CECIS, LABES e a elaboração de materiais de divulgação científica
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- Maria do Loreto Leão Braga
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1 Estimulando crianças a práticas preventivas da dengue: o desenho de animação como recurso para mobilização Mariana de Queiroz Bertelli, Héliton da Silva Barros, Felipe Kolb Bernardes, Virgínia Torres Schall Centro de Pesquisa René Rachou, Fundação Oswaldo Cruz/MG. mbertelli@cpqrr.fiocruz.br marybertelli@terra.com.br Palavras chave: animação, dengue, educação em saúde CECIS, LABES e a elaboração de materiais de divulgação científica Criado pelo Laboratório de Educação em Saúde (LABES) do Instituto René Rachou FIOCRUZ/MG, o CECIS - Centro de Educação, Ciência e Saúde é um centro de ciência cujas atividades abordam temas relativos às ciências da saúde de maneira dinâmica e lúdica por meio de exposições interativas, peças teatrais e oficinas sobre importantes doenças tropicais. Entre as atividades desenvolvidas destaca-se a produção de materiais e estratégias educativas voltadas para a divulgação científica na área saúde e ambiente. O presente estudo apresenta o processo de criação de um desenho animado sobre dengue e os pressupostos utilizados para o desenvolvimento do material. Animação sobre práticas preventivas da dengue As aplicações e potencialidades das Tecnologias da Informação e Comunicação TIC - têm sido amplamente discutidas na última década. As discussões têm como alvo as múltiplas possibilidades de interação, mediação e expressão de sentidos propiciados pela flexibilidade de usos e pela diversidade de discursos e recursos disponíveis (textuais, visuais e sonoros). No âmbito educacional, reconhece-se e problematiza-se sobre as contribuições dessa nova estrutura de informação e comunicação para a ampliação ou renovação da produção de conhecimento. (Morais et al. 2006) Em trabalho sobre as experiências de crianças com a comunicação televisiva, Esperança e Dias (2008) lembram como a presença dessas tecnologias no cotidiano desses meninos e meninas alterou suas formas de socialização e de acesso ao conhecimento. Segundo as autoras, essas tecnologias têm se constituído em espaços de aprendizagem, através dos quais as crianças aprendem sobre modos de ser e sobre estilos de vida, desejáveis do ponto de vista da publicidade e do entretenimento. A comunicação no processo social e educativo e os elementos lúdicos têm sido enfatizados nos desenhos animados, utilizados há décadas como instrumento de entretenimento para crianças e jovens. Apesar da importância desses fatores serem contemplados nos desenhos, é preciso reconhecer que o divertimento proporcionado por esse recurso áudio-visual não é vazio de conteúdos simbólicos. Nesses produtos, o lúdico é sempre envolvido por outros conteúdos, sejam eles político, cultural, social, religioso e/ou econômico (Siqueira, 2002). Dessa maneira, a produção de uma animação sobre práticas preventivas da dengue procura explorar a diversidade de discursos e recursos para oferecer aos espectadores conteúdos e mensagens que proporcionem acesso ao conhecimento cientificamente correto associado às reflexões sobre aspectos sociais, econômicos e ambientais da endemia. O tema foi escolhido a partir da importância da doença como problema de saúde pública. Tal produção fundamenta-se na experiência do LABES em pesquisas
2 nessa área e na importância do público-alvo, as crianças, para as ações de prevenção. Com suas curiosidades natas, elas fazem parte da sociedade e influenciam as visões e os valores de suas famílias e da comunidade. Nesse sentido, esse público tem muito a contribuir e deve ser incentivado inclusive a participar das questões relacionadas à saúde pública. Pressupostos A criação da animação privilegiou o uso de informações cientificamente corretas sobre hábitos, morfologia e outras características do ciclo de vida do vetor da doença, o mosquito Aedes aegypti. Para a construção do roteiro, procurou-se trabalhar com linguagem adequada ao público-alvo - predominantemente alunos de ensino fundamental e médio - e com personagens de idade, vivências e realidades ambientais próximas às dos jovens visitantes do CECIS. Assim, procura-se reproduzir ambientes que remetem ao cotidiano dos espectadores. Temáticas As situações abordadas nas cenas remetem a temáticas envolvidas com a questão da dengue e que foram selecionadas de acordo com as experiências da equipe envolvida na produção da animação. Nas várias participações em eventos de divulgação científica, componentes da equipe puderam conhecer as lacunas de conhecimento e principais dúvidas dos participantes das atividades. Também foram contempladas questões referentes a comportamentos e dúvidas de moradores da cidade de Belo Horizonte, observadas nos trabalhos de campo em visitas domiciliares em que membros da equipe de produção do vídeo participaram como integrantes de outros projetos de pesquisa do LABES. Determinantes ambientais da urbanização da doença e do mosquito A primeira parte da animação remete a questões ambientais da urbanização da doença e do mosquito Aedes aegypti. Em uma cena que acelera o tempo, a floresta, habitat natural de diversos seres vivos, vai sendo substituída pelo ambiente urbano. Como conseqüência, os seres fogem ou desaparecem da mata e os mosquitos acabam por se espalharem pela cidade, adaptando-se à condição urbana (figuras 1 e 2). Figuras 1 e 2: Imagens que remetem à urbanização da dengue e à situação das residências nas cidades Ciclo de vida do mosquito e similaridade com outros ciclos Na medida que se busca estimular ações de prevenção nos espectadores da animação, parte-se do pressuposto de que é preciso conhecer para se combater. Assim, a segunda temática abordada é do ciclo de vida do mosquito vetor da
3 dengue. As quatro fases do ciclo do Aedes são apresentadas e comparadas com as fases do ciclo de vida da borboleta, em geral mais conhecido pelo público (figuras 3 e 4). Figuras 3 e 4: Personagens dialogam sobre a metamorfose completa do Aedes aegypti e da borboleta Estímulo à pesquisa de focos: como, onde e o que procurar A terceira temática abordada é a da investigação de possíveis focos do mosquito. Os personagens da animação procuram por focos no domicílio e encontram ovos, larvas e pupas em diversos locais (figuras 5, 6, 7 e 8). Em conjunto com a temática sobre ciclo de vida, esse tema da animação busca estimular a pesquisa domiciliar consciente, de forma a elucidar onde e o que será procurado no ambiente domiciliar. Figura 5: Investigação de uma poça d'água Figura 6: Busca por focos nos pneus e no lixo Figura 7: Busca por focos em pratos de vasos de plantas Figura 8: Lona cobrindo carro com água empoçada Estimulando o combate ao mosquito A partir da descoberta dos focos na residência, os personagens buscam a ajuda do pai para limpar os recipientes criadouros, eliminando a água parada e o Aedes aegypti. Tirinhas contam como cada foco pode ser eliminado, como mostra a figura 9.
4 Figura 9: Pai dos personagens coloca água sanitária no ralo Mobilização e envolvimento da comunidade A partir da constatação de que a vizinhança também pode ter focos do mosquito da dengue, os personagens propõem a mobilização da turma de amigos para envolver a comunidade no combate aos criadouros do Aedes (figura 10). Assim, busca-se estimular a participação coletiva e a mobilização comunitária na investigação de focos do mosquito e na organização e limpeza do espaço domiciliar. Conclusões Figura 10: A turma do bairro sai em passeata para tentar mobilizar a comunidade A criação dessa animação interativa e lúdica e sobre a prevenção domiciliar da dengue tem como base os pressupostos utilizados para o desenvolvimento das atividades do CECIS, que procuram estimular uma atitude reflexiva e responsável para com a vida, os outros e a natureza (Schall, 2005). Além disso, sua temática é relevante e focaliza os principais riscos de transmissão da dengue a partir da reprodução de situações reais na animação. A partir do desenho animado busca-se não só abordar o fato ou fenômeno científico, mas, principalmente, contextualizá-lo e promover a reflexão sobre o alcance social de suas utilizações e conseqüências. Pretende-se, então, incentivar os espectadores à investigação de seus domicílios e estimular a organização do ambiente domiciliar como possibilidade de intervenção simples e para o combate ao mosquito. Nesse sentido, acreditamos que: A criança, quanto mais seja tratada como indivíduo, com algo a oferecer à comunidade na qual se encontra na qualidade de criança, mais útil poderá tornar-se quando adulta; quanto mais se lhe permitir o uso da experiência direta, tanto melhor aprenderá a aprender. Assim sendo, tanto mais adaptável se tornará às transformações da vida. (VERSIANI CUNHA apud SIQUEIRA, 2002).
5 O desenvolvimento desse desenho também é uma oportunidade para a atuação da equipe transdisciplinar do CECIS, que conta com profissionais das áreas humanas, biológicas e artes visuais. A equipe envolvida na concepção e na execução da animação incorpora elementos trazidos pelas diversas áreas do conhecimento, em uma construção coletiva e fruto de experiências diversificadas. Referências ESPERANÇA, J. A. e DIAS, C.M.S. Das infâncias plurais a uma única infância: mídias, relações de consumo e construção de saberes. Educação, Santa Maria, v. 33, n. 1, p , jan./abr MORAES, R.A; DIAS, A.C. e FIORENTINI, L.M.R. As Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação: as perspectivas de Freire e Bakhtin. Unirevista, Vol. 1, n 3 : (julho 2006). SCHALL, VT. Histórias, jogos e brincadeiras: alternativas lúdicas de divulgação cientifica para crianças e adolescentes sobre saúde e ambiente.. In: MASSARANI, L. (org.). O pequeno cientista amador. Rio de Janeiro: Vieira & Lent Casa Editorial, 2005, v. 1, p SIQUEIRA, D.C.O. Ciência e poder no universo simbólico do desenho animado. In: MASSARANI, L; MOREIRA, I.C e BRITO, F.(org.). Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil. Rio de Janeiro: Casa da Ciência Centro Cultural de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Forum de Ciência e Cultura, 2002, p Financiamento: FAPEMIG
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