sua expectativa de vida devido ao avanço no campo da medicina e à redução

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1 A INCLUSÃO SOCIAL DE IDOSOS A PARTIR DA PARTICIPAÇÃO EM GRUPOS DE OFICINAS AUTOBIOGRÁFICAS Elenilda Lima de Matos Franke Patricia Unger Raphael Bataglia Maria Helena Palma de Oliveira Universidade Bandeirante de São Paulo SP - Brasil Introdução: O presente resumo se refere ao relato dos principais resultados do projeto de pesquisa de iniciação científica realizado sobre o tema Inclusão de Idosos a partir da participação em grupos de oficinas autobiográficas. Nestes grupos, participam idosos em tratamento de vestibulopatia no Laboratório de Reabilitação Vestibular que é parte de um Programa de Mestrado de uma Universidade em São Paulo. O Mestrado acima mencionado é interdisciplinar, o que faz com que o paciente seja visto de modo integral. A assistência que se pretende realizar envolve a reabilitação física bem como a integração social e a atenção a aspectos psicológicos. Refletir sobre o envelhecimento e suas condições dentro da sociedade de hoje é um exercício constante que deve envolver as áreas, social, familiar, econômica e política. Sabe-se que o envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que vem adquirindo características peculiares no Brasil. O envelhecimento da população brasileira é reflexo do aumento da expectativa de vida, devido ao avanço no campo da saúde e à redução da taxa de natalidade. Metodologia: Foram realizadas nesse projeto oficinas de produção autobiográfica com grupos de idosos. Segundo Bruner e Weisser (1995) que se dedicam ao estudo das funções e das formas narrativas autobiográficas, a autobiografia é a teoria do próprio ser, e por isso, a mais importante de todas. Pressupõe-se que esse trabalho abra a possibilidade ao idoso de fazer uma reinterpretação da própria história e do contexto onde estão inseridos. Resultados: Destacam-se: os encontros são vistos, pelos idosos, como um momento em que um pode contribuir e aprender com o outro; possibilitam reflexões; a recordação de fatos passados e o relato desses fatos possibilitam a re-significação desses momentos. Palavras-chave: inclusão social; produção autobiográfica; interdisciplinaridade Segundo os padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil, hoje, pode ser considerado um país estruturalmente envelhecido. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2000), os idosos são hoje 14,5 milhões de pessoas, 8,6% da população total do país. O Censo 2000, afirma que, em 2030 o Brasil terá a sexta população mundial de idosos em números absolutos. Havendo cerca de sete milhões de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos em 1980 e estima-se que em 2020 a população com mais de 60 anos no país deva chegar a 30 milhões de pessoas (13% do total), e a esperança de vida, atinja 70,3 anos. Os dados da pesquisa mostram que no Brasil a população idosa aumentou sua expectativa de vida devido ao avanço no campo da medicina e à redução

2 da taxa de natalidade. Aumentando a participação dos idosos com 75 anos ou mais no total da população - em 1991, eles eram 2,4 milhões (1,6%) e, em 2000, 3,6 milhões (2,1%). (IBGE, 2000). Esse processo de envelhecimento demográfico repercutiu e continua repercutindo nas diferentes esferas da estrutura social, econômica, política e cultural da sociedade, uma vez que os idosos, da mesma forma que os demais segmentos etários (crianças, jovens e adultos), possuem demandas específicas para obtenção de adequadas condições de vida. Tais demandas fizeram da velhice tema privilegiado de investigação nas distintas áreas de conhecimento, elevando substancialmente o volume de obras publicadas nos últimos tempos. (SIQUEIRA; BOTELHO; COELHO, 2002, p.900) Muitos idosos, ao atingirem certa idade, não estão aptos a trabalhar e, sem outras fontes de rendimento, atravessam dificuldades econômicas comprometendo seu bem estar e qualidade de vida, juntamente com o surgimento de doenças típicas do envelhecimento, além do abandono a que muitos estão sujeitos. O momento que poderia ser um período de desfrutar o que se buscou ao longo de uma vida de trabalho, transforma-se em um momento de crise econômica, afetiva e social. O estatuto do idoso, em seu Art. 3º tem o objetivo de resgatar a dignidade do Idoso. [...] É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária... (ESTATUTO DO IDOSO, 2003 art. 3º). A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 25º coloca ainda: I) Todo o homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda de meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. (Declaração Universal dos Direitos Humanos).

3 Moura (2005) destaca que mesmo na velhice extrema é fundamental que se mantenha a alegria e que as pessoas continuem desenvolvendo atividades físicas e intelectuais. Tendo então em vista, o papel social do Laboratório de Reabilitação e ainda a importância de trabalharmos com o paciente integral, desenvolveu-se o projeto de oficinas autobiográficas. Tal projeto baseou-se em Bruner (2001). O autor tem o relato autobiográfico como ferramenta de auto-conhecimento e representação de si mesmo. Quando as histórias vão sendo contadas, aparecem outras lembranças significativas, e assim o sujeito passa a constituir outra história com maior sentido e compreensão. Segundo Bruner (2001, p.132), Já que os significados das partes de uma história são funções da história como um todo e, ao mesmo tempo, a história como um todo depende, para sua formação, de partes constituintes apropriadas, a interpretação da história parece irremediavelmente hermenêutica. Deve-se fazer com que as partes de uma história e seu todo, por assim dizer, vivam juntos. E quando a historia suscita nosso interesse, não podemos resistir à tentação de fazer com que suas partes façam isto. É isto que cria a compulsão hermenêutica da narrativa. A interpretação e reinterpretação dos momentos vividos dão um sentido de continuidade e nova significação ao momento presente. As partes da história de cada um (momentos vividos) são trazidos para o presente e integrados a essa nova forma de ser e estar no mundo. Durante as oficinas foram feitas atividades de dinâmicas em grupo com pacientes vestibulopatas, acima de 60 anos, de ambos os sexos em tratamento no Laboratório de Reabilitação do Equilíbrio Corporal, encaminhados pela Secretaria Municipal de Assistência Social da Prefeitura de São Paulo com quem o Laboratório tem convênio. Para Gonçalves e Perpétuo (2000, apud FONSECA, 2005) a vivência, o jogo, o lúdico, viabilizado através de dinâmicas de grupos possibilitam o surgimento das condições propícias para a constituição do grupo. Pode-se perceber isto a partir do momento em que eles aceitam se reunir em grupos, pois já se sentem pertencentes a algo e compartilham os mesmos interesses. Nas oficinas, além das reconstruções de memórias passadas, são trabalhadas também possibilidades futuras, planos de ação, de engajamento em novas atividades, fator essencial para o desenho de princípios orientadores da vida pessoal, como diz Carvalho (2003. p. 284): Uma crença, articulada narrativamente no relato autobiográfico, que move processos de identificação, organiza escolhas e tomada de decisões, configurando a internalização de uma orientação ecológica como princípio orientador da vida pessoal e instaurador de relações intersubjetivas onde se dá o reconhecimento pelos pares e a legitimação no campo ambiental.

4 Esse sentimento de sentir-se pertencente a algo ou inserido socialmente, às vezes não ocorre na vida cotidiana do idoso, pois o contexto ou as representações sociais que existem na sociedade e ou até nos próprios idosos, sobre a velhice, como sendo um sujeito não mais ativo, que não produz mais para a estruturação da sociedade, atribui a ele um rótulo negativo de incapacidade e inutilidade. Os encontros em grupos feitos no Laboratório são vistos, pelos idosos, como um momento em que um pode contribuir e aprender com o outro. Possibilitando reflexões e sentimento de mais confiança em si mesmo. Recortes das Oficinas: Falando sobre a infância, Mar diz:... Eu fui criada no orfanato, né. Aí, tinha uma freira lá que, não sei por que, não gostava de mim... então o pessoal tudo aprendendo fazer tricô, bordar, ela não me deixava aprender a bordar nem aprender a fazer tricô, nada. Então o que eu fiz? Eu quebrei um grampo no meio, peguei um pedacinho de linha, e quietinha lá atrás sempre no meio disso eu ficava só assim olhando e fui aprendendo fazer. Aprendi a fazer muita coisa aos trancos e barrancos, mas isso que me trouxe aqui...persistência...que recordação! Compreende a vinculação da persistência que tem no presente com sua história desde a infância. Cel sempre nos trouxe a imagem de alguém que não se deixou abalar por nada na vida, que criou os filhos sozinha, não dependeu de ninguém, trazia uma capa de fortaleza. O momento relatado a seguir foi significativo por abrir para ela mesma a fragilidade que sentiu na identificação com o abandono (interpretado por ela dessa forma) de sua neta: Uma reunião da minha neta, de 10 anos, numa igreja católica... A minha filha (separada) tava trabalhando, não pôde ir. O pai dela não sei o que tava fazendo que não pôde ir, sobrou pra mim. Eu sendo vó, gostei muito. Mas era uma homenagem às mães... e eu acho que tinha que estar a mãe... achei que minha filha errou de trabalhar. Eu sou difícil de chorar mas nessa hora, eu desabei. Então, ela precisa trabalhar... Mas eu acho que dava sim pra controlar... Eu senti mal. Minha filha tinha que estar lá. Ah, foi muito bonito.... Nei expressa claramente aqui o quanto esse passado é atual em seus sentimentos: Sabe por que eu peguei esse chaveirinho? Lembrei... faz muito tempo que eu era criança ainda que nós éramos sozinhos, que a minha mãe tava internada né, e eu era a criança que cuidava dos outros. Quando eu era criança, não tinha ninguém pra fazer. Então isso marcou muito pra mim. A recordação que eu tive. Como isso tá presente, né. Percebe-se no decorrer dos encontros e com as diversas oficinas, que os relatos dos participantes do Laboratório são mais direcionadas as suas histórias de vida, relacionamento familiar ou com os filhos, momentos da infância, vivências tristes, felizes e como se sentem hoje em relação à velhice.

5 Cat resume sua representação do momento presente como uma vitoriosa: A velhice não é bom e nem é ruim, entendeu... E sabe quem resolveu esse problema pra mim? Meu filho... Não que eu tivesse tido problema com velhice, mas talvez chegasse a ter... E a gente conversando, tava só eu e ele conversando, e no meio da conversa que eu ouvi ele falar isso: Velho fica velho, o jovem ele tá com toda força, ele tá fazendo tudo. Mas a qualquer momento ele pode morrer, mas o velho não. O velho, ele sim tem a vida garantida, porque ele já viveu. Ali é tudo vida, a vida ta ali mesmo, experiência, ele sim viveu. Agora o jovem ele tem tudo mas ele pode perder de repente e não ficar velho...então, num momento se eu ia ter problema com velhice, a partir daquele momento... porque como disse meu filho, a vida está contida nele, porque ele viveu, não é verdade A vida de uma pessoa é como uma obra em constante transformação. Que somos como uma obra de arte, vamos moldando cada parte, sendo que uma nunca será igual a outra, uma escultura com partes diferentes representando cada momento da vida e por isso, sempre em transformação, fazendo que cada momento seja único e cada ser humano singular na sua obra. Até a morte. Concluindo, gostaríamos de ressaltar que a contemporaneidade tem colocado aos profissionais da psicogerontologia um desafio, ou seja, como trabalhar com o grupo de idosos de modo a promover a assistência integral e inclusiva valorizando a estória individual e a possibilidade de expressão no coletivo para busca de alternativas? As oficinas de relatos autobiográficos se apresentam como uma proposta interessante. Referências Brasil. Lei n , de 1 o de outubro de Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 3 out Seção 1, p. 1. BRUNER, J. A cultura da educação. Porto Alegre: Artmed, p. BRUNER, Jerome; WEISSER, S. A invenção do ser: a autobiografia e suas formas. In: OLSON, D.R.; TORRANCE, N. Cultura escrita e oralidade. Trad. Valter L.Siqueira. São Paulo, Ática, CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Biografia, identidade e narrativa: elementos para - uma análise hermenêutica. In: Horizontes Antropológicos. Porto Alegre, ano 9, n. 19, p , julho de Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de Psicol. clin., Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, Disponível em INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Perfil dos idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil Rio de Janeiro; MOURA, L. F. Atividades educativas como meio de socialização de idosos institucionalizados. Minas Gerais, 2005 SIQUEIRA, L. R.; BOTELHO, V. I. M.; e COELHO, G. M. F.. A velhice: algumas considerações teóricas e conceituais. 2002, p.900.