III-105 ATENUAÇÃO NATURAL DE CONTAMINANTES DO CHORUME DE ATERROS SANITÁRIOS EM SOLOS ARENOSOS
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- Cláudia de Mendonça Fraga
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1 III-105 ATENUAÇÃO NATURAL DE CONTAMINANTES DO CHORUME DE ATERROS SANITÁRIOS EM SOLOS ARENOSOS Daniela Augusta Nicolielo de Queiroz P. Calças (1) Engenheira Civil pela Escola de Engenharia de Lins. Especialista em Saneamento Básico pela USP. Mestranda em Engenharia Industrial pela Faculdade de Engenharia de Bauru - UNESP. Jorge Hamada Prof. Assistente Doutor do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia de Bauru - UNESP. Engenheiro civil, mestrado e doutorado em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos USP. Pesquisador e coordenador do Grupo de Estudos de Resíduos Sólidos da FE-UNESP-Bauru e consultor na área ambiental especialmente para manejo de resíduos sólidos. Heraldo Giacheti Prof. Assistente Doutor do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia de Bauru - UNESP. Engenheiro Civil, mestrado e doutorado em Geotecnia pela USP São Carlos. Coordenador do Grupo de Pesquisa em Geotecnia de Solos Tropicais. Pós-Doutorado em Geotecnia Ambiental na UBC Canadá. Consultor na área de investigação geoambiental. Endereço (1) : Rua José Lins do Rego, Lins - SP - CEP: Brasil - Tel: (14) daniela@linsnet.br RESUMO A investigação dos processos envolvidos no escoamento do chorume de aterros sanitários e lixões em solos arenosos, assim como as alterações de sua qualidade ao longo das primeiras camadas do subsolo sob condições naturais ou não de permeabilidade, são de grande relevância. Os solos arenosos são representativos das condições mais críticas do processo de atenuação e transporte de contaminantes, que podem ocorrer em meio poroso não saturado. Tal investigação pode ser efetuada em laboratório, através da recompactação de solo arenoso existente nas áreas de aterros e lixões, pois seu aproveitamento representa uma forma pouco custosa de contenção para os sistemas de disposição final de resíduos. A recompactação resulta na redução da permeabilidade garantindo um confinamento maior do chorume, mas em geral não atinge os valores exigidos pelos órgãos ambientais. Neste contexto, procurou-se estudar a influência dos mecanismos envolvidos, que permitissem avaliar e quantificar eventuais impactos, considerando-se: Bases recompactadas com diversas energias de compactação; e Variação da qualidade do chorume durante o escoamento em solo arenoso não saturado. Os resultados iniciais desta pesquisa indicam que os efeitos de atenuação da contaminação pelo chorume são significativos, principalmente em relação à qualidade do chorume, mesmo para baixa compactação do solo. Ainda, a redução da permeabilidade do meio com base na recompactação do solo a 95% do Proctor Normal foi suficiente para conter, até o momento, a migração do chorume sob condições de baixa carga hidráulica. PALAVRAS-CHAVE: Aterro Sanitário, Atenuação Natural, Chorume, Colunas de Percolação, Solo não Saturado INTRODUÇÃO A disposição direta dos resíduos domésticos no solo, prática comum de disposição para a maioria das cidades brasileiras, permanece como um problema para as comunidades do futuro. Até o momento poucos estudos foram conduzidos para avaliar os efeitos provocados principalmente pelo lixiviado ou chorume, que se infiltra no solo. ABES Trabalhos Técnicos 1
2 Atualmente, com o desenvolvimento de equipamentos e técnicas, alguns estudos têm se baseado na sondagem elétrica, através da medição da resistividade ou condutividade do solo em torno das áreas afetadas. Contudo, esses estudos não fornecem subsídios para determinar qualitativamente os efeitos sobre o solo e sobre o próprio líquido que escoa pelo meio poroso. Em função das indefinições encontradas, verifica-se que as condutas adotadas pelos técnicos e aquela estabelecida pela legislação impõem a adoção de sistemas totalmente confinantes. A adoção de tais critérios, na realidade, acaba inviabilizando os pequenos municípios geradores do lixo doméstico, principalmente pela obrigatoriedade do emprego de mantas geossintéticas para impermeabilização dos respectivos aterros sanitários. Alia-se a esta alternativa, a necessidade de uma operação mais custosa. Embora seja um critério bastante rígido, este se justifica pela preservação ambiental e das condições sanitárias nas imediações do aterro sanitário. Por outro lado, quanto maiores são as exigências técnicas, menores serão as possibilidades para que um pequeno município atenda-as integralmente, transformando o que poderia ser um aterro viável em um sistema desordenado de disposição de resíduos. Uma solução intermediária para restringir o escoamento do chorume para os aqüíferos subterrâneos, seria a recompactação do solo da base, reduzindo sua permeabilidade. Desta forma, o conhecimento dos processos envolvidos na atenuação natural, através das condições de permeabilidade natural e do solo recompactado, diante do escoamento de chorume, permitiria estabelecer quais parâmetros deveriam ser avaliados para viabilizar ambientalmente as instalações, e também definir potencialmente sua capacidade de confinar e atenuar os eventuais impactos sobre o solo. O conhecimento adequado dos processos envolvidos no escoamento do chorume em solos arenosos, assim como as alterações de sua qualidade ao longo das primeiras camadas do subsolo, sob condições naturais de permeabilidade, permitirão observar as condições transitórias mais importantes do processo de atenuação e transporte de contaminantes. No presente estudo foi estabelecida uma etapa inicial de avaliação da qualidade do chorume em termos de DQO, DBO 5, condutividade, ph e alcalinidade, durante a percolação em colunas de um solo arenoso típico da região de Bauru-SP, preparado com cinco diferentes densidades. Estabeleceu-se um escoamento não saturado para as colunas, visando uma similaridade das condições existentes no solo natural ou recompactado sob uma camada de resíduos domésticos. CONCEITOS ENVOLVIDOS Atenuação natural do chorume ocorre como função da redução da concentração de contaminantes durante o respectivo transporte através do solo. Diversos fatores associados ao solo promovem a capacidade natural de atenuação, porém esta capacidade de assimilar resíduos é limitada. Os processos que influenciam a atenuação podem ser desde uma simples diluição através da água não contaminada que se infiltra no solo, até interações físico-químicas complexas, que fixam ou retardam o movimento dos contaminantes através do meio constituído pelo solo. Historicamente, o uso da capacidade natural de atenuação do solo, tem sido bastante comum, mesmo quando não se tinha exatamente esse conceito em mente. Apesar disso, atualmente, considera-se que o uso da capacidade de atenuação do solo é de alto risco, com base em duas questões: estimativa da carga de contaminantes e a quantificação dos mecanismos de atenuação dessa carga presente no chorume. Um sistema de atenuação natural possibilita a migração lenta dos líquidos, permitindo o envolvimento de processos de atenuação e dispersão, reduzindo a concentração de poluentes à níveis aceitáveis. Um local ideal para disposição é aquele capaz de conter indefinidamente os resíduos e o chorume resultante, com base nas características geológicas, hidrogeológicas e através de mecanismos de engenharia. Embora os conceitos atuais de sistemas de disposição não utilizem essa capacidade como uma filosofia de projeto, a capacidade natural de atenuação é ainda considerada como um importante mecanismo de segurança para os sistemas de coleta de chorume. Deve-se considerar, ainda, que os sistemas predominantes no Brasil, apesar da legislação e dos novos conceitos, são os conhecidos lixões, em que se emprega ao extremo, a capacidade natural do solo em atenuar a carga de contaminantes. Na maioria dos casos, certamente ocorrem sobrecargas que resultam na propagação de seus 2 ABES Trabalhos Técnicos
3 efeitos a longas distâncias, caso não sejam implantados mecanismos de contenção, resultando na necessidade de uma remediação de área. PROCESSOS DE ATENUAÇÃO Como descrito por McBean e coautores (1995) e Qasin e Chiang (1994), atenuação é um processo físico, químico e/ou biológico, que causa um decaimento transitório ou permanente na concentração de contaminantes dos resíduos aterrados durante um determinado tempo ou distância percorrida. Os solos naturais apresentam um sistema complexo e dinâmico em que interagem continuamente os processos físicos, químicos e biológicos. O solo é um sistema heterogêneo e polidisperso de componentes sólidos, líquidos e gasosos, em diversas proporções, são também bastante porosos e constituem corpos quimicamente solventes pela presença de água em seus interstícios. Os solos apresentam um meio favorável no qual ocorrem atividades biológicas complexas de forma simultânea. A força de interação e a predominância de uma reação sobre outra é controlada pelos constituintes específicos do solo. Os constituintes e sua importância variam com a matriz (rocha), o tempo, o clima, a topografia, e a vegetação. As principais propriedades do solo, que influenciam na mobilidade dos componentes dos resíduos são: (a) textura e distribuição do tamanho de partículas, (b) quantidade de hidróxidos (de ferro, manganês, e alumínio), (c) tipo e quantidade de matéria orgânica, (d) capacidade de troca iônica, e (e) ph do solo. A atenuação do chorume a partir de lixões e aterros de resíduos ocorre em dois estágios: (1º) escoamento através da zona não saturada, e (2º) escoamento através do aqüífero subterrâneo. MECANISMOS DE ATENUAÇÃO Qasin e Chiang (1994) descrevem que os mecanismos de atenuação podem ser classificados em físico, químico e biológico. As principais formas de atenuação estão incluídas nesses mecanismos. Físico: filtração, difusão e dispersão, diluição e absorção; Químico: precipitação/dissolução, adsorção/desorção, complexação, troca iônica e reações de redox Microbiológico: biodegradação aeróbia e anaeróbia PERCOLAÇÃO EM COLUNAS Dentre os procedimentos laboratoriais para estudo dos materiais naturais empregados para construção de barreiras de contenção, a técnica da percolação em coluna de solos tem sido o preferido. Esta técnica permite inserir o solo ou extraí-lo, estudar reações químicas, obter informações visuais, etc. O ensaio de percolação em coluna aproxima-se bastante da situação real e tem sido empregado por muitos pesquisadores no esclarecimento das inter-relações solo-contaminante para subsidiar projetos e obras de engenharia. Trabalhos diversos têm sido publicados sobre o transporte de contaminantes no meio físico geológico natural e em sistemas de contenção construídos com argila. No Brasil, Costa (1987) foi o pioneiro a relatar estudos da migração de metais pesados em colunas. Alguns trabalhos efetuados por Zuquette et al (1992, 1995 e 1997) avaliaram a retenção de íons de cloro, potássio, sódio, cobre, cromo bivalente e cádmio em solos da formação Botucatu do município de Ribeirão Preto - SP e em areias argilosas no município de Franca - SP. Também nesses estudos foram avaliados os potenciais empregos do solo da Região de Ribeirão Preto como barreiras de contenção. Outras pesquisas nessa mesma linha no Brasil foram efetuadas por Borges et al (1997), Boscov et al (1997 e 1999), além de Ritter et al (1999) e Ferreira (2000). Um número grande de diferentes materiais foi testado nesses diversos estudos, que também envolveram diferentes substâncias químicas. Destacam-se solos finos ou argila pura, solos tropicais, argila tratada, solos naturais misturados, solos quimicamente tratados, solos com adição de cinzas, areia, cascalho, rejeitos de mineração e materiais misturados. Todos esses trabalhos envolveram a percolação em colunas, sob taxas diversas e quase todos correlacionaram as características mineralógicas, geotécnicas e físico-químicas do material, com relação à retenção de íons presentes na solução. Observa-se que praticamente todos esses estudos envolveram o emprego de íons ou substâncias conservativas em baixas concentrações, não havendo referências ABES Trabalhos Técnicos 3
4 ao estudo de percolados, ou lixiviados (chorume) de aterros sanitários, em que um dos fatores críticos é a elevada concentração de matéria orgânica biodegradável. Na maioria das vezes esses testes de percolação empregaram os mesmos equipamentos utilizados para testes de permeabilidade ou de compressão triaxial. As colunas mais indicadas são as de parede rígida, apresentando em geral pequena altura (entre aproximadamente 2 e 12 cm), compatíveis com os permeâmetros existentes. Um diferencial significativo é que tais colunas trabalham em geral sob pressão elevada, gerando um gradiente hidráulico grande, por envolverem solos compactados, muitas vezes argilosos. METODOLOGIA O município de Bauru - SP conta com um sistema de disposição de lixo doméstico nos moldes de um aterro sanitário, com boa operação em termos de descarga, compactação e cobertura do lixo. Os maiores problemas são encontrados na execução da base, que embora se procurasse atingir uma baixa permeabilidade, a mesma não foi submetida a um controle mais rígido de execução. Foram coletadas amostras de solo representativas do local, empregado na execução da base, assim como foram determinadas as possíveis condições de execução para construção do modelo laboratorial, em que foram observadas as características físicas e a energia empregada em relação ao Proctor Normal. Criou-se inicialmente um modelo com a densidade natural do solo. Para os demais modelos de base, foram aplicadas energias variáveis de compactação em 4 diferentes níveis, quais sejam: 80, 85, 90 e 95% do Proctor Normal. Para esses modelos, foram determinados os valores de umidade ótima para a compactação. Todo o solo coletado empregado no experimento foi obtido em um mesmo local, sendo que suas características físicas foram determinadas previamente. As colunas foram distribuídas formando pares com mesma compactação, de tal forma que uma está sendo alimentada com chorume e a outra com água. Nessas condições estão sendo efetuadas comparações com relação ao desenvolvimento do fluxo com e sem a influência do chorume no mesmo. Como se espera que o escoamento seja não saturado, procurou-se definir as vazões que seriam aplicadas às colunas, para que não se estabelecesse a saturação e o surgimento de pressões internas. Para tanto, definiu-se uma alimentação inicial baseada na precipitação pluviométrica próxima à média semestral do período de chuvas, que vai de novembro a abril, distribuída semanalmente. Como citado, todos os modelos foram construídos em duplicata, perfazendo 10 unidades. Todas as unidades experimentais seguem o mesmo padrão externo de construção mostrado na Figura 1. Os ensaios preliminares realizados demonstraram que o solo local a ser empregado nas colunas, após sua compactação, pode atingir coeficientes de permeabilidade inferiores a 10-5 cm/s, chegando próximo a 10-6 cm/s. Nestas condições a altura de coluna de 1,0 m seria altamente restritiva para obtenção de resultados em um prazo de um ano, uma vez que considerados principalmente os efeitos de colmatação do meio, a resposta do escoamento poderia se exceder no tempo em relação ao previsto para as colunas com maior compactação. Além disso, as amostragens intermediárias devem ser consideradas para avaliação do deslocamento e da qualidade do líquido no meio. Para obtenção de amostras intermediárias, optou-se pela introdução de manta geotêxtil na altura das tomadas, de forma a permitir a drenagem naqueles pontos, sem interferir demasiadamente no fluxo vertical. Contudo algumas dificuldades estão previstas na amostragem, principalmente em relação ao reduzido volume que poderá ser retirado para análises e pela condição não saturada do escoamento (sem pressão). 4 ABES Trabalhos Técnicos
5 Alimentação Amostrador 0,17 Camada de Areia Grossa Espessura: 0,20 m Amostrador Tubo de PVC marrom classe 12 DN100 Amostrador 0,04 0,20 0,20 0,20 0,20 Geotêxtil Flange Suporte Solo Preparado Altura entre drenos: 0,20 m Altura total: 1,00 m Pedrisco Espessura: 2 cm Geotêxtil Flange Efluente Flange cega perfurada d=1,0cm Figura 1: Modelo experimental adotado e as dez colunas de percolação Um dos fatores que mais preocuparam o encaminhamento da pesquisa foi a qualidade do chorume a ser aplicado nas colunas. Anteriormente e durante a moldagem das peças e montagem parcial das colunas, foram efetuadas análises do chorume do aterro sanitário de Bauru, proposto para ser empregado como afluente, visando avaliar principalmente os valores de DBO 5, DQO e ph. O chorume do aterro sanitário de Bauru, na realidade um aterro controlado, foi coletado no poço de recalque e recirculação, localizado à jusante da área de disposição. Essas amostragens visaram caracterizar o chorume a ser aplicado nas colunas. Nessas análises, verificou-se que a variação da qualidade do chorume é muito grande ao longo do ano, sendo dependente fundamentalmente das chuvas e da posição da frente de disposição de lixo. Além disso, os sistemas de contenção e de drenagem do aterro são muito precários, permitindo a infiltração de grande quantidade de chorume no solo. RESULTADOS ENSAIOS PRELIMINARES COM O SOLO CARACTERÍSTICO A partir de dados de investigações geotécnicas realizadas no Campo Experimental da Unesp Bauru, foram obtidas informações sobre as características do solo local a ser utilizado nas colunas de percolação. Após ensaios de permeabilidade à carga constante e à carga variável para diversas profundidades, concluiu-se: o coeficiente de permeabilidade do solo estudado, determinado em laboratório, decresceu em relação ao tempo de ensaio, notando-se ainda uma tendência do valor do coeficiente de permeabilidade permanecer constante após um período de aproximadamente 62 horas, como indicado na Figura 2. o coeficiente de permeabilidade do perfil de solo estudado e os coeficientes de infiltração decresceram com a profundidade, fato que deve estar relacionado com o decréscimo do índice de vazios, como mostrado na Figura 3. ABES Trabalhos Técnicos 5
6 Figura 2 Variação temporal da permeabilidade do solo de diversas profundidades Figura 3 Variação da permeabilidade com a profundidade Correlacionando-se os dados obtidos no estudo da permeabilidade, deduziu-se que os resultados seriam semelhantes ao problema da percolação de chorume sob os aterros de resíduos. Ensaios de compactação desse solo ao Proctor Normal, demonstraram que o coeficiente de permeabilidade pode atingir, com relativa facilidade, valores inferiores a 10-4 cm/s, que corresponde a valores próximos daqueles observados em camadas abaixo de 5,0 m do solo natural, como mostrado na Tabela 1. É possível observar, segundo a Figura 2, que para tais solos arenosos, a redução da permeabilidade com o tempo é mais significativa e, portanto espera-se que o coeficiente inicial de 10-4 cm/s deva diminuir com tempo, sem considerar outros mecanismos de atenuação, principalmente aqueles relacionados ao desenvolvimento de bactérias. Além disso, o chorume contém partículas suspensas de diversos tamanhos, em que a filtração é aplicável, principalmente pelo efeito de coar. Neste caso as partículas acumulam-se nos vazios e a permeabilidade do solo decresce, como demonstrado por Rice (1974). 6 ABES Trabalhos Técnicos
7 Para simulação do solo natural em coluna de percolação, efetuou-se a compactação do mesmo para que o solo atingisse a densidade original, próxima a 1,5 g/cm 3. Procurou-se também correlacionar os dados de permeabilidade obtidos em amostras compactadas à diferentes energias de compactação, como mostrado na Tabela 2. Como se observa, as correlações são bem representativas em sua ordem de grandeza. Desta análise, a compactação que resultaria na permeabilidade aproximada do solo natural, seria equivalente a cerca de 70% do Proctor Normal. Tabela 1 - Índices físicos obtidos nos ensaios de campo. Profundidade (m) Umidade (%) Densidade natural Densidade seca (g/cm 3 ) Umidade natural (%) Coeficiente de Permeabilidade natural (cm/s) (g/cm 3 ) 1 9,4 1,564 1,43 9,4 1,34x ,6 1,589 1,437 10,6 1,25x ,1 1,611 1,463 10,1 5,00x ,7 1,664 1,517 9,7 4,20x ,5 1,709 1,546 10,5 4,20x ,6 1,733 1,567 10,6 3,10x ,8 1,721 1,553 10,8 2,20x ,3 1,832 1,661 10,3 1,70x ,5 1,841 1,666 10,5 1,56x ,1 1,873 1,715 10,1 2,17x10-4 Tabela 2 - Resultados do ensaios de compactação e permeabilidade com ajuste exponencial de curva. Ensaios Coeficientes de Permeabilidade (K) para diferentes leituras (cm/s) Ajustes Densidade Seca (g/cm 3 ) % Proctor Normal K ajustado (cm/s) % Proctor Normal 1, ,82x ,33x ,81x ,23x ,3 1, ,03x ,13x ,17x ,60x ,6 1, ,78x ,04x ,22x ,02x ,4 1, ,31x ,93x ,03x ,68x ,9 1, ,04x ,98x ,96x ,32x ,8 1,50 75 Ajustado 2,09x ,7 1,46 70 Ajustado 4,14x ,4 ESCOAMENTO NAS COLUNAS DE PERCOLAÇÃO A vazão de alimentação para cada coluna de percolação foi definida inicialmente como sendo de 340 ml por semana, o que representa uma precipitação média de mm em seis meses. Sob tais condições o escoamento em todas as colunas ocorreu de forma não saturada, verificada através dos pontos de amostragem intermediários que se mantiveram secos. Inicialmente foram necessárias duas alimentações consecutivas devido à baixa umidade do solo. As respostas dos escoamentos de chorume das primeiras alimentações foram verificadas somente na semana seguinte, como pode ser observado na Figura 4. Na mesma figura são observadas as respostas para as alimentações subseqüentes. No período avaliado não se verificou resposta para o escoamento da coluna compactada à 90% do Proctor Normal pois a alimentação não ocorreu devido a problemas de vazamento. Para a coluna de 95% não se verificou até o momento a infiltração do chorume devido à baixa permeabilidade. Observa-se pelo comportamento das curvas apresentadas nas Figuras 4 e 5, que quanto mais compactado o solo, mais lento é o escoamento, denotado pela menor amplitude das oscilações de vazão nos efluentes das colunas de percolação. ABES Trabalhos Técnicos 7
8 Volume (ml) Chorume Natural 80% 85% /03/01 14/03/01 16/03/01 18/03/01 20/03/01 22/03/01 24/03/01 26/03/01 28/03/01 30/03/01 01/04/01 03/04/01 05/04/01 07/04/01 09/04/01 11/04/01 13/04/01 15/04/01 17/04/01 19/04/01 21/04/01 23/04/01 Dias Figura 4 Medidas da alimentação de chorume e as reposta no efluente das colunas de percolação Volume acumulado (ml) /03/01 14/03/01 16/03/01 18/03/01 20/03/01 22/03/01 24/03/01 26/03/01 28/03/01 30/03/01 01/04/01 03/04/01 05/04/01 07/04/01 09/04/01 11/04/01 13/04/01 15/04/01 17/04/01 19/04/01 21/04/01 23/04/01 Figura 5 - Medidas da alimentação de chorume e efluente acumulado das colunas de percolação. QUALIDADE DO CHORUME Dias Chorume Natural As primeiras coletas do efluente das colunas demonstraram uma grande capacidade de retenção de sólidos e conseqüentemente de DQO, como se observa na Tabela 3, com eficiência aproximada de 99% para todas as colunas. Ao final do período de um mês verifica-se que a DQO do efluente da coluna com densidade natural apresenta alterações significativas, indicando menor capacidade de retenção de matéria orgânica. Em menor intensidade, o mesmo efeito pode ser observado já nas colunas de 80 e 85% de compactação. Observa-se o mesmo comportamento para a condutividade. 80% 85% 90% 8 ABES Trabalhos Técnicos
9 Até o presente momento as colunas que foram alimentadas com chorume apresentaram grande capacidade de tamponamento, removendo a elevada alcalinidade do chorume. Mais do que a capacidade de tamponamento verifica-se a acidificação do efluente, fato que merece maiores estudos, uma vez que para as colunas alimentadas somente com água, em que o ph situa-se em torno de 8,9, ocorre a neutralização do efluente. Tabela 3 Parâmetros qualitativos do chorume e dos efluentes das colunas de percolação para durante o período de um mês (inicio e fim do período). Parâmetro Chorume Natural 80% 85% 90% DQO, mg/l Condutividade, µs ,9 50,4 66, ,5 - ph 8,1 4,7 5,1 4,8-8,3 5,0 6,8 6,7 6,7 Alcalinidade, mg(caco 3 )/l CONCLUSÕES Uma recompactação do solo arenoso, nas bases de aterros constitui uma forma pouco custosa de preparação, resultando na redução da permeabilidade e garantindo um confinamento maior do chorume sem, contudo, atingir os valores exigidos pelos órgãos ambientais. Neste caso, torna-se fundamental conhecer os mecanismos envolvidos, que permitam avaliar e quantificar eventuais impactos, assim como estabelecer critérios específicos para execução e operação do sistema de disposição de resíduos. Na realidade, o conhecimento dos processos envolvidos na atenuação natural, através das condições de permeabilidade natural e do solo recompactado, diante do escoamento de chorume, permite estabelecer quais parâmetros deveriam ser avaliados para viabilizar ambientalmente as instalações de um sistema de disposição de resíduos sólidos, e também definir potencialmente sua capacidade de confinar e atenuar os eventuais impactos sobre o solo. Até o presente momento verificam-se alterações significativas na qualidade do efluente das colunas de percolação alimentadas com chorume, destacando-se a elevada remoção de DQO. Contudo essa remoção vem se reduzindo gradativamente e os reais efeitos sobre a permeabilidade ainda não são conclusivos, mostrando que há necessidade de se efetuar um estudo de longo prazo, de forma a representar efetivamente o comportamento das bases de aterros sanitários e lixões. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. McBEAN, E.A., ROVERS, F.A., FARQUHAR, G.J., (1995) Solid Waste Landfill Engineering and Design. Prentice Hall, Inc. p. 521, ISBN BORGES, A.F., CAMPOS, T.A., NOBRE, M.M.M., Desenvolvimento de um Sistema de Permeâmetros para Ensaios de Transporte de Contaminantes em Laboratório. Solos e Rochas. ABMS/ABGE, São Paulo, Vol. 20(3), pp , BOSCOV, M.E.G., Contribuição ao Projeto de Contenção de Resíduos Perigosos Utilizando Solos Lateríticos. Tese de Doutorado Escola Politécnica USP. São Paulo, 269p, BOSCOV, M. E. G.; OLIVEIRA, E.; GHILARDI, M. P. & SILVA, M. M., Difusão de metais através de uma argila laterítica compactada. In: REGEO 99, 4º Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental, pp COSTA, H. R., Estudo da Disposição de Metais Pesados no solo Aspectos Construtivos e Casos Históricos. in: Anais do Simpósio de Barragens de Resíduos Industriais e de Mineração. Rio de Janeiro, Brasil, pp , FERREIRA, S.B., Ensaios Laboratoriais para Avaliação do Potencial de Contaminação de Solo e de Água por Gasolina Oxigenada. Tese de Doutorado Escola de Engenharia de São Carlos USP, ABES Trabalhos Técnicos 9
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