Refugiados (externos)**: * Refugiados estrangeiros a viver neste país. ** Cidadãos deste país a viver no estrangeiro.

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1 INDONÉSIA CONFISSÕES RELIGIOSAS 1 Cristãos (9,9%) - Católicos (2,9%) - Protestantes (6,9%) - Outros Cristãos 0,1) Hindus (1,7%) Muçulmanos (87,2%) Outras Religiões (1,2%) População 2 : Superfície 3 : Refugiados km 2 (internos)*: Refugiados (externos)**: Deslocados: - * Refugiados estrangeiros a viver neste país. ** Cidadãos deste país a viver no estrangeiro. A tradição de pluralismo religioso e harmonia da Indonésia está cada vez mais sob ameaça, com um aumento significativo da intolerância religiosa impulsionado pelo Islamismo radical. Os ataques contra igrejas estão a aumentar e um número crescente de igrejas são forçados a fechar. Outras comunidades religiosas, como por exemplo as seitas ahmadiyya e xiitas dentro do Islamismo, bem como os Budistas, os Hindus, os Bahá í, os Confucionistas, os membros das religiões tradicionais indígenas e os muçulmanos sunitas progressistas que se expressam contra a intolerância, estão também a enfrentar cada vez maior assédio e violência. O encarceramento de um ateu, Alexander Aan, condenado a dois anos e meio de prisão por declarar nas redes sociais que não acreditava em Deus, ilustra que o aumento do Islamismo extremista tem um impacto muito alargado em toda a Indonésia. 4 A 30 de Maio de 2013, o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, recebeu um World Statesman Award para a liberdade religiosa por parte da Fundação Appeal of Conscience, em Nova Iorque. O prémio foi acolhido com um coro de indignação e incredulidade em toda a Indonésia. Foi lançada uma petição, assinada por pessoas, protestando contra o prémio. 5 Foram realizadas manifestações no exterior do palácio presidencial. Foram enviadas cartas ao Rabino Arthur Schneier, fundador e presidente da Fundação Appeal of Conscience, por inúmeras organizações indonésias, incluindo o Instituto para o Diálogo Inter-Religioso na Indonésia (Interfidei). 6 Talvez a mais significativa tenha sido uma carta aberta à Fundação Appeal of Conscience do Padre Franz Magnis-Suseno SJ, o muito respeitado sacerdote católico e professor de filosofia na Driyarkara School for Philosophy, Universidade da Indonésia, em Jacarta. Nesta sua carta aberta, o jesuíta escreve: «Intolerance in Indonesia is becoming mainstream», Benedict Rogers, Catholic Herald, 24 de Setembro de «No World Statesman 2013 for Susilo Bambang Yudhoyono», petição: 6 «A Letter of Protest for the World Statesman Award to President SBY»,

2 «Na Indonésia, ficámos a saber que vai entregar o World Statesman Award deste ano ao nosso presidente Susilo Bambang Yudhyono por causa dos seus méritos em relação à tolerância religiosa. Isto é uma vergonha, uma vergonha para si. Desacredita qualquer pretensão que possa ter como instituição com intenções morais. Como é que pode tomar tal decisão sem perguntar às pessoas em questão na Indonésia?... Não conhece as dificuldades crescentes dos Cristãos em obterem autorizações para abrirem locais de oração, o número crescente de encerramentos forçados de igrejas, o aumento dos regulamentos que tornam mais difícil o culto para as minorias e a intolerância crescente ao nível das bases? E, sobretudo, nunca ouviu falar das atitudes vergonhosas e bastantes perigosas dos grupos religiosos de linha dura em relação aos chamados ensinamentos desviantes, ou seja, aos membros das comunidades ahmadiyya e xiitas?... Centenas de pessoas destas comunidades foram levadas, sob a presidência de Susilo Bambang Yudhoyono, a abandonarem as suas casas.... O senhor está a fazer o jogo daqueles, ainda poucos, radicais que querem purificar a Indonésia de todos os que consideram como hereges e pagãos.» 7 Uma combinação de factores está a impulsionar a cada vez maior intolerância religiosa. São levados a cabo actos de violência por organizações islâmicas justiceiras, como por exemplo a Frente Pembela Islam (FPI) ou Frente dos Defensores Islâmicos, que realiza ataques contra igrejas, mesquistas ahmadi, comunidades xiitas e outras, com impunidade. O discurso dominante é influenciado pela propaganda islâmica espalhada em campus universitários, mesquitas e escolas internas islâmicas. A propagação das ideias islâmicas é em grande parte importada do Médio Oriente, sobretudo através do financiamento para bolsas de estudos na Arábia Saudita e no Iémen, e do apoio financeiro para publicação e distribuição de literatura islâmica. 8 O próprio Governo tem sido parcialmente responsável por criar uma situação em que a intolerância religiosa aumentou, fazendo-o de três formas: primeiro, através da introdução de regulamentações discriminatórias, como por exemplo a Regulamentação Conjunta de 2006 sobre as Casas de Culto, e o Decreto Conjunto de 2008 que restringe as actividades dos Ahmadiyya. O Dr. Musdah Mulia, presidente da Conferência Indonésia sobre as Religiões para a Paz (ICRP na sigla inglesa), alega que há pelo menos 147 «leis e políticas públicas discriminatórias em relação à religião» e acredita que «enquanto for permitido que essas leis vigorem, há sempre um potencial para a violência na sociedade. São precisos esforços para realizar reformas e também para criar novas leis que acolham melhor os princípios dos direitos humanos, da democracia, da tolerância e do pluralismo.» 9 Em segundo lugar, o Governo tem sido responsável pelas declarações públicas inflamadas que dão abertura aos extremistas. Por exemplo, em 2005, pouco após ter sido eleito pela primeira vez, o presidente Yudhoyono fez um discurso à Majelis Ulema Indonesia (MUI), o órgão máximo dos clérigos islâmicos, prometendo-lhes um «papel central» na elaboração de políticas sobre religião. Noutro discurso de 2007, o presidente prometeu que, após uma fatwa ou édito religioso ser emitida pelo MUI, «as ferramentas do Estado podem cumprir o seu dever... Todos devemos tomar medidas rigorosas contra as crenças desviantes». O ministro dos Assuntos Religiosos sugeriu que os Cristãos provocaram a perseguição contra si próprios por protestarem contra os encerramentos de igrejas, e fez repetidos apelos a uma proibição 7 Carta aberta de Franz Magnis-Suseno: Musdah Mulia, «The Problem of Implementation of the Rights of Religious Freedom in Indonesia», EU-Indonesia Conference: Human Rights and Faith in Focus, de Outubro de 2011

3 total dos Ahmadiyya. Em 2013, descreveu o conflito inter-religioso como «uma parte normal da natureza humana». 10 Em terceiro lugar, as autoridades são cúmplices por repetidas vezes não tomarem medidas para defender o Estado de Direito, por não trazerem perante a justiça os autores da violência e por não protegerem as minorias religiosas. Num caso, o presidente da Câmara de Bogor, em Java Ocidental, desafiou uma decisão do Supremo Tribunal que estabelecia que Gereja Kristen Indonesia (GKI) Yasmin, uma igreja protestante em Bogor, deveria manter-se aberta. O presidente da câmara ordenou que a igreja fosse fechada à força, mesmo que esta tivesse licença e estivesse aprovada para uso eclesiástico. Até à data, não foram tomadas quaisquer medidas para implementar a decisão do Supremo Tribunal. O provedor de justiça apelou ao presidente para que interviesse de modo a defender o Estado de Direito, mas a sua recomendação foi ignorada. O Dr. Ahmad Suaedy, do Centro Abdurrahman Wahid para o Diálogo Inter-Religioso e a Paz, acredita que a Indonésia está agora a ver «a integração da intolerância» como consequência não apenas dos «equilíbrios políticos» mas das «próprias políticas». 11 De acordo com o Fórum de Comunicação Cristã de Jacarta, o número de ataques contra igrejas cristãs alcançou um total de setenta e cinco em Isto marca um crescimento constante, com o número de incidentes anti-cristãos a aumentar de apenas dez em 2009 para quarenta e sete em 2010 e para sessenta e quatro em Segundo a Comunhão das Igrejas na Indonésia, pelo menos 430 igrejas foram atacadas, encerradas ou incendiadas desde No geral, o Instituto Setara relata que os incidentes de violações da liberdade religiosa aumentaram de ano para ano, de 200 em 2009 para 216 em 2010, 244 em 2011 e 264 em Muitas Igrejas experimentam dificuldades consideráveis em obter autorizações para construir. As autoridades eclesiásticas tiveram de esperar vinte e três anos por uma autorização para construir a Igreja de Santa Bernardete em Tangerang, Java Ocidental. Ao longo do período em análise, a paróquia sofreu graves assédios por parte de extremistas que protestaram contra a construção. A congregação reúne-se actualmente em seis localizações diferentes e não tem um local de culto permanente. 14 Da mesma forma, a Igreja Católica Damai Kristus (Paz de Cristo) em Kampung Diri, um subúrbio de Jacarta, enfrentou manifestações que pediam o seu encerramento e recebeu ameaças. Foram destruídas algumas igrejas. A 21 de Março de 2013, as autoridades destruíram o novo edifício da igreja construída pela Igreja Setu HKBP, em Bekasi. 15 Um membro da congregação disse à Christian Solidarity Worldwide: «É meu direito prestar culto, é o meu direito humano básico. Porque é que não posso ter este direito? Sinto-me como um hóspede neste país.» The Jakarta Globe, «Religious Conflict is Normal, says Religious Affairs Minister», 16 de Novembro de Entrevista ao Christian Solidarity Worldwide, Relatório de Theophilus Bela, Jakarta Christian Communication Forum, 14 de Janeiro de Setara Institute, «Leadership Without Initiative: The Condition of Freedom of Religious Belief in Indonesia 2012» 14 The Jakarta Globe, «Tangerang Church Site Shuttered by Protestors», 23 de Setembro de The Jakarta Post, «Issues of the day: Church in Bekasi demolished», 25 de Março de Entrevista ao Christian Solidarity Worldwide

4 A 14 de Fevereiro de 2013, duas igrejas em Makassar, Sulawesi do Sul, foram atacadas com cocktails molotov. 17 A situação em Aceh é particularmente grave. Em Maio de 2012, dezassete igrejas foram encerradas e, em Outubro de 2012, mais nove igrejas e cinco templos budistas foram forçados a fechar. «As pessoas prestam culto em segredo», disse um pastor à Christian Solidarity Worldwide. Em Dezembro de 2013, a Assembleia Consultiva Ulema (constituída por sábios e intelectuais muçulmanos) emitiu um édito a proibir os muçulmanos de Banda Aceh de desejarem bom Natal ou celebrarem a passagem para o Ano Novo. Reuniram-se então manifestantes no exterior das instalações do Governo para exigir uma proibição das celebrações do Natal. 18 Outra preocupação é a crescente criminalização das vítimas. Na véspera de Natal de 2012, o Reverendo Palti Panjaitan, Pastor da Igreja Filadélfia HKBP em Bekasi, um subúrbio de Jacarta, e a sua congregação foram atacados por uma multidão que atirava pedras quando tentaram realizar uma Missa de Natal na rua em frente à igreja. Desde então, o edifício foi encerrado pelas autoridades. A congregação dispersou e fugiu, e uma multidão tentou atacar o pastor, que afirmou que tinha estendido as mãos «num gesto» que lhes dizia para pararem. Foi então escoltado a casa pela polícia. No dia seguinte, foi acusado de espancar o líder da multidão, Ustad Abdul Aziz, e enfrentou acusações por parte da polícia. Embora o tribunal tenha rejeitado o caso, este é apenas um exemplo de uma tendência crescente de casos falsos apresentados contra as minorias religiosas. Ao mesmo tempo, o Reverendo Palti recebeu inúmeras ameaças, incluindo o aviso de um líder islâmico local, Abdul Aziz Bin Naimum, que lhe disse: «Vou cortar a sua garganta», fazendo um gesto em volta do pescoço. 19 O Pastor Bernhard Maukar, da igreja pentecostal em Rancaekek-Jatinangor, Java Ocidental, passou três meses na prisão em 2013 porque estava a gerir uma igreja não licenciada, embora se tivesse candidatado a uma autorização e aceitado pagar uma multa. A sua igreja foi atacada por multidões islâmicas radicais em várias ocasiões e ele foi ameaçado. Durante um dos ataques, a multidão gritou: Vá-se embora, Reverendo, vamos matá-lo. Você é uma Igreja do diabo.» 20 Para além do encerramento de igrejas cristãs, e ataques e assédio a pastores, outras minorias religiosas experimentaram também violência grave e perseguições, nomeadamente as comunidades ahmadiyya e muçulmana xiita. Em 2013, uma mesquita xiita em Bekasi foi encerrada e selada, e aproximadamente vinte ahmadis escolheram permanecer nas instalações da mesquita para a proteger da destruição. Três mesquitas em Cianjur, Java Ocidental, foram encerradas em Abril de 2013 e os ahmadis na área receberam ameaças de morte. A 5 de Maio de 2013, uma multidão de 200 pessoas atacou a comunidade ahmadiyya em Tasikmalaya, Java Ocidental. Tem havido um crescimento no padrão de violência anti-ahmadiyya, após ataques aos Ahmadis nos anos anteriores em Lombok, Cikeusik, Cisalada e outras localizações. Um ahmadi em Tasikmalaya disse: «Que o mundo lá fora saiba que já não estamos seguros nas nossas casas. Já não somos livres de acreditar no que queremos, para viver uma vida normal, porque há sempre alguém que quer forçar-nos a não acreditar naquilo em que queremos acreditar.» Outro ahmadi disse: «Não me sinto seguro. Só preciso de uma coisa: de me sentir seguro.» The Jakarta Globe, «Two More Churches Hit in Makassar Molotov Cocktail Attacks», 14 de Fevereiro de The Washington Post, «Indonesian Muslims protest Christmas in Aceh», 20 de Dezembro de The Jakarta Globe, «Man Faces Three Months in HKBP Philadelphia Death Threat Case», 25 de Julho de Entrevista ao Christian Solidarity Worldwide, The Wall Street Journal, «Indonesia s Religious Repression», Benedict Rogers, 8 de Agosto de 2013

5 Em 2011 e 2012, uma série de ataques à comunidade xiita em Sampang, Java Oriental, deixou várias centenas de xiitas deslocados. Um clérigo xiita, Tajul Muluk, foi preso de acordo com as leis da blasfémia da Indonésia. Em 2013, uma madrassa sufi no sul de Aceh foi atacada. 22 Os Budistas também experimentaram violência, sobretudo em 2013 após a perseguição de muçulmanos na Birmânia. Islâmicos radicais lançaram uma série de ataques a templos budistas na Indonésia em resposta à violência anti-muçulmana na Birmânia. 23 A tradição indonésia de pluralismo está consagrada na ideologia estatal conhecida como pancasila. No entanto, embora a pancasila seja muitas vezes apresentada como um exemplo de liberdade religiosa, as suas garantias são limitadas. Apenas seis religiões são reconhecidas oficialmente na Indonésia: Islamismo, Protestantismo, Catolicismo, Budismo, Hinduísmo e Confucionismo. Para os membros das religiões não reconhecidas, sobretudo os sistemas de crença indígenas tradicionais, a discriminação afecta cada aspecto da vida, desde o acesso à educação até ao emprego, passando pelos direitos de enterro. A coluna da religião no bilhete de identidade deixa duas hipóteses aos membros de outras religiões fora das seis religiões oficialmente reconhecidas: identificarem-se como pertencendo a uma das seis religiões reconhecidas, ou deixarem a coluna em branco, o que resulta em discriminação. «O problema para os nossos membros começa quando nascem e continua até morrerem», disse o membro de uma religião tradicional indígena. 24 O Arcebispo Ignatius Suharyo Hardjoatmodjo de Jacarta afirmou: «O futuro depende do Governo.» Disse também que se o Governo defendesse a lei e a ordem, «os radicais não teriam força». Mas acrescentou: «Enquanto o Governo usar a religião como um instrumento de poder, receio que isto se vá tornar pior. A situação pode facilmente piorar, mas deveria melhorar.» O Arcebispo receia a paquistanização, uma expressão cada vez mais usada na Indonésia para alertar sobre a direcção que o país pode estar a seguir. A Indonésia não é o Paquistão. Mas se não forem tomadas medidas para conter os Muçulmanos, mudar os termos do debate público, rever as leis discriminatórias, proteger as comunidades vulneráveis, trazer os autores da violência perante a lei e defender a liberdade religiosa para todos, o pluralismo da Indonésia vai estar em grande perigo e o mundo terá perdido o papel deste país como democracia pluralista com uma maioria muçulmana progressiva Entrevista ao Christian Solidarity Worldwide, 2013