2. O PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO DE VINHEDO
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- Carlos Beltrão Martinho
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1 2. O PLANO DIRETOR PARTICIPATIVO DE VINHEDO A aprovação do Estatuto da Cidade (Lei n o , de 10 de julho de 2001) regulamentou o Artigo 182 da Constituição Federal, trazendo uma nova concepção de planos diretores, como instrumento privilegiado na concretização da reforma urbana. Definiu o princípio da função social da cidade e da propriedade urbana como balizadores na definição da política urbana, visando garantir o bem estar do conjunto de seus habitantes. O Plano Diretor Participativo de Vinhedo, foi realizado entre os anos de 2005 e 2006, conforme os princípios estabelecidos pelo Estatuto da Cidade. Propôs a implementação de um processo de discussão participativa dos temas urbanos, prevendo também a capacitação e formação dos agentes sociais. A metodologia proposta definiu cinco etapas para a elaboração do Plano Diretor, sendo estas: ETAPA I :PREPARAÇÃO DO PROCESSO Com objetivo de sensibilizar técnicos e comunidade, foram realizadas oficinas de formação e capacitação para o Grupo Técnico do Governo; Grupo Gestor, uma Cartilha do Plano Diretor específica para Vinhedo - com exemplos práticos de como o plano poderia interferir em questões relevantes para cidade. O Conselho Gestor foi composto por 17 representantes dos diversos segmentos: governo; movimentos sociais; ONG s, entidades técnicas, acadêmicas e de pesquisa e empresários ligados à produção da cidade. Este Conselho Gestor acompanhou e monitorou todo o processo, através de sucessivas reuniões, cujo objetivo era propor e deliberar sobre o andamento do Plano Diretor. ETAPA I I : A VINHEDO QUE TEMOS Teve como objetivo construir a Leitura da Realidade, ou seja, retratar a cidade real. Esta caracterização se deu por meio da realização das leituras técnica, jurídica e comunitária. A Leitura Comunitária buscou sensibilizar, mobilizar e escutar a comunidade a fim de conhecer a sua realidade, seus problemas, potencialidades e expectativas para o futuro, além de motivá-la a participar das etapas posteriores. Estabeleceu-se portanto dois focos: a população em geral, entidades e movimentos organizados da sociedade. Utilizou-se como instrumento de leitura a aplicação de pesquisas nos domicílios, e foi realizada em três fases. 27
2 1ª FASE PESQUISA NA CONTA DE ÁGUA Com o objetivo de informar e sensibilizar a comunidade para a discussão do futuro de Vinhedo através do Plano Diretor, esta fase focou toda a cidade através de um questionário entregue junto com a conta de água e de devolução espontânea. Foram distribuídos questionários e devolvidos 594, ou seja 3,8% da população respondeu ao questionário. Este baixo índice de devoluções dos questionários, praticamente equiparou o número de questionários devolvidos pelos moradores de loteamentos fechados e o restante da cidade. 2ª FASE PESQUISA COM ENTIDADES Foi direcionada a entidades dos segmentos: Movimentos Sociais; ONG s, Entidades Técnicas, Acadêmicas e de Pesquisa; e Empresários ligados à produção da cidade. Teve como objetivo iniciar o diálogo com as entidades e verificar os problemas que os diferentes segmentos enfrentavam na cidade, suas expectativas e demandas em relação ao Plano Diretor. Retornaram 15 questionários. 3ª FASE PESQUISA NAS ESCOLAS Objetivou o aprofundamento das questões e focou as famílias dos alunos da rede municipal e estadual de ensino fundamental, trabalhando também com grupos específicos e já organizados - de Idosos, de Jovens da Capela e de famílias dos associados das entidades do Grupo Gestor do Plano Diretor. Foram devolvidos 3081 questionários - 18,8% da população de Vinhedo. Paralelamente à discussão do Plano Diretor, a Secretaria de Educação definiu o tema a Vinhedo que Queremos durante o ano letivo de 2006, possibilitando que a discussão sobre a cidade, através da sala de aula, atingisse o núcleo familiar, fortalecendo o debate do Plano Diretor. Feito isso, foi realizado o I Fórum do Plano Diretor, que teve como tema a Leitura da Realidade. Como as três pesquisas foram veiculadas de formas diferentes (conta d água, escolas e entidades) retratou também, as diferentes visões de cidades, dentro da cidade de Vinhedo. Estes retratos obtidos nas pesquisas, se completam e em alguns pontos se diferenciam. A pesquisa via conta d água retratou de forma predominante a cidade dos condomínios enquanto a pesquisa via escolas, aproximou-se da população mais carente da cidade, cuja visão de cidade se diferencia, em parte, da pesquisa da conta d água. ETAPA III - A VINHEDO QUE QUEREMOS Nesta etapa se definiu os Eixos Estratégicos, Temas Prioritários e Cenário para um futuro desejado através de seqüentes reuniões e discussões (10 reuniões) com segmentos sociais (entidades técnicas e ONG s, Empresários e Movimentos Sociais), para a construção de 28
3 consensos. Realizou-se o II Fórum para apresentação dos eixos e eleição dos delegados. As reuniões se estruturaram a partir de: 1. apresentação e discussão da proposta de cada segmento a partir da proposta preliminar do governo; 2. Construção de consensos sobre a contraproposta do governo (composta por sugestões dos segmentos apresentadas na 2ª reunião); 3. Discussão e negociação, entre os segmentos, dos conflitos não consensuados na 3ª reunião a fim de buscar consensos. Esta etapa foi de suma importância, pois possibilitou a introdução do tema Vinhedo que Queremos, e a partir desta discussão construiu-se coletivamente um cenário desejado para o futuro da cidade. Só na etapa seguinte iniciou-se a demarcação de macrozonas, zonas e parâmetros de uso do solo, a partir do cenário desejado. Nesta etapa definiu-se também a composição do corpo de delegados que iria deliberar, com direito à voto nas conferências subseqüentes. A composição definida estabeleceu a seguinte proporcionalidade dos delegados: 40% - Governo (30 representantes), 15% - Entidades técnicas e ONG s (11 representantes), 20% Empresários (15 representantes), 25% Movimentos Sociais (19 representantes). Os representantes dos movimentos sociais foram escolhidos durante o II Fórum, por moradores das regiões representadas, presentes na reunião, proporcionalmente ao número de habitantes de cada um dos bairros. ETAPA IV COMO CONSTRUIR A VINHEDO QUE QUEREMOS Teve como objetivo a elaboração do Texto Base do Plano Diretor, composto pelo conteúdo completo do plano: macrozoneamento, zoneamento, parâmetros de uso e ocupação do solo, zonas especiais, sistema de gestão, regras de parcelamento do solo, instrumentos de gestão, projetos e programas especiais. Nesta fase foram realizadas Oficinas de Capacitação sobre os instrumentos do Estatuto, oferecida à todos os delegados do Plano. A discussão com os segmentos sociais foi temática, buscando construção de consensos através de mesas de negociação, totalizando 22 reuniões. Foi realizada a I Conferência, onde apresentou-se a proposta consensuada e foram deliberados os conflitos. 29
4 OFICINA DE CAPACITAÇÃO SOBRE OS INSTRUMENTOS DO ESTATUTO DA CIDADE Foram realizadas 4 oficinas de capacitação (8h) sobre os instrumentos de política urbana do Estatuto da Cidade focada nos segmentos que discutiram o Plano Diretor (governo, movimentos sociais, entidades técnicas acadêmicas e de pesquisa e empresários ligados à produção da cidade). Teve como objetivo nivelar o conhecimento dos delegados do Plano Diretor para que todos tivessem a mesma condição de participação no processo de discussão e negociação coletiva. Introduziu conteúdos mais teóricos relativos ao planejamento urbano, assim como sobre os instrumentos de gestão urbana constantes do Estatuto da Cidade. O processo de discussão do conteúdo do Plano Diretor foi extenso, iniciando-se em 22/08 com a apresentação da proposta do governo. Foi solicitado pelos segmentos sociais uma prorrogação de um mês para que estes pudessem reunir-se entre si, afim de discutir com maior profundidade e autonomia o Texto Base, e assim elaborarem as contrapropostas (foram realizadas cerca de 12 reuniões). A complexidade do tema exigiu uma leitura mais atenta, onde os diferentes segmentos contribuíam, entre si para o entendimento dos demais sobre o texto-base apresentado. A seguir, os segmentos apresentaram duas propostas, e o governo elaborou e apresentou sua Contraproposta, com destaque para os conflitos surgidos. Foi determinada uma agenda para negociação dos conflitos específicos; e durante uma semana foi realizada uma Rodada de Negociação de discussão de conflitos específicos. Estas reuniões foram temáticas: 1ª reunião - Macrozoneamento, zoneamento, uso, ocupação e parcelamento do solo e instrumentos da política urbana; 2ª reunião Regularização dos loteamentos fechados e Sistema de Gestão; 3ª reunião - Sistema Viário; 4ª reunião Zonas de Especial interesse Social, Ambiental, Agrícola e Cultural e 5ª reunião- Novamente a regularização dos loteamentos fechados. Foi realizada uma PRÉ-CONFERÊNCIA, com o objetivo de expor tanto os acordos realizados durante o processo de negociação a serem deliberados na Conferência, quanto o Regimento Interno da I Conferência. Foi também realizada uma palestra com a Prof. Raquel Rolnik, representando o Ministério das Cidades, para o esclarecimento de polêmicas surgidas durante o processo. Na seqüência foi realizada a I CONFERÊNCIA do Plano Diretor, interrompida na data de 21 de outubro por duas liminares judiciais, solicitadas por representantes dos condomínios, que invalidou o processo de votação estabelecido. Foi marcada, então, uma nova data onde se concluiu a votação. Nesta data foi realizada a Deliberação final do texto base do Projeto de 30
5 Lei do Plano Diretor Participativo de Vinhedo e a escolha de uma Comissão de Redação, incumbida de acompanhar o processo de redação da Minuta do Projeto de Lei do Plano Diretor Participativo. Durante este processo foram realizadas também reuniões com a AEVI: Associação dos Empresários de Vinhedo, com o Sindicato Rural, com o Ministério Público e com os vereadores, com o intuito de envolver os diversos agentes no processo. A gestão do Plano Diretor, inicialmente ligada à Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente, foi logo assumida pela Secretaria de Obras e Chefia de Gabinete do Prefeito, esta última responsável pela articulação política dos diversos segmentos sociais. 31
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