Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida. Práticas Recomendadas para Bloco Operatório
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- Filipe Capistrano Maranhão
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1 2017 Práticas Recomendadas para Bloco Operatório Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida ASSOCIAÇÃO DOS ENFERMEIROS DE SALA DE OPERAÇÕES PORTUGUESES
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3 4 Glossário 5 Introdução 6 Protocolo de monitorização pré-operatória 8 Protocolo de monitorização intraoperatória 10 Protocolo de monitorização pósoperatória 12 Documentação de cuidados de enfermagem 12 Utilização de dispositivos de aquecimento 13 Aquecimento de fluidos 13 Rigor na avaliação da temperatura 14 Formação 14 Protocolos institucionais 15 Algoritmos de Atuação 18 Escala de avaliação de conforto térmico 19 Bibliografia Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida 3
4 CONFORTO TÉRMICO Perceção de agrado com a temperatura ambiente. 2 HIPOTERMIA ( ) Termorregulação Comprometida: Diminuição da capacidade para regular o termóstato interno, temperatura corporal reduzida, pele fria, pálida e seca, tremores, preenchimento capilar lento, taquicardia, leitos ungueais cianosados, hipertensão, piloerecção associada a exposição prolongada ao frio, disfunção do sistema nervoso central ou do sistema endócrino em condições de frio ou introdução artificial de temperaturas corporais anormalmente baixas, por razões terapêuticas. 5 Temperatura central abaixo de 36ºC. 2 MEDIDAS ATIVAS DE AQUECIMENTO As medidas ativas de aquecimento incluem a aplicação de sistemas de aquecimento por ar forçado, colchões de aquecimento por circulação de água, cobertores de auto-aquecimento, cobertores aquecimento elétrico, sistemas de aquecimento por pressão negativa, aquecedores de O2 inspirado. 2 MEDIDAS PASSIVAS DE AQUECIMENTO As medidas passivas de aquecimento incluem a aplicação de lençóis aquecidos, edredons hospitalares, mantas metálicas anti-reflexo, meias, cobertura cabeça, limitação de exposição da pele a temperaturas ambientais baixas. 2 NORMOTERMIA Variação da temperatura central cujos parâmetros 1, 2, 3, 6 oscilam entre 36ºC e 38 ºC. PRÉ-AQUECIMENTO Aquecimento dos tecidos periféricos ou superfície da pele antes da indução da anestesia. 2 Temperatura Central: Temperatura do compartimento central, composto pelo tronco e cabeça, no qual se situam os órgãos nobres e onde os tecidos são altamente perfundidos e a temperatura é mais estável e permite a medição de temperatura mais fidedigna durante os períodos de maior flutuação 2, 3, 6 da temperatura. Exemplo: temperatura de artéria pulmonar, esófago distal, nasofaringe, membrana timpânica e artéria temporal. TERMORREGULAÇÃO ( ) Processo do Sistema Regulador: Controlo da produção e da perda de calor através de mecanismos fisiológicos ativados pelo hipotálamo, pele e temperatura corporal. 5 TREMOR ou Shivering é definido na CIPE como CALAFRIO - ( ) Termorregulação: tremor involuntário com contração muscular ou crispação por sensação de frio associado a queda da temperatura corporal abaixo do ponto termostático, efeitos colaterais da anestesia ou fase de arrepio da febre. 5 4 AESOP - Práticas Recomendadas
5 Introdução A sala de operações constitui um contexto fortemente indutor de exposição física à temperatura ambiente. A hipotermia/constrição pelo frio (CIPE ) perioperatória é um fenómeno complexo e com grande impacto que ocorre, de forma inadvertida, em cerca de 60 a 90% das pessoas submetidas a cirurgias com duração superior a 60 minutos. 4 É de difícil gestão, dado as suas causas constituírem fatores inevitáveis. A hipotermia perioperatória inadvertida (HIPOP-I) é originada por dois factores major: os efeitos secundários dos agentes farmacológicos envolvidos no processo anestésico e a exposição física da área cirúrgica ao ambiente frio da sala de operações. A importância dada à HIPOP-I advém do facto dos seus efeitos adversos resultarem em complicações importantes e graves, que afetam de forma significativa as pessoas intervencionadas, as famílias e as organizações. 7,8 A prevenção da hipotermia perioperatória está associada a melhores resultados em saúde e benefícios no processo cirúrgico, como: maior satisfação do doente, diminuição dos níveis de ansiedade, diminuição das perdas sanguíneas e necessidades transfusionais, diminuição do tempo de estadia na unidade de cuidados pós-anestésicos (UCPA), redução dos custos totais da anestesia, diminuição de necessidade de internamento em UCI, redução de Infarto do Miocárdio, redução de necessidade de ventilação mecânica, extubação mais precoce em doentes com ventilação mecânica, redução da infeção do local cirúrgico (ILC), redução global da mortalidade. 2 Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida 5
6 Recomendação I Protocolo de monitorização pré-operatória. Deve existir um protocolo pré-operatório de diagnóstico, monitorização e intervenção para a prevenção e o controlo da hipotermia perioperatória inadvertida (HIPOP-I). Justificação: O conhecimento prévio dos fatores que contribuem para a descida da temperatura corporal no contexto perioperatório permite um planeamento mais adequado e eficaz das intervenções de prevenção e controlo da HIPOP-I. 1. É importante a deteção dos fatores individuais de risco de ocorrência da HIPOP-I. Justificação: Estão descritas várias condições que, pré-existindo na pessoa, podem favorecer a descida da temperatura corporal. O seu conhecimento prévio permite elencar e adequar as intervenções de forma individualizada. 1, 2, 3, 6 Fatores de risco da hipotermia; 1 Idades extremas - neonatos, crianças e idosos; 2 Género feminino; 3 Doenças endócrinas, nomeadamente diabetes com disfunção autónoma; 4 Doenças do sistema nervoso central; 5 Alterações cardiovasculares; 6 Queimados; 7 Feridas abertas; 8 Baixo índice de massa corporal; 9 Tratamento crónico com antidepressivos e antipsicóticos; 10 Tempo e tipo de cirurgia; 11 Anestesia combinada - geral e regional; 12 Alto nível de bloqueio espinal; 13 Exposição de cavidades corporais; 14 Temperatura da sala de operações; 15 Grande exposição cutânea; 16 Uso de irrigações intracavitárias e fluidos intravenosos frios; 17 ASA II a V; 18 Temperatura central prévia inferior a 36 C; 19 Trauma severo; 20 Pressão sistólica inferior a 140 mmhg; 21 Uso de garrote. 2. A temperatura corporal deve ser avaliada no pré-operatório. Justificação: Uma temperatura baixa prévia ao procedimento, faz prever uma maior descida da temperatura central na fase intraoperatória, assim como uma maior dificuldade de reaquecimento no período pós-operatório. O conhecimento desta condição permite que o plano de ação priorize a monitorização da temperatura corporal, o controlo da magnitude da HIPOP-I e as medidas de reaquecimento. 3. É importante determinar o nível de conforto térmico através de escala de avaliação. 9,12 Justificação: A sensação de desconforto por frio pode indiciar o início da descida da temperatura corporal, devido ao vestuário reduzido e insuficiente proteção térmica. Este sinal 6 AESOP - Práticas Recomendadas
7 Recomendação I - Protocolo de monitorização pré-operatória contribui para a deteção precoce da hipotermia e permite tornar mais céleres as intervenções de aquecimento. Acresce, ainda, que o desconforto pode significar um estado de ansiedade da pessoa proposta para intervenção cirúrgica ou contribuir, de forma severa, para o agravamento da mesma. A atenção ao conforto térmico, para além de constituir um elemento importante no controlo da HIPOP-I, reduz o nível de ansiedade e incrementa o nível de satisfação da pessoa para com os cuidados prestados. 10 O conforto térmico é um foco de atenção de enfermagem avaliado através da aplicação de escala de avaliação de conforto térmico em anexo. 9,12 4. A pessoa deve estar normotérmica antes de entrar na sala de operações. Justificação: Uma das medidas mais efetivas de manter a normotermia é a prevenção através do pré-aquecimento. O pré-aquecimento reduz a distribuição da hipotermia pela diminuição do gradiente da temperatura periférico-central e por provocar vasodilatação. A resposta corporal altera do modo de conservação da temperatura para o modo de dissipação da temperatura. O pré-aquecimento evita, mas não elimina, o estabelecimento da hipotermia após a indução da anestesia. Iniciar o pré-aquecimento pelo menos, 30 minutos antes da entrada na sala de operações, com medidas passivas e/ou ativas, se hipotérmico; Manter temperatura da sala de operações igual ou superior a 24ºC Monitorizar sinais e sintomas de hipotermia. Justificação: Alguns sinais e sintomas tais como pele fria, pálida e seca, tremores, piloereção, taquicardia, leitos ungueais cianosados, podem indiciar um estado de comprometimento da normotermia e constituem meios de despiste de eventual estado hipotérmico. A contínua atenção a todas as manifestações, expressas ou visíveis, permite agir o mais rapidamente possível no controlo da descida da temperatura corporal, bem como no retorno à normotermia. 6. Se a temperatura central for superior a 36 C, manter a normotermia através do adequado isolamento térmico do corpo. Justificação: Dado o contexto de forte exposição física corporal na sala de operações, é fundamental a proteção cutânea contínua da pessoa proposta para intervenção cirúrgica, de modo a manter o estado normotérmico e evitar as perdas excessivas de calor, que levam ao arrefecimento corporal. Nesta fase, devem já estar implementadas as medidas passivas de aquecimento. Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida 7
8 Recomendação II Protocolo de monitorização intraoperatória. É necessária a existência de um protocolo de monitorização, avaliação, prevenção e controlo da HIPOP-I na fase intraoperatória. Justificação: O período que se segue à indução anestésica, assim como a exposição da área cirúrgica, constituem as duas principais causas da ocorrência da hipotermia perioperatória e os seus efeitos são desencadeados maioritariamente na fase intraoperatória. 1. É importante que toda a equipa cirúrgica conheça os fatores de risco de cada pessoa intervencionada. Justificação: A fase intraoperatória é aquela em que ocorre a descida da temperatura corporal mais significativa, em especial na primeira hora após a indução anestésica 6 e os fatores de risco presentes influenciam e condicionam fortemente a magnitude dessa descida. O conhecimento, por todos os elementos da equipa, dos fatores de risco que influenciam a redução térmica da pessoa intervencionada, permitem a monitorização contínua, a prevenção e a deteção precoce e a aplicação de intervenções adequadas de controlo da temperatura corporal. 2. A temperatura deve ser monitorizada de forma contínua na fase intraoperatória. Em caso de impossibilidade e, na ausência de sinais de hipotermia, a mesma deve ser avaliada, 2, 3, 6 pelo menos de 15/15 minutos. Justificação: A temperatura corporal é uma variável fisiológica, que monitorizada com rigor, nos dá o estado térmico da pessoa. O conhecimento do seu valor orienta os profissionais de saúde para as medidas a tomar para a sua manutenção e prevenção / controlo da sua descida. Se a pessoa se encontra sob anestesia geral, face ao risco em causa, torna-se determinante a monitorização contínua da temperatura corporal e a compreensão da sua evolução. No caso da anestesia do eixo neuro-axial, será mais provável que a redução da temperatura seja indevidamente avaliada e desvalorizada, quer pela ausencia de manifestações percetíveis pela própria pessoa, quer por não serem percebidas pelos profissionais, dado se assemelharem aos efeitos secundários da própria técnica, quer pela ausência de protocolos de monitorização da temperatura nestas situações específicas. 2,6 3. Deve ser determinado e compreendido o nível de conforto térmico intraoperatório 12 em contexto de anestesia locoregional. 9 Justificação: A sensação de desconforto térmico, que resulta de (1) alterações dos domínios 8 AESOP - Práticas Recomendadas
9 Recomendação II - Protocolo de monitorização intraoperatória físico e ambiental, relacionados com os mecanismos homeostáticos e (2) da perceção que a adversidade térmica origina na pessoa, 11 constitui um importante indicador da descida da temperatura. No entanto, nas intervenções realizadas sob anestesia do eixo neuro-axial, a pessoa apresenta alteração de percepção, de forma a evidenciar o seu status térmico, mesmo que esteja em situação de temperatura corporal baixa. O conforto térmico é um foco de atenção de enfermagem avaliado através da aplicação de escala de avaliação de conforto térmico em anexo. 9,12 A sensação de desconforto encontra-se parcial ou totalmente bloqueada, uma vez que a função do centro termorregulador, sendo inibida pelos fármacos anestésicos e sedativos, ocorre, não apenas ao nível do controlo autónomo mas também ao nível do controlo de comportamento. 4. É crucial a deteção de sinais e sintomas de HIPOP-I. Justificação: A atenção às manifestações visíveis diretamente por monitorização permite o controlo precoce da HIPOP-I. 5. É necessário manter a temperatura ambiente entre C. 3 Justificação: A exposição do corpo e dos tecidos profundos das cavidades abertas pela incisão cirúrgica ao ambiente frio das salas de operações, constitui outra causa inevitável para a ocorrência da HIPOP-I. A sua intensidade é diretamente proporcional ao tipo de cirurgia e ao tempo em que a mesma é realizada. 6 Temperaturas ambientais inferiores a 20 C aumentam exponencialmente o risco de ocorrência de HIPOP-I. 6. Se a temperatura central for superior a 36 C, manter a normotermia através do isolamento térmico e reduzir a exposição corporal. 2 Justificação: A manutenção da normotermia implica medidas de proteção cutânea da área não cirúrgica com materiais de isolamento térmico (incluindo a cabeça e as extremidades), com vista à manutenção da temperatura corporal e à prevenção de perdas adicionais de calor. Sempre que a pessoa evidencie desconforto por frio, mesmo que se apresente normotérmica, devem ser tomadas medidas ativas de aquecimento. 7. Se a temperatura central for inferior a 36 C, é necessário implementar medidas ativas de aquecimento, reduzir a exposição corporal, avaliar a temperatura central até à normotermia e considerar medidas complementares 2, 3, 6 de aquecimento. Justificação: A exposição corporal atinge o seu máximo na fase intraoperatória, devido à abertura e exposição das cavidades cirúrgicas e tecidos profundos ao ambiente frio da Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida 9
10 Recomendação II - Protocolo de monitorização intraoperatória sala de operações. Se a pessoa se encontra em hipotermia, é fundamental o aquecimento contínuo cutâneo da área não cirúrgica, de modo a compensar o aumento das perdas de calor que possam agravar a sua magnitude. A monitorização da temperatura indica a evolução do quadro térmico e orienta o resultado para as medidas a tomar. Medidas complementares como o aquecimento dos fluidos intravenosos e dos fluidos de instilação / irrigação podem contribuir para o reaquecimento corporal. A AORN recomenda 37 C 3 e o NICE entre 38 C-40 C Avaliar o nível de conforto térmico e sinais e sintomas de HIPOP-I à saída da sala de operações. 9,12 Justificação: A compreensão do status térmico no final do ato cirúrgico é fundamental para orientar e dar continuidade ao plano de cuidados durante a permanência da pessoa na UCPA, bem como o planeamento da alta. O conforto térmico é um foco de atenção de enfermagem avaliado através da aplicação de escala de avaliação de conforto térmico em anexo. 9,12 Recomendação III Protocolo de monitorização pós-operatória. É necessário existir um protocolo de monitorização e controlo da HIPOP-I na fase pós-operatória. Justificação: A gravidade da HIPOP-I advém do facto dos seus efeitos adversos resultarem em complicações importantes, que afetam de forma significativa as pessoas intervencionadas, as famílias e as organizações. A descrição completa do status e da evolução térmica pré e intraoperatórios, do procedimento anestésico-cirúrgico e tempo de duração, são indispensáveis para a avaliação contínua da pessoa, a implementação de medidas de controlo da HIPOP-I e a deteção precoce de possíveis complicações. 1. Na admissão na Unidade de Cuidados Pós-Anestésicos (UCPA), é necessário transmitir à equipa informação dos fatores de risco de HIPOP- I. Justificação: Dar conhecimento, à equipa da UCPA, dos fatores de risco que influenciam a condição térmica da pessoa intervencionada, permite a monitorização, a deteção precoce e a aplicação de intervenções adequadas de prevenção e tratamento da hipotermia, numa perspetiva de continuidade dos cuidados. 10 AESOP - Práticas Recomendadas
11 Recomendação III - Protocolo de monitorização pós-operatória 2. Na UCPA é recomendada a avaliação e documentação da temperatura central à chegada e de 30/30 minutos 1 se normotérmico, 2 a determinação do nível de conforto térmico 12 e a deteção de sinais e sintomas de hipotermia. Justificação: A frequência elevada de HIPOP-I e o nível das consequências da sua ocorrência constituem importantes indicadores da necessidade de controlo da temperatura corporal durante a fase pós-operatória. Práticas de avaliação regular da temperatura contribuem, quer para o conhecimento da sua evolução, quer para a adequação das medidas de reaquecimento. O conhecimento da temperatura da pessoa intervencionada, à chegada à UCPA, permite individualizar os cuidados na gestão da temperatura corporal. O conforto térmico é um foco de atenção de enfermagem avaliado através da aplicação de escala de avaliação de conforto térmico em anexo. 9,12 3. A temperatura da UCPA deve rondar os 24 C. 3 Justificação: A temperatura ambiente influencia a variação da temperatura corporal. Todos os fatores térmicos, incluindo a temperatura ambiente, devem ser mantidos de forma a poderem favorecer a manutenção e/ou a recuperação da normotermia. 4. Se a temperatura central for superior a 36 C, é importante manter a normotermia através do isolamento térmico do 1, 2, 3, 6 corpo. Justificação: À semelhança das recomendações anteriores, na UCPA a manutenção da normotermia implica medidas de proteção cutânea por isolamento térmico (incluindo a cabeça e as extremidades). Não é necessária a aplicação de sistemas de aquecimento, salvo se a pessoa intervencionada evidenciar sensação de desconforto por frio e manifestar vontade de maior proteção térmica. 5. Se a temperatura central for inferior a 36 C, é necessário implementar medidas apropriadas de aquecimento, avaliar a temperatura central de 15/15 minutos 1,2,3,6 até à normotermia e considerar medidas complementares de aquecimento. Justificação: O reaquecimento da pessoa intervencionada constitui uma intervenção prioritária. Nesta fase é demasiado frequente que a pessoa submetida a anestesia geral evidencie tremores e expresse desconforto por frio, decorrente da descida da temperatura corporal durante a fase intraoperatória. O desconforto por frio e os valores da temperatura constituirão os dois indicadores da necessidade de aplicação de medidas de reaquecimento. No caso da pessoa submetida a anestesia do eixo neuro-axial, dado que não conseguem evidenciar com tanto rigor o seu status térmico, apenas os valores da temperatura indicarão a necessidade de reaquecimento corporal. A avaliação da temperatura frequente permite, por um lado, acompanhar a evolução da temperatura central corporal e, por outro, impedir que a aplicação prolongada do aquecimento corporal conduza à hipertermia. Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida 11
12 Recomendação III - Protocolo de monitorização pós-operatória 6. No momento da alta da UCPA é necessário confirmar a temperatura central, determinar o nível de conforto térmico e detetar sinais e sintomas de hipotermia. 9 Justificação: A normotermia deve constituir-se como um dos critérios para alta da UCPA. O conforto térmico é um foco de atenção de enfermagem avaliado através da aplicação de escala de avaliação de conforto térmico em anexo No serviço de internamento é recomendada avaliação e documentação horária da temperatura central, nas primeiras 4 horas, 6 determinar o nível de conforto térmico e detetar eventuais sinais e sintomas de hipotermia. Justificação: Existe a possibilidade de descida da temperatura da pessoa intervencionada por falta de proteção térmica no transporte para o serviço, por insuficiente agasalho na respetiva cama e ainda pela vulnerabilidade decorrente do processo de adaptação do centro termorregulador à sua normal atividade biofisiológica. RECOMENDAÇÃO IV Documentação de cuidados de enfermagem. As condições térmicas da pessoa intervencionada, o método de medição da temperatura e as intervenções de enfermagem devem ser documentadas. Justificação: A documentação clara e rigorosa de todos os fatores de risco, método de medição da temperatura, eventos e intervenções perioperatórias de cada pessoa intervencionada, garante a continuidade dos cuidados e facilita a consulta da informação, bem como a sua compreensão inequívoca, em qualquer momento e por qualquer profissional, garantindo ainda a conformidade legal da prática de cuidados. RECOMENDAÇÃO V Utilização de dispositivos de aquecimento. Os dispositivos de aquecimento devem ser utilizados de modo a promover o máximo conforto da pessoa e a respeitar as recomendações dos fabricantes. Justificação: O uso indevido dos dispositivos de aquecimento, tais como a utilização direta de fontes de ar quente (sem utilizar o equipamento próprio) podem originar lesões, 12 AESOP - Práticas Recomendadas
13 xxx Recomendação I - Protocolo de monitorização pré-operatória. nomeadamente queimaduras e o aumento da dispersão de partículas no meio ambiente. A leitura dos manuais e das instruções de segurança são mandatórias, para qualquer dispositivo médico (DM). A utilização de equipamento de ar forçado entre os lençóis hospitalares é fortemente desaconselhada pois está fora dos parametros das recomendações do fabricantes. 2 RECOMENDAÇÃO VI Aquecimento de fluidos. O aquecimento de fluidos deve ser realizado de acordo com as normas de segurança e com as indicações dos fabricantes (IV, intracavitários). Justificação: O aquecimento de fluidos, sem controlo de temperatura, aumenta o risco dos processos de hemólise e outras lesões internas, cujas consequências podem ser graves ou letais. O uso de dispositivos seguros de aquecimento é mandatório. A AORN recomenda 37 C 3 e o NICE entre 38 C- 40 C. 6 RECOMENDAÇÃO VII Rigor na avaliação da temperatura. A avaliação da temperatura deve ser realizada com o máximo rigor. Justificação: É desejado rigor na avaliação da temperatura nos valores da temperatura corporal central, de modo a ser possível planear e intervir na proteção térmica de forma adequada. A imprecisão destes pode falsear o quadro térmico fisiológico da pessoa intervencionada e impedir um planeamento e atuação rigorosos e adequados. A temperatura corporal baixa é o principal indicador de expressão da HIPOP-I. O método de avaliação da temperatura pode ser invasivo ou não invasivo e a escolha dos locais para a avaliação depende de vários fatores, tais como as técnicas anestésica e cirúrgica, as condições da pessoa e os recursos da instituição. Deve ser estabelecido o método de medição de temperatura A temperatura medida deve ser central ou peri-central (próxima da central) e o mesmo método deve ser utilizado durante todo o período perioperatório, de forma a ser comparável. 2 Justificação: A temperatura oral é a mais aproximada à temperatura central. Para um maior rigor, devem ser efetuados cálculos de correspondência entre os valores da temperatura avaliada e a temperatura central, de modo a obter os resultados mais aproximados: Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida 13
14 Recomendação VII - Rigor na avaliação da temperatura Auricular aproximadamente 0,85 C < T C central. Axilar aproximadamente 1,1 C < T C central. Oral aproximadamente 0,55 C < T C central. Região frontal aproximadamente 0,7 C < T C central. Retal aproximadamente 1,25 C < T C central. 10 RECOMENDAÇÃO VIII Formação. Os enfermeiros devem receber formação inicial, validação de competências e formação contínua sobre prevenção e tratamento da HIPOP-I. Justificação: O fenómeno da HIPOP-I é vasto e complexo. A aquisição de conhecimentos de termorregulação, da dinâmica da sua ocorrência, dos fatores desencadeantes e agravantes, bem como das intervenções adequadas de prevenção e tratamento, remete esta problemática para a necessidade, quer de uma maior sensibilização, quer de formação específica inicial e contínua dos profissionais de enfermagem. RECOMENDAÇÃO IX Protocolos institucionais. Devem ser estabelecidas políticas e procedimentos institucionais e legais de prevenção e tratamento da HIPOP-I, de forma interdisciplinar. 4 Justificação: A existência de protocolos institucionais facilita a atuação profissional, a implementação e regulamentação de boas práticas e garante a segurança das intervenções para profissionais e utentes. Permite ainda o controlo e avaliação da aplicação das normas em vigor. É reconhecido que as orientações de boa prática constituem veículos poderosos que, assentando os seus princípios na evidência científica, permitem conhecer os métodos e recursos mais adequados, bem como implementar melhores, mais seguras e mais eficazes práticas de cuidados de saúde. De igual modo, possibilitam a atualização do conhecimento, agregando conteúdos trazidos de novas pesquisas e descobertas. 4 A prevenção da HIPOP-I, que abrange vários grupos profissionais, potencia ainda as possibilidades de reflexão, debate, melhoria das orientações em vigor, numa abordagem transversal às várias disciplinas. 14 AESOP - Práticas Recomendadas
15 Algoritmos - Algoritmos de Atuação Figura 1 - CONTROLO HIPOP-I: ALGORITMO PRÉ-OPERATÓRIO (CARVALHO,2015) 4 Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida 15
16 Algoritmos - Algoritmos de Atuação Figura 2 - CONTROLO HIPOP-I: ALGORITMO INTRAOPERATÓRIO, (CARVALHO,2015) 4 16 AESOP - Práticas Recomendadas
17 Algoritmos - Algoritmos de Atuação Figura 3 - CONTROLO HIPOP-I: ALGORITMO PÓS-OPERATÓRIO, (CARVALHO,2015) 4 Prevenção e controlo da hipotermia perioperatória inadvertida 17
18 Escala de avaliação do conforto térmico Abaixo encontram-se algumas afirmações que podem corresponder á situação de maior ou menor conforto que a pessoa sente durante a sua hospitalização. Por favor, assinale com um círculo o valor de cada resposta na quadrícula adequada. Discordo totalmente (1) Não concordo / Discordo (2) Concordo (4) Nem Discordo (3) Concordo totalmente (5) Escala Visual Analógica de Conforto Térmico Numa escala de 0 a 10, em que medida classifica o seu conforto neste momento. Faça um circulo no valor correspondente. Figura 4 - Escala do conforto térmico validada para a população portuguesa, (MARTINS, 2015) 9 18 AESOP - Práticas Recomendadas
19 1. American Society of PeriAnesthesia Nurses - Clinical Guideline for the Prevention of Unplanned Perioperative Hypothermia. Journal of PeriAnesthesia Nursing 2001 Out; 16(5): American Society of PeriAnesthesia Nurses - Evidence-based Clinical practice Guideline for the Promotion of Perioperative Normotermia:second edition; Journal of PeriAnesthesia Nursing, Vol 25, nº6 (dezembro) 2010: Association of perioperative Registered Nurses - Recommended Practices for the Prevention of Unplanned Perioperative Hypothermia. AORN Journal 2012: ; 85(5): CARVALHO, I - Controlo da hipotermia perioperatória inadvertida em adultos.- Análise das guidelines internacionais, in Revista AESOP,Vol.13, nº39 (outubro) 2015: Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem - Ordem dos Enfermeiros [Em linha]. Disponível em: CIPE2%20pt_pdfFinal_proteg.pdf. 6. HYNSON J, SESSLER D, GLOSTEN B, MCGUIRE J - Thermal Balance and Tremor Patterns during Epidural Anesthesia. Anesthesiology 1991; 74: KOLCABA, K - Concept Analysis of comfort: Nursing Forum. Vol. 37, Nº 4 (Outubro, 2002), p Disponível na internet: 8. KOLCABA, K - The Art of Comfort Care: Image: Journal of Nursing. Vol27, Nº 4 (Outubro, 1995), p Disponível na internet: comfort%20cre.pdf. 9. MARTINS, A - Adaptação da escala do conforto térmico para a população portuguesa- Dissertação de Mestrado da Escola Superior de Enfermagem do Porto, Disponível na internet: mestrado%20definitiva_%20ana%20martins%20(2).pdf. 10. National Institute for Clinical Excelence NICE - Inadvertent perioperative hypothermia: full guideline Disponível em: SESSLER D - Perioperative Heat Balance. Anesthesiology 2000; 92: WAGNER D, BYRNE M, KOLCABA K - Effects of comfort warming on preoperative patients. AORN Journal 2006; 84 (3):
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