Do livro A Sociedade em Rede
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- Alexandre Vidal Mirandela
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1 Resumo do Capítulo 7 O limiar do Eterno: Tempo Intemporal Do livro A Sociedade em Rede Segundo Castells, nós, seres humanos, somos a personificação do tempo, e simultaneamente, nossas sociedades também são. E o tempo, que influencia toda a nossa rotina, dia a dia, atividades e pensamentos, também é fruto das ações, pensamentos, elucidações e sonhos do homem. Cada um toma parte do outro e ao mesmo tempo define quem o outro é. E assim como a humanidade, o tempo mudou ao longo do tempo, sofrendo influencia e consequências das mudanças ao seu redor, como as tecnológicas e as de paradigmas sociais. Castells cita exemplos de como a concepção de tempo se alterou ao longo da história da humanidade, retratando a influência desse pensamento na vida de todos aqueles que fazem parte da sociedade em questão. Notam-se mudanças na concepção de tempo ao longo do século XX, que refletiram diretamente na forma de viver, pensar e se comportar dos indivíduos de cada momento histórico retratado no capítulo.
2 Entende-se que, a partir da noção de tempo cronológico, sob a forma de minutos, horas, dias, meses e anos, torna-se plausível estabelecer divisões de tempo e tarefa na vida dos indivíduos. A noção de tempo cronológico, divisível e mensurável, sendo uma abstração humana, faz parte da construção da sociedade em rede. A transformação do tempo através da história, que transforma também a própria história, cria a noção de tempo intemporal, onde segundo Castells, surge um novo conceito de temporalidade. Um exemplo citado é o caso da Rússia e seus diferentes momentos no passado. Até o final do século XX, os russos viviam com uma noção de tempo bastante diferenciada da que era encontrada no ocidente, fruto da imposição de governantes do passado. A concepção de tempo definia (ou deixava indefinido) quando era dia de descanso e quando era dia de trabalho. A falta de um sistema cronológico no passado russo levava seus cidadãos a viver de uma maneira bastante diferente da qual se apropriaram após a queda do Muro de Berlim, e que era praticada pelos contemporâneos no Ocidente. Outro exemplo utilizado por Castells para ilustrar a atemporalidade do tempo é a forma como o capitalismo global opera suas bolsas de valores ao redor do mundo, utilizando o tempo como forma de agregar valor ou gerá-lo. Muitas vezes, mesmo sem a presença física do capital ou suas
3 representações, é possível, e bastante lucrativo, gerar multiplicação de capitais usando o tempo de maneira inteligente. Às vezes, a velocidade de uma transação, calculada de uma maneira quase cirúrgica, é que consegue prover ganhos em valor para os jogadores do sistema. Também, da mesma maneira, existem aqueles que, através das especulações do valor futuro de certa quantia ou bem, conseguem gerar capital. Especular com o futuro é jogar com o tempo no mercado de capitais, tornando o tempo, mais uma vez, fator determinante da roda da sociedade atual, mesmo que não tenha o mesmo uso e noção que um agricultor japonês tinha ao esperar o período da colheita. O tempo (ou sua noção) está sempre agindo transformando e sofrendo alguma transformação. Discute-se, também, a influência do tempo nas atividades de trabalho na sociedade, e seu reflexo nos indivíduos. Dividir o dia em horas e selecionar uma quantidade delas para as atividades de trabalho é algo que já existia antes do cenário contemporâneo de extrema competição no mercado. A diferença é que, nesse novo cenário, o tempo é comprimido e deve ser processado. Isso quer dizer que um trabalhador deve render seu máximo no período pré-determinado de horas de trabalho, e cada vez mais se busca mais resultado no mesmo período. A partir das alterações sociais que aconteceram nas últimas décadas, vemos a estrutura da mão de obra aumentar e se diversificar. Assim também faz o tempo, participando da vida das organizações em seus diversos âmbitos.
4 Mostra-se que o tempo é relativamente diferente para um operário de fábrica e para um gestor de projetos, pois o desenvolvimento de atividades, flexibilidade e necessidade de entrega de resultados é diferente, embora ambos possam até trabalhar numa mesma empresa. O modo como o tempo lida com aqueles que trabalham, e como os trabalhadores lidam com ele, é fruto de muitas variáveis, como o momento histórico, cargo ocupado, estrutura da organização entre outros. É claro que isso tem reflexo direto na vida das pessoas fora do ambiente de trabalho, reiterando a influência do tempo e suas concepções na sociedade. O ser humano, ao longo de milhões de anos de adaptação, criou certos mecanismos de defesa do corpo, otimização da capacidade energética dos alimentos em seu organismo, modos de preservar a saúde entre outras capacidades. E tais capacidades foram pautadas através da relação com a natureza e o ambiente ao redor, promovendo a evolução do ser humano ao longo dos anos. E, quase que de maneira impulsiva (se considerarmos o tempo de evolução) o tempo e a sociedade surgem para dar novas ordens ao ser humano. Ordens essas que não seguem àquelas estabelecidas pelos muitos anos e modos de vida. A pressa faz com que as refeições sejam mais rápidas, o sono seja mais curto e a concentração mental seja constante. Trava-se então uma luta escondida entre o que o tempo intemporal quer do seu organismo e o que os anos de evolução dizem para fazer.
5 Ao passo que o tempo é fator determinante na estrutura da mão de obra de uma sociedade, visto que a idade aparece como fator limitante para atuação dos indivíduos em atividades remuneradas, Castells propõe que o tempo é medido através da morte, ou da noção dela. A sociedade atual tenta com todas as forças tornar esse tema um tabu, algo que não deve ser lembrado, falado ou refletido. Deve-se viver dentro do seu tempo, e fazer de tudo para prolongá-lo ao máximo. Combater a morte é combater o tempo. É impossível. Mas, através da evolução da medicina junto à tecnologia, vai se tornando cada vez mais um pouco mais adiável. Porém, a morte aparece como algo que torna inegável a influência do tempo em nossas vidas. Pautamos nosso dia a dia em fazer mais nas horas de trabalho, nos preocupamos com o movimento dos ponteiros todos os dias, nos encaixando dentro do esquema de divisão matemática dos períodos com sol e sem sol e, ao mesmo tempo em que criamos mudanças que mudam o mundo, somos mudados por essas criações.
6 E uma das grandes mudanças, resultante da revolução tecnológica em que vivemos, é a noção de tempo virtual. O tempo virtual torna eventos distantes simultâneos. As distâncias físicas são diminuídas e muitas vezes até apagadas através dos recursos tecnológicos atuais, e isso torna a sociedade e as pessoas mais próximas, mais entrelaçadas e menos dependentes da função básica tempo x espaço. Isso quer dizer que a informação não para mais em barreiras físicas. Algo que acontece agora aqui pode ser testemunhado por alguém do outro lado do globo, e isso altera muitos paradigmas antes existentes. O tempo e suas temporalidades então definem e são definidos no contexto histórico em questão, estabelecendo um conflito entre a invalidação da intemporalidade na vida humana, sem pautar seu fim e a percepção de eternidade dentro do tempo em sua definição. Castells nos coloca que, ao analisar as mudanças sociais e o contexto histórico que vivenciamos, é correto afirmar que caminhamos para uma sociedade cada vez mais em forma de rede. A sociedade em rede existe quando há um conjunto de nós interconectados, que
7 possibilitam um fluxo multidirecional. E as propriedades de redes alteram o processo das relações humanas, fluxos de informações e outras mudanças, possibilitadas pelo avanço da tecnologia da informação. A rede propõe interação multilateral e independência dos agentes ali encontrados, independentemente do que é composta a rede, e por isso, é como se chama a realidade cada vez mais explícita na sociedade atual. Superou-se a natureza e subiu-se o homem como ser central do planeta, reforçando a nova realidade baseada através de fluxos informacionais, financeiros, de conhecimento e muitos outros na rede em que se funda a sociedade. É um momento novo, segundo Castells, mas não se sabe quais os impactos disso.
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