O ZONEAMENTO E O ESPAÇO RESULTANTE
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1 O ZONEAMENTO E O ESPAÇO RESULTANTE Natália Gomes Salla Faculdade de Arquitetura e Urbanismo CEATEC natalia.salla@hotmail.com Jonathas Magalhães Pereira da Silva Água no Meio Urbano CEATEC jonathas.silva@puc-campinas.edu.br Resumo: O presente artigo é fruto do trabalho de iniciação cientifica e se apoia nas pesquisas anteriormente realizadas desde O trabalho se insere no grupo de estudo FAPERJ-FAPESP intitulado Mudanças climáticas e as formas de ocupação urbana: estudos comparativos de tipos de ocupação e indicadores socioambientais para adaptação de situações de vulnerabilidade e risco das regiões metropolitanas de Rio de Janeiro e Campinas, tendo como objetivo o desenvolvimento de cenários urbanos futuros ou tendenciosos, com base nas legislações vigentes e suas devidas adequações, visando conhecer o software necessário às simulações e fornecer parâmetros que possibilitem análises climáticas nas regiões de estudo, abrangendo a Bacia do Piçarrão e do Anhumas. Palavras-chave: Gestão Urbana, Monitoramento, Política do Solo Urbano Área do Conhecimento: Grande Área do Conhecimento: Arquitetura e Urbanismo Sub-Área do Conhecimento: Paisagismo FAPIC/Reitoria. 1. INTRODUÇÃO A pesquisa apresentada, vincula-se à pesquisa maior intitulada Mudanças climáticas e as formas de ocupação urbana: estudos comparativos de tipos de ocupação e indicadores socioambientais para adaptação de situações de vulnerabilidade e risco das regiões metropolitanas de Rio de Janeiro e Campinas. Desenvolveu-se prospecções sobre o futuro dos assentamentos humanos tendo como ponto principal a qualidade ambiental e as possíveis alterações climáticas resultantes desse desenvolvimento. A partir dos resultados obtidos pela pesquisa principal, (SILVA, 2009; SILVA & MAGALHÃES, 2011), compreendeu-se a situação urbana das bacias do Anhuma e do Piçarrão, em Campinas, o que possibilitou um estudo detalhado sobre os tipos de ocupação do solo e suas problemáticas atuais e futuras. Com isso, estudou-se um software computacional (CityZoon) que simula as volumetrias propostas por uma legislação de ocupação de solo urbano. Entretanto não se deu continuidade a utilização do software por problemas na prorrogação das licenças de uso. Optou-se pelo uso do Google Sketchup, onde foram desenvolvidas as simulações tridimensionais dos cenários atuais, futuros e tendenciosos, de acordo com a legislação vigente em primeiro plano e com a legislação adequada em segundo plano, que possibilitou inserção de áreas verdes, recuos ou verticalizações que tiveram por objetivo a melhoria da qualidade de vida, do clima urbano, da paisagem e do uso do solo. Observando-se os cenários gerados, bem como seus devidos comparativos, compreende-se a importância de considerar as normas de ocupação do solo de maneira a se adequar ao processo de expansão urbana e a adequação dos microclimas gerados. A partir das premissas físico-ambientais e socioambientais resultantes desse processo de simulações, é possível alimentar a pesquisa principal que, então, consegue simular em softwares específicos (Envimet) as propostas geradas e, futuramente, entender quais foram as alterações climáticas conseqüentes do processo do modelo de urbanização consolidade em contrapartida com o cenário proposto. 2. OBJETIVO Através da necessidade de gerar simulações urbanas para compreensão do desenvolvimento das áreas de estudo, buscou-se compreender o software utilizado como forma de capacitação e ferramenta de trabalho,
2 possibilitando o desenvolvimento volumétrico baseado ora em legislações adequadas ao crescimento qualificado da área, ora no desenvolvimento real e atual e projetado para as áreas, visando o desenvolvimento de parâmetros e diretrizes que norteiem a expansão urbana e que possibilitem análises de possíveis alterações climáticas das áreas a partir da ocupação futura do solo. 3. METODOLOGIA A metodologia que norteou o desenvolvimento da pesquisa teve a seguinte sequência: Estudo dos resultados obtidos pela pesquisa de 2009, possibilitando uma leitura sistêmica das legislações e a compreensão da situação geral dos municípios da RMC; Aplicação das ferramentas de simulação e conhecimento do software a ser utilizado, onde neste momento optou-se pela mudança de software por problemas técnicos e decidiuse utilizar a ferramenta Google Sketchup; Desenvolvimento das bases em AutoCad necessárias às simulações Estudo das legislações urbanísticas específicas das áreas a serem simuladas; Desenvolvimento dos cenários atuais e existentes; Estudo das tendências de ocupação das áreas e seus impactos sociais, ambientais e urbanos; Parametrização dos itens abordados ao desenvolver as simulações; Análise crítica da legislação atual e possíveis alterações tendo em vista as parametrizações definidas em busca de possíveis alterações climáticas da área; Desenvolvimento dos mapas comparativos atuais e futuros das legislações e gabaritos;; Desenvolvimento dos cenários futuros e tendenciosos; Análise conclusiva dos cenários gerados. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados alcançados tiveram como base a interpolação de dados obtidos com a pesquisa realizada pelo orientador intitulada: Mudanças climáticas e as formas de ocupação urbana: o papel dos investimentos públicos, em espaços livres e habitação de interesse social, na constituição da forma urbana e a pesquisa principal do grupo FAPESP- FAPERJ, além de todas as informações adquiridas com o próprio trabalho, que serão apresentada a seguir. Em primeiro plano, estudou-se todos os dados obtidos com as pesquisas anteriores, possibilitando uma compreensão completa do território urbano em estudo e permitindo iniciar o desenvolvimento da pesquisa com um detalhamento mais aproximado das áreas definidas para estudo. Em seguida, iniciou-se o estudo do software CityZoom, indicado como primeira alternativa para trabalhar os cenários tridimensionais e que foi abortado logo em seguida devido há falta de suporte adequada da equipe do software. Com isso, optou-se pelo uso do Google Sketchup, que possibilita um trabalho conjunto com o Google Earth, onde algumas bases já estavam sendo trabalhadas e que era de maior conhecimento dos envolvidos na iniciação científica. Iniciou-se uma pesquisa aprofundada e detalhada das áreas de estudo englobadas nas simulações, onde foram definidos grupos com tipos de ocupação característicos dentro das unidades de paisagem delimitadas pela pesquisa principal, que identificam tipos morfológicos existentes e induzidos de quadras, edifícios e lotes, que por sua vez se inseriam dentro de unidades de paisagens pré-definidas, que tiveram como princípios norteadores a forma de parcelamento, o tipo de ocupação, os espaços livres de edificação e as tendências ou constatações de transformações, como pode ser visto nas figuras 1.1 e 1.2 Figura Unidades de Paisagem do Anhumas
3 Figura Unidades de Paisagem do Piçarrão Por meio destas unidades de paisagem, definiram-se os tipos de ocupação de cada área, que incluíam parâmetros como o tamanho do lote e do edifício, o tamanho das quadras, o terreno consolidado ou não consolidado, presença de chácaras e outros temas relacionados. (Figuras 2 e 2.2) Duas destas simulações, uma em cada uma das áreas de influência dessas bacias, pretendem simular a transformação feita pelo próprio mercado imobiliário, que vem acontecendo em ritmo acelerado e objetiva compreender quais as alterações climáticas e paisagísticas essas áreas sofrerão. Os outros dois tipos, novamente um de cada uma das bacias hidrográficas de estudo, pretendem requalificar o ambiente existente propondo novas premissas de urbanização, já que entende-se que as áreas estão sob pressão do mercado imobiliário e tendem a sofrer expansões. Estudando as legislações vigentes para cada uma das áreas e relacionando seus problemas e potencialidades, propuseram-se alterações no zoneamento de maneira a constatar tendências de ocupação interpretadas pelo mercado e induzidas pela legislação urbana. O desenvolvimento dos cenários atuais de cada um dos tipos escolhidos para desenvolvimento do trabalho, resultando em mapas de zoneamentos e gabaritos que permitem a comparação entre o existente e o proposto, além dos modelos tridimensionais que completam a concepção das áreas simuladas. Exemplificaremos o estudo dessa pesquisa a partir de dois cenários, o tipo P-G1-Tl, localizado no Piçarrão (Figura 3 e 3.1), e o tipo A-G3- Th, localizado no Anhumas. Figura 2 - Tipos de Ocupação Piçarrão Figura Tipos de Ocupação Anhumas De todos os tipos de ocupação encontrados e definidos, elegeram-se dois de cada região como objeto de estudo desta pesquisa e que forneceriam os dados para a pesquisa principal analisar as questões climáticas posteriormente. A escolha desses tipos deveu-se às questões climáticas que estavam envolvidas, às rápidas transformações que as áreas vem sofrendo e à presença de pontos de medição que também fornecerão os dados para a pesquisa principal e que se interpolarão futuramente, gerando dados de possíveis alterações climáticas entre o medido na área e o proposto pelas simulações (PEZZUTO, 2007). Figura 3 Área de Simulação, Piçarrão Figura 3.1 Área de Simulação, Piçarrão
4 O primeiro cenário apresentado, localizado na bacia do Piçarrão, se caracteriza pela falta de infra-estrutura e pela ocupações irregulares junto ao córrego. No cenário atual, observa-se uma ocupação do solo homogêneo, composto por casarios em lotes pequenos com um ou dois afastamentos, em quadras médias, com presença marcante de favelas localizadas ao longo das margens do córrego, em áreas de preservação permanente. Constatou-se baixa densidade e carência de diversidades. A pergunta lançada pela pesquisa é até que ponto existe um real impacto microclimático causado pela ocupação irregular junto ao córrego. No cenário futuro propôs-se como solução urbanística para essa área a realocação da população da favela para edifícios verticais que se estabelecem ao longo da avenida principal Como método de resolver as questões decorrentes de uma ocupação mono funcional, propuseram-se alterações no zoneamento vigente (Figura 3.2), incentivando a implantação de usos mistos através desse eixo viário, que trazem vida urbana para a área e suprem as necessidades diárias dessa população local, evitando que se desenvolvam comércios informais e qualificando o uso do solo. (Figura 3.3) residenciais unifamiliares que permitem pontos específicos de horizontalidade e usos diferenciados, muitas vezes pouco coerentes às necessidades reais. Com a alteração proposta, o que se pretende é conseguir maior diversidade de uso na área, aumentando as áreas de zonas 12, que permitem verticalizações com uso misto e acrescentando a zona 18, que tem por objetivo a preservação ambiental e possível implementação de espaços de lazer para a população local, estabelecendo uma maior adequação ambiental e ecossistema. O resultado volumétrico dessa simulação pode ser observado através do mapa de gabaritos (Figuras 3.4 e 3.5), que mostram comparativamente a relação de altura entre o existente e o proposto. Os volumes marcam o eixo viário por meio de edifícios verticalizados e de uso de serviço e comercio no térreo potencializando seu poder de centralidade de bairro que busca atender as necessidades cotidianas. Essa análise se complementa com os cenários tridimensionais, que pretenderam simular a maior verticalização permitida pelo zoneamento considerando os índices de projeção (Figuras 3.4 e 3.5). As plantas permitem a comparação do cenário atual, marcado por grande ocupação das áreas de preservação permanente ao longo do córrego e por ausência de edifícios verticais acima de 3 pavimentos. (Figuras 3.6 e 3.7) Figura 3.2 Zonemaneto Atual, Piçarrão Figura 3.4 Gabarito Atual, Piçarrão Figura 3.3 Zonemaneto Proposto, Piçarrão Por meio da análise comparativa entre as duas situações, percebe-se que atualmente zoneamento de uso do solo é composto basicamente por áreas Figura 3.5 Gabarito Proposto, Piçarrão
5 O mapa do zoneamento atual confirma a problemática da generalidade das diretrizes urbanísticas, uma vez que quando permitem verticalizações em casos específicos não levam em conta os impactos que a mesma poderá acarretar. (Figura 4.1) Figura 3.6 Cenário Proposto, Piçarrão Figura 3.7 Cenário Atual, Piçarrão Seguindo a mesma linha de raciocínio, simulou-se outra área na micro bacia do Anhumas (Figura 4), que possui características diferentes em termos de ocupação e desenvolvimento urbano, definida na pesquisa como tipo A-G3-th (Figuras 4). Figura 4.1 Zoneamento vigente, Anhumas O loteamento proposto pela MRV Engenharia (Figura 4.2) prevê 8 torres verticais para a área em urbanização e resulta em um grande impacto paisagístico para a região, conforme mostra os mapas comparativos de gabaritos (Figuras 4.3), o empreendimento anuncia a tendência de transformação da área. Figura 4 Área de Simulação, Anhumas Caracterizada como uma área em transformação, esse tipo de ocupação é marcado por glebas em processo de ocupação por grandes empreendimentos e casarios horizontais em lotes médios e quadras pequenas. Ainda pode ser considerada uma área não consolidada e lindeira ao rio Anhumas. Diferentemente do Piçarrão a área de APP do rio Anhumas não se encontra ocupada por edificações. A simulação considerou o projeto existente para ocupação da grande gleba localizada no recorte estudado. Desta forma a simulação antecipa o que ocorrera na área dentro de um pequeno período de tempo. Possibilita, desta forma, a analise de e quais seriam os impactos causados pelo mesmo. Cabe questionar se o processo de verticalização ira de fato alterar o micro clima. Esta questão será pratada por outros pesquisadores do grupo com a utilização do Envimet. Figura 4.2 Empreendimento Acqua Galeria, MVM Eng. Figura 4.3 Gabarito Atual e Futuro, Anhumas
6 O espaço atual comparado com o resultante pode ser visualizado através das simulações representadas a seguir, onde fica clara a grande verticalização concentrada da área sem as adequações legislativas necessárias para contornar as problemáticas decorrentes desse processo de ocupação. (Figuras 4.6 e 4.7). A planta e simulação evidencia que algumas torres encontram-se com implantações desfavoráveis ao conforto ambiental. Constata-se a deficiência do plano diretor e do zoneamento de campinas, que necessitam de revisões para adequar a nova realidade frente aos novos modelos desenvolvidos pelo mercado, Entende-se, assim, que esta iniciação científica conseguiu levantar alguns modelos e tendências. A continuidade a presente pesquisa ira constatar o quanto os novos modelos interferem no microclima. 6. REFERÊNCIAS Figura 4.6 Cenário Atual, Anhumas [1] PEZZUTO, Claudia Cotrim. Avaliação do ambiente térmico nos espaços urbanos abertos: Estudo de caso em Campinas, SP. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Campinas, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP [2] SILVA, Jonathas Magalhães. Relatório de Pesquisa 2009 Os processos de ocupação dos espaços públicos e privados e o direito a moradia urbana, PUC-Campinas, Campinas, Figura 4.7 Cenário Futuro, Anhumas A simulação evidencia ainda a transformação na paisagem urbana e a influência que qualquer tipo de ocupação promove em seu entorno, muitas vezes estimulando o mesmo padrão a ser repetido sem o planejamento adequado, o que pode vir a alterar o microclima do recorte estudado. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entende-se que o processo de urbanização e expansão do tecido urbano, bem como o de sua ocupação, imprime novos modelos sobre a paisagem que tende a se repetir em diferentes áreas. A pesquisa levanta estes modelos que deverõ ser objeto de verificação, por parte de outros pesquisadores do grupo, se os modelos identificados serão favoráveis ou não ao microclima. Acredita-se que a urbanização planejada deveria levar em conta o microclima urbano sendo que para isso devemos gerar parâmetros que só poderão ser construídos por meio da medição e simulações dos efeitos dos novos modelos e tipos implantados. Na presente pesquisa foi possível observar que a implantação de legislações, muitas vezes inadequadas ao território não consegue induzir um desenho ou modelo de ocupação. [3] SILVA, Jonathas Magalhães. MAGALHÃES, Natália C. T. Relatório de Pesquisa 2011 Aplicação de método de levantamento e sistematização de informações referentes à habitação de interesse social e sistemas de espaços livres, PUC-Campinas, Campinas, Sites consultados:
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