ESPORTE: CONSTRUINDO CONHECIMENTO DE FORMA LÚDICA
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- Amália Maria das Dores Barbosa Ramires
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1 ESPORTE: CONSTRUINDO CONHECIMENTO DE FORMA LÚDICA Profª Esp. Míria Márcia Monteiro E. M. Profº. Leôncio do Carmo Chaves UDI - miriamont@bol.com.br Resumo A educação física é uma área de conhecimento humano que trabalha pedagogicamente com as práticas sociais como o esporte, atribuindo-lhe sentido/significado. No contexto do Planejamento Coletivo do Trabalho Pedagógico, situado numa perspectiva dinâmico-dialógica de Educação, as Estratégias de Ensino visam desenvolver o pensamento dialético, do/a professor/a e do/a aluno/a, elevar sua consciência crítica, utilizando e transformando esta e outras manifestações culturais. Neste sentido cabe ao processo metodológico de ensino contemplar ações que visam o desenvolvimento das competências Instrumental, Social e Comunicativa, necessárias para que o/a aluno/a compreenda o esporte, seus múltiplos sentidos e significados, para nele poder agir com liberdade e autonomia valorizando sempre o diálogo na mediatização dos seus interesses individuais com os interesses coletivos e o respeito nas questões relativas a gênero, raça ou habilidade. O presente trabalho tem como objetivo, apresentar uma Estratégia de Ensino, desenvolvida coletivamente com alunos da 3ª e 4ª séries do ensino fundamental da Rede Municipal de Ensino. Introdução A Escola Municipal Profº Leôncio do Carmo Chaves está localizada no bairro planalto, possui 1658 alunos de 1ª a 8ª séries, distribuídos em 3 turnos, sendo 18 salas no turno da manhã, 18 no da tarde e 13 no da noite, e conta com uma quadra poliesportiva, uma área cimentada, com marcações de vôlei e futsal e um quiosque. Estou nesta escola desde 1992, seis meses depois de sua inauguração. Trabalho com as turmas de 2ª a 4ª séries. Inicialmente as aulas eram ministradas com base em modelos mecanicistas de Educação Física. Atualmente procuro desenvolver, dentro de minhas possibilidades e limitações, o PBE Plano Básico de Ensino- NEPEEC/UFU - SME/RME-EDUCAÇÃO FÍSICA - ESEBA/UFU. A equipe de Educação Física da escola conta com 7 professores, dos quais 4 são efetivos na escola e 3 foram contratados este ano, sendo que dos efetivos, apenas 2 apresentaram interesse em trabalhar na proposta da Rede. Não temos coordenação de área na escola e não trabalhamos de forma integrada, cada um desenvolve, separadamente, o trabalho que acredita. 56
2 Esporadicamente desenvolvemos algo coletivamente, infelizmente ainda nos falta um projeto político pedagógico para a área na escola. Este perfil de equipe dificulta muito o desenvolvimento do PBE, pois além de impossibilitar uma seqüência no trabalho, os alunos percebem que determinado professor não trabalha em sala de aula, não usa caderno e dá muito futebol, o que na visão deles é um modelo de boa aula. De acordo com este contexto de trabalho estou tentando implementar o PBE (Plano Básico de Ensino) dentro de uma concepção crítica da educação, sendo, portanto o objetivo desta apresentação descrever e analisar criticamente uma Estratégia de Ensino, desenvolvida no 2º semestre de 2003 que trata do Eixo Temático: Esporte, Indivíduo e Sociedade. A partir da análise de teorias de aprendizagem e do processo de construção do conhecimento, numa perspectiva dialética de educação, optamos por trabalhar com Zonas de Desenvolvimento Potencial do/a aluno/a. As Zonas de Desenvolvimento encontram-se agrupadas de dois em dois anos/séries, desde o ensino infantil até o ensino fundamental. Com a finalidade de orientar a elaboração e modificação das Estratégias. A Estratégia apresentada foi desenvolvida com crianças de 3ª e 4ª séries, portanto na Zona de desenvolvimento 3. Nesta fase, o/a aluno/a já consegue utilizar o raciocínio sincrético como parte dos processos de análise e compreensão da realidade, demonstrando ser capaz de identificar, analisar criticamente e descrever os elementos constitutivos dos objetos, nesta Estratégia em específico os elementos do Jogo, dos costumes e dos sentimentos, demonstrando assim, a elevação do seu raciocínio crítico por indagação teórica sobre as causas e efeitos, por resistências às opiniões dos adultos e por identificação emocional com os pares do mesmo sexo (PBE/EF). Eixo Temático - Esporte, Indivíduo e Sociedade As modalidades esportivas ministradas nas escolas têm sido reproduzidas em conteúdos normatizados e padronizados, em que o jogo é realizado por meio de suas regras e espaços apropriados. Atuando nesse sentido, impede-se a construção de outros movimentos, que podem ser desenvolvidos criativamente entre os/as alunos/as (PBE/EF -1996). Em vez de apenas copiar as possibilidades preestabelecidas de movimento no esporte, professores e alunos devem ser desafiados a transformar didático-pedagogicamente o esporte de tal maneira que, independente do talento de cada aluno... todos tenham possibilidades de vivenciar experiências de movimentos e sentimentos variados que o esporte propicia, sem necessariamente dar ênfase ao desenvolvimento da perfeição técnica dos gestos esportivos, o que normalmente somente os bons conseguem executar (KUNZ, 1994, p.125). 57
3 O ensino do esporte, numa perspectiva ampliada, deve ter como finalidade que os/as alunos/as adquiram, de forma crítica e prazerosa, competências de caráter instrumental, social e comunicativa 1, em situações dinâmico-dialógicas de ensino, tomando coletivamente consciência das diferentes e variadas formas de comportamento e de participação social, na medida em que se procura refletir e internalizar o resultado do que se faz e do que se fala, assim como suas implicações sociais e individuais. Para atingir essas competências, torna-se necessário a busca de uma relação ensino-aprendizagem com caráter problematizador, com utilização de metodologias de ensino que sejam coletivamente construídas e se procure dar aos/às alunos/as maior independência e espontaneidade para favorecer um ensino crítico-social. (MUÑOZ PALAFOX, 1997). 1 O estudo das competências educacionais vem sendo assumido a partir de uma leitura crítica de Habermas, bem como de referenciais filosóficos que apontam para três dimensões da existência humana, produtiva, social e simbolizadora, de onde advêm os interesses de conhecimento humano e portanto suas competências para agir na realidade concreta. 58
4 Sequenciador de Aula e Unidade de Avanço Programático - Eixo Temático: Esporte Indivíduo e Sociedade (Teoria e Prática) OBJETIVOS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS OBSERVAÇÕES/CONTINGÊNCIAS OBJETIVO GERAL: O/A aluno/a reproduzirá criticamente, modificará e criará as regras de uma determinada modalidade esportiva, baseados no princípio da cooperação, cujos fundamentos são a valorização do diálogo e o trabalho coletivo. Ao final do processo, deverá ser capaz de agir instrumental, comunicativa e socialmente, utilizando o conhecimento acumulado como elemento de desenvolvimento de sua personalidade. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Identificar os conhecimentos que os alunos possuem sobre as modalidades esportivas. Preparação do processo: Xerocar os textos que serão utilizados nas aulas (ANEXOS) Providenciar revistas e jornais para recorte (alunos que não possuem em casa). Preparar a fita e o vídeo cassete 1ª e 2ª Aula: Apresentar a estratégia de Ensino a ser desenvolvida nos Esportes (na aula que precede o início da Estratégia solicitar que as crianças tragam recortes de revistas e jornais que contenham figuras identificadas por eles como sendo de esportes). Recorte e colagem de figuras sobre os esportes com seus respectivos nomes, no caderno. Apresentação de Vídeo e/ou texto para identificação dos nomes dos esportes. As diferenças conceituais entre brincadeira, jogo e esporte já foram trabalhadas na estratégia anterior. Cada aluno fará a colagem das figuras de esportes que encontrou. Os alunos podem trocar figuras repetidas com os colegas. Durante a apresentação do vídeo os alunos vão dizendo o nome e outras coisas que sabem sobre o esporte 59
5 Conhecer a história da modalidade esportiva Identificar os elementos constitutivos do esporte (gestos que caracterizam o jogo da modalidade esportiva) escolhido, a partir do estudo de um texto com figuras. Reconhecer a necessidade de conhecer e definir coletivamente as regras que serão necessárias para que o jogo aconteça de acordo com as necessidades do grupo. Refletir criticamente sobre o processo vivenciado, evidenciando o resultado positivo da construção e organização coletiva da modalidade esportiva. 3ª Aula: Leitura coletiva de um pequeno texto sobre a história da modalidade O texto é colado no caderno A turma é dividida em grupos de trabalho e a professora entrega um texto contendo os elementos constitutivos da modalidade estudada, com as respectivas figuras para identificação pelos alunos. O grupo analisa o material e, no caderno, organiza a colagem das figuras relacionandoas com o elemento constitutivo. 4ª e 5ª Aula: Vivenciar uma aula da modalidade esportiva procurando utilizar as regras conhecidas pela turma Durante o jogo a professora intervém, problematizando com a turma as situações e dificuldades enfrentadas, orientando para a necessidade da modificação das regras para que o jogo aconteça. Os alunos farão o registro no caderno das seguintes perguntas: 1- Qual o objetivo do jogo? 2 Como se joga? 3- Quais as regras que serão utilizadas? 6ª a 12ª Aula: Vivenciar o jogo com as novas regras construídas coletivamente. texto utilizado na história do esporte foi retirado da caixa de Sucrilhos Kellogg s A escolha da modalidade se dará levando em consideração a utilização da quadra e dos materiais pelos outros professores. Caso o grupo tenha dúvidas quanto ao nome de algum elemento, deixa para colar após a socialização do conhecimento. Como neste jogo não se definiu as regras anteriormente, ocorre que os alunos não conseguem realiza-lo devido à bagunça gerada. Na medida em que tentam utilizar as regras oficiais do esporte, as crianças percebem claramente a necessidade de sua mudança As discussões são conduzidas para que as soluções encontradas pela turma sejam no sentido de garantir a participação de todos, sem exclusão. A mudança das regras inclui até mesmo o tipo de material utilizado O/A professor/a deve dar ênfase a construção coletiva do processo de mudança das regras, tão necessário para a resolução dos conflitos existentes anteriormente. 60
6 Principais Observações do Trabalho da Educação Física na Escola FALTA DE PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO PARA A ÀREA: a equipe de professores de educação física não trabalha de forma integrada, cada professor defende e trabalha individualmente sua proposta. TEMPO DE AULA E NÚMERO DE ALUNOS POR TURMA: a duração de 50 da aula e o excessivo número de 36 alunos por turma dificultam a realização do trabalho em grupos, pois quando se consegue montar os grupos a aula já está acabando. OCUPAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO DA AULA: quando falta professor de outra disciplina, a equipe pedagógica manda a turma para a quadra com a eventual, ela não consegue controlar a turma e, então, os alunos começam a tumultuar a minha aula pedindo para eu emprestar bola ou deixar eles fazerem a minha aula. DESCONHECIMENTO DO PBE E FALTA DE TEMPO PARA EXPLICAR: as equipes pedagógicas e administrativas e demais colegas de outras disciplinas não conhecem o trabalho da área, devido, dentre outros aspectos, a constante rotatividade do quadro de funcionários, sem contar a falta de tempo para nos reunirmos e explicar a proposta. FALTA DE APOIO DA EQUIPE PEDAGÓGICA DA ESCOLA: falta maior interesse por parte da orientação e supervisão. Muitas vezes, não tenho o auxílio que necessito para realizar o trabalho. FALTA DE INTERESSE DOS PAIS: a maioria dos pais não adquire os materiais necessários e não se interessam pela vida escolar dos filhos. Considerações Finais Já há alguns anos venho tentando trabalhar no sentido de superar a visão tecnicista do ensino do esporte escolar, a qual não acredito mais e não concebo enquanto ação didático-pedagógica capaz de formar o sujeito crítico que desejamos, pois a mesma não apresenta elementos de formação geral, além de fomentar vivências de sucesso para a minoria e fracasso para a maioria. Neste sentido acredito que as Estratégias de Ensino elaboradas e desenvolvidas numa perspectiva crítica auxiliam muito mais o aluno a pensar, a se comunicar e relacionar, a ter vivências mais prazerosas e autônomas. No decorrer da aplicação da Estratégia de Ensino pode-se observar que são criados espaços onde os alunos desenvolvem coletivamente a capacidade de refletir, discutir organizar e superar conflitos, adquirindo valores necessários para a mudança de seus hábitos e práticas sociais, compreendendo as relações e intervindo para modificá-las, beneficiando-se dos interesses coletivos em detrimento dos individuais. 61
7 Referências Bibliográficas BRACHT, V. Educação Física e Aprendizagem Social. Porto Alegre: Magister, KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do Esporte. Injuí: Unijuí, MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H. Intervenção Político-Pedagógica: a necessidade do planejamento de currículo e da formação continuada para a transformação da prática educativa. Tese de doutorado, São Paulo: PUC/SP, MUÑOZ PALAFOX, Gabriel H., TERRA, Dinah V., PIROLO, Alda L. Educação Física: Uma Abordagem Dinâmico-Dialógica. Revista da Educação Física/UEM 8(1),1997. PBE/SME/UDI Plano Básico de Ensino da Educação Física Escolar. Uberlândia, Proposta curricular da Rede Municipal de Ensino, REVISTA ISTO É. Manual dos Jogos Olímpicos. Sidney Revistas nº 3 e 11. SOUSA, M. Manual se Esportes do Cascão. São Paulo, Globo, TERRA.D.V. Ensino crítico-participativo das disciplinas técnico-desportivas nos cursos de licenciatura em Educação Física: uma análise do impacto de ensino no handebol. Rio de Janeiro: Universidade Gama Filho. Dissertação de Mestrado,
8 RECORTES DE FIGURAS SOBRE ESPORTES HISTÓRIA DO ESPORTE 63
9 TEXTO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS ESPORTES 64
10 TEXTO SOBRE OS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO VOLEIBOL Fonte: SOUSA,
11 TEXTO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO VOLEIBOL 66
12 CONTRUÇÃO DAS REGRAS NECESSÁRIAS P/ QUE O JOGO ACONTEÇA 67
13 QUESTIONÁRIO SOBRE OS ELEMENTOS CONSTITUIVOS - HANDEBOL 68
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