta, tem se discutido bastante em consumir de forma consciente, não no que tange somente a questão puramente econômica, mas também de forma a não comprometer a capacidade que o planeta tem de satisfazer as necessidades das gerações futuras. 302

303 Segundo relatório das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Água (2015) Até 2030, o planeta enfrentará um déficit de água de 40%, a menos que seja melhorada dramaticamente a gestão desse recurso precioso.a água influencia diretamente o nosso futuro, logo, precisamos mudar a forma como avaliamos, gerenciamos e usamos esse recurso, em face da sempre crescente demanda e da superexploração de nossas reservas subterrâneas(onu, 2015). Ainda de acordo como o relatório apresentado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, 2015) mostra que há no mundo água suficiente para suprir as necessidades de crescimento do consumo, mas não sem uma mudança dramática no uso, gerenciamento e compartilhamento. O consumo sustentável compreende uma relação em que os agentes estão atentos às causasem que o ato de consumir poderá levar a toda sociedade. Além disso, o consumidor consciente preocupa-se na decisão ao colocar em primeiro lugar os produtos que são ambientalmente e socialmente responsáveis, a fim de contribuir com a melhoria das condições ambientais do meio (SOBRINHO, 2006). A relação entre consumo e desenvolvimento sustentável está expressa na preocupação com as gerações futuras. Desse modo, a ideia de consumo consciente vai de encontro com a sustentabilidade, ao passo em que a geração atual utilize os recursos naturais sem comprometer a capacidade de suprir as necessidades de outras gerações (FARIAS,2013). Para ser alcançado o desenvolvimento sustentável através do consumo com responsabilidade no que se refere a preocupação com a qualidade de vida e nas consequências desses atos para o planeta é necessário investir em conhecimento em educação ambiental para que a humanidade tome conhecimento do agravamento que a má utilização dos recursos pode causar (WWF BRASIL, 2013). O consumo consciente surge como uma nova perspectiva em relação a estratégias públicas e/ou privadas quanto à esfera do consumo, as novas formas de produção das empresas, bem como as mudanças no comportamento dos indivíduos no mercado. Desse modo, produção, mercado e consumo formam um regime de interdependência e coenvolvimento em relação a atividades organizacionais como tecnologia, regras, práticas de consumo (PORTILO, 2005). Consumir de forma sustentável está diretamente ligado ao ato da escolha ou uso de produtos naturais. O indivíduo leva em conta, dessa forma, o equilíbrio entre utilidade, conservação dos recursos naturais existentes e as possibilidades dos efeitos coletivos de sua decisão (FABI et al., 2010). 303

304 Seguindo a mesma linha de pensamento do desenvolvimento sustentável, o consumo consciente é entendido como a forma de consumo que utiliza os recursos naturais para satisfazer as necessidades atuais, sem comprometer as necessidades e aspirações das gerações futuras. (GOMES, 2006). Surge, assim, o ser cidadão-consciente. Relacionam-se ainda aos padrões de consumo resultante os atores sociais (Governo, Empresa e Sociedade) em busca do desenvolvimento sustentável (SILVA, 2010). 2.3 Breve histórico sobre a água Até os dias atuais o aparecimento da água continua sem explicação convincente, poisexistem pelo menos três hipótese que procuram explicar a origem da água no Universo: a religiosa, a do choque de cometas com planetas do sistema solar e da poeira cósmica (VATSMAN. D; VASTSMAN M, 2005). Quase toda a superfície do planeta Terra está coberta por água: água dos oceanos, água dos rios e lagos, arroios e sangaságua das calotas polares em forma de gelo, água da chuvasendo que km³ é constituída basicamente de dois tipos: água salgada dos mares e água doce dos rios, lagos e subsolo.a água salgada ocupa 97% do total, o que vem a ser impossível para o consumo, restando apenas 3% para o consumo humano e atividades dependentes. O território brasileiro contém cerca de 12% de toda a água doce do planeta. Ao todo, são 200 mil microbacias espalhadas em 12 regiões hidrográficas, como as bacias do São Francisco, do Paraná e a Amazônica a mais extensa do mundo e 60% dela localizada no Brasil. É um enorme potencial hídrico, capaz de prover um volume de água por pessoa 19 vezes superior ao mínimo estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU)que é cerca de m³/s por habitante por ano (MMA, 2015). De acordo com IBGE (2010) o Brasil com uma área de aproximadamente Km² e com uma população de mais de 190 milhões de habitantes, o torna hoje o quinto país do mundo tanto em extensão territorial como populacional. Em virtude de suas dimensões continentais, o Brasil apresenta grandes contrastes em sua vegetação, clima, topografia, distribuição populacional e no seu desenvolvimento econômico e social. Segundo Lima (1999), o Brasil é um país bem privilegiado quanto ao volume de recursos hídricos, pois possui cerca de 13,7% da água doce do mundo, a bacia Amazônica concentra a maior 304

305 parte desse recurso, em torno de 73% desse volume e concentra em seu território menos de 5% da população brasileira. Apenas 27% dos recursos hídricos são distribuídos desigualmente para atender toda a população brasileira. Não só a disponibilidade de água não é uniforme, mas a oferta de água tratada reflete os contrastes no desenvolvimento dos Estados brasileiros. Enquanto na região Sudeste 87,5% dos domicílios são atendidos por rede de distribuição de água, no Nordeste a porcentagem é de apenas 58,7% (SOBRINHO, 2006, p.29). Apesar da abundância, os recursos hídricos brasileiros não são inesgotáveis. O acesso à água não é igual para todos. As características geográficas de cada região e as mudanças de vazão dos rios, que ocorrem devido às variações climáticas ao longo do ano, afetam a distribuição. O Nordeste possui menos de 5% das reservas e grande parte da água é subterrânea, com teor de sal acima do limite aceitável para o consumo humano (Ministério do Meio Ambiente et al., 2005). Diante dessa situação, são necessários cada vez mais investimentos em métodos alternativos de abastecimento, como o processo de dessalinização com reaproveitamento de rejeitos, a implantação de cisternas, transfusão do Rio São Francisco, construção de barragens e açudes, poços cartesianos, dentre outros, projetos estes tratados como prioritários na promoção do desenvolvimento econômico, social e ambiental do semiárido brasileiro. Como se isso não fosse suficiente, o Brasil também apresenta um elevadíssimo nível de desperdício, o Ministério do Meio Ambiente et al. (2005), relata que cerca de 20% a 60% da água tratada para consumo se perde no processo de distribuição devido as redes de abastecimentos, em quase sua totalidade, estarem em péssimas condições de conservação. Além dessas perdas de água do seu trajeto das estações de tratamento até o consumidor, temos também um grande desperdício em nossas casas, ao tomarmos banhos prolongados, usos de descargas com grandes capacidades de litros, lavagem de louças com a torneira aberta, lavagens de carros, uso da mangueira como vassoura na limpeza de calçadas etc Como utilizamos nossa água O consumo de água no nosso país divide-se da seguinte forma: 22% para uso humano, 19% são destinados para as indústrias e 59% para a agricultura (Manual de Educação para o Consumo Sustentável, 2005). Uso Doméstico 305

306 Em conformidade com o Ministério da Saúde para que a água seja potável e adequada para o consumo humano, ela tem que apresentar características físicas, químicas, microbiológicas e radioativas de acordo com o padrão de potabilidade estabelecido. Ou seja, a água apropriada para o consumo humano não deve apresentar nem coloração, cheiro e sabor, tem que ser pura. Para tanto, quando não encontrada com tanta pureza na natureza, devido contaminarmos nossos rios e lençóis freáticos, só chega água limpa em nossas torneiras quando esta passa por estações de tratamentos, onde são realizados processos de desinfecção para garantir seu consumo sem riscos à saúde. Como se não bastasse o uso indevido por parte dos consumidores, através dos desperdícios de água deixando as torneiras abertas sem estarem utilizando-as, vazamentos escondidos, descargas soltas, dentre outros fatores, ainda contribuem com a poluição ambiental ao limpar suas casas exagerando no uso de produtos de limpeza, como os detergentes e desodorizador de ambiente, vilões estes, que contaminam os rios e degradem cada vez mais os recursos hídricos do Brasil. Uso Industrial As indústrias consomem grandes quantidades de água, elas utilizam cerca de 22% do consumo total de água limpa disponível. Todo esse gasto ocorre devido ao seu longo processo industrial, que vai desde a incorporação de água nos produtos até a lavagem de materiais, equipamentos e instalações, como também pelo uso prolongado de sistemas de refrigeração e geração de vapor. Tabela 1: Consumo de água nas indústriasconscious Consumption. Sustainability. Juazeiro. Crato. Tipo de indústria Consumo Refinação de aço 85 m³por t de aço Indústria têxtil 290 m³ por barril Couros (curtumes) 1000 m³ por t tecido papel 55 m³ por t de papel saboarias 250 m³ por t de sabão Usinas de açúcar 2 m³ por de açúcar Fabricas de conservas 75 m³ por t de conservantes laticínios 2 m³ por t de produto cervejaria 20 m³ por m³ de cerveja lavanderia 10 m³ por t de roupa matadouros 3 m³ por animal abatido Fonte: Barth (1987)apudManual de Educação para o Consumo Sustentável, De acordo com a Secretária do Meio ambiente, estima-se que a cada ano as indústrias são responsáveis por lançar cerca de 300 mil a 500 mil toneladas de dejetos nos rios. Isso vai depender 306

307 muito de qual tipo de industrial e tecnologias são adotadas no processo de fabricação, já que a agua resultante dos processos indústrias podem carregar grandes quantidades de resíduos tóxicos e restos de materiais em decomposição, que ao serem lançados nos rios e nos mares podem ocasionar a morte de peixes, e mesmo quando conseguem sobreviverem carregam em seu organismo substâncias tóxicas, que quando ingeridos pelos os seres humanos podem ocasionar sérios problemas de saúde. Não só as indústrias químicas são as grandes poluidoras, mas também as indústrias alimentícias, como por exemplo, as produtoras de salsichas, estas podem contaminar uma grande área se não adotar um processo de tratamento de água utilizada na lavagem dos resíduos dos suínos antes de ser despejada nos rios. Uso Agrícola Em proporção as mudanças climáticas inesperadas e muitas vezes de estiagens prolongadas, a água da chuva não são suficientes para umedecer toda a terra necessária para produção agrícola. Para ter uma boa colheita é necessário que os agricultores recorram para outras alternativas, uma delas é o uso da irrigação, método esse que demanda mais de dois terços de água doce potável do planeta. O processo de umedecer a terra por intermédio de irrigadores, além de ter um elevado consumo de água, ainda tem a questão do desperdício por não ser um método mais eficaz de aproveitar melhor a água. Não muito diferente das outras formas de usos da água, a agricultura também é responsável por afetar drasticamente a os recursos hídricos e a qualidade dos solos. A prática de usar fertilizantes e agrotóxicos no processo de cultivação de alimentos, quando chovem são arrastados para os corpos d água, contaminando tanto a água superficial, quanto à subterrânea. 4. METODOLOGIA 4.1 Área de estudo Os municípios de Crato e Juazeiro do Norte estão localizados ao Sul do Estado do Ceará distantes 400 e 396 km em linha reta da capital cearense. O município de Crato possui dois tipos de climas; tropical quente semiárido brando e tropical quente subsumido os meses mais chuvosos são 307

308 de janeiro a maio a pluviosidade média é 1090,9 mm a temperatura varia entre 24ºC a 26ºC.(FUCEME apud IPECE, 2014). O município de Juazeiro do Norte também predomina o tropical quente semiárido brando difere em relação ao clima quente semiárido, os meses mais chuvosos são de janeiro a maio a pluviosidade média é 925,1 mm a temperatura varia entre 24ºC a 26ºC. (IPECE, 2014). Segundo o Instituto de Geografia e Estatística- Cidades@ (2015) a estimativa dapopulação do município de Crato em 2014é de habitantes e de Juazeiro do Norte é habitantes. 4.2 Natureza dos dados A presente pesquisa foi realizada através de leitura sistemática de livros, revistas e artigos relacionados extraídos da internet. A área de estudo concentra-se nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte, localizadas ao sul do Estado do Ceará. Foram utilizados dados secundários, especialmente extraídos da base de dados disponibilizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ONU (Organizações das Nações Unidas) e SEMARH (Secretaria do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos) e nos estudos de Cavalcante et al.(2006) sobre as águas subterrâneas do CRAJUBAR (Crato, Juazeiro e Barbalha). 5.Resultados e discussões É perceptível o caráter de urgência de uma nova estratégia de gestão ambiental. Enquanto camadas da população são movidas pela sociedade do consumo e os prazeres do modelo capitalista, porém sem instrução ou com pouco reconhecimento da gravidade da problemática, o planeta sofre com as mazelas do consumo exacerbado e o sistema capitalista inviabiliza cada vez mais o processo. A maioria das reservas de água doce estão destruídas de maneira desigual vem sendo exauridas por agentes patogênicos e poluídos por substancias químicas e biológicas o que leva a preocupação por parte do aumento demográfico mundial. A verdade é que a possibilidade de ocorrer escassez dos recursos hídricos tornar-se mais alarmante quando de gerar problemas para o consumo de atividades essências para o desenvolvimento de uma nação. 308

309 A região do Cariri é a segunda mais desenvolvida e populosa no estado do Ceará, depois da Região Metropolitana de Fortaleza. Devido à sua compartimentação geológica, representada pela Bacia Sedimentar do Araripe, a região tem condições extremamente favoráveis à exploração de água subterrâneas, ao contrário do que ocorre na maior parte do estado do Ceará (85%), que se localiza em terrenos cristalinos. Tanto é que no Cariri a quase totalidade da água para abastecimento público e irrigação é proveniente de poços (KIMURA;LOUREIRO, 2004, p.1). A espessura de cada camada da Chapada do Araripe do topo a ate a base é classificada com, formação Exu, Santana, Rio da batateira, Missão Velha, Brejo Santo e Mauriti. Em geral, as formações Exu, Rio da Batateira, Abaiara, Missão Velha e Mauriti são definidas como unidades aquíferas da região, enquanto as formações Santana e Brejo Santo se comportam predominantemente como unidades confinantes, com baixos valores de condutividade hidráulica. As águas subterrâneas do Cariri representam a mais importante fonte de abastecimento da região, tanto para as populações urbana e rural, quanto para projetos de irrigação da região, os municípios de Crato e Juazeiro do Norte são abastecidos por meio de reservas subterrâneas, qualquer que seja a teoria que busque explicar as água subterrâneas, inclui os tipos classificadas como mineiras ou potáveis de mesa, que podem aflorar naturalmente através de poços tubulares verticais com sondas de percussão ou por equipamentos rotativos. A exploração racional e sustentável dos recursos hídricos subterrâneos requer que sejam realizadas, antes do uso real desses aquíferos, simulações que possam nos indicar o comportamento dos aquíferos quando submetidos aos vários tipos de bombeamento e recarga reais. Tais simulações atualmente são feitas através de Modelos Computacionais Numéricos, os quais exigem um conhecimento preciso de características hidrogeológicas dos aquíferos, tais como Condutividade Hidráulica (principal característica), Coeficiente de Armazenamento e Retenção específica(souza et al., 2009,p.3). Segundo a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos-COGER (Portal Hidrológico do Ceará), 2015 o município de Crato possui 94,% dos domicílios com abastecimento de água e somente 25,2% com instalações sanitárias a quantidade de poços chegam 237. Em relação a Juazeiro do Norte este tem 338 poços, sendo que 97,6% dos domicílios possuem instalações sanitárias, como 52,2% possuem instalações sanitárias. Estudos realizados pela COGERH, além de análises de controle de qualidade da água da CAGECE e de Relatórios de Fiscalização da ARCE, demonstram redução da qualidade da água destes mananciais, notadamente em função da presença de nitrato nas amostras, indicando a existência de poluentes na água. Esses fatos podem ser justificados pela infiltração dos esgotos das fossas domésticas, bem como pela existência de esgotos lançados a céu aberto. Fica nítido que esses 309

310 resíduos estão causando a contaminação da água subterrânea. É válido ressaltar que os mesmos estudos apontaram a traços de metais pesados, provenientes possivelmente das atividades das indústrias que atuam principalmente em Juazeiro do Norte (ARCE, 2013). Além da preocupação de manter a qualidade do lençol freático, a ausência de um saneamento básico adequado, tanto para Juazeiro do Norte como para o município do Crato impacta principalmente sobre a população pela exposição dos moradores aos vetores causadores de doenças de veiculação hídrica, dado que os municípios com piores índices de saneamentopossuem maiores taxas de mortalidade provocadas por diarreia onde as crianças são as principais vitimas. Logo, torna-se necessário a conscientização da população sobre importância a coleta de lixo para que não sejam despejados nos rios, como sobre o tratamento de esgotos, pois tais atitudes são decisivas para termos uma qualidade de vida melhor, se prejudicarmos as gerações futuras. 6. Considerações finais A cultura de consumo é resultado não somente das atitudes individuais das pessoas, mas da forma como a sociedade foi organizada, com a estrutura do capitalismo dominante além da profundidade ideológica que permite estruturar e subordinar as outras culturas (SLATER, 2002). No consumo doméstico, por exemplo, deve-se adotar uma postura a partir de uma reeducação nos conceitos adotados no consumo sustentável de água no dia-a-dia, levando menos tempo no banho, escovar os dentes com a torneira fechada, não utilizar a mangueira para lavar carros e calçadas. As ações mais adequadas para reduzir o desperdício e controlar o uso da água na produção industrial são através da introdução de técnicas de reuso de água e da utilização de equipamentos e métodos de irrigação que demande menos quantidade. Por outro lado, o próprio sistema capitalista inviabiliza a adoção de métodos que facilitem a preservação desses recursos. Através de sistemas tecnológicos avançados, a sociedade deveria promover um método capaz de utilizar menos a capacidade do planeta, porém ela alimenta a ideia de consumir desenfreadamente. É bastante comum a opinião em que as pessoas defendem uma pressão para com as empresas, para que estas produzam produtos de limpeza e embalagens que causem menos impactos ao meio ambiente, sendo os mesmos bem significantes no processo de degradação, poluição de rios e poços que servem como fontes de distribuição para o uso humano. 310

311 Não adianta, porém, exigir que a esfera governamental faça tratamento adequado dos resíduos, como por exemplo, instalar sistemas de coleta seletiva e reciclagem, aterros sanitários, estações de recebimentos de produtos tóxicos, entre outros, sem que seja diminuída a contaminação por parte da agricultura, através do menor uso de agrotóxico e fertilizantes, da adoção de medidas de combate a erosão de solos e de redução de assoreamento de corpos d água, tanto no campo como na cidade se não houver uma mudança na atitude das pessoas com relação ao uso e a forma como tratam os recursos naturais. É necessário, ainda, que a decisão parta do coletivo e os esforços individuais sejam predominantes na luta pela conservação do meio, pois através do consumo consciente ao mesmo tempo em que é exercido o papel da cidadania é garantida uma melhor qualidade de vida para as pessoas e os outros seres que habitam o planeta. Não era propósito da pesquisa, desenvolver uma teoria capaz de resolver o problema da escassez da água. Tomou-se como objetivo principal, o de promover um debate acerca da necessidade de estudar uma política de educação ambiental no sentido de trabalhar a sensibilização da sociedade do consumo sobre as questões que afetam o meio ambiente e a qualidade de vida na terra. Sabe-se, portanto, que é de grande valor fazer um estudo sobre a qualidade da água devido a presença de bactérias e íons além de um estudo de planejamento e de gestão dos recursos hídricos da região, para que não sejam comprometidas a qualidade e o potencial. 7. Referências ARCE-Agencia reguladora de serviços públicos delegados do estado, Carta do Cariri Acesso em: 2 Jul BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, CAVALCANTE, I. N. et al.qualidade das Águas Subterrâneas dos Municípios de Crato e Juazeiro do Norte Vale do Cariri, Ceará, Brasil. In: IX Simpósio de Geologia da Amazônia, 2006, Belém PA. IX Simpósio de Geologia da Amazônia. Belém: SBG, FABI, M. J. S., LOURENÇO, C. D. S., & SILVA, S. S.Consumo Consciente: atitude do cliente perante o comportamento sócioambiental empresarial. Anais do IV Encontro de Marketing da Associação Nacional de Pós-Graduação em Administração. Florianópolis, SC, Brasil,

312 FARIAS, Cristiane. Portal Terra. Disponível em < em: 20 Jun GOMES, Daniela Vasconcellos. A Necessidade de um Modelo de Consumo Sustentável. O Farroupilha, Farroupilha RS, v. 1477, p , 23 Jun IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, Censo demográfico Disponível em < em: 10 Jun IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas Disponível em < em: 10 Jun KIMURA, Gisele; LOUREIRO, Celso de Oliveira. Modelo hidrogeológico do gráben Crato- Juazeiro (CE) uma nova proposta sobre a conexão hidráulica entre os sistemas aquíferos superior e médio.. In: XIII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas. UNESP.p.13, São Paulo, LIMA, J. E. F.W et al. O uso da irrigação no Brasil. In: Estado das Águas no Brasil 1999: Perspectivas de Gestão e Informação de Recursos hídricos, SIH/ ANEEL/ MME/ SRH/ MMA, 1999, p Ministério da Saúde, Controle da qualidade da água potável. Disponível em: < em: 14 jun MMA-Ministério do meio Ambiente, 2015.Disponível em: < Acesso em: 02 de Jul NOGUEIRA, Rui. Água a luta do Século XXI. Brasília, Nação do Sol, PORTILLO F. Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. São Paulo: Ed. Cortez, ONU: Organização das Nações Unidas. A ONU e a água. Disponível em < Acesso em: 16 de Maio SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE: Disponível em:< em: 10 de Maio SEMARH: Secretaria do Meio Ambiente e recursos Hídricos: 312

313 Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Educação e Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.Manual de Educação para o Consumo Sustentável Brasília, 160 p. Disponível em: < acesso em: 16 de Maio SILVA, M. E.; CORRÊA, A. P. M. & AGUIAR, E. C. (2010) Consumo e Sustentabilidade: A perspectiva educacional para o consumo consciente. Anais do II Encontro Regional de Tecnologia e Negócios ERTEN. Serra Talhada: UFRPE. SLALTER, D.Cultura do consumo & modernidade. São Paulo: Nobel,2002. SOBRINHO, M. J. F.B (2006).Cartilha Consumo Consciente - recomendações para o dia-a-dia. UNIFACS Universidade Salvador, Salvador, 16 p. Disponível em < engajamentocidadao.unifacs.br >. Acesso em: 23 de Jun SOUZA, Dayane L. R.; AMARAL FILHO, J. Arranjo Produtivo de Calçados no Cariri. Nexos Econômicos (Salvador). Salvador, Bahia, SOUZA, Claudio Damasceno de,et al.estimativa de parâmetros a partir dos dados de cargas hidráulicas observadas usadas na simulação computacional do fluxo hídrico subterrâneo na região do Cariri cearense.in: XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos UFMS.p.20, 2009, Campo Grande, WWF Brasil. Disponível em: Acesso em: 25 de Maio2015. UNESCO- Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura, Disponível em: em: 03 de Jul

314 ÁREA TEMÁTICA: RECURSOS HÍDRICOS E POLÍTICAS PÚBLICAS INSTRUMENTOS NORMATIVOS E ECONÔMICOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS: UM OLHAR SOBRE O ESTADO DO CEARÁ. RÁRISSON JARDIEL SANTOS SAMPAIO Graduando em Direito pela Universidade Regional do Cariri URCA; bolsista do PIBIC- URCA; membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos Fundamentais GEDHUF. rarissonjardiel@gmail.com (88) IVANNA PEQUENO DOS SANTOS Mestre em Direito Constitucional pela Universidade de Fortaleza; professora assistente do curso de Direito da Universidade Regional do Cariri URCA; membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Direitos Humanos Fundamentais - GEDHUF. ivannapequeno@oi.com.br (88)

315 INSTRUMENTOS NORMATIVOS E ECONÔMICOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE RECURSOS HÍDRICOS: UM OLHAR SOBRE O ESTADO DO CEARÁ. RESUMO: O presente artigo tem como objetivo fazer uma abordagem das principais políticas públicas de recursos hídricos desenvolvidas atualmente no Brasil, e, especificamente, no Estado do Ceará. Com esse intuito, pretende-se estudar a legislação vigente sob o enfoque do direito de acesso à água potável enquanto direito humano fundamental reconhecido pela ONU. Verificar-se-á se os fundamentos e instrumentos utilizados nas políticas públicas estão garantindo a efetiva realização do direito à água. A água não se limita somente a um recurso fundamental para a vida. Não se pode descaracterizar o valor econômico, como um recurso finito. É sobre esse fundamento que se fará a análise das atuais políticas públicas, verificando se estas atentam para todas as qualidades da água, e quais as prioridades estabelecidas a fim de garantir a necessária quantidade de água para as atuais e futuras gerações. A metodologia adotada no artigo foi à pesquisa bibliográfica de natureza exploratória. Palavras-chave: Recursos Hídricos. Políticas Públicas. Estado do Ceará. Efetividade. Acesso à água. ABSTRACT: The present article has for objective to make an approach of the hydric resources' main public policies currently developed in Brazil, and specifically, in the state of Ceará. With this intention, we intend to study the current legislation from the standpoint of the right of access to drinking water as a fundamental human right recognized by the UN. It will be examined whether the fundamentals and instruments used in public policy are ensuring the effective realization of the right to water. The water is not limited only to a basic resource for life. We can t to withdraw its economic value, as a finite resource. It is on this fundamental that will analyze the current public policies, making sure that they pay attention to all the qualities of water, and what the priorities established to ensure the necessary amount of water for present and future generations. The methodology used in the article was the bibliographic research of an exploratory nature. Keywords: Hydric Resources. Public Policies. State of Ceará. Effectiveness. Water access. 315

316 1. Introdução A água é um recurso natural finito e de suma importância para toda a vida na Terra. É um bem universal que deve ser usado de forma racional, visando o futuro das próximas gerações. Diante de suas múltiplas utilidades, a água vem sendo explorada de forma irracional e descontrolada ao longo do tempo, assim como outros recursos naturais. O ser humano não tinha a concepção finita da água, devido à demanda que era inferior se comparada ao quadro atual. Faz-se relevante destacar que aproximadamente 97% das águas do planeta apresentam um alto grau de salinidade (água salgada, imprópria para o consumo) enquanto a porção de água que possui um teor menor de sal (água doce) representa o restante de 3%, sendo que desse percentual 2% encontra-se em estado sólido, e o restante de 1%, que se encontra em estado líquido, está em sua grande maioria depositada em reservatórios subterrâneos (aquíferos). Diante desse cenário, percebe-se o quão escasso é esse recurso que, além de todas as causas naturais que limitam o seu uso, vem sofrendo um intenso processo de poluição, ocasionado pela ação humana, o que dificulta ainda mais a sua conservação. (VIEGAS, 2005, p.24). É para fins de conservar e garantir o acesso de todos à água potável que se faz necessária a intervenção do Estado, o qual atuará diretamente no consumo e exploração dos recursos hídricos, através da instituição de políticas públicas. Antes de adentrar-se no estudo das políticas públicas voltadas para os recursos hídricos, é necessário, primeiramente, uma abordagem geral do conceito de políticas públicas, a maneira como são formuladas e os instrumentos que a compõem. Historicamente, a aplicação de políticas públicas estava relacionada com a efetividade de determinados direitos que não poderiam vir a existir por meio da omissão do Estado como ocorrem com os direitos de liberdade, conhecidos como direitos de primeira dimensão. Com o advento de outra categoria de direitos, os direitos sociais, também ditos direitos de segunda dimensão, uma nova etapa dos direitos fundamentais se firma. Diferentemente dos direitos de primeira geração, que são direitos que visam proteger a individualidade de cada pessoa por meio de limitações à arbitrariedade do Estado, os direitos sociais surgem para garantir a igualdade entre os povos, para que todos tenham o acesso a uma vida digna e aos mesmos pontos de partida. A atual Constituição Federal do Brasil contempla dois conceitos de igualdade aos seus cidadãos, sendo um a igualdade formal, que busca assegurar a todos um tratamento isonômico diante da lei, conforme o art. 5º, I; e de outro lado tem-se a igualdade material que garante igualdade do ponto de partida, ou seja, igualdade no acesso aos direitos sociais, como educação, moradia, lazer. Estes direitos, por sua, vez necessitam de políticas públicas para serem efetivados, 316

317 pois, de nada adianta um direito estar positivado na Constituição se não há uma ação concreta que possibilite a sua realização, ficando somente no plano das intenções. (FILHO, 2012, p.107). Saliente-se, que o fundamento de uma política pública não é somente um direito social, visto que existem diferentes exemplos de atividades que se fundamentam num conceito de desenvolvimento, as quais não se inserem na realização de direitos sociais, mas, também necessitam de uma política pública para serem realizadas. Isso, entretanto, não quer dizer que são atividades desvirtuadas do interesse social, muito pelo contrário, a política de desenvolvimento visa uma elevação do nível de vida, e consequentemente da qualidade de vida da população, o que interfere diretamente no contexto social. Diferentemente dos direitos de liberdade, os direitos sociais, econômicos e culturais precisam do empenho ativo do Estado para se manifestar. Desde as Emendas Constitucionais nº 26, de 2000, e nº 64, de 2010, a Constituição Federal passou a incluir os direitos a moradia e alimentação, respectivamente, no rol de direitos sociais. Lembrando que a ação do Estado não se limita aos direitos sociais, mas que a sua principal função é promover o bem-estar da sociedade. Para que isso aconteça, entretanto, o Governo precisará desenvolver um conjunto de ações e atuar diretamente em diversas áreas. Esse conjunto de ações desenvolvidas pelo Estado é chamado de Política Pública. Para este estudo far-se-á uma breve análise das principais políticas e programas implantados no território cearense, tentando extrair as informações mais importantes e aquelas que correlacionam com a política Nacional. Assim, primeiramente se fará uma abordagem geral do conceito e formulação de políticas públicas, e como estas atuam na área de recursos hídricos. Subsequentemente, será feita uma análise dos principais pontos da Política Nacional de Recursos Hídricos, destacando os instrumentos da outorga de direitos e da cobrança dos usos de recursos hídricos. Em seguida tratar-se-á da Política Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Ceará, estendendo-se ao estudo de alguns programas pontuais do governo. Por fim, se verificará alguns avanços e conquistas das referidas políticas públicas e programas, bem como os resultados que foram alcançados desde as suas implantações. Será possível verificar se estão atuando de forma efetiva no contexto sócio-político atual, além de saber se o acesso à agua vem sendo realmente garantido aos cidadãos. Como o tema água é assaz abrangente, o escopo desse trabalho limitar-se-á às águas doces, sem exame direto das águas marítimas e minerais, devido às suas peculiaridades. Os termos 317

318 água e recursos hídricos serão usados como sinônimo, assim como o faz parte da doutrina e legislação brasileira. 2. O conceito de Política Pública As Políticas Públicas são instrumentos de ação dos Governos e estão intrinsecamente relacionadas com a atividade administrativa. Quando um governo assume a gestão de um município, por exemplo, a primeira coisa que se busca fazer é verificar os anseios da população, qual a necessidade dela e a partir daí estabelecer as prioridades a serem desenvolvidas ao longo do mandato, a fim de atender máximo de carências possível. O governo, conjuntamente com o povo, desenvolve o interesse social em dado momento, pois este não é algo pré-estabelecido, é mutável e seu processo de transformação é constante. Devido ao caráter mutável do interesse público, a formulação de uma política pública deve passar por algumas etapas fundamentais para o seu efetivo desempenho. Esse processo é chamado de Ciclo das Políticas Públicas e se inicia com a seleção das prioridades, pois é impossível que o agente público se concentre em resolver todos os problemas existentes, visto que são abundantes - lembrando que as políticas devem ter um objeto determinado e um tempo certo. Na escolha das prioridades são analisadas questões relevantes para contexto social que se passa no momento; eventos simbólicos ou até mesmo resquícios de políticas passadas que apresentaram alguma falha, as quais podem ser aprimoradas. Tudo isso depende do interesse político somado à manifestação da população, e a visão de que as consequências de certo problema pode custar mais caro do que a solução do mesmo. Selecionadas as prioridades, serão definidas as linhas de ação, as atitudes que podem ser tomadas, as devidas soluções cabíveis. É nesse momento que são definidos os objetivos e as diretrizes da política pública, bem como os programas que serão implementados juntamente com ela. Posteriormente, segue-se para o processo onde são tomadas as decisões, definindo recursos, prazos, dentre outras providências. (LOPES, 2008, p. 10). Todas as escolhas serão expressas através da legislação por meio de normas, decretos, leis, e outros. Dessa forma, o poder Legislativo atua diretamente no processo de formulação, discutindo os temas polêmicos e as diferenças ideológicas de pensamento, pois não é raro uma política pública passar por resistência de alguns segmentos representantes da população. A legislação instituirá oficialmente a política, sendo posteriormente publicada. Logo após, começa a etapa principal, que fica a encargo do poder Executivo, o qual irá por em prática as opções expressas na legislação. Nessa mesma etapa inicia-se uma atividade de avaliação dos resultados atingidos e consequências 318

319 causadas após a instituição da política, o que irá contribuir para futuros ajustes que irão demandar novas decisões. Pode-se salientar que as políticas públicas visam atingir determinados fins e para isso podem demandar a formação de outras políticas que serão meios para se alcançar o objetivo almejado. Por exemplo, no tocante aos recursos hídricos, a finalidade de uma política pode ser o acesso à água potável para todos os cidadãos de uma determinada localidade. Para tanto, terão que ser implementadas outras medidas de menor escala, mas de mesma importância para se chegar à finalidade, como a construção de estações de tratamento de água e esgoto que fazem parte de uma política de infraestrutura. Ou seja, a criação de uma política principal não exclui a possibilidade de criação de outras inferiores que servirão de sustentação da superior como meios para se chegar ao resultado final. Essa é uma distinção hierárquica, que é bem retratada por Bucci, em que a execução de políticas de fins pressupõe a formulação de políticas de meios. (BUCCI, 1997, p. 95). 3. A Política Nacional De Recursos Hídricos Como já mencionado, as políticas públicas objetivam concretizar direitos, atuando diretamente em atividades que agem no meio social contribuindo para o desenvolvimento da região na área econômica, cultural, e de igual modo, na ambiental, a fim de melhorar a qualidade de vida da população. Sob essa perspectiva, é que se encontram enquadrados os recursos hídricos, dada a sua importância tanto quanto fator fundamental para a vida, como pelo seu relevante valor econômico. Dentro desse contexto, fez-se necessário a criação de uma Política que pudesse abranger a proteção dos recursos hídricos ao mesmo passo que possibilitasse o acesso da população a água potável de qualidade, sem descaracterizar o seu caráter econômico. Uma política de recursos hídricos deve se destinar a proporcionar o acesso igualitário à água, bem como os meios para que ela seja usada de forma econômica e racional, evitando o desperdício, sempre priorizando atender as necessidades vitais do ser humano em detrimento das diversas outras atividades que demandam o consumo do recurso hídrico. Foi justamente sobre esses fundamentos que no dia 9 de janeiro de 1997 foi publicada no Diário Oficial da União a lei nº que instituí a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), bem como o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (SINGREH) visando cumprir o que estava previsto no art. 21, XIX, da Constituição Federal de A Lei nº 9.433/97 satisfaz todos os requisitos de uma política pública dispondo de fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos que viabilizem a sua implementação. A referida 319

320 lei é organizada em quatro títulos: Da Política Nacional de Recursos Hídricos; Do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; Das Infrações e Penalidades; e Das Disposições Gerais e Transitórias. Para este trabalho iremos nos ater apenas ao Título I que trata da PNRH. Primeiramente, são estabelecidos os fundamentos (art. 1º, Lei nº 9.433/97) sobre os quais será baseada a política de recursos hídricos, que inova ao dispor expressamente que a água é um bem de domínio público. Assim, primeiramente, se estabelece o preceito da dominialidade pública da água, revogando tacitamente regra presente no Decreto nº /34 (Código de Águas), que admitia a figura das águas particulares, adequando-se ao texto constitucional que atribui a dominialidade da água a União e aos Estados: Art. 20. São bens da União: [...] III os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; [...] Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: I as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; [...] O Código de Águas, em seus primeiros artigos, classifica a água como pública, comum e particular. Com o advento da Lei da Política Nacional dos Recursos Hídricos, essa norma foi totalmente modificada, de forma que não se admite mais a existência de águas particulares no ordenamento jurídico brasileiro. O legislador não se esqueceu de atribuir valor econômico a água, e como segundo fundamento da PNRH, dispõe que a água é um recurso natural limitado e dotado de valor econômico, razão pela qual se admite a cobrança pelo seu uso. Em relação às legislações anteriores, pode-se dizer que houve um retrocesso no que tange ao uso prioritário da água. Um dos fundamentos da política hídrica é o uso múltiplo das águas e que, somente em situações de escassez, esta seria usada de forma prioritária para o consumo humano e dessedentação de animais, de forma contrária ao que está disposto no Decreto nº 320

321 24.643/34 que dispõe em seu art. 36, 1º, que, em qualquer hipótese, a preferência à derivação das águas públicas será para o abastecimento das populações. Outra inovação que a PNRH trouxe, foi à adoção da bacia hidrográfica como unidade territorial de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, o que pode implicar no gerenciamento compartilhado, visto que uma bacia pode abranger mais de um Estado. Por fim, tem-se a gestão descentralizada dos recursos hídricos, que inclui a participação do poder público nas decisões que são tomadas, sendo os Comitês de Bacia (integrantes do SINGREH) um dos meios para garantir o acesso da população nas deliberações da sua respectiva bacia hidrográfica. Dentre os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos estão os de assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidades adequados aos seus respectivos usos; a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, bem como a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de causa natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. (Art. 2º da Lei nº 9.433/97). Com a finalidade de cumprir os seus princípios ou objetivos a PNRH estabelece, em seu art. 5º, os instrumentos que de fato irão viabilizar a sua implementação e o gerenciamento dos recursos hídricos. Como instrumentos tem-se: os Planos de Recursos Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a outorga dos direitos de usos de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; compensação a municípios (o qual teve a sua seção revogada) e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Dispostos no art. 6º da lei nº 9.433/34, os Planos de Recursos Hídricos são planos diretores que visam fundamentar e orientar a implementação da PNRH e o gerenciamento dos recursos hídricos. Os Planos são elaborados, prioritariamente, por Bacia Hidrográfica, já que esta foi a unidade territorial adotada pela Política Nacional. Podem ser ainda elaborados por Estado ou pelo de forma Nacional, devendo sempre o primeiro integrar-se às prioridades estabelecidas pelos Planos de Recursos Hídricos de bacia hidrográfica. O enquadramento dos corpos de água em classes está elencado como segundo instrumento da PNRH, o qual visa estabelecer patamares de qualidade relacionados com os seus usos pretendidos e diminui os custos de combate à poluição das águas mediante ações preventivas. Esse enquadramento dos corpos de água em classes assegura que a água tenha a qualidade compatível com o uso que lhe for dado, estando, portanto, intrinsecamente relacionado com o instrumento de outorga. A lei dispõe que cabe à legislação ambiental estabelecer as classes de águas, a qual foi feita 321

322 através da Resolução nº 357/05 expedida pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente. (Art. 9º e art. 10 da lei 9.433/97). Diante da escassez dos recursos hídricos, muitos países optaram por tornar público esse recurso ambiental a fim de geri-lo melhor, como é o caso do Brasil. Nesse cenário, a lei nº 9.433/97 instituiu a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos visando assegurar o controle quantitativo e qualitativo dos usos das águas, e o efetivo exercício dos direitos de acesso à água (art. 11). Segundo Gasparinni, a outorga [...] é o que permite à administração pública atribuir, a quem o requer, um direito. [...] Desse processo são exemplos os que têm por objeto a concessão de serviço público e a permissão de uso de bem público, no caso, dos recursos hídricos. (GASPARINNI, 2010, p. 1075). É por meio da outorga que o Poder público atribui ao interessado, seja ele público ou privado, o direito de utilizar privativamente o recurso hídrico, fixando as condições e limites para o seu uso. Vale lembrar que a outorga não é uma inovação da PNRH, pois o Código de Águas já disciplinava a derivação dos recursos hídricos no seu Capítulo IV, nos arts. 43 a 52. O art. 12 da Lei nº 9.433/97 elenca os usos de recursos hídricos que estarão sujeitos à outorga, sendo eles os seguintes: I derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo; II extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo; III lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final; IV aproveitamento dos potenciais hidrelétricos V outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água. Segundo o art. 13 da referida lei, toda outorga estará condicionada às prioridades de uso estabelecidas nos Planos de Recursos Hídricos e deverá respeitar a classe em que o corpo de água estiver alocado e a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso, além de que o ato de outorga também deverá preservar o uso múltiplo das águas. Cabe ao Conselho 322

323 Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) estabelecer quais os critérios para que se possa efetivar a outorga, a qual será realizada por meio de ato da autoridade competente, que dependerá da dominialidade do corpo de água onde está enquadrado (União, Estado ou DF). Pode ainda o poder Federal delegar aos Estados e ao Distrito Federal competência para conceder outorga de direito de uso dos recursos hídricos, desde que estes sejam de domínio da União. Poderá haver suspensão parcial ou total da outorga, em definitivo ou por prazo determinado, quando se verificar: o descumprimento dos termos da outorga pelo outorgado; o desuso do recurso hídrico concedido por três anos consecutivos; em casos de necessidade em que o Poder público terá que atender situações de calamidade, incluindo as que decorrem de condições climáticas adversas (como longos períodos de seca em regiões pouco habituadas com esse clima), ou a necessidade de se prevenir ou reverter grave dano ambiental decorrente da degradação. Pode ainda haver suspensão com a finalidade de atender a usos prioritários de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fonte alternativa, ou mesmo para manter as características de navegabilidade do corpo de água. Resolução expedida pelo CNRH nº 16/2001 determinou a inexistência do direito de indenização pela suspensão da outorga nos casos previstos na lei nº 9.433/97, visto que estas decorrem ora por negligencia do outorgado, ora por supremacia do interesse público, lembrando que o uso desses recursos, para qualquer finalidade que seja, sem a respectiva outorga, implicará nas penalidades previstas na legislação, salvo nos casos que se considerem insignificantes (art. 12, 1º). Portanto, a outorga é um meio eficaz de promover o controle qualitativo e quantitativo dos usos dos recursos hídricos. Esse instrumento está diretamente vinculado com outro instituído na PNRH, a cobrança pelo uso de recursos hídricos (Art. 5º, IV). A cobrança está atrelada à outorga de uso dos recursos hídricos. Desse modo, a outorga é o instrumento antecedente e indispensável à viabilização da cobrança legalmente instituída. (VIEGAS, 2005, p. 107). A Cobrança pelo uso de recursos hídricos se justifica pelo valor econômico que é atribuído a água, juntamente com o seu fator de escassez, e torna-se uma forma eficaz de racionalizar o seu uso, fazendo com que o usuário reconheça o seu valor. Entretanto não se deve confundir a cobrança pelo uso de recursos hídricos outorgados com o serviço de saneamento básico que a maioria dos cidadãos paga, visto que o segundo consiste apenas no tratamento da água, um serviço de abastecimento. Outro objetivo importante da cobrança é obter recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos planos de recursos hídricos. Os valores 323

324 arrecadados serão aplicados prioritariamente na bacia em que foram gerados. O poder público se faz presente na fixação dos valores, pois este passa pela aprovação das agências de água, dos comitês de bacia hidrográfica e pelos conselhos de recursos hídricos. O Brasil não inova no que tange à cobrança pelo uso de recursos hídricos. Alguns países, como os Estados Unidos, Alemanha, França, México dentre outros já adotaram esse modelo de controle, que visa estimular o pensamento racional no uso da água. O Brasil é privilegiado quando se trata de potencial hídrico. Possui o Rio Amazonas, o maior rio do mundo, além de imensos aquíferos. A problemática está na distribuição de água potável e na conscientização dos usuários quanto ao seu uso. Ressalte-se, que a cobrança pelo uso dos recursos hídricos não implica na limitação do acesso à água, pois aqueles que não apresentam condições de pagar estão automaticamente enquadrados no uso insignificante do recurso (Art. 12, 1º), o qual dispensa a outorga, que por sua vez, dispensa a cobrança. Só haverá cobrança nos casos em que se fizer obrigatória a outorga. Finalmente, como último instrumento utilizado pela PNRH, tem-se o Sistema de Informações sobre Recursos hídricos, o qual consiste em um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão (art. 25). 4. Políticas Públicas voltadas para Recursos Hídricos no Estado do Ceará Antes de tratarmos propriamente da legislação estadual, dentre outros programas instituídos pelo governo, cabe explicar um pouco acerca da dominialidade dos recursos hídricos e a competência legislativa atribuída aos Estados. A Constituição Federal de 1988 elenca no seu art. 20, III, as águas que compõem os bens da União, a fim de melhor gerenciá-las e evitar conflitos entre os Estados, tomando para si águas fronteiriças e compartilhadas. No art. 26, I, da CF/88, são expressos os bens dos Estados que incluem as águas sob seu domínio específico. Na Constituição do Estado do Ceará, mais precisamente em seu art. 19, se observa a seguinte disposição: Art. 19. Incluem-se entre os bens do Estado: I - os que atualmente lhe pertencem; 324

325 II - os lagos e os rios em terrenos de seu domínio e os que têm nascente e foz em seu território; [...] Quanto à competência para legislar sobre os recursos hídricos, a Constituição Federal estabelece, em seu art. 22, inciso IV, que é competência privativa da União legislar sobre as águas. Entretanto, o parágrafo único do mesmo artigo abre um espaço para que, por meio de Lei Complementar, a União autorize os Estados a legislarem sobre os recursos hídricos. Foi sob essa autorização e sob a previsão do art. 326 da Constituição do Estado do Ceará que, em 1992, foi publicada a lei nº que instituía a Política Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Ceará e o Sistema Integrado de Gestão dos Recursos Hídricos - SINGERH. Com o advento da Lei Federal nº 9.433/97, fez-se necessário a adequação da Política Estadual aos parâmetros estabelecidos na Política Nacional. Então, no dia 30 de dezembro de 2010 foi publicada a Lei Estadual nº que revoga expressamente a legislação anterior, resguardando em muito os seus princípios, objetivos e diretrizes. A mais recente Política Estadual de Recursos Hídricos é um pouco mais extensa do que a lei federal, justamente por abordar cada tema de forma minuciosa, além de dar a devida atenção à regulamentação das águas subterrâneas e ao reuso das águas, reservando dois capítulos exclusivos para isso. Fazendo um comparativo entre as leis federal e estadual, nota-se, quanto aos objetivos, que a política do Estado do Ceará se volta para a gestão dos usos da água visando o desenvolvimento social e econômico, e o equilíbrio com o meio ambiente. Ressalta que a água é um recurso natural essencial à vida e que deve ser ofertada, controlada e utilizada em padrões de qualidade e de quantidade satisfatórios por seus usuários atuais e pelas gerações futuras. O seu terceiro objetivo engloba alguns dos que são retratados na lei federal, como o uso múltiplo das águas e a gestão descentralizada e participativa. Em relação aos princípios estabelecidos pela lei nº /2010 destaca-se o acesso à água como um direito de todos (art. 3º, I), por tratar-se de um bem de uso comum do povo e recurso natural indispensável à vida, à promoção social e ao desenvolvimento sustentável. Segue a mesma linha da lei federal ao adotar a bacia hidrográfica como unidade territorial de gestão, além de reconhecer o valor econômico da água e instituir a cobrança pelo uso de recursos hídricos como meio fundamental para a racionalização de seu uso e sua conservação. 325

326 A outorga também se faz presente nos princípios e instrumentos da lei cearense, bem como a institucionalização do Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos (SIGERH), que promoverá a gestão dos recursos em âmbito estadual, semelhante ao SINGREH no âmbito federal. Um dos grandes diferenciais principiológicos da Política Estadual de Recursos Hídricos é a promoção da educação ambiental, justificando que esta é fundamental para a racionalização, utilização e conservação dos recursos hídricos, demonstrando mais uma vez a responsabilidade que teve o legislador em se atentar para a questão ambiental. A Política Estadual de Recursos Hídricos adota praticamente os mesmos instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, acrescentando dois incisos que instituem o Fundo Estadual de Recursos Hídricos FUNERH, e a fiscalização de recursos hídricos (art. 5º, lei nº /2010). No que tange à outorga, instrumento de grande importância para o controle dos usos de recursos hídricos, o Ceará foi mais além do que a lei federal e regulamentou a outorga de execução de obras e/ou serviços de interferência hídrica (art. 12), que será efetivada através de ato administrativo de competência do Secretário dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará, no qual será outorgada a execução de obras ou serviços que alterem o regime, quantidade ou a qualidade dos recursos hídricos. O Fundo Estadual de Recursos Hídricos está descrito no art. 21 e tem por finalidade dar suporte financeiro à Política Estadual de Recursos Hídricos, onde será regido pelas normas estabelecidas na Lei e em seu regulamento. Sua base de financiamento está disposta no art. 23, que conta, por exemplo, com recursos financeiros providos da transferência da União ou Estados vizinhos, destinados a execução de planos e programas de recursos hídricos de interesse comum. O artigo 14 da lei estadual descreve a fiscalização de recursos hídricos, um importante instrumento para a efetividade da PERH. Essa fiscalização será exercida nas águas superficiais e subterrâneas de domínio do Estado do Ceará, e terá por base os objetivos, princípios e diretrizes estabelecidos na Lei, focando na orientação dos usuários, a fim de assegurar o cumprimento da legislação de recursos hídricos e ambientais. No decorrer dos demais artigos a lei nº /2010 irá descrever cada instrumento, além de outras providências, como a atuação do SIGERH e dos demais órgãos que o compõem. Atualmente, o gerenciamento e disciplinamento de mais de 90% das águas acumuladas no Estado são feitos pela COGERH (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos), de forma descentralizada, integrada e participativa conforme prevê a PERH. Estão sob a administração da Companhia de 326

327 Gestão de Recursos Hídricos, 153 dos mais importantes açudes públicos estaduais e federais, além de reservatórios, canais e adutoras da bacia metropolitana de Fortaleza. (COGERH, 2015). 5. Programas e ações desenvolvidos no Estado do Ceará Além da Política Estadual de Recursos Hídricos, existem outras legislações que atuam diretamente nesse contexto. Os programas e ações são elaborados, em sua grande maioria, pelo poder federal e executados em conjunto com a gestão estadual. Dentre os vários programas existentes, pode-se destacar dois que possuem grande atuação no Estado do Ceará, e serão tratados especificamente. São eles: a Operação Carro Pipa e o Programa Água para Todos, sendo o primeiro desenvolvido pelo Ministério da Integração Nacional, através da Secretaria Nacional de Defesa Civil, em parceria com o Exército Brasileiro; e o segundo pelo Governo Federal em conjunto com os Estados. Ambos são fundamentais para garantir o acesso à água potável para a população que vive no semiárido brasileiro e têm de enfrentar longos períodos de estiagem. O Programa Água para todos, foi instituído pelo Decreto nº 7.535, publicado no Diário Oficial da União, em 27 de Julho de 2011, e tem por objetivo universalizar o acesso à água, garantindo o amplo acesso desta para as populações rurais que estão dispersas e em situação de extrema pobreza. Esse programa é desenvolvido através da construção de cisternas com um sistema de coleta que armazena a água vinda da chuva. Sua utilização pode ser para o consumo próprio, para a produção de alimentos ou para a criação de animais, visando possibilitar a geração de excedentes comercializáveis que poderão ampliar a renda familiar dos produtores rurais. Esse programa recebe apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), da Fundação Banco do Brasil (FBB), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Petrobrás, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e dos Estados. Vale lembrar que o programa tem abrangência nacional, mas se iniciou pela região do semiárido, que inclui o Ceará Informação retirada do site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Disponível em: < Acesso em: 29 jun

328 A Operação Carro Pipa surgiu de uma parceria entre Ministério da Integração e o Exército Brasileiro. Foi oficializada através da Portaria nº 01/MI/MD, publicada no Diário Oficial da União em 25 de julho de O projeto visa à distribuição de água potável para a população situada nas regiões afetadas pela seca ou estiagem, especialmente no semiárido nordestino e norte de Minas Gerais. A execução do programa, incluindo contratação, seleção, fiscalização e pagamento dos pipeiros, é de responsabilidade do Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro (Coter). Essa operação tem ajudado inúmeras famílias que sobrevivem apenas com água distribuída pelo programa, triste realidade que muitos brasileiros desconhecem existir, chegando, em alguns casos, a se comparar com a realidade vivida em países subdesenvolvidos, como ocorre na grande maioria do continente africano. 6. Efetividade das Políticas Públicas de recursos hídricos Em documento publicado em 2011 pelo Ministério do Meio Ambiente foi feito levantamento das prioridades que seriam estabelecidas para os anos seguintes, apontando as dificuldades que a implementação da PNRH enfrentava. O texto diz o seguinte: Pode-se observar que neste primeiro período avaliado da implementação do PNRH, quatro fatores apresentam-se como limitadores ao efetivo progresso esperado: dificuldades na montagem do arranjo institucional e da máquina necessária para a coordenação e acompanhamento da implementação do PNRH; falta de alinhamento dos atores estratégicos na condução das atividades mínimas necessárias; baixa velocidade de partida, fato peculiar na fase de arrancada dos programas; e finalização do detalhamento de alguns programas entre, 2007 e 2009, ao longo do período da implementação do PNRH. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE MMA, 2011). Uma das causas apontadas para o retardamento do progresso esperado foi à fragmentação do procedimento de implementação. Houve uma nítida falta de integração dos atores participantes da política, requisito presente nos fundamentos da Lei nº 9.433/97. Posteriormente, durante o XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, que ocorreu a cidade de Natal-RN, em 2014, o Ubirajara Patrício Álvares da Silva, gerente de Gestão Participativa 328

329 da COGERH CE na época discutiu juntamente com outros convidados os avanços e conquistas, e também dificuldades, na execução da Política Nacional de Recursos Hídricos até o presente ano. Dentre vários pontos abordados, os principais mostraram que a Política Nacional de Recursos Hídricos vem construindo uma condição favorável para a gestão da água, apesar de ser relativamente nova, com 17 anos na ocasião, o que seria um período curto para a plena realização de uma política pública. Mostrou-se também que vários Sistemas de Gestão de Recursos Hídricos Estaduais são pouco estruturados, muitos deles por estarem priorizando outras demandas sociais, afetando consequentemente a efetividade da gestão, pois, segundo Ubirajara, onde a Gestão Estadual é mais efetiva, também é mais efetiva a Gestão Federal. 28 Quanto aos programas Água para Todos e Operação Carro Pipa, um balanço publicado pelo Ministério da Integração, juntamente com o Ministério da Defesa Social, mostrou que até o mês de novembro de 2014 cerca de (cento e oitenta e três mil, novecentos e trinta e três) cisternas foram construídas por todo o território cearense, enquanto 126 (cento e vinte e seis) municípios foram contemplados com a Operação Carro Pipa, que até dezembro de 2014 havia contratado mais de (mil duzentos e vinte) pipeiros. Mostrando um notável desenvolvimento no setor de distribuição de águas para a população, e a real efetivação do direito de acesso a água. (COTER/MD e CENAD/MI, 2014) Conclusão O acesso à água potável de qualidade é direito humano fundamental reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) por ser extremamente necessário para a preservação e manutenção da vida, estando à água intimamente relacionada com a dignidade da pessoa humana. Além de políticas que regulamentem o seu uso, precisamos de políticas que garantam, acima de tudo, o efetivo acesso da população a este recurso natural. Desde o século XX, com a queda na atenção dada à exploração de matrizes de energia, como o petróleo, passou-se a dar devida atenção à água, percebendo que esta é um recurso finito e que está cada vez mais escasso, exigindo a implementação de políticas e regulamentos que controlem o seu uso, a fim de garantir a necessária disponibilidade de água para a atual e as futuras 28 Apresentações disponíveis no site do XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste. Disponível em: < Acesso em 29 jun Disponível em: < Acesso em 30 jun

330 gerações. Entretanto, a tendência é que a água se valorize ainda mais, a ponto de que em tempos futuros este seja o bem mais cobiçado da humanidade, se já não o é. Ainda não se tem expressamente no ordenamento jurídico brasileiro nenhum documento que enquadre a água como um direito humano fundamental, apesar de já estar enquadrada como tal de forma implícita. Alguns documentos ainda priorizam mais o seu caráter econômico em detrimento da sua importância para o uso humano, e isto é notável quando comparamos a lei federal nº 9.433/97 com a lei do estadual do Ceará, nº /2010, onde a primeira trata de forma muito singela do direito de acesso a água, enquanto a segunda assume repetidamente em seus princípios, objetivos e diretrizes que esse recurso é bem de uso comum essencial à vida, e o seu acesso é direito de todos. Percebe-se que a evolução das políticas públicas que envolvem os recursos hídricos se dá de modo gradual, estando estas ainda em processo de consolidação e com muitos desafios a superar. Muitas conquistas já foram alcançadas, mas o objetivo esperado ainda está por vir. Pois, espera-se que, no futuro, a população possa ter o mínimo de água suficiente para uma vida digna. Entretanto, as previsões não são nada favoráveis. A tendência é que o quadro de escassez se agrave a cada ano em virtude do grande crescimento populacional que se desenvolve em progressão geométrica, enquanto os recursos, que são limitados, continuam a ser desperdiçados, ou mesmo utilizados inadequadamente. O reconhecimento do acesso a água como direito de todos torna-se então uma questão de preservação da própria existência humana, de modo que, conflitos que hodiernamente se fazem por conta de territórios e matrizes energéticas, realizar-se-ão por conta da mais inestimável riqueza de toda a história da humanidade, a Água. 8. Referências ÁGUA para todos. Ministério da Integração Social (MI). Disponível em: < Acesso em: 29 jun ÁGUA para todos. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Disponível em: < Acesso em: 29 jun

331 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, Senado, BRASIL. Decreto nº de 26 de Julho de Institui o Programa Nacional de Universalização do Acesso e Uso da Água - ÁGUA PARA TODOS. Diário Oficial da União, 27 jul BRASIL. Lei nº de 08 de Janeiro de Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de Diário Oficial da União, 09 jan BUCCI, Maria Paula Dallari. Políticas Públicas e Direito Administrativo. Revista de Informação Legislativa, Brasília, a. 34, n. 133, p , jan./mar CEARÁ. Constituição (1989). Constituição do Estado do Ceará, Fortaleza, CE, CEARÁ. Lei nº de 28 de Dezembro de Dispões sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos, Institui o Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos SINGERH, e dá outras providências. Diário Oficial do Estado, Fortaleza, Série 3, ano I, nº 245, 30 dez COGERH. Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH). Disponível em: < Acesso em: 25 jun CONSTRUÇÃO de cisternas. Observatório da Seca. Disponível em: < Acesso em: 29 jun DA SILVA, Ubirajara Patrício Álvares. Reflexões sobre a lei 9.433/97 e sua efetividade. In: XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS DO NORDESTE ISSN Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH). Natal RN, Disponível em: < Acesso em: 30 jun FILHO, Napoleão Casado. Direitos Humanos e Fundamentais. São Paulo: Saraiva, GASPARINNI, Diogenes. Direito Administrativo. 15 Ed. São Paulo: Saraiva,

332 LEGISLAÇÃO. Ministério da Integração Nacional. 25 jun Disponível em: < Acesso em: 30 jun LOPES B., AMARAL J. N. Políticas Públicas: conceitos e práticas. Belo Horizonte: SEBRAE/MG, OPERAÇÃO carro pipa. Observatório da Seca. Disponível em: < Acesso em: 29 jun POMPEU, Cid Tomanik. Curso: Direito de Águas no Brasil. Agência Nacional de Águas ANA, Brasília, SANTOS, Ivanna Pequeno dos. A evolução do regime jurídico das águas doces no Brasil e no Ceará: análise do caso da fonte Batateira no Cariri-CE. Dissertação (Mestrado em Direito Constitucional). UNIFOR, VIEGAS, Eduardo Coral. Visão Jurídica da Água. Porto Alegre: Livraria do Advogado,

333 RECURSOS HÍDRICOS E POLÍTICAS PÚBLICAS PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS FAMÍLIAS BENEFICIADAS COM AS TECNOLOGIAS DE RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE EXU-PERNAMBUCO Cicero Jair Sales Alencar (URCA) - jairalencar91@hotmail.com Graduando do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA) de Crato-CE. Renato Junior de Lima (URCA) - lima.renatojunior@gmail.com Graduando do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA) de Crato-CE. Carlos Henrique Miranda de Alencar (URCA) - carloshenrique9640@hotmail.com Graduando do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA) de Crato-CE. Antonio Joandson da Silva (URCA) - joandson_silva14@hotmail.com Graduando do curso de Ciências Econômicas da Universidade Regional do Cariri (URCA) de Crato-CE. Wellington Ribeiro Justo (URCA) - justowr@yahoo.com.br Professor Associado do Curso de Economia da Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutor em Economia pelo PIMES-UFPE 333

334 PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS FAMÍLIAS BENEFICIADAS COM AS TECNOLOGIAS DE RECURSOS HÍDRICOS DO MUNICÍPIO DE EXU-PERNAMBUCO RESUMO: A Região do Sertão Pernambucano é localizada no semiárido e a escassez de recursos hídricos é um dos fatores responsáveis pela carência das condições de vida da população. O Programa P1MC (Programas 1 Milhão de Cisternas ) é um programa do governo federal em conjunto com os governos estadual e municipal, que visa garantir às populações, que vivem na zona rural do semiárido brasileiro, a captação e manejo adequado das águas das chuvas através da construção de cisternas de placa melhorando as condições de vida dessas pessoas. O presente trabalho aborda uma análise do perfil socioeconômico da população residente beneficiada pelo programa na cidade do Exu-Pernambuco assim como quantifica alguns indicadores de utilização deste recurso. A metodologia é tabular descritiva utilizando-se dados primários coletados através da aplicação de questionários. Observou-se que, a população entrevistada é formada na sua maioria por homens, aposentados analfabetos ou somente alfabetizados e com renda familiar entre um e três salários mínimos. A totalidade dos entrevistados aprova o programa. Verificou-se que este programa, juntamente com o programa de agentes de saúde tem contribuído para a diminuição de doenças ligadas à água. Palavras-chave: Semiárido, Cisternas, Captação de Água de Chuva, Exu. ABSTRACT: The region of Backlands of Pernambuco is located in semiarid and water scarcity is one of the factors responsible for the lack of living conditions of the population. The P1MC Program (Program "1 Million Cisterns") is a program of the federal government in conjunction with state and local governments, which aims to ensure the people who live in rural Brazilian semiarid region, capture and proper management of waters rainfall by building cisterns improving the living conditions of these people. This paper discusses an analysis of the socioeconomic profile of the resident population benefited from the program in the city of Exu PE, like quantifies some indicators to use this feature. The methodology is descriptive using primary data collected through questionnaires. It was observed that the population interviewed is formed mostly by men, retired illiterate or just literate and with income between one and three minimum wages. All beneficiaries approve the program. It was found that this program, along with the program of health workers has contributed to the reduction of water related diseases. Keywords: Semiarid, Cisterns, Rain Water Harvesting, Exu. 334

335 1. Introdução Atualmente um dos assuntos mais relevantes nas conferências do meio ambiente e em todo o mundo, diz respeito à escassez da água, ou até mesmo sua má utilização. Principalmente a água potável, que segundo estimativas neste presente século entrará em colapso e gerará problemas de ordem social. O problema da escassez de água doce é vivenciado por todos os nordestinos principalmente os das regiões mais afetadas com o fenômeno das secas. A escassez de água faz com que a população dessa região sofra com questões de saúde, higienização, e dificuldades econômicas. Dessa forma, a população e os governantes vêm buscando implementar alguns programas tentando amenizar ou conviver com esses problemas. A perfuração de poços artesianos foi uma delas, porém teve alguns problemas, dentre os quais podemos citar: baixas vazões de água; altos teores de sais incompatíveis com a quantidade suportada pelo ser humano e altos índices de poços secos. Isso fez com que as pessoas fossem em busca de outras soluções. No que se refere ao abastecimento humano nas cidades do semiárido que não dispõem de mananciais próximos, a construção de adutoras é a solução mais adequada, seja a partir de reservatórios de maior porte, seja a partir de poços em áreas sedimentares (com maior restrição para que sejam identificadas as potencialidades dessas reservas no que tange, principalmente, aos mecanismos de recarga), ou mesmo a partir de rios e reservatórios mais distantes, mesmo em outras bacias hidrográficas, configurando as chamadas transposições ou transferências de água entre bacias. (CIRILO, et al, 2010). Segundo BRASIL (2000) outra situação hoje vivenciada são as obras para transposição de águas do rio São Francisco para os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Segundo o Ministério da Integração Nacional, no final do projeto haverá retirada contínua de água, equivalentes a 1,4 % da vazão garantida pela barragem de Sobradinho. Esta vazão será destinada ao consumo da população urbana de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos quatro estados do Nordeste Setentrional. A captação de água de chuva tem elevada importância para a população difusa do semiárido, devendo está voltada, prioritariamente, para o uso doméstico, a partir da captação em telhados. As técnicas de captação e manejo da água de chuva ganharam forte impulso a partir da década de 90, com o estabelecimento de programas governamentais e não governamentais na construção de 335

336 cisternas rurais, em particular a cisternas de placa, em todo o semiárido brasileiro. (MONTENEGRO E MONTENEGRO, 2012). Para a construção de cisternas no Semiárido, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) assinou termo de parceria com a Associação Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) e firma convênios anualmente com governos estaduais e municipais. Assim, o MDS libera também recursos para a preparação das famílias para a convivência com o Semiárido e a mobilização e capacitação para gerir os recursos hídricos. O MDS por meio da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN) desde 2003 financia a construção de cisternas de placas de cimento, principalmente na região do Semiárido brasileiro. Trata-se de uma tecnologia simples e de baixo custo, na qual a água da chuva é captada do telhado por meio de calhas e armazenada em um reservatório de 16 mil litros, capaz de garantir água para atender uma família de cinco pessoas em um período de estiagem de aproximadamente oito meses. Dada à importância da construção dessas cisternas no Nordeste brasileiro para uma melhor utilização da água, trabalhos buscam identificar alguns benefícios para contribuir com o aprimoramento deste programa. Pois essa prática está tendo boa aceitação no semiárido, e no sertão de Pernambuco onde está localizada a área de estudo, o município de Exu, que tem habitantes sendo localizados na zona rural, representando 48,47%. O trabalho foi realizado com a perspectiva de poder caracterizar os agricultores beneficiados com construção das cisternas de placa, de acordo com o seu perfil socioeconômico. No que tange a esse perfil podemos destacar a caracterização quanto a: idade do agricultor responsável pela família, sexo, nível de escolaridade, estado civil, principal atividade econômica, área da propriedade e área destinada à agricultura, renda familiar, existência de renda não agrícola e qual a fonte e as características da propriedade. A contribuição deste trabalho se dá por levantar dados primários em uma área bem representativa das áreas atendidas pelo programa de cisternas de placas a ainda não ter sido devidamente explorada na literatura. 2. Referencial Teórico A água é um recurso natural escasso e cuja disponibilidade tem sido cada vez mais limitada, principalmente em regiões áridas e semiáridas. Torna-se, assim, fundamental a existência de políticas públicas que promovam soluções alternativas para esse problema. 336

337 O semiárido brasileiro apresenta situações mais difíceis de serem superadas do que as regiões de outras regiões semiáridas do mundo. Aqui os solos são, em sua maior parte, muito rasos, com a rocha quase aflorante, o que compromete a existência de aquíferos, sua recarga e qualidade das águas; temperaturas elevadas conduzem a altas taxas de evaporação; poucos rios perenes; concentração populacional das mais altas entre os semiáridos do mundo geram pressões excessivas sobre os recursos hídricos. (CIRILO, p.79, 2008.) De acordo com o MDS (2011) uma das metas mais importante para o governo é a erradicação da pobreza no país, o que só pode acontecer se a situação de miséria de boa parte da população no Nordeste, sobretudo no semiárido, for superada. Para tanto, uma das âncoras para a erradicação da miséria é o acesso à água a todos os brasileiros, do que decorre que o governo brasileiro assumiu o compromisso de investir na construção de cisternas como forma de atender as famílias localizadas na zona rural, em situação de vulnerabilidade social e que vivem em situação de extrema pobreza. O MDS estabeleceu como meta para universalização do acesso à água, a implementação de cisternas para captação e armazenamento da água da chuva para famílias localizadas na zona rural e sem acesso a fontes seguras de abastecimento de água. De acordo com Duque e Cirne (1998) esses programas foram estruturados para dar respostas essencialmente emergenciais e assistencialistas, sem perspectivas de superação das principais dificuldades enfrentadas pelas famílias. Apesar disso, por se repetirem a cada seca, as autoras apontaram que esses programas acabaram se tornando as principais estratégias de desenvolvimento para a região no século XX. Para a ASA (Articulação do Semiárido) a água é um direito de todo cidadão e o desenvolvimento sustentável deve está relacionado à boa convivência com o meio ambiente. O Programa de Formação e Mobilização Social para Convivência com o Semiárido abrange os dois grandes programas da ASA: O Programa 1 Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), que visa garantir a segurança hídrica das família, e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que prioriza assegurar água para produção de alimentos. Para Mesquita e Cavalcanti (2012) essas tecnologias simples e adaptadas às realidades locais vêm ganhando espaço nas discussões sobre desenvolvimento local sustentável, se mostrando como uma maneira de captação e manejo mais adequado dos recursos escassos, dando prioridade para a água. Sabe-se hoje que o problema do Nordeste não é a falta de chuva, mas de políticas de armazenamento, distribuição e gestão, além de tecnologias adequadas para a captação de água de chuva. 337

338 3. Metodologia 3.1. Área de Estudo O Nordeste do Brasil situa-se entre as latitudes 1º e 18º 30 S e as longitudes 34º 30 e40º 20 W e ocupa a área de km², que equivalem a aproximadamente um quinto do território brasileiro. A região abrange os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, nos quais vivem cerca de 54 milhões de pessoas e dos quais 26,87% estão na zona rural. O estudo foi realizado no município de Exu, localizado no sertão do Estado de Pernambuco, na região do Araripe conforme pode ser visto na figura 1. Segundo dados do IBGE (2010) o município tem clima predominantemente tropical quente semiárido, com precipitação anual média entre 700 mm e 900 mm, com vegetação de dominância a caatinga, possuindo uma população total em 2010 de habitantes, destes 48,47% vivem na zona rural. Possuindo um número de empresas atuantes de 393 com rendimento médio mensal de 1,6 salários mínimos. O município teve um IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) de 0,576. O PIB a preços correntes é de mil reais, no qual, a parte PIB per capita a preços correntes é R$4904,04. Figura1 Localização de Exu. Fonte: IBGE (2013) Tamanho da amostra Para determinação da amostra, empregou-se a seguinte fórmula sugerida por Fonseca e Martins (1996) para populações finitas através da amostragem aleatória simples: 338

339 n Z2. pq.. N 2 d.( N )1 Z2. pq. (1) Onde: n = tamanho da amostra; z = abscissa da normal padrão; p = estimativa da proporção da característica pesquisada no universo; q = 1 p; N = nº. total de beneficiários das construções das cisternas; d = erro amostral. Considerando que o número total de beneficiários do Programa P1MC na área de estudo, um erro de estimação de 5% (d=0,05), a abscissa da normal padrão Z=1,96, ao nível de confiança de 95% e p = q = 0,5 (na hipótese de se admitir o maior tamanho da amostra, já que não se conhecem as proporções estudadas), obteve-se um tamanho da amostra (n) igual a Natureza dos dados Nesse estudo foram utilizados dados primários provenientes da aplicação de questionários aplicados aos agricultores beneficiados com o programa P1MC do governo federal no Município de Exu - PE. Ainda foram utilizados dados secundários coletados de publicações de alguns dos principais institutos de pesquisa. Entre eles, o Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE), Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e Agência Nacional de Águas (ANA) Métodos analíticos Com base em Lakatos e Marcondi (1996), as técnicas de pesquisa utilizadas foram: Pesquisa Bibliográfica e Observação Direta Extensiva. A primeira, também conhecida como Pesquisa de Fontes Secundárias, consiste na utilização de bibliografia já tornada pública sobre o fenômeno a ser investigado. Sua maior utilidade é deixar o pesquisador a par de tudo que já foi produzido sobre o fenômeno. Já a última foi realizada por meio do instrumento questionário, criado para coletar dados primários e formado por uma série de perguntas, abrangendo aspectos que dão suporte as questões que se busca responder na investigação. A técnica da analise descritiva foi empregada no estudo para atender ao objetivo de descrever as características sociais e econômicas da categoria estudada. Foram utilizados gráficos e tabelas de distribuição de frequências e as medidas de tendência central. 339

340 4. Interpretação dos resultados 4.1. Caracterização Social Sexo e Estado Civil dos entrevistados A tabela 1 mostra o sexo da pessoa responsável pela família ou a pessoa considerada mais habilitada para passar as informações sobre a família. Tabela 1 Frequências Absolutas e Relativas dos Beneficiários segundo o sexo dos entrevistados SEXO Frequência Absoluta Frequência Relativa% Masculino ,22 Feminino 41 22,78 Total Fonte: Elaborado pelos autores com base na pesquisa De acordo com os dados da tabela pode-se constatar que 77,22% dos entrevistados são do sexo masculino. A tabela 2 apresenta a condição da pessoa responsável pela família segundo o estado civil, que teve por predominância a condição de casado. Tabela 2 Frequências Absolutas e Relativas dos Beneficiários segundo o Estado Civil dos entrevistados ESTADO CIVIL Frequência Absoluta Frequência Relativa Solteiro/a 5 2,78 Casado/a ,67 Divorciado/a 0 0,00 Viúvo/a 22 12,22 Outro 6 3,33 Total ,00 Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa 340

341 De acordo com os dados da tabela 2 pode-se constatar que 81,67% dos entrevistados apresentam-se na condição de casados Faixas etárias dos entrevistados Da tabela 3 pode-se extrair que dos beneficiários do programa P1MC, 25,56% dos entrevistados estão na faixa etária dos 65 ou mais anos de idade. Observa-se que da população total quase 70% tem 45 ou mais anos. Tabela 3 - Frequências Absolutas e Relativas segundo faixas etárias dos entrevistados. IDADES Frequência Absoluta Frequência Relativa% , , ,67 65 ou Mais 46 25,56 Total Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa De acordo com a tabela pode-se identificar que a faixa etária com predominância foi de 65 ou mais anos e a com menor frequência relativa foi a de anos Nível de escolaridade A partir da tabela 4, detecta-se que o nível educacional do responsável pela família beneficiada, em sua maioria está na condição de ensino de analfabeto. 341

342 Tabela 4 - Frequências Absolutas e Relativas segundo Nível de escolaridade entrevistados. ESCOLARIDADE Frequência Absoluta Frequência Relativa% Analfabeto 67 37,22 Alfabetizado 56 31,11 Fundamental Incompleto 26 14,44 Fundamental Completo 3 1,67 Médio Incompleto 7 3,89 Médio Completo 17 9,44 Superior 4 2,22 Total Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa De acordo com a tabela 4 tem-se que 37,22% dos entrevistados encontram-se na condição de analfabetos. Ainda constata-se que dos entrevistados 82,78% ainda não concluíram o ensino fundamental. Ao passo que apenas 1,67%, 9,44%, 2,22% concluíram o ensino fundamental, médio e superior respectivamente Caracterização da propriedade Condição da Propriedade Conforme se observa na tabela 5 a condição da localidade em que residem os entrevistados é na sua maioria classificada na condição de proprietário. Tabela 5 Frequência Absoluta e Frequência Relativa quanto à condição da propriedade em que residem os beneficiários CONDIÇÃO Frequência Absoluta Frequência Relativa Arrendatário 40 22,22 Proprietário ,22 Posseiro 10 5,56 Total Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa 342

343 Já na tabela 6 detecta-se que a condição do domicílio (em que residem essas pessoas) predominante é a condição de domicílio próprio. Tabela 6 - Frequência Absoluta e Frequência Relativa quanto à Forma de Cessão de Uso da Residência dos Entrevistados FORMA DE CESSÃO DE Frequência Absoluta Frequência Relativa USO DA RESEDÊNCIA Próprio ,11 Cedido 16 8,89 Total Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa Pode-se observar na tabela 5 que 72,22% da população pesquisada está na condição de proprietário, 22,22% na condição de arrendatário e apenas 5,56% na condição de posseiro. Já na tabela 6 tem-se que 91,11% têm residência própria e que 8,89% moram em domicílio cedido Tipo de Construção da Residência Com base na tabela 7, constatou-se que o tipo de construção de residência com predominância foi à construção de casa com tijolo com reboco e piso de cimento. Tabela 7 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo o Tipo de Construção da Residência, dos entrevistados. TIPO DA CASA Frequência Absoluta Frequência Relativa Casa de Taipa 2 1,11 Casa de tijolo, sem Reboco e Piso de Terra 31 17,22 Casa de tijolo, Reboco e Piso de Cimento ,67 Total Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa 343

344 De acordo com a tabela 7 verifica-se 81,67% dos entrevistados declararam que a sua residência é do tipo de construção de tijolo, com reboco e piso de cimento, 1,11% possuem casa de taipa e 17,22% casa do tipo de construção de tijolo, sem reboco e piso de terra Destino dos Dejetos Humanos Com base na tabela 8 verifica-se que os entrevistados, em sua maioria, declararam que os dejetos humanos estão sendo jogados a céu aberto ou enterrado, sendo que de uma minoria são destinados à fossa séptica. Tabela 8 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo o Tipo do Destino dos Dejetos humanos TIPO Frequência Absoluta Frequência Relativa Jogado a céu Aberto ou Enterrado ,56 Dirigido à Fossa Séptica 11 6,11 Dirigido à fossa Rudimentar 15 8,33 Total Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados da pesquisa Da tabela 8 pode-se extrair que dos entrevistados 85,56% declararam que os dejetos humanos gerados pelos componentes da família são jogados a céu aberto ou enterrados, sendo que 6,11% afirmaram que o destino dos dejetos humanos são dirigidos à fossa séptica e 8,33% disseram que os dejetos humanos são dirigidos à fosse do tipo rudimentar Destino do Lixo Domiciliar De acordo com a tabela 9, observa-se que os entrevistados, em sua maioria, declararam que o lixo gerado no domicílio é queimado. Pode-se ver que o número dos entrevistados que declararam que o lixo gerado no domicílio é jogado no solo é superior ao número dos entrevistados que declararam queimar o lixo gerado. 344

345 Tabela 9 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo o Destino do Lixo das Residências dos entrevistados DESTINO Frequência Absoluta Frequência Relativa Queimado ,33 Enterrado 32 17,78 Jogado ao Solo 43 23,89 Total Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa Com base na tabela 9 verifica-se que dos beneficiários entrevistados 58,33% declararam que o lixo gerado pela sua residência tem o destino de queimação; 17,78% dos entrevistados relataram que o destino do lixo é o enterro e 23,89% declararam que o destino do lixo de seu domicílio é jogado ao solo Acesso às Fontes de Água De acordo com a tabela 10 verifica-se que os entrevistados, em sua maioria, apresentam como forma de acesso às fontes de água do tipo manual. Tabela 10 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo o Tipo de Acesso as Fontes de Água dos entrevistados TIPO Frequência Absoluta Frequência Relativa Manual Encanação Total Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa Com base na tabela 10 verifica-se que dos entrevistados 90% destes declararam que a forma de acesso às fontes de água é do tipo manual enquanto que apenas 10% usam como forma de acesso as fontes de água a encanação. 345

346 Tipo de Tratamento da Água De acordo com a tabela 11 constatou-se que os entrevistados, em sua maioria, declararam que utilizam o hipoclorito cedido pela Agente comunitária de Saúde, como forma de tratamento para a água do consumo dos residentes. Tabela 11 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo o Tipo de Tratamento da Água dos entrevistados TIPO Frequência Absoluta Frequência Relativa Nenhum 61 33,89 Filtrada 32 17,78 Hipoclorito 87 48,33 Total Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa Com base na tabela 11 contatou-se que 48,33% dos entrevistados declararam que utilizam o hipoclorito como forma de tratamento da água para o consumo humano; 33,89% declararam não fazer nenhum tipo de tratamento da água para o consumo humano e 17,78% declararam que usam como forma de tratamento da água a filtração Aparecimento de Doenças Virais ou Bacterianas De acordo com a tabela 12 verifica-se que os entrevistados, em sua maioria, declararam que das doenças listadas no questionário (Doenças analisadas: Hepatite infecciosa, diarreia, esquistossomose, cólera, leptospirose e dengue) em sua residência, tem ausência de pelo menos cinco dessas. 346

347 Tabela 12 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo o Aparecimento de Doenças Virais ou bacterianas FORMA Frequência Absoluta Frequência Relativa Ausência de duas doenças 2 1,11 Ausência de três doenças 2 1,11 Ausência de quatro doenças 12 6,67 Ausência de cinco doenças ,33 Ausência de todas as doenças 5 2,78 Total Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa Com base na tabela 12 constatou-se que dos beneficiários, 88,33% dos entrevistados declararam que na sua residência há ausência de cinco das doenças analisadas; 1,11% e 1,11% dos entrevistados declararam que na sua residência há ausência de duas e três doenças respectivamente, doenças das analisadas e 2,78% dos entrevistados declararam que na sua residência há ausência de todas as doenças analisadas Caracterização Econômica Renda Familiar De acordo com a tabela 13 pode-se extrair que dos beneficiários entrevistados, em sua maioria, declararam que em seu domicílio a renda familiar mensal está entre o intervalo de um a três salários mínimos. 347

348 Tabela 13 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo o Valor Mensal da Renda da Residência dos entrevistados RENDA Frequências Absolutas Frequências Relativas Até um Salário Mínimo 25 13,89 Entre 1 e 3 Salários Mínimos ,89 Entre 3 e 5 Salários Mínimos 10 5,56 Acima de 5 Salários Mínimos 5 1,67 Total ,00 Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa Da tabela 13 pode-se extrair que dos beneficiários entrevistados, 78,89% declararam que a renda média mensal de sua residência se encontra no intervalo de um a três salários mínimos; 13,89% dos entrevistados declararam que a renda média mensal de sua residência está na classe até um salário mínimo e apenas 1,67% está na faixa acima de 5 salários mínimos Acesso a Crédito de Instituições Públicas Conforme a tabela 14 verifica-se que dos beneficiários entrevistados, a sua maioria, declarou que recebeu crédito de instituições públicas. Tabela 14 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo o Acesso a Crédito de Instituições Públicas pelos entrevistados. ACESSO Frequência Absoluta Frequência Relativa Sim 37 20,56 Não ,44 Total Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa De acordo com a tabela 14 verifica-se que dos beneficiários entrevistados 79,44% declararam não teve acesso a crédito de instituições públicas e 20,56% dos entrevistados declararam já ter acesso a crédito de instituições públicas. 348

349 Fonte da Maior Parte da Renda Tendo por base a tabela 15 verifica-se que dos beneficiários entrevistados, em sua maioria, declararam que a maior parte da renda mensal de sua residência é proveniente das aposentadorias. Tabela 15 - Frequências Absolutas e Frequências Relativas Segundo a Fonte da Maior Parte da Renda da Residência dos Entrevistados FONTE Frequência Absoluta Frequência Relativa Atividades Agrícolas 61 33,89 Atividades Não Agrícolas 4 2,22 Aposentadoria 69 38,33 Auxílios Governamentais 11 6,11 Trabalho Autônomo 33 18,33 Outros 2 1,11 Total Fonte: Elaborada pelos autores com base nos dados da pesquisa De acordo com a tabela 15 verifica-se que dos beneficiários entrevistados 38,33% declararam que a maior parte da renda de sua residência é proveniente das aposentadorias; 33,89% declararam que a maior parte da renda domiciliar é proveniente das atividades agrícolas; 18,33% afirmam que a maior parte da renda é resultante de trabalhos autônomos e 6,11% afirmaram que a maior parte da renda de sua residência provém de auxílios governamentais. 6. Considerações Finais Dado que tecnologias simples e adaptadas às realidades locais ganharam mais espaços nas políticas públicas como forma opcional para captação e manejo da água da chuva, este trabalho buscou caracterizar o perfil socioeconômico dos beneficiários do P1MC na cidade de Exu- Pernambuco. Identificaram-se, também características da propriedade onde reside o entrevistado. 349

350 Dessa forma, os resultados mostram que o programa muito tem contribuído para o armazenamento da água para o consumo humano e de uma forma direta vem melhorando as condições de vida da população beneficiada. A baixa incidência de doenças ligadas à água foi evidenciada. Os resultados mostram que há predominância do sexo masculino como representante do domicílio, quanto ao estado civil se encontra na condição de casados e com a faixa etária de 65 anos ou mais, o que reflete diretamente na maioria dos beneficiários entrevistados tem como a maior fonte de renda a aposentadoria e a renda está na classe de 1 a 3 salários mínimos. Por outro lado, constatou-se, também que 37,22% dos entrevistados se encontram na condição de analfabetos. Em relação às condições sanitárias e de higiene os resultados mostram certa precariedade, já que mais de 80% dos entrevistados tem os dejetos humanos jogados a céu aberto ou enterrados e apenas pouco mais de 6% possuem fossa séptica como destino dos dejetos humanos. Contudo, 58,33% dos entrevistados declararam que o destino do lixo domiciliar é ser queimado à medida que 23,89% ainda jogam o lixo gerado na residência ao solo. Desta forma, o trabalho pode identificar a satisfação dos agricultores que na sua totalidade aprovam o programa uma vez que pode resolver, em boa medida, o problema da falta de água para consumo humano no período de estiagem, mas que ainda necessita de outras políticas complementares para que o programa de cisterna de placas possa melhorar outros indicadores notadamente de alimentação e higiene uma vez que este tipo de cisterna não atende às necessidades mínimas para a prática de atividades agropecuárias nas propriedades. 7. Referências Bibliográficas BRASIL Ministério da Integração Nacional. Projeto de transposição de águas do rio São Francisco para o Nordeste Setentrional. Brasília, 10 vols. CIRILO, J.A; MONTENEGRO, M.G.L, Suzana; CAMPOS, J.N.B A questão da Água no semiárido brasileiro. Águas do Brasil: Análises Estratégicas. p Disponível em: acessado em 28 de julho de 2013 às 13h:00m. CIRILO, José Almir. Políticas públicas de recursos hídricos para o semiárido. Estud. Avançados, vol.22, no.63, p Disponível em: <http// acessado em: 04 de agosto de 2013 às 13h:25min. DUQUE, Ghislaine; CIRNE, Maria Nilza Ramalho. Pobreza Rural No Nordeste Semiárido: cidadania ou exclusão social. IN: FERREIRA,A.D.D.;BRANDENBURG, A. (Org). Para pensar outra agricultura. Curitiba: UFPR Editora universitária,

351 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, IBGE, cidades@, Disponível em: < http// exu >, acessado em: 06 de agosto de LAKATOS, Eva Maria E MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. 3. Ed, São Paulo: Atlas, MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Manual para Execução do Programa Cisternas Primeira Água Água para beber e cozinhar. Edição e Distribuição: Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; Departamento de Fomento à Produção e à Estruturação Produtiva; Coordenação Geral de Acesso à Água. MESQUITA, A.C, CAVALCANTI, E.R Principais impactos socioambientais no sertão do Pajeú/PE, com experiências de sucesso em captação e manejo da água de chuva. IN: 8º Simpósio Brasileiro de Captação e Manejo de Água de Chuva. Campina Grande MONTENEGRO, A.A.A; MONTENEGRO, S.M.G.L Olhares sobre as políticas públicas de recursos hídricos para o semiárido. Recursos hídricos em regiões semiáridas: Estudos e Aplicações. p

352 RECURSOS HÍDRICOS E POLÍTICAS PÚBLICAS VARIAÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO DAS CIDADES DO CENTRO DO SUL DO ESTADO DO CEARÁ, BRASIL ELDIR BANDEIRA DA SILVA (Graduando em Tecnologia em Irrigação e Drenagem; eldir_2005@hotmail.com, Fone: (88) ) KLEBER GOMES DE MACÊDO (Graduando em Tecnologia em Irrigação e Drenagem; kleber117@hotmail.com; Fone: (88) ) ANNY KARINY FEITOSA (Doutoranda em Ambiente e Desenvolvimento; anny.feitosa@ifce.edu.br; Fone: (88) ) JOSÉ RIBEIRO DE ARAÚJO NETO (Doutorando em Engenharia Agrícola da Universidade Federal do Ceará; juniorifcelabas@gmail.com; Fone: (88) ) 352

353 VARIAÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO DAS CIDADES DO CENTRO DO SUL DO ESTADO DO CEARÁ, BRASIL RESUMO: A quantidade de chuva representada numa região é um dos fatores mais importantes para a caracterização do clima e, por conseguinte, nas relações de consumo da mesma. É importante também para o desenvolvimento socioeconômico de uma região, tendo em vista o seu diverso uso em todos os setores. Analisaram-se, neste trabalho, a espacialização da variabilidade da precipitação média num período de 10 anos das cidades do Centro Sul do Ceará com o objetivo de caracterizar quais cidades estão sofrendo com a estiagem/seca e o que deve ser feito para que este cenário mude. Os resultados obtidos foram de que numa pequena região há bastantes oscilações quanto à precipitação, que grandes partes dos municípios estudados estão abaixo da média gerada e que eventos como El Niño, La Niña e Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) podem influenciar no regime pluviométrico quando sendo analisadas em conjunto, não separadamente. Também se concluiu que a espacialização tem serventia de maneira geral para fins de dimensionamento agronômicos e armazenamento de água em lugares estratégicos. Palavras-chaves: crise hídrica, variabilidade da precipitação, semiárido SPACE VARIATION OF RAINFALL OF SOUTH CENTRAL CITIES OF CEARÁ STATE, BRAZIL ABSTRACT: The amount of rainfall in a region represented one of the most important factors to characterize the climate and therefore in consumer relations thereof. It is also important for socioeconomic development of a region, given its diverse use in all sectors. Were analyzed in this work, the spatial variability of the average rainfall in a 10-year period from cities in the south of Ceará Center in order to characterize which cities are suffering from the drought / dry and what should be done so that this scenario change. The results were that a small region there are plenty of variations on the rainfall, large parts of the cities studied are below average generated and that events such as El Niño, La Niña and Intertropical Convergence Zone (ITCZ) may influence the rainfall when being taken together, not separately. It was also found that the spatial distribution is in general use for agronomic purposes sizing and water storage in strategic places. Keywords: water crisis, variability of precipitation, semiarid region. 353

354 1. Introdução O índice pluviométrico é um dos fatores principais para a caracterização do clima de qualquer localidade, por seus efeitos essenciais no desenvolvimento das culturas. O estudo da mesma torna-se imprescindível na gestão e no planejamento de atividades agrícolas permitindo previsões com melhores aproximações e decisões mais confiáveis (ARAI, 2010). Grande parte dos projetos de irrigação usam valores médios de precipitações para fins de dimensionamento. Porém, deve-se levar em consideração a distribuição como um todo, pois sabemos que as precipitações são irregulares e ainda temos os tempos de retorno (FIETZ et al., 2002). Para Somlyody & Varis (2006), a grande problemática da crise de água é decorrente da falta de planejamento em estratégias de gerenciamento e armazenamento de água, com uma temática mais preventiva do que corretiva. Rogers et al. (2006) também discorre em seus trabalhos que o grande ponto de interrogação está no fato de que a água que é precipitada não seja armazenada, sendo perdida por diversos fatores. Na busca por espacialização das precipitações, é empregada através dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), a distribuição das chuvas na região associados a diversos fatores climáticos, objetivando uma visão mais abrangente e detalhada da causa (FREITAS et al., 2001). Com isso, vários autores tem usado a interpolação para estimativa de sua espacialização climática. Contudo é necessário atenção para que tipo de interpolação se esteja usando, pois cada tipo se adequa de maneira diferente (RIBEIRO DA SILVA et al., 2007). Logo, este trabalho tem como objetivo principal a espacialização dos índices pluviométricos das cidades do Centro Sul do Ceará para fins de dimensionamento e gestão hídrica, e para detectação de cidades que estão sofrendo com a estiagem/seca. 2. Referencial Teórico A forma como a precipitação se distribui durante todo o ano é um fator importante para quantificar a sua disponibilidade, e, por conseguinte, a necessidade hídrica das culturas, assim como o abastecimento doméstico e industrial. Na grande maioria dos dimensionamentos de projetos agrícolas, o parâmetro a ser considerado é o valor médio da precipitação. Contudo, o mais correto para dimensionamentos é utilizar a frequência das precipitações, pois assim, o resulto se torna mais criterioso e baseado em níveis de risco (FIETZ et al., 2002). 354

355 A sazonalidade das chuvas na região Nordeste do Brasil em conjunto com a baixa incidência pluviométrica é um dos principais fatores dos eventos de estiagem na região (HASTENRATH, 1984). Entretanto, as características da região como a variabilidade espacial e temporal das chuvas são os fatores que afetam a sociedade de forma mais aguda. Não inferiorando a seca como fator predominante na crise economia do Nordeste, e suas relações sociais (MAGALHÃES E GLANTZ, 1992). O Ceará pelo fato de estar inserido no semiárido nordestino possui características próprias no que desrespeito a fatores hidroclimáticos, sobretudo a distribuição das precipitações, elevadas taxas evapotranspirativas, e rios intermitentes. A água ofertada para abastecimento na região é advinda dos reservatórios, sendo 93% da água consumida oriunda das barragens (MALVEIRA, 2009). Com isso, a construção de barragens para armazenamento de água faz-se necessário para atender a demanda crescente das populações e suas diversas finalidades (MARINS, 2004). 3. Material e Métodos As cidades escolhidas estão apresentadas na figura 1. As mesmas estão localizadas na região Centro Sul do Ceará sobre as Bacias Hidrográficas do Alto Jaguaribe e Salgado, que juntas correspondem a 24,81% do território cearense, e responsável por 31 açudes públicos monitorados pela COGERH. O clima em boa parte do território do Estado do Ceará é semiárido, com médias pluviométricas inferiores a 600 mm e irregularidade nas precipitações, o que ocasiona secas periódicas. Em consequência desse fenômeno, os cursos d água são temporários, permanecendo secos ao longo de todo o verão, e a vegetação dominante é a da caatinga, com sua paisagem típica, de pequenas árvores retorcidas (SILVA et al., 2007). 355

356 Figura 1. Representação a região Centro Sul do Estado do Ceará Para a espacialização das precipitações pluviométricas da região em estudo foram utilizados dados históricos da Fundação Cearense de Meteorologia FUNCEME. A tabela 1 mostra algumas características das cidades estudadas. 356

357 Tabela 1. Características gerais das cidades selecionadas para estudo da variabilidade pluviométrica Município Altitude Latitude Longitude Período Orós 188 m 6 15'00'' 38 55'00'' Várzea Alegre 311 m 6 48'00'' 39 18'00'' Iguatu 217 m 6 22'00'' 39 18'00" Quixelô 208 m 6 14'00'' 39 11'00'' Icó 148 m 6 24'00'' 38 51'00'' Cariús 315 m 6 32'00'' 39 30'00'' Jucás 246 m 6 31'00'' 39 31'00'' Tarrafas 281 m 6 41'00'' 39 45'00'' Lavras da M. 279 m 6 45'00'' 38 58'00'' Baixio 493 m 6 44'00'' 38 43'00'' Umari 47 m 6 38'00'' 38 42'00'' Ipaumirim 262 m 6 47'00'' 38 43'00'' Ant.do Norte 365 m 6 47'00'' 39 59'00'' Cedro 250 m 6 36'00'' 39 04'00'' O período compreendido do estudo realizado foi de 2000 a Para a geração da média da década da precipitação de cada cidade foi feita uma média aritmética das precipitações anuais do período de estudo no software Microsoft Excel Posteriormente foi gerada uma planilha com valores de X, Y e Z (latitude, longitude, e total precipitado na década, respectivamente) para interpolação dos dados e modelagem superficial no programa estatístico Surfer e, em seguida, a espacialização no software ArcVIEW e Arc/INFO versão 9.3 através do método de interpolação por krigagem e semivariograma linear. Foi gerado ainda um gráfico que representa as médias decadais e a média geral de todas as cidades, na perspectiva de mostrar quais cidades estão acima/abaixo da média estimada. 4. Resultados e Discussão Na figura 2 está representada a espacialização da precipitação média decadal de cada cidade no período de estudo ( ). Nela podemos observar que as cidades localizadas na região central do Centro Sul do Ceará tendem a terem um maior valor médio da precipitação, com o seu pico máximo na cidade de Iguatu, com valor médio de 1019,4 mm. Resultado semelhante para esta média foi encontrado por Silva et al. (2014) estudando a variabilidade das chuvas no município de Iguatu e os impactos dos eventos El Niño e La Niña. 357

358 Nessa figura ainda pode-se constatar a dissimilaridade das precipitações na região, fator bem característico do semiárido brasileiro, onde as precipitações são más distribuídas no espaço e tendem a serem irregulares durante todo tempo (GUERREIRO, 2013). A cidade que obteve valor mínimo para as precipitações foi a cidade de Cariús (650,4 mm). A espacialização da precipitação é de grande valia para a elaboração de projetos de irrigação em áreas específicas e no armazenamento de água precipitada, que segundo Araújo (2003) e Malveira (2009) correspondem a 93% de toda água ofertada aos usuários. Tem importância também para ressaltar a ideia de que quando se tem um grande espelho d água não necessariamente a evaporação da água deste contribuirá para a precipitação na mesma região, e o exemplo claro disso é o município de Orós, que é detentor de um dos maiores açudes do estado com capacidade m³, mas que tem uma precipitação muito inferior à média das outras cidades (679 mm). Figura 2. Espacialização das precipitações médias anuais das cidades do Centro Sul do Ceará no período de Analisando a figura 3, observa-se a distribuição da precipitação pluviométrica média decadal das cidades estudadas. Verifica-se pelo regime da distribuição que há inúmeras oscilações dentro de 358

359 uma região relativamente pequena em termos nacionais, e que grande parte das cidades sofrem com a estiagem e baixos índices pluviométricos. Não somente o estado do Ceará, mas também toda a região Nordeste do Brasil sofre com a crise hídrica, e com isso o Estado criou alternativas de convício com esse tipo de clima, sendo um dos líderes em captação e armazenamento de água. Outro fator que influência nas precipitações sazonais na região Nordeste do Brasil é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e os eventos meteorológicos La Niña e El Niño (MOLION E BERNARDO, 2002). Segundo Pereira (2011), estudando a variação da precipitação no município de Caicó-Rn, observou que em todos os acontecimentos do evento El Niño, cerca de 50% dos eventos apresentaram precipitação abaixo da média anual. Porém esses eventos que influenciam na precipitação não ocorrem sozinho, sendo necessário um conjunto de fatores que favoreçam essa influência na precipitação. Figura 3. Distribuição das precipitações médias anuais das cidades do Centro Sul do Ceará no período de Ainda com relação à figura 3, municípios como Orós, Icó, Quixelô, Cariús, vem sofrendo com a grande estiagem refletida nos últimos anos, e que isso tem impacto nos diversos setores da economia. Já cidades como Iguatu, Várzea Alegre, Jucás, tem bons valores médios de precipitação, 359

360 mas que não devem descuidar no que desrespeito ao armazenamento de água, tendo em vista que a seca é um fator característico do clima semiárido. 5. Conclusões O regime de precipitação das cidades analisadas apresentou oscilações durante todo o estudo. As cidades de Iguatu e Várzea Alegre apresentaram os maiores valores médios de precipitações, 1019,4 e 1001,7 mm, respectivamente. É necessário um maior número de políticas públicas para a região tendo em vista um baixo índice pluviométrico na última década e a seca como fator predominante da região. 6. Referências ARAI, F. K.; GONÇALVES G. G. G.; PEREIRA S. B.; COMUNELLO E.; VITORINO A. C. T.; DANIEL O.. Eng. Agríc., Jaboticabal, v.30, n.5, p , set./out ARAÚJO, J. C. D. Assoreamento em Reservatórios do Semi-árido: Modelagem e Validação. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 8, n. 2, p. 13, BEZERRA, A. C. N., ROCHA, E. J. P., ROLIM, P. A. M. Identificação da região do El- Niño que influencia com maior intensidade o regime de precipitação no litoral leste da Amazônia através das anomalias de TSM do Oceano Pacífico. In: XIII Congresso Brasileiro de Agrometeorologia, 2003, santa Maria-RS. Situação atual e perspectivas da Agrometeorologia, v. 2, p FIETZ, C.R.; URCHEI, M.A.; COMUNELLO, E. Probabilidade de ocorrência de chuva na bacia do rio Dourados - MS. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p. FREITAS, A. J.; SILVA, D. D.; PRUSKI, F. F.; PINTO, F. A.; PEREIRA, S. B.; GOMES FILHO, R. R.; TEIXEIRA, A. F.; BAENA, L. G. N.; MELLO, L. T. A.; NOVAES, L. F. Equações de chuvas intensas no Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Companhia de Saneamento de Minas Gerais; Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, p. GUERREIRO M. J. S; ANDRADE, E. M.; ABREU, I; LAJINHA, T. Long-term variation of precipitation indices in Ceará State, Northeast Brazil. International Journal of Climatology, v. 33, n. 14, p , November, 2013 HASTENRATH, S., 1984: Interannual variability and annual cycle: mechanisms of circulation and climate in the tropical Atlantic. Mon. Wea. Rev., v.112, p

361 MAGALHÃES, A. R.; GLANTZ, M. H., 1992: Socioeconomic impacts of climate variations and policy responces in Brazil, United Nations Environment Program (UNEP), Secretariat for Planning and Coordination State of Ceara (SEPLAN), Esquel Brasil Foundation, 155 pp. MALVEIRA, V. T. C. Pequena açudagem e sustentabilidade hidrológica em grandes bacias semi-áridas: estudo de caso da bacia do açude Orós. Dissertação de mestrado, (Engenharia civil, área de concentração recursos hídricos) Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental MARINS, A. P. P.; E. M. C. D.; TASSI, R. A influência do assoreamento na variação dos níveis do Reservatório do Vacacaí-Mirim / Santa Maria - RS. VI Encontro Nacional de Engenharia de Sedimentos, v. 1, p. 1-4, MOLION, L. C. B.; BERNARDO, S. O. Uma revisão da dinâmica das chuvas no nordeste brasileiro. Revista Brasileira de Meteorologia, v.17, n.1,1-10, PEREIRA, V. C.; SOBRINHO, J. E.; OLIVEIRA, A. D.; MELO, T. K.; VIEIRA, R. Y. M. Influência dos eventos el niño e la niña na precipitação pluviométrica de Mossoró-RN. Enciclopédia Biosfera, v.7, n. 12, RIBEIRO DA SILVA, K.; PAIVA, Y.G.; CECÍLIO, R.A.; PEZZOPANE, J. E. M. Avaliação de interpoladores para a espacialização de variáveis climáticas na bacia do rio Itapemirim - ES. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SENSORIAMENTO REMOTO, 2007, Florianópolis. Resumos... São José dos Campos: INPE, p ROGERS, P. P.; LLAMAS, M. R.; CORTINA, L. M. (Ed.). Water crisis: myth or reality? CRC Press, SILVA, F. J. A.; ARAÚJO, A. L.; SOUZA, R. O. Águas subterrâneas no Ceará poços instalados e salinidade. Revista Tecnologia, Fortaleza, v.28, n.2, p , SILVA, E. B.; ARAÚJO NETO, J. R.; BRASIL, J. B.; GUEDES, T. A.; BANDEIRA, D. M. F.. Estudo da precipitação pluviométrica no município de Iguatu-CE. Congresso de Pesquisa e Inovação da rede Norte e Nordeste de Educação Tecnológica IX CONNEPI, SOMLYODY, L.; VA RIS, O. Freshwater under pressure. International Review for Environmental Strategies, v.6, n.2, p ,

362 ÁREA TEMÁTICA 2. GRANDES PROJETOS NO NORDESTE A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO E SUA RELAÇÃO COM O CINTURÃO DAS ÁGUAS: OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA CIDADE DO CRATO-CE MERYELLE MACEDO DA SILVA Graduada em Geografia pela Universidade Regional do Cariri- URCA. Tem experiência em ensino de Geografia e Estágio. Publicou artigos acadêmicos na área de Educação, Cultura e Meio ambiente. Foi bolsista de Iniciação à Docência do PIBID. Pesquisadora na área de Patrimônio Material. meryellerodrigues@hotmail.com Tel.: (88) , (88) ANTONIA EUGENIA DE OLIVEIRA Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade de Juazeiro do Norte- FJN e Graduada em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará, Campus-Cariri. Foi voluntária na Biblioteca Pública Municipal de Juazeiro do Norte, no IFCE- Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Ceará e na biblioteca São Gerônimo do Seminário São José em Crato. Participou de vários minicursos e palestras promovidos pela Universidade Federal do Ceará. Participou também do curso de capacitação para Bibliotecários, realizado pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas e Associação dos Bibliotecários do Ceará. eugenia.jgo@gmail.com Tel.: (88) , (88)

363 A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO E SUA RELAÇÃO COM O CINTURÃO DAS ÁGUAS: OS IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS NA CIDADE DO CRATO-CE RESUMO: A temática à cerca do Projeto de Transposição do São Francisco e seus reais objetivos, há muito vem sido discutido pelos agentes sociais, em seus aspectos positivos e negativos. O Cinturão das Águas no Ceará, em execução é decorrente desse procedimento, sendo assim também é colocado em pauta, já que está fomentando nas regiões de interligação dos canais hidrográficos mudanças socioambientais significativas, especificamente na cidade do Crato, onde se verifica o processo de desterritorialização da comunidade do Baixio das Palmeiras, bem como agressões indiscriminadas às bacias hidrográficas que receberão as águas transpostas do São Francisco, a exemplo da perenização do Rio Granjeiro e do Rio Batateiras, que se encontra em um alto grau de degradação ambiental e desse modo não podem se destinar a função de bacias recebedoras. Na incerteza sobre o destino final dessa água, sinaliza-se a importância de preservar os recursos hídricos, agindo conforme os princípios sustentáveis de relação do homem com seu meio. Palavras-chaves: Transposição. Rio São Francisco. Cinturão das Águas. ABSTRACT: The theme will about the São Francisco transposition project and its real goals, has long been discussed by the social partners in its positive and negative aspects. The Belt of water in Ceará, running is a result of this procedure, so it is also placed on the agenda, as is fostering the interconnection regions of hydrographic channels significant environmental changes, specifically in the Crato city, where there is the process of dispossession Baixio the community of Palms, as well as indiscriminate attacks river basins will receive the transposed waters of San Francisco, such as the perpetuation of Farmer River and potato plants River, which is in a high degree of environmental degradation and thus can not is intended for recipients basins function. Uncertainty about the final destination of this water, signals the importance of preserving water resources, acting as the sustainable principles of man's relationship with his environment. Keywords: Transposition. Rio São Francisco. Belt of the Waters. 363

364 1. Introdução O Rio São Francisco nasce na cidade de Medeiros em Minas Gerais e corta os Estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Possui grande relevância econômica, pois além de ser bastante navegável é responsável por uma parte expressiva da geração de energia do país, visto que seu valor social é dado pelo fornecimento de água e alimento através da pesca e da atividade de irrigação. A importância econômica visualizada na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco e sua relação com os problemas decorrentes da seca no Nordeste brasileiro possibilitou o surgimento do projeto de transposição de suas águas, assunto este muito discutido no cenário político nacional, marcado pela existência de críticas sociais sobre os reais objetivos da obra. Em suma, o projeto consiste em interligar as bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional, para que estas venham a receber as águas transpostas da bacia do São Francisco, levando esse recurso a locais onde é escasso, fator que decorre em grande expectativa na população do semiárido nordestino, que sofre os efeitos do chamado déficit hídrico. Porém, percebe-se que esta ação está sendo realizada com pouca ou nenhuma participação social, podendo ser conceituada como um plano sem bases executivas, o que explica os atrasos nas obras, o aumento dos custos e a incerteza sobre seus principais interesses, gerando descontentamento na população desprovida até esse momento de qualquer benefício. Esses fatores acabam tendo como consequência, o surgimento de críticas severas ao governo, que embora afirme que 12 milhões de pessoas serão assistidas pelo programa, sabe-se que essa água será transferida para os grandes açudes das regiões recebedoras, podendo beneficiar principalmente os latifundiários nordestinos, o agronegócio e a indústria. O Ceará receberá as águas transpostas do São Francisco através da bacia hidrográfica do Salgado e do Jaguaribe, a partir da construção de um sistema de canais, que segundo o Governo do Estado, deverá conduzir a água a regiões secas e isoladas, como também servirá para o desenvolvimento turístico e econômico. Esses processos ocorrerão sob a intitulação de Cinturão das Águas e se iniciará com a construção de um canal principal margeando a chapada do Araripe, alcançando a bacia do alto Jaguaribe, chegando a Poti- Parnaíba e a bacia do rio Acaraú. No Cariri as águas do São Francisco entrarão pelo açude Atalho em Brejo Santo, percorrendo os rios correspondentes à Bacia hidrográfica do Salgado, que se encontram nas cidades de Brejo Santo, Porteiras, Abaiara, Missão Velha, Barbalha, Juazeiro do Norte, Crato e Nova 364

365 Olinda. Essas ações irão decorrer em transformações sociais e ambientais, alterando o modo de vida da população com seu meio. Esses impactos socioambientais estão ocorrendo de modo intenso na cidade do Crato, representados por varias discursões a cerca das questões referentes ao projeto de transposição e sua relação com o Cinturão das Águas, possibilitando o surgimento de conflitos sociais, decorrentes das desapropriações territoriais, tendo como exemplo o caso da comunidade Baixio das Palmeiras, que por está no caminho que leva a construção do canal do cinturão das águas terá parte do seu território inundado. O espaço natural também está presente nesse processo, dada as paisagens singulares vistas na cidade, decorrente de aspectos geoambientais diferenciados fundamentais para garantir a disponibilidade hídrica da região, onde se incluem reservatórios de água subterrâneos, possibilitando o surgimento de fontes, que alimentam a bacia hidrográfica. No entanto, os ecossistemas naturais vêm ao longo do tempo sendo degradados, visto pelo estado que se encontram os mananciais de água presentes no local que devem ser recebedores da água transposta do São Francisco e não estão aptos para esse fim, devendo passar por um processo de revitalização, para a recuperação da sua importância social. Fundamentando-se na ideia que a transposição do São Francisco, bem como o projeto de Cinturão das Águas servirá aos interesses capitalistas, é possível que o valor final da água tenha um custo elevado, por isso é evidente o trabalho com as potencialidades hídricas já existentes, para a população não sofrer complicações futuras. Desse modo é preciso entender as reais características desse projeto político que muitas vezes não são apreendidas pela população. É necessário compreender as transformações socioambientais que vem passando a cidade do Crato, desenvolvendo novas ideias em torno da relação homem natureza, esclarecendo como ocorre a apropriação dos elementos naturais e como o projeto de transposição está modificando o espaço social. 2. SOBRE O PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO O Projeto de Transposição do São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional está sendo executado pelo Governo Federal sob a incumbência do Ministério de Integração Nacional, constitui-se na construção de cerca de 700 km de canais, ao longo do território dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, cujas bacias existentes serão 365

366 recebedoras dessa água. No entanto a obra está em desacordo com a conceitualização da bacia hidrográfica, que coloca em um mesmo contexto o meio natural e o social. Uma bacia hidrográfica corresponde a uma área drenada pelo rio principal e seus afluentes, sendo delimitada pelos divisores de água. Embora seja a água o objetivo da gestão, ela deve ser considerada no contexto do ciclo hidrológico e de seu relacionamento com o meio físico e criado pelo homem. Portanto devem ser considerados todos os elementos naturais da paisagem, o espaço construído e as estruturas sociais existentes (ZANELLA et al, pág. 175). A efetivação da obra decorre em consequências negativas a bacia doadora, como mudanças no regime fluvial, diminuição da vazão e riscos de assoreamento. Na bacia recebedora haverá transformações nos ecossistemas naturais existentes, perda da biodiversidade, a exemplo da retirada da vegetação nativa e ações conflituosas surgidas com as desapropriações territoriais. O fato é que a filosofia política então empregada valoriza o econômico em detrimento da natureza, onde o homem se faz presente, Pois embora se fale que a prioridade do projeto será o abastecimento hídrico das regiões nordestinas que sofrem com as irregularidades climáticas, de fato o intuito é o desenvolvimento agrícola e industrial de sistemas privados. Assim, a harmonia da natureza é alterada cada vez mais pelo desenvolvimento técnico obtido pelo homem. Desenvolvimento este, fruto do conhecimento científico, o qual é apropriado pelo poder político representado pelo Estado, como também pelo capital financeiro, resultando em transformações aceleradas e muitas vezes não condizentes á dinâmica natural dos elementos da natureza (FALCAO e COSTA, 2008, pág.40). Embora muito discutido a ideia de transposição não é recente e desde a época do império passou a existir como meio de solucionar aos problemas da seca, estando presente também no discurso político de Getúlio Vargas já no século XX, mas em nenhum dos casos a obra foi posta em prática. Desse modo ao contextualizar a região Nordeste percebe-se sua ligação com paradigmas políticos que utilizam a questão da seca como uma verdadeira indústria, servindo para a legitimação de projetos, que ora beneficiam a elite local, ora satisfazem os próprios políticos que colocam a natureza como determinante dos processos sociais. (...) Isto torna o Nordeste a região que praticamente vive de esmolas institucionalizadas através de subsídios, empréstimos que não são pagos, recursos para combate à seca que são desviados e isenções fiscais. (...) A seca, a terra rachada, a fome, embora atinjam alguns espaços, alguns períodos e alguns grupos sociais da região, são generalizados, tornam-se permanentes. De problemas sociais, eles terminam por se tornarem problemas de um dado espaço (ALBURQUEQUE, 2011, pág. 88). 366

367 A reflexão sobre o modo como o Projeto de Transposição é apresentado teoricamente e as proporções adquiridas em termos espaciais, está sendo tematizada no Estado do Ceará a partir da efetivação do chamado Cinturão das Águas, que politicamente possibilitará o acesso à água ao povo cearense que necessita irrigar suas plantações, especificamente a agricultura familiar, matar a sede dos animais e para consumo doméstico. Sabe-se, no entanto, que o canal transportador das águas do são Francisco será iniciado na região do Cariri, através da sub-bacia do salgado, passando pelo Jaguaribe, até chegar ao porto do Pecém em Fortaleza, onde estão localizadas grandes indústrias, que devem consumir um alto volume de água, visto que a população pouco ou nada irá usufruir desse recurso, que no final do projeto poderá ter um custo elevado. O CINTURÃO DAS ÁGUAS E SUAS TRANSFORMAÇÕES NA CIDADE DO CRATO-CE É com base na relação entre as potencialidades hídricas da região caririense e os caminhos percorridos em torno da obra de transposição que a cidade do Crato torna-se um foco de análise, contextualizada como um dos locais mais privilegiados do Cariri em termos naturais. Foi justamente em território cratense que a ideia de transpor as águas do São Francisco para as regiões nordestinas existiu pela primeira vez, e agora com a concretização de pressupostos anteriormente estabelecidos a cidade vive momentos conflituosos em termos sociais e ao mesmo tempo colocam em questionamento as ações que o homem está realizando no ambiente natural. A preocupação dos planejadores, políticos e a sociedade como um todo, ultrapassa os limites dos interesses meramente de desenvolvimento econômico e tecnológico, mas sim devem preocupar-se com o desenvolvimento que levem em conta não só as potencialidades dos recursos, mas, sobretudo as fragilidades dos ambientes naturais face as diferentes inserções dos homens na natureza (ROSS, 1993, pág. 64). O Projeto de transposição gerou ao Crato impactos socioambientais, verificados pelos aspectos referentes ao meio natural, como também social, caracterizando-se pelo processo de recolocação populacional, que vem sendo discutida há algum tempo pela sociedade cratense. É o caso do Baixio das Palmeiras, localizado na zona rural, que vai ser desapropriada pelo estado para construção de parte do cinturão das águas. A população que tem como meio de vida a agricultura familiar, foi surpreendida em 2012 com a invasão das propriedades por vários estudiosos, analisaram o solo e mediram o terreno, sem dar nenhuma explicação aos moradores, que quando souberam do motivo da invasão ficaram temerosos, com o destino de suas terras, casas e pertences, 367

368 e entristecidos com a possibilidade de terem de sair do lugar onde construíram a vida e mantêm as relações sociais. O local, ainda guarda resquícios de uma vegetação nativa e a preservação de algumas espécies de animais silvestres, que poderão ser extintos com a execução da obra. O território ainda possui um grande valor científico, pois nele se encontram sítios arqueológicos e paleontológicos. O lugar se caracteriza como espaço vivido, onde as experiências se renovam e as relações sociais se materializam na paisagem. É onde vivemos, moramos, trabalhamos e mantermos vínculos afetivos, representado pelas técnicas, normas e informações que se expressam através do cotidiano (SILVA, et al., 2012, pág. 50). Em relação ao espaço natural uma das questões mais relevantes é compreender como uma bacia hidrográfica com alto grau de degradação como a sub-bacia do Salgado fará parte do projeto então vigente, pois as perdas quantitativas e qualitativas são intensas, e decorrem da ação errônea do homem sobre o meio. O projeto do Cinturão das Águas tem o intuito de perenizar o Rio Granjeiro e o Rio Batateiras, já que suas nascentes serão atingidas. O fato é que tais rios e suas respectivas microbacias são afluentes do Rio Salgado e passam por um intenso processo de degradação, como contaminação de suas águas por esgotos domésticos e industriais, retirada da mata ciliar e acúmulo de lixo, diminuindo sua importância social. A integração dos elementos naturais, como clima, relevo, solo e vegetação concedem ao Crato potencialidades hídricas significantes, visto pela existência de reservas subterrânea, possibilitando o surgimento de fontes de águas cristalinas, que em quantidade e vazão são superiores as de outras cidades do cariri. No entanto, além de impactos qualitativos os recursos hídricos sofrem mudanças quantitativas, decorrente de sua má distribuição, destinando-se ao abastecimento da população e também aos clubes, hotéis e balneários, como também do desmatamento fruto de um processo urbano desenfreado, e de atividades industriais, causando a impermeabilização do solo, aumento do escoamento superficial, tendo como consequência, graves enchentes. Sendo assim, para não depender da água gerada pela transposição, é preciso recuperar os ecossistemas naturais, através da revitalização dos rios, projetos de tratamento de água e esgoto, destinação final do lixo, ocupação irregular do solo, desmatamento, atividades industriais localizadas nos leito dos rios, promovendo o processo de assoreamento, entre outros exemplos. As 368

369 instituições públicas devem promover uma gestão ambiental participativa, que incorpore a problemática ambiental não só os aspectos naturais, mas também os impactos sociais. (...) A legitimação e força destes valores ambientalistas dependem da formação de consciências coletivas, da constituição de novos atores sociais e da condução de ações políticas através de novas estratégias de poder em sociedades com democracias imperfeitas, onde a consciência ambiental é pervertida pelas normas de simulação, cooptação e controle dos poderes dominantes (LEFF, 2001, pág. 71). Diante do exposto, pode-se afirmar que o projeto de transposição do São Francisco, é uma ação política voltada para os setores econômicos e produtivos do Nordeste, deixando os sertanejos a margem desse processo. Por onde passa essas atividades promovem mudanças espaciais, ligadas ao meio natural e a sociedade, tal como está ocorrendo em território cratense, onde a concretização de certas ideias resulta em conflitos territoriais, ao mesmo tempo evidenciam a importância de pensar o espaço e as relações nele materializadas, recuperando os mananciais de água para garantir o abastecimento populacional futuro. Essas transformações socioambientais precisam ser apreendidas pelos cratenses, para que estes sejam citadinos críticos e ativos em seu cotidiano. METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos foram efetivados a partir de duas perspectivas, sendo a abordagem teórico-conceitual e a análise empírica. A primeira se deu por meio da fundamentação bibliográfica, tratando das questões referentes ao Projeto de Transposição do Rio São Francisco, fomentando o surgimento do Cinturão das águas e a consequente transformação do espaço cratense a partir do cenário ambiental. A segunda perspectiva ocorreu através da investigação in loco dos temas abordados. De modo inicial, quando da pesquisa empírica, a área de estudo foi o Distrito Baixio das Palmeiras, localizado na zona rural do Crato, cuja população há algum tempo passa por momentos de incertezas devido ao processo de desterritorialização a partir da implementação do Cinturão das águas. Ocorreram então conversas informais com os moradores, observando-se o modo como estes produzem seu espaço. Investigaram-se ainda os pontos mais relevantes do processo de degradação dos Rios Granjeiro e Batateiras, que segundo o Cinturão das águas serão perenizados, pois são constituintes da subbacia hidrográfica do Rio Salgado. Por sua vez, as áreas de encosta da Chapada do Araripe 369

370 foram visitadas, especificamente no Bairro Lameiro e Granjeiro para identificar como o processo de urbanização está comprometendo a manutenção dos lençóis de água e como o setor turístico e de lazer está usufruindo das fontes locais. RESULTADOS E DISCUSSÕES De acordo com a análise dos dados pesquisados, percebe-se que as ações políticas em torno do projeto de interligação das bacias hidrográficas do Ceará (Cinturão das Águas), iniciada no Cariri cearense estão culminando em vários debates em torno das mudanças socioambientais vistas em território cratense. A mais enfatizada do momento é a questão da desterritorialização da comunidade Baixio das Palmeiras, cuja relação com o meio se dá através da agricultura, já que possui terras férteis e um clima propício para esse fim. Os moradores durante o processo investigatório se mostraram receiosos e tristes por não saberem ao certo o que poderia acontecer com o seus bens, além de terem seu sentimento indentitário ferido. O fato, é que essa água, que inundará parte da comunidade, encobrindo suas potencialidades fossilizadoras e arqueológicas poderá nem ser usufruída pela população local, já que esses canais precisam de uma margem mínima para sua execução. Essa desterritorialização pretendida pelos agentes políticos se assemelha a ocorrida na cidade de Jaguaribara, cuja população teve os laços comunitários desfeitos, ao serem desapropriados do seu espaço para dar lugar ao Açude Castanhão, que ao invés de ser utilizado para ajudar a comunidade, por meio da pesca e agricultura familiar, serviu para garantir os interesses de grandes agricultores e piscicultores da região. Por sua vez é lamentável a situação que se encontra o Rio Granjeiro e seus afluentes. O seu alto curso na zona rural da cidade, ainda se encontra preservado, mas ao encontrar o médio- baixo curso vai tendo suas águas contaminadas pelos dejetos urbanos, sendo eles residenciais e industriais, canalizado desde então, já não possui mata ciliar e torna-se um receptáculo de lixo, jogado pela própria população que não foi educada ambientalmente. Em seu baixo curso, o rio encontra novamente a zona rural, aumentando seu grau de degradação, desaguando no Rio Batateiras, que pelo lançamento indiscriminado de poluentes na área urbana tem suas águas superficiais infectadas. Suas águas desaguam no Rio Salgadinho, já em Juazeiro do Norte, até chegarem ao Rio Salgado e este no Jaguaribe. Desse modo, é inquestionável a necessidade de repensar esse projeto, pois para que esses rios sejam perenizados, é necessária a revitalização das 370

371 suas microbacias, que se localizam em terrenos sedimentares e são fundamentais para a manutenção dos recursos hídricos citadinos. É preciso enfatizar ainda que a cidade do Crato passa por um crescimento urbano desenfreado, que se faz justamente nas áreas de encostas, onde se percebe um clima mais ameno e disponibilidade hídrica. Por isso existem hoje no bairro Granjeiro muitos condomínios e casas luxuosas, provocando desmatamento para especulação imobiliária. O solo desnudo torna-se compactado e perde sua capacidade de infiltração, a escoação superficial mais intensa durante o período chuvoso possibilita o surgimento de enchentes, além de afetar os lençóis freáticos. No Bairro Lameiro o crescimento imobiliário também é intenso e o uso de muitas fontes se dá de modo particular por clubes locais. Nesse contexto é preciso que o Crato passe por uma avaliação detalhada, a fim de deixar a sociedade conhecedora dessas questões, encontrando formas de desenvolvimento sustentável, que minimize os ataques ao meio ambiente natural. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, fica evidente a necessidade de discutir de modo mais eficaz os objetivos do projeto Cinturão das Águas como parte da transposição do São Francisco, especificamente na cidade do Crato. As questões condizentes a expropriação dos moradores do Baixio das Palmeiras, ainda irá fazer parte das discussões regionais, pois há uma mobilização dos moradores locais, dos estudantes universitários e da sociedade cratense mais esclarecida, para que os direitos dessas pessoas sejam preservados, suas formas de pertencimento, suas territorialidades, sua afetividade com o lugar. Essas mudanças socioambientais deixam clara a necessidade de saber o que é o projeto de transposição do São Francisco, e pra quem realmente ele se destinará. Dotada de uma singularidade geoambiental, diferenciada de outras regiões semiáridas, tornada possível pela presença da chapada Sedimentar do Araripe, a urbe cratense possui grande disponibilidade hídrica, e a melhor forma de não precisar dessa água incerta, é preservar os aquíferos por meio de uma gestão ambiental mais ampla, que valorize nossos os recursos naturais, tendo uma preocupação com a urbanização desenfreada nas áreas de encostas, bem como com a recuperação das bacias hidrográficas. 371

372 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. São Paulo: Cortez, FALCAO SOBRINHO, J. e COSTA FALCÃO, Cleire Lima. Geografia Física: a natureza na pesquisa e no ensino. Rio de Janeiro. TMAISOITO, LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade e poder. Tradução de Lúcia Mathilde Endlich Orth. Petrópolis, RJ: Vozes, OLIVEIRA, João César Abreu de. Educação ambiental nas periferias urbanas da cidade do Crato-Ceará. In: Geografia, ensino e pesquisa: produzindo saberes. (Org.): SILVA, Antonia Carlos da. et al. Curitiba, PR. : CRV, ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Análise empírica da fragilidade dos ambientes naturais e antropizados. São Paulo: Depto. De Geografia-FFLCH/USP, SILVA, Meryelle Macedo da. et al. GEOGRAFIA ESCOLAR: Um olhar a partir de pesquisas acadêmicas e da observação realizada no Ensino Fundamental II em Mauriti/CE. In.: Geografia ensino e pesquisa: produzindo saberes. (Org.): SILVA, Antonia Carlos da. et al. Curitiba, PR. : CRV, ZANELLA, Maria Elisa. As características climáticas e os recursos hídricos do Estado do Ceará. In.: Ceará: um novo olhar geográfico. (Org.): SILVA, José Borzacchiello da. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha,

373 ÁREA TEMÁTICA: Desenvolvimento Regional e Políticas Públicas ANÁLISE DAS EXPORTAÇÕES DE MELÕES NOS ESTADOS DE RIO GRANDE DO NORTE E CEARÁ: José Rayres Pereira dos Santos Graduando em Economia pela Universidade Regional do Cariri (URCA) Bolsista de iniciação cientifica, projeto de pesquisa BAT Fone: (88) rayresxd@hotmail.com José Márcio dos Santos Professor assistente da Universidade Regional do Cariri (URCA) Mestre em economia do trabalho pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Fone: (88) jmarcio.santos@hotmail.com 373

374 ANÁLISE DAS EXPORTAÇÕES DE MELÕES NOS ESTADOS DE RIO GRANDE DO NORTE E CEARÁ: Introdução O Brasil vem sendo destaque mundial como um dos países que mais produz e exporta frutas. Na lista da FAO, o país ocupa a terceira posição do ranking da produção mundial, com somatório estipulado em 43,912 milhões de toneladas em Acima disso está a China, com desempenho gigantesco de 224,816 milhões de toneladas e a Índia, com 83,032 milhões de toneladas (SANTOS et al, 2014). Referente ao mercado externo, o desempenho das exportações brasileiras de frutas frescas tem melhorado. Em 2013, o país destinou aos clientes externos um total de 711,869 mil toneladas de frutas, 2,7% a mais do que em O valor obtido foi ainda melhor. A receita anual somou US$ 657,528 milhões, com alta de 6,2% sobre o resultado do ano anterior, conforme números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), reunidos pelo Instituto Brasileiro de Frutas (WEISS & SANTOS, 2014). Em 2014, de acordo com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos APEXB-RASIL (2015) as exportações brasileiras de frutas totalizaram US$ 841 milhões, incluindo nozes e castanhas, conforme informações do Ministério da Agricultura e Pecuária (VITTI, 2009). Em volume, o melão foi o mais exportado, com 196,8 mil toneladas, conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Segundo Costa (2015), o melão caracteriza-se como a fruta brasileira mais típica de exportação, pelo fato de destinar grande parte da sua produção aos clientes externo, chegando a algumas safras a ultrapassar os 40% do volume comercializado, sendo que a maioria das outras frutas não ultrapassa os 5%. (COSTA, 2015). Vecchia (2004) afirma que a cultura estabeleceu-se primeiramente nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, mas por motivo de melhor adaptação climático-fisiológica, começou a transferir-se para a região nordeste do Brasil, no início dos anos 80. As diferentes condições climáticas existentes no Nordeste brasileiro favorecem o desenvolvimento e produção da cultura do melão com possibilidade de plantios e colheitas durante as diferentes etapas do ano, com limitações apenas nas localidades onde há grande precipitação pluviométrica em determinados períodos (COSTA, 2015). O mercado regional corresponde à região geopolítica onde a produção está assentada. Os polos fruticultores de Mossoró e Açu/RN, Aracati/CE são os principais no cultivo de melão do país, seus mercado corresponde às capitais e as principais cidades do Nordeste. Neste mercado, os frutos são comercializados encaixados e apresentam boa qualidade (COSTA, 2015). O cultivo recebeu incentivos governamentais para o desenvolvimento da agricultura irrigada em especial fruticultura irrigada, que estimulou investimentos na atividade com melhorias tecnológicas, capacitação de produtores e construção de estradas. Além disso, existe ainda, um mercado potencial a ser explorado, pois através do marketing é possível divulgar o produto, elevando as exportações de melões para maior parte do mercado internacional (VIANA, 2006). Com base nestes pressupostos, viu-se que o melão tornou-se importante produto na pauta geral das exportações brasileiras. Portanto, este trabalho pretende demonstrar a participação dos dois maiores estados produtores no quadro total das exportações brasileiras deste segmento no período recente. 2 Produção e Exportação de Melão no Nordeste A agricultura no Nordeste brasileiro era considerada uma atividade sem destaque econômico para a região. Desde os anos 90, a fruticultura foi se expandindo para outras áreas do Nordeste e se 374

375 especializando de acordo com as características próprias de cada local. Hoje, este é o setor que mais cresce na região. O principal fator deste avanço é a irrigação, e com ela a produção de frutos de alta qualidade tanto para o crescente mercado interno como para o externo (CUNHA, 2009). Os estados com maior produção de frutas na área nordestina são Bahia, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Dentre as três frutas mais exportadas pelo Brasil (melão, manga e uva), 90% estão sendo produzidas pelo Nordeste (CARVALHO, 2009). O melão, que por sua vez, tem sua produção estipulada em aproximadamente 90% de todo o melão que é produzido a nível nacional, ou seja, hoje o Nordeste detém uma proporção de 90 quilos de melão para cada 100 quilos produzidos no Brasil (ALVES, et al, 2015). As duas principais regiões produtoras de melão do país são Ceará e Rio Grande do Norte, ambas obtiveram ao longo dos anos rendimento que superam a média do Brasil. Diante disto, Araújo et al (2004) observou que o Estado cearense vem contribuindo para o sucesso do agronegócio brasileiro. Ao longo da década de 1990, ocorreram mudanças estruturais que buscaram desenvolver o setor agrícola, aumentando sua participação no mercado interno e externo. No período de 1990 a 2003, alguns produtos se destacaram na pauta de exportação do agronegócio cearense, dentre eles produtos tradicionais como a amêndoa da castanha do caju (ACC) e produtos emergentes como o melão (ARAÚJO et al, 2004). Para a produção de melão no Ceará, mais especificamente no vale do Jaguaribe (na divisa com o Rio Grande do Norte), cresceu de forma mais acentuada que no Brasil. Em 2003, 24% da produção nacional de melões era proveniente do Ceará e em 2008 essa proporção era 59%, de acordo com PAM/IBGE (APEX-BRASIL, 2015). Vale destacar que o melão registrar uma posição de destaque no grupo das exportações de frutas cearenses desde 2008 quando foi alcançada uma marca recorde de participação de 30,81%. Todavia nos anos seguintes houve perda de participação devido à perda de valor exportado, voltando a recuperar-se e a superar a marca dos 30% de participação em Com isso, é possível afirmar que o melão representa o segundo principal tipo de fruta exportado pelo Estado do Ceará, sendo superado apenas pelas exportações de castanha de caju (CAVALCANTE & MINDÊLLO, 2013). Rio Grande do Norte atualmente é o segundo maior estado produtor e exportador. Até poucos anos atrás este se manteve como pioneiro no segmento de melões, tornando-se o segundo colocado desde A história da produção de frutas no Rio Grande do Norte está diretamente relacionada com o desenvolvimento da agricultura irrigada. A atividade irrigada no polo iniciou no final dos anos 60 até a segunda metade dos anos 90 e, deu-se, eminentemente, por iniciativa privada, contando com o fundamental e decisivo apoio do Estado (TORRES & MOUTINHO, 2002). Afirma Deus (2012), que na safra brasileira de 2008 houve decréscimo significativo da produção de melão em relação ao ano de 2007, sendo esse fato atribuído a saída desse segmento de um das principais empresas produtoras, situada no município de Mossoró/RN. Nesta ocasião, o estado cearense assumiu a liderança em produção e nas exportações brasileiras dessa fruta, com produção de toneladas (54% da produção do país), atingindo um valor da produção de R$ ,00, com rendimento médio 25, 025 Kg/ha (DEUS, 2012). 3 Projetos e Ações de Incentivo às Exportações de Melão Nas relações comerciais, o Estado do Rio Grande do Norte atua como incentivador e fomentador de uma estrutura de várias políticas e projetos cujo objetivo é ajudar produtores e empresas a se inserir no comércio internacional, tornando seus produtos mais competitivos e 375

376 consolidando a marca Brasil no exterior. Costa et al (2007) segue afirmando sobre essas ações que devem ser propostas pelo governo no intuito de incentivar os produtores. O Projeto de Desenvolvimento da Fruticultura é uma iniciativa do SEBRAE e tem como proposta o desenvolvimento de forma racional da fruticultura realizada no estado do Rio Grande do Norte, principalmente no Polo Agroindustrial Assu/Mossoró. As necessidades do mercado consumidor são atendidas através da utilização de novas tecnologias, da organização dos produtores, do gerenciamento dos empreendimentos e do amplo acesso ao mercado interno e externo (COSTA et al, p. 4, 2007). Dentre os incentivos cearenses, tem-se a criação da Secretaria da Agricultura Irrigada do Ceará SEAGRI em 1999, tendo como referência o Programa Cearense da Agricultura Irrigada PROCEAGRI, programou as bases para uma agricultura irrigada competitiva. A produção irrigada necessitou eleger polos de produção com potencial de irrigação. O Ceará tem hoje cerca de 90 mil hectares irrigados, dos quais 38,4 mil hectares de frutas, significando um aproveitamento de 43% da área potencial, calculada em torno de 200 mil hectares (AGÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DO CEARÁ - ADECE, 2015). Segundo Freitas (2014), vale também destacar como incentivo a construção da estrada do melão em Rio Grande do Norte e, em 2004, da estrada da fruta nos municípios de Quixeré, Limoeiro do Norte e Russas, estado do ceará, facilitando a logística de exportação de frutas e o transporte até Porto do Pecém, podendo baratear os fretes em até 15% (FREITAS, 2014). 4 Procedimentos metodológicos A demonstração do percentual exercido por cada estado no quadro geral das exportações brasileiras de melões frescos será desenvolvido a partir da utilização de dados quantitativos do período entre , extraídos do sistema de informações do comércio exterior Aliceweb, que constitui uma parceria da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Com base nos dados, realizou-se a tabulação separada, de forma cronológica e enfatizando o valor total das receitas auferidas pelas exportações de melões em cada ano. Estão descritos da seguinte forma: somatório das receitas obtidas pelos dois maiores estados (Ceará e Rio Grande do Norte); somatório das receitas obtidas pelo Brasil na pauta de exportações de melão; e somatório das receitas dos demais estados que agregam o volume total das exportações de melões brasileiros. Por fim, calculou-se o percentual exercido por cada subgrupo frente ao volume total das exportações brasileiras de melão. A partir dos resultados foi gerado um gráfico que demonstra de forma clara as variações de percentual ocorridas durante os 18 anos do estudo. 5 Resultados e Discussões Nesta sessão busca-se analisar de forma específica a participação dos estados de Rio Grande do Norte e Ceará na receita obtida a partir das exportações brasileiras de melões frescos. O objeto a ser destacado refere-se ao percentual das receitas e o comportamento de cada estado durante o período cronológico estudado. Levando em consideração o gráfico 03, tem-se o quadro geral das exportações brasileiras de melões frescos no período de 1997 a De forma mais direta, estão divididos entre: percentual de receita das exportações de melões do Rio Grande do Norte em relação à receita total brasileira; percentual de receita das exportações de melões do Ceará em relação ao total e, soma do percentual das receitas dos demais estados em relação ao total. Conforme pode ser visualizado, está discriminada a parcela exercida por cada grande estado exportador de melões em relação a receita geral obtida nas exportações do segmento. Tem-se que ao analisar desde o ano de 1997, RN lidera em termos de receita e participação no mercado exportador 376

377 de melões frescos com envios de 92,6%, atingindo quase que 100% do total. Os demais estados concorrem com valores insignificantes para aquele ano se comparado ao total do mercado. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 92,6% 90,6% 81,5% 64,0% 73,6% 66,1% 34,2% 28,8% 14,2% 2,0% 2,9% 5,8% 67,2% 31,1% 71,9% 26,5% 61,1% 37,7% 65,9% 66,4% 33,0% 32,7% 42,7% 56,3% 60,7% 37,4% 59,5% 60,1% 60,9% 58,6% 37,5% 39,4% 40,3% 59,8% 39,5% 39,6% (%) Percentual do Volume de Melões Exportados pelo Estado do CE. (%) Percentual do Volume de Melões Exportados pelo Estado do RN. (%) Percentual do Volume de Melões Exportados pelos demais Estados. GRÁFICO 03: Percentual de Receita das Exportações Brasileiras de melão com destaque para os Estados do Ceará e Rio Grande do Norte 1997/2014. FONTE: Elaborado pelos autores a partir de dados da MDIC, No entanto, nos anos subsequentes nota-se mudanças relevantes nos termos de acúmulo de receita, especificamente de 1998 a Durante esse período Ceará eleva sua participação no mercado e enfatiza maior receita no quadro geral deste segmento. Vale destacar que o melão registrou uma posição de destaque no grupo das exportações de frutas cearenses desde 2008 quando foi alcançada uma marca recorde de participação de 56,3%, enquanto o RN teve uma tendência de decréscimo desde Desde então os dois grandes estados (RN e CE) vem dividindo participação na receita que é adquirida anualmente pelo Brasil. O grupo que forma os demais estados exportadores teve baixa participação, seus números não nitidamente elevados somente em 1999 com valor aproximado de 20%. Mas, logo nos anos seguintes a tendência segue variando entre 1% e 10%. Cavalcante & Mindêllo (2013) ressaltam que os estados que fecham o total da receita brasileira são eles: Bahia, Pernambuco, Piauí, Minas Gerais, São Paulo (CAVALCANTE & MINDÊLLO, 2013). Por fim, vale considerar que o segmento de melões frescos passou por uma transição da porcentagem de receitas obtidas ao longo dos últimos 18 anos, onde o estado líder, Rio Grande do Norte, perde participação e cede a liderança para o atual e maior estado exportador, Ceará. Entretanto a atividade não deixa de fazer parte da dinâmica das exportações do estado potiguar, bem como também caracteriza-se por ser um dos ramos puramente exportadores, gerando elevadas receitas para o Brasil e favorecendo a balança comercial. Conclusão Este trabalho propôs a avaliar a receita obtida a partir das exportações de melão com ênfase nos dois estados brasileiros que mais se destacam no segmento. Buscou-se demonstrar suas variações ao longo dos anos de 1997 a 2014 e identificar os pontos mais relevantes. Para chegar aos 377

378 resultados utilizou-se de dados quantitativos, onde foram realizadas tabulações e por fim chegou-se a demonstração gráfica das receitas adquiridas. Os resultados dessa análise mostram que houve modificações nos ganhos com as exportações de melão nos dois estados, Rio Grande do Norte e Ceará. Ao longo do período de 18 anos, o primeiro apresentou tendências decrescentes e por isso cedeu a liderança para o estado do Ceará que se mantém na liderança em termos absolutos desde Os demais estados reunidos obtiveram ganhos muito abaixo dos dois maiores exportadores. Referências ALVES, H. C. R.; LIMA, S. S.; MOREIRA, J. C. P. Analise da Cadeia Produtiva do Melão no Brasil: Um Estudo a Partir dos Determinantes de Exportação. p. 3, Disponível em: < Acesso em: 14/02/2015. APEX-BRASIL, APEX-BRASIL e ABRAFRUTAS assinam convênio para exportação de frutas brasileiras, Brasília DF. Disponível em: < BRASIL-E-ABRAFRUTAS-ASSINAM-CONVENIO-PARA-EXPORTACAO-DE-FRUTAS- BRASILEIRAS>. Acesso em: 08/02/2015. ARAÚJO, S. S. V.; SILVA, L. M. R.; LIMA, P. S., Competitividade do Agronegócio Cearense no Mercado Internacional: O Caso da Amêndoa da Castanha de Caju e Melão, Economia e Desenvolvimento, Recife - PE, v.3, n.1, p , 2004, Disponível em: < Acesso em: 12/02/2015. CARVALHO, J. M. M. (Org.), Apoio do BNB à Pesquisa e Desenvolvimento da Fruticultura Regional. Fortaleza: Banco do Nordeste, nº 4, p. 20, Disponível em: < Acesso em: 02/03/2015. CAVALCANTE, A. L.; MINDÊLLO, M. G.; MAGALHÃES, M. R. V., Análise da Dinâmica das Exportações de Frutas no período de 2007 a 2012: Brasil e Ceará, Informe IPECE, Fortaleza - CE, nº 60, p. 8, 17/Maio/2013, Disponível em: < Acesso em: 17/04/2015. COSTA, N. D. O Cultivo do Melão, p. 5-16, Disponível em: < Acesso em: 09/02/2015. CUNHA, J. Fruticultura: O Nordeste em Transformação, Publicação: Rio bravo Fronteiras, São Paulo, p. 2, Nov. de Disponível em: < Acesso em: 04/03/2015. SANTOS, C. E.; KIST, B. B.; CARVALHO, C.; REETZ, E. R.; DRUM, M. Anuário Brasileiro da Fruticultura 2014, Anuário da Fruticultura, Santa Cruz do Sul RS, v , P. 5-27, Disponível em: < ultura_2014.pdf>. Acesso em: 08/02/

379 TORRES, A. C. B. A. & MOUTINHO, L. M. G. A Caracterização do Clusterde Melão de Mossoró/Baraúna - RN, Série Textos Para Discussão, João Pessoa PB, nº 250, Jul. 2002, Disponível em: < pdf>, Acesso em: 13/02/2015. VECCHIA, P. T. D. Programa Brasileiro para a Modernização da Horticultura. Normas de Classificação de Melão. São Paulo: CEAGESP, Centro de Qualidade de Horticultura, P.6 (CQH. Documentos, 27). Disponível em: < Acesso em: 09/02/2015. VIANA, S. S.; SILVA, L. M. R.; LIMA, P. V. P. S.; LEITE, L. A. S. Competitividade do Ceará no mercado internacional de frutas: o caso do melão, Revista Ciência Agronômica, Centro de Ciências Agrárias - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, v.37, n.1, p.30-31, 2006, Disponível em: < Acesso em: 04/03/2015. VITTI, A. Análise da Competitividade das Exportações Brasileiras de Frutas Selecionadas no Mercado Internacional, 2009, 106 f. Tese (Dissertação apresentada para obtenção do título de mestrado em ciências. Área de Concentração: Economia Aplicada), Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade São Paulo Piracicaba SP, WEISS, C.; SANTOS, M. A Logística de Distribuição e as Perdas ao Longo da Cadeia Produtiva das Frutas Frescas, In: IX Congresso Virtual Brasileiro Administração, 23 a 25 de novembro de 2012, Convima, p. 2, Disponível em: < Acesso em: 08/02/2015. DEUS, J. A. L., Sistema de Recomendação de Corretivos e Fertilizantes para o Meloeiro com base no Balanço Nutricional, 22/Jun/2012, 121 f, Dissertação (Mestrado em Agronomia, Solos e Nutrição de Plantas), Universidade Federal do Ceará, Fortaleza CE, COSTA, A. C. R. & TRINDADE, D. C.; PAIVA, F. H. D.; CAMELO, G. L. P.; COSTA, P. C. P., O Potencial Fruticultor do Rio Grande do Norte Gerando Oportunidades no Mercado Internacional, In: II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica, João Pessoa PB, p. 2-8, FREITAS, E. Vale do Jaguaribe recebe R$ 100 milhões para estradas, Diário do Nordeste: Escoamento da Produção, Editorial - Cadernos 3, Fortaleza CE, p. 1-4, 29/agos/2014, Disponível em: < 100-milhoes-para-estradas >, Acesso em: 06/04/2015. Frutas do Ceará, Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará ADECE, Fortaleza CE, p. 2-9, Disponível em: < Acesso em: 07/04/

380 ÁREA TEMÁTICA: MEIO-AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DISPOSITIVO PRÁTICO E ECONÔMICO DE ANTI CONTAMINAÇÃO BACTERIANA E VIRAL UTILIZADO EM TORNEIRAS JOÉLITON JOSÉ DA SILVA PESSOA joeliton.silva@yahoo.com.br, (88) CÍCERO VICTOR DE ALMEIDA SOUZA cicero.victor.almeida@gmail.com, (88) FRANCISCO GUILHERME LÔBO BRILHANTE joeliton39@gmail.com, (88) JOSÉ PEREIRA DA COSTA NETO joeliton39@gmail.com, (88)

381 DISPOSITIVO PRÁTICO E ECONÔMICO DE ANTI CONTAMINAÇÃO BACTERIANA E VIRAL UTILIZADO EM TORNEIRAS Introdução Durante alguns milênios a água foi considerada um recurso infinito, pois a generosidade da natureza fazia crer em inesgotáveis, abundantes e renováveis mananciais. Hoje, a má utilização da água, aliada a crescente demanda pelo recurso, devido ao crescimento populacional acentuado e desordenado, principalmente nos grandes centros urbanos, preocupam especialistas e autoridades no assunto. É evidente o decréscimo da disponibilidade de água limpa em todo o planeta. Segundo informações da Companhia de Tecnologia de Saneamento Básico - CETESB (2014). Já Segundo (COPI, 1978), O estudo da Lógica é o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto, também fica claro que a lógica pode nos conceber os conhecimentos necessários, para análises futuras da quantidade de desperdício de água. O projeto Dispositivo Prático Econômico de Anti Contaminação Bacteriana e Viral utilizado em Torneiras, nasceu da necessidade de reduzir o desperdício de água, proliferação bacteriana e o tempo perdido na atividade, com fins lucrativos e ecológicos, além de poder ser adquirido desde a população economicamente mais favorecida até a menos favorecida. A necessidade de utilizar água com sabedoria é evidente, uma vez que, esta é um recurso limitado, indispensável à sobrevivência não só humana, mas também de todas as espécies de seres vivos, é inaceitável que ainda hoje se observe o desperdício indiscriminado de água pela espécie humana. A escassez de água no mundo é agravada em virtude da desigualdade social e da falta de manejo e usos sustentáveis dos recursos naturais, sem falar nas doenças que são transmitidas através do contato entre as mãos e as torneiras. Com o dispositivo não haverá mais esse risco, pois todo processo de abertura e fechamento será feito com o pé. O Dispositivo é capaz de resolver três principais problemas que são: o desperdício de água, disseminação bacteriana e viral, através das torneiras e tempo perdido na ação de desligar e fechar a torneira. Com o dispositivo Prático é possível interromper a passagem da água em momentos desnecessários, economizando assim, 70% de água. Como não haverá contato entre as mãos e torneiras dificulta a disseminação de doenças infectocontagiosas, além de promover a agilidade no processo, com fins lucrativos dando a sociedade uma opção barata e alternativa para resolver o desperdício de água. Propõe-se a utilização do dispositivo em torneiras da EEEP Leopoldina Gonçalves Quezado e em seguida à utilização do recurso em todas as escolas e residências da cidade de Aurora-Ce. O ambiente de aprendizagem onde o professor ensina ao aluno a montagem, automação e controle de dispositivos mecânicos são denominados Robótica Pedagógica ou Robótica Educacional (CESAR, 2005). Metodologia O dispositivo prático consiste em uma plataforma de dimensões iguais a 20 cm x 27,5 cm, que será a base do pedal instalado acima da plataforma, o pedal terá a estrutura de uma alavanca interfixa, estará aplicada uma força F1 inter-resistente, proveniente de uma mola de constante K =1176 e 7,5 cm de comprimento, e este pedal será responsável por abrir e fechar um registro de meia polegada, preso por duas abraçadeiras em uma estrutura de madeira que terá a função de interromper a passagem da água, logo, assim que a força F2 aplicada pelo pé do usuário agir sobre a alavanca o registro será aberto, para que o fluxo de água seja ativado e a mola será responsável por mover o registro de volta para a posição inicial, para que a vazão seja anulada. Os materiais utilizados foram: uma tábua de madeira, 2 abraçadeiras, 3 mangotes, uma mola de 7,5cm, 3 pregos, 381

382 30 cm de arame de 15mm e um registro de meia polegada. Para a análise dos dados foram utilizadas as torneiras das pias dos banheiros femininos e masculinos da referida escola. Na análise das atividades diárias de higiene pessoal da vasão de cada torneira foi utilizada uma pipeta, uma pera de sucção, um copo de béquer. Na construção do dispositivo foi primeiro cortado a placa de madeira de dimensões 20 cm x 27,5 cm, pregamos duas tábuas paralelas com um eixo fixo entre as mesmas, onde foi colocado um pedal com 20 cm preso no eixo com um prego na ponta que servirá de alavanca para acionar o registro de meia polegada, sendo que na outra parte paralela estará o registro preso com duas abraçadeiras onde são instalados os três mangotes. Tendo em vista a necessidade de adaptação para cadeirantes foi pensado em outro tipo de acionamento via cotovelo, diminuindo consideravelmente a resistência da mola, torna-se claramente possível tal adaptação, dando a oportunidade a todos de compartilhar de tal invenção, já que a educação inclusiva é de fundamental importância no contexto social e educacional atual. Resultados Com o dispositivo prático foi possível controlar a saída de água com mais precisão evitando que seja gasta em momentos desnecessários, além do risco de contaminação por contato físico com as mãos. Sendo assim, ficou claro que quando estiver escovando os dentes e lavando as mãos temos a necessidade de apertar o botão de recuo, porém no momento que pressionarmos com uma de nossas mãos, sujará nossa mão na hora de enxaguar a boca e retirar o sabão das mãos, sabendo que todas as bactérias e outros tipos de microrganismos que foram depositadas naquela torneira, desde a sua instalação, foram parar na boca do usuário. Já quando se trata de lavar as mãos, precisamos de um aperte para molhar as mãos e ensaboá-las, logo após precisaremos de outro aperte para retirar o sabão, o que dá 1,675L, quando usamos a torneira prática conseguimos reduzir a quantidade de água gasta de 1,675 L para 0,675 L, que nos fornece uma economia de 1 L, ou seja 62 % de economia, principalmente em função da compatibilidade do período de vazão com o período de necessidade. Ao longo do ano, uma pessoa ideal gastará 6,13 horas da sua vida no mínimo só abrindo e fechando torneiras, se ela viver em media 80 anos, gastará em média 490,4hs da sua preciosa vida, o equivalente há 20 dias. Com o dispositivo, reduziu-se o tempo de abrir e fechar torneiras reduziu e maximizou a praticidade e a velocidade da realização das operações e ganhe 490,4 horas a mais para se fazer outras atividades. Porém, o maior desperdício acontece com as torneiras automáticas que não possuem o período de vazão compatível com o período de necessidade. Quando se trata de escovar os dentes, precisamos de um aperte para lavar a escova e molhar a boca, logo após precisaremos de outros dois apertes para lavar as mãos, enxaguar a boca e lavar a escova, pois a torneira de desligamento automático não demora muito tempo ligada para que realize todas estas ações. No decorrer do procedimento, foram preciso 3 apertes, cada um demorando 7,24 segundos, e a vazão deste modelo de torneira é alta em relação as convencionais, em decorrência da caixa d água que tem altura bastante elevada, o que aumenta ainda mais o consumo exagerado de água, sua vazão vale em média 0,111L/s, o produto destas três grandezas correspondem a quantidade de água que gastamos para realizar uma escovação, que é de no mínimo 2,5 L, quando utilizado o dispositivo a quantidade ideal decaiu para apenas 0,675 L, sendo assim, na prática a quantidade de água desperdiçada por cada escovação é em torno de 1,825 L para cada pessoa. Agora cabe mencionar uma estimativa de resultado a nível municipal, Aurora fica situada no interior da Região Nordeste no Sul do Estado do Ceará, com um clima semiárido, possui uma população de pouco mais de mil habitantes, o sistema hídrico desta cidade é abastecido pelo 382

383 Açude Cachoeira, a água proveniente deste é conduzida pelo Órgão Estadual Cagece. Sabe-se que por dia são escoados aproximadamente m³ de água para o abastecimento dos segmentos residenciais, industriais e públicos, supondo que 65% da água, seja para o consumo doméstico, ou seja, residencial, o equivalente a m³, estimativas recolhidas da Cagece, mostram o desperdício em torneiras tradicionais de 1,3%, de acordo com os 3 tipos de desperdícios mais comuns que são: desperdício por abertura, falta de atenção e conscientização, isso nos mostra que por dia aproximadamente L são desperdiçados em situações rotineiras e L são desperdiçados por ano, um valor muito alto em se tratando de uma cidade que possui um índice pluviométrico muito baixo. Conclusões O dispositivo prático é capaz de atender as necessidades domésticas e com fins lucrativos de forma satisfatória, reduz a contaminação através das torneiras, e também se elimina tempo desperdiçado em abrir e fechar torneiras, de no mínimo 6,13 horas ao ano além da economia de água, que é bastante relevante. É com base nos resultados que se pode concluir quanto ao uso de água nos estabelecimentos da escola, que em média 460,0m³ de água são necessários para abastecer as necessidades escolares por mês, tais como: cozinhar, lavar a louça, lavar o espaço físico e os banheiros, estima-se que 1/8 da água da escola é destinada para a limpeza dos dentes e a lavagem das mãos, o equivalente a 77,5m³ por mês, sabendo também que são desperdiçados em torneiras automática 73% de água para escovar os dentes e 62% para lavar as mãos, ou seja, todos os meses são desperdiçados L de água no mínimo. De acordo com os resultados apresentados fica evidente a eficiência do dispositivo em todos os sentidos. Considera-se, portanto que a escola é um espaço ideal para difusão de ideias capazes de equilibrar as necessidades do homem para com a natureza, prolongando e melhorando o pensamento e a prática sustentável. Em uma perspectiva futurista, é visto a necessidade de soluções para os problemas ambientais. Sabendo que nossos problemas sociais possuem começo, mas não possuem fim. Referências Bibliográficas CETESB; Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Link: Água Rios e Reservatórios. São Paulo, 15 mai, Disponível em: < Acesso em: 15 mai CESAR, Danilo Rodrigues. Robótica Livre: Robótica Educacional com tecnologias livres. Disponível em: < Acesso: em Mai/ COPI, I. M., Introdução à Lógica. 2ºed.São Paulo : Mestre Jou,

384 ÁREA TEMÁTICA: 5. Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável VALORAÇÃO ECONÔMICA DA LAGOA SANTA TEREZA NO MUNICÍPIO DE ALTANEIRA/CE JOSE ADEVANILTON DA SILVA Graduado em Economia pela Universidade Regional do Cariri URCA, adevanilton@gmail.com, Tel.:(88) PEDRO JOSE REBOUÇAS FILHO Mestre em Economia do Setor Público pela Universidade Federal do Ceará UFC. Professor adjunto do departamento de Economia da Universidade Regional do Cariri URCA, preboucas81@hotmail.com, Tel.:(88)

385 VALORAÇÃO ECONÔMICA DA LAGOA SANTA TEREZA NO MUNICÍPIO DE ALTANEIRA/CE 1. Introdução Os debates sobre as questões ambientais somente se intensificaram apenas na década de 1970, até então era preocupação de poucos, o desenvolvimento centrava-se na expansão de fronteiras, a qualquer custo, independente das externalidades negativas geradas ao meio ambiente e dos custos futuros a serem resgatados (ORLANDINI, 2009). Dessa forma muitos dos danos causados ao meio ambiente não são levados em consideração, quando se faz uma avaliação socioeconômica das atividades que os geram, por que esses bens e serviços ambientais não possuem valor de mercado, assim como os demais produtos. Para minimizar essa problemática surgem os métodos de Valoração Econômica Ambiental, com esse principal objetivo de valorar os bens e serviços ambientais. Segundo MOTTA (1998) estabelecer um valor monetário para um recurso natural é estimar seu valor em relação a outros bens e serviços presentes na economia, isso por que os recursos ambientais não são transacionados nos mercados e por isso não tem seu valor de mercado. Dessa forma a valoração econômica ambiental busca trazer um valor para esses bens ambientais, visando despertar o interesse e a preocupação das pessoas com a conservação desses recursos. O presente trabalho visa valorar em termos monetários a Lagoa Santa Tereza no município de Altaneira-CE, a qual encontra-se em péssima situação de poluição e abandono, levando os altaneirenses a fazerem uma reflexão acerca da importância desse recurso hídrico para Altaneira, pois foi as suas margens que este município se originou. Nesta perspectiva o presente trabalho justifica-se pelo fato de que propostas de revitalização da presente Lagoa foram feitas, mas que nenhuma foi colocada em prática, assim esse estudo trará novas perspectivas de mobilizações e despertando políticas públicas e tomadas de decisão para mudar a realidade vivenciada pela Lagoa de Santa Tereza, ao paço que a pesquisa trará sua contribuição para essa temática que é a Valoração Ambiental, um assunto novo que requer novas abrangências. O presente trabalho teve como objetivo principal, valorar em termos monetários a Lagoa Santa Tereza em Altaneira-CE. Os objetivos secundários foram: Revisar o tema Valoração Econômica Ambiental; Demonstrar, através do contexto histórico a importância da Lagoa Santa Tereza, para o Município de Altaneira-CE e determinar o valor monetário que os cidadãos 385

386 altaneirenses estariam dispostos a pagar para revitalizar e urbanizar a Lagoa Santa Tereza, Altaneira-CE. 2. Metodologia O presente trabalho toma como base o Manual para Valoração Econômica dos Recursos Ambientais, desenvolvido pelo autor Ronaldo Seroa da Motta (1998). O método a ser aplicado será o Método da Valoração Contingente (MVC), devido às especificidades do objeto de estudo, e os objetivos da pesquisa. Então de acordo com a literatura esse método será o ideal para realizar a valoração. A medida de valoração a ser utilizada será a Disposição a Pagar (DAP) e a escolha dicotômica, onde é dado o valor na pergunta, através da pergunta: Você estaria disposto a pagar R$ X por mês para revitalização e urbanização da Lagoa Santa Tereza? Para construção da referida pesquisa foram utilizados aspectos metodológicos de natureza qualitativa, através da revisão de literatura, como também foi realizada a pesquisa de campo com aplicação de questionário. Para realizar as entrevistas calculou-se primeiramente o tamanho da amostra, onde para isso utilizou-se a metodologia proposta por Gil (1995), para população abaixo de pessoas obtendo-se um total de 198 pessoas a serem entrevistas. A área de estudo compreende o município de Altaneira, localizado no sul do estado do Ceará, mais precisamente na Região do Cariri, distante (em linha reta) 389 km da capital cearense. Possui uma área de 73,3 Km, com temperatura variando de 24 a 26 (IPECE, 2014), e possui uma população de habitantes segundo o censo 2010 (IBGE, 2010). O bem ambiental a ser valorado será a Lagoa Santa Tereza, que encontra-se dentro do perímetro urbano da cidade, com uma extensão de aproximadamente 0,10 Km 2 e volume de água desconhecido (SOARES, 2007). 3. Resultados e discussão Nesta seção serão apresentados os principais resultados da pesquisa de campo. Os questionários foram aplicados durante os meses de janeiro e fevereiro de 2015, seguindo criteriosamente a metodologia apresentada. As entrevistas foram realizadas em domicílio, onde responderam às perguntas um dos membros da família, de forma aleatória, com idade superior a 18 anos. 386

387 Observa-se na Tabela 01 que em relação ao gênero sexual dos entrevistados, uma maioria expressiva é do sexo feminino, 55,56%, e o restante, 44,44%, do sexo masculino. Vale ressaltar que a pessoa entrevistada na família foi escolhida de forma aleatória, para que não houvesse interferências nos resultados, porém na maioria das casas nos dias das entrevistas encontravam-se somente as mulheres ou os homens não tiveram interesse em responder o questionário. TABELA 01- Gênero sexual dos entrevistados Sexo Freq. Absoluta Freq. Relativa Masculino 88 44,44% Feminino ,56% Total % Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa A faixa etária dos entrevistados, obviamente devido a aleatoriedade, variou entre 18 e 79 anos, a idade média obtida foi de 40 anos. Na em relação à ocupação dos entrevistados, coletou-se um total de 35 ocupações, onde a maioria dos entrevistados respondeu ter ocupação como servidor público (35,86%), seguida do percentual de agricultores com 24,75%, o que já é esperado em municípios pobres do interior, como é o caso de Altaneira. Outro dado expressivo é percentual de aposentados que foi de 14,65%. O restante dos entrevistados (24,74%) se enquadraram e outras ocupações. Esses resultados demonstram a falta de oportunidades no município, a qual se dar por ser de pequeno porte, que não têm se quer dez mil habitantes, com ausência de indústrias, grandes comércios e outros setores que propiciem a geração de empregos, prevalecendo o funcionalismo público e o trabalho na agricultura. Na entrevista indagou-se ao entrevistado sobre sua renda bruta, sendo registrado o valor informado, sem representa-lo em intervalos, dessa forma realizando-se o cálculo da média da renda destes, resultou-se em R$ 828,87. Esse valor demostra que a maioria dos entrevistados são funcionários públicos, e recebem em média um salário mínimo (R$ 788,00), ao passo que grande parte dos entrevistados são aposentados (14,65%) também com esse valor. Os entrevistados foram indagados quanto ao seu grau de interesse por assuntos ambientais, os resultados mostraram que quase 100% dos entrevistados, responderam que se interessavam por assuntos ambientais (Tabela 02). Esse resultado leva uma reflexão no que se refere ao interesse pelo meio ambiente frente as atitudes dessas pessoas para sua conservação. Pois é notória a ausência de 387

388 mobilizações em prol do meio ambiente, a alta produção de lixo, as queimadas provocadas pelos agricultores, dentre outras atitudes que implicam na degradação do meio ambiente. Tabela 02 - Grau de interesse por assuntos ambientais Grau de interesse Freq. Absoluta Freq. Relativa 1- Muito ,48% 2-Não se interessa 0 0,00% 3-Pouco 3 1,52% TOTAL ,00% Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa Em relação a disposição a pagar (DAP) dos entrevistados Observou-se que do total de entrevistados, 161 pessoas estariam despostas a pagar para revitalização e urbanização da Lagoa Santa Tereza, que corresponde a 81,32% do total de pessoas entrevistadas. Analisando a frequência da disponibilidade a pagar (DAP) apresentada na Tabela 03 e tendo o Valor da DAP como referencial, depreende-se que dos entrevistados que estão dispostos a pagar alguma quantia, 42,24% responderam que pagariam R$ 5,00 para a revitalização e urbanização da Lagoa, 41,61% responderam que pagariam R$ 10,00 e 16,15% pagaria R$ 15,00. Percebe-se que a DAP diminuiu à medida que o valor questionado aumentava. Porém mesmo assim, observa-se que há conscientização das pessoas, pois mesmo vendo a obrigação do governo em realizar o projeto, que já arrecada muitos impostos, esses entrevistados estariam dispostos a pagar mensalmente uma taxa especificamente para concretização do projeto. Tabela 03 - Frequência da disponibilidade a pagar x Valor da DAP Valor da DAP Disposição a pagar (R$) (Sim) (%) 5, ,24% 10, ,61% 15, ,15% TOTAL ,00% Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa Conforme a literatura já apresentada realizou-se a média da DAP através do somatório das frequências relativas, que corresponde ao valor a ser pago pelo entrevistado disposto a pagar, multiplicado pela porcentagem de pessoas que pagariam pelo valor que lhe foi indagado durante a 388

389 aplicação dos questionários (Tabela 05). Neste sentido a DAP mensal média encontrada foi de R$ 8,69. Nesta perspectiva encontrando a DAP média de R$ 8,69, o valor da Lagoa Santa Tereza pode ser calculado, conforme Motta (1998), multiplicando a DAP pela população afetada com a alteração do bem ambiental. Ou seja: DAP total = população * DAP média da amostra. Neste caso se concretizado o projeto de revitalização e urbanização da Lagoa, toda população se beneficiará com essa alteração, tendo em vista que além da revitalização, a urbanização também se encontra no projeto, que é justamente a construção de pista para prática de atividades físicas, clubes de esporte, dança, cultura, parques infantis, dentre outros que envolve as mais diversas idades. Assim multiplicando a DAP média por toda população afetada pela disponibilidade que é (IBGE, 2010), o valor da Lagoa corresponde a R$ ,64 mensais ou R$ ,68 anuais. Esse valor se arrecadado e depois aplicado de forma correta na revitalização e urbanização da Lagoa, seria um grande investimento para o município de Altaneira, tanto econômico como ambiental. 4. Conclusões As discussões em torno do meio ambiente nunca foram tão intensas como nos dias atuais, e a cada dia torna-se mais preocupante os desequilíbrios no ecossistema, causados pelos impactos das ações das atividades econômicas, que geram poluição e degradação ambiental. O estudo buscou medir o valor da Lagoa, considerando a sua existência frente ao contexto histórico do município de Altaneira. Neste sentido, muitos outros benefícios que viriam a ser gerados, se a revitalização e urbanização da Lagoa venha a ser concretizada, não foram levados em consideração, como a valorização imobiliária das propriedades privadas na sua vizinhança, o valor de uso, o turismo e os impactos no comércio. Futuros estudos poderiam vir contribuir para o aprimoramento do conhecimento do valor total da Lagoa, mensurando um ou mais desses benefícios. Os estudos voltados a área ambiental torna-se cada vez mais necessário, visando a tomada de decisões para acabar com a degradação do meio ambiente, garantindo a sua preservação, pois é uma questão de sobrevivência e a garantia das futuras gerações. Porém faz-se necessário a diminuição da negligência do poder público e das indústrias, e principalmente a conscientização ambiental das pessoas. 389

390 5. Referências Bibliográficas CIDRÃO, Raimundo Sandro. Resgatando a história do município de Altaneira. 1 ed. Altaneira: Copyright, p. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico Disponível em < Acesso em: 25 jul IPECE- Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará- perfil básico municipal de Altaneira Disponível em: < 2014/Altaneira.pdf>. Acesso em: 22 mai MOTTA, Ronaldo Seroa da. Manual para Valoração Econômica de Recursos Ambientais. 1. ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, v p.. Valoração e precificação dos recursos ambientais para uma economia verde. Política Ambiental, v. 8, p , ORLANDINI, E. A. Consciência Ambiental e a falta da sua prática efetiva. Disponível em: < Postado em: 25 set Acesso em 11 jul

391 AGROPECUÁRIA NORDESTINA E RECURSOS HÍDRICOS A DINÂMICA SALARIAL NA AGROPECUÁRIA REGIONAL: UM COMPARATIVO ENTRE AS REGIÕES NORDESTE SUDESTE ( ) CICERO JAIR SALES ALENCAR (Graduando, URCA-CESA, Ceará-Brasil <jairalencar91@hotmail.com>telefone: (88) ) CARLOS HENRIQUE MIRANDA DE ALENCAR (Graduando, URCA-CESA, Ceará-Brasil <carloshenrique9640@hotmail.com>telefone: (87) ) JOSÉ MÁRCIO DOS SANTOS (Mestre, URCA-CESA, Ceará-Brasil <jmarcio.santos@hotmail.com> telefone: (88) ) 391

392 A DINÂMICA SALARIAL NA AGROPECUÁRIA REGIONAL: UM COMPARATIVO ENTRE AS REGIÕES NORDESTE SUDESTE ( ) 1. Introdução Desde o clássico trabalho de Langoni (2005), o estudo da desigualdade de renda no Brasil tem sido um assunto de crescente interesse na agenda de pesquisa econômica. Sem embargo, o país ainda figura entre os mais desiguais em termos de distribuição de renda no mundo. Este autor chegou ao resultado principal concluindo que a desigualdade de renda é gerada dentro do mercado de trabalho, sendo o fator determinante a grande heterogeneidade nos níveis educacionais dos trabalhadores brasileiros. Que de acordo com Silva (1987), o estudo das diferenças salariais é justificado pelas várias relações sociais e econômicas existentes, tornando-o o elo final da hierarquização nas sociedades modernas, sendo que esta determina os níveis de bem-estar atingíveis pelas pessoas. No Brasil são analisados quatro grupos de características para estudar as diferenças salariais, quais sejam: individuais, empresariais, setoriais e as regionais. A partir do pressuposto de que as diferenças salariais existem e são elevadas, pretende se averiguar quais são as variáveis relevantes na explicação dessa diferenciação salarial. O mercado de trabalho agrícola sofreu grandes modificações a partir da década de 60 do século passado. De 1960 a 1985 houve grande crescimento da mão-de-obra assalariada temporária, e a partir de então tem crescido a importância da mão-de-obra assalariada permanente (Stadutoet alii, 2002). A agropecuária emprega volume expressivo de mão-de-obra apesar de seu intenso processo de modernização. Esse processo, que se intensificou a partir de meados da década de 60, resultou em consistente aumento da produtividade total dos fatores (Conceição, 1998, Barros, 1999). As medidas parciais de produtividade do trabalho e da terra também apontam para o aumento da produtividade desses fatores (Hoffmann e Jamas, 1990, Guerreiro, 1995). Dado isso, o mercado de trabalho agrícola provavelmente reflete as diferenças regionais de crescimento da agropecuária, mesmo considerando que a mão de obra empregada nessa atividade seja pouco qualificada e que exista elevada homogeneidade nesta mão de obra, aonde estas diferenças irão se sobressair nas diferenças de produtividade e, especialmente, nos diferenciais salariais entre as regiões brasileiras. Desta forma, o presente trabalho tem por objetivo avaliar a dinâmica salarial na agropecuária através de um comparativo entre as médias salariais das ocupações relacionadas à agropecuária nas regiões Nordeste e Sudeste, entre os períodos de 2002 a Procedimentos metodológicos A classificação empregada neste trabalho segue o critério proposto pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), originada em Esta classificação agrupa o emprego em 10 grandes grupos ocupacionais, que por sua vez são subdivididos em 47 subgrupos principais, 192 subgrupos e 596 grupos de base e famílias ocupacionais. Desta forma, este trabalho empregará os dados referentes ao emprego dos ocupados do grande grupo trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca, sendo este grupo subdividido em 14 subgrupos de ocupações que são: produtores agropecuários, produtores agrícolas, produtores em pecuária, supervisores na exploração agropecuária, trabalhadores na exploração agropecuária em geral, trabalhadores 392

393 agrícolas, trabalhadores na pecuária, supervisores na exploração florestal e pesca, pescadores e caçadores, extrativistas florestais, trabalhadores da mecanização agropecuária, trabalhadores da mecanização florestal e trabalhadores da irrigação e drenagem. A vantagem da CBO sobre outras classificações existentes é o fato dela seguir um critério ocupacional, focando nas atividades existentes dentro de um dado grupo produtivo ou ocupacional. Desta forma, ela apresenta um grau de detalhamento maior, permitindo analisar os grandes grupos de forma mais detalhada (IBGE, 2015). A base de dados empregada neste trabalho é proveniente da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), mantida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e compreende informações relativas ao número de empregados por faixa salarial e número de empregados segundo subgrupos, referentes aos anos de 2002 a 2013 e abrangendo as Regiões Nordeste e Sudeste. A análise da dinâmica salarial na agropecuária brasileira será realizada através de dois indicadores que procuram ilustrar o comportamento dos salários nas ocupações relacionadas à agropecuária. O primeiro indicador consiste no cálculo da média salarial, conforme a equação abaixo: IMS i w 0 L Na equação acima, o numerador representa o somatório dos salários totais, ou a massa salarial, obtidos pelos trabalhadores da ocupação distinta analisada. Este valor é dividido pelo total de trabalhadores alocados na referida ocupação. Desta forma, o resultado será a média salarial em salários mínimos recebidos pelos ocupados nestes setores. Tal indicador 30, apesar de simples, possui a capacidade de dimensionar a comportamento e tendências salariais das ocupações, permitindo identificar o grau de remuneração que as atividades vêm apresentando no âmbito da agropecuária. 3. Análise dos resultados da Média Salarial no Nordeste No decorrer dos dez anos as melhores médias salariais foram observadas para os profissionais que atuam nas profissões de Supervisores na Exploração Florestal e Pesca, Trabalhadores da Mecanização florestal e Supervisores na Exploração Agropecuária. Na categoria de Produtores Agropecuários em Geral a média salarial não apresentou mudanças bruscas mantendo-se constante nos dez anos e com uma média de 1,19 salários mínimos, sendo que em nem um ano a média salarial ultrapassou mais que 1,25 (2007) e nem atingiu valores menores de 1,14 (2006 e 2013).Para a categoria de Produtores Agrícolas os resultados da média salarial também não apresentaram mudanças bruscas, mesmo assim passou por pequenas oscilações chegando ao ultimo ano (2013) com a menor média salarial calculada em 1,12 salários mínimos sendo que maior (1,39) foi observada em A média salarial para a categoria de Produtores em Pecuária também manteve constante sem apresentar nenhuma mudança significativa, e em meio a pequenas quedas e pequenas elevações chegou ao ultimo período com uma média de 1,21 salários mínimos. Até então nenhuma categoria apresentou média salarial acima de dois salários mínimos sendo que a maior média salarial entre as três categorias analisadas foi observada na categoria de 30 Indicadores adaptados da metodologia proposta por Campos (2000). 393

394 Produtores Agrícolas (1,39). Para a categoria de Supervisores na Exploração Agropecuária as médias salariais mantiveram-se acima de 2,51 salários mínimos, em meio a subidas e decidas ao longo do tempo observou-se que a tendência foi para redução da média salarial que chegou ao ultimo estudado com a menor média salarial da categoria. Para as categorias de Trabalhadores na Exploração Agropecuária em Geral, Trabalhadores Agrícolas e Trabalhadores na Pecuária a média salarial também não passou por mudanças bruscas, sendo que nas três as médias salariais passaram a ser menores que dois salários mínimos, sendo que a maior média foi observada na categoria de Trabalhadores Agrícolas (1,35 salários mínimos), no geral em nenhuma categoria houve tendência de queda da média salarial constante sempre ocorrendo pequenas elevações seguidas de pequenas quedas. A média salarial para a categoria de Supervisores na Exploração Florestal e Pesca apresentou resultados significativos no decorrer do período estudado, todos acima de três salários mínimos, nessa categoria pode-se observar uma tendência a queda da média salarial em meio a pequenas recuperações no decorrer dos dez anos, sendo que a média salarial saiu de um patamar de 3,97 salários mínimos em 2003 para 3,06 em 2010 apresentando uma pequena recuperação em 2013 (3,19 salários mínimos). Já para as categorias de Supervisores na Exploração Florestal e Pesca, e Extrativistas Florestais os resultados da média salarial não ultrapassarão dois salários mínimos durante os dez períodos estando todos abaixo de 1,46 salários mínimos. Na categoria pode-se observar uma pequena tendência à queda na média salarial (saiu de uma média de 1,46 salários mínimos em 2003 para 1,18 em 2013), já para a categoria de Extrativistas Florestais as médias salariais mantiveram-se constantes em um intervalo de 1,19 a 1,29 salários mínimos. No caso da categoria de Trabalhadores da Mecanização Agropecuária os resultados das medias salariais ultrapassaram dois salários mínimos em dois anos, 2003 (2,03) e 2004 (2,02), nos demais períodos manteve-se sempre abaixo dessa média, porém não distanciou muito, chegando em 2013 com a menor média salarial apresentada pela categoria nos dez anos (1,84) também apresentada em 2009.A categoria de Trabalhadores da Mecanização Florestal obteve elevadas médias salariais no decorrer dos dez anos, todas acima de dois salários mínimos, entre 2004 e 2008 manteve-se sempre acima de três salários mínimos, em 2003 e nos outros anos a média salarial esteve sempre abaixo de três salários mínimos. Para a categoria de Trabalhadores da Irrigação e Drenagem a média salarial chegou a patamares próximos de dois salários mínimos, porém manteve-se durante a década sempre abaixo de 1,94 salários mínimos e com resultados constantes entre 1,75 e 1,94 salários mínimos.como foi observado durante os dez anos as médias salariais por categoria não sofreram mudanças bruscas, passando apenas por pequenas variações, e que em apenas quatro das treze categorias a média salarial ultrapassou dois salários mínimos, sendo que dessas quatro em duas a média salarial superou três salários mínimos. 4. Análise dos resultados da Média Salarial no Sudeste Durante os dez anos as categorias de Trabalhadores da Irrigação e Drenagem; Produtores Agrícolas; e Produtores em Pecuária apresentaram, na maioria dos casos, médias salariais inferiores a dois salários mínimos, a única mudança brusca foi para a categoria de Produtores Agrícolas que saiu de uma média de 3,12 salários mínimos para níveis inferiores a dois salários mínimos nos demais anos. Desconsiderando essa exceção individualmente as categorias mantiveram-se com níveis de médias salariais constantes ao longo dos dez anos. Já para a categoria de Supervisores na Exploração Agropecuária os valores das médias salariais apresentaram-se com níveis mais elevados, e em meio a elevações e reduções estiveram sempre com valores superiores a 2,99 salários mínimos, chegando ao ultimo período (2013) com a 394

395 maior média salarial (3,65). Para as categorias de Trabalhadores na Exploração Agropecuária em Geral; Trabalhadores Agrícolas; Trabalhadores na Pecuária; e Extrativistas Florestais as médias salariais mantiveram-se no geral com valores menores que dois salários mínimos e, por categoria individualmente, as médias salariais apresentaram constância ao longo dos dez anos, ou seja, não ocorreu nenhuma mudança de grande significância. Com relação à categoria de Supervisores na Exploração Florestal e Pesca as médias salariais apresentaram-se com níveis elevados, sempre acima de três e chegando a níveis superiores a quatro salários mínimos, mesmo tendo no primeiro ano (2003) uma média superior a quatro salários mínimos e ter apresentado a partir de 2006 médias salariais inferiores a quatro salários mínimos, a média salarial não demonstrou tendência constante a queda no decorrer dos dez anos, pois sempre apresentou elevações seguidas de reduções ou vice-versa. Já para o caso da categoria de Pescadores e Caçadores pode-se observar ao longo dos dez anos uma redução constante da média salarial, que saiu de patamares superiores a dois salários mínimos em média para níveis inferiores (2,20 em 2003 para 1,77 em 2013). No caso da categoria de Trabalhadores da Mecanização Agropecuária não foi possível observar o mesmo, pois se manteve no decorrer dos dez anos sempre com médias salariais superiores a dois salários mínimos, porém não apresentou reduções cronológicas da media salarial, mantendo-se sem mudanças bruscas. Com relação à categoria de Trabalhadores da Mecanização Florestal as médias salariais apresentaram-se com níveis elevados, sempre acima de dois e chegando a níveis superiores a três salários mínimos, mesmo tendo no primeiro ano (2003) uma média superior a três salários mínimos e ter apresentado a partir de 2006 médias salariais inferiores, a média salarial não demonstrou tendência constante a queda no decorrer dos dez anos, pois sempre apresentou elevações seguidas de reduções ou vice-versa. Para a categoria de Trabalhadores da Irrigação e Drenagem a média salarial chegou em 2004 a um patamar superior a três salários mínimos (3,12), porém manteve-se durante os demais períodos sempre abaixo de três salários mínimos e com resultados constantes sem apresentar nem reduções nem elevações ao longo da década. 5. Considerações finais Obteve-se como conclusão, para as duas regiões, ao longo dos dez anos estudados que as categorias que apresentam os maiores níveis de remuneração foram as de Supervisores na Exploração Florestal e Pesca; Trabalhadores da Mecanização florestal; Trabalhadores da Mecanização Agropecuária; e Supervisores na Exploração Agropecuária e que apesar das oscilações não ocorreram mudanças bruscas no Índice de Média Salarial, ou seja, não houve nem elevações nem reduções expressivas da média salarial nas categorias de trabalhadores individualmente no decorrer do período. Assim conclui-se que a remuneração média dos trabalhadores agropecuários nas categorias estudadas não apresentaram no período estudado oscilações expressivas mantendo-se sempre no mesmo patamar. Referências Bibliográficas 1º DE MAIO: dia do trabalho. A questão do salário mínimo. Boletim Dieese Disponível em: Acesso em março de BARROS, A. L. M. (1999). Capital, produtividade e crescimento da agricultura: O Brasil de 1970 a Piracicaba. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo. 395

396 CONCEIÇÃO, P. H. Z. (1998). Produtividade total e mudança técnica na agricultura brasileira, período Piracicaba. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo. HOFFMANN, R. & JAMAS, A. L. (1990).A produtividade da terra e do trabalho na agricultura de 332 microrregiões do Brasil. In Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 28, Curitiba, pages SOBER, Brasília. Anais LANGONI, C. G. Distribuição da renda e desenvolvimento econômico do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, SILVA, J. C. F. Diferenciação salarial na indústria brasileira. Rio de Janeiro. Escola de Pós- Graduação em Economia. Fundação Getúlio Vargas, (teses 14) STADUTO, J. A. R., SHIKIDA, P. F. A., & BACHA, C. J. C. (2002c). Alteração na composição da mão-de-obra assalariada na agropecuária brasileira - período pós Anais do VI Congresso da Associação Latino-Americana de Sociologia Rural. Porto Alegre, novembro de Texto em CD-ROM, p a STADUTO, J. A. R., BACHA, C. J. C., & BACCHI, M. R. P. (2002b). Avaliação do diferencial de salários na agropecuária brasileira: período de 1966 a Pesquisa e Planejamento Econômico, Rev. Bras. Econ. vol.58 no.2 Rio de Janeiro Apr./June

397 AGROPECUÁRIA NORDESTINA E RECURSOS HÍDRICOS: 2015 AVALIAÇÃO DO GRAU DE REMUNERAÇÃO NO SETOR AGROPECUÁRIO: UM COMPARATIVO NORDESTE E SUDESTE ENTRE 2002 A 2013 CICERO JAIR SALES ALENCAR (Graduando, URCA-CESA, Ceará-Brasil <jairalencar91@hotmail.com>telefone: (88) ) CARLOS HENRIQUE MIRANDA DE ALENCAR (Graduando, URCA-CESA, Ceará-Brasil <carloshenrique9640@hotmail.com>telefone: (87) ) JOSÉ MÁRCIO DOS SANTOS (Mestre, URCA-CESA, Ceará-Brasil <jmarcio.santos@hotmail.com> telefone: (88) ) 397

398 AVALIAÇÃO DO GRAU DE REMUNERAÇÃO NO SETOR AGROPECUÁRIO: UM COMPARATIVO NORDESTE E SUDESTE ENTRE 2002 A Introdução As constatações empíricas da existência e persistência dos diferenciais de salários tem sido um tema amplamente estudado pelos economistas. Ainda que sejam utilizadas variáveis de controle para as características individuais observadas dos trabalhadores (nível de escolaridade, anos de experiência no trabalho, idade, gênero, cor), bem como para as características dos postos de trabalho, constata-se que a filiação industrial por si só corresponde a uma fonte significativa dos diferenciais de salário (BORGES E RIBEIRO, 2009). Ou seja, segundo Fontes e Simões (2000) a intensa disparidade nos níveis de renda das distintas regiões brasileiras reflete, entre outros aspectos, a desigual distribuição espacial das atividades produtivas no país. Existem evidências de que o processo de relativa desconcentração das atividades econômicas observado no Brasil, iniciado no final da década de 1960, se arrefeceu ou até mesmo sofreu reversão na década de Assim, as disparidades regionais de salário não devem ser consideradas como uma simples compensação dos diferenciais locais de custo de vida. Esses diferenciais também espelham, em parte, variados níveis de eficiência urbana, sendo esta decorrente, dentre outros fatores, das vantagens/desvantagens locacionais desses centros. Nesta linha, COMBES et al. (2004) afirmam que os diferenciais reais de produtividade entre regiões podem se expressar tanto nos diferenciais de salário quanto nos preços dos fatores de produção não trabalho. Tornando se uma das características importante do mercado de trabalho brasileiro, a ocorrência de diferenças salariais. Essa questão é um tanto delicada, pois o salário mínimo é criado a fim de corrigir a imperfeição do mercado de trabalho capitalista e garantir ao trabalhador e família condições básicas de subsistência, não atingiu seu objetivo, pois, após a fixação de seu primeiro valor em 1940, seu poder aquisitivo tendeu a cair muito até hoje (ARBEX 2000). Com isso a região é outro determinante importante do rendimento agrícola, por causa dos diferenciais de nível técnico e produtividade, entre outros aspectos ligados às disparidades regionais (Corrêa, 1998). A renda de um agricultor residente em São Paulo, na região Centro-Oeste, Sul e na região Sudeste menos o Estado de São Paulo (ES+RJ+MG), tende a ser, respectivamente, 76,2%, 53,6%, 37,5% e 23,8% superior à dos residentes no Nordeste. Em 2002, a renda média de todos os trabalhos das pessoas ocupadas no setor agrícola é R$ 336,50, pouco mais da metade da renda média na indústria (R$ 613,50) e nos serviços (R$ 656,30). A desigualdade no setor primário é bem maior do que na indústria e nos serviços, porque a proporção da renda apropriada pelos agricultores 10%, 5% e 1% mais ricos é muito superior à parcela apropriada por essas frações da população ocupada nos demais setores. Em 2002, eles receberam, respectivamente, 48,4%, 37,7% e 19% da renda total agrícola, enquanto a parcela recebida pelos 50% mais pobres foi de 16,5%. (HOFFMANN e NEY, 2004). Dentro deste contexto apresentado, o trabalho tem por objetivo avaliar o grau de concentração salarial presente nas ocupações agropecuárias no período de 2002 a 2013 através de um comparativo da concentração apresentada nas regiões Nordeste e Sudeste. 2. Procedimento metodológicos A classificação empregada neste trabalho segue o critério proposto pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), originada em Esta classificação agrupa o emprego em

399 grandes grupos ocupacionais, que por sua vez são subdivididos em 47 subgrupos principais, 192 subgrupos e 596 grupos de base e famílias ocupacionais. Desta forma, este trabalho empregará os dados referentes ao emprego dos ocupados do grande grupo trabalhadores agropecuários, florestais e da pesca, sendo este grupo subdividido em 14 subgrupos de ocupações que são: produtores agropecuários, produtores agrícolas, produtores em pecuária, supervisores na exploração agropecuária, trabalhadores na exploração agropecuária em geral, trabalhadores agrícolas, trabalhadores na pecuária, supervisores na exploração florestal e pesca, pescadores e caçadores, extrativistas florestais, trabalhadores da mecanização agropecuária, trabalhadores da mecanização florestal e trabalhadores da irrigação e drenagem. A vantagem da CBO sobre outras classificações existentes é o fato dela seguir um critério ocupacional, focando nas atividades existentes dentro de um dado grupo produtivo ou ocupacional. Desta forma, ela apresenta um grau de detalhamento maior, permitindo analisar os grandes grupos de forma mais detalhada (IBGE, 2015). A base de dados empregada neste trabalho é proveniente da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), mantida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e compreende informações relativas ao número de empregados por faixa salarial e número de empregados segundo subgrupos, referentes aos anos de 2002 a 2013 e abrangendo as Regiões Nordeste e Sudeste. Como método empírico, será empregado o indicador da concentração salarial. Este indicador é expresso pelo percentual de empregados que recebem até2 salários mínimos em relação ao total de trabalhadores empregados, tendo como limites zero e 100%, conforme pode ser visualizado na equação a seguir. ICS 2 L 0 i L 0 Tal indicador, apesar de simples, possui a capacidade de dimensionar o grau da remuneração recebida pelos trabalhadores no âmbito da agropecuária. 3. Análise dos Resultados Análise dos resultados do Índice de Concentração Salarial no Nordeste O Índice de Concentração Salarial apresenta o percentual de trabalhadores que ganham até dois salários mínimos em relação às demais faixas salariais, no caso da categoria de Produtores Agropecuários em Geral o percentual de trabalhadores que ganham até dois salários mínimos ficou durante os dez anos sempre acima de 90%, atingindo até 96% em 2004 e 2006 e finalizando o ultimo período (2013) em 95%, confirmando, dessa forma, os resultados apresentados pelo Índice de Média Salarial nessa categoria, que estiveram sempre abaixo de 2 salários mínimos. No caso das categorias de Produtores Agrícolas e de Produtores em Pecuária o percentual da concentração salarial reforçou os resultados apresentados pelo Índice de Média Salarial, pois esteve sempre igual ou acima de 65%, ou seja, a maioria dos trabalhadores dessas categorias ganha até dois salários mínimos, refletindo-se positivamente com os resultados do Índice de Média Salarial os quais estiveram sempre abaixo de dois. Para a categoria de Supervisores na Exploração Agropecuária os resultados mantiveram durante os dez anos sempre igual ou abaixo de 50%, mais uma vez ao cruzar as informações do Índice de Concentração Salarial com as do Índice de Média Salarial elas se completam, pois a média salarial durante os dez anos manteve-se sempre acima de 399

400 dois salários mínimos comprovando o percentual de concentração salarial igual ou abaixo de 50% no período. As categorias de trabalhadores na Exploração Agropecuária em Geral; Trabalhadores Agrícolas; e Trabalhadores na Pecuária apresentaram elevados percentuais de concentração salarial abaixo de dois mínimos, no decorrer do período analisado os percentuais foram sempre de 72% acima, novamente os resultados da média salarial são comprovados. Com relação à categoria Supervisores na Exploração Florestal e Pesca em todos os anos o percentual esteve abaixo de 50%, demonstrando que a concentração de trabalhadores que ganham até dois salários mínimos não é alta Nas categorias de Pescadores e Caçadores; Extrativistas Florestais; e Trabalhadores da Mecanização Agropecuária o níveis de concentração salarial estiveram, na maioria dos casos, superiores a 50%, as exceções foram nas categorias de Pescadores e Caçadores (42%) e de Trabalhadores da Mecanização Agropecuária (34%) ambas em Essas duas categorias apresentaram nesse ano as melhores médias salariais dentre as observadas nos demais anos. No caso da categoria de Trabalhadores da Mecanização Florestal o percentual de trabalhadores que ganham até dois mínimos manteve-se sempre abaixo de 50%. Para a categoria de Trabalhadores da Irrigação e Drenagem o percentual de concentração salarial de trabalhadores que ganham até dois mínimos manteve-se, na maioria dos anos, elevado, a exceção foi o ano de 2003 onde o percentual da concentração salarial foi de 39%. Ao comparar esses resultados com os resultados do Índice de Média Salarial nota-se que no geral eles se confirmam pois as médias salariais apresentadas durantes os dez anos foram sempre menores que dois salários mínimos. Análise dos resultados do Índice de Concentração Salarial no Sudeste Para a categoria de Produtores Agropecuários em Geral o Índice de Concentração Salarial demonstrou que o percentual de trabalhadores que ganham até dois salários mínimos ficou durante os dez anos sempre acima de 90%, atingindo até 92% em 2009 e 2010 e finalizando o ultimo período (2013) em 90%, confirmando, dessa forma, os resultados apresentados pelo Índice de Média Salarial nessa categoria, que estiveram sempre abaixo de 2 salários mínimos. No caso das categorias de Produtores Agrícolas e de Produtores em Pecuária o percentual da concentração salarial reforçou os resultados apresentados pelo Índice de Média Salarial, pois esteve sempre igual ou acima de 65%, ou seja, a maioria dos trabalhadores dessas categorias ganha até dois salários mínimos, refletindo-se positivamente com os resultados do Índice de Média Salarial os quais estiveram na maioria abaixo de dois, pois em 2003 a categoria de Produtores Agrícolas apresentou uma média salarial superior a três salários mínimos. Para a categoria de Supervisores na Exploração Agropecuária os resultados mantiveram durante os dez anos sempre abaixo de 50%, mais uma vez ao cruzar as informações do Índice de Concentração Salarial com as do Índice de Média Salarial elas se completam. As categorias de trabalhadores na Exploração Agropecuária em Geral; Trabalhadores Agrícolas; e Trabalhadores na Pecuária apresentaram elevados percentuais de concentração salarial abaixo de dois mínimos, no decorrer do período analisado os percentuais foram sempre de 70% acima. Com relação à categoria Supervisores na Exploração Florestal e Pesca em todos os anos o percentual esteve abaixo de 50%, demonstrando que a concentração de trabalhadores que ganham até dois salários mínimos não é alta. Nas categorias de Pescadores e Caçadores; e Extrativistas Florestais o níveis de concentração salarial estiveram, na maioria dos casos, superiores a 50%, as exceções foram em 2003 (42%) e em 2004 (46%). 400

401 No caso da categoria de Trabalhadores da Mecanização Agropecuária o percentual de trabalhadores que ganham até dois mínimos manteve-se sempre abaixo de 50%, ou seja, não houve nenhum nível de concentração elevado de trabalhadores que ganham até dois salários mínimos. Com relação à categoria de Trabalhadores da Mecanização Florestal em todos os anos o percentual esteve abaixo de 50%, demonstrando que a concentração de trabalhadores que ganham até dois salários mínimos não é alta. Para a categoria de Trabalhadores da Irrigação e Drenagem o percentual de concentração salarial de trabalhadores que ganham até dois mínimos manteve-se, na maioria dos anos, de 50% acima, as exceções foram nos anos de 2003 (39%), 2004 (32%), 2005 (47%), 2012 (49%) e 2013 (46%). No geral o percentual de concentração salarial não ultrapassou ao longo do período 59%. Ao comparar esses resultados com os resultados do Índice de Média Salarial nota-se que no geral eles se confirmam, pois as médias salariais apresentadas durantes os dez anos foram sempre maiores que dois salários mínimos. 4. Considerações finais No caso do Índice de Concentração Salarial em todas as categorias os percentuais obtidos confirmaram os valores da média salarial, ou seja, em categorias com médias salariais abaixo de dois salários mínimos o percentual de concentração salarial apresentou-se mais elevado e viceversa. 5. Referências Bibliográficas 1º DE MAIO: dia do trabalho. A questão do salário mínimo. Boletim Dieese Disponível em: Acesso em março de ARBEX, M. A. Desemprego e Mercado de Trabalho: Ensaios Teóricos e Empíricos. Editora UFV, BARROS, A. L. M. (1999). Capital, produtividade e crescimento da agricultura: O Brasil de 1970 a Piracicaba. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo. BORGES, C.M. RIBEIRO, E. P. Mudanças nos diferenciais intersetoriais de salários no Brasil ( ). (2009) COMBES, P-P., DURANTON, G., GOBILLON, L. Spatial wage disparities: sorting matters! London: Centre for Economic Policy Research - CEPR, (Discussion paper, 4240). CORRÊA, A.M.C.J. Distribuição de renda e pobreza na agricultura brasileira ( ). Piracicaba, SP: Editora Unimep, p. FONTES, G.G; SIMÕES, R. F; OLIVEIRA, A. M. H. C. A. Diferenciais Regionais de Salário no Brasil, 1991 e 2000: uma aplicação dos modelos hierárquicos. Viçosa: UFV. Ensaios Teóricos e Empíricos,

402 HOFFMANN, R. & JAMAS, A. L. (1990).A produtividade da terra e do trabalho na agricultura de 332 microrregiões do Brasil. In Congresso Brasileiro de Economia e Sociologia Rural, 28, Curitiba, pages SOBER, Brasília. Anais IBGE INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

403 ÁREA TEMÁTICA: RECURSOS HÍDRICOS E POLÍTICAS PÚBLICAS GARANTIAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DE GRANDES AÇUDES DO SEMIÁRIDO E SEUS IMPACTOS NA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS RENATO DE OLIVEIRA FERNANDES Engenheiro Civil. Mestre em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Professor Assistente do Departamento de Construção Civil da Universidade Regional do Cariri (URCA). Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC). Tel. (88) / renatodeof@gmail.com PEDRO VICTOR BATISTA DE ALMEIDA Graduando do Curso Superior de Tecnologia da Construção Civil pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Bolsista no Programa Institucional de Iniciação Científica (PIBIC) na mesma instituição de ensino. Tel. (88) / pdrovictor3@gmail.com 403

404 GARANTIAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DE GRANDES AÇUDES DO SEMIÁRIDO E SEUS IMPACTOS NA GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS 1. Introdução Devido ao aumento progressivo da demanda por água e a ocorrência de períodos de escassez hídrica, a alocação eficiente dos recursos hídricos se tornou um desafio (Machado et al. 2012). Os diversos usos, muitas das vezes conflitantes, criam disputa pelo o uso da água, principalmente em períodos de escassez. No semiárido, onde a variabilidade temporal do escoamento superficial é muito acentuada, a presença de grandes açudes tem um papel fundamental no aumento da disponibilidade hídrica. Esses reservatórios acumulam água no período chuvoso, geralmente em três ou quatro meses do primeiro semestre, para uso, principalmente, no segundo semestre que é o período com pouca ou nenhuma chuva. Desse modo, os açudes atuam como reguladores das vazões naturais. O conhecimento das vazões naturais afluentes aos açudes e das vazões regularizadas por eles podem trazer diversos benefícios. Um desses benefícios é o planejamento da alocação da água em período de racionamento ou escassez hídrica. No Brasil, a definição das vazões a serem alocadas por usuário depende da outorga. Este instrumento de gestão está previsto na Lei 9.433/97 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e busca garantir o direito de acesso à água, bem como o controle quali-quantitativo. A outorga tem como base uma vazão de referência, que devido às diferentes condições hidrológicas do país, pode variar por unidades da federação. No Nordeste, a vazão de referência geralmente tem sido a vazão regularizada com 90% de garantia (Studart, 1997). O Ceará, por exemplo, adota 90% da vazão regularizada com 90% de garantia como a vazão máxima outorgável por bacia (Ceará, 2012). A vazão regularizada com 90% de garantia é conhecida por Q90 e o seu valor indica que em 90% do período analisado o sistema foi capaz de atender ou superar as demandas, ou seja, a frequência de não atendimento (ou falhas) foi de apenas 10%. Apesar da vazão de referência ser um parâmetro essencial para a definição da outorga, a aplicação de um valor constante para a garantia de abastecimento dos usos múltiplos pode reduzir ainda mais a disponibilidade da água e limitar o desenvolvimento (Cirilo e Asfora, 2005). Isso ocorre, porque geralmente as outorgas concedidas possuem altas garantias de abastecimento e alguns empreendimentos poderiam ser gerenciados com garantias menores. Assim, para o cumprimento das garantias das vazões outorgadas, pode ser necessário reduzir os números de outorgas concedidas para outros usuários e ainda manter grandes estoques de água no reservatório. Por outro lado, a manutenção de grandes volumes em reservatórios superficiais em regiões semiáridas implica também em grandes perdas por evaporação. Para minimizar este problema, empreendimentos menos exigentes quanto às possíveis falhas no sistema de abastecimento de água poderiam se beneficiar da redução das garantias de abastecimento e possibilitar o aumento da vazão outorgada. Esta condição aumentaria os riscos de desabastecimento em períodos críticos, mas poderia minimizar perdas econômicas devido ao não uso da água, por exemplo, no aumento da produção industrial ou na expansão da área agrícola. Desse modo, as decisões tomadas quanto à alocação da água em regiões com escassez relativa da água são complexas e devem ponderar as perdas econômicas pelo racionamento da água, como por exemplo, na irrigação e na indústria, e ao mesmo tempo respeitar as prioridades de usos previstos pela Lei 9.433/97 para períodos de escassez hídrica. Nesse contexto, este estudo avalia a variação das vazões de regularização de dois grandes reservatórios localizados no semiárido Nordestino e suas implicações na aplicação da outorga. Os reservatórios estudados são o Castanhão e Banabuiú. Estes açudes são estratégicos para o 404

405 desenvolvimento do estado do Ceará por fornecer água para vários usos e perenizar aproximadamente 470 km dos rios Jaguaribe e Banabuiú, beneficiando 19 municípios. 2. Metodologia No Ceará, em pequeno prazo, as vazões de água alocadas dos reservatórios para os usos múltiplos são determinadas no final do primeiro semestre de cada ano (geralmente no mês de junho) nas chamadas reuniões de alocação negociada de água e seminários de planejamento (Aquino et al, 2013; Silva et al, 1996). Nestas reuniões e seminários são feitas simulações de esvaziamento dos reservatórios considerando o estoque de água e o cadastro de demandas do ano anterior. Devido uma forte aversão aos riscos climáticos da região, as decisões são tomadas considerando a inexistência de aportes de água no reservatório no segundo semestre (estação seca). Em longo prazo, a outorga de uso da água determina as alocações (Aquino et al., 2013) e tem como parâmetro uma vazão de referência. Estabelecer grandes vazões de abastecimento com garantias altas é um desafio em regiões áridas e semiáridas, principalmente, pelo baixo índice pluviométrico, grandes perdas de água por evaporação e longos períodos sem aportes de água nos mananciais. Assim, se por um lado se pode aumentar a garantia de abastecimento com a redução do valor da vazão regularizada, por outro lado, esta mesma alternativa implica no aumento das perdas por evaporação da superfície líquida nos reservatórios durante o tempo em que a água está armazenada. Para determinar os valores das vazões de abastecimento para diferentes garantias, geralmente são usados modelos de operação de reservatórios (Tucci, 1998). Estes modelos fazem o balanço hídrico do reservatório verificando o atendimento às demandas (ou as falhas) e o volume armazenado para cada intervalo de tempo. Os dados usados nesses estudos incluem as características físicas do reservatório e as características climáticas e hidrológicas da bacia hidráulica do reservatório Simulação das vazões regularizadas pelos açudes Castanhão e Banabuiú As simulações das vazões regularizadas pelos açudes Castanhão e Banabuiú (Figura 1) foram realizadas com o modelo Acquanet. Esse modelo faz uso combinado das técnicas de simulação e de otimização para determinar a alocação da água em sistemas de recursos hídricos complexos sujeitos a restrições operacionais e prioridades de atendimento às demandas (Porto et al., 2005). Os dados de entrada do modelo foram às séries de vazões médias mensais observadas para o período de 1983 a 2013 em três estações fluviométricas da Agência Nacional das Águas (ANA) a montante dos dois reservatórios. As características físicas dos reservatórios e a evaporação observada são os valores apresentados pelo inventário ambiental dos dois reservatórios (SRH, 2011). O Castanhão é o maior açude do estado do Ceará com capacidade para armazenar 6,7 bilhões de m 3 sendo o principal responsável por regularizar as vazões do Rio Jaguaribe nas subbacias do baixo Jaguaribe e parte do médio Jaguaribe. O Banabuiú com capacidade máxima de 1,6 bilhões de m 3 (o terceiro maior açude do estado) regulariza as águas do Rio Banabuiú que é o principal afluente do Rio Jaguaribe. Os principais usuários de água do Rio Jaguaribe são os irrigantes, os aquicultores, as concessionárias de água, e uma demanda agregada do complexo industrial da região metropolitana, da agroindústria e dos sistemas agrícolas no trecho do canal do trabalhador (Pinheiro et al. 2007). 405

406 Figura 1. Mapa de localização dos açudes Castanhão e Banabuiú, rede de drenagem principal e estações fluviométricas da Agência Nacional das Águas (ANA) usadas nesse estudo Modelo AcquaNet O principio básico para utilização do AcquaNet (Porto, 1995) é que o sistema é representado na rede como nós, sendo nós de volume (reservatórios) e nós que não são de volume, também chamados nós de passagem (confluências, pontos de desvio, pontos de entrada e pontos de demanda) e arcos ou elos (canais, adutoras e trechos naturais de rios). Para considerar as demandas, as vazões afluentes e regras de operação desejadas do reservatório, diversos nós e arcos artificiais deverão ser criados de forma a assegurar que o balanço de massa seja satisfeito em toda a rede. O balanço hídrico feito nos reservatórios pelo modelo é realizado por um algoritmo que considera basicamente a variação do volume em relação ao tempo a partir das vazões que entram e que saem do reservatório (equação 1). S t+ t = S t + V E V S (1) Onde St corresponde ao volume armazenado no reservatório no início do intervalo de tempo, St+ t corresponde ao volume no reservatório no final do intervalo de tempo, VE é o volume de entrada, que corresponde à vazão afluente ao açude multiplicado pelo intervalo de tempo t (nesse estudo o intervalo de tempo é mensal) e VS é o volume total de saída, que corresponde, principalmente, às demandas para atender aos usos múltiplos e as perdas por evaporação. Ocorre uma falha toda vez que o volume de saída (VS) for superior ao volume útil armazenado no reservatório. A Figura 2 apresenta a rede de fluxo elaborada no modelo AcquaNet e usada para simular as vazões regularizadas pelos dois reservatórios em estudo. Os elementos Qreg_banab e Qreg_cast representam as demandas de água nos açudes Banabuiú e Castanhão, respectivamente. Os elos L1 e L2 representam trechos do Rio Banabuiú, enquanto L3, L4 e L5 representam o Rio Jaguaribe e sua confluência com o Rio Banabuiú no nó denominado de JUNÇÃO. O dreno é uma abstração usada no modelo para representar a água que excede as demandas com maiores prioridades. 406

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