Características agronômicas de cultivares de feijão dessecadas em pré-colheita

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1 Anais do VIII Seminário de Iniciação Científica e V Jornada de Pesquisa e Pós-Graduação UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS 10 a 12 de novembro de 2010 Características agronômicas de cultivares de feijão dessecadas em pré-colheita Daniel Antonio da Cunha¹; José Antônio de Paula Oliveira²; Gisele Carneiro da Silva Teixeira 3 ; Itamar Rosa Teixeira 4 ¹Bolsista PIBIC/CNPq/UEG, graduando do curso de Engenharia Agrícola,UEG/UnUCET, , Brasil. cunhaengenharia@hotmail.com ²Bolsista PIBIC/CNPq/UEG, graduando do curso de Agronomia, UEG/UnUIpameri, , Brasil. 3 Mestranda em Agronomia/Produção vegetal, UFG, , Brasil. 4 Orientador, docente do curso de Engenharia Agrícola, UEG/UnUCET, , Brasil. itamar.teixera@ueg.br Palavras-chave: Phaseolus vulgaris L., herbicida dessecante, produção. 1 INTRODUÇÃO Para CONAB (2010),o Brasil configura-se atualmente como maior produtor mundial da espécie Phaseolus vulgaris L. a qual pertence o feijão comum, tendo obtido na safra 2009/10, em torno de 3,4 milhões de toneladas de grãos. Esta leguminosa configura-se como a principal fonte protéica das classes mais carente da população brasileira. Apesar disso, o feijoeiro tem apresentado baixos patamares de produtividade 921 kg ha -1, devido especialmente ao baixo índice de sementes de qualidade usadas pelos produtores 10%, apenas. Para Marcos Filho (2005) o momento ideal para colheita de sementes ocorre no ponto de maturidade fisiológica - PMF, que coincide com o máximo percentual de germinação e vigor e peso da massa seca. Entretanto, quando a semente é colhida nessa ocasião, a planta ainda encontra-se com grande

2 desuniformidade de maturação e elevados teores de umidade das sementes, ocasionando assim um entrave à obtenção de um produto de boa qualidade. Por outro lado, o retardamento da colheita possibilita a infestação de pragas e doenças pela interferência de fatores do meio como temperatura, umidade relativa do ar e precipitação (ANDRADE et al., 2006). Em adição, as características intrínsecas aos genótipos, na sua maioria com hábito de crescimento indeterminado e porte prostrado, propicia a obtenção de plantas com baixa inserção de vagens e acamamento, têm contribuído para obtenção de sementes de baixa qualidade, especialmente no período chuvoso. Nesse contexto, a utilização de produtos sintéticos como os herbicidas dessecantes pode favorecer a antecipação da colheita, tornando possível a obtenção de sementes de qualidade, sem prejudicar sua qualidade fisiológica. Estes produtos têm a função de promover a queda das folhas, acelerando a perda de umidade das sementes, além de reduzir os problemas com plantas daninhas na colheita, ou mesmo liberar a área rapidamente para sucessão cultural. No mercado brasileiro existe um herbicida usado para dessecação em semeadura direta ou aplicações dirigidas - carfentrazone-ethyl, e que têm demonstrado alta eficiência no controle de plantas infestantes com certa tolerância ao glifosato como a trapoeraba (Commelina spp.) e a corda-de-viola (Ipomoea spp.) (OVEJERO et al., 2004). Esse produto caracteriza-se por ser um herbicida de contato, pertencente ao grupo das aril-triazolinonas, com mecanismo de ação sobre a inibição da enzima proto-porfirinogênio oxidase (PPO ou PROTOX), envolvida na síntese de clorofila. Para Corrêa e Borges (2000), a aplicação do produto leva ao acúmulo da PPO, que na presença de luz produz oxigênio singleto, ocasionando a ruptura do sistema de membrana da célula, levando-a a morte imediata. Seu emprego como dessecante em sementes objetivando a antecipação de colheita é feito, a exemplo de canola (MARCHIORI Jr. et al., 2002), soja (KAPPES et al., 2009), cevada (CAIERÃO e ACOSTA, 2007) e de feijão (SANTOS et al., 2005). A capacidade de reposta dos feijoeiros a aplicação de dessecante pode variar com os genótipos e com as condições ambientais prevalescentes. Desse modo, trabalhos investigativos que visem identificar o efeito da aplicação do herbicida carfentrazone-ethyl na antecipação da colheita do feijoeiro, com seus prováveis efeitos nas características agronômicas, devem envolver o uso de

3 cultivares de diferentes tipos de crescimento, de modo a fornecer à técnicos e produtores melhor embasamento para adoção dessa técnica. Este trabalho teve por objetivo avaliar as características agronômicas de cultivares de feijão dessecadas ou não com carfentrazone-ethil na pré-colheita objetivando a produção de sementes de qualidade superior. 2 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi implantado na safra das águas de 2009/2010, em área experimental da Emater de Anápolis (antiga Agencia Rural). Por ocasião da colheita procedeu-se a aplicação do dessecante carfentrazone-ethyl, na dose 30 g kg -1 do principio ativo, quando atingindo o ponto de maturidade fisiológico das sementes final do estádio R8. Para a aplicação do produto foi utilizado um aparelho costal, aplicando o equivalente a 200 L ha -1. Durante as aplicações, foram utilizadas lonas plásticas (6,0 x 1,8m), objetivando evitar a deriva durante as pulverizações. Foi empregado o delineamento inteiramente casualizados em esquema fatorial 4 x 2, com quatro repetições. Os tratamentos foram compostos de sementes provenientes de quatro cultivares de feijão (Pontal, Talismã, Pérola e Valente) submetidas ou não à dessecação. Foram colhidas também lotes de semente não dessecadas, e que apresentaram portanto maturação normal, representando testemunhas. As parcelas apresentaram quatro linhas de cinco metros, espaçadas de 0,50 m, tendo as duas linhas centrais com área útil. A calagem e gessagem foi dispensada segundo o resultado da análise de solo. Na semeadura empregou-se 450 kg ha -1 do formulado A cobertura foi realizado aos 25 dias após emergência, sendo usado 40 kg ha -1 de N, tendo a úreia como fonte. Os demais tratos culturais empregados, foram os normalmente usados na cultura do feijão. Na colheita avaliou-se os componentes (número de vagens por planta, número de grãos por vagem e peso de cem grãos) e o rendimento de grãos. Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância, e quando pertinente empregou-se o teste de Tukey a 5% de probabilidade para discriminar possíveis diferenças entre os tratamentos. Os cálculos estatísticos foram realizados por meio do Sistema de Análise Estatística Genética (SAEG).

4 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os componentes de rendimento número de grãos de por vagem e peso médio de cem grãos foram influenciados significativamente pelos fatores cultivares isoladamente e pela interação cultivares x dessecante (P < 0,01%). Em contrapartida, o número de vagem por planta não foi influenciado pelos fatores investigados (P > 0,05%). O rendimento de grãos mostrou-se influenciado pela interação entre cultivares x dessecante (P < 0,01%) (Tabela 1). Quanto à precisão experimental, pode-se observar dentre as características avaliadas, que somente o número de vagens por planta apresentou coeficiente de variação mais elevado (22,45%), quando se compara aos valores obtidos em trabalhos com a cultura do feijão (OLIVEIRA et al., 2009), sendo este o provável razão da não detecção de efeito significativo dos tratamentos aplicados para o número de vagens por planta. Tabela 1. Resumo da análise da variância do rendimento e seus componentes de cultivares de cultivares de feijão-comum submetidas ou não a dessecação. UEG/UnUCET, Anápolis-GO Causas de variação G.L. Número de vagens por planta Quadrados Médios Número de grãos por vagem Peso de cem grãos Rendimento de grãos Blocos 3 3,7858 0,2016 0, ,83** Cultivares(C) 3 2,3783 2,1124** 25, ,80 Dessecante(D) 1 3,2513 0,0814 6, ,50 C x D 3 12,4646 0,3921 9,8135** ,50** Resíduo 21 6, , ,74 C.V. (%) - 22,45 8,43 6,65 12,89 ** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F. * Significativo a 5% de probabilidade pelo teste F. Na tabela 2 são apresentados os valores médios dos componentes do rendimento número de vagens por planta e número de grãos por vagem. No tocante ao número de vagens por planta, pode-se confirmar o resultado da não significância detectada na análise de variância citado anteriormente, porém este comportamento não era esperado em virtude do número de vagens por planta ser uma característica influenciada basicamente pelos fatores do meio. Com relação ao número de grãos

5 por vagem, que apesar de ser uma característica genética, com pouca influencia dos fatores ambientais, obteve-se efeito significativo entre os tratamentos, tendo a cultivar Pontal apresentado maior valor 5,6 em comparação com as demais cultivares, com valores respectivos de 5,0; 4,5 e 4,6 para as cultivares Talismã, Pérola e Valente. Tabela 2. Valores médios dos componentes do rendimento número de vagens por planta e número de grãos por vagem de cultivares de feijão-comum submetidas ou não a dessecação. UEG/UnUCET, Anápolis-GO Tratamentos Número de vagens por planta Número de grãos por vagem Cultivares de feijão Pontal 11,1 a 5,6 a Talismã 10,7 a 5,0 b Pérola 11,3 a 4,5 b Valente 11,9 a 4,6 b Dessecante Com 10,9 a 5,0 a Sem 11,6 a 4,9 a Médias 11,3 4,9 Médias seguidas pela mesma na letra na coluna, não diferem estatisticamente entre si, a 5% de probabilidade. Resultado significativo dos tratamentos foi verificado para o outro componente do rendimento peso de cem grãos, porém em interação com o fator cultivar, fato este também inesperado visto ser esta uma característica pouca influenciada pelo ambiente. Neste caso, a exceção de Pérola que apresentou maior peso de cem sementes na ausência de dessecante (26,84g) em relação a não aplicação (22,95g), as demais cultivares de feijão não apresentaram qualquer comprometimento do número de grãos por vagem produzidos nos tratamentos onde foi empregado o dessecante, comparativamente ao não uso (Tabela 3). Desde maneira, pode-se dizer que a aplicação do herbicida dessecante carfentrazone-ethyl na pré-colheita do feijão na dose de 30 g kg -1 do principio ativo, quando atingindo o ponto maturidade fisiológico estádio R8, não trouxe comprometimento da quantidade de reservas acumuladas nos grãos, justificando deste modo, o seu uso nas lavouras para acelerar a queda da folhagem das plantas de feijão. Ademais, a provável explicação dos efeitos significativos detectados para

6 os dois componentes genéticos citados acima, ou seja, número de grãos por vagem e peso de cem sementes, se deve a boa precisão experimental na avaliação dos mesmos, com valores respectivos de 8,43% e 6,65%,conforme visto anteriormente (Tabela 1).

7 Tabela 3. Valores médios do peso de cem grãos e rendimento de cultivares de feijão-comum submetidas ou não a dessecação. UEG/UnUCET, Anápolis-GO Peso de grãos (g) Rendimento (kg ha -1 ) Tratamentos Dessecação Dessecação Com Sem Com Sem Cultivares de feijão Pontal 22,90 aa 21,55 ab 2130 aa 1730 ba Talismã 20,62 aa 20,69 ab 1520 bb 1900 aa Pérola 22,95 ba 26,84 aa 1435 ab 1740 aa Valente 21,50 aa 22,58 ab 2130 aa 1740 ba Médias 21,99 22, Médias seguidas pela mesma letra, na coluna e na linha, não diferem estatisticamente entre si, a 5% de probabilidade. Quanto ao rendimento, a exceção da cultivar Talismã, pode-se verificar que a aplicação do herbicida dessecante não trouxe maiores prejuízos, comparado a não aplicação. Fato este verificado para as sementes das cultivares Pontal e Valente, que produziram aproximadamente 400 kg ha -1 de grãos, cada, a mais que as plantas não dessecadas (Tabela 3), mostrando desta forma, que o uso da referida técnica proporciona a aceleração do processo de desfolha do feijoeiro, com a conseqüente antecipação da colheita em até cinco dias, sem prejuízos à produção final, o que torna relevante especialmente para a safra das águas, comumente colhida debaixo de chuva. Com relação ao valor médio do rendimento, pode-se notar que nos tratamentos dessecados, a quantidade de grãos produzida foi praticamente a mesma obtida no tratamento não dessecado, confirmando assim a eficiência do dessecante conforme citado acima. Quando se compara a produtividade média kg ha -1, das duas condições estudadas, com e sem dessecação, nota-se que o valor é praticamente o dobro da produtividade média nacional de feijão 912 kg ha -1 (Conab, 2010), corroborando assim aos resultados de safra normalmente obtidos na região Centro-Oeste.

8 4 CONCLUSÃO O uso do herbicida dessecante carfentrazone-ethyl em pré-colheita na dosagem de 30 g ha -1 do princípio ativo, acarreta aceleração da queda de folhas das plantas e decréscimo de umidade dos grãos, sem prejudicar o rendimento de grãos. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, M.J.B.; CARVALHO, A.J.; VIEIRA, N.M.B. Exigências edafoclimáticas. In: VIEIRA, C.; PAULA JÚNIOR, T.J. BORÉM, A. Feijão. Viçosa: UFV p CAIERÃO, E.; ACOSTA, A.S. Uso industrial de grãos de cevada de lavouras dessecadas em pré-colheita. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 42, n. 9, p , CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. 11º Levant. de grãos 2009/10- agosto/2010.disponível em:< c894..pdf>.acesso em: 08 ago CORRÊA, L.E.A.; BORGES, A. Glyphosate + carfentrazone-ethyl: controle de ervas problemas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 22., Foz do Iguaçu, Resumos... Iguaçu: SBCPD, P KAPPES, C.; CARVALHO, M.A.C.; YAMASHITA, O.M. Potencial fisiológico de sementes de soja dessecadas com diquat e paraquat. Scientia Agrária, Curitiba, v. 10, n. 1, p. 1-6, MARCHIORI JR., O.; INOUE, M.H.; BRACCINI, A.L.; OLIVEIRA JR.; R.S.; AVILA, M.R.; LAWDER, M.; CONSTANTIN, J. Qualidade e produtividade de sementes de canola (Brassica napus) após aplicação de dessecantes em pré-colheita. Planta Daninha, v. 20, n. 2, p , MARCOS FILHO, J. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Piracicaba: FEALQ, p.

9 OLIVEIRA, R.L.; MUNIZ, J.A.; ANDRADE, M.J.B.; REIS, R.L. Precisão experimental em ensaios com a cultura do feijão. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 33, n. 1, p , OVEJERO, R.F.L.; CHRISTOFFOLETI, P.J.; VARGAS, L. Resistência de plantas daninhas a herbicidas. In: VARGAS, L.; ROMAN, E.S. Manual de manejo e controle de plantas daninhas. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, p SANTOS, J.B.; FERREIRA, E.A.; FERREIRA, E.M.; SILVA, A.A.; FERREIRA, L.R. Efeitos da dessecação de plantas de feijão sobre a qualidade de sementes armazenadas. Planta Daninha, Viçosa, v. 23, n. 4, p , 2005.