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1 ' I ali., ACÓRDÃO,Nior '414 nprra ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Filho APELAÇÃO CÍVEL n /001 Comarca da Capital RELATOR: Maria das Graças Fernandes Duarte, Juíza Convocada em substituição ao Exmo. Des. Genésio Gomes Pereira Filho APELANTE: Mariene Vasconcelos Wasa-Rodig ADVOGADA: Marieme Vasconcelos Penington APELADO: Presidente da Junta Comercial do Estado da Paraíba descritos. CONSTITUCIONAL - ADMINISTRATIVO Intérprete e Tradutora Oficial Junta Comercial do Estado da Paraíba Necessidade de concurso público por determinação legal Serviço público remunerado por emolumentos Ofício que não se enquadra nas características de servidor público e nem emprego público Nomeação por ato de autoridade competente Repercussão do ato no campo dos direitos individuais Necessidade de processo administrativo Inobservância Provimento Parcial da Apelação Cível. "...Consoante entendimento consolidado desta Corte Superior de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, consagrado na Súmula 473/STF, pode a Administração, com base no seu poder de autotutela, anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais. 2. Nas hipóteses, contudo, em que a invalidação do ato administrativo repercuta no campo de interesses individuais, firmou-se tese neste Sodalício segundo a qual é necessária prévia instauração de processo administrativo que assegure o exercício da ampla defesa e do contraditório..." (STJ - RMS / PE 2003/ Rel.: Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA - T6 - SEXTA TURMA DJE 04/05'2009) VISTOS, relatados e discutidos os autos acima ACORDAM os integrantes Câmara Cível deste Colendo Tribunal de Justiça da Paraíba, dar provimento parcial à Apelação Cível, à unanimidade, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de fl

2 RELATÓRIO Trata-se de Mandado de Segurança com Pedido de Liminar impetrado por Mariene Vasconcelos Wasa-Rodig, Tradutora e Intérprete de inglês, Francês, Alemão e Espanhol, com carteira profissional expedida em 04/08/2005, pelo Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo. Entende a impetrante que houve abuso de autoridade do Presidente da Junta Comercial do Estado da Paraíba que, em 28/11/2006, cassou sua carteira profissional, após denúncia realizada por José Alfredo Américo Leite, Tradutor da Língua Inglesa, que alegou ausência de concurso público no caso da autora. Aduz a promovente que a denúncia, bem como a cassação de sua carteira, deram-se por vontade política do Presidente da JUCEP, pois vinha desempenhando suas funções dignamente e com grande empenho, sem qualquer reclamação de seus clientes, além de ser reconhecidamente capacitada, tendo, inclusive, prestado serviços de ordem pública, junto à Justiça Federal, com tradução de documentos públicos, privados, sentenças, cartas rogatórias, dentre outros. Alega ainda que para tanto não houve qualquer processo administrativo, como também inexistiu reunião do Conselho da JUCEP, pois não há ata de Assembléia que registre o motivo da cassação. Por fim, entende que o tradutor oficial presta serviço essencial à sociedade em geral, sendo um profissional liberal e não, servidor público, já que atua de forma independente e sem vinculação hierárquica. Portanto, prescinde-se de concurso público. Neste esteio, entende que a sua exoneração fere o princípio da segurança jurídica, por ser detentora de direito líquido e certo. Pugnou pela concessão de medida liminar no sentido de suspender a decisão do Presidente da JUCEP e, no mérito, conceder a segurança a fim de que possa retomar normalmente sua atividade. Acostou documentos às fls. 17/127. Federal. O feito foi inicialmente distribuído junto à Justiça Às fls. 128/130, a magistrada reconheceu a incompetência absoluta da Justiça Federal para processar e julgar o feito. Remetidos os autos à Justiça Estadual, o pedido liminar foi indeferido (fls. 140/141). O Presidente da JUCEP prestou informações às fls. 143/147, alegando, em preliminar, incompetência da Justiça Comum, e, no mérito, que a cassação da autora se deu porque foi verificado que o ato de concessão de sua matrícula não obedeceu à Instrução Normativa n 84 de 29/02/2000, a qual prevê a exigência de concurso público para o exercício da função de intérprete. Assim, a carteira da autora foi cancelada com base na Súmul 473 do STF. Acostou documentos de fls. 148/150.,#)

3 e Da decisão que indeferiu o pedido liminar, a impetrante interpôs Agravo de Instrumento com pedido de Antecipação Recursal, o qual foi deferido às fls. 152/154, pelo Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. fls. 175/176. Informações prestadas pela magistrada a quo às O mérito do Agravo de Instrumento foi julgado às fls. 184/186, e, por maioria, negou-se provimento ao recurso, mantendo-se inalterada a decisão de primeiro grau. Ainda em primeira instância, o Ministério Público, em seu parecer de fls. 190/192, opinou pela concessão da segurança. Conclusos, a magistrada a quo rejeitou a preliminar de incompetência da Justiça Federal e, no mérito, denegou a segurança (fls. 193/194). 111 às fls. 195/206. conforme certidão de fl. 320v. lrresignada a impetrante interpôs Apelação Cível, Intimado, o apelado não ofereceu resposta, Nesta instância, a D. Procuradoria Geral de Justiça emitiu parecer às fls. 329/330, opinando pelo desprovimento do recurso. É o breve relatório. VOTO Extrai-se dos autos que a apelante exercia a função pública de Tradutora Oficial frente à Junta Comercial do Estado da Paraíba, ingresso este que se deu mediante apresentação de currículo, o que a habilitou ao exercício da atividade perante a Autarquia Estadual. Compulsando os autos, observa-se a inexistência de concurso público ou processo seletivo para a admissão da autora e, por tal motivo, entendeu a autoridade coatora que a impetrante poderia ser desligada do serviço prestado, a seu critério, não havendo que se falar em ampla defesa ou contraditório. Saliente-se, ainda, ad argumentantum, que o art. 1 da Instrução Normativa n 84 de 29 de fevereiro de , do Departamento Nacional do Registro do Comércio DNRC, o qual regulamenta a atividade de tradutor público, dispõe a necessidade de concurso público como condição para nomeação. De se observar, porém, que não obstante a necessidade de concurso público, o tradutor e intérprete oficial, apesar do vinculo com uma autarquia estadual não é servidor público e não tem remuneração fixada em lei ou diploma legal equivalente. A remuneração percebida pelo tradutor é do fr 1 Art. 1 O Oficio de Tradutor Público e Intérprete Comercial será exercido mediante nomeação e matricula pel., nta Comercial, em decorrência de habilitação em concurso público de provas.

4 próprio destinatário do serviço, sob a forma de emolumentos, conforme tabela aprovada pela Junta Comercial, nos termos dos arts. 14 e 15 da IN 84/2000. Também não é empregado público, porquanto não tem relação trabalhista para com a Junta Comercial a que está credenciado. Assim, o cargo em questão não é cargo ou emprego público, para cuja investidura exige a Constituição Federal, no seu art. 37, II, a prévia aprovação em concurso público. Tal exigência constitucional não atinge o oficio em questão que apenas, em obediência aos princípios da impessoalidade e moralidade, por força da natureza pública do serviço a ser desenvolvido, tem exigência legal de certame público. Dita exigência legal, em conseqüência, está em consonância com o preceito constitucional acima referido. Por outro lado, a recorrente foi nomeada formalmente pela autoridade competente para exercer o ofício de Tradutora e Intérprete Comercial, recebendo a respectiva matrícula para atuar nesta área. Sendo assim, não pode aquela mesma autoridade simplesmente anular o ato de sua nomeação e cancelar sua matrícula, sem oportunizar-lhe o direito ao contraditório e à ampla defesa, mediante instauração de processo administrativo, isto porque tal ato repercute no campo dos interesses individuais. Destarte, não obstante ser admissivel que a Administração possa rever seus próprios atos, consoante Súmula 473 do STF, no exercício do poder de autotutela, impõe-se assegurar a quem sofre o revés, a oportunidade de exercer os direitos fundamentais do contraditório e da ampla defesa, constante do art. 5 0, LV da CF. Neste sentido, decisão recente do STJ: 1111 RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. MAGISTRADO. ANULAÇÃO DE ATO DE CONCESSÃO DE LICENÇAS-PRÊMIO. NECESSIDADE DE PRÉVIO PROCESSO ADMINISTRATIVO, COM OBSERVÂNCIA DAS GARANTIAS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO. PRECEDENTES. 1. Consoante entendimento consolidado desta Corte Superior de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, consagrado na Súmula 473/STF, pode a Administração, com base no seu poder de autotutela, anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais. 2. Nas hipóteses, contudo, em que a invalidação do ato administrativo repercuta no campo de interesses individuais, firmou-se tese neste Sodalício segundo a qual é necessária prévia instauração de processo administrativo que assegure o exercício da ampla defesa e do contraditório. 3. No caso dos autos, quase dois anos após conceder à recorrente licença-prêmio para gozo oportuno, sem que tenha sido oportunizado à recorrente prazo para se manifèstar, a autoridade impetrada anulou sua decisão anterior. 4. Desse modo, era imperioso que fosse instaurado processo administrativo para que a parte recorrente pudesse exercer o contraditório e a ampla defesa, defendendo, assim, a situação que no seu ;- entender era escorreita. De rigor, portanto, a anulação / 4.1-:

5 do ato impetrado. 5. Recurso ordinário provido. Segurança concedida.' Ante o exposto, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, para conceder a segurança, mantendo a matrícula da apelante de forma a possibilitar-lhe o exercício do direito ao contraditório e à ampla defesa. É como voto. Presidiu os trabalhos o Exmo. Sr. Desembargador Genésio Gomes Pereira Filho. Participaram do julgamento, a Eminente Dra. Maria das Graças Fernandes Duarte, juíza convocada para substituir o Exmo. Desembargador Genésio Gomes Pereira Filho, Exmo. Dr. João Benedito da Silva, juiz convocado para substituir o Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides e o Exmo. Des. José Di Lorenzo Serpa, Convocado para compor o quorum, em virtude da suspeição do Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos. Presente ao julgamento o Exmo. Sr. Dr. Marcos Villar Souto Maior, Procurador de Justiça. Sala de Sessões da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, João Pessoa, 14 de julho de /11,~s r ernandes Duarte Rela ira Juíza Convocada 2 STJ - RMS PE 2003/ Rel.: Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA - T6 - SEXTA TURMA DJE

6 TRIBUNAL DE JUSTIÇA Coordenador! udiciária i,j Registrado