O Iluminismo e a Era das Revoluções Burguesas

Transcrição

1 1 O Iluminismo e a Era das Revoluções Burguesas A sociedade européia do Antigo Regime, sob o absolutismo e o mercantilismo, não constituía ainda uma sociedade plenamente capitalista e burguesa. Continuava sendo uma sociedade estamental, com a elite nobre ainda detendo privilégios enquanto a burguesia, enriquecida pelo desenvolvimento comercial, permanecia sem destaque social. Assim, ainda sobreviviam resquícios da velha ordem feudal, como a servidão e os diversos tributos, que limitavam o mercado consumidor e emperravam o completo desenvolvimento capitalista. Ao longo da Idade Moderna, entretanto, a dinâmica do Antigo Regime acabou preparando as condições de sua própria superação, visto que a burguesia adquiriu progressivamente o poder econômico e passou a exigir direitos políticos. Essa classe social de natureza empreendedora contestava o papel social secundário que lhe reservara o Antigo Regime, com sua opulência, sua corte e seus privilégios. A burguesia rebelava-se também contra o intervencionismo mercantilista, já que era quem dominava a economia e era submetida ao controle estatal. No interior desse quadro, no qual o Antigo Regime e desenvolvimento capitalista passaram a conflitar-se, produziu-se um conjunto de idéias que expressava as aspirações dos diversos grupos sociais descontentes, formando uma filosofia contrária ao Antigo Regime, chamada de Iluminismo. Assim, o século XVIII, especialmente na segunda metade, foi o momento de ruptura com a ordem moderna. Começava a Era das Revoluções que se inaugurou com a Independência das 13 colônias (Estados Unidos da América) e continuou com a Revolução Francesa e os demais movimentos de independência na América. Simultaneamente, na área econômica processou-se uma transformação importantíssima, a qual completou a estruturação capitalista, chamada de Revolução Industrial. O Iluminismo O movimento cultural chamado Iluminismo corresponde, no plano ideológico, à critica do Antigo Regime europeu, ou seja, ao estado absolutista, aos privilégios da nobreza e do clero. As idéias básicas desse pensamento eram o racionalismo e o progressismo. O Iluminismo é descendente direto do acentuado desenvolvimento filosófico e cientifico do século XVII (Renascimento Cultural e Revolução Cientifica). Isaac Newton e René Descartes apresentam-se como os principais nomes em que os iluministas foram buscar inspiração. A ideologia iluminista tornou-se conhecida sobretudo na filosofia. Os principais representantes do pensamento ilustrado foram Montesquieu, Voltaire, Rosseu, Diderot e Locke. Todos eles teciam críticas violentas ao absolutismo, ao poder da igreja, à forma de organização da sociedade européia. 1

2 2 No plano do pensamento econômico, durante o século das luzes (séc. XVIII) desenvolveu-se a fisiocracia, a qual defendia a não-interferência do Estado nos assuntos econômicos das nações. Tal doutrina econômica negava o ideário mercantilista, defendendo que a riqueza das nações residia na agricultura, a verdadeira atividade produtiva. Seu lema Laissez faire, laissez passer foi, posteriormente retomado por Adam Smith, o pai do liberalismo econômico. Governantes absolutistas convencidos e envolvidos pelo alcance das idéias iluministas, incorporaram algumas de suas propostas,visando a manutenção de seu poder absoluto, Receberam, por isso, a denominação de déspotas esclarecidos e realizaram reformas em seus Estados partindo, fundamentalmente, do racionalismo ilustrado. O ideário iluminista tornou-se conhecido em diversas partes do mundo em decorrência de sua sistematização em livros e enciclopédias, vindo em decorrência disto influenciar vários movimentos, que encontravam na ideologia iluminista um suporte para combater as principais características do Antigo Regime. Movimento de Independência das 13 Colônias (Revolução Americana) No século XVIII, o processo de desenvolvimento capitalista progredia e a burguesia inglesa via na França, onde a monarquia estava em crise, um grande obstáculo para sua expansão comercial, marítima e colonial. Essa rivalidade chega ao ápice em 1753 quando estoura a Guerra dos Sete Anos. Ao término dessa Guerra, a Inglaterra estaca com sua musculatura econômica enfraquecida, então passou a adotar medidas rígidas em relação ai seu monopólio sobre as suas colônias americanas, formulando assim um escopo de leis mercantilistas, cujo objetivo era reforçar as rédeas comerciais para com a sua colônia americana e fortalecer a sua economia através da exploração colonial. Dentre algumas destas leis temos: Lei do Açúcar Lei do Selo Proibições de Fabricações de Aço e tecidos Atos Townshend (Taxações sobre, vidro, papel e chá) As constantes desavenças entre os interesses dos colonos americanos e a coroa inglesa, configuraram-se também como um problema a mais nas relações entre colonos e metrópole. A insatisfação dos colonos americanos chegou ao máximo quando a metrópole proíbe qualquer ocupação no território da Lousiana, tomado da França. O conjunto de medidas adotadas pelos ingleses em relação ao governo de suas colônias norte-americanas causou violentas manifestações por parte dos colonos. Em 1774, começava a organização de um bloqueio comercial dos produtos vindos da metrópole. 2

3 3 A permanências de manifestações e conflitos entre colonos e ingleses, culminou no dia 4 de julho de 1776, com a Declaração de Independência das 13 colônias com relação à Inglaterra, passando então o governo das 13 colônias ao comando do general George Washington. O movimento de independência das treze colônias recebeu forte influencia dos ideais iluministas, dentre várias características que vinham desde a forma de governo, o sistema de governo, a organização política e a separação entre os poderes (legislativo, executivo e judiciário), além dos ideais de conduta e convívio sociais, caracterizados como os Direitos Humanos. Aspecto este muito presente na Declaração de Independência e na Constituição norteamericana. Contudo, a Inglaterra não aceitou a exigência de independência de sua colônia, entrando em guerra para estabelecer seus interesses no continente. A luta pela libertação das colônias inglesas, seguiu até 1783, quando, finalmente, os colonos com a ajuda francesa e espanhola.conseguiu derrotar os exércitos ingleses. Em 1783 a Inglaterra reconheceu a Independência dos Estados Unidos da América. Após a Independência, foi elaborada a Constituição dos Estados Unidos, que estabeleceu pela primeira vez na história da humanidade um regime republicano democrático e federalista, que serviu de exemplo e modelo para diversos outros movimentos de independência que irromperam pelo continente americano e pelo mundo como um todo. Exercício 1) Observando o movimento de Independência das Treze colônias e sua ligação com o pensamento Iluminista, destaque a sua importância para a formação de novos contornos para o mundo na época em que este movimento se desenvolveu e para as gerações futuras. 3

4 4 A Revolução Francesa ( ) No século XVIII, a burguesia francesa desenvolveu-se extraordinariamente através das atividades comerciais e industriais. A partir disso, intensificou-se o anseio por uma posição social e política mais elevada. A tais ambições, porém, opunham-se as camadas privilegiadas da sociedade francesa, nomeadamente a nobreza cortesã e o alto clero. Entretanto, uma violenta crise econômica abateu-se no país, decorrente do envolvimento da França em diversos conflitos externos e dos altos custos para a manutenção da corte de Versalhes. Na opinião de vários economistas essa crise se solucionaria se estendesse os impostos à nobre\a e ao clero. A decisão sobre essa matéria, porém, precipitou a convocação dos Estados Gerais (o parlamento francês), onde estavam representados os três estados da sociedade francesa. A reunião dos Estados Gerais iniciou-se em 5 de maio de 1789, mas as divergências entre o clero e a nobreza, diante das exigências do terceiro Estado, provocaram a criação da Assembléia Nacional, que se propôs a elaborar uma Constituição para a França. A exaltação popular atingiu o clímax em 14 de julho, quando a população de Paris tomou a Bastilha, uma prisão do Estado, em busca de armas que lhe permitisse lutar contra as tropas reais, este episódio ficou conhecido como a Queda da Bastilha. Temendo por sua segurança muitos nobres e clérigos abandonaram a França. No estrangeiro articulavam o apoio dos reis absolutistas para pôr fim à revolução. Luis XVI tentou fugir da França e obter ajuda absolutista, sendo preso e deposto do trono francês. Em meio à crise, uma nova assembléia, designada Convenção, passou a dirigir a política francesa. Na Convenção, Três grupos rivalizavam-se: os girondinos e a planície, representando a burguesia, e os jacobinos, representantes das camadas populares de tendência radical. Inicialmente os girondinos dominaram as decisões da Convenção, mas perderam o controle da situação quando executaram o rei Luis XVI. Os jacobinos assumiram o poder na França, vencendo as tropas estrangeiras invasoras e controlando os revolucionários. Instalaram o Terror e condenaram milhares de pessoas à morte, constituindo o período mais radical da Revolução Francesa. As divergências internas dos próprios jacobinos, entre os moderados e os radicais, favoreceram as reações burguesas, que em 1794 retomou o poder da Convenção depois de executar Robespierre, o líder do movimento jacobino. Uma nova Constituição foi promulgada e estabeleceu-se o Diretório. A França passava a ser governada por cinco diretores. A instabilidade, entretanto permaneceu representada por várias tentativas de golpe de Estado. Esse clima possibilitou a instalação de um governo forte, através de um golpe. O Golpe do 18 Brumário pôs fim ao governo do Diretório e à Revolução Francesa, iniciando o governo de Napoleão Bonaparte. 4

5 5 O Governo de Napoleão e o Congresso de Viena O golpe de Estado de 18 Brumário do ano VIII (09/11/1799), pôs fim ao Diretório. A partir de então, teve inicio o período de consolidação das conquistas burguesas da Revolução Francesa. Os ideais liberais alastraram-se por todo o mundo, graças às campanhas militares napoleônicas que aceleraram a demolição do que restava do edifício do Antigo Regime. O período de governo de Napoleão Bonaparte permitiu a concretização dos ideais políticos da burguesia francesa, propiciando o livre desenvolvimento do capitalismo naquele país. Após o golpe de Estado que acabou com a fase do Diretório, seguiu-se na França um novo modela de administração, o Consulado. Neste o poder era exercido quase que exclusivamente pó Napoleão, um militar que fora chamado pelas classes dominantes para pôr fim à desorganização reinante na vida política da França. O Consulado foi primeiramente triplo, depois uno, com Bonaparte gradativamente ampliando seu domínio sobre a política francesa, culminando na criação do império, em Para resolver a crise econômica que assolava o país, Napoleão criou o Banco da França e uma nova moeda, o franco, além de intensificar inúmeras obas públicas e estimular a industrialização. Em 1804, foi publicado o código Napoleônico, um código de leis que procurava dar amparo legal à ideologia liberal revolucionária. Também promoveu uma profunda reforma educacional. No plano externo, Napoleão enfrentou as varias coligações contra a França, iniciadas ainda durante a Revolução Francesa. Encontrou na Inglaterra a principal rival. Depois de dominar o continente, Bonaparte tentou invadir este país, sendo derrotado em Trafalgar, pelo almirante Nelson. Em seguida, em 1806, decretou o Bloqueio Continental, proibindo os paises europeus de comercializarem com a Inglaterra adotando duras represálias àquelas nações que resistissem às suas determinações. Foi o que aconteceu a Portugal, Espanha e Rússia, no caso russo este em difícil situação econômica abriu seus portos ao comercio inglês, Napoleão invadiu a Rússia, mas dificuldades de toda ordem, inclusive climáticas, permitiram que o exército de Napoleão fosse derrotado. Pouco depois da fracassada campanha da Rússia, em outubro de 1813, em Leipzig (Alemanha) Napoleão era derrotado por tropas inglesas, prussianas, russas e austríacas na batalha das Nações, preso e exilado na ilha de Elba, no mediterrâneo. À queda de Napoleão seguiu-se o restabelecimento do governo Bourbon, na figura de Luis XVII, que, no entanto, acabou derrubado pelo retorno vitorioso de Bonaparte que em 1815, fugiu da ilha de Elba e desembarcou na França, sendo recebido festivamente por seus ex-soldados e por populares. O ultimo governo de Napoleão, os Cem Dias de 1815, terminou na batalha de waterloo, quando o corso acabou preso e, em seguida exilado na ilha de Santa Helena, no Atlântico sul, onde morreu em Após a vitória sobre Napoleão, as várias nações coligadas reuniram-se na Áustria e determinaram o restabelecimento da ordem sóciopolítico anterior à Revolução Francesa. O Congresso de Viena fundou-se nos princípios da legitimidade e do equilíbrio europeu, inaugurando uma fase reacionária da política européia. Entretanto, a estrutura do Antigo Regime era totalmente incompatível com as transformações dinamizadas pela Revolução Industrial européia, minando pouco a pouco as reações reacionárias do Congresso de Viena. 5