A invisibilidade do trabalho infanto-juvenil doméstico

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1 PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - PIBIC A invisibilidade do trabalho infanto-juvenil doméstico NOME DA BOLSISTA: Clarice de Sousa Silva ORIENTADOR (A) DO PROJETO: Ana Cristina Serafim da Silva LOCAL DE EXECUÇÃO: Tocantinópolis CURSO: Pedagogia CAMPUS: Tocantinópolis PROGRAMA: PIBIC/UFT Orientador(a) do Curso : Nataniel de Vera Cruz

2 RESUMO O trabalho infantil é uma temática muita complexa e deve ser abordado a partir de uma análise histórica, considerando os valores socioeconômicos de cada época. Na sociedade contemporânea o trabalho infantil passa a ser um meio de sobrevivência em meio às desigualdades de classes sociais. De acordo com o Plano Nacional de Erradicação ao Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente (2003), entende-se por trabalho Infantil todo o trabalho desempenhado por crianças e adolescentes com idade mínima de inicio ao trabalho inferior a 16 anos, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. No Brasil o trabalho infantil, não é visto como explorador e sim como ajuda complementar a renda familiar (é o caso do trabalho infantil doméstico, e na agricultura), ou como formador-profissionalizante (é o caso do trabalho informal de rua), ou então como um meio de livrar a criança da ociosidade e da marginalização. Estas várias visões acabam por camuflar as dimensões e a gravidade do trabalho infantil. O trabalho doméstico sempre esteve atrelado ás mulheres, naturalizado e inerente à natureza feminina, esse foi um processo de construção social que acabou por naturalizar o trabalho doméstico como função ou obrigação da mulher. Palavras-chave: trabalho infantil doméstico; direitos da criança e adolescente; gênero; INTRODUÇÃO De acordo com o Plano Nacional de Erradicação ao Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente (2011), entende-se por trabalho Infantil todo o trabalho desempenhado por crianças e adolescentes com idade mínima de inicio ao trabalho inferior a 16 anos, exceto na condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. Ressalva-se que, o trabalho noturno, perigoso, insalubre ou degradante, não é permitido em nenhuma hipótese para pessoas com menos de 18 anos. A determinação de idade limite para admissão ao trabalho, segundo estipulado pela OIT, busca preservar a permanência e continuidade do jovem no processo escolar, bem como estimular a cultura, o lazer e a preservação dos vínculos familiares. Segundo dados da PNAD, em 2008 o Tocantins ocupava o 1º lugar no ranking nacional do trabalho com uma taxa de ocupação de 15,55 % entre a população com a faixa etária de 5 a 17 anos, em 2009 o Tocantins continuava com a 1ª posição do ranking com um leve aumento na taxa de ocupação da população com esta mesma faixa etária de 15,55% em 2008 passa a ser 15,75% em Ao invés de haver uma redução

3 nota-se que houve um aumento de 0,2% na taxa de ocupação entre a população que, por lei não deveria estar trabalhando, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14 anos desde que este trabalho desempenhe função de formação técnica e que não comprometa o tempo e o rendimento escolar. Mesmo que pesquisas apontem uma redução no numero do trabalho infantil a nível nacional, tem se notado um aumento de crianças trabalhando em espaços invisíveis como no tráfico, exploração sexual de menores e no serviço doméstico. Na verdade, não houve um aumento, o que houve foi uma maior atenção em relação à tentativa de quantificar este tipo de trabalho. O serviço doméstico está na lista das piores formas de trabalho, sendo este um trabalho que expõe a criança e o adolescente a riscos físicos, psicológicos e morais. O trabalho infantil doméstico é uma temática ainda pouco pesquisada que na maior parte dos escritos se baseia apenas em dados ou em casos particulares baseados na experiência frustrada de alguma criança. A dificuldade em pesquisar sobre a temática está entre tantos fatores ao fato de a criança e a própria sociedade não reconhecer esse tipo de atividade como trabalho, a sociedade ter naturalizado este, como sendo um trabalho de atributo feminino. A proposta desta pesquisa justifica-se pela necessidade de tentar desnaturalizar o trabalho infanto-juvenil doméstico e produzir conhecimentos sobre a temática no referido município. MATERIAL E MÉTODOS Para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa, primeiramente, foi feita leitura do corpus bibliográfico sobre o trabalho infanto-juvenil, explorando, sobretudo o trabalho infanto-juvenil doméstico; com o objetivo maior de fazer um levantamento do trabalho infanto-juvenil doméstico na cidade de Tocantinópolis. Houve um contato com algumas instituições, como Conselho Tutelar, Ministério Público, CREAS, CMDCA que trabalham no enfrentamento do trabalho infanto-juvenil, assim como visitas as escolas para um levantamento de crianças e adolescentes que trabalham como domésticas. Para coleta de dados, foi aplicado um questionário de identificação da criança/adolescente trabalhador em três escolas do município. Antes de coletar os dados foi feito um contato com a delegacia regional de ensino para anuência da realização da pesquisa nas escolas, como também para assinar o termo de consentimento.

4 Inicialmente foi aplicado um questionário com crianças e adolescentes com até 17 anos de idade em formato de diagnóstico rápido para identificarmos as crianças que trabalhavam e suas respectivas idades e ano que estudavam. Foram analisados os dados e identificados os sujeitos. Posteriormente a esta análise; foi feito um retorno a estas escolas para se aplicar o questionário elaborado com questões que versavam sobre: Dado sócio demográfico, Família, Atividade de trabalho, Escolaridade, Riscos e Perspectivas de Futuro. O questionário elaborado foi aplicado para um estudo mais detalhado do ramo de atividade que essas crianças e adolescentes trabalhavam. RESULTADO E DISCUSSÃO De acordo com a pesquisa, da amostra de 103 crianças e adolescentes pesquisados, 81,6% residem na zona urbana enquanto, 17,5% residem na zona rural, apenas 1% não informou a onde mora. Com relação a idade em que foi encontrado engajados nas atividades domesticas, varia de 10 a 17 anos, sendo maior percentual na faixa etária de 10 a 13 anos, com 82,5%. O percentual de meninas que estão envolvidas no trabalho infanto-juvenil doméstico é bem maior que o dos meninos sendo 75,7%, enquanto os meninos ficam com 24,3%, corroborando algumas pesquisas (TAVARES, 2002) que apontam à questão de gênero como um forte atenuante em relação ao trabalho infanto-juvenil doméstico. O percentual de meninas que estão envolvidas no trabalho infanto-juvenil doméstico é bem maior que o dos meninos sendo 75,7%, enquanto os meninos ficam com 24,3%, corroborando algumas pesquisas (TAVARES, 2002) que apontam à questão de gênero como um forte atenuante em relação ao trabalho infanto-juvenil doméstico. No que se refere à raça/etnia, as respostas foram branca (13,6%), negra (19,4%), mulata (12,6%), amarela (9,7%) e outra opção aberta para a criança especificar, desta surgiram mais 6 variáveis: morena (13,6%), parda (27,2%),indígena (1%) café com leite (1%), preto e moreno escuro (1%). O fato de o Brasil ser fruto de miscigenação e ter em seu passado a cultura do escravagismo ainda refletem nos dias de hoje, traços de um passado abominável, onde os negros faziam os serviços que o branco considerava

5 indigno. Serviços pesados e feitos com a mão eram feitos pelos negros porque os brancos não podiam realizar tarefas que lhes sujassem as mãos (FREIRE, 2002). Os serviços relacionados à manutenção da limpeza de casa são os mais comuns, lava louça e limpa a casa (18,4%), limpa a casa (13,6%), só lavam a louça (4,9%) e fazem todo o serviço de casa (12,6%), ou seja, a responsabilidade da mãe ou qualquer outro adulto recai sobre a criança, ela passa a cuidar da limpeza da casa e roupa, da comida, atividades que tomam todo o tempo de lazer da criança, impedindo-a de brincar e de se relacionar com crianças de sua própria idade, aspecto essencial na infância (ARRUDA, 2007). Quando indagados a respeito do que fazem quando não estão trabalhando a maioria respondeu que estuda (34,0%), em seguida na ordem de maiores percentuais vem à resposta brinca (21,4%) e brinca e estuda (11,7%). Conclui-se que, as atividades desempenhadas por crianças e adolescentes reduzem o tempo dela para o estudo e para as brincadeiras, sendo assim, o tempo disponível delas é dedicado aos estudos, poucos tem tempo para brincar e estudar. Na questão que versava sobre sua mãe trabalha a maioria respondeu que sim com 52,2%. Sendo que 14,6% responderam que a mãe trabalha no próprio lar, fazendo as atividades domésticas. A renda mensal da família varia em torno de menos de ½ salário mínimo a 5 salários mínimos, alguns responderam que a família não tinha renda. A frequência maior foi de ½ a 1 1 salário mínimo com um percentual de 31,1%. A pobreza por si só não justifica a inserção precoce da criança ao mundo do trabalho doméstico, mas acaba sendo um dos fortes atenuantes de inserção. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARRUDA, K. M. O trabalho infantil doméstico: rompendo com o conto da cinderela. In: Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v.45, n.75, p , jan./jun FREIRE, Gilberto. Casa grande e senzala. In Intérpretes do Brasil. 2. Ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, Na época da pesquisa, 1º semestre de 2012, o salário mínimo correspondia a 620 reais.

6 TAVARES, M. A. (2002). Onde está Kelly? O trabalho oculto de crianças e adolescentes exploradas nos serviços domésticos na cidade do Recife. Recife, PE: CENDHEC. Plano nacional de prevenção e erradicação do trabalho infantil e proteção ao adolescente trabalhador (2011) ª edição. Oliveira, M. (2009). Trabalho infantil no Tocantins. Disponível em: TOCANTINS+LIDERA+RANKING+E+RIO+TEM+MENOR+INDICE+DE+TRABA LHO+INFANTIL+NO+PAI.html, acesso em 20 de Junho de AGRADECIMENTOS "O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT...