O NOVO REGIME DO CONTRATO DE SEGURO. Instituto de Direito do Consumo da. Faculdade de Direito de Lisboa. 28 de Maio de 2008
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- Rui Marreiro Camarinho
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1 O NOVO REGIME DO CONTRATO DE SEGURO Instituto de Direito do Consumo da Faculdade de Direito de Lisboa 28 de Maio de 2008 Minhas Senhoras e meus Senhores A revisão do regime jurídico do contrato de seguro chegou agora a bom termo, fruto conjugado do empenho técnico e da vontade política que permitiram aprovar, em tempo útil, um diploma estruturante para a actividade seguradora e respectiva supervisão. Não posso deixar de reconhecer que a satisfação que em nome do Instituto de Seguros de Portugal me apraz transmitir pela aprovação do novo regime jurídico do contrato de seguro, resulta também da coincidência com os interesses da autoridade de supervisão. Na verdade, os princípios que norteiam o novo regime jurídico do contrato de seguro encontram plena correspondência na missão e no plano estratégico do Instituto de Seguros de Portugal. 1
2 Senão vejamos. É missão do Instituto de Seguros de Portugal assegurar o bom funcionamento do mercado segurador, por forma a garantir a protecção dos tomadores de seguro, segurados e beneficiários. Esta missão é prosseguida quer através da promoção da estabilidade e solidez financeira, quer pela salvaguarda da manutenção de elevados padrões de conduta. O novo regime jurídico do contrato de seguro representa um relevante instrumento que o Instituto de Seguros de Portugal não deixará de rentabilizar na prossecução de três dos seus objectivos estratégicos: - Assegurar a definição e a efectiva implementação de elevados padrões de conduta por parte dos operadores; - Contribuir para a inovação e competitividade do mercado segurador; - Promover a compreensão do funcionamento do sector segurador por parte dos consumidores. Em abono desta afirmação, sublinho os seguintes três princípios do regime jurídico do contrato de seguro: 2
3 1. A consolidação, maior extensão e maior detalhe do regime geral aplicável ao contrato de seguro Deste aspecto resulta, por um lado, a maior certeza do direito aplicável e maior facilidade da sua consulta e, por conseguinte, a sua acrescida acessibilidade, e por outro lado, a maior eficácia das soluções consagradas, porque o facto de constar de lei específica garante a sua maior adequação e estabilidade. Estes dois factores conjugados contribuem para a maior tutela dos direitos das partes e para o aumento da segurabilidade dos riscos. 2. Maior equilíbrio contratual, pela protecção acrescida da parte tida por mais fraca na relação de contrato de seguro (que pode assumir a posição de tomador do seguro, segurado, beneficiário ou terceiro lesado). 3. Um terceiro princípio reporta-se à garantia de condições sãs e adequadas ao desenvolvimento da actividade seguradora, bem como a respectiva inovação, sofisticação e diversificação 3
4 Por um lado, um quadro jurídico-contratual claro, estável e facilmente acessível constitui uma das bases essenciais à promoção e ao desenvolvimento de uma actividade financeira. Acresce que um regime jurídico dotado de maior certeza e de soluções específicas pode mais eficazmente funcionar como parâmetro de avaliação das condições contratuais praticadas pelos seguradores, bem como garantia de condições concorrenciais equitativas. Por outro lado, o regime jurídico do contrato de seguro procurou ainda preservar o desenvolvimento da actividade seguradora em condições conformes à natureza e técnicas próprias da actividade seguradora e proteger o segurador contra comportamentos dolosos do tomador do seguro, do segurado, ou do próprio beneficiário. Em último lugar, há que referir que foram reforçadas as soluções convencionais nos contratos com tomadores de seguro não carecidos de especial protecção (como o serão, em regra, os tomadores de seguros de grandes riscos), potenciando o espaço para o funcionamento da autonomia privada, bem como para maior inovação e sofisticação dos produtos oferecidos e diversificação dos meios utilizados. 4
5 Nestes termos, fácil é de compreender a relevância que o Instituto de Seguros de Portugal atribui ao novo regime jurídico do contrato de seguro pelo contributo directo e decisivo para a eficácia das acções previstas para concretização dos seus objectivos estratégicos. Estes objectivos estratégicos constituem também os princípios basilares que vão nortear a intervenção do Instituto de Seguros de Portugal no âmbito da preparação da futura aplicação do novo regime jurídico e que respeita, por um lado, a iniciativas regulamentares e, por outro lado, à monitorização da implementação pelas empresas de seguros do novo regime jurídico. Em matéria de regulamentação, torna-se essencial rever as apólices uniformes e as condições mínimas respeitantes a seguros obrigatórios emitidas pelo Instituto de Seguros de Portugal, por forma a serem consistentes com o novo regime jurídico do contrato de seguro. Esta revisão, para além de ser imprescindível no domínio dos seguros obrigatórios já regulamentados, apresenta uma relevância que os transcende, uma vez que ao traduzir o regime legal em clausulado concreto, funciona como parâmetro e opção interpretativa cuja aplicação se pode difundir a outros seguros obrigatórios não regulamentados e mesmo a seguros facultativos. 5
6 Em matéria de monitorização da implementação dos sistemas e procedimentos necessários ao cumprimento integral e adequado dos deveres resultantes do regime jurídico do contrato de seguro, cabe referir que é intenção do Instituto de Seguros de Portugal pôr em prática o que se pode designar como supervisão preventiva. Assim, pretende-se que um Grupo de Trabalho ISP/APS constituído expressamente para preparar a futura aplicação do novo regime jurídico funcione como fórum apto a veicular as principais dificuldades que as empresas de seguros experimentem durante o processo de preparação para o período pós-entrada em vigor do novo regime jurídico. Caso se revele necessário, caberá ao Instituto de Seguros de Portugal emitir circulares interpretativas ou linhas de orientação que, ainda que sem valor normativo, possam servir de orientação ao mercado quanto a aspectos mais complexos ou que carecem de uma abordagem convergente (até para garantir condições concorrenciais equitativas). A análise do novo regime jurídico permite eleger, a título preliminar, como áreas principais que exigem esforços adicionais de adaptação pelas empresas de seguros, essencialmente as seguintes: 6
7 a) Ao nível pré-contratual, três aspectos relevam, por confronto com o regime vigente e reclamam atenção particular das empresas de seguros: a uniformização e extensão do conteúdo mínimo do dever de informação pré-contratual a cargo do segurador; a previsão de um dever geral de esclarecimento do tomador do seguro acerca das modalidades de contratos mais convenientes para a cobertura pretendida, e o regime de incumprimento dos deveres de informação pré-contratual que alarga o âmbito de aplicação a todos os contratos do correspondente direito do tomador do seguro à resolução do contrato e à devolução da totalidade do prémio pago, desde que o incumprimento tenha razoavelmente afectado a decisão de contratar ou não tenha sido accionada a cobertura por terceiro; - No domínio da formação do contrato, há que atender ao novo regime de declaração inicial do risco que implica diligência acrescida do segurador para garantir o rigor das informações a prestar pelo tomador do seguro. Por outro lado, importa assinalar a cisão do regime aplicável em caso de incumprimento do dever de declaração inicial do risco, distinguido-se as situações de dolo ou de negligência e, em particular, a previsão de um requisito de causalidade, neste último caso; 7
8 - No domínio da formalização do contrato, importará reter que o novo regime jurídico embora reconhecendo o carácter não formal do contrato de seguro, não deixa de atribuir consequências jurídicas bastante significativas à entrega da apólice de seguro, circunstância que exige do segurador a operacionalização de procedimentos eficazes que lhe permitam cumprir atempadamente as obrigações subjacentes; - Em termos do conteúdo da apólice de seguro, ainda que o elenco dos elementos mínimos que da mesma devem constar não verifique alterações significativas face ao regime vigente, é de assinalar a obrigatoriedade de inclusão das cláusulas que se reputam mais relevantes da perspectiva da compreensão da cobertura, das condições e deveres inerentes ao contrato em caracteres destacados e de maior dimensão do que os restantes. Por outro lado, o incumprimento pelo segurador das regras relativas ao texto da apólice determina, em termos inovadores face ao regime vigente, o direito do tomador do seguro resolver o contrato nos termos previstos para o incumprimento dos deveres de informação pré-contratuais, e o direito de exigir a correcção da apólice; 8
9 - Em matéria de alterações supervenientes do contrato, deve anotar-se a extensão a todos os contratos de seguro do dever de comunicação pelo segurador das alterações do risco respeitantes ao objecto das informações pré-contratuais. E quanto aos deveres de comunicação do tomador do seguro em caso de agravamento do risco há que sublinhar a cisão do regime do incumprimento do dever de comunicação do agravamento ao segurador, atenuando a sanção no caso do incumprimento devido a mera culpa e prevendo o requisito da causalidade como condição de invocação pelo segurador do incumprimento do dever de comunicação do agravamento do risco para reduzir ou recusar a cobertura do sinistro verificado após o agravamento. Termino sublinhando que se muito trabalho foi já produzido, muito será ainda necessário para que o novo regime jurídico do contrato de seguro possa cumprir as expectativas de maior eficácia, equidade, transparência e dinamismo do mercado segurador. No que respeita à autoridade de supervisão apenas posso reafirmar o empenho em continuar a contribuir proactivamente para que isso seja uma realidade. 9
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