O que o clima reserva para a safra 2017/18
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- Juan Lancastre Capistrano
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1 O que o clima reserva para a safra 2017/18 2ª Edição - Agosto/17 Produzido sob a orientação de Marco Antonio dos Santos
2 ANO NEUTRO NO CLIMA GARANTE BOAS SAFRAS NO BRASIL E NOS EUA Ano neutro no clima garante boas safras no Brasil e nos EUA O agrometeorologista Marco Antonio dos Santos explica como será a safra 2017/18, de que maneira o clima poderá impactar a produção agrícola no Brasil e nos Estados Unidos e o que é preciso saber para ter mais rentabilidade no negócio. A influência de uma La Niña, ainda que de baixa intensidade, foi bastante benéfica para a produção agrícola do Brasil e dos Estados Unidos, que colheram safras recordes em 2016/2017. Conhecer os fenômenos climáticos e suas consequências é fundamental para o produtor rural saber se haverá ou não queda de produtividade, se pode ou não perder dinheiro, se deve antecipar ou retardar o plantio. 2
3 ANO NEUTRO NO CLIMA GARANTE BOAS SAFRAS NO BRASIL E NOS EUA Vamos continuar olhando para o céu, mas com o auxílio da tecnologia, é possível contar também com previsões meteorológicas em sites, aplicativos de smartphones e programas de TV. O clima é o principal insumo da agricultura. De nada adianta uma boa semente, um ótimo solo, tecnologias de ponta, os melhores agrônomos e consultores, se São Pedro não colaborar, diz Marco Antonio dos Santos, um dos principais agrometeorologistas brasileiros, habituado a ajudar cooperativas, produtores rurais e empresas do setor de insumos, bancos e analistas de mercado a se anteciparem ao tempo. O clima é o principal insumo da agricultura. - Marco Antonio dos Santos O papel do agrometeorologista é estudar a relação do clima com o desenvolvimento das plantas e seus possíveis impactos na produção agrícola. Isso é primordial para que a cadeia do agronegócio tenha sucesso e rentabilidade, pois permite escolhas mais seguras em relação à venda ou compra de uma determinada commodity. Sabendo quais fatores climáticos afetam o desenvolvimento das lavouras, é possível tomar decisões sobre a melhor época para plantar, qual variedade, se haverá incidência maior de pragas e doenças: num ano mais chuvoso, é preciso se preparar para isso. 3
4 ANO NEUTRO NO CLIMA GARANTE BOAS SAFRAS NO BRASIL E NOS EUA Na soja, o clima mais úmido favorece ferrugem asiática, antraquinose e mancha-alvo, por exemplo. Com uma ideia clara de quanto vem de chuva, dá para saber antes quanto vai ser preciso irrigar e em qual volume. 4
5 EL NIÑO E LA NIÑA, OS PRINCIPAIS FENÔMENOS CLIMÁTICOS El Niño e La Niña, os principais fenômenos climáticos Há dois eventos inversos que impactam o regime de chuvas e temperaturas, e consequentemente a produção agrícola, em todo o mundo, dependendo das estações do ano: o El Niño, que é o aquecimento fora do normal das águas do Oceano Pacífico, e a La Niña, quando elas resfriam mais do que o esperado. Segundo o agrometeorologista, como estes eventos não repetem um padrão de incidência ao longo dos anos, não é tão simples para o produtor rural antecipar a tomada de decisão com base no clima. São fenômenos totalmente aleatórios e só é possível fazer alguma projeção com quatro ou cinco meses de antecedência, diz o consultor. Além de serem difíceis de prever, estes dois fenômenos de alcance global impactam diferentes países de maneira totalmente distinta. É o caso de Brasil e EUA. 5
6 EL NIÑO E LA NIÑA EL NIÑO E LA NIÑA, OS PRINCIPAIS FENÔMENOS CLIMÁTICOS O El Niño é o aquecimento acima do normal das águas do Oceano Pacífico equatorial, o que desencadeia mudanças nos padrões de vento e pressão atmosférica e, por sua vez, no regime de chuvas e temperatura em escala global. Num ano sem El Niño, as águas quentes se concentram do lado da Indonésia. O ar quente e úmido que sai desta região se eleva gerando muitas nuvens de chuva, se resfria na alta atmosfera e desce seco sobre na costa do Peru (é a Circulação de Walker). El Niño Com o El Niño instalado, a circulação de ventos fica enfraquecida ou sofre uma reversão, arrastando as águas quentes para o leste do oceano. Circulação de Walker intensificada Ventos Água quente Equador Oceano Pacífico La Niña O La Niña, por oposição, é quando a superfície das águas do Pacífico equatorial está mais fria do que o normal. Circulação de Walker intensificada Ventos Água fria Equador Oceano Pacífico 6
7 EL NIÑO E LA NIÑA, OS PRINCIPAIS FENÔMENOS CLIMÁTICOS No Brasil, por exemplo, a chegada do El Niño representa mais chuvas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Já na região do Mapitoba, formada por parte dos estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, há baixa incidência de chuvas. Com a La Ninã, acontece o inverso no Brasil: o Sul fica mais seco, enquanto as chuvas são regulares na faixa central e mais intensas no Norte e Nordeste. Outra característica do El Niño é que normalmente as chuvas da primavera começam mais cedo, em agosto, em vez de setembro. Já com a preponderância da La Ninã, as chuvas demoram mais para chegar, o que pode ocasionar atraso no plantio. 7
8 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS Safra histórica e perspectivas Para a safra 2017/2018, tudo indica que o clima será novamente favorável à produção agrícola no Brasil. De acordo com Santos, agora em agosto, as águas da região equatorial do Oceano Pacífico estão ligeiramente mais frias do que o normal, após se manterem com temperaturas mais quentes de abril a julho. Para a safra 2017/2018, tudo indica que o clima será mais uma vez favorável à produção agrícola no Brasil. Mas não há indicativos de que possa haver algum fenômeno climático, como La Niña ou El Niño, durante a próxima safra. A expectativa é de que haja uma neutralidade climática ao longo dos próximos seis meses. Há uma tendência de que ao longo do verão de 2018 essas águas fiquem um pouco 8
9 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS mais frias do que o normal, mas mesmo assim não há ainda indicativos de que possa vir a se formar uma La Niña, diz. Desta forma, segundo o consultor, a previsão é de que a safra comece com neutralidade e, entre o fim deste ano e o começo de 2018, haja neutralidade com viés negativo. Com relação à última safra, 2016/2017, os produtores brasileiros não têm do que reclamar, já que as chuvas e as temperaturas colaboraram para o bom desenvolvimento das lavouras de grãos. PREVISÃO PARA SAFRA DE GRÃOS NO BRASIL FONTE: CONAB 2015/ ,6 milhões de toneladas PREVISÃO 2016/ ,2 milhões de toneladas +27,7% 9
10 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS Região Sul Após o mês de julho extremamente seco e a ocorrência de geadas entre os dias 18 e 20, que afetou drasticamente a cultura do trigo no Sul, as chuvas retornaram a toda a região em agosto, elevando os níveis de umidade do solo e garantindo melhores condições para as lavouras de inverno. Porém, as quebras já contabilizadas são irreversíveis e o Brasil deve colher uma safra de trigo bem menor do que o estimado no início. O mês de setembro deve ter chuvas um pouco mais regulares no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o que pode atrapalhar o plantio do arroz. Já para a cultura do milho, esse período com mais chuvas irá beneficiar o plantio e o desenvolvimento das lavouras. No Paraná, a tendência é de que as chuvas fiquem mais irregulares ao longo de setembro, o que pode atrapalhar um pouco o início do plantio. Mas nada que venha trazer grandes preocupações aos produtores, pois a partir da primeira quinzena de outubro as chuvas já devem estar totalmente regularizadas em toda a região Sul, beneficiando o plantio da soja, diz Marco Antonio dos Santos. Segundo o consultor, como há expectativa de que haja um ligeiro resfriamento das águas do Pacífico durante o verão de 2018, não se pode descartar a possibilidade de pequenos períodos de veranico na região. No entanto, como terão curta duração, os impactos sobre a produtividade devem ser mínimos e pontuais. 10
11 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS [...] a pressão para doenças será grande neste ano em toda a região Sul De acordo com Santos, é importante lembrar que, devido as chuvas mais frequentes e volumosas ao longo da primavera e no começo do verão, a pressão para doenças será grande neste ano em toda a região Sul, o que pede atenção maior por parte dos produtores e consultores. 11
12 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS Região Sudeste Após o mês de julho também seco e com temperaturas mais amenas, as chuvas retornaram em agosto ao Sudeste. Não há garantias de que setembro também venha a ser chuvoso, pois como as frentes frias devem ficar mais concentradas sobre a região Sul, a tendência é de que o mês tenha chuvas muito irregulares e com volumes abaixo da média no Sudeste. No entanto, como o plantio da soja só começa em outubro, não deve acontecer atraso significativo neste ano. Além disso, culturas como cana-de-açúcar continuarão sendo beneficiadas, pois com o tempo um pouco mais seco em setembro, os trabalhos de colheita poderão avançar sem grandes transtornos. A perspectiva é que o clima seja bom na região Sudeste, permitindo novamente uma boa safra de grãos na região. Segundo os modelos climáticos, o regime de chuvas deve se instalar definitivamente sobre a região Sudeste em meados de outubro. A segunda metade da primavera e o verão devem ter chuvas dentro da média, com períodos de forte alternância. Pode haver um período bem mais chuvoso, seguido de um mais seco, já que em anos de neutralidade climática 12
13 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS as frentes frias se posicionam cada hora num determinado local do País, explica Marco Antonio dos Santos. De acordo com o consultor, quem irá influenciar esse posicionamento não será mais o Oceano Pacífico, mas o Atlântico. As frentes frias irão se posicionar mais facilmente onde as águas do Atlântico estiverem mais quentes durante o verão. O problema é que este oceano, diferentemente do Pacífico, é pouco previsível. Mas de modo geral, a perspectiva é que o clima seja bom na região Sudeste, permitindo novamente uma boa safra de grãos na região. 13
14 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS Região Centro-Oeste O período seco na região será bem curto neste ano, pois as chuvas se estenderam até o final de maio e houve registros de precipitações em muitas localidades agora em agosto. Assim, o intervalo do período seco não será suficiente para inviabilizar os esporos das doenças, como o da ferrugem asiática, o que pode ser um grande problema, pois com isso a tendência é de uma pressão maior para esta safra. Além disso, como a tendência é de uma neutralidade climática, as chuvas não devem começar tão cedo, como no ano passado. O regime acontecerá dentro de um padrão normal para a região, sendo que no sul do Mato Grosso do Sul, a previsão é de que as chuvas cheguem um pouco mais cedo, pois o clima nesta região é parecido com o do Sul do Brasil. Em todo o Mato Grosso, norte do Mato Grosso do Sul e em Goiás, a expectativa é de que setembro tenha chuvas abaixo da média. Mas não será um período totalmente seco, pois haverá algumas pancadas de chuvas, que serão bem irregulares. O plantio da soja deve acontecer normalmente nessas localidades. A partir de meados de outubro, o regime de chuvas se instala definitivamente sobre a região, dando plenas condições ao plantio e ao desenvolvimento das lavouras. O plantio não será tão cedo como em 2016, nem tão tarde como em 2015, quanto teve início somente após o dia 20 de outubro, diz Santos. 14
15 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS O verão de 2018 deve ser parecido com o de 2017, até mesmo com alguns períodos de invernadas, que podem acarretar alguns transtornos para a colheita da soja e plantio de milho safrinha e algodão. Por outro lado, sem a previsão de que venha se formar um El Niño, a expectativa é de que as chuvas se estendam novamente nesta safra. Isso pode ser um bom sinal para os produtores que não conseguirem plantar muito cedo a soja e, portanto, tendo que postergar a colheita e o posterior plantio do milho. 15
16 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS Matopiba O regime de chuvas no Matopiba deve ser parecido com o do Centro-Oeste. A única diferença é que em agosto não houve registros de chuvas, permitindo a colheita do algodão sem transtornos e prejuízos, como aconteceu em algumas lavouras no Mato Grosso. Portanto, o plantio da soja não deve ser tão cedo em 2016, mas sim dentro da normalidade, sendo que o forte mesmo deve acontecer só depois de 15 de outubro. Como não há perspectiva de que venha a se formar o El Niño nesta safra, toda a região deve ser beneficiada novamente por chuvas regulares e em bons volumes. Mas não se pode descartar a possibilidade do tradicional veranico, que sempre acontece, independentemente no fenômeno climático, afirma Santos. No entanto, diz o consultor, esse veranico não deve ser tão intenso neste ano como foi de 2012 a Deve ser um ano dentro da normalidade, ainda mais com a possibilidade de resfriamento das águas do Pacífico durante o verão, o que irá permitir chuvas mais regulares de fevereiro a março. 16
17 NOS EUA, CLIMA TAMBÉM DEVE SER BOM Nos EUA, clima também deve ser bom Apesar de um mês de julho com chuvas muito irregulares em grande parte das principais regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos, o impacto foi pequeno. Como houve atraso no plantio da soja, por conta do grande volume de chuvas em maio, o período crítico da planta pelo déficit hídrico foi em agosto, e não em julho, como seria normal. GIGANTISMO AGRÍCOLA A produção estimada de milho nos EUA, com uma única safra por ano, é 66,8% maior do que toda a safra de grãos do Brasil. FONTE: USDA e CONAB SAFRA 2017/ milhões de toneladas 120 milhões de toneladas EUA MILHO EUA SOJA 234 milhões de toneladas SAFRA 2016/2017 BRA TOTAL 17
18 NOS EUA, CLIMA TAMBÉM DEVE SER BOM Com o retorno das chuvas a partir de 25 de julho, a cultura da soja foi bastante beneficiada, já que ela coincidiu exatamente com o período de florescimento e enchimento dos grãos. Apenas o milho teve algum prejuízo, mas mesmo assim, bem pontual e de fraca intensidade. Desta forma, a expectativa é de que os Estados Unidos tenham uma safra novamente grande neste ano, podendo chegar ao recorde em algumas regiões, especialmente porque houve um aumento de 7% na área plantada da oleaginosa no país. 18
19 SAFRA HISTÓRICA E PERSPECTIVAS Café Na América do Sul, o café vem tendo um ano relativamente bom. Não chove em excesso, nem falta água. Porém, as chuvas que aconteceram em agosto nas áreas produtoras de São Paulo, Paraná e Sul de Minas Gerais permitiram a indução floral o que pode vir a ser um problema, pois setembro não deve ser tão chuvoso a ponto de manter um nível razoável de umidade. Isso pode acarretar algumas perdas pontuais, mas como a partir de outubro o regime de chuvas se instala definitivamente sobre as regiões cafeeiras do Brasil, a tendência é de que a cafeicultura tenha uma boa safra em Na Ásia, a previsão é de clima seco, com tempo ruim para a commodity no Vietnã (e para a cana-de-açúcar na Índia). 19
20 NOS EUA, CLIMA TAMBÉM DEVE SER BOM Quem é Marco Antonio dos Santos Marco Antonio dos Santos é engenheiro agrônomo, com mestrado e doutorado em Agrometeorologia, e estudos voltados para os impactos do clima na produção agrícola e na modelagem agrícola. Sócio-fundador da empresa de consultoria agrometeorológica Rural Clima, onde presta serviços de previsão climática a diversas empresas do agronegócio e grupos de produtores rurais. Consultor e comentarista do Canal Terra Viva, apresenta palestras anuais a produtores rurais em todo o território brasileiro e participa de reuniões técnicas em empresas do setor para avaliar os impactos do clima na produção agrícola nacional e internacional. 20 Produção e tecnologia
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