EDUCAÇÃO SEXUAL. INTERVENÇÃO EM SAÚDE ESCOLAR
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- Ana Beatriz Terezinha Cruz da Rocha
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1 ENTRADA DO ARTIGO MAIO 2011 EDUCAÇÃO SEXUAL. INTERVENÇÃO EM SAÚDE ESCOLAR ANA LUÍSA OLIVEIRA RODRIGUES BEZERRA Enfermeira com Especialidade em Enfermagem Comunitária e Pós-graduação em Educação Sexual a desempenhar Funções na Unidade de Cuidados na Comunidade Âncora - ACESGaia MARIA ISABEL LEMOS DE JESUS SANTOS Enfermeira com Especialidade em Enfermagem Comunitária e Pós-graduação em Educação Sexual. Coordenadora da Unidade de Cuidados na Comunidade Âncora - ACESaia JÚLIA ANDREIA DE ALMEIDA MAGALHÃES Enfermeira com Especialidade em Enfermagem Comunitária e Pós-graduação em Educação Sexual a desempenhar Funções na Unidade de Cuidados na Comunidade Âncora - ACESGaia OUTUBRO RESUMO Os jovens apresentam-se como um grupo particularmente vulnerável e com comportamentos de risco, pelo que se justifica a importância da Educação Sexual nas escolas em particular e em toda a dimensão dos Cuidados de Saúde Primários no Geral. Apesar da legislação já existente é necessária uma contínua intervenção nesta área para que se consigam resultados efectivos na minimização dos riscos. Palavras-Chave: Educação Sexual, Sexualidade, Escola ABSTRACT The young people present themselves as a group particularly vulnerable and risky behaviour, which justified the importance of sexual education in schools in particular and throughout the extent of the Primary Health Care in general. Despite the existing legislation is needed continuous assistance in this area to achieve results that are effective in minimizing risk Keywords: Sexual Education; Sexuality, School
2 INTRODUÇÃO Factores de risco como a precocidade do inicio da actividade sexual, a inconsistência no uso de contracepção, os encontros múltiplos e ocasionais, assim como a associação entre o álcool e drogas, tornam os jovens como um grupo alvo, para a Educação Sexual nas escolas em particular e nos Cuidados de Saúde Primários no geral. A importância da educação sexual está bem patente na opinião de Reis e Matos (2008, p.22) que consideram: A educação sexual é a mais importante forma de prevenção de problemas ligados à saúde sexual e reprodutiva nos jovens, nomeadamente no contágio das IST s e gravidez indesejada. Para além destas autoras a importância da educação sexual é reconhecida pelo protocolo estabelecido entre o Ministério da Educação e Ministério da Saúde em 2006, que refere logo no seu início A promoção da educação para a saúde em meio escolar é um processo em permanente desenvolvimento ( ). Este processo contribui para a aquisição de competências das crianças e dos jovens, permitindo-lhes confrontar-se positivamente consigo próprios ( ) serem capazes de fazer escolhas individuais, conscientes e responsáveis. Assim, é de toda a relevância que a Educação Sexual seja reconhecida pelos profissionais envolvidos na educação de crianças e adolescentes, desde os professores aos profissionais de saúde, como é o caso dos enfermeiros, passando pelos pais e todos os outros intervenientes. Nesta perspectiva, é premente que se criem condições para o desenvolvimento de projectos de educação sexual, em parceria Escola - Unidades de Saúde, por forma a facultar um desenvolvimen- 47
3 OUTUBRO to equilibrado e saudável da sexualidade nas crianças e jovens. A EDUCAÇÃO SEXUAL A Educação Sexual assume-se como um processo contínuo de aprendizagem e de socialização que abrange a transmissão de informação, desenvolvimento de atitudes, competências e comportamentos saudáveis relacionados com a sexualidade humana. Inclui também a aprendizagem de formas responsáveis e significativas de interacção com os outros. Sabemos que uma grande maioria dos adolescentes obtém informação sobre sexualidade através de fontes informais, como os seus pares ou os mass - média, adquirindo desta forma conhecimentos muitas vezes inadequados e/ou pouco precisos acerca da sexualidade. Uma outra forma de obter informação é a que é fornecida pelos pais, mostrando-se muitas vezes com conhecimentos limitados pelo facto da experiência dos próprios revelar dificuldades em lidar com a temática junto dos filhos, ou por desconhecimento, incerteza ou mesmo por conflitos face ao seu comportamento sexual. Na minha perspectiva, a criação de fontes formais de educação sexual, como a execução de projectos de intervenção em contexto de Escola e particularmente em articulação com as Unidades de Saúde adquire uma marca no desenvolvimento sexual dos jovens para toda a vida. A escola é o palco privilegiado para a realização da educação sexual na medida em que possui oportunidades únicas para prevenir especificamente os comportamentos de risco. Sabe-se que os jovens que frequentam programas de educação sexual aumentam os comportamentos preventivos, nomeadamente o uso de contraceptivos (Vilar, 2005). Contudo, na perspectiva do GTES (Ministério da Educação, 2007), importa ter presente que, os objectivos inerentes à educação sexual não se reduzem, no entanto, à diminuição dos comportamentos de risco, conducentes a doenças sexualmente transmissíveis ou à gravidez precoce, mas preconizam a qualidade das relações interpessoais e a qualidade da vivência da intimidade de forma histórica, social ou culturalmente contextualizada. Assim, de acordo com (Vilar, 2005, p.10) Educação sexual integra todo um conjunto de componentes de outras áreas de aprendizagem tais como os valores e os afectos, ou as questões do género, a estrutura de personalidade, as competências dos indivíduos para lidarem com a sua intimidade. A educação sexual passou a fazer parte da educação para a saúde e de acordo com a Portaria 196-A/2010 que regulamenta a Lei nº 60/2009, salienta-se sua importância: O conceito actual de educação para a saúde tem subjacente a ideia de que a informação permite identificar comportamentos de risco, reconhecer os benefícios dos comportamentos adequados e suscitar comportamentos de prevenção. ( ) tem, pois, como objectivos centrais a informação e a consciencialização de cada pessoa acerca da sua própria saúde e a aquisição de competências que a habilitem para uma progressiva auto- -responsabilização.
4 INTERVENÇÃO DO ENFERMEIRO EM SAÚDE ESCOLAR O profissional de saúde, especificamente o enfermeiro que faz a sua intervenção na área da saúde escolar, tem um papel preponderante no que concerne à educação sexual dos jovens. De acordo com Mendes, (1998) cit. por Costa (2002, p.40): Importa reflectir sobre as práticas de prevenção e intervir para a motivação da mudança dos comportamentos dos adolescentes através da informação/sensibilização, direccionada aos diferentes grupos etários sobre a vivência da sua sexualidade, incutindo-lhes autoconfiança e o respeito pela individualidade de cada um, com a finalidade de obter uma sexualidade responsável.. Tendo em conta o anterior pressuposto, uma das possíveis intervenções de um enfermeiro junto de jovens, na vertente a educação para a saúde em contexto de escola, passa por trabalhar alguns conteúdos temáticos como a compreensão da dimensão da sexualidade humana; o uso e acessibilidade de métodos contraceptivos e a prevenção da gravidez na adolescência. Deverá ser propósito do enfermeiro, o incremento de uma atitude positiva da saúde sexual, uma atitude preventiva da doença e levar a que os jovens interiorizem que a sexualidade é fonte de prazer, de comunicação e que influência a forma de ser, de estar consigo próprio e com o mundo. A sexualidade é de facto uma característica e actividade humana enraizada nos aspectos emocionais, relacionais e culturais. A interiorização do conceito de sexualidade humana, tendo em conta as suas componentes, é um passo fundamental para o reconhecimento do seu valor na vida humana. Adoptando a definição da Organização Mundial de Saúde, a sexualidade é: uma energia que nos motiva a procurar o amor, contacto, ternura e intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso influencia também a nossa saúde física e mental. (OMS, cit por Pereira, 2001). Face a esta abrangência da sexualidade humana e à forma como esta fluí sobre o comportamento humano ao longo do ciclo vital e na relação com os outros, é fundamental incluir aqui as noções de respeito, igualdade e de responsabilidade nas escolhas e atitudes face a esta temática, deixando bem patente que sexualidade não se reduz à genitalidade. Outra vertente de igual importância na abordagem aos jovens é obviamente a questão da contracepção, isto porque sabemos que, em Portugal e de acordo com Nodin (2001) cit. por Dias e Rodrigues (2009, p.16) cerca de 23% da população jovem inicia-se sexualmente com menos de 16 anos, 70% tem a sua primeira relação sexual até aos 18 anos, inclusive, e cerca de 24% dos adolescentes não utiliza os contraceptivos de forma consistente. Sabemos que a contracepção assume uma importante vertente da saúde sexual e reprodutiva. Poder-se-á considerar como um conjunto de processos que procuram evitar uma gravidez que não se deseja naquele momento, ou mesmo como no caso das jovens, não terem ainda a capacidade fisiológica, psíquica e social para a suportar. São diversos os mé- 49
5 OUTUBRO todos disponíveis para evitar situações de gravidez não planeada, classificados, de acordo com o seu objectivo em: métodos reversíveis (métodos de barreira, impeditivos de nidação, contracepção hormonal e métodos de auto observação) e métodos irreversíveis (laqueação de trompas e vasectomia). Os jovens são informados dos vários métodos existentes, modos de acção, vantagens e desvantagens de cada um, e de facto o que lhes é de todo aconselhado é a dupla protecção, ou seja, o uso de método de barreira e contracepção hormonal. Contudo, investigações dizem-nos que os jovens possuem conhecimentos na área da contracepção, no entanto, quando estão envolvidos em relacionamentos, existe uma barreira à concretização dos comportamentos sexuais saudáveis e seguros. São também informados que no caso de falência do método contraceptivo (falência do preservativo ou falha na toma do anticoncepcional oral) ou da sua não utilização, podem recorrer a métodos anticoncepcionais de recurso, como é o caso da contracepção de emergência. O acesso à contracepção de emergência, parece ser uma mais valia no âmbito da saúde sexual e reprodutiva dos jovens, pois muitas vezes os seus comportamentos sexuais associam a impulsividade e instabilidade emocional e a inexperiência na utilização da contracepção, própria desta faixa etária. Torna-se contudo importante, incutir nestes adolescentes que a utilização da contracepção de emergência não deverá ser entendida como um método contraceptivo de uso regular, mas como algo a utilizar em situação de emergência. A prevenção da gravidez na adolescência é outro tema que é bastante trabalhado com os jovens, uma vez que parece estar associada em muitos casos a um início precoce da actividade sexual, a um uso inadequado e pouco regular da contracepção, a uma concepção errónea e negativa da sexualidade e a uma perspectiva positiva e irrealista da paternidade (Figueiredo, 2006). Esta problemática está muitas vezes associada a condições desfavoráveis quer do ponto de vista social, psicológico e económico que resulta em diversas consequências quer para os adolescentes quer para o recém-nascido. È ponto assente que trabalhar esta problemática com os adolescentes, numa perspectiva de prevenção se reveste também da maior importância. CONCLUSÃO A escola é um espaço e um tempo de grande importância, para o treino dos conhecimentos, atitudes e competências saudáveis face à sexualidade. O trabalho de parceria entre a Escola - Unidades de Saúde Família Sociedade, desempenha um papel fulcral para que o jovem não fique isolado neste processo de desenvolvimento em saúde sexual. A saúde sexual é um dos factores facilitadores para um desenvolvimento equilibrado e saudável durante a adolescência. É no entanto, importante salientar que qualquer projecto realizado no âmbito da educação sexual não deve abordar simplesmente os aspectos biológicos e médicos, como é o caso da contracepção ou a gravidez na adolescência, mas deverá ter uma boa dose na vertente do desenvolvimento pessoal
6 e social. O desenvolvimento destes projectos devem assentar num conjunto de valores que se integrem nos valores universais: o respeito pela vida humana e pela diversidade, a liberdade e o respeito pelo outro. O enfermeiro ao desenvolver projectos de educação sexual deverá ter como função o incremento de uma atitude preventiva da doença, uma atitude promotora da saúde sexual e o reconhecimento de que a sexualidade é uma fonte de prazer e comunicação, constituindo valores essenciais de educação sexual. Deverá ser objectivo proporcionar oportunidades educativas que permitam os jovens a adquirir competências para fazerem escolhas saudáveis e responsáveis, obterem capacidade de decisão, que lhes permita enfrentar os desafios inerentes ao seu desenvolvimento e crescimento. É urgente que o jovem perceba que a sua sexualidade pode ser vivida de forma saudável e feliz, precisando apenas de ter um comportamento positivo, para tal é necessário que se aposte na educação sexual como estratégia da saúde sexual e reprodutiva. BIBLIOGRAFIA Costa, A. - A Educação Sexual numa Escola do 3º Ciclo do Ensino básico. Educação para a Saúde no Século XXI: Teorias, Modelos e Práticas. Évora, 2008 Costa, M. A. M. A. - A Gravidez na Adolescência perspectiva dos Enfermeiros, Dissertação de Mestrado em Ciências de enfermagem, Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Porto, 2002 Dias, A. C.; Rodrigues, M. A. - Adolescentes e sexualidade: Contributo da educação, da família e do grupo de pares adolescentes no desenvolvimento da sexualidade. Revista Referência, nº 10, 2009, pp Figueiredo, B.; Pacheco, A.; Costa, R.; Magarinho, R. Gravidez na adolescência das circunstâncias de risco às circunstâncias que favorecem a adaptação à gravidez. in International Journal of Clinical and Health Psicology, Vol 6, nº p Pereira, M. M.; Freitas, F. - Educação sexual Contextos de sexualidade e adolescência. Teoria Guias práticos. Edições ASA, Lisboa, 2001 PORTARIA n.º 196-A/ Diário da Republica 1ª série - nº 69 - d e 9/Abril de 2009 Portugal. Grupo detrabalho em Educação Sexual - Relatório Final do Grupo de Trabalho de Educação Sexual (GTES), Lisboa 2007 Portugal. Ministério da Saúde e Ministério da Educação - Protocolo entre o Ministério da Saúde e Ministério da Educação. Acedido a 24 de Abril de 2010 em -edu.pt Reis, M.; Matos, M. - Comportamentos Sexuais e Influência dos Diferentes Agentes de Socialização na Educação Sexual dos Jovens Universitários. In Revista Sexualidade e Planeamento Familiar n.º 48/49 Jan.-Jul Pág Vilar, D. - A educação sexual faz sentido no actual contexto de mudança? Educação Sexual em Rede nº1, Julho/ Setembro de 2005 pp
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