Apresenta-se abaixo o arcabouço organizacional básico para a elaboração do PNRH, seu conteúdo técnico e o encadeamento lógico da sua elaboração.
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- Joaquim Neiva Ramires
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1 2. O PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS O Plano Nacional de Recursos Hídricos - PNRH é instrumento essencial para o planejamento estratégico da gestão dos recursos hídricos no País, fundamentando e orientando a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. O Plano estabelece diretrizes objetivando alcançar o cenário desejado na evolução da gestão dos recursos hídricos, tanto no contexto das bacias hidrográficas quanto das áreas especiais de planejamento. Além disso, propõe a implementação de programas nacionais e regionais e a adequação das políticas públicas relacionadas ao tema, em especial daquelas referentes aos setores usuários de recursos hídricos, objetivando o uso racional e sustentável da água. No processo de elaboração do PNRH são adotadas as definições, diretrizes e princípios estabelecidos principalmente na Constituição Federal, na Lei 9.433/97 e na lei de criação da Agência Nacional de Águas (9.984/00), bem como nas resoluções do Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH. Configura-se como um processo técnico e político, conduzido de forma progressiva e em permanente aperfeiçoamento, almejando sempre a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. Nesse sentido os setores usuários da água vêm contribuindo na sua elaboração, ajudando na construção de um planejamento estratégico dos recursos hídricos que procura identificar experiências que apontem para o uso múltiplo das águas mas, também, conflitos atuais e potenciais que ressaltem a necessidade de um diálogo construtivo. Adotando como fundamento essa elaboração participativa, o PNRH pretende ser um instrumento estratégico e implementável, que contribua para a consolidação dos objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos, assegurando à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos seus usos. Portanto, o Plano pode ser visto como um pacto entre esses atores, estabelecendo diretrizes e estratégias para a gestão dos recursos hídricos. Apresenta-se abaixo o arcabouço organizacional básico para a elaboração do PNRH, seu conteúdo técnico e o encadeamento lógico da sua elaboração Arcabouço organizacional Às entidades diretamente voltadas ao desenvolvimento da elaboração do PNRH compete (Figura 2.1): Conselho Nacional de Recursos Hídricos CNRH: acompanhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hídricos - PNRH e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas metas. O Conselho é um colegiado que trata das grandes questões de recursos hídricos e é composto por representantes de entidades públicas, usuários e organizações civis relacionadas à área de recursos hídricos; Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos Hídricos CTPNRH: acompanhar, analisar e emitir parecer sobre os produtos que compõem o PNRH; Secretaria de Recursos Hídricos - SRH do Ministério do Meio Ambiente: coordenar a elaboração do PNRH, submetê-lo à aprovação do CNRH e auxiliar no cumprimento de sua implementação; e Agência Nacional de Águas ANA: em parceria com a Secretaria de Recursos Hídricos SRH/MMA, apoiar a elaboração do PNRH e determinar as providências necessárias ao cumprimento de suas diretrizes. Foi criado no âmbito da Câmara Técnica, o Grupo Técnico de Coordenação e Elaboração do PNRH - GTCE, considerando a necessidade de se harmonizarem os diversos interesses setoriais e as políticas públicas na área dos recursos hídricos e ainda agregar a capacidade técnica e gerencial de entidades públicas. O Grupo Técnico, composto por técnicos da Secretaria de Recursos Hídricos 2
2 SRH/MMA e da Agência Nacional de Águas ANA, tem como incumbência subsidiar tecnicamente a elaboração do PNRH, por meio de apoio institucional, técnico e logístico. Figura Rotina de Procedimentos de elaboração do PNRH. Fonte: SRH/MMA, Durante o processo de elaboração do PNRH, as entidades públicas, os usuários de água e as organizações civis estão sendo envolvidos por meio de reuniões, workshops, consultas públicas, seminários e outros eventos, contribuindo na elaboração do conjunto de estudos que compõem o PNRH e no estabelecimento de diretrizes emanadas desse processo de planejamento. 3
3 2.2. Conteúdo do Plano Nacional de Recursos Hídricos - PNRH Conforme definido pela Câmara Técnica do Plano Nacional de Recursos Hídricos, o Plano é composto de cinco volumes elaborados seqüencialmente, conforme segue (Figura 2.2): I. Visão Nacional; II. Bacias e regiões hidrográficas; III. Áreas especiais; IV. Programas e adequação da base legal; V. Resumo executivo. O Volume I, apresentado neste momento juntamente com os diagnósticos e cenários, objetiva dar uma visão panorâmica sobre os recursos hídricos em todo o Brasil, podendo ser considerado o Documento Básico para Discussão do PNRH. O Volume II compatibiliza as informações disponíveis, os estudos já realizados e os levantamentos específicos nas treze bacias e regiões hidrográficas, resultando no quadro atual dos corpos hídricos. Na fase de prognóstico estima-se o quadro futuro de disponibilidade e demanda dos corpos hídricos nas bacias, com base nas informações obtidas no diagnóstico, por meio da análise de evolução da distribuição das populações e das atividades econômicas; da evolução do uso e ocupação do solo; da evolução do uso, disponibilidade e demanda de água e seus impactos ambientais. A partir dos cenários alternativos (tendencial e desejado), ambos com horizontes de médio e longo prazo (5 e 15 anos), propor-se-ão diretrizes e programas, nacionais e regionais, almejando-se o cenário desejado. O Volume III aborda os mesmos itens de diagnóstico, prognóstico e diretrizes, adotados no volume anterior, porém focando-se áreas especiais de planejamento, tais como aqüíferos regionais e transfronteiriços, bacias transfronteiriças, eixos nacionais de integração e desenvolvimento, o sistema elétrico interligado, transposições entre bacias, o semi-árido nordestino e outras macro e microrregiões selecionadas. O Volume IV, programas e adequação da base legal, apresentará propostas de mecanismos de governo, calcados nas premissas do desenvolvimento sustentável, para a implementação da gestão de recursos hídricos no Brasil, incluindo: - Programas de âmbito nacional e regional; - Campanhas de âmbito nacional; - Adequação da base legal e institucional; - Diretrizes para implementação dos instrumentos de gestão; - Proposta para implantação do sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos; - Capacitação material e técnica permanente dos órgãos e entidades que constituem o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. O Resumo Executivo - Volume V - fornece as informações e os resultados dos quatro volumes anteriores, de maneira sucinta e em linguagem accessível, incluindo as propostas de metas, estratégias, medidas, programas e projetos prioritários para o Brasil. 4
4 Figura Fluxograma do Plano Nacional de Recursos Hídricos. 5
5 2.3. Base Físico-Territorial Com a instituição da Lei 9.433/97, definiu-se a bacia hidrográfica como a unidade territorial para a implementação da Política de Recursos Hídricos e atuação do Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Na bacia hidrográfica a gestão dos recursos hídricos deve se dar de forma integrada, descentralizada e participativa, considerando as diversidades sociais, econômicas e ambientais do País. Na bacia a gestão dos recursos hídricos e a gestão ambiental, dos sistemas estuarinos e das zonas costeiras deverão ser tratadas de maneira integrada. A gestão deve estar articulada com o planejamento dos setores usuários, os planejamentos regional, estadual e nacional e a gestão do uso do solo. Em termos da implementação dos Comitês de Bacia Hidrográfica, estes terão como área de atuação as bacias hidrográficas de 1 a, 2 a e 3 a ordens ou um grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas, devendo-se observar, além dos aspectos de ordem física, aspectos de natureza social, cultural e econômica na definição dessas áreas de atuação dos Comitês. Uma definição que também se faz necessária é a forma de interação entre Comitês de bacias de rios principais com os respectivos Comitês de bacias de seus tributários, principalmente quando se tem dominialidades diferenciadas nesses casos. De acordo com a Resolução CNRH nº 05/00, a área de atuação de cada Comitê será estabelecida no decreto de sua instituição e na Divisão Hidrográfica Nacional, a ser incluída no Plano Nacional de Recursos Hídricos - PNRH, onde deve constar a caracterização das bacias hidrográficas brasileiras, seus níveis e vinculações. Baseado nisso definiu-se a divisão hidrográfica a ser utilizada no PNRH, adotando uma metodologia que proporciona o referenciamento de bases de dados para a sistematização e compartilhamento de informações por todas as bacias hidrográficas. O Plano Nacional de Recursos Hídricos de 1985, elaborado pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica DNAEE, e o Diagnóstico dos Recursos Hídricos Nacionais, de 1998, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas FGV por força de convênio firmado com a Secretaria de Recursos Hídricos SRH/MMA, propuseram bases territoriais diferentes, atendendo as especificidades de cada documento que o integra. A base físico-territorial apresentada pelo DNAEE é composta por oito grandes bacias e regiões hidrográficas, enquanto a divisão proposta pela FGV acrescenta uma bacia, desmembrando as bacias dos rios Paraguai e Paraná, e inserindo a bacia do Atlântico, trecho norte, na bacia Amazônica. Observou-se que para atender aos novos requisitos da Lei nº 9.433/97 e do PNRH, tornava-se necessária à adoção de uma sistemática de divisão em níveis e codificação das bacias hidrográficas, que permitisse o agrupamento e a subdivisão das bacias hidrográficas, de forma a atender o objetivo específico ou região de interesse. Baseado nas análises anteriores, foram consideradas 13 regiões hidrográficas (bacias ou conjunto de bacias hidrográficas contíguas) abrangendo o território nacional, onde o rio principal deságua no mar ou em território estrangeiro (Figura 2.3). São elas: Região Hidrográfica Amazônica; Região Hidrográfica Costeira do Norte; Região Hidrográfica do Tocantins; Região Hidrográfica Costeira do Nordeste Ocidental; Região Hidrográfica do Parnaíba; Região Hidrográfica Costeira do Nordeste Oriental; Região Hidrográfica do São Francisco; Região Hidrográfica Costeira do Leste; Região Hidrográfica Costeira do Sudeste 6
6 Região Hidrográfica do Paraná; Região Hidrográfica do Uruguai; Região Hidrográfica Costeira do Sul; Região Hidrográfica do Paraguai. COSTEIRA DO NORTE AMAZONAS COSTEIRA DO NORDESTE OCIDENTAL PARNAÍBA COSTEIRA DO NORDESTE ORIENTAL TOCANTINS SÃO COSTEIRA FRANCISCO DO LESTE PARAGUAI PARANÁ COSTEIRA DO SUDESTE URUGUAI COSTEIRA DO SUL Figura Divisão Hidrográfica Proposta pelo Plano Nacional de Recursos Hídricos. Esta proposta pretende adequar as divisões do DNAEE e da FGV, ao atual sistema de gerenciamento de recursos hídricos. As principais premissas que lastrearam a divisão proposta foram: identificação dos grandes rios que deságuam no mar ou em território estrangeiro; consideração das diferenças regionais e suas particularidades, como por exemplo, o bioma do Pantanal e o desenvolvimento socioeconômico nas regiões Sul e Sudeste, que motivaram a desagregação das bacias dos rios Paraná, Paraguai e Uruguai; compatibilização com a metodologia de codificação de bacias (Resolução do CNRH No 30, de 11 de Dezembro de 2002). Embora a legislação tenha estabelecido a bacia hidrográfica como a base territorial para implementação da política e atuação do sistema nacional de gerenciamento, é importante que o PNRH tenha uma visão mais abrangente, que considere, entre outros aspectos, áreas especiais tais como as águas subterrâneas (que extrapolam os divisores de águas superficiais e as divisas políticoadministrativas), as bacias e aqüíferos transfronteiriços, as regiões e ecossistemas naturais, as regiões 7
7 político-administrativas e econômicas, as macro e microrregiões, os eixos de desenvolvimento, dentre outras regiões com características que extrapolem os limites da bacia hidrográfica. Nesse sentido, como já foi dito, o Volume III deverá apresentar a abordagem do planejamento dos recursos hídricos no âmbito das áreas com recortes territoriais não necessariamente coincidentes com as divisões hidrográficas. 8
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