O Urso Polar pede ajuda a Nanuq

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1 O Urso Polar pede ajuda a Nanuq Um casal de ursos polares estava numa geleira no Ártico quando ouviram um terrível crac. O iceberg onde o urso e a ursa estavam começou a se mover, avançando mar adentro. Deve ser o efeito estufa que os homens estão nos aprontando comentou a ursa cheia de medo. Ela se deu conta, de repente, que sua casa, seus amigos e amigas, os caminhos que conhecia, os esconderijos das focas, tudo, en m, de que ela gostava ia se distanciando. No início a ursa quis consolar o urso, mas ele, em pânico, se abra ça va a ela. A custo ela o convenceu de que o melhor seria pularem juntos na mar e nadar de volta à margem. 12

2 Assim zeram. No início foi fácil, mas depois de um tempo veio o cansaço, o frio e a fome. Porém, não pararam de nadar, pois se parassem, morreriam. Foi nesse momento que o urso polar teve a idéia de rezar a Nanuq, o Senhor dos Ursos Polares. Oh, Nanuq, Senhor dos Ursos Polares, me ajuda a voltar pra casa. Eu tenho certeza de que seremos bons pelo resto de nossa vida se conseguirmos sobreviver. E por ter certeza de que vai me ajudar, me desculpe, agora vou descansar um pouco. A ursa polar olhou estarrecida ao ver o urso afundando. Às pressas, mordeu o pêlo do pescoço do urso polar e puxou-o de volta à superfície. Por que deixou de nadar? perguntou ela. Pedi ajuda a Nanuq e, como ele ia me ajudar, achei que não precisava mais me esforçar. A ursa olhou incrédula para o urso: Reze, mas faça a sua parte! 13

3 O cachorro que deixou de ser bobo As lmagens que estavam sendo realizadas sobre uma ponte tinham sido interrompidas porque, num acesso de vaidade, o artista principal trancara-se no camarim. Nesse momento passava por ali um cachorro magro. Você quer trabalhar no nosso lme? perguntou o diretor. O cachorro magro olhou para a ponte, para o rio, para as câmeras e para o grande número de animais que lá se encontrava. Entre eles havia a rã e o boi, uma raposa comendo um cacho de uvas verdes e até mesmo uma cegonha com um prato de sopa. O cachorro magro respondeu com outra pergunta: Por acaso estão lmando as Fábulas de Esopo? O diretor cou espantado: 14

4 Como você descobriu? Digamos que tenho um pouco de expe riência. Sim, as Fábulas de Esopo. Aceita trabalhar numa delas? Muito obrigado! Cachorro em fábula só faz papel de bobo. Que é isso, cachorro! Fábulas são fábulas. E veja bem: você está magro. Duvido que tenha comido bem nesses últimos tempos. Se participar, ganha um bom dinheiro. E o que tenho de fazer? perguntou o cachorro, de estômago vazio. Quase nada. Você vem pela ponte com um osso. Olha seu vulto re etido nas águas do rio. Enxerga lá embaixo a imagem de um osso muito maior, larga o que vem trazendo e mergulha no rio. Você quer dizer que eu co sem osso algum? Isso mesmo. Seguimos rigorosamente o roteiro. Certo! Se é isso, tudo bem. Antes de começar, o próprio cachorro magro foi ao açougue e comprou dois ossos de boa qualidade, um para ser perdido durante a cena do afogamento, conforme o roteiro, e outro para comer depois. E impôs uma condição: Vamos lmar numa parte do rio bem rasa, porque não sei nadar. As lmagens começaram e, no m, o diretor não continha seu entusiasmo. O cachorro magro tinha atuado de forma magní ca. Jogara-se da ponte e, depois de improvisar uma cena dramática de afogamento, tinha reaparecido na margem do rio são e salvo. Recebeu o dinheiro a que tinha direito e foi comer seu osso debaixo de um pé de jacarandá. Tem cachorro que se faz de bobo para passar bem. 15

5 A raposa zoolímpica Uma raposa devia fazer uma série de exercícios de ginástica olímpica na fase classi catória das Zoolimpíadas. Estava se saindo muito bem, mas pisou em falso durante um salto triplo. Reclamou quando o juiz lhe tirou alguns pontos: Isso é injusto! A culpa não foi minha. O juiz achou graça, reconhecendo que a raposa era engraçada e tinha muito espírito esportivo. A raposa, porém, nem tinha espírito esportivo nem achava graça. Ao chegar em casa, beliscou o pé diversas vezes. Amanhã tenho outra chance, pensou, conformada. No dia seguinte, a raposa foi mancando para o estádio olímpico. Seu pé estava muito inchado. Na primeira prova do dia, ao tentar um duplo twist carpado, um dos saltos mais difíceis da ginástica olímpica, caiu de mau jeito e foi desclassi cada. No caminho para casa, antes de chegar à oresta, parou numa trilha e começou a bater no pé com uma pedra: É pra aprender a não escorregar durante a competição disse, furiosa e depois tropeçou de propósito em um toco. E voltou para casa mancando ainda mais. Quando a gente cai, não é culpa do pé. 16

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