Álgebra Linear. Mauri C. Nascimento Departamento de Matemática UNESP/Bauru. 19 de fevereiro de 2013
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- Marina Covalski Carneiro
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1 Álgebra Linear Mauri C. Nascimento Departamento de Matemática UNESP/Bauru 19 de fevereiro de 2013 Sumário 1 Matrizes e Determinantes Matrizes Determinante de uma matriz quadrada Matriz escalonada Equivalência de matrizes por linha Sistemas Lineares Sistema de Equações Lineares Classificação de um Sistema Linear Espaços Vetoriais Reais Definição e exemplos Subespaço Dependência Linear Geradores de um espaço vetorial Base e dimensão para um espaço vetorial Espaço das linhas de uma matriz Interseção, soma e soma direta Aplicação às Equações Lineares Coordenadas de um vetor em relação a uma base Mudança de base Espaços de polinômios sobre R Espaços de funções Transformações Lineares Definição e exemplos Núcleo e Imagem Composta e inversa de transformações lineares Operador linear Matriz de um operador linear
2 2 5 Autovalores e Autovetores Autovalores e Autovetores de uma matriz Polinômio característico de um operador linear Diagonalização Produto Interno Definição e exemplos Bases Ortogonais Norma Construção de bases ortogonais e bases ortonormais Complemento ortogonal Operadores Auto-adjuntos ou Hermitianos Apêndice Corpos Polinômio Minimal Forma de Jordan Bibliografia 52 Índice
3 1 MATRIZES E DETERMINANTES 3 1 Matrizes e Determinantes 1.1 Matrizes Definição 1.1 Uma matriz m n é uma tabela com números dispostos em m linhas e n colunas. a 11 a 12 a 1n a A m n = 21 a 22 a 2n... = [a ij m n a m1 a m2 a mn onde a ij é o elemento da matriz que está na linha i e na coluna j. Tipos especiais de Matrizes. Seja uma matriz A = [a ij m n. A é chamada: 1. Matriz Nula se a ij = 0 i, j 2. Matriz Coluna se n = 1 3. Matriz Linha se m = 1 4. Matriz Quadrada de ordem n se m = n Tipos especiais de Matrizes Quadradas. 1. Matriz Identidade se a ij = 0 quando i j e a ii = 1. Notação: I n matriz identidade n n. 2. Simétrica se a ij = a ji (Por exemplo, a matriz identidade) 3. Diagonal se a ij = 0 quando i j 4. Triangular: i) Superior a ij = 0 quando i > j ii) Inferior se a ij = 0 quando i < j Numa matriz quadrada A = [a ij n n, os elementos a 11, a 22,..., a nn formam a diagonal principal da matriz. Observe que, se A = [a ij é uma matriz simétrica, então a i-ésima linha e a i-ésima coluna de A têm exatamente os mesmos elementos e na mesma ordem. O termo simétrica vem do fato de existir uma simetria em A em relação à diagonal principal. Exemplo 1.1 A matriz triangular superior é simétrica e a matriz é uma matriz Exemplo 1.2 Uma matriz identidade I n é uma matriz diagonal, simétrica, triangular inferior e triangular superior. Operações com matrizes Adição de matrizes. Dadas A = [a ij m n e B = [b ij m n, A + B = [a ij + b ij m n. Note que a adição só é possível quando o número de linhas e o número colunas forem iguais nas duas matrizes. Multiplicação por escalar. Dada A = [a ij m n e α um escalar (número), αa = [αa ij m n
4 1 MATRIZES E DETERMINANTES 4 Multiplicação de Matrizes. Dadas A m n = [a ij m n e B n p = [b ij n p, AB = C m p = [c ij m p onde c ij = n k=1 a ikb kj. Note que a multiplicação só é possível quando, no produto, o número de colunas da matriz à esquerda é igual ao número de linhas da matriz à direita. linhas colunas de B n p C m p de A m n c 1 c 2... c p l 1 l 2. l m c ij = l i c j = a i1 b 1j + a i2 b 2j + + a in b nj. Exemplo 1.3 Para A = e B = [ = temos AB = = Note que neste exemplo não é possível realizar o produto BA l 1 c 1 l 1 c 2... l 1 c p l 2 c 1 l 2 c 2... l 2 c p.. l m c 1 l m c 2... l m c p. Propriedades Sejam A, B e C matrizes, O uma matriz nula, I uma matriz identidade e r, s escalares. Desde que sejam possíveis as operações, as seguintes propriedades são válidas. 1. Comutativa. A + B = B + A. Em geral AB BA. 2. Associativa. A + (B + C) = (A + B) + C e A(BC) = (AB)C 3. Distributiva. A(B + C) = AB + AC e (B + C)A = BA + CA 4. A + O = O + A = A; AI = IA = A; OA = O ; AO = O, onde O e O são matrizes nulas adequadas. 5. r(a + B) = ra + rb 6. (r + s)a = ra + sa 7. (ra)b = r(ab) = A(rB) Exemplo 1.4 Para A = [ [ e B = [ , temos AB = [ e BA = Transposição. Se A m n = [a ij é uma matriz, a transposta de A é uma matriz denotada por A t = [b ij onde b ij = a ji. Observe que as linhas de A t são exatamente as colunas de A, isto é, para cada i, a i-ésima linha de A t e a i-ésima coluna de A têm exatamente os mesmos elementos e na mesma ordem. Propriedades da transposta. Sejam A e B matrizes e r um escalar. Desde que sejam possíveis as operações, as seguintes propriedades são válidas.
5 1 MATRIZES E DETERMINANTES 5 1. (A t ) t = A 2. (ra) t = ra t 3. (A + B) t = A t + B t 4. (AB) t = B t A t. Em geral, (AB) t A t B t. 5. A é simétrica se, e somente se, A = A t Em alguns textos, como no livro do Boldrini, a transposta da matriz A é denotada por A. Inversa. Se A é uma matriz quadrada, a inversa de A, caso exista, é uma matriz denotada por A 1 satisfazendo AA 1 = A 1 A = I (matriz identidade). Se A e B têm inversas então AB tem inversa e (AB) 1 = B 1 A 1, pois (AB)(B 1 A 1 ) = A(BB 1 )A 1 = AIA 1 = AA 1 = I. [ [ [ Exemplo 1.5 Para A = e B =, temos A = e B 1 = [ [ [ Temos também, AB =, (AB) = = B 1 A 1 e [ A 1 B = (AB) Determinante de uma matriz quadrada Em lugar de definir o determinante de uma matriz quadrada, vamos considerar o desenvolvimento de Laplace, a partir da i-ésima linha da matriz (o que também poderia ser feito a partir da j-ésima coluna): Para uma matriz quadrada de ordem 1 o determinante é dado por det([a) = a. Para uma matriz quadrada A = [a ij n n, de ordem n 2 det(a) = n ( 1) i+j a ij det(a ij ), j=1 onde A ij é a matriz quadrada de ordem n 1, obtida da matriz A retirando-se a i-ésima linha e j-ésima coluna. A definição de determinante pode ser encontrada nos livros constantes da bibliografia. Exemplo 1.6 Se I n é a matriz identidade de ordem n então det(i n ) = 1. [ a b Exemplo 1.7 Se A = então det(a) = ad bc. c d Exemplo 1.8 Se A = a 11 a 12 a 13 a 21 a 22 a 23 a 31 a 32 a 33 a 32 a 13 a 22 a 31 a 12 a 21 a 33 a 11 a 23 a 32. então det(a) = a 11 a 22 a 33 + a 12 a 23 a 31 + a 13 a 21
6 1 MATRIZES E DETERMINANTES 6 Exercício 1.1 Calcular o determinante das matrizes: A = B = e C = Propriedades de determinantes. 1. Se A tem uma linha (ou coluna) nula então det(a) = 0 2. Se multiplicarmos uma linha (ou coluna) de uma matriz por uma constante r, seu determinante fica multiplicado por r 3. Se A é uma matriz n n e r é um escalar então det(ra) = r n det(a) 4. Trocando a posição de duas linha (ou colunas), o determinante troca de sinal 5. Trocando a linha i por linha i + r(linha j), não se altera o determinante (o mesmo vale para colunas em lugar de linhas) 6. Se A tem duas linhas (ou colunas) iguais então det(a) = 0 7. det(ab) = det(a)det(b) 8. Se existe a inversa de A então det(a 1 ) = 1/(det(A)) 9. Existe a inversa de A se, e somente se, det(a) O determinante de uma matriz triangular é igual ao produto dos elementos da diagonal 11. Se em uma matriz quadrada A, linha i = r(linha j) + s(linha k), j i e k i, então det(a) = det(a) = det(a t ) Exercícios 1.2 Livro do Boldrini página 11 exercícios 1, 2, 6, 9, 10, 12, 13; página 90 exercícios 4, 8 e 13 [ a b Exercício 1.3 Mostre que se A = é uma matriz inversível então c d [ A 1 = 1 d b det(a) c a 1.3 Matriz escalonada Definição 1.2 Dizemos que uma matriz A é uma matriz escalonada (ou matriz em forma de escada) se as condições abaixo são satisfeitas: a) As linhas nulas (caso existam) localizam-se abaixo de todas as linhas não nulas. b) Caso i e j sejam linhas não nulas e i < j, então o primeiro elemento não nulo da linha i está em uma coluna anterior à do primeiro elemento não nulo da linha j. Figura 1: Matriz escalonada
7 1 MATRIZES E DETERMINANTES 7 Exemplo 1.9 São matrizes escalonadas: , 0 0 7, , [ , [7. Não são matrizes escalonadas: , , Equivalência de matrizes por linha Definição 1.3 Dizemos que uma matriz A é equivalente por linhas a uma matriz B, se a matriz B pode ser obtida da matriz A, a partir de uma seqüência finita de operações elementares, as quais estão listadas a seguir. 1. Troca da linha i com a linha j ( L i L j ). 2. Multiplicação da linha i por um escalar não nulo r (L i rl i ). 3. Substituição da linha i por r vezes a linha j somada à linha i, (L i L i + rl j ). No caso de A ser uma matriz quadrada, a operação (1) troca o sinal do determinante; a operação (2) multiplica o determinante por r e a operação (3) não altera o determinante. Exercício 1.4 Utilizando as operações elementares transforme as matrizes abaixo em matrizes equivalentes escalonadas A = B = C = Exercícios 1.5 Livro do Lipschutz: pag , 1.21, 1.22; pag e 1.55 Teorema 1.1 Uma matriz A é inversível se, e somente se, A é equivalente por linhas à matriz identidade. Além disso, a mesma sucessão de operações elementares que transformam a matriz A na matriz identidade, transformam a matriz identidade na inversa de A. Exemplo 1.10 A = L 1 L 3 L 3 L 3 2L L 2 L L 3 L 3 + L 2
8 1 MATRIZES E DETERMINANTES Assim, A = L2 L2 + L3 e L 1 L 1 + 2L 3 L 1 L 1 L L L2 L 3 L 3 Precisamos de tomar cuidado ao fazer mais de uma operação por linhas em uma passagem: L 2 L 2 L 3 e L 3 L 3 L Note que a matriz à esquerda tem determinante 2 e a matriz à direita tem determinante nulo, o que não deveria ser, pois esse tipo de operação não altera o determinante. Quando fazemos L 2 L 2 L 3, a linha L 2 passa a ser [ e, fazendo em seguida L 3 L 3 L 2, a linha L 3 deveria ser [ e não [ Exercício 1.6 Determine as inversas das matrizes dadas abaixo através de escalonamento, caso seja possível. [ [ A = B = C = Exercícios 1.7 Resolva o exercício 9 da página 90 do livro do Boldrini. Livro do Lipschutz: pag ; pag e 4.81
9 2 SISTEMAS LINEARES 9 2 Sistemas Lineares 2.1 Sistema de Equações Lineares Definição 2.1 i) Uma equação linear nas incógnitas (ou variáveis) x 1, x 2,, x n é uma equação dada por: a 1 x 1 + a 2 x 2 + +a n x n = b onde b e os coeficientes a i são escalares. ii) Uma solução da equação dada em (i) é uma n-úpla (c 1, c 2,..., c n ) de escalares que satisfaz a equação: a 1 c 1 + a 2 c 2 + +a n c n = b. iii) Um sistema de equações lineares é um conjunto (finito) de equações lineares. iv) Uma solução de um sistema de equações lineares com n incógnitas é uma n-úpla (c 1, c 2,..., c n ) de escalares que é solução de todas as equações do sistema. Um sistema com m equações e n incógnitas tem representação a 11 x 1 + a 12 x a 1n x n = b 1 a 21 x 1 + a 22 x a 2n x n = b 2. a m1 x 1 + a m2 x a mn x n = b m e também pode ser representado na forma matricial: a 11 a a 1n x 1 b 1 a 21 a a 2n x = b 2. a m1 a m1... a mn x n b m onde [a ij m n, [x i n 1 e [b j m 1 são chamadas, respectivamente, de matriz dos coeficientes, matriz das incógnitas e matriz dos termos independentes. Se b 1 = b 2 =... = b m = 0 dizemos que o sistema é homogêneo. Definimos também a matriz ampliada do sistema: a 11 a a 1n b 1 a 21 a a 2n b a m1 a m1... a mn b m Teorema 2.1 Sistemas que possuem matrizes ampliadas equivalentes por linhas são equivalentes, isto é, ambos possuem o mesmo conjunto de soluções. Exemplo 2.1 O sistema x + y + z = 2 x + 2y = 3 2x + 3y + 2z = 2 tem matriz ampliada que ao ser escalonada pode chegar na matriz
10 2 SISTEMAS LINEARES que é a matriz ampliada do sistema x + y + z = 2 y z = 5 z = 3 cuja solução é x = 1, y = 2 e z = 3, ou seja, (1, 2, 3) é solução do sistema dado. 2.2 Classificação de um Sistema Linear Definição 2.2 Classificação de sistemas lineares. - Um sistema é impossível quando não possui soluções. - Um sistema é possível e determinado quando possui uma única solução. - Um sistema é possível e indeterminado quando possui mais de uma solução. Observe que um sistema homogêneo é sempre possível, pois (0, 0,..., 0) é uma solução. Exemplo 2.2 { x + y = 0 Sistema impossível: x + y = 2 { x + y = 0 Sistema possível e determinado: y = 2 { Sistema possível e indeterminado: x + y = 2 Teorema 2.2 Duas matrizes escalonadas equivalentes por linhas têm sempre o mesmo número de linhas não nulas. Definição 2.3 O posto de uma matriz A é o número de linhas não nulas de qualquer matriz escalonada equivalente por linhas a A. Teorema 2.3 Um sistema é possível se, e somente se o posto da matriz dos coeficientes do sistema é igual ao posto da matriz ampliada. Neste caso, considerando os postos das matrizes iguais a p, e considerando n o número de incógnitas, temos: a) se n = p então o sistema tem uma única solução b) se p < n, para obter uma solução para o sistema, podemos escolher n p incógnitas e atribuir valores quaisquer para elas. Os valores para as outras p incógnitas serão dadas em função destas. Vemos no Teorema anterior que se um sistema tiver mais que uma solução, terá infinitas soluções. O valor n p no ítem (b), é chamado de grau de liberdade do sistema. Exemplo { 2.3 Dado o sistema x + 2y + z + t = 1 x + 3y z + 2t = 3 obtemos o sistema equivalente:
11 2 SISTEMAS LINEARES 11 { x + 2y + z + t = 1 y 2z + t = 2. Temos então n = 4 (incógnitas), p = 2 (posto das matrizes ampliadas e dos coeficientes) e o grau de liberdade do sistema sendo n p = 2. Podemos obter x e y em função de z e t: y = 2 + 2z t e x = 3 5z + t. Podemos também representar as soluções do sistema por (x, y, z, t) = ( 3 5z + t, 2 + 2z t, z, t) ou, trocando z e t pelos parâmetros a e b, (x, y, z, t) = ( 3 5a + b, 2 + 2a b, a, b), ou ainda (x, y, z, t) = ( 3, 2, 0, 0) a(5, 2, 1, 0) + b(1, 1, 0, 1). Atribuindo valores para a e b, obtemos soluções para o sistema. Por exemplo, para a = 2 e b = 1, obtemos x = 14 e y = 7. Assim, (x, y, z, t) = ( 14, 7, 2, 1) é uma solução do sistema. Exemplo 2.4 Dado o sistema x + y z = 3 2x y z = 1 x 2y = 5 obtemos o sistema equivalente: x + y z = 3 3y + z = 4 0 = 6 Assim, o posto da matriz ampliada é 3 e o posto da matriz dos coeficientes é 2 e chegamos no absurdo 0 = 6. Um sistema é homogêneo se tem todos os termos independentes iguais a zero. Assim, todo sistema homogêneo tem, pelo menos, a solução nula. Num sistema homogêneo com n incógnitas e m equações, o posto p da matriz dos coeficientes é igual ao posto da matriz ampliada e p m. Caso p < n, o sistema tem outras soluções, além da solução nula. Exercícios 2.1 Resolver os exercícios do livro do Boldrini: página 49, exercícios 1, 5, 6, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 19, 20 Resolver os exercícios do livro do Lipschutz: página 34 exercícios de 1.15 a 1.19; página 49, exercícios 1.48 a 1.51.
12 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 12 3 Espaços Vetoriais Reais 3.1 Definição e exemplos Definição 3.1 Um espaço vetorial real é um conjunto V não vazio onde estão definidas a adição de vetores (a adição de elementos de V ) e o produto de por escalar (o produto de números reais por elementos de V ) satisfazedo as condições abaixo, para u, v, w V e r, s números reais. 0) Fechamento: u + v V e ru V Propriedades da adição 1) Associativa: u + (v + w) = (u + v) + w 2) Comutativa: u + v = v + u 3) Vetor nulo: existe O V tal que v + O = O + v = v 4) Oposto de v: se v V então existe v V tal que v + v = v + ( v) = O. Notação para a subtração: u v = u + ( v) Propriedades do produto por escalar 5) r(u + v) = ru + rv 6) (r + s)v = rv + sv 7) r(sv) = (rs)v 8) 1v = v Define-se espaço vetorial complexo da mesma forma como acima, mas considerando-se o produto por escalar como o produto de vetor por número complexo, isto é, se os escalares r e s tomados na definição acima forem números complexos. Espaços vetoriais são definidos de forma mais geral, tomando os escalares como elementos de um corpo K (ver apêndice). O conjunto dos números reais e o conjunto dos números complexos são exemplos de corpos. Quando tomamos um espaço vetorial V, onde com os escalares são elementos de um corpo K, dizemos que V é um espaço vetorial sobre o corpo K. A menos que seja especificado, nos exemplos vamos considerar espaços vetoriais sendo espaços vetoriais reais, isto é, espaços vetoriais sobre o corpo dos números reais. Exemplos 3.1 O conjunto dos vetores no plano forma um espaço vetorial real, como também, o conjunto dos vetores no espaço forma outro espaço vetorial real. Existem outros conjuntos que também formam espaços vetoriais. Por exemplo, dados os inteiros positivos m e n, o conjunto M(m, n) das matrizes reais m n formam um espaço vetorial com as operações de soma de matrizes e produto de escalares por matrizes. O conjunto dos vetores no plano é identificado com R 2 = {(x, y) : x, y R} e o conjunto dos vetores no espaço com R 3 = {(x, y, z) : x, y, z R}. Estes conjuntos podem ser generalizados, tomando R n = {(x 1, x 2,..., x n ) : x 1, x 2,..., x n R}, o conjunto das n-úplas de números reais, onde n é um número inteiro maior que zero. A soma de elementos de R n e o produto de elementos de R n por escalar, isto é, por números reais, é definido como no caso de vetores no R 2 ou R 3 : (x 1, x 2,..., x n ) + (y 1, y 2,..., y n ) = (x 1 + y 1, x 2 + y 2,..., x n + y n ) e r(x 1, x 2,..., x n ) = (rx 1, rx 2,..., rx n ). Observe que R n com as operações que foram definidas, pode ser identificado com o espaço das matrizes reais 1 n.
13 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 13 Da mesma forma, considerando C o conjunto dos números complexos, os conjuntos C n = {(x 1, x 2,..., x n ) : x 1, x 2,..., x n C}, são espaços vetoriais complexos, onde as operações são definidas formalmente como em R n. Da mesma forma, se K é um corpo (veja apêndice), os conjuntos da forma K n = {(x 1, x 2,..., x n ) : x 1, x 2,..., x n K}, são espaços vetoriais. As provas que estas operações satisfazem as condições para espaços vetoriais são análogas às provas para os casos de vetores e matrizes. As operações definidas acima são chamadas operações usuais para os respectivos espaços. Teorema 3.1 Sejam V um espaço vatorial, v um vetor, r um escalar e O o vetor nulo. Então: 1. ro = O 2. 0v = O 3. v = ( 1)v 4. se rv = O então r = 0 ou v = O 5. se rv = v então r = 1 ou v = O 6. ( r)v = r( v) = (rv) ( ( 1)v = v) 7. o vetor nulo é único 8. para cada vetor v, o oposto de v é único Exercícios 3.1 Verifique se os seguintes conjuntos são espaços vetoriais. 1. W = R 2 com as operações: (a, b) + (c, d) = (a + d, b + c); r(a, b) = (ra, rb) 2. W = R 2 com as operações: (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d); r(a, b) = (ra, rb) 3. W = R 2 com as operações: (a, b) + (c, d) = (a + c, b + d); r(a, b) = (rb, ra) 4. W = R 2 com as operações: (a, b) + (c, d) = (a + c, b d); r(a, b) = (ra, rb) 3.2 Subespaço Definição 3.2 Seja V um espaço vetorial real. Um subconjunto W de V tal que W é um espaço vetorial com as mesmas operações definidas para V é chamado um subespaço de V. Observação. Se W é um subconjunto de um espaço vetorial V, para verificar se W é também um espaço vetorial com as operações de adição de vetores e produto por escalar de V, não precisamos verificar todas as condições, pois: Se u, v, w W e r, s são escalares, como u, v e w V, as condições 1, 2, 5, 6, 7 e 8 da definição de espaço vetorial estão automaticamente satisfeitas. Assim, para que W seja um espaço vetorial, resta verificar: 0) Fechamento: u, v W, r R, u + v W e ru W 3) Vetor nulo. Existe O W tal que v W, v + O = O + v = v Note que a condição de fechamento garante a existência do oposto: se v W, como 1 R então v = 1v W. Do mesmo modo, a condição de fechamento garante que O W, caso já se tenha garantido que W não é vazio. Caso não se tenha garantido que W é um conjunto não vazio, o mais usual é mostrar que O W. Assim, a condição (4) também não precisa ser verificada. Em vista do que observamos anteriormente, podemos enunciar o próximo resultado.
14 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 14 Teorema 3.2 Seja V um espaço vetorial e seja W um subconjunto de V. subespaço de V se, e somente se, as seguintes condições forem satisfeitas: a) O W (ou W ) b) Se u, v W então u + v W c) Se u W e r é um escalar então ru W Então W é um Corolário 3.3 Seja V um espaço vetorial e seja W um subconjunto não vazio de V. Então W é um subespaço de V se, e somente se, para quaisquer u, v W e r, s escalares, tem-se ru + sv W. Exemplo 3.2 Qualquer espaço vetorial V contém pelo menos dois subespaços: o próprio V e o conjunto {O}, que contém somente o vetor nulo de V. Exemplos W = {(x, 1, z) : x, z R} não é um subespaço de R 3 2. W = {(x, 0, z) : x, z R} é subespaço de R 3 3. W = {(x, y, x + y, x y) : x, y R} é subespaço de R 4 4. W = {(x, {[ y, z) R 3 : x + y = 0} e z = 2x} é subespaço de R 3 a b 5. W = : a, b R é subespaço de M(2, 2) 0 2a b 6. W = {(x, y) R 2 : 2x 3y = 0} é subespaço de R 2 7. W = {(x, {[ x 2 ) : x R} não } é um subespaço de R 2 a b 8. W = : a, b R não é um subespaço de M(2, 2) 0 ab 9. W = {A M(2, 2) : deta = 0} não é um subespaço de M(2, 2) 10. W = {(x, y) : x, y R e xy = 0} não é um subespaço de R 2 Como um subespaço de um espaço vetorial é também um espaço vetorial então, nos exemplos acima, temos exemplos de espaços vetoriais e exemplos de conjuntos que não são espaços vetoriais. Exercícios 3.2 Verifique se W é subespaço de V nos casos abaixo 1. Para V {[ = M(2, 2) } a c a. W = M(2, 2) : a + d = 0 b d {[ } a a b. W = M(2, 2) : a, b R b a b + 1 c. W = {A V : deta 0} d. W = {A V : A = A t }, onde A t é a transposta da matriz A 2. Para V = R 3, a. W = {(x, y, z) R 3 : z = x + y} b. W = {(x, y, z) R 3 : z = xy} c. W = {(x, 3x, x) : x R} d. W = {(x, y, z) R 3 : x + 2y = 3z} e. W = {(x, y, z) R 3 : x + y z} 3. V = M(3, 3) e W = {A V : deta 0} 4. V = R 3 e W = R 2
15 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS Dependência Linear Definição 3.3 Seja V um espaço vetorial e sejam v 1, v 2,, v n. Uma combinação linear dos vetores v 1, v 2,, v n é uma expressão da forma a 1 v 1 + a 2 v a n v n onde a 1, a 2,..., a n são escalares. Assim, se v = a 1 v 1 + a 2 v a n v n dizemos que v é uma combinação linear dos vetores v 1, v 2,, v n V. Exemplo 3.4 No espaço R 2, para v 1 = (1, 2), v 2 = ( 3, 7) e v 3 = (5, 0), temos que v = (22, 45) é uma combinação linear de v 1, v 2 e v 3, pois 2v 1 + 7v 2 + 9v 3 = v. Definição 3.4 Seja V um espaço vetorial. Dizemos que um conjunto de vetores v 1, v 2,, v n é linearmente independente (L.I.) se a igualdade a 1 v 1 + a 2 v a n v n = O onde a 1, a 2,..., a n são escalares, implicar em a 1 = a 2 =... = a n = 0. Isto é, a única combinação linear desses vetores resultando no vetor nulo é aquela em que os escalares que aparecem na expressão são todos nulos. Caso contrário, isto é, se for possível conseguir a igualdade a 1 v 1 +a 2 v a n v n = O com algum a i 0, dizemos que os vetores v 1, v 2,..., v n são linearmente dependentes (L.D.). Exemplo 3.5 Os vetores u = (1, 2) e v = (3, 4) de R 2 são { L.I., pois se au + bv = (0, 0), temos: a + 3b = 0 a(1, 2) + b(3, 4) = (0, 0) (a + 3b, 2a + 4b) = (0, 0) 2a + 4b = 0 Resolvendo o sistema acima concluímos que a única solução possível é a = b = 0. Exemplo 3.6 Os vetores u = (1, 2, 3), v = (1, 0, 0) e w = (2, 2, 3) são L.D. pois se au + bv + cw = (0, 0, 0), temos: a(1, 2, 3) + b(1, 0, 0) + c(2, 2, 3) = (0, 0, 0) (a + b + 2c, 2a + 0b + 2c, 3a + a + b + 2c = 0 0b + 3c) = (0, 0, 0) 2a + 2c = 0. 3a + 3c = 0 Resolvendo o sistema concluímos que existem soluções não nulas. Uma delas é a = 2, b = 2 e c = 2, ou seja, 2(1, 2, 3) + 2(1, 0, 0) 2(2, 2, 3) = (0, 0, 0). Teorema 3.4 Os vetores v 1, v 2,, v n são linearmente dependentes se, e somente se, um deles for combinação dos demais. Corolário 3.5 Dois vetores u e v não nulos são L.D. se, e somente se, um dos vetores for igual ao outro multiplicado por algum escalar. Exemplos 3.7 Os vetores u = (1, 2) e v = (2, 1) são L.I. Os vetores u = (1, 2, 3) e v = (3, 6, 9) são L.D. Observe que qualquer subconjunto de um conjunto L.I. é também L.I. e que qualquer conjunto que contém um subconjunto L.D. é também L.D. Exemplo 3.8 Em R 2, os vetores (1, 2) e (2, 4) são L.D., pois 2(1, 2) (2, 4) = (0, 0). Logo, 2(1, 2) (2, 4) + 0(5, 7) + 0(13, 99) = (0, 0). Assim, os vetores (1, 2), (2, 4), (5, 7), (13, 99) são L.D.
16 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 16 Exemplo 3.9 Se V é um espaço vetorial então qualquer conjunto de vetores que contenha o vetor nulo é L.D., pois se v 1, v 2,, v n são vetores quaisquer então 0v 1 +0v v n +1 O = O. Exercícios Verifique, em cada caso, se os vetores são L.I.. a) V = R 2, u = (1, 2), v = (3, 2) b) V = R 2, u = (1, 2), v = (3, 2), w = (5, 8) c) V = R 3, u = (1, 0, 0), v = (1, 1, 0), w = (1, 1, 1) d) V = R 3, u = (1, 2, [ 1), v = (3, 6, 3) [ e) V = M(2, 2), u =, v =, w = [ f) V = R 2, u = (3, 3) 2. Sejam u, v e w vetores L.I.. a) Mostre que os vetores u 1 = u, u 2 = u + v e u 3 = u + v + w são L.I. b) Mostre que os vetores u 1 = u + w, u 2 = u + v e u 3 = 2u + v + w são L.D. 3.4 Geradores de um espaço vetorial Definição 3.5 Um conjunto de geradores para um espaço vetorial V é um conjunto B de vetores de V tal que qualquer vetor v de V pode ser expresso como uma combinação linear (finita) dos vetores de B, isto é, v = a 1 v 1 + a 2 v a n v v onde cada a i é um escalar e cada v i B. Neste caso, dizemos que B gera V, ou que os vetores de B geram V. Se V é gerado por v 1, v 2,, v n então qualquer vetor v de V pode ser expresso como uma combinação linear dos vetores v 1, v 2,, v n, isto é, existem escalares a 1, a 2,..., a n tais que v = a 1 v 1 + a 2 v a n v n. Assim, V = {a 1 v 1 + a 2 v a n v n : i, a i R} Notação: V = [v 1, v 2,..., v n. Exemplos 3.10 R 2 = [(1, 0), (0, 1) pois para qualquer vetor v = (x, y) de R 2, v = (x, y) = x(1, 0) + y(0, 1). Do mesmo modo, R 3 = [(1, 0, 0), (0, 1, 0)(0, 0, 1) pois para qualquer vetor v = (x, y, z) de R 3, v = x(1, 0, 0) + y(0, 1, 0) + z(0, 0, 1). Generalizando, R n = [(1, 0, 0,..., 0), (0, 1, 0,..., 0),..., (0, 0, 0,..., 1) Exemplo 3.11 Os vetores u = (1, 0) e v = (1, 1) também geram R 2 pois tomando um vetor qualquer w = (x, y) de R 2, precisamos verificar que existem a, b R (em função de x e y) tais { que w = au + bv, ou seja, w = (x, y) = au + bv = a(1, 0) + b(1, 1) = (a + b, b). Assim, a + b = x b = y Resolvendo o sistema, chegamos em a = x y e b = y. Logo, w = (x, y) = (x y)(1, 0)+y(1, 1) e portanto, R 2 = [(1, 0), (1, 1). Por exemplo, se w = ( 2, 2) então w = ( 2, 2) = 4(1, 0) + 2(1, 1). Na Figura 2, observamos a representação de w no plano R 2, como combinação linear de u e v. Exemplo 3.12 Os vetores u = [ e v = [ não geram M(2, 2) pois qualquer
17 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 17 Figura 2: Soma de vetores [ [ [ [ a + b combinação linear a + b =. Mas u e v geram um b a 1 1 {[ } a + b 0 subespaço de M(2, 2), a saber, o subespaço W = : a, b R b a Mesmo que os vetores v 1, v 2,, v n não gerem o espaço V, o conjunto de todas as combinações lineares de v 1, v 2,, v n formam um subespaço [v 1, v 2,..., v n = {a 1 v 1 + a 2 v a n v n : i, a i R} de V (verifique) chamado o{[ subespaço gerado pelos} vetores v 1, v 2,, v n. No a + b 0 exemplo anterior, temos que W = [u, v = : a, b R é o subespaço de M(2, 2) b a gerado por u e v. Exemplo 3.13 Os vetores (1, 3, 0) e (2, 0, 1) geram o subespaço W = {a(1, 3, 0)+b(2, 0, 1) : a, b R} = {(a + 2b, 3a, b) : a, b R} do R 3. Será que os pontos de W tem alguma configuração especial no R 3? Vamos analisar: a + 2b = x (x, y, z) W (x, y, z) = (a + 2b, 3a, b) para a, b R 3a = y b = z Das duas últimas equações obtemos b = z e a = y/3. Substituindo a e b na 1 a equação obtemos y/3 + 2( z) = x, ou seja, 3x y + 6z = 0 que é a equação de um plano no R 3. Assim, W representa um plano no R 3 que passa pela origem do espaço, pois (0, 0, 0) satisfaz sua equação, ou seja, W = {(x, y, x) : 3x y + 6z = 0}. A partir da equação 3x y + 6z = 0, isolando uma das variáveis, por exemplo y = 3x + 6z, podemos explicitar W também por: W = {(x, 3x + 6z, z) : x, z R} Observaremos mais adiante que qualquer par de vetores L.I. em R 3 gera um plano que passa pela origem do espaço. Exemplo 3.14 Seja um vetor (a, b, c) do espaço R 3. Temos [(a, b, c) = {t(a, b, c) : t R} = {(at, bt, ct) : t R}. Assim, (x, y, z) [(a, b, c) se, e somente se, x = at ( ) y = bt para algum t R z = ct Assim, caso (a, b, c) (0, 0, 0), o subespaço [(a, b, c) do R 3 é a reta cujas equações paramétricas são dadas em ( ), ou seja, é a reta que passa pela origem do espaço e tem a direção do vetor v = (a, b, c).
18 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 18 Exercícios 3.4 Verifique, em cada caso, se os vetores dados geram o espaço. Caso não gerem, explicite o subespaço gerado por eles. a) V = R 3, u = (1, 0, 0), v = (1, 1, 0), w = (1, 1, 1) b) V = R 3, u = (1, 1, 1), v = (1, 0, 1) c) V = R 2, u = (1, 2), v = (2, 1) d) V = R 2, u = (1, 2), v = (2, 4) e) Resolva os exercícios 6, 7, e 8 da página 129 do livro do Boldrini 3.5 Base e dimensão para um espaço vetorial Definição 3.6 Uma base para um espaço vetorial V é um conjunto de vetores linearmente independentes que gera V. Exemplo 3.15 O conjunto {(1, 0), (01)} é uma base para R 2 pois: a) como já vimos, este conjunto gera R 2 ; b) o conjunto é linearmente independente pois se a(1, 0) + b(0, 1) = (0, 0), então (a, b) = (0, 0), logo, a = 0 e b = 0. Exemplo 3.16 Do mesmo modo verificamos que o conjunto {(1, 0,..., 0), (0, 1,..., 0),..., (0, 0,..., 1)} é uma base para R n, chamada base canônica para R n. Assim, {(1, 0), (0, 1)} é a base canônica de R 2. Existem várias bases para um mesmo espaço. Por exemplo, já verificamos que o conjunto {(1, 2), (3, 4)} é linearmente independente. Como exercício verifique que este conjunto gera R 2 e conclua que forma uma base para R 2. Exemplo 3.17 O conjunto {(1, 0, 3), (0, 0, 2)} é linearmente independente mas não é uma base de R 3 pois não gera R 3 : o vetor (0, 2, 0) não se escreve como combinação linear de (1, 0, 3) e (0, 0, 2) (verifique). Exemplo 3.18 O conjunto {(1, 0), (0, 1), (3, 7)} gera o R 2, pois para qualquer vetor v = (a, b), v = a(1, 0) + b(0, 1) + 0(3, 7). Mas esse conjunto não é linearmente independente, pois 3(1, 0) + 7(0, 1) 1(3, 7) = (0, 0). Exercícios 3.5 Verifique se B é base de V nos casos abaixo a) V = R 2 e B = {(1, 1), (2, 3)} b) V = R 2 e B = {(1, 1), (2, 3), (5, 0)} c) V = R 3 e B = {(1, 2, 3)} d) V = R 3 e B = {(1, 0, 1), (0, 1, 0), (1, 1, 1)} e) V = R 2 e B = {(1, 0), (0, 1), (0, 0)} Definição 3.7 Dizemos que espaço vetorial V é finitamente gerado quando V é não nulo e existe um conjunto finito de vetores que gera V. Teorema 3.6 Seja V um espaço vetorial finitamente gerado. Então a) qualquer conjunto finito de geradores de V contém uma base de V ; b) se V tem um conjunto de geradores com n vetores então qualquer conjunto com mais de n vetores é L.D.;
19 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 19 c) qualquer base de V tem sempre a mesma quantidade de vetores; d) qualquer conjunto L.I. pode ser completado para formar uma base de V. Definição 3.8 Definimos a dimensão de um espaço vetorial não nulo V sendo o número de vetores de qualquer base de V. Assim, dimr 2 = 2; dimr 3 = 3; dimr n = n. Exemplo 3.19 É fácil verificar que o conjunto [ [ [ [ [ [ B = ,,,,, forma uma base (chamada base canônica) para o espaço M(2, 3) das matrizes 2 3. Logo, dimm(2, 3) = 6. Isso pode ser generalizado: a dimensão do espaço M(m, n) das matrizes com m linha e n colunas é o produto de m por n. Neste caso, a base canônica é formada por todas as matrizes que têm um de seus elementos igual a 1 e os demais elementos iguais a 0, como no caso de M(2, 3). O conjunto {0} formado somente pelo vetor nulo de um espaço vetorial também é um espaço vetorial (chamado espaço nulo), pois satisfaz as condições da definição. Mas esse conjunto não contém vetores linearmente independentes, logo, não possui uma base. Neste caso, convenciona-se que dim{0} = 0. Por exemplo, dim{(0, 0, 0)} = 0. Teorema 3.7 Se V é um espaço vetorial de dimensão n, então a) qualquer conjunto com n vetores L.I. de V forma uma base de V ; b) qualquer conjunto com n vetores que geram V, forma uma base de V ; c) qualquer conjunto com mais de n vetores é L.D.; d) qualquer conjunto com menos de n vetores não gera V. Exemplo 3.20 O conjunto {(2, 7), (5, 9)} é uma base de R 2 pois é um conjunto L.I. (verifique) com dois vetores e dimr 2 = 2. Exemplo 3.21 O conjunto B = {(1, 2)} não é uma base de R 2 pois dimr 2 = 2. Mas podemos completar B de modo a formar uma base de R 2. Como dimr 2 = 2 precisamos completar com um vetor de R 2 que seja L.I. com (1, 2). Por exemlo, o vetor (0, 1) (verifique que os dois vetores são L.I.). Assim, B = {(1, 2), (1, 0)} é uma base de R 2. Exemplo 3.22 Os vetores u = (1, 2), v = (3, 4) e w = (5, 6) são L.D., pois dimr 2 = 2. Vamos verificar se estes vetores geram R 2 : { a + 3b + 5c = x (x, y) = a(1, 2)+b(3, 4)+c(5, 6) (x, y) = (a+3b+5c, 2a+4b+6c) 2a + 4b + 6c = y { a +3b +5c = x. Assim, temos um sistema escalonado com duas equações e três 2b 4c = y 2x incógintas (a, b e c). Fazendo c = 1 obtemos a = 1 2x + 3y e b = 2 + x 1 y. Assim, 2 2 R 2 = [(1, 2), (3, 4), (5, 6). Assim, (5, 6) = (1, 2) + 2(3, 4). Logo, R 2 = [(1, 2), (3, 4). Como (1, 2) e (3, 4) são L.I., então {(1, 2), (3, 4)} é uma base de R 2.
20 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 20 Exemplo 3.23 Os vetores u = (1, 2, 3) e v = (2, 3, 7) não geram o espaço R 3, pois dimr 3 = 3. Mas, é possível encontrar um vetor w tal que {(1, 2, 3), (2, 3, 7), w} seja uma base de R 3, pois (1, 2, 3) e (2, 3, 7) são L.I. (verifique). Exemplo 3.24 Seja o espaço vetorial V = {(x, y, x y, x + y) : x, y R} (prova-se que V é um espaço, provando que V é um subespaço de R 4 ). Podemos escrever V = {x(1, 0, 1, 1) + y(0, 1, 1, 1) : x, y R}. Logo, V = [(1, 0, 1, 1), (0, 1, 1, 1), isto é, V é gerado por dois vetores L.I. (verifique). Assim, B = {(1, 0, 1, 1), (0, 1, 1, 1)} é uma base de V. Portanto, dimv = 2. Exemplo 3.25 Seja o espaço vetorial V = {(x + y + 2z, x + z, x + y + 2z) : x, y R}. Procedendo como no exemplo acima, chegamos em V = [(1, 1, 1), (1, 0, 1), (2, 1, 2), ou seja, {(1, 1, 1), (1, 0, 1), (2, 1, 2)} é um conjunto de geradores de V mas que não é uma base (verifique que os vetores são L.D.). Como (1, 1, 1) = (2, 1, 2) ((1, 0, 1) então V = [(1, 1, 1), (1, 0, 1), (2, 1, 2) = [(1, 0, 1), (2, 1, 2) (1). Como (1, 0, 1) e (2, 1, 2) são L.I. (verifique) (2), então por (1) e (2), {(1, 0, 1), (2, 1, 2)} é uma base de V. Assim, dimv = 2. Exercícios 3.6 1) Verifique se qualquer vetor de R 2 se escreve como combinação linear dos vetores {(1, 0), (1, 1), (0, 1)}. Este conjunto forma uma base de R 2? Justifique sua resposta. 2) Verifique que o conjunto {(1, 1, 1), (1, 1, 0)} é L.I.. Eles formam uma base de R 3? Justifique sua resposta. Eles formam uma base para R 2? Justifique sua resposta. 3) Escreva (4, 6) como combinação linear dos vetores (1, 0) e (2, 3). 4) Encontre uma base e a dimensão para o espaço V = {(x + 2y, 2x + 4y) : x, y R} 5) Encontre uma base e a dimensão para o espaço V = {(x+y, 2x+y +z, x+y 2z) : x, y R} 6) Mostre que se W = [v 1, v 2,, v m entãdo dimw m. Teorema 3.8 Seja W um subespaço de V. Então a) dimw dimv ; b) se dimw = dimv então W = V. Exemplo 3.26 Seja W = [(1, 1, 5), (0, 2, 1), (0, 0, 7). Como os três vetores geram W e são L.I. (verifique) então formam uma base para W. Logo, dimw = 3. Como W é um subespaço de R 3, então W = R 3. Exemplo 3.27 Seja W = [(1, 2, 3) Então dimw = 1. Logo, W R 3. Exemplo 3.28 Seja W = [(1, 2), (2, 0). Temos dimw = 2 (verifique). Logo, W = R 2. Nos espaços R 2 e R 3, cada ponto P está associado ao vetor OP, onde O é a origem do sistema cartesiano. Assim, um subespaço gerado por um vetor resulta em uma reta passando pela origem do sistema cartesiano. No caso de um subespaço de R 3 gerado por dois vetores L.I., este subespaço será um plano passando pela origem do sistema cartesiano.
21 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 21 Subespaços de R 2. Se W é um subespaço de R 2, então dimw dimr 2 = 2. Se dimw = 2 então W = R 2. Se dimw = 0 então W = {(0, 0)}. Se dimw = 1 então W é uma reta passando pela origem do sistema. Subespaços de R 3. Se W é um subespaço de R 3, então dimw dimr 3 = 3. Se dimw = 3 então W = R 3. Se dimw = 0 então W = {(0, 0, 0)}. Se dimw = 1 então W é uma reta passando pela origem do sistema cartesiano. Se dimw = 2 então W é um plano passando pela origem do sistema cartesiano. 3.6 Espaço das linhas de uma matriz a 11 a 12 a 1n a Dada uma matriz A = 21 a 22 a 2n..., a m1 a m2 a mn suas linhas L 1 = (a 11, a 12,..., a 1n ), L 2 = (a 21, a 22,..., a 2n ),, L m = (a m1, a m2,..., a mn ) podem ser tomadas como vetores que geram um subespaço de R n. Teorema 3.9 As linhas de matrizes linha-equivalentes geram o mesmo espaço vetorial. Teorema 3.10 As linhas não nulas de uma matriz escalonada m n são L.I. (quando consideradas como vetores de R n ). Exemplo 3.29 Os vetores u = (1, 2, 0, 3, 5), v = (0, 0, 0, 0, 7) e w = (0, 0, 3, 1, 2) são L.I. pois podemos formar com eles uma matriz escalonada. Exemplo 3.30 Se desejarmos encontrar uma base e a dimensão para o espaço V gerado pelos vetores u = (1, 0, 2, 1), v = (2, 1, 0, 1) e w = (1, 1, 2, 2), colocamos estes vetores como linhas de uma matriz e a escalonamos L 2 L 2 2L 1 L 3 L 3 L L 3 L 3 2L Assim, pelo Teorema 3.9, V = [(1, 0, 2, 1), (2, 1, 0, 1), (1, 2, 2, 2) = [(1, 0, 2, 1), (0, 1, 4, 3) e pelo Teorema 3.10, os vetores (1, 0, 2, 1) e (0, 1, 4, 3) são L.I.. Logo B = {(1, 0, 2, 1), (0, 1, 4, 3)} é uma base para V, portanto, dimv = 2. Exemplo 3.31 Se quisermos completar o conjunto L.I. {(1, 1, 2), (1, 1, 5)}, para formarmos uma base para R 3, colocamos estes vetores como linhas de uma matriz e a escalonamos e depois
22 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 22 completamos a matriz (escalonada) com os vetores que faltam para completar uma base: [ [ L 2 L 2 L Assim, aumentamos com a linha para obter uma matriz 3 3 escalonada. Logo, {(1, 1, 2), (1, 1, 5), (0, 3, 5)} é uma base para R 3. Exercício Encontre a dimensão de W nos casos abaixo: a) W = [(1, 2, 3, 4, 5), (7, 8, 9, 10, 11), (1, 1, 1, 1, 1), (5, 4, 3, 2, 1) b) W = [(1, 0, 1, 0, 1), (0, 1, 0, 1, 0), (1, 1, 0, 1, 1), (2, 5, 1, 5, 2) 2. Em cada ítem do exercício anterior, a partir da base de W, encontre vetores que, junto com os vetores da base de W, formam uma base para R Interseção, soma e soma direta Teorema 3.11 Sejam U e W subespaços de um espaço vetorial V. Então a) U W = {v : v U e v W } é um subespaço de V ; b) U + W = {u + w : u U e w W } é um subespaço de V. Exemplo 3.32 Sejam U = {(x, y, 0) : x, y R} e W = {(0, y, z) : y, z R}. Então a) U W = {(0, y, 0) : y R} b) U +W = R 3 pois U +W R 3 e se (x, y, z) R 3, então (x, y, z) = (x, 0, 0)+(0, y, z) U +W. Logo, R 3 U + W e portanto, R 3 = U + W. No exemplo anterior, temos que U W = {(x, y, z) R 3 : x = 0 ou y = 0} não é um subespaço de R 3 pois (1, 0, 0), (0, 0, 1) U W mas (1, 0, 0) + (0, 0, 1) = (1, 0, 1) / U W. Vemos então que nem sempre a união de subespaços é um subespaço. Definição 3.9 Um espaço vetorial V é soma direta dos subespaços U e W se V = U + W e U W = {O}. Notação: V = U W Teorema 3.12 Se V = U W então qualquer vetor v de V se escreve de maneira única como v = u + w para u U e w W. No exemplo anterior, R 3 = U + W mas R 3 não é soma direta de U e W pois U W = {(0, y, 0) : y R} = (0, 0, 0), por exemplo, (0, 5, 0) U W. Note que (2, 4, 5) = (2, 4, 0) + (0, 0, 5) = (2, 0, 0) + (0, 4, 5) = (2, 2, 0) + (0, 2, 5) e os vetores (2, 4, 0), (2, 0, 0), (2, 2, 0) U e (0, 0, 5), (0, 4, 5), (0, 2, 5) W. Exemplo 3.33 Para U = {(x, 0) : x R} e W = {(0, y) : y R}, temos U W = {(0, 0)} e R 2 = U + W pois se (x, y) R 2, (x, y) = (x, 0) + (0, y) U + W. Assim, R 2 = U W. Observe que a única maneira de se escrever um vetor (x, y) como soma de um vetor de U com um vetor de W é fazendo (x, y) = (x, 0) + (0, y). Por exemplo, (1, 2) = (1, 0) + (0, 2). Teorema 3.13 Se U e W são subespaços de um espaço vetorial V, então dim(u + W ) = dimu + dimw dim(u W ).
23 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 23 Exemplo 3.34 Já vimos que se U = {(x, y, 0) : x R} e W = {(0, y, z) : y, z R}. Então U W = {(0, y, 0) : y R} e U + W = R 3. U = {(x, y, 0) : x R} = {x(1, 0, 0) + y(0, 1, 0) : x, y R} = [(1, 0, 0), (0, 1, 0). Logo, uma base de U é {(1, 0, 0), (0, 1, 0)} pois os vetores (1, 0, 0) e (0, 1, 0) são L.I. Logo, dimu = 2 W = {(0, y, z) : y, z R} = {y(0, 1, 0) + z(0, 0, 1) : y, z R} = [(0, 1, 0), (0, 0, 1). Logo, uma base de W é {(0, 1, 0), (0, 0, 1)} pois os vetores (0, 1, 0) e (0, 0, 1) são L.I. Logo, dimw = 2 U W = {(0, y, 0) : y R} = {y(0, 1, 0) : y R} = [(0, 1, 0). Logo, uma base de W é {(0, 1, 0)} pois o vetor (0, 1, 0) é L.I. Portanto, dim(u W ) = 1. Temos U + W = R 3. Logo, dim(u + W ) = 3. Observamos neste exemplo, a validade do teorema anterior, isto é, 3 = dim(u + W ) = dimu + dimw dim(u W ) = Exemplo 3.35 Seja U = [(1, 2, 0, 1), (1, 2, 1, 2), (2, 4, 1, 3) subespaço do R 4. Vamos encontrar um subespaço W do R 4 tal que R 4 = U W. Colocando os geradores de U em uma matriz e escalonando-a obtemos uma base de U (as linhas não nulas da matriz escalonada): B = {(1, 2, 0, 1), (0, 0, 1, 1)}. Para completar os geradores de U de modo a formar uma base de R 4, basta tomar dois vetores do R 4 que, juntos com a base de U, possam ser colocados como uma matriz escalonada. Por exemplo, podemos tomar os vetores (0, 1, 0, 0) e (0, 0, 0, 1). Assim, para W = [(0, 1, 0, 0), (0, 0, 0, 1), como R 4 = [(1, 2, 0, 1), (0, 1, 0, 0), (0, 0, 1, 1), (0, 0, 0, 1), temos R 4 = U + V. Como dimu = dimv = 2 então pelo Teorema 3.13, dim(u W ) = 0, ou seja, U W = {(0, 0, 0, 0)}. Assim, R 4 = U W. Exercícios Sejam U = [(1, 2, 3, 2, 5), (1, 3, 4. 1, 3), (1, 1, 2, 3, 7) e W = [(1, 4, 5, 0, 1), (2, 8, 12, 0, 2), (1, 4, 3, 0, 1) e seja V = U + W. a) Encontre dimv e dim(u W ) b) V = U W? Porque? c) Encontre subespaços U e W de R 5 tais que R 5 = U U e R 5 = W W 2. Sejam U = [(1, 0, 0, 0)(0, 1, 1, 1), (2, 1, 1, 1) e W = [(1, 0, 0, 2), (1, 0, 1, 0), (2, 0, 1, 2) a) Encontre dim(u + W ) e dim(u W ) b) R 5 = U + W? c) R 5 = U W? 3. Sejam U = [(1, 2, 1), (2, 0, 2) e W = [(1, 1, 1), (2, 1, 2) a) Encontre dim(u + W ) e dim(u W ) b) R 3 = U + W? c) R 3 = U W? d) Encontre subespaços U e W de R 3 tais que R 3 = U U e R 3 = W W (Exercícios do livro do Boldrini página 130: 18, 19, 20 e 22)
24 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS Aplicação às Equações Lineares Consideremos um sistema de equações lineares com m equações e n incógnitas a 11 x 1 + a 12 x a 1n x n = b 1 a 21 x 1 + a 22 x a 2n x n = b =. a m1 x 1 + a m2 x a mn x n = b m Considerando a matriz dos coeficientes A, a matriz das incógnitas X e a matriz dos termos independentes B, a 11 a 12 a 1n x 1 b 1 a A = 21 a 22 a 2n..., X = x 2., B = b 2. a m1 a m2 a mn x n b m o sistema pode ser escrito na forma AX = B. Se as matrizes X 1 e X 2 são soluções desse sistema então A(X 1 + X 2 ) = AX 1 + AX 2 = B + B = 2B. Assim, AX 1 + AX 2 = B se, e somente se, B = 2B, ou seja, B é uma matriz nula. Logo, X 1 + X 2 é também solução se, e somente se, b 1 = b 2 =... = b m = 0. Neste caso, dizemos que o sistema é homogêneo. Note que se o sistema for homogêneo, se X for uma solução do sistema e se r for um escalar, então A(rX) = r(ax) = ro = O, onde O é a matriz nula m 1. É claro que AO n 1 = O m 1. Assim, se o sistema for homogêneo então o conjunto das soluções deste sistema forma um subespaço de R n. Portanto, o conjunto das soluções de um sistema linear homogêneo é um espaço vetorial. Variáveis livres Em um sistema na forma escalonada, dizemos que uma variável é livre se ela não inicia nenhuma das equações do sistema. No exemplo a seguir, as variáveis x e z iniciam, respectivamente, a primeira e a segunda equações do sistema escalonado. Logo x e z não são variáveis livres, enquanto que as demais variáveis, y, s e t, são as variáveis livres do sistema. Note que podemos atribuir quaisquer valores às variáveis livres e obter os valores das demais para encontrar soluções para o sistema. Exemplo 3.36 Dado o sistema abaixo x + y + z + s + t = 0 2x + 2y z + 2s t = 0 x + y + 4z + s + 4t = 0 para encontrar uma base e a dimensão do espaço das soluções, colocamos o sistema na forma escalonada: { x + y + z + s + t = 0 3z + 3t = 0 de onde tiramos as variáveis livres y, s e t. Para obter uma base para o espaço das soluções do sistema, colocamos valores para y, s e t na forma na forma escalonada, garantindo vetores (x, y, z, s, t) L.I. : y = 1, s = 0 e t = 0: ( 1, 1, 0, 0, 0) y = 0, s = 1 e t = 0: ( 1, 0, 0, 1, 0) y = 0, s = 0 e t = 1: (0, 0, 1, 0, 1) Assim, B = {( 1, 1, 0, 0, 0), ( 1, 0, 0, 1, 0), (0, 0, 1, 0, 1)} é uma base para o espaço das
25 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 25 soluções do sistema, tendo portanto este espaço dimensão 3. Exercício 3.9 Encontre uma base e a dimensão para o espaço das soluções para cada sistema abaixo. x + 2y + 3z + 4s + 5t = 0 7x + 8y + 9z + 10s + 11t = 0 a) x + y + z + s + t = 0 5x + 4y + 3z + 2s + t = 0 x + z + t = 0 y + s = 0 b) x + y + s + t = 0 x + 5y z + 5s + 2t = 0 Exemplo 3.37 Sejam V = R 4, U = {(x, y, z, t) R 4 : x+y +z +t = 0} e W = {(x, y, z, t) R 4 : x y z + 2t = 0}. Então U W = {(x, y, z, t) R 4 : x + y + z + t = 0 e x y z + 2t = 0}. Portanto U é o espaço das soluções da equação x + y + z + t = 0, W é o espaço { das soluções da equação x y z + 2t = 0 e U W é o espaço das soluções do sistema x + y + z + t = 0. Como exercício, encontre uma base e a dimensão para estes x y z + 2t = 0 espaços e verifique se U + W = R 4. Exercícios Encontre uma base e a dimensão para os seguintes subespaços de R 4. a) U = {(x, y, z, t) R 4 : x + y + z = 0 e x y z + t = 0} b) W = {(x, y, z, t) R 4 : x + 2y z + 3t = 0 e 2x + 4y + z 2t = 0} c) U W d) U + W 2. Sejam U = {(x, y, z) : x + y + z = 0} e W = {(x, y, z) : x y + 2z = 0} a) Encontre dim(u + W ) e dim(u W ) b) R 3 = U + W? c) R 3 = U W? 3. Sejam U = {(x, y, z, s, t) : x + y + z + s + t = 0, y z + s t = 0 e s 2t = 0} e W = {(x, y, z, s, t) : x + y + z + s + t = 0 e z + s + t = 0} a) Encontre dim(u + W ) e dim(u W ) b) R 5 = U + W? c) R 5 = U W? 4. Exercício 25 da página 132 do livro do Boldrini. 3.9 Coordenadas de um vetor em relação a uma base Seja V um espaço vetorial e seja B = {v 1, v 2,..., v n } uma base de V. Para qualquer vetor v V, v se escreve como uma combinação linear dos vetores da base: v = a 1 v 1 + a 2 v a n v n. Além disso, só existe uma maneira de expressar v como uma combinação dos vetores da base B pois se v = b 1 v 1 + b 2 v b n v n, então a 1 v 1 + a 2 v a n v n = b 1 v 1 + b 2 v b n v n, logo,
26 3 ESPAÇOS VETORIAIS REAIS 26 (a 1 b 1 )v 1 + (a 2 b 2 )v (a n b n )v n = 0. Como B é uma base, seus vetores são L.I. Logo, a 1 b 1 = a 2 b 2 =... = a n b n = 0, ou seja, a 1 = b 1, a 2 = b 2,, a n = b n. Definição 3.10 Uma base ordenada de um espaço vetorial V é uma base onde é considerado a ordem dos vetores nesta base. Definição 3.11 Sejam V um espaço vetorial e B = {v 1, v 2,..., v n } uma base ordenada de V. Para v = a 1 v 1 + a 2 v a n v n, os escalares a 1, a 2,..., a n são chamados coordenadas de v em relação à base B e [v B = base B. a 1 a 2. a n é chamado o vetor das coordenadas de v em relação à Note que, mudando a posição dos vetores da base, muda também o vetor das coordenadas. Exemplo 3.38 Sejam B = {(1, 0), [(0, 1)} e B = {(0, [ 1), (1, 0)} bases ordenadas de R 2 e seja 3 5 v = (3, 5) um vetor. Então [v B = e [v B =. 5 3 Exercício 3.11 Seja B = {(1, 2, 1), (0, 1, 2), (0, 0, 1)} uma base de R 3. Encontre [v B nos casos abaixo. a) v = (0, 3, 2) b) v = (0, 1, 1) c) v = (1, 2, 1) d) v = (2, 3, 4) 3.10 Mudança de base Seja V um espaço vetorial e sejam B = {v 1, v 2,..., v n } e B = {w 1, w 2,..., w n } bases ordenadas de V. Para v V, sejam v = x 1 v 1 + x 2 v x n v n, e v = y 1 w 1 + y 2 w y n w n as representações de v como combinação linear dos vetores das duas bases. Então, [v B = x 1 x 2. x n e [v B = y 1 y 2. y n Como os vetores de B são vetores de V e como B é uma base de V, então os vetores de B se escrevem como combinações lineares dos vetores de B: w 1 = a 11 v 1 + a 21 v a n1 v n w 2 = a 12 v 1 + a 22 v a n2 v n ( ). w n = a 1n v 1 + a 2n v a nn v n Assim, v = y 1 w 1 + y 2 w y n w n v = y 1 (a 11 v 1 + a 21 v 2 + +a n1 v n )+ y 2 (a 12 v 1 + a 22 v 2 + +a n2 v n )+...+ y n (a 1n v 1 + a 2n v 2 + +a nn v n ) v = (a 11 y 1 + a 12 y a 1n y n )v 1 + (a 21 y 1 + a 22 y a 2n y n )v 2 +
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