ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete do Des. José Di Lorenzo Serpa

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1 ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gabinete do Des. José Di Lorenzo Serpa ACÓRDÃO APELAÇÃO Cá/EL N / 001 RELATOR: Dr. Aluízio Bezerra Filho, Juiz de Direito Convocado em substituição ao Des. José Di Lorenzo Serpa. APELANTE: Metlife Brasil Metropolitan Life Seguros e Previdência S.A. (Adv.: Tânia Vainsencher e outros) APELADO: José Lindolfo Pedro de Souza (Adv.: Lívia Cláudia Rodrigues de Albuquerque). CIVIL. Ação de Cobrança. Seguro de vida em grupo. Incapacidade definitiva parcial do segurado para o exercício de atividade profissional. Recusa da seguradora quanto ao pagamento da cobertura securitária. Procedência do pedido. Irresignação. Alegação de incidência da prescrição anual. Contagem do prazo que se inicia a partir da data do efetivo conhecimento da sua incapacidade por parte do segurado. Suspensão da prescrição mediante pedido de pagamento na via administrativa à seguradora. Rejeição da prejudicial suscitada. Mérito. Alegação de impossibilidade de indenização devido à invalidez do segurado ser apenas parcial. Contradição com os termos contratado. Comprovação da incapacidade mediante laudos médicos idôneos de autarquia pública que goza de fé pública. Manutenção da sentença. Desprovimento do apelo. Apelação Cível n /001

2 - "O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laborai." (Súmula n 278 do STJ). - "O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão." (Súmula n 229 do STJ). - A cláusula que especifica a Invalidez por Doença Funcional (IPD-F), não exige que a invalidez seja decorrente de doença adquirida em virtude do trabalho desempenhado pelo segurado (funcional), mas que a doença gere invalidez permanente para o trabalho.. - A incapacidade do autor José Lindolfo Pedro de Souza, que exercia a função de Marinheiro de Convés, foi atestada por vários médicos do INSS, todos uníssonos em afirmar a sua impossibilidade laborativa decorrente de problemas na região cervical e complicações não resolvidas pela cirurgia de hérnia de disco. Vistos, relatados e discutidos estes autos, antes identificados, ACORDA a Egrégia 1a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba REJEITAR A PRELIMINAR DE PREJUDICIAL DE MÉRITO, UNÂNIME, E, NO MÉRITO, NEGAR PROVIMENTO AO APELO, UNÂNIME, nos termos do voto do Relator. Trata-se de apelação cível interposta pela METLIFE BRASIL METROPOLITAN LIFE SEGUROS E PREVIDÊNCIA PRIVADA S.A. (fls. 187/205), insurgindo-se contra a sentença (fls. 170/171) prolatada pelo Juízo da 4 a Vara da Comarca de Cabedelo, que, nos autos da AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA proposta por JOSÉ LINDOLFO PEDRO DE SOUZA julgou procedente o pedido aduzido na exordial, condenando o apelante a pagar ao apelado o valor de R$ ,00 (noventa mil reais), Apelação Civel n /001

3 acrescido de juros moratórios de 0,5% (meio por cento) ao mês e correção monetária, a contar do ajuizamento da ação. lrresignado, o apelante suscita a prejudicial de mérito, sob o argumento de que teria ocorrido a incidência da prescrição ânua prevista no art. 206, II, do Código Civil. No mérito, sustenta a não comprovação do vínculo empregatício com a empresa estipulante e que o sinistro ocorreu após o término da vigência da apólice; também afirma, em suma, que o apelado não preencheu os requisitos necessários para o recebimento do seguro denominado IPD-F (Invalidez Total e Permanente por Doença - Funcional), pois o mesmo não está inválido para toda e qualquer atividade laborai, mas a incapacidade tem caráter parcial, o que não se enquadra na garantia de IPD-F prevista na apólice do seguro. Levanta, também, a tese de desrespeito ao contraditório e à ampla defesa, porquanto o magistrado julgou a lide antecipadamente sem a realização de perícia médica, essencial ao deslinde da questão; por fim, refuta a vinculação da aposentadoria por invalidez concedida pelo INSS ao presente caso. Contrarrazões às fls. 214/218, através das quais o recorrido pugna pela manutenção da sentença. A Procuradoria de Justiça, em cota (fls. 224/225), afirmou inexistir interesse público que justifique a intervenção ministerial. É o relatório. VOTO. ADMISSIBILIDADE. Presentes os pressupostos intrínsecos cabimento, legitimidade e interesse para apelar e extrínsecos tempestividade, regularidade formal, preparo e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer do recurso interposto. As partes foram intimadas da sentença nos embargos de declaração através de nota de foro publicada no Diário da Justiça do dia 24/02/2012 (fls. 186), e a protocolização do recurso ocorreu no dia 12/03/2012 Apelação Cível n /001

4 (fls. 187), dentro do prazo legalmente concedido para recorrer, nos termos dos arts. 508 do CPC. Preparo realizado (fls. 206). Juízo de admissibilidade positivo. PREJUDICIAL DO MÉRITO: PRESCRIÇÃO. Inicialmente, suscita o apelante ter ocorrido a prescrição da pretensão indenizatória. Todavia, razão não lhe assiste. Sobre o tema, prevê o art. 206, II, do Código Civil: Art Prescreve: (-..) 10 Em um ano: (...) II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, (...), b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; (Grifo nosso). Com efeito, o termo inicial para a contagem do prazo prescricional supramencionado é a data em que o segurado toma ciência do fato gerador da pretensão. Acerca do tema, destaca-se o teor da súmula 278 do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, in verbis: Súmula n 278 O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laborai. Na hipótese dos autos, tratando-se de recebimento de seguro decorrente de incapacidade funcional, tem-se que a ciência inequívoca do segurado quanto à sua incapacidade ocorreu a partir da sua aposentaria por invalidez, que se deu mediante deferimento do benefício pelo INSS em 04/11/2009 (fls. 10). fl Apelação Cível n /001

5 A presente ação foi ajuizada em 02/05/2011 (fls. 02). Logo, considerando o prazo ânuo de prescrição, deveria ter sido ajuizada no máximo até 21/11/2010. assim verbera: Contudo, incide na espécie outra Súmula do STJ, que Súmula n 229 O pedido do pagamento de indenização à seguradora suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão. O apelado noticiou na inicial que requereu o pagamento à seguradora em 04/11/2009 (mesmo dia do conhecimento da sua incapacidade), suspendendo o prazo da prescrição de um ano. A decisão de indeferimento do pagamento indenizatário na via administrativa foi enviada pela seguradora apelante ao apelado em 08/06/2010 (fls. 13), ou seja, a partir desta data voltou a correr o prazo de um ano para ajuizar esta ação, que se esgotaria em 08/ , mas, como dito, esta ação fora ajuizada em 02/05/2011, dentro do prazo prescricional previsto para o caso. Isso quer dizer que não houve resíduo de suspensão do prazo prescricional a ser considerado, uma vez que em 04/11/2009 o apelado tomou conhecimento de sua incapacidade e também, no mesmo dia, requereu o pagamento à Seguradora, recebendo o resultado do indeferimento em 08/06/2010, data em que o prazo prescricional de um ano voltou a correr. Assim, rejeito a prejudicial de mérito. MÉRITO. José Lindolfo Pedro de Souza, ora apelado, ingressou com a presente demanda contra a Metlife Brasil Metropolitan Life Seguros e Previdência S.A., pretendendo receber uma indenização no valor de R$ ,00 (noventa mil reais) do seguro contratado, em virtude de ter sido acometido por doença acidentária e posteriormente ser considerado inválido e aposentado por invalidez. Apelação Cível n /001 \\N.

6 Na sentença, a promovida foi condenado a pagar o valor inicialmente pleiteado, cuja fundamentação alicerçou-se notadamente na incapacidade laborai do apelado para todas as profissões. Inconformada, a Metlife Brasil Metropolitan Life Seguros e Previdência S.A., interpôs o recurso que agora se analisa. Quanto ao primeiro ponto da apelação, concernente à alegação da não comprovação do vinculo empregatício com a empresa estipulante, bem como de que o sinistro teria ocorrido após o término da vigência da apólice, tem-se que o "certificado individual do seguro", colacionado às fls. 12, bem esclarece o tema. De acordo com o citado certificado (fls. 12), o apelado fez um seguro em grupo através da estipulante Pan Marine do Brasil Ltda., sua antiga empregadora, que teve como termo inicial a data de 01/ Ademais, a comprovação de vinculo empregaticio com a empresa estipulante se torna secundário, até porque, nos contratos de seguro em grupo a estipulante é mera interveniente para agilizar o contrato, na condição de mandatário do segurado. Neste sentido decidiu o STJ, in verbis: SEGURO DE VIDA EM GRUPO. AÇÃO DE COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO ESTIPULANTE QUE FOI AFASTADA PELO ACÓRDÃO RECORRIDO. REEXAME DE PROVA. SÚMULA STJ/ Como regra, o estipulante não é responsável pelo pagamento da indenização, por atuar apenas como interveniente, agilizando o procedimento de contratação do seguro, vale dizer, na condição de mandatário do segurado. 2.- Embora não se desconheça que, excepcionalmente, possa ser atribuído ao estipulante a responsabilidade pelo pagamento da indenização, em razão de mau cumprimento do mandato ou quando cria nos segurados a legitima expectativa de ser ele o responsável por esse pagamento, na hipótese, as premissas fáticas que conduziram o Colegiado estadual a entendimento div r?so Apelação Ws/e! n /001

7 não podem ser revistas em âmbito de Recurso Especial, a teor do enunciado 7 da Súmula desta Corte. 3.- Agravo Regimental improvido. (Grifo nosso). (AgRg no REsp SP, Rel. Ministro SIDNEI BENET!, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/03/2012, DJe 29/03/2012). O mencionado Certificado também registra que o contrato de seguro foi renovado e sua vigência definida para o período de a 31/10/2010. O Laudo Médico Pericial de fls. 163, datado de 04/ , definiu a Aposentadoria por Invalidez do promovente José Lindolfo Pedro de Souza, e a Carta de Concessão de Aposentadoria por Invalidez (Acid. de Trabalho) emitida pelo INSS data de 21/ , conforme se pode verificar às fls A MetLife, promovida/apelante, enviou correspondência ao autor, datada de 08/06/2010, comunicando-lhe do encerramento do processo de sinistro sem indenização. Diante desse cenário, considerando que o contrato estava em vigor quando o apelado tomou conhecimento da sua invalidez e quando foi notificado do indeferimento do seu pedido de indenização pela seguradora, não há que se falar em término da validade do seguro ou que o mesmo não estava em vigor quando do sinistro. Frise-se, por oportuno, que a doença do segurado/promovente teve início 'desde 2006, conforme Laudo Médico Pericial de fls. 153, época em que o promovido já estava segurado. Noutro giro, a seguradora recorrente sustenta que o autor não preencheu os requisitos para o recebimento do seguro denominado IPD-F (Invalidez por Doença - Funcional), pois o mesmo não estaria inválido para toda e qualquer atividade laboral e, portanto, não se enquadraria na garantia de IPD-F prevista na apólice do seguro. considerações sobre o seguro. Sobre esse tema, necessário tecer algumas Apelação Cível n /001 7

8 Segundo o "Certificado Individual de Seguro" às fls. 12, a garantia individual prevista no contrato abrange os seguintes eventos e valores: Morte - R$ ,00; Indenização Especial por Morte Acidental R$ ,00; Invalidez Permanente Total ou Parcial por Acidente (até) R$ ,00; Invalidez por Doença Funcional R$ ,00; Auxilio Funeral R$ 9.000,00. Do documento juntado às fls. 17/88, expedido pela MetLife acerca das Condições Gerais do Seguros de Vida em Grupo, ao tratar de Invalidez por Doença - Funcional (IPD-F), define o objetivo desta cláusula como: "A presente cláusula, desde que contratada, garante ao segurado o pagamento antecipado do Capital Segurado contratado para a garantia Básica (morte), em caso de Invalidez Funcional Total e Permanente, consequente de doença que cause a perda de sua existência independente, sob critérios devidamente especificados no item Riscos Cobertos desta cláusula, exceto se decorrente de riscos excluídos, observados os demais termos desta Cláusula Adicionai, das Condições Gerais e do Contrato." (fls. 60) A Cobertura dessa cláusula de "Invalidez por Doença Funcional" está definida como: "A perda da existência independente será caracterizada pela ocorrência de quadro clínico incapacitante, decorrente de doença, que inviabilize de forma irreversível o pleno exercício das relações autonômicas do Segurado." (fls. 62) Da interpretação das cláusulas acima transcritas, concluise que ao se referir a Invalidez por Doença Funcional (IPD -F), não se está exigindo que a invalidez seja decorrente de doença adquirida em virtude do trabalho desempenhado pelo segurado (funcional), mas que a doença gere invalidez permanente para o trabalho. Apelação Civel n" /001 ) 8

9 A incapacidade do autor José Lindolfo Pedro de Souza, que exercia a função de Marinheiro de Convés, foi atestada por vários médicos do INSS, todos uníssonos em afirmar a sua impossibilidade laborativa decorrente de problemas na região cervical e complicações não resolvidas pela cirurgia de hérnia de disco. Os médicos do INSS acompanharam a evolução da. doença que acomete o autor desde 2006, até que em 2009 foi concedida sua aposentadoria por invalidez devido ao quadro clínico de "transtorno do disco cervical com radiculopatia". Dessa forma, a incapacidade laborativa do promovente restou devidamente comprovada nos autos, conforme laudos colacionados às fls. 153/163, os quais preenchem os requisitos da cláusula que regula o Pagamento do Capital Segurado, assim vazada: Para o recebimento do Capital Segurado ou da Indenização, deverá ser comprovada satisfatoriamente a ocorrência do evento, bem como todas as circunstâncias a ele relacionadas, facultado à Seguradora quaisquer medidas tendentes à elucidação do fato." (fls. 37) Portanto, impõe-se a manutenção da sentença que deferiu a pretensão de pagamento de indenização securitária. Necessário ressaltar que os laudos médicos elaborados por peritos do INSS serviram para deferir benefício previdenciário previsto em lei e que possui critérios rígidos de concessão, gozando, portanto, de idoneidade, fé pública e presunção de veracidade. Por fim, sobre a arguição de desrespeito ao contraditório e à ampla defesa, porquanto o magistrado julgou a lide antecipadamente sem a realização de perícia médica, realço que as provas dos autos não são dirigidas às partes, mas ao julgador. Acontece que há prova suficiente nos autos capaz de encaminhar ao julgamento da lide. Como dito, vários são os laudos médicos que atestam a incapacidade do apelado. Logo, o processo estava pronto para julgamento, não havendo a necessidade de mais uma perícia diant r'\clas provas carreadas aos autos. Apelação Cível n /001 )Ç9

10 Desse modo o julgamento antecipado do processo, com base no art. 330, I, do CPC, não configura cerceamento de defesa, pois é dado ao julgador a liberdade de exercer e fundamentar a sentença sob o auspício do "livre convencimento motivado", como de fato aconteceu. APELATORIO. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO Presidiu a sessão o Exm Des. José Ricardo Podo. Participaram do julgamento, além do Relator, o Excelentíssimo Senhor Doutor Aluízo Bezerra Filho (Juiz convocado para substituir o Exm Desembargador José Di Lorenzo Serpa), o Exm. Senhor Desembargador José Ricardo Porto e o Excelentíssimo Desembargador Leandro dos Santos. Presente à sessão a Dra. Sônia Maria Guedes Alcoforado, Procuradora de Justiça. Sala de Sessões da Egrégia i a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, aos 13 dias do mês de dezembro do ano de DR. ALUIZIO BEZ R A FILHO JUIZ CONVOCADO RELATOR 10 Apelação Civel n /001

11 TRIBIJNÁL pcotpe+iça DiNtorka Judiciária Registrado e