SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
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- Alessandra Aldeia Conceição
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1 Florianópolis (SC), 21 de julho de O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Santa Catarina (CRMV- SC), em reunião com os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária dos Estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Ceará, onde recebeu apoio desses Conselhos, a respeito da preocupação sobre a proposta de mudança do Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal (RIISPOA), promovida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A referida proposta encontra-se em consulta pública e tem por finalidade adequar o desrespeito à legislação hoje em vigor, transformando a inspeção e fiscalização industrial e sanitária de produtos de origem animal, de permanente ou periódica, através de auditorias, com a passagem de responsabilidades para a indústria produtora, ou seja, abrindo mão de um ato de polícia para um ato de mera vontade particular/empresário. Esta experiência tem se demonstrado ineficiente e os exemplos surgidos com freqüências (escândalos do leite UHT e adição de água ao frango), têm demonstrado grave problema a saúde pública e golpe contra a economia popular. O MAPA vem priorizando os estabelecimentos exportadores, especialmente os de carnes (abatedouros), em detrimento daqueles que comercializam para o mercado interno, a população brasileira como um todo. Para exemplificar, no caso do Estado de Minas Gerais, onde ocorreu o incidente com o leite UHT, existem menos de 200 Médicos Veterinários Fiscais Agropecuários, para um número aproximado de indústrias na área de leite. Situação calamitosa do ponto de vista sanitário e higiênico. A proposta do MAPA fere frontalmente a Lei n 1.283, de 18 de dezembro de 1950 que estabelece em seu artigo 1º a obrigatoriedade da prévia fiscalização, sob o ponto de vista industrial e sanitário de todos os produtos de origem animal, estando sujeitos a fiscalização prevista nesta Lei os animais destinados à matança, seus produtos e subprodutos e matérias-primas, o pescado e seus derivados, o leite e seus derivados, o ovo e seus derivados, o mel e cera de abelha e seus derivados.
2 Ainda o art. 3º da mesma Lei, estabelece que a fiscalização far-se-á: a) nos estabelecimentos industriais especializados e nas propriedades rurais com instalações adequadas para a matança de animais e o seu preparo ou industrialização, sob qualquer forma para o consumo; b) nos entrepostos de recebimento e distribuição do pescado e nas fábricas que o industrializem; c) nas usinas de beneficiamento do leite, nas fábricas de laticínios, nos postos de recebimento, refrigeração e desnatagem do leite ou de recebimento, refrigeração e manipulação dos seus derivados e nos respectivos entrepostos; d) nos entrepostos de ovos e nas fábricas de produtos derivados; e) nos entrepostos que, de modo geral, recebem, manipulam, armazenam, conservam ou acondicionam produtos de origem animal; f) nas propriedades rurais; g) nas casas atacadistas e nos estabelecimentos varejistas. Para a realização da prévia fiscalização é obrigatório, e necessário a presença do Médico Veterinário, e na condição de agente público, com poder de polícia, quando dos procedimentos de inspeção, julgamento e destinação dos produtos, subprodutos e matériasprimas, e de fiscalização das atividades de processamento e das condições de higiene operacional. A ação é indelegável por disposição constitucional, pelo caráter de poder de polícia como ação de Estado, que lhe é competente, indelegável ao particular. Entendemos ser inadmissível que se transfira ao particular uma atividade do Estado, referente a Saúde Pública e, principalmente a segurança alimentar, haja vista estar quebrando os princípios da imparcialidade imposta pela Lei. O que o governo está pretendendo é passar seus encargos, indelegável ao particular, desconsiderando o custo social. Como imaginar que o empresário vai produzir e inspecionar sanitariamente seus produtos, através do seu funcionário, sem a devida independência para fazê-lo, tentando executar as tarefas de inspetor em nome da população. É difícil de imaginar essa possibilidade. Como empregado, o profissional, necessariamente obedece ao seu patrão que mantém seu vínculo empregatício, e deve trabalhar na defesa dos interesses patronais. Já como inspetor - particular, com freqüência, terá que agir contrariando interesses de seu empregador, podendo colocar em risco a sua estabilidade no trabalho. Impossível de imaginar a situação do Médico Veterinário para administrar o conflito de interesses em jogo, do seu patrão com saúde pública. Dados estatísticos do MAPA revelam que historicamente os números de condenações de matérias-primas e produtos de origem animal são significativos, gerando
3 prejuízos as empresas inspecionadas, garantindo, no entanto, a saúde do consumidor, como interessado maior no sistema sanitário. Na proposta do MAPA em seu art. 13 1º diz que: é obrigatório a inspeção em caráter permanente em estabelecimentos de abate das diferentes espécies animais, e no inciso I, diz que no que se refere ao pescado a inspeção permanente se aplica especificamente aos estabelecimentos de abate de répteis e anfíbios. Por último, no 2º, do mesmo artigo, diz que os demais estabelecimentos que constam nesse regulamento terão inspeção periódica. Com esse propósito, automaticamente, exclui os demais estabelecimentos, como na área de leite, de pescado (a exceção dos répteis e anfíbios), estabelecimentos de carnes que não realizam abate e estabelecimentos de ovos e mel, de possuírem inspeção permanente do MAPA. Transferindo esse trabalho ao próprio empresário. Ao mesmo tempo o inciso II do artigo 13 é contraditório ao 1 do art. 13, quando diz que os procedimentos de inspeção previstos nesse artigo poderão ser alterados (grifo nosso) mediante a aplicação da análise de risco, envolvendo, no que couber, toda a cadeia produtiva, segundo os preceitos instituídos e preconizados pelos organismos especializados reconhecidos internacionalmente, observados, no caso do abate (grifo nosso), as peculiaridades das diferentes espécies. Portanto, nem mesmo os estabelecimentos de abate é garantido a inspeção permanente. Dentre vários enunciados na proposta do MAPA sem justificativa legal é impossível de operacionalização, citaremos alguns: No art. 6, inciso I, diz das atribuições das ações do DIPOA coordenar e executar (grifo nosso), as atividades de inspeção e fiscalização industrial e sanitária dos estabelecimentos registrados ou relacionados no MAPA e dos produtos de origem animal, comestíveis ou não, e seus derivados, destinados ao comércio interestadual ou internacional. Como a regulamentação em discussão prevê inspeção permanente apenas nos abatedouros, como seriam executadas (grifo nosso) com inspeção periódica as seguintes atividades, entre outras? Art. 216 O julgamento das condições sanitárias(grifo nosso) do pescado resfriado e do congelado deve ser realizado de acordo com as normas previstas para o pescado fresco, naquilo que lhe for aplicável. Art. 217 Considera-se impróprio para o consumo, o pescado:
4 IV portador de lesões, doenças ou substâncias(grifo nosso) que possam prejudicar a saúde do consumidor. V que apresente infecção muscular maciça por parasitas; 1º - O pescado nas condições deste artigo deve ser condenado, podendo ser transformado em produto não comestível, considerando-se os riscos de sua utilização. (proprietário da empresa, responsável pela fiscalização e inspeção vai condenar, o produto impróprio?). Art. 701 Os produtos de origem animal, nacionais ou importados, quando devidamente rotulados, terão livre trânsito em território nacional e conforme o caso, além de rotulados devem estar acompanhados de certificado sanitário expedido em modelo próprio pela autoridade sanitária(grifo nosso) competente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Questiona-se: A autoridade sanitária vai assinar o certificado em seu escritório? A autoridade sanitária vai deixar certificados assinados em poder da empresa? A empresa só vai comercializar nos dias em que houver inspeção periódica? A autoridade sanitária vai assinar certificados atestando a qualidade dos produtos cuja fabricação não assistiu e não controlou? (Formulação, higiene do ambiente, dos operários, do equipamento). A proposta de reformulação parece querer convencer que os Programas de Análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle, Boas Práticas de Fabricação e Programa Padrão de Higiene Operacional substituiriam a inspeção permanente. Na realidade esses programas não são sistemas de inspeção e sim meras ferramentas que visam tornar a inspeção mais eficiente e melhor definir as responsabilidades. Agora acreditar que auditorias periódicas, para verificar a execução correta desses programas por parte das empresas, através de anotações, é de uma ingenuidade inacreditável. São públicas as ocorrências como a adição de formol no charque, excesso de amido em salsichas e mortadelas, adição de uma quantidade inacreditável de água no frango congelado, fraudes no beneficiamento do leite, essas as conhecidas.
5 Se o Brasil fosse um país onde não houvesse tanta impunidade, onde grande parte dos empresários tivessem uma mentalidade sanitária que se sobrepusesse aos lucros, e a ética não fosse uma moeda tão desvalorizada, até se admitiria discutir métodos de inspeção diferentes da Inspeção Permanente. Ainda em termos de legislação que fortalece o entendimento de função pública podemos citar a Lei nº , de 18 de dezembro de 1950, com a redação dada pela Lei nº , de 23 de novembro de 1989, ao estabelecer a competência privativa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, a inspeção sanitária e industrial de produtos de origem animal. Idêntico entendimento está contido no Decreto nº de 30/03/91, que regulamenta os artigos 27-A e 29-A da Lei de 17 de janeiro de 1991, em seu art. 142 que diz A inspeção higiênico-sanitária, tecnológica e industrial dos produtos de origem animal é da competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. A Lei de 17/01/91, regulamentado pelo Decreto nº de 30/06/06, em seus Artigos 27, 28 e 29 e artigo 133 do declinado dispositivo preconiza: o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que aderirem aos Sistemas Brasileiros de Inspeção de Produtos e Insumos Agropecuários assegurarão: II que o pessoal técnico e auxiliar que efetua as inspeções seja contratado por concurso público. IV previsão de poderes legais necessários para efetuar as inspeções e fiscalizações e adoção das medidas previstas neste Regulamento. Regulamentando o Decreto nº de 30/03/06, o MAPA através da Instrução Normativa nº. 19, de 24/07/06, em seu anexo I, no art. 8º do Inciso I - Recursos humanos em seu parágrafo 1º dizem que: Médicos Veterinários e auxiliares de inspeção, oficiais e capacitados, em número compatível com as atividades de inspeção, lotados no Serviço de Inspeção, que não tenham conflitos de interesses e possuam Poderes Legais para realizar a inspeção e fiscalização com imparcialidade e independência.. Do pouco acima dito, Senhor procurador do Ministério Público Federal, já convence a direção deste Conselho, com total apoio dos demais dirigentes dos Conselhos Regionais de Medicina Veterinária supra declinados, que os serviços de inspeção e fiscalização de produtos de origem animal, necessariamente, terão que ser feitos por Agentes Públicos com Poder de Polícia. Não é admissível permitir que sejam essas tarefas, tão importante e necessários a saúde pública, exercidas por empregados prepostos dos diretamente
6 envolvidos e interessados no processo produtivo do abate, industrialização até o consumo da população desses produtos. Isto posto, diante da gravidade do problema, solicitamos a Vossa Excelência a devida intervenção em face do MAPA/União Federal visando evitar que a população brasileira, mais uma vez, seja declarada órfão de qualquer proteção à segurança da sua saúde em função do consumo de produtos de origem animal e seus derivados. Na certeza da costumeira ação deste conceituado órgão, aproveitamos do ensejo para reiterar protestos de elevado respeito e consideração. Atenciosamente, Méd. Vet. Moacir Tonet Presidente do CRMV-SC CRMV-SC n 0837
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