VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA O IDOSO NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

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1 VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA O IDOSO NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA Karla Sunamita de Oliveira Santos (1); Elaine Cristina Tôrres Oliveira (2) Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), karlasunamita@hotmail.com, laineoliv83@gmail.com Resumo: O presente estudo tem por objetivo analisar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, quais aspectos estão envolvidos no escopo da violência contra o idoso no Brasil. A seleção dos estudos foi realizada na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e nas bases de dados Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde (Lilacs) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline). Foram adotados como critérios de inclusão: artigos disponíveis na íntegra, no idioma português, com conhecimento produzido no Brasil, no período de 2012 a 2015 e que atendesse aos descritores idoso, maus-tratos ao idoso, violência doméstica e violência familiar. Após análise do conteúdo dos artigos, oito foram incluídos na presente pesquisa. Os dados foram categorizados conforme ano de publicação, periódico, tipo de estudo, local de realização do estudo, sujeitos de pesquisa e aspectos referentes a temática. Observou-se que dos artigos selecionados, 04 foram publicados em 2012, 02 foram publicados em periódicos específicos relacionados ao envelhecimento, 05 tiveram abordagem qualitativa, 06 foram realizados na região Nordeste e 05 tiveram como sujeitos do estudo idosos e/ou documento sobre eles. Ao analisar os aspectos envolvidos com a violência contra o idoso, pode-se destacar a relação de gênero presente na violência contra o idoso (sexo feminino), a proximidade entre vítima e agressor, a residência como local de ocorrência da violência e o tipo de violência ocorrida reflete na identificação e ação. Observa-se que a temática da violência contra o idoso ainda precisa de melhor exploração e divulgação, em virtude de sua relação com o gênero sua representatividade no domicílio e sua relação de proximidade entre vítima e agressor. Esses achados evidenciam o tamanho do problema a ser enfrentado e alerta sobre a necessidade de ações efetivas no combate à violência contra a população idosa. Palavras-chave: Idoso, maus-tratos ao idoso, violência doméstica, violência familiar. Introdução O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial marcado pela diminuição da fecundidade, em grande parte das populações, associado às mudanças epidemiológicas de mortalidade e avanços no campo da saúde, que resultam no aumento da expectativa de vida (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 2015). Esse aumento da expectativa de vida apresenta-se como um dos desafios a serem enfrentados pela saúde pública em virtude da necessidade de garantir anos a mais vividos com qualidade (VERAS, 2012). Envelhecer é conviver com alterações físicas, cognitivas, funcionais e sociais que, se não abordadas no âmbito das especificidades desse grupo populacional, tendem a tornar os idosos indivíduos extremamente vulneráveis

2 (LEONARDO et al., 2004). Entre os problemas associados à vulnerabilidade entre os idosos, pode-se citar a violência (SALES et al., 2014). Violência contra o idoso, ou também conceituada como abuso contra o idoso, é a deflagração de todo e qualquer ato ou omissão, de caráter intencional ou involuntário, que cause dano de natureza física, psicológica, financeira ou material. É a representação da perda ou violação dos direitos humanos que resulta em sofrimento desnecessário, lesão ou dor, com consequente redução da qualidade de vida dos indivíduos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2014). É um tipo de violência de difícil identificação devido, geralmente, o agressor ter grau de proximidade com a vítima e forte relação de afeto, cuidado e dependência. Além disso, a violência, muitas vezes, só é reconhecida quando se manifesta de forma extrema com repercussão física que pode levar o idoso a hospitalização e/ou óbito (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2014). Essa relação de proximidade entre o agressor e o idoso reflete na existência de uma barreira para a identificação e notificação da violência e faz com que a maior parte das denúncias acabe sendo realizadas por terceiros. É importante destacar que entre os fatores relacionados a não denúncia pelo próprio idoso aos maus-tratos sofridos, encontra-se o medo da retaliação após denúncia, a relação de afetividade e a percepção negativa da velhice, que conduz a acreditar que devem submeter-se a essas situações até o fim da vida (LEONARDO et al., 2004). A problemática da violência contra o idoso vem sendo evidenciada por estudos internacionais que apontam elevação da incidência de violência familiar contra pessoas idosas em torno de 150,0% nos últimos 10 anos (COOPER, SELWOOD; LIVINGSTON, 2008). Dados do Suplemento de Saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada em 2008, verificou que a prevalência de violência entre idosos no Brasil, apresentou-se em torno de 8,1%, independentemente do seu tipo (IBGE, 2010). E ao analisar o local de ocorrência da violência contra o idoso, a Pesquisa Nacional de Saúde, em 2013, identificou que 70,1% dos casos de violência contra o idoso no Brasil ocorreram em sua residência (BRASIL, 2015). Diante da necessidade de enfrentar a problemática da violência contra o idoso e proporcionar o processo de envelhecimento de modo saudável, faz-se necessário compreender quais os aspectos estão envolvidos no contexto da violência neste grupo populacional, principalmente, considerando as expectativas relacionadas ao envelhecimento populacional no

3 e a possibilidade de aumento dos índices de violência contra o idoso se medidas de combate não forem realizadas. Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo analisar, por meio de uma revisão integrativa da literatura, quais aspectos estão envolvidos no escopo da violência contra o idoso no Brasil. Métodos Trata-se de uma pesquisa do tipo revisão integrativa da literatura que buscou analisar os aspectos envolvidos com a violência contra o idoso no Brasil, referidas na literatura no período de 2012 a Optou-se por utilizar a revisão integrativa da literatura, por ela proporcionar a sistematização e avaliação dos resultados obtidos em pesquisas sobre o tema de forma abrangente (ERCOLE; MELO; ALCOFORADO, 2014). Para realização da pesquisa, utilizou-se das etapas recomendadas para realização da revisão integrativa: seleção do tema e questão da pesquisa; estabelecimento dos critérios de inclusão, exclusão e busca na literatura; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; análise crítica dos achados, identificando diferenças e conflitos; interpretação dos resultados e apresentação da revisão e síntese do conhecimento (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). A seleção dos estudos foi realizada na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e nas bases de dados Literatura Latino-Americana em Ciências de Saúde (Lilacs) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline). Foram adotados os seguintes critérios de inclusão: artigos disponíveis na íntegra, no idioma português, com conhecimento produzido no Brasil, no período de 2012 a 2015 e que atendesse aos descritores idoso, maus-tratos ao idoso, violência doméstica e violência familiar. Como critérios de exclusão, foram desconsiderados artigos de revisão (sistemática, integrativa ou narrativa). E estudos encontrados em mais de uma base de dados foram considerados apenas uma vez. Foram encontrados, a partir dos descritores, 537 artigos na BVS, sendo 479 indexados nas bases de dados Lilacs e Medline. Destes, 122 foram publicados no período de 2012 a 2015, 17 estavam no idioma português e 15 estavam disponíveis da íntegra. Após análise do conteúdo dos artigos, oito foram incluídos na presente pesquisa. A fim de organizar e tabular os dados, as seguintes características foram utilizadas no instrumento de coleta de dados: ano de publicação,

4 revista de publicação, tipo de estudo, local de realização do estudo e sujeitos de pesquisa. Após a leitura e caracterização dos artigos, foram extraídos os conceitos de relevância em relação à temática estudada e realizou-se a discussão dos resultados. Resultados e Discussões Observou-se que dos oito artigos selecionados para compor esta pesquisa, 04 foram publicados em 2012, 02 foram publicados em periódicos específicos relacionados ao envelhecimento, 05 tiveram abordagem qualitativa, 06 foram realizados na região Nordeste do Brasil e 05 tiveram como sujeitos do estudo idosos e/ou documento sobre eles (Tabela 1). Tabela 1. Descrição dos artigos quanto ao ano de publicação, periódico, tipo de estudo, local e sujeitos do estudo. Ano de Tipo de Sujeitos do Periódico Local do estudo publicação estudo estudo 2012 Ciência e Saúde Coletiva Qualitativo Região Nordeste Idosos 2012 Psicologia: teoria e pesquisa Qualitativo Região Sul Idosos 2012 Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia Quantitativo Região Nordeste Idosos 2012 Revista Eletrônica de Enfermagem Qualitativo Região Nordeste Idosos 2013 Cadernos de Saúde Profissionais Qualitativo Região Sul Pública de saúde 2014 Saúde e Sociedade Qualitativo Região Nordeste Profissionais de saúde 2014 Estudos Interdisciplinares Profissionais Qualitativo Região Nordeste sobre o Envelhecimento de saúde 2015 Escola Anna Nery Revista de Enfermagem Quantitativo Região Nordeste Idosos Observa-se que, ao analisar o período estabelecido para esta pesquisa, os estudos relacionados à violência contra os idosos não são numerosos, condição que pode estar relacionado à dificuldade em trabalhar com a temática ou mesmo de reconhecê-la. Sabe-se ainda que a violência contra o idoso é pouco considerada como problema real tanto pela sociedade em geral como pelos profissionais de saúde, situação que dificulta seu processo de discussão, divulgação e, principalmente, enfrentamento (FLORÊNCIO; FERREIRA FILHA; SÁ, 2007).

5 Ao analisar os aspectos importantes envolvidos com a violência contra o idoso nos artigos que compuseram esta pesquisa, pode-se destacar: a relação com o sexo (feminino), a proximidade entre vítima e agressor, o local de ocorrência da violência, a situação financeira da vítima e o tipo de violência ocorrida. Foi observado que entre os idosos que sofreram agressão, a maior parte é representada por mulheres, o que denota um recorte de gênero na violência sofrida por idosos (ABATH; LEAL; MELO FILHO, 2012; DUQUE et al, 2012; AGUIAR et al, 2015). Esse resultado corrobora com dados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2013, que identificou, entre os casos de violência contra pessoas com 60 anos ou mais, que 61,3% foram contra o sexo feminino (BRASIL, 2015). Essa situação denota que a abordagem de gênero deve ser realizada ao longo dos ciclos de vida e é importante para a condução do cuidado em saúde. Outro fator observado sobre a violência contra o idoso foi a relação de proximidade entre a vítima e o agressor (SILVA et al, 2012; WANDERBROOCKE, MORÉ, 2012; SALES et al, 2014). Verificou-se que a ocorrência de violência contra o idoso é mais frequente no ambiente familiar. A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada em 2013, verificou que, das agressões sofridas pelos idosos, 70,1% foram realizadas em sua residência (BRASIL, 2015). Entre os motivos relacionados a essa proximidade da agressão, destaca-se o contexto familiar, que muitas vezes, é estressante e contem a presença de cuidadores despreparados ou sobrecarregados, ou mesmo a relação de dependência (física, emocional, cognitiva e financeira) que conduz a vulnerabilidade durante o processo de envelhecimento (MACHADO et al, 2014). Sobre o tipo de violência contra o idoso, foi verificado que a violência física tende a ser mais reconhecida, seja pelo o idoso ou pelo profissional de saúde, pois suas marcas resultam em evidência (WANDERBROOCKE, MORÉ, 2012; WANDERBROOCKE; MORÉ, 2013; MACHADO et al, 2014). Essa situação dificulta o enfretamento do problema, tendo em vista que apenas os casos extremos ganham manifestação e aqueles sutis permanecem obscuros e diminuindo a qualidade de vida desses indivíduos (WANDERBROOCKE; MORÉ, 2013). Conclusões

6 Observa-se que a temática da violência contra o idoso ainda precisa de melhor exploração e divulgação, que existe uma relação de gênero envolvido no âmbito da violência contra o idoso, que a ocorrência da violência tem representatividade o domicílio e uma relação de proximidade entre vítima e agressor. Esses achados evidenciam o tamanho do problema a ser enfrentado e alerta sobre a necessidade de ações no combate à violência contra a população idosa. Apesar da existência de leis que garantem a defesa da dignidade e do bem-estar na velhice, muitos esforços ainda precisarão ser desenvolvidos para o cumprimento das mesmas. Um estímulo é preciso para que o poder público junto aos profissionais de saúde e a população em geral venham a discutir essa problemática e desenvolver políticas públicas que venham diminuir o índice de violência contra a pessoa idosa. Referências ABATH M.B.; LEAL, M.C.C.; MELO FILHO, D.A. Fatores associados à violência doméstica contra a pessoa idosa. Rev Bras Geriatr Gerontol. 15(2):305-14, AGUIAR M. P. C. et al. Violência contra idosos: descrição de casos no Município de Aracaju, Sergipe, Brasil. Esc. Anna Nery Rev. Enferm. 19(2): , BRASIL. Pesquisa nacional de saúde Rio de Janeiro: IBGE, COOPER, C.; SELWOOD, A.; LIVINGSTON, G. The prevalence of Elder abuse and neglect: a systematic review. Age Ageing. 37: , DUQUE, A. M. et al. Violência contra idosos no ambiente doméstico: prevalência e fatores associados (Recife/PE). Ciênc. saúde coletiva. 17(8): , 2012; ERCOLE, F.F.; MELO, L.S.; ALCOFORADO, C.L.G.C. Revisão Integrativa versus Revisão Sistemática. Rev Min Enferm. 18(1): 1-260, FLORÊNCIO, M.V.L., FERREIRA FILHA, M.O., SÁ, L.D. A violência contra o idoso: dimensão ética e política de uma problemática em ascensão. Rev. Eletr. Enf.; 9(3):847-57, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Um panorama da Saúde no Brasil: Acesso e Utilização de Serviços, condições de Saúde e Fatores de Risco e Proteção à Saúde Rio de Janeiro: IBGE, LEONARDO, C. K. et al. Avaliação do estado cognitivo e fragilidade em idosos mais velhos,

7 residentes no domicílio. Ciência, Cuidado e Saúde. 13(1): , MACHADO, J. C. et al. Violência intrafamiliar e as estratégias de atuação da equipe de Saúde da Família. Saúde Soc. 23(3): , MENDES, K.D.S., SILVEIRA, R.C.C.P., GALVÃO, C.M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm. 17(4): , ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Relatório Mundial sobre a prevenção da violência Genebra: Organização Mundial de Saúde, ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. Informe mundial sobre el envejecimiento y la salud. Ginebra: ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, SALES, D. S. et al. A violência contra o idoso na visão do agente comunitário de saúde. Estud. interdiscip. Envelhec. 19(1): 63-77, SILVA, V. A. et al. Violência doméstica contra idosos: agressões praticadas por pessoas com sofrimento mental. Rev. eletrônica enferm. 14(3): , VERAS, R.P. Experiências e tendências internacionais de modelos de cuidado para com o idoso. Ciência e Saúde Coletiva. 17(1): , WANDERBROOCKE A. C. N. S., MORÉ C. L. O. O. Abordagem profissional da violência familiar contra o idoso em uma unidade básica de saúde. Cad Saúde Pública. 29: , WANDERBROOCKE, A. C.; MORE, C. Significados de violência familiar para idosos no contexto da atenção primária. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 28(4): , 2012.