Alegou, tendo concluído:

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1 Página 1 de 9 Acórdãos STA Processo: 01015/14 Data do Acordão: Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: ARAGÃO SEIA Descritores: Sumário: Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo IMPUGNAÇÃO JUDICIAL OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO FISCAL ERRO NA FORMA DE PROCESSO Nº Convencional: JSTA000P18182 Nº do Documento: SA Data de Entrada: Recorrente: A... Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral I O erro na forma do processo, nulidade decorrente do uso de um meio processual inadequado à pretensão de tutela jurídica formulada em juízo, afere-se pelo pedido e não pela causa de pedir, conquanto esta possa ser utilizada como elemento de interpretação daquele, quando a esse respeito existam dúvidas. II Tendo aquele que foi chamado à execução fiscal por reversão deduzido impugnação judicial em que pediu a procedência da impugnação - invocando a caducidade da liquidação que deu origem à dívida exequenda - e, do mesmo passo e no mesmo articulado, pediu a anulação da decisão de reversão, verifica-se erro parcial na forma do processo, devendo desprezar-se este último pedido e prosseguir o processo apenas para conhecimento do primeiro, que é o único adequado à forma processual escolhida. Texto Integral: Acordam os juízes da secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: A, com sinais nos autos, inconformado, recorre da sentença proferida pelo TAF de Braga, datada de 22/10/2013, que absolveu a Fazenda Pública desta instância de impugnação judicial, por julgar verificada a excepção dilatória do erro na forma de processo. Alegou, tendo concluído: 56º Em síntese e na substância o que está em causa no caso em apreço, confina-se a saber se o meio processual utilizado pelo então Impugnante ora Recorrente para colocar em crise o direito de a F. P. reclamar o pagamento de tributos é o meio legalmente admissível para o efeito.

2 Página 2 de 9 57 O Meritíssimo Juiz do Tribunal a Quo, na esteira da tese gizada pela F. P. em sede de contestação, considerou a existência de erro de forma do processo e, nesta conformidade, absolveu a F. P. da instância. 58 Sucede que, com a devida vénia, não assiste razão ao Meritíssimo Juiz do Tribunal a Quo. 59 Na verdade, o então Impugnante ora Recorrente, invoca em sede de P. I., não uma, mas três ilegalidades cometidas pela Fazenda Pública com o objectivo de reclamar ao impugnante os tributos sub judice. 60 Com efeito, o Impugnante/Recorrente, invocou em sede de P.I. a) Caducidade do direito de a F. P. liquidar os tributos cujo pagamento reclamou à Impugnante. b) Prescrição dos tributos. c) Inaplicabilidade do regime jurídico da responsabilidade tributária ao caso em apreço. 61º Ora, o meio processual adequado e legalmente admissível para colocar em crise as ilegalidades perpetradas pela Fazenda Pública e que supra se identificaram, é, justamente, a impugnação judicial prevista no art. 99º do CPPT. 62º Reza o art. 99 do CPPT, que «constitui fundamento de impugnação qualquer ilegalidade» 63º No caso sub judice, como se demonstrou à saciedade em sede de alegações, a F. P. cometeu três ilegalidades as quais foram invocadas pelo Impugnante com o objectivo de provar que não assistia nem assiste à F. P., o direito de reclamar ao Impugnante/Reclamante o pagamento dos tributos em causa. 64 Face ao indeferimento parcial do recurso hierárquico então interposto pelo Impugnante/Recorrente, o único meio processual disponível para colocar em crise as ilegalidades perpetradas pela F. P. era através da Impugnação judicial prevista no art. 99 do CPPT 65 Objectivamente, a impugnação judicial é o meio processual adequado para obter a anulação de um acto

3 Página 3 de 9 praticado pela administração tributária, ou a declaração da sua nulidade ou inexistência. 66 Nesta conformidade e atento o conteúdo da P. I. apresentado pelo Recorrente junto do Tribunal a Quo, não subsistem dúvidas que não ocorreu qualquer erro de forma de processo. 67º Para concluir pela não existência de erro de forma de processo, é suficiente o facto de o Impugnante ter invocado em sede de P.I., a caducidade do direito da F. P. de liquidar os tributos cujo pagamento reclama ao Impugnante. 68 É, que, verificando-se, como se verifica, (a Fazenda Pública não contestou) a caducidade do direito de liquidar os tributos em causa, 69º O próprio acto de liquidação de tributos (não a liquidação em si mesma) é ilegal por ter sido praticado intempestivamente. 70º Nesta conformidade, é evidente e notório que estamos perante uma ilegalidade grosseira cometida pela F. P. 71º Assim sendo, como é, o meio processual admitido para reagir contra tal ilegalidade é através da impugnação judicial prevista no art 99º da LGT. 72º Mutatis mutandis, a mesma tese é aplicável às restantes ilegalidades invocadas pelo Impugnante em sede de P. I. 73º Todavia, não foi esse o entendimento do Meritíssimo Juiz do Tribunal a Quo, por isso o presente RECURSO. Nestes termos e outros de direito que VªS Excªs doutamente suprirão, deve o presente RECURSO ser julgado procedente e, em consonância, deve a decisão recorrida ser revogada no sentido dos EXM S SRS JUIZES DESEMBARGADORES, conhecerem o mérito da causa, prestando homenagem ao princípio da celeridade processual e justiça em tempo útil, ou, se assim não se entender, deve a decisão recorrida ser revogada no sentido de julgar não verificada a excepção dilatória de erro de forma no processo e, nessa conformidade, o Tribunal a Quo conhecer o mérito da causa ASSIM SE FAZENDO JUSTIÇA.

4 Página 4 de 9 Não foram apresentadas contra-alegações. O Ministério Público, junto deste Supremo Tribunal, emitiu o seguinte parecer: Objecto do recurso: decisão absolutória da Fazenda Pública da instância em impugnação judicial deduzida após citação em processo de execução fiscal. FUNDAMENTAÇÃO 1. A impugnação judicial constitui meio adequado de reacção contenciosa contra a decisão de deferimento parcial do recurso hierárquico interposto pelo recorrente, na sequência de decisão de deferimento parcial de reclamação graciosa tendo por objecto liquidações oficiosas de IVA - anos 1999, 2000 e 2003 (art. 76 nº2 CPPT: PA apenso fls. 168/177 e 182/184). Não existe erro na forma de processo porque o impugnante formulou o pedido explícito de procedência da impugnação judicial, sendo o pedido de anulação do despacho de reversão mera consequência da procedência do pedido principal, na medida em que determinaria a anulação da dívida exequenda. 2. A impugnação judicial foi deduzida tempestivamente, considerando: a) a notificação da decisão do recurso hierárquico por ofício com data de , do qual tomou conhecimento em (petição art.6 ; PA apenso fls.182/184); b) a apresentação da petição, por via postal, com registo em (probatório nº 5; art. 102 nº 1 al. e) CPPT). A invocada falta de notificação válida da liquidação no prazo de caducidade configura ilegalidade que constitui fundamento para a impugnação judicial (art. 99 CPPT). 3. O objecto mediato da impugnação judicial deve ser restringido à liquidação subsistente de IVA, único objecto do precedente recurso hierárquico. O tribunal recorrido deve apreciar apenas o fundamento legal de impugnação judicial, não conhecendo as causas de pedir enunciadas na petição que constituem

5 Página 5 de 9 fundamento de oposição à execução (prescrição da dívida exequenda e ilegalidade do despacho de reversão). O recurso merece provimento. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir. Na sentença recorrida levou-se ao probatório a seguinte matéria de facto: 1. Com vista à cobrança coerciva de dívidas de IRC e IVA, respectivamente relativas a 1998 e 1999, nos montantes de 8.063,40 e 748,20, foram instaurados contra a sociedade comercial B, Lda., Contribuinte Fiscal n.., os Processos de Execução Fiscal nº , n A Administração Tributária remeteu ao impugnante o oficio n 4043, datado de 20/6/2006, que consta a fls. 32 do processo apenso, com vista à sua notificação para exercer o direito de audição prévia em relação à reversão operada nos Processos de Execução Fiscal identificados em O impugnante foi citado, enquanto revertido, no âmbito dos Processos de Execução Fiscal identificados em 1, em 11/7/ O impugnante deduziu oposição em relação ao Processo de Execução Fiscal n e apensos, que foi liminarmente rejeitada por decisão de 24/10/2008, conforme documento de fls. 74/75 que se dá por reproduzido. 5. A presente impugnação foi remetida sob registo postal de 5/4/2011. FACTOS NÃO PROVADOS Nada mais se provou com interesse para o conhecimento do mérito. Nada mais se levou ao probatório. Há agora que apreciar o recurso que nos vem dirigido. Ao contrário do decidido no tribunal a quo, pretende o recorrente ser ajustada a forma de processo de que lançou mão para efeitos de impugnar os tributos que agora lhe estão a ser exigidos.

6 Página 6 de 9 Como bem se percebe do teor da petição inicial, a presente impugnação judicial surge na sequência da decisão do recurso hierárquico, interposto pelo recorrente da decisão da reclamação graciosa que deduziu contra as liquidações de IVA e IRC que contra si foram revertidas. O recorrente concluiu a sua petição inicial, formulando o seguinte pedido: Nestes termos e outros de direito que V. Exa. doutamente suprirá, deve a presente impugnação se admitida, sendo, a final, julgada procedente por provada e, em consonância, ser anulado o despacho de reversão fiscal que determina a citação do ora impugnante na qualidade de responsável subsidiário pelas dívidas sub judice.. Tem este Supremo Tribunal, com o apoio da doutrina, afirmado de modo reiterado que, o erro na forma do processo afere-se pela adequação do meio processual utilizado ao fim por ele visado: se o pedido formulado pelo autor não se ajusta à finalidade abstractamente figurada pela lei para essa forma processual ocorre o erro na forma do processo (Cf. ALBERTO DOS REIS, Código de Processo Civil Anotado, volume II, Coimbra Editora, 3.ª edição reimpressão, págs. 288/289. No mesmo sentido, RODRIGUES BASTOS, Notas ao Código de Processo Civil, volume I, 3.ª edição, 1999, pág. 262, e ANTUNES VARELA, Revista de Legislação e Jurisprudência, ano 100.º, pág. 378.), cfr. acórdão datado de 28/05/2014, recurso n.º 01086/13. Contudo, também este Supremo Tribunal, e tendo sempre em vista os princípios da tutela jurisidicional efectiva e pro actione, tem vindo a adoptar uma posição de grande flexibilidade na interpretação do pedido quando, em face das concretas causas de pedir invocadas, se possa intuir ainda que com recurso à figura do pedido implícito qual a verdadeira pretensão de tutela jurídica. Mas isso não autoriza que, no método para aferir da verificação do erro na forma do processo, se substitua o pedido, enquanto elemento determinante para apurar a propriedade processual, pela causa de pedir. Assim, para saber se ocorre ou não erro na forma do processo é preciso atentar no pedido que foi formulado, na concreta pretensão de tutela jurisdicional que o contribuinte visa obter; já saber se as causas de pedir aduzidas podem ou não suportar esse pedido é matéria

7 Página 7 de 9 que se situa no âmbito da procedência. Por isso, com o fundamento de que as causas de pedir invocadas não são adequadas ao pedido formulado poderá decidir-se no sentido da improcedência da acção (eventualmente, até do indeferimento liminar da petição inicial), mas não no sentido da verificação do erro na forma do processo., cfr. acórdão supra citado. Conjugando estas regras com o pedido formulado pelo recorrente, facilmente podemos concluir que o pedido de anulação do despacho de reversão fiscal não é próprio da forma de processo da impugnação judicial, antes se reconduz a um pedido próprio do processo de oposição à execução fiscal; o meio processual próprio para atacar uma decisão de reversão da execução fiscal, é o processo de oposição à execução fiscal, enquadrando-se as referidas situações, na previsão das diversas alíneas do n.º 1 do art. 204.º do CPPT. Contudo, também se surpreende que o recorrente pugna pela procedência da impugnação, impugnação esta que surge na sequência da decisão de dois recursos hierárquicos, um decidido pela Direcção dos Serviços do IVA e outro pela Direcção de Serviços do IRC, sendo que em ambos se colocava, e foi apreciada, a questão da legalidade de liquidações do respectivo imposto. E portanto, tendo tais recursos hierárquicos versado a legalidade das liquidações do imposto, poderia o recorrente lançar mão da impugnação judicial, cfr. acórdãos datados 24/10/2012, recurso n.º 0747/12 e de 15/04/2009, recurso n.º 01108/08, e, nessa medida, o pedido formulado de procedência da impugnação adequase à real pretensão do recorrente, ou seja, anulação da decisão do recurso hierárquico e, simultaneamente, conhecimento da legalidade da liquidação, cfr. art. 102º, n.º 1, al. e) do CPPT. Tendo, assim, sido formulado pedido de procedência da impugnação judicial, o que resta saber é se, como já atrás se disse, as causas de pedir são, ou não, idóneas à procedência da pretensão do interessado. Podemos, pois, concluir que, ao invés do decidido erro na forma de processo impunha-se fazer prosseguir o processo apenas para apreciação do pedido de procedência da impugnação e considerar-se sem efeito o pedido de anulação do despacho de reversão (não vem

8 Página 8 de 9 impugnado o julgamento feito pelo Tribunal a quo sobre a impossibilidade de uma eventual convolação para a forma de oposição à execução fiscal por extemporaneidade). Igualmente, não obstaria ao prosseguimento da presente impugnação, o facto de se terem cumulado no mesmo processo dois tributos distintos, como vem referido na sentença recorrida. Tem este Supremo Tribunal entendido que pode ser cumulada a impugnação dos impostos do IVA e IRC porque em ambos os casos estamos perante tributos com a natureza de impostos, razão pela qual se deve entender que não falta o requisito da identidade da natureza dos tributos, cfr. artigo 104º do CPPT e, entre outros, o acórdão datado de 06/03/2013, recurso n.º 01327/12. No entanto, e como salienta o magistrado do Ministério Público junto deste Supremo Tribunal, sempre restaria o fundamento da caducidade da liquidação - posto que os fundamentos da prescrição e da ilegalidade da reversão são próprios do processo de oposição e, por isso, não poderiam ser conhecidos no âmbito deste processo -, entendido enquanto contendendo com a legalidade da própria liquidação, cfr. acórdão datado de 28/09/2011, recurso n.º 0473/11. Acontece, porém, que neste momento não dispõe este Supremo Tribunal dos elementos factuais necessários à decisão de tal questão e, nessa medida, deverão os autos baixar ao Tribunal a quo, para que seja ampliada a respectiva matéria de facto. Termos em que, face ao exposto, acordam os Juízes da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo conceder provimento ao recurso e: a) revogar, nos termos atrás apontados, parcialmente a decisão recorrida que decidiu pela absolvição da instância; b) devendo os autos baixar à primeira instância para prosseguirem, se nada mais obstar. Sem custas. D.N. Lisboa, 5 de Novembro de Aragão Seia (relator) Casimiro Gonçalves Francisco Rothes.

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