Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete do Desembargador José Ricardo Porto

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1 DECISÃO MONOCÁTICA Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete do Desembargador José Ricardo Porto AGRAVO DE INSTRUMENTO N /001 - CAPITAL RELATOR : Desembargador José Ricardo Porto AGRAVANTE : Samuel Henrique Matos Chaves ADVOGADO : Elton Gustavo Alves AGRAVADO : Estado da Paraíba PROCURADOR : José Edísio Simões Souto AÇÃO ANULATÓRIA. CONCURSO PÚBLICO. TESTE FÍSICO. DOENÇA SUPERVENIENTE. IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DA ETAPA NO DIA MARCADO. PEDIDO DE ADIAMENTO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. INDEFERIMENTO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRELIMINARES. AUSÊNCIA DE DOCUMENTO NECESSÁRIO. PRESENÇA DE CÓPIA DA INICIAL DA DEMANDA ORIGINÁRIA. REJEIÇÃO. VEDAÇÃO DE DEFINIÇÃO DE NOVA DATA. EDITAL. PRINCÍPIO DA VINCULAÇÃO. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA DO STJ. ART. 557 DO CPC. NEGATIVA DE SEGUIMENTO POR DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR. Deve ser rejeitada a preliminar de ausência de documento necessário para o julgamento do recurso, quando o mesmo encontra-se presente nos autos. Em razão da natureza do exame psicotécnico - que não possui caráter classificatório -, não haverá desobediência ao principio da igualdade entre os candidatos o fato de o Recorrente se submeter posteriormente ao aludido teste. "É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que o Edital é a Lei do Concurso. Nesse sentido, havendo previsão editalicia, conforme consignado pelo acórdão recorrido pelo recurso especial, de que não serão

2 -a levados em consideração os casos de alteração psicológica e/ou fisiológica temporários, e de que não será dispensado tratamento diferenciado em função dessas alterações, não há como possibilitar a realização de uma segunda prova de aptidão física." (STJ 5' Turma. AgRg no REsp / DF. Relatora: Ministra Jane Silva, Desembargadora convocada do TJMG. J. em 18/10/2007). É lícita a cláusula do edital que proíbe o candidato de realizar o exame físico em momento posterior, mesmo estando ele acometido de doença que o impossibilite de se submeter ao teste. Compete ao Relator, monocraticamente, nos termos do art. 557 do CPC, negar seguimento, de plano, aos recursos contrários à jurisprudência pacificada de Tribunal Superior, prestigiando, assim, os princípios da celeridade e economia processuais. Trata-se de Agravo de Instrumento, com pedido de efeito suspensivo ativo, interposto por Samuel Henrique Matos Chaves contra decisão que indeferiu o pedido de liminar requerido na Ação Anulatória ajuizada por ele em face do Estado da Paraíba (fls. 103). VISTOS. A demanda foi proposta em razão de o Agravante ter sido reprovado no exame fisico do concurso público para preenchimento de vagas do cargo de Agente de Investigação da Secretaria de Segurança e Defesa Social do Estado da Paraíba. Segundo o Recorrente, sua reprovação ocorreu diante da ausência ao mencionado teste, mesmo tendo ele apresentado atestado médico comprovando a impossibilidade de comparecer na data marcada. Neste contexto, pugna pela anulação de sua reprovação, bem como, liminarmente, pela sua permanência no concurso, de modo que lhe seja autorizado realizar as demais fases do certame. Na decisão recorrida, a Doutora Juíza de Direito não concedeu a antecipação de tutela pleiteada por entender que faltava o periculum in mora, eis que muito tempo se passou desde a mencionada reprovação. Inconformado com tal decisão, o Recorrente manejou o presente Agravo de Instrumento, reforçando a presença do periculum in mora.

3 AL A antecipação da tutela recursal não foi concedida (fls. 109/113). Contrarrazões apresentadas (fls. 126/139), alegando, em preliminar, a ausência de documento essencial e a falta de interesse de agir. No mérito, rebate as razões do Agravante. Parecer da Procuradoria de Justiça, opinando pelo desprovimento do recurso (fls. 117/119). É o breve relatório. DECIDO. De início, cumpre analisar as preliminares suscitadas pelo Agravado em suas contrarrazões. Da falta de documento indispensável. De acordo com o Recorrido, o Agravo de Instrumento não merece ser conhecido eis que não foi trazida cópia da petição inicial da ação anulatória fiscal, documento que ele considera essencial. 525, I, do CPC. Aduz, pois, que o Recorrente não observou a determinação exposta no art. Contudo, compulsando o presente caderno processual, facilmente encontramos a exordial da demanda de anulação, cuja cópia encontra-se encartada às fls. 92/102 destes autos. Desse modo, rejeito a primeira prefaciai. Segundo o Recorrido, falta interesse processual ao Recorrente, porquanto antes do ajuizamento da ação já haviam sido realizadas as etapas seguintes do certame. Da falta de interesse de agir. Contudo, o simples fato de ter sido realizada a etapa seguinte ao concurso - exame psicotécnico - não induz a perda do objeto da demanda. Com efeito, analisando o edital, verifica-se que para o cargo ao qual o Agravante concorre - Agente de Investigação-, após o exame fisico resta o teste psicotécnico que possui apenas caráter eliminatório. Assim, em razão da natureza do exame psicotécnico - que não possui caráter classificatório -, não haverá desobediência ao princípio da igualdade entre os candidatos o fato de o Recorrente se submeter posteriormente ao aludido teste.

4 A propósito, decisão do STJ: EMBARGOS DECLARATÓRIOS. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. CANDIDATO QUE, REPROVADO NA FASE CLASSIFICATÓRIA (PROVA OBJETIVA), POSTULA PARTICIPAR DA SEGUNDA FASE DO CONCURSO, MERAMENTE ELIMINATÓRIA. REALIZAÇÃO DESTA. PERDA DO OBJETO DO WRIT. NÃO CARACTERIZAÇÃO. I- Não perde objeto mandado de seguranca impetrado por candidato visando a participar de etapa subseqüente de concurso (prova de digitação), se esta não possui caráter classificatório, visto que, não havendo disputa nessa fase, a realização posterior desta apenas pelo impetrante não trará qualquer prejuízo aos demais candidatos que já a realizaram. II - Desnecessária, outrossim, a citação dos demais candidatos aprovados na primeira fase para integrar a lide como litisconsortes passivos necessários, em razão de não se vislumbrar prejuízo a estes com a concessão da segurança. Embargos declaratórios rejeitados (STJ 5a Turma. EDcl no RMS 21649/ES. Relator: MM. Félix Fisher. J. em 27/03/2008). Portanto, o fato de a etapa seguinte do certame já ter sido realizada, por si só, não afasta o interesse de agir. Por esse motivo, igualmente rejeito a segunda preliminar. Superadas as questões prefaciais, analiso o mérito do recurso. Do mérito. O Agravante afirma que a reprovação ocorreu mesmo com a apresentação do atestado médico que comprovaria a sua impossibilidade de participar do exame físico. De acordo com o documento apresentado (fl. 81), o referido teste do Recorrente estava marcado para o dia 09 de agosto de 2009, no horário das 09 horas e 20 minutos. Ocorre que há um atestado subscrito pelo médico Miguel Tabosa Hirakawa (CRM-PE n ) no dia 06 de agosto de 2009, que determinava o afastamento do Agravante de seu trabalho pelo período de cinco dias, em virtude de ele estar acometido de dorsalgia (CID M54.8). Portanto, de acordo com o atestado médico, no da da prova o candidato estava impossibilitado de se submeter ao esforço exigido.

5 ) 4 Contudo, o item do edital do concurso é categórico ao afastar que nos "casos de alteração psicológica e/ou fisiológica temporários ( estados menstruais, gravidez, indisposições, cãibras, contusões, luxações, fraturas etc) que impossibilitem a realização do teste ou diminuam a capacidade física dos candidatos não serão levados em consideração, não sendo concedido qualquer tratamento privilegiado" (fl. 26). Por conseguinte, o edital prevê que mesmo estando o candidato acometido de doença que o impossibilite de se submeter ao exame físico, não lhe será permitido realizar a prova em momento posterior. É de se enfatizar que dentre os princípios que regem os concursos públicos e as licitações em geral está o da vinculação ao edital, que induz ao reconhecimento daquela máxima que "o edital é a lei do concurso". Pois bem, em hipóteses muito semelhantes a ora examinada, reconhecendo o mencionado princípio, o STJ proferiu as seguintes decisões: 111 "AGRAVO REGIMENTAL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. AGENTE DE POLÍCIA FEDERAL. PROVA DE CAPACIDADE FÍSICA. CANDIDATO QUE SE APRESENTA TEMPORARIAMENTE INCAPACITADO PARA SUA REALIZAÇÃO, COMPROVADA POR ATESTADO MÉDICO. PRETENSÃO A SEGUNDA CHAMADA. IMPOSSIBILIDADE. VEDAÇÃO CONTIDA NO EDITAL. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. PRECEDENTES. ACÓRDÃO RECORRIDO EM DISSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que o Edital é a Lei do Concurso. Nesse sentido, havendo previsão editalícia, conforme consignado pelo acórdão recorrido pelo recurso especial, de que não serão levados em consideração os casos de alteração psicológica e/ou fisiológica temporários, e de que não será dispensado tratamento diferenciado em função dessas alterações, não há como possibilitar a realização de uma segunda prova de aptidão física. 2. Agravo regimental a que se nega o provimento" (STJ 5' Turma. AgRg no REsp / DF. Relatora: Ministra Jane Silva, Desembargadora convocada do TJMG. J. em 18/10/2007). RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. PROVA DE APTIDÃO FÍSICA. NÃO COMPARECIMENTO. PROBLEMAS DE SAÚDE. ELIMINAÇÃO DO CONCURSO. PREVISÃO NO EDITAL. É firme o entendimento nesta Corte de que o

6 Edital é a Lei do Concurso, assim, havendo previsão editalícia de que não serão levados em consideração os casos de alteração psicológica ou fisiológica, e de que não será dispensado tratamento diferenciado em função dessas alterações, não há como possibilitar a realização de nova prova de aptidão física. (precedentes). Recurso provido. (STJ 5' Turma. REsp n \ Relator: Min. Félix Fisher. J. em 14/06/2005). ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. COMPROVAÇÃO DE DIVERGÊNCIA JURISPRUDESCIAL. DISPENSA DE CITAÇÃO DE REPOSITÓRIO OFICIAL QUANDO SE TRATAR DE JULGADO DESTE SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PRECEDENTE DA CORTE ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. PROVA DE APTIDÃO FÍSICA. REALIZAÇÃO EM DATA POSTERIOR. IMPOSSIBILIDADE. IMPUGNAÇÃO DE NORMAS EDITALíCIAS. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. I - Em se tratando de julgado deste Superior Tribunal de Justiça, fica dispensada a indicação do repositório onde foi publicado, admitida, inclusive, a comprovação da divergência por meio de documento extraído do website desta Corte. Precedente da Corte Especial. II - A jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que não há que se falar em nova oportunidade para a realização do teste de aptidão física, tendo em vista a proibição expressa trazida no Edital. III - Segundo estatui o brocardo jurídico: "o edital é a lei do concurso ". Desta forma, estabelece-se um vínculo entre a Administração e os candidatos, igualmente ao descrito na Lei de Licitações Públicas, já que o escopo principal do certame é propiciar a toda coletividade igualdade de condições no ingresso ao serviço público. Pactuam-se, assim, normas preexistentes entre os dois sujeitos da relação editalícia. De um lado, a Administração. De outro, os candidatos. Com isso, é defeso a qualquer candidato vindicar direito alusivo à quebra das condutas lineares, universais e imparciais adotadas no certame. IV - Consoante já manifestou esta Corte, em se tratando de interpretação das normas editalícias de concurso público, a competência do Poder Judiciário se limita ao exame da legalidade do edital. Em sendo assim, o Administrador tem todo o direito de se valer do seu poder discricionário, desde que o mesmo não afronte comandos legais. V - Agravo

7 Interno desprovido. (STJ 5' Turma. AgRg no REsp no DF. Relator: Min. Gilson Dipp. J. em 15/02/2005). O Cumpre observar que as previsões contidas no edital dos casos julgados pelo STJ são muito semelhantes, senão idênticas, àquela prevista no edital do concurso realizado pelo Estado da Paraíba. Por conseguinte, é de se reconhecer lícita a cláusula do edital que proíbe o candidato de realizar o exame fisico em momento posterior, mesmo estando ele acometido de doença que o impossibilite de se submeter ao teste. Interessante fazer a distinção entre o presente Agravo de Instrumento e a Apelação Cível n / 001, recentemente julgada pela Primeira Câmara Cível (03/08/2010), sob a minha relatoria. No julgamento do processo acima referido, a situação possuía uma peculiaridade, qual seja, o edital do Curso de Formação de Soldados da Polícia Militar era omisso sobre a questão da gravidez superveniente ao certame, o que impediria a aplicação do princípio da vinculação. Nesse contexto, o Recurso Apelatório da candidata grávida fora provido, concedendo-lhe a oportunidade de realizar o exame de aptidão física em data ulterior. Sendo assim, por haver no concurso da Polícia Civil previsão expressa que impede o adiamento do exame em questão em virtude de doença posterior, cumpre dar ao presente Agravo solução distinta daquela utilizada no Apelo, em conformidade com a jurisprudência do STJ. Compete ao Relator, monocraticamente, nos termos do art. 557 do CPC, negar seguimento, de plano, aos recursos contrários à jurisprudência pacificada de Tribunal Superior, prestigiando, assim, os princípios da celeridade e economia processuais. Com estas considerações, REJEITO AS PRELIMINARES E NEGO SEGUIMENTO AO RECURSO, em conformidade com a jurisprudência do STJ. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se. João Pessoa, 17 de agost010. J/03 Desembargador JOSÉ RI IÍOI POTO Relator

8 trinī M31/41b2 JWSMA Coordenad.oria Jadiciárib, Regtstrado

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