A derrama e a residência das sociedades
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1 A derrama e a residência das sociedades Universidade Católica Portuguesa Gustavo Lopes Courinha Docente do Curso de Pós-Graduação em Fiscalidade na UCP Residência e Não Residência A incidência subjectiva (art. 14.º/n.º 1 LFL 2007) da derrama: os sujeitos passivos residentes em território português que desenvolvam a título principal actividade comercial, industrial ou agrícola ; os sujeito passivos não residentes com Estabelecimento Estável (E.E.) localizado em Portugal. 2 Exclusão subjectiva prévia: os sujeitos passivos residentes que não exerçam, a título principal, uma actividade de natureza comercial, industrial ou agrícola; os sujeitos passivos não residentes que não possuam E.E. em Portugal; os sujeitos passivos não residentes que, embora possuindo E.E. em Portugal, o lucro não lhes é imputável pelas regras do IRC se não há lucro em Portugal, nada há a repartir (pelo critério da massa salarial ou outro decorrente do regime da derrama).
2 A residência para efeitos da derrama A LFL 2007 fixa o E.E. como elemento de conexão nas relações fiscais inter-municipais verdadeiro pressuposto da derrama (art. 14.º/n.º 2), a par de existência de lucro tributável em IRC. Sem prejuízo, a repartição da derrama cede em face de uma matéria colectável reduzida (lucro inferior a ). Na ausência de E.E. noutro município ou de lucro tributável superior a , vale a regra da não repartição o município da residência arrecada o bolo (art. 14.º/n.º 5). Mas qual é o município da residência? 3 A residência para efeitos da derrama Solução idêntica à do artigo 4.º/n.º 1 do CIRC: município onde se situar a sede ou direcção efectiva. Propósito fiscal internacional fiscal do art. 4.º/n.º 1 do CIRC critérios alternativos de atracção da qualidade de residente, em vista do alargamento das pretensões fiscais nacionais. Solução incorrecta para o art. 14.º/n.º 5 da LFL 2007 no Direito Inter-Municipal Fiscal, exige-se prevalência de um dos critérios. 4
3 A residência para efeitos da derrama Consequência: potencial dupla residência exclusivamente para efeitos inter-municipais das sociedades. O município da sede estatutária tem legitimidade igual à do município da direcção efectiva para alegar o direito à receita da derrama nos casos em que não exista outro E.E. ou sempre que a matéria colectável seja inferior a critérios manifestamente alternativos. Situação não pouco frequente vd. regime da interioridade ou regimes especiais da RA Açores e da RA da Madeira, onde existem taxas especiais de IRC mais favoráveis para as empresas aí sedeadas (ainda que efectivamente geridas e administradas a partir doutros Concelhos): deslocalização artificial da sede. 5 A residência para efeitos da derrama Insusceptibilidade de solução interpretativa que ultrapasse esta dupla pretensão a letra da lei não deixa margens. Impõe-se solução legislativa sob pena de dupla tributação em derrama ou dupla pretensão à receita. Passará pela intervenção de normas de desempate ( tie-breaker rules ) em favor da direcção efectiva (?). 6 A sede - enquanto local de direcção ou escritório - tenderá a adquirir a natureza de E.E., nos termos do artigo 5.º/n.º 2 /alíneas a) ou c) do CIRC ou representação local, valendo então a respectiva massa salarial para efeitos do art. 14.º/n.º 2 LFL 2007.
4 Incidência convencional objectiva Perante sujeitos passivos não residentes com E.E. sito em Portugal, como tratar a derrama no âmbito convencional? Aplicação das CDTs ao IRC. E à derrama? Em certas convenções, a derrama encontra-se expressamente abrangida pelo âmbito objectivo convencional (por ex., CDT EUA, Brasil, Malta, Holanda). 7 A não residência para efeitos da derrama Incidência convencional objectiva Nos demais casos, vale a regra convencional para estes casos. CDTs aplicam-se a impostos idênticos ou similares aos referidos (art. 2.º/n.º 4 da CMOCDE) ex. emigração p/alemanha. Derrama enquanto imposto com base de incidência idêntica ao IRC» logo» imposto sobre o rendimento e, ao menos, similar ao IRC. Invocabilidade da similitude para efeitos da eliminação da dupla tributação jurídica internacional perante as imposições ocorridas no Estado da Residência. 8
5 Instituição Bancária A, sedeada no país X, com sucursal em Lisboa. A sede concede empréstimos a empresas nacionais, auferindo os correspondentes juros. Portugal pode tributar em IRC e derrama? Pelo menos pelo Direito Interno, há uma legítima pretensão norma de incidência territorial em ambos os casos (E.E. sito em Portugal ou entidade pagadora em Portugal [IRC]; E.E. sito em Portugal [Derrama]). Por efeitos da CDT: insusceptibilidade de aplicação da regra da força atractiva do Estabelecimento Estável art. 3.º/n.º 3 do CIRC em virtude do artigo 7.º/n.º 1/2.ª parte CMOCDE (Comentário 10). 9 A não residência para efeitos da derrama Solução: tributação liberatória do pagamentos de juros em IRC, pela taxa aplicável (art. 11.º/n.º 1 [interna normal 20%] ou n.º 2 [reduzida 10% ou 15%] e não pelo art. 11.º/n.º 4 conjugado com art. 7.º da CMOCDE [taxa geral de IRC de 25%]); 10 não tributação em derrama: (1) o lucro apurado em IRC não é imputável ao E.E. por impedimento convencional não há base tributável e (2) não existe norma de incidência territorial para a derrama - não abrange os Não Residentes sem E.E. ou c/ee mas sem lucro imputável.
6 Instituição Bancária A, sedeada no país X, com sucursal em Lisboa. A sucursal concede empréstimos a empresas nacionais, auferindo os correspondentes juros. Portugal pode tributar em IRC e derrama? Imputação efectiva dos lucros ao E.E. art. 7.º/n.º 1/2.ª parte CMOCDE com tributação cumulativa ilimitada pelo Estado da Fonte. Solução: tributação em IRC (25%) e em derrama (1,5%) quanto aos juros imputados ao E.E. art. 11.º/n.º 4 e 7.º/n.º 1 CMOCDE; eliminação da dupla tributação a cargo do Estado da Residência. 11 A não residência para efeitos da derrama Portugal enquanto Estado da Fonte na ausência de Pleno funcionamento do mecanismo da força atractiva do E.E. art. 3.º/n.º 3 do CIRC. Tributação Integral na fonte forte probabilidade de não eliminação da dupla tributação internacional: por inexistência de normas unilaterais de eliminação da dupla tributação no Estado da Residência; por tais normas, a existirem, não abrangerem a derrama (normalmente, assentam no método da imputação). 12
7 Um ou vários E.E.s do Não Residente? Perspectiva nacional (vários E.E.s?) vs. convencional (um único E.E. por país). A regra do art. 14.º/n.º 2 LFL 2007 pressupõe que o Não Residente detenha mais do que um E.E. em Portugal nesse caso, o lucro apurado contabilisticamente será repartido proporcionalmente pelos vários E.E. de acordo com a massa salarial de cada um face à massa salarial global em Portugal vs. art. 14.º/n.º 1 LFL 2007 parece pressupor um único E.E.. 13 Na presença de lucro tributável inferior a , tributação exclusiva no município do E.E. onde se concentra a contabilidade critério formal (art. 14.º/n.º 5 LFL 2007). FIM 14
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