Exmo. Sr. Procurador-Chefe da Procuradoria da República no Distrito Federal, Doutor Marcus Marcelus Gonzaga Goulart

Transcrição

1 Exmo. Sr. Procurador-Chefe da Procuradoria da República no Distrito Federal, Doutor Marcus Marcelus Gonzaga Goulart RUBENS BUENO, brasileiro, casado, Deputado Federal, portador do CPF e do RG SSP/PR, com endereço funcional no gabinete 623, do Anexo IV, da Câmara dos Deputados, Brasília/DF, CEP , vem, respeitosamente, à presença desta D. Procuradoria da República, com fundamento no art. 6º, da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, c/c art. 5º, inciso XXXIV, a, da Constituição Federal, oferecer a presente REPRESENTAÇÃO, com pedido de instauração de inquérito civil público para investigar a atuação do CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO CONTRAN, o que faz pelos fundamentos de fato e de direito adiante expendidos: Conforme foi amplamente divulgado pela imprensa, em reunião ocorrida na última quintafeira, dia 17 de setembro, o CONTRAN decidiu que o uso do extintor de incêndio em carros, caminhonetes, camionetas e triciclos de cabine fechada será opcional. Ou seja, a falta do equipamento não mais será considerada infração nem resultará em multa. Tal decisão encontra-se formalizada por meio da Resolução nº 556, de 17 de setembro de Como se verifica na documentação em anexo, o CONTRAN alterou a Resolução nº 157, de 22 de abril de 2004, que estabelecia a obrigatoriedade de equipar os veículos automotores que especifica com os extintores de incêndio. Compare-se, no que interessa, as Resoluções do CONTRAN em questão: 1

2 Resolução nº 157, de 22 de abril de 2004 Resolução nº 556, de 17 de setembro de 2015 Art. 1º. Nenhum veículo automotor, elétrico, reboque e semi-reboque poderá sair de fábrica, ser licenciado e transitar nas vias abertas à circulação, sem estar equipado com extintor de incêndio, do tipo e capacidade constantes do Anexo desta Resolução, instalado na parte dianteira do compartimento interno destinado aos passageiros. Parágrafo único. Excetuam se desta exigência as motocicletas, motonetas, ciclomotores, triciclos e quadriciclos automotores sem cabine fechada, tratores, veículos inacabados ou incompletos, veículos destinados ao mercado de exportação e os veículos de coleção. Art. 1º Alterar o art. 1º da Resolução CONTRAN nº 157, de 22 de abril de 2004, que passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 1º Esta norma torna facultativo o uso do extintor de incêndio, para automóveis, utilitários, camionetas, caminhonetes e triciclos de cabine fechada, do tipo e capacidade constantes da tabela 2 do Anexo desta Resolução, instalado na parte dianteira do habitáculo do veículo, ao alcance do condutor. 1º Os proprietários dos veículos descritos no caput poderão optar pelo uso do extintor de incêndio. 2º Os fabricantes e importadores dos veículos descritos nos caput deverão disponibilizar local adequado para a instalação do suporte para o extintor de incêndio, na forma da legislação vigente. 3º Os proprietários de veículos que optarem por utilizar o extintor de incêndio deverão seguir as normas dispostas nesta Resolução. 4º É obrigatório o uso do extintor de incêndio para caminhão, caminhão-trator, micro- ônibus, ônibus, veículos destinados ao transporte de produtos inflamáveis, líquidos, gasosos e para todo veículo utilizado no transporte coletivo de passageiros. Resta evidente que, após pouco mais de onze anos da vigência da Resolução nº 157/2004, o CONTRAN resolveu dar uma guinada em sua orientação, tornando o extintor de incêndio um item opcional nos automóveis, utilitários, camionetas, caminhonetes e triciclos de cabine fechada. Diante dessa decisão, cumpre fazer o seguinte raciocínio: ou bem o extintor é um item necessário para a segurança do usuário tornando indevida a sua dispensa pela Resolução nº 556/2015 ou tal equipamento, de fato, é dispensável, evidenciando um prejuízo causado ao consumidor brasileiro com a vigência, por mais de onze anos, da Resolução nº 157/2004. Tudo leva a crer, contudo, que de fato nunca houve a necessidade de se tornar o extintor de incêndio um item obrigatório. 2

3 É bem verdade que, ao longo desses onze anos, o CONTRAN editou outras Resoluções tratando da questão. Mas todas elas caminhavam na direção de incutir na mente do consumidor a ideia de que a obrigatoriedade do extintor de incêndio jamais seria revista. Para melhor compreensão do tema, impende fazer um breve histórico. Pela já destacada Resolução nº 157/2004, o CONTRAN estabeleceu que todos os veículos fabricados a partir de 1º de janeiro de 2005 deveriam ser equipados com o extintor ser do tipo ABC. No entanto, por força de decisão judicial, proferida liminarmente, nos autos da Ação Civil Pública nº , da 27ª Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro, os efeitos da referida Resolução foram suspensos, mantendo a obrigatoriedade do uso do extintor nos veículos do tipo BC, apenas. Em 2007, nova Resolução foi editada pelo CONTRAN (nº 223/2007), retomando a obrigatoriedade do uso do extintor ABC pelos veículos a partir da publicação da nova norma. E em 2009, outra Resolução do órgão retomou o mesmo assunto (nº 333/2009), com base na necessidade de garantir os direitos dos consumidores que adquiriram extintores de incêndio com carga de pó BC no período em que a Resolução nº 157, de 22 de abril de 2004, esteve com seus efeitos suspensos pela decisão judicial já destacada, prevendo a obrigatoriedade de os veículos circularem com extintores de incêndio com carga de pó ABC a partir de 1º de janeiro de Aliás, esta Resolução provocou uma corrida às lojas especializadas para a aquisição do dito extintor, no final do ano de 2014, conforme foi noticiado pela imprensa à época. Passados seis anos da Resolução nº 333/2009, o CONTRAN decidiu publicar, em 29 de janeiro de 2015, ou seja, em plena vigência da norma que obrigava todos os veículos a trafegar com o novo extintor ABC, nova Resolução (nº 516/2015) prorrogando o prazo para o início da nova exigência para 1º de abril do mesmo ano. Na mesma toada, em 25 de março, poucos dias antes do novo prazo, o CONTRAN informou, por meio da Resolução nº 521/2015, que somente a partir de 1º de julho de 2015 é que a exigência passaria a valer. E isso não ocorreu, porque, pela Resolução nº 536, de 17 de junho de 2015, novamente poucos dias antes do prazo estabelecido para o início da 3

4 obrigatoriedade, o CONTRAN determinou nova data para que os donos de veículos ainda não adequados à norma providenciassem a compra do extintor ABC. O prazo agora inscrito seria a partir de 1º de outubro de Quando entrasse em vigor, a fiscalização iria multar o dono do veículo que estivesse sem o extintor ABC com multa de R$ 127,69, além de 5 pontos na carteira de habilitação. Observe-se que, apesar das sucessivas prorrogações, o CONTRAN cultivou, ao longo de todos esses anos, uma compreensível expectativa, por parte do consumidor, que a exigência do extintor de incêndio não seria revista. Ainda que adiando a vigência da obrigatoriedade, transmitiu-se a sensação de que um dia chegaria o momento de incidência da norma. Para a surpresa de toda a população brasileira, em 17 de setembro, o CONTRAN publicou a Resolução nº 556/2015, que tornou facultativo o uso do extintor. E o mais surpreendente é que tornou opcional qualquer tipo de extintor, seja ele BC ou ABC. Apenas caminhões, caminhões-tratores, micro-ônibus, ônibus, veículos destinados ao transporte de produtos inflamáveis, líquidos, gasosos e veículos utilizados no transporte coletivo de passageiros ficarão obrigados a circular com extintor, do tipo ABC, a partir de 1º de outubro deste ano. Enfim, o que se observa nessa questão é que o CONTRAN, ao que tudo indica, manteve o extintor como item obrigatório sem a efetiva necessidade. Qual seria a intenção? Obrigar o consumidor a adquirir o extintor de incêndio, mesmo sabendo que, posteriormente, suspenderia a exigência? Enriquecer, indevidamente, fabricantes e comerciantes, em detrimento do consumidor? São conjecturas que precisam de uma resposta e a sociedade espera por isso. Mas a resposta a esses questionamentos, todavia, exige a instauração de um inquérito civil público, no qual será investigada a atuação do CONTRAN ao longo de todos esses anos. As atas de todas as reuniões, por exemplo, em que foram editadas as Resoluções postergando a entrada em vigor da obrigatoriedade do extintor culminando na sua 4

5 dispensa em definitivo podem fornecer elementos para a formação de uma convicção pelo parquet. A forma como os fatos se sucederam, isso é certo, gera muitas especulações sobre a real motivação do CONTRAN. Não é crível que, somente após tantos anos e após tantas Resoluções adiando a obrigatoriedade, tenha o órgão responsável pela regulamentação da legislação de trânsito se convencido, da noite para o dia, da desnecessidade do extintor de incêndio. Tal situação gerou evidente prejuízo a todos os consumidores de boa fé. Isso não pode ficar sem uma resposta. Ante o exposto, o peticionário requer a instauração de inquérito civil público para investigar os fatos em questão para, se for o caso, ajuizar a competente ação civil pública contra quem de direito. Apresenta, em anexo, cópia das Resoluções do CONTRAN que tratam do tema, apresentadas em sua ordem cronológica e que se encontram disponíveis no link Termos em que, Pede deferimento. Brasília, 22 de setembro de RUBENS BUENO Deputado Federal (PPS/PR) 5