Curso Avançado de Direito Administrativo em Exercícios. Profº. Cyonil Borges
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- Milton Cipriano Deluca
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1 A remoção é deslocamento do servidor, com ou sem mudança de sede, para desempenhar suas atribuições em outra unidade do mesmo quadro. Redistribuição é o deslocamento do cargo efetivo, ocupado ou não, no âmbito do quadro geral de pessoal, para outro órgão ou atividade. Ambos não são hipóteses de provimento ou vacância. Vejamos dois exemplos, para situarmos a questão: Na sala de determinado órgão X, em São Paulo, tem 10 cadeiras cargos -, sendo que apenas sete existem pessoas sentadas servidores. No órgão Y, localizado no Rio de Janeiro, tem 12 cadeiras, sendo que apenas 10 estão preenchidas. Assim, o servidor pode ser removido de São Paulo para o Rio de Janeiro, pergunta-se: quantas vagas foram criadas? Quantos servidores entraram? Não houve vacância e sequer provimento, exatamente porque o número de servidores e de cargos permaneceu constante. Agora, o órgão X precisa de novas cadeiras em um novo departamento que acaba de ser criado. Bom, como vimos, a criação de novas cadeiras (cargos) depende de lei, no entanto, como das 12 cadeiras no RJ apenas 10 estão preenchidas, e como em SP, há três cadeiras subutilizadas, que tal deslocarmos as cadeiras para o novo departamento, isso mesmo, que tal redistribuir, promover a relotação das cadeiras? Notem que, igualmente, não houve redução ou acréscimo do quantitativo de servidores, não sendo, portanto, o caso de se falar em vacância ou em provimento. Acrescento que a redistribuição pode acarretar o deslocamento de cadeiras ocupadas. Por exemplo: houve a criação de um novo departamento da Receita, com a reunião de tarefas afetas à matéria previdenciária. Assim, é possível redistribuir as cadeiras do INSS para a Receita, e, conforme o caso, os servidores sentados nas cadeiras serão igualmente redistribuídos. Já a remoção pode ocorrer de ofício (no interesse da administração) ou a pedido do servidor. Na remoção de ofício, caso seja necessária a mudança de sede do servidor, este fará jus à ajuda de custo (com um máximo de até três remunerações, conforme regulamento), para compensar despesas ocorridas. Na remoção de ofício, fica garantido o direito do servidor e de seu cônjuge, filhos, enteados ou menor sob sua guarda, de se matricular em instituições de ensino 32
2 congênere, em qualquer época, independente de vaga ou de época (cuidado! Instituições congêneres...não tem o filho do servidor, civil e militar, estudante de faculdade particular, direito de matricular-se na Universidade de Brasília ou públicas em geral, em razão da remoção de ofício, a não ser, obviamente, que o curso só seja oferecido pela instituição pública). Notaram o negrito na expressão DE OFÍCIO neste parágrafo? É que existem outras formas de remoção, que são bem diferentes. A remoção a pedido pode a ser a critério da administração ou independente do interesse desta. Na primeira hipótese, o servidor faz o pedido e a Administração avalia a conveniência (é ato discricionário). Já remoção a pedido, independente do interesse da administração, ocorre nas seguintes hipóteses: - Para acompanhamento do cônjuge, que também deve ser servidor, ou militar, de qualquer dos poderes da União, dos Estados, dos Municípios, que foi deslocado no interesse da administração. Em outros termos, se o cônjuge passou em concurso ou solicita remoção, ele é quem criou o problema (talvez, não queira mais você! Rsrsrs...), não tendo a Administração o dever de removê-lo, assim entende o STJ; - Por motivo de doença do servidor, cônjuge, ou dependente que viva às suas expensas, sendo que deverá constar do assentamento funcional do servidor; - Em virtude de concurso de remoção, em que o número de interessados é superior ao número de vagas na unidade de destino. Em todas as hipóteses, SEMPRE que a remoção/redistribuição implicar o exercício de atribuições do servidor em outro município, será concedido um prazo àquele de 10 a 30 dias contados da publicação do ato para a retomada do efetivo 33
3 desempenho de suas atividades, estando incluso, nesse prazo, o tempo de deslocamento para a nova sede. Estando o servidor afastado, ou de licença, o prazo aqui referenciado deverá ser contado a partir do término do impedimento. Ah! Um último detalhe nessa passagem. Peço que se esqueçam da vida de vocês da expressão TRANSFERÊNCIA. O STF declarou-a inconstitucional, por ferir o princípio do concurso público. Bom, vamos resumir o que vimos nesse item na já famosa tabelinha: FORMA DE PROVIMENTO Nomeação Aproveitamento Promoção Reintegração Recondução Readaptação Reversão OBSERVAÇÃO: remoção/redistribuição RAZÃO/PALAVRA-CHAVE Provimento originário Em regra, retorno à atividade do servidor que estava em disponibilidade Crescimento na carreira Demissão. Voltou. Reintegrou. Voltar ao cargo anteriormente ocupado. Servidor sofreu limitação em sua capacidade de trabalho. Sendo possível, será readaptado. O aposentado voltou ao exercício de cargo ativo. Não são formas de provimento, e sim de deslocamento de servidor ou cargo 34
4 4.3 POSSE x EXERCÍCIO A posse, na verdade, aperfeiçoa a nomeação, é dizer, sem posse, de nada vale a nomeação. É por isso que se a doutrina diz que se o nomeado não tornar posse, o ato jurídico [de nomeação] será tornado sem efeito. O prazo para a posse é de trinta dias, improrrogáveis, contados da nomeação. Ah, três informações importantes: - na posse, não há que se falar em assinatura de contrato, mas sim de um termo, no qual são firmados os compromissos do servidor; - é possível posse mediante procuração específica ( 3º do art. 13 da Lei 8.112/1990). Ora, se é possível casamento por procuração, claro que pode se tomar posse procuração; - não se pode confundir posse com exercício. Este último quer dizer começar a trabalhar. Pode não coincidir com a posse. Olhem só o que diz o 1º do art. 15 da Lei 8.112, de 1990: É de quinze dias o prazo para o servidor empossado em cargo público entrar em exercício, contados da data da posse. 35
5 Bom, só para registro: o servidor faz jus à remuneração a partir do EXERCÍCIO e não da POSSE, ok? Tem que trabalhar, feliz e infelizmente... E outra: não é possível exercício por procuração, claro. O servidor X, profissional em concursos, passa no cargo Y e outorga procuração ao candidato A. Depois, passa no cargo W, outorgando procuração ao candidato B. Na boa, isso ia virar uma indústria das provas. Exercício tem uma relação com a posse como se fosse o casamento e a Lua de Mel. É possível casamento (posse) por procuração. Já para a lua de mel (o exercício), é bom entrar em exercício. E que ele seja efetivo...rsrsrsrs POSSIBILIDADES DE ACUMULAÇÃO DE CARGOS E EMPREGOS PÚBLICOS. De antemão, registre-se que a regra geral é que se veda a acumulação remunerada de cargos, empregos e funções públicos, seja na Administração Direta, seja na Administração Indireta. A regra da não-acumulação abrange, portanto, também autarquias, fundações, empresas públicas, e sociedades de economia mista, em quaisquer esferas da federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). A partir da EC 19/1998, a regra da não acumulação passou a abarcar as subsidiárias daquelas entidades, bem como as sociedades controladas direta ou indiretamente pelo Poder Público. Por consequência, a presente regra não é impeditiva de ocupações privadas por parte do servidor público, desde que, obviamente, tais ocupações não sejam incompatíveis com o cargo exercido pelo servidor (p. ex.: a Lei nº 8.112/1990 veda a gerência de sociedades empresariais, ressalvando conselhos Fiscal e de Administração de entidades sob o domínio do Estado, por exemplo). Há que se ter um pressuposto para que possa ocorrer a acumulação remunerada: a compatibilidade de horários. Não existindo compatibilidade de horários, TODA E QUALQUER acumulação de cargos/empregos públicos será vedada. A jurisprudência do TCU admite acumulação com jornada máxima de 60 horas, ou seja, um cargo/emprego público de 40 horas + um cargo/emprego público de 20 horas, por exemplo. Outro ponto a ser levado em consideração diz respeito à observância dos tetos constitucionais remuneratórios, estabelecidos no art. 37, XI, da CF, os quais, no caso de 36
6 acumulação (acima listados), não poderão ser superados. Aguardem, já falarei sobre os tais tetos remuneratórios (geral e subtetos nos Estados). De acordo com o inc. XVI do art. 37 da CF é permitida a acumulação de cargos e empregos públicos nas seguintes situações: a) dois cargos de professor; b) um cargo de professor com outro técnico ou científico; c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas. Não há maiores controvérsias no que diz respeito à acumulação de dois cargos de professor. Todavia, não é o que se verifica nas duas outras hipóteses. Há falta de precisão no que se refere à definição de cargo técnico ou científico, o que tem provocado algumas dúvidas na interpretação que se faz da expressão. A despeito das controvérsias, pode-se afirmar que há possibilidade de cargos de nível médio serem tidos como técnicos, desde que as características de seu exercício possam ser entendidas como técnicas. Como exemplo de cargos de nível médio que podem ser entendidos como de características técnicas citamos: Programador, Técnico de laboratório, Técnico de Contabilidade, Auxiliar de Enfermagem, e desenhista. Cargos de nível médio, cujas atribuições sejam de baixa complexidade, no mais das vezes fazendo parte da rotina administrativo-burocrática do Estado, não devem ser considerados técnicos ou científicos, não podendo, por consequência, serem acumulados com outro de professor. São exemplos de tais tipos de cargos, de acordo com o parecer H 194, da extinta Consultoria Geral da República: Agentes Administrativos, Agente de Portaria, etc. No mesmo sentido, podemos afirmar que não são todos os cargos de nível superior. Exemplo disso: analistas administrativos, de modo geral, que não tenham por atribuição tarefas técnicas, como analistas da área meio (administrativa) de tribunais judiciais. Logo, não cabe cogitar de acumulação neste caso, pois, ainda que se trate de um cargo de professor, o outro não é visto como técnico (o de analista da área meio do tribunal judicial em referência). A propósito, vejamos a questão exigida em prova anterior elaborada pelo CESPE: 10 - (2006/CESPE/TRF-5/JUIZ) Suponha que Pedro seja professor em uma universidade pública. Nesse caso, ele poderá 37
7 acumular o seu cargo de professor com um cargo de analista judiciário, área meio, em tribunal regional federal. Gabarito: ERRADO Como o Pedro da questão é analista da área meio, não poderia acumular o cargo com o de professor, como pré-falado. Daí o erro da questão. Aliás, esse tema de acumulação de cargos e empregos públicos já foi até tema de prova dissertativa. Mas tudo tem seu tempo. Prossigamos, por ora, em nossas análises. Falemos um pouco do acúmulo de cargo/empregos públicos por parte de aposentados. Havia certa controvérsia doutrinária se estes poderiam, ou não acumular os proventos da aposentadoria com a retribuição pecuniária do cargo, emprego ou função. Tal dúvida foi dirimida, contudo, com a redação dada pela EC 19/98 ao 10 º do art. 37 da CF, que diz: É vedada a percepção simultânea de proventos de aposentadoria decorrente do art. 40 ou dos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública, ressalvados os cargos acumuláveis na forma desta Constituição, os cargos eletivos e os cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração. Assim, o aposentado pode acumular os proventos recebidos com: I) a retribuição pecuniária de outro cargo/emprego/função, desde que a hipótese de acumulação fosse permitida caso em atividade estivesse; II) cargos eletivos (de Deputado, Prefeito, Governador, etc.); e III) cargos em comissão. Há que se destacar, ainda, que as hipóteses de acumulação referem-se a DOIS cargos, empregos ou funções públicos. Assim, não se admite o acúmulo de três ou mais cargos/empregos, ainda que algum deles provenha da aposentadoria. Há apenas uma hipótese de acumulação de três cargos, em virtude da norma temporária contida no 1 º do art. 17 da ADCT: dois de médico civil, com outro de médico militar. Mas, em concursos públicos, de cinco anos para cá, não temos visto as organizadoras tratar do assunto. A vedação à acumulação também não abrange empregos da iniciativa privada, conforme já dito anteriormente. Assim, é possível, por exemplo, que o servidor público seja vigilante de posto de gasolina, sem problemas. 38
8 Outras hipóteses de acumulação permitida são as seguintes: a) Mandato de Vereador com as vantagens de cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo. Deve haver, óbvio, compatibilidade de horários, e servidor deve exercer seu cargo; b) Ministro do TCU com outra função de magistério (art. 73, 3 º, da CF/88); c) Magistrado com uma função de magistério (art. 95, único, I, da CF 88); e, d) Membro do Ministério Público com outra função pública de magistério (art. 128, 5 º, II, d, da CF/1988). Mais uma vez, vale a lembrança: é vedada a acumulação de cargos/empregos/funções públicos, admitindo-se tão só os casos de previsão constitucional, desde que haja compatibilidade de horários no exercício das ocupações públicas. 4.5 FORMAS DE VACÂNCIA PREVISTAS NA 8.112/1990 DEFININDO... Vacância é a situação em que o cargo público está vago, sem ocupante, tornando-o passível de ser provido por alguém. As formas de vacância previstas na Lei 8.112/1990 são (art. 33): exoneração, demissão, promoção, readaptação, aposentadoria, posse em outro cargo inacumulável e falecimento. ATENÇÃO: a ascensão e a transferência foram expressamente revogadas pela Lei 9.527/
9 Inicialmente, cabe fazer diferença entre exoneração e demissão. Esta última é uma penalidade, prevista na Lei nº 8.112/1990, bem como no Código Penal (inc. I do art. 92 do CP). Já os casos de exoneração não constituem punições, tratando-se de hipóteses específicas, com previsão na Lei 8.112/1990 (arts. 34 e 35). Destaques pertinentes à vacância: I) Promoção é, a um só momento, vacância, em cargo inferior, e provimento, em cargo superior, no âmbito de uma carreira. Pode ser por antiguidade ou por merecimento. A despeito de muitos doutrinadores criticarem a inserção da promoção como forma simultânea de provimento/vacância, por razões que, com sinceridade, não são importantes para nossas exposições aqui, MEMORIZEM: PROMOÇÃO FORMA SIMULTÂNEA DE PROVIMENTO/VACÂNCIA; II) além da promoção, há outra forma simultânea de vacância/provimento, de acordo com a Lei 8.112/1990 (art. 8º e 33): a readaptação. De fato, ao passar pela limitação na capacidade laboral, o servidor é readaptado, caso possível, noutro cargo, compatível com tal limitação, deixando o primeiro vago, ao tempo que provê o segundo; III) apesar de não ser indicada expressamente na Lei como forma de vacância, a recondução, em decorrência de inabilitação em estágio probatório, é, de acordo com apontamentos da doutrina, forma simultânea de vacância, dado que o servidor deixará vago o último cargo, no qual foi inabilitado, voltando a prover o primeiro. Nessa última hipótese, o servidor, caso 40
10 estável, deverá ser reconduzido ao cargo anteriormente ocupado, provendo-o de forma derivada. Há quem aponte, ainda, para a posse em outro cargo não acumulável, forma de vacância expressa, sendo entendida como provimento implícito. (FGV/2011- TRE-PA- Técnico Judiciário - Área Administrativa) Ocorre a vacância do cargo público nos casos de: (A) ausência superior a três dias consecutivos. (B) licença-maternidade. (C) licença temporária. (D) falecimento. (E) ascensão ESTABILIDADE x ESTÁGIO PROBATÓRIO Alguém aí já deve ter pensado: ih, lá vem confusão... essa interminável história a respeito de estabilidade X estágio probatório... pois é, como a intenção é só facilitar a vida dos amigos, vamos direto ao âmago... Inicialmente, cumpre registrar que o estágio probatório sempre andou junto com a estabilidade, a despeito de serem, conceitualmente, figuras distintas. Estágio probatório é o período a que deve ser submetido o servidor ESTATUTÁRIO nomeado para cargo de provimento efetivo. No estágio probatório, a capacidade e a aptidão do servidor para desempenho do cargo são constantemente avaliadas. Podemos dizer que o estágio probatório funciona como um período para confirmação no cargo. Respondam rápido aí: ser um bom analista judiciário implica, necessariamente, ser um bom auditor da Receita ou do TCU? A resposta, evidentemente, é não, pois os cargos possuem atribuição distinta. Por isso que a doutrina diz que a cada novo cargo, novo estágio probatório. Isso mesmo. O servidor analista judiciário pode ser estável no serviço público e, ainda assim, ter de se submeter a novo estágio probatório. A grande confusão quanto ao instituto em estudo é quanto a sua duração: se de 36 meses (em decorrência da EC 19/98, que alterou o período de aquisição da estabilidade), ou se de 24 meses, conforme consta do texto da Lei 8.112/1990. Alguns autores afirmam que o estágio probatório é de três anos, e sua transposição é necessária para a aquisição da estabilidade. Em nível federal, a matéria é extremamente confusa. Todavia, em julgados recentes, os tribunais superiores vêm adotando a posição de que o estágio probatório é de 36 meses. Aliás, isso já até caiu no TCU. Olha aí: Conforme recente entendimento do STJ, o prazo do estágio probatório dos servidores públicos é de 24 meses, visto que tal prazo não foi alterado pela Emenda Constitucional n.º 19/1998, que trata apenas da estabilidade dos referidos servidores. GABARITO: ERRADO. COMENTÁRIOS tanto o STJ, quanto o STF tem adotado, como dito, a posição que o estágio probatório tem duração de 36 meses. 12 Gabarito: alternativa D. 41
11 E, como sobredito, a posição do STF é a mesma, em tempos recentes: o estágio probatório tem 36 meses de duração. Um último detalhe. Os critérios de avaliação do estágio probatório constam da Lei 8.112, de 1990, art. 20, e são: assiduidade, disciplina, capacidade de iniciativa, responsabilidade e produtividade. Já a estabilidade é a garantia constitucional dada ao servidor ocupante de cargo efetivo, nomeado em virtude de concurso público, quanto à permanência no serviço público após três anos de efetivo exercício. Na redação original da CF/88, a estabilidade seria adquirida após dois anos de efetivo exercício, apenas com o decurso do tempo, ou seja, a partir de um critério puramente objetivo, em face do mero transcurso do tempo. Contudo, após a EC nº 19/1998, para a aquisição da estabilidade são exigidos três anos de efetivo exercício, ao término dos quais deverá ser precedida de avaliação especial de desempenho por comissão especial instituída para esse fim (caput e art. 41 da CF/1988), pelo que, pode-se afirmar, a estabilidade deixou de ser estritamente objetiva, uma vez que depende da mencionada avaliação especial. Sinteticamente, podem ser apontadas quatro condições necessárias para aquisição da estabilidade: I) aprovação em concurso público. Tal condição exclui a possibilidade de aquisição para quaisquer agentes públicos que tenham vínculos empregatícios provisórios ou transitórios junto à Administração Pública, tais como os contratados temporariamente por excepcional interesse público (art. 37, inc. IX, CF/88). II) nomeação para cargo de provimento efetivo. Tal condição afasta, por exemplo, a aquisição de estabilidade pelos empregados públicos, regidos pela CLT, ou, ainda, pelos ocupantes, exclusivamente, de cargos em comissão. III) cumprimento de estágio probatório. Só lembrando que o estágio probatório deve ser visto com duração de 36 meses, pelos entendimentos mais recentes dos tribunais superiores. IV) avaliação especial de desempenho para fins de aquisição de estabilidade ( 4 º do art. 41 da CF). Assim, o servidor não adquire estabilidade pelo simples decurso de prazo, mas, de outro modo, deve se sujeitar à avaliação específica para tanto. 42
12 Questão interessante surge na possibilidade de a Administração não proceder à avaliação de que ora se trata. Nesse caso, na ausência de avaliação, seria o servidor estável ou não? A resposta é que o servidor deve ser considerado estável, em razão da avaliação positiva de forma tácita, para efeitos de estabilidade. Ressaltese que tal avaliação funcional foi criada em favor da Administração. Contudo, não poderia o servidor ser prejudicado pela inércia administrativa. O STF corroborou essa afirmativa ao apreciar o MS DF, em , registrando que a ausência de avaliação de desempenho não afasta a presunção de estabilidade no cargo. Diferentemente do estágio probatório, a estabilidade é NO SERVIÇO PÚBLICO, noutra clássica afirmação doutrinária. A CF/1988 fala das seguintes hipóteses de perda de estabilidade: I) em virtude de sentença judicial transitada em julgado. Esta hipótese é, praticamente, autoexplicativa uma sentença judicial irrecorrível pode determinar a perda do cargo pelo servidor; II) mediante processo administrativo em que lhe seja assegurada ampla defesa. Hipótese semelhante à anterior, com a diferença é que, neste caso, a via é administrativa; III) em decorrência de insuficiência de desempenho (inc. III do 1º do art. 41 da CF), na forma de Lei Complementar a ser editada (norma de eficácia limitada), de âmbito nacional. Devem ser assegurados a ampla defesa e o contraditório, como condição de validade do processo. Não constitui medida punitiva (não é demissão, é exoneração) e atende o princípio da eficiência; e, IV) em razão de excesso de despesa de pessoal (art. 169, 3º, CF/1988), caso descumpridos os limites para tal natureza despesa, estabelecidos na Lei Complementar 101/2000 (a tão famosa Lei de Responsabilidade Fiscal LRF). Contudo, 43
13 para que, neste caso, a exoneração do servidor estável ocorra, o ente federativo deverá, preliminarmente, ter adotado as seguintes medidas administrativas: i) redução ao menos em 20% das despesas com cargos em comissão ou funções de confiança; e, ii) exoneração dos servidores não-estáveis. De acordo com o art. 33 da EC nº 19/1998, os não-estáveis são aqueles admitidos na administração direta, na autárquica e na fundacional, no entanto, sem concurso público de provas ou de provas e títulos após o dia 5 de outubro de SOMENTE se essas medidas prévias não forem suficientes para o reequilíbrio das despesas de pessoal é que se poderá promover a exoneração dos estáveis, em decorrência de excesso de despesa. Por fim, lembro que o cargo objeto da redução será extinto, sendo vedada a criação de cargo, de emprego, ou de funções com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de QUATRO anos (lembrem aqui do mandato Presidencial). O servidor (estável!) fará jus à indenização, correspondente a um mês de remuneração BRUTA por ano de serviço (não é contribuição, cuidado!). Apesar de pouco exigido em concursos públicos, lembro que a CF/1988, por meio do art. 19 da ADCT, fixou hipótese excepcional de aquisição da estabilidade por parte de certos agentes públicos. 44
14 Tal instituto tem recebido a denominação por parte da doutrina de estabilização constitucional. O referido dispositivo constitucional afirma que devem ser considerados estáveis todos os servidores públicos civis federais, estaduais, distritais e municipais, da Administração Direta e Indireta de Direito Público, que estivessem em exercício há pelo menos cinco anos na data de promulgação da CF, de 1988, e que não houvessem sido admitidos na forma estabelecida no art. 37 da CF (por via de concurso público). Estes servidores são estáveis, porém não são efetivos. Segundo a CF, a efetividade deveria ser adquirida com a realização de concurso público, em que o tempo de serviço, inclusive, seria contado para efeito de titulação. O artigo (Art. 19, ADCT) deixa claro que a regra da estabilização não se aplica aos cargos, empregos e funções de confiança e aos que a lei declare de livre nomeação e exoneração. Não se aplica, também, aos professores de nível superior, nos termos a serem dispostos em lei. Aproveitando a passagem, destaco que a vitaliciedade diz respeito a cargos que apresentam maior garantia de permanência a seus ocupantes. Após a aquisição da vitaliciedade, somente por meio de processo judicial, com trânsito em julgado, poderá ocorrer a perda do cargo. Podem ser citados como exemplos de tais cargos: o dos Magistrados (art. 95, I, CF); o de 45
15 membros do Ministério Público (art. 128, 5 º, I, a, CF) e dos membros dos Tribunais de Contas (art º, CF). Enfatizo que essa lista de agentes não pode ser ampliada por meio das Constituições Estaduais. A vitaliciedade possui várias semelhanças, bem como diferenças, com relação à estabilidade. Contudo, é só atribuída a determinadas categorias de agentes públicos em razão da especificidade das funções que lhes são acometidas, reconhecidas constitucionalmente. Do mesmo modo que a estabilidade, a vitaliciedade representa garantia de permanência no serviço público, diferindo, contudo, em relação ao processo de perda: a vitaliciedade, após sua aquisição, poderá ser perdida apenas em decorrência de sentença judicial transitada em julgado; já a estabilidade poderá ser perdida, além de judicialmente, por meio de processo administrativo, no qual sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa ao servidor, além das hipóteses de exoneração tratadas já tratadas acima. Assim, é de se reconhecer que a vitaliciedade, como instituto jurídico, é de mais difícil perda do que a estabilidade. 6 O SISTEMA REMUNERATÓRIO DOS AGENTES PÚBLICOS 6.1 FIGURAS PECUNIÁRIAS BÁSICAS A princípio, necessário se faz estabelecer alguns conceitos iniciais. 46
16 Em primeiro lugar, ainda que não mencionado no dispositivo acima transcrito, é necessário dizer que vencimento é a retribuição pecuniária recebida pelo servidor em razão do exercício de cargo público, com valor fixado em lei (art. 40 da Lei 8.112/1990). Corresponde, portanto, à parcela básica devida ao servidor pelo exercício do cargo. VencimentoS, assim, no plural, é a espécie de remuneração, e corresponde à soma do vencimento e das vantagens pecuniárias, constituindo a retribuição pecuniária devida ao servidor pelo exercício do cargo público. Esta definição, dada pelo Prof. Hely Lopes, em muito se aproxima do que a Lei 8.112/90 estabelece como remuneração, em seu art. 40: Remuneração é o vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei. Por estar contido na norma, ainda que possa sofrer extremadas críticas quanto à imprecisão do conceito, preferimos o conceito dado pela Lei 8.112/1990. De toda forma, conforme a doutrina e a jurisprudência dominante, pode-se concluir que vencimentos e remuneração são conceitos equivalentes. Percebem vencimentos, ou remuneração, os servidores estatutários. De acordo com a Lei 8.112, de 1990, o vencimento do servidor pode ser inferior ao salário-mínimo. O que não pode ser inferior ao mínimo é a REMUNERAÇÃO. A questão é simples quando se vê a redação do art. 41 da Lei 8.112/1990: 5 o Nenhum servidor receberá remuneração inferior ao salário mínimo. 47
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