UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO CAMPUS BAIXADA SANTISTA Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da Saúde. Ricardo Antonio Nunes Neto

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO CAMPUS BAIXADA SANTISTA Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da Saúde Ricardo Antonio Nunes Neto PRODUTO TÉCNICO: PROTOCOLO DE ATENÇÃO À SAÚDE BUCAL NO PRÉ-NATAL NA ATENÇÃO BÁSICA Santos 2016

2 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO CAMPUS BAIXADA SANTISTA Programa de Pós-Graduação Ensino em Ciências da Saúde Ricardo Antonio Nunes Neto PRODUTO TÉCNICO: PROTOCOLO DE ATENÇÃO À SAÚDE BUCAL NO PRÉ-NATAL NA ATENÇÃO BÁSICA Produto técnico da dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Mestrado Profissional Ensino em Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo, Campus Baixada Santista, para a obtenção do título de Mestre Profissional em Ensino em Ciências da Saúde. Santos 2016

3 Uma breve introdução Entre as ações específicas de Odontologia na atenção básica, destacase a atenção à saúde bucal das gestantes, cuja importância deve-se ao bemestar dessas mulheres, bem como à relação entre as doenças bucais, especialmente a doença periodontal, e a prematuridade e baixo peso ao nascer bem documentada na literatura (Offenbacher et al., 1996). A gestante apresenta um risco maior ao desenvolvimento de doenças bucais, sendo que a doença periodontal e a cárie dentária apresentam aumento de incidência, sendo as alterações bucais mais comuns durante essa fase. Esse aumento se deve a diversos fatores, como as modificações hormonais, a mudança dos hábitos alimentares, náuseas, vômitos e outros fatores que dificultam a higienização adequada (Aleixo et al., 2010). A gestação é um evento fisiológico natural, mas que impõe aos profissionais de saúde conhecimentos para uma abordagem segura. O estado da Saúde Bucal da gestante tem relação com seu estado de saúde geral, e interfere na saúde geral e bucal do bebê (Ministério da Saúde (BR), 2011). O tratamento odontológico durante a gravidez é geralmente seguro, e além de evitar complicações na gestação, melhora a qualidade de vida da mulher e reduz o risco de transmissão de patógenos orais da mãe para os filhos (Mendes et al., 2010). Muitas vezes os profissionais e as gestantes têm receio em relação ao tratamento odontológico durante a gestação, priorizando apenas os procedimentos preventivos e postergando até o nascimento do bebê os tratamentos mais invasivos, sem considerar que a manutenção de problemas na cavidade oral pode causar problemas na gestação, além de um dano maior em função da progressão da doença. O tratamento odontológico é mais seguro no segundo trimestre da gestação, mas os casos que necessitem de cuidados urgentes podem ser solucionados em qualquer período gestacional. A maioria dos procedimentos odontológicos pode ser feito sem maiores complicações, desde que sejam planejadas sessões curtas, adequação da posição da cadeira

4 e conhecimento do profissional quanto aos fármacos de uso seguro na gestação (Bastiani et al., 2010). Durante a gestação, mãe e feto formam uma unidade funcional inseparável, sendo que ao tratar a mãe é importante considerar a máxima proteção ao bebê. Alguns medicamentos podem ter efeitos perigosos sobre o feto, e por isso, a prescrição deve ser criteriosa, evitando-se o uso desnecessário de fármacos em gestantes. Em caso de necessidade, deve-se utilizar medicamentos com baixo risco e segurança bem documentada (Ministério da Saúde (BR), 2011). A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) disponibiliza em seu website o Manual de drogas na gravidez, que contém uma lista de medicamentos classificados de acordo com a sua indicação ou restrição de uso na gestação, baseando-se nas recomendações do FDA (Food and Drug Administration) dos Estados Unidos. Todos os tratamentos odontológicos essenciais podem ser feitos durante a gravidez, desde que algumas precauções sejam tomadas. Segundo o Protocolo Integrado de Atenção à Saúde Bucal de Curitiba (2004), e o manual de Atenção à Saúde da Gestante em APS (2011), é importante levar em consideração: marcar as consultas na segunda parte da manhã, quando os enjoos são menos frequentes; o período ideal para o tratamento odontológico é o segundo trimestre (época em que a mãe e o bebê estão mais estáveis), já que no primeiro trimestre a gestante tem muitos enjoos, e no terceiro trimestre a gestantes tem maiores desconfortos em virtude do tamanho do bebê; entretanto, todos os casos urgentes devem ser resolvidos, independentemente do período gestacional; sessões de atendimento curtas, evitando-se o decúbito dorsal; ênfase nas ações educativas e conversas sobre as alterações da boca na gestação; a lidocaína 2% com norepinefrina é o anestésico local de escolha para gestantes;

5 as radiografias podem ser realizadas, se realmente necessárias, usando-se filmes ultrarrápidos, colete plumbífero e protetor de tireoide. A literatura, junto aos achados do projeto intitulado Saúde bucal e o cuidado com a gestante: oficinas como estratégia de educação permanente na atenção básica nos morros de Santos, bem como da experiência como dentista de uma Unidade de Saúde da Família, resultaram na proposta de um protocolo que pretende oferecer diretrizes para organizar os fluxos, bem como garantir o acesso e o acompanhamento da saúde bucal durante o pré-natal. É importante ressaltar que este protocolo não pretende engessar as ações de saúde bucal, mas nortear o acompanhamento à saúde bucal das gestantes como parte integrante, de fato, da atenção ao pré-natal, uma vez que, durante a produção de dados na pesquisa, um achado recorrente foi a dificuldade no acompanhamento da Saúde Bucal durante o pré-natal.

6 Fluxograma 1: Abertura do pré-natal Toda mulher que procurar a unidade para realizar teste de detecção de gravidez deve, em caso positivo, ser encaminhada à equipe de Saúde Bucal logo após a abertura do pré-natal. As equipes devem oferecer acesso ao acompanhamento das gestantes pela ESB, sem a necessidade de filas ou listas de espera.

7 Fluxograma 2: Acompanhamento pela ESB A ESB deve acolher a gestante, e inicialmente fazer uma aproximação com sua história de Saúde Bucal. A anamnese deve ser valorizada como um momento com potência para estabelecer vínculo e entender as necessidades de Saúde Bucal da gestante.

8 Fluxograma 3: Faltas às consultas com a ESB Em caso de faltas das gestantes às consultas com a ESB, toda a equipe de saúde deve estar empenhada em fazer a busca ativa dessa gestante para marcar uma nova consulta. É importante a equipe tentar entender porque aconteceu a falta, e se for detectada alguma dificuldade na adesão dessa gestante ao acompanhamento pela ESB, a equipe deve discutir o caso, na tentativa de corrigir as inadequações e buscar o vínculo entre a gestante e a ESB.

9 Referências Aleixo RQ, Moura CO, Almeida FA, Silva HM. Alterações bucais em gestantesrevisão da literatura [Oral lesions in pregnants review of the literature]. Resco July-Dec; 1(1): Portuguese. Bastiani C, Cota AL, Provenzano MG, Fracasso ML, Honório HM, Rios D. Conhecimento das gestantes sobre alterações bucais e tratamento odontológico durante a gravidez. {Pregnant's knowledge about oral alterations and dental treatment during pregnancy]. Odontol. Clín.-Cient. (Online). 2010, Apr-Jun; 9 (2). Portuguese. Finkler M, Oleinski DM, Ramos FR. Saúde bucal materno-infantil: um estudo de representações sociais com gestantes [Pregnancy and oral health: a social representation study]. Texto contexto enferm July-Sept; 13(3): Portuguese. Maeda FH, Imparato JC, Bussadori SK. Atendimento de Pacientes Gestantes. A importância do conhecimento em saúde bucal dos médicos ginecologistasobstetras. [The attendance of pregnancy patients]. RGO Jan-Mar; 53(1): Portuguese. Mendes YB, Gomes GM, Lawder JA, Santos FA, Gomes JC, Pilatti GL. A influência da Doença Periodontal sobre Nascimentos de Crianças Prematuras e de Baixo Peso [The Influence of the Periodontal Disease on Preterm and Low Birth Weight Children]. UNOPAR cient ciênc biol saúde. 2010; 12(1): Portuguese Ministério da Saúde (BR). Grupo Hospitalar Conceição. Gerência de Saúde Comunitária. Atenção à saúde da gestante em APS. Orgs.: Lenz ML, Flores R. Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, p. Portuguese Offenbacher S, Katz V, Fertij G, Collins J, Boyd D, Maynor G, et al. Periodontal infection as a possible risk factor for preterm low birth weight. J. periodontol Chicago, 1996 Oct; 67(10 Suppl): Sanz M, Kornman K. Periodontitis and adverse pregnancy outcomes: consensus report of the joint EFP/AAP Workshop on Periodontitis and Systemic Diseases. J Periodontol Apr; 84(4 Suppl.): S164-S169. Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba. Centro de Informação em Saúde. Coordenação do Programa de Saúde Bucal. Protocolo Integrado de Atenção à Saúde Bucal. Curitiba: p.