Política Externa Chinesa após 1980: uma acensão pacífica, por Lidiane Pascoal da Silva
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1 Política Externa Chinesa após 1980: uma acensão pacífica, por Lidiane Pascoal da Silva Este artigo visa analisar as principais características da política externa da China, principalmente a partir da década de 1980, e como se dá a ascensão dessa potência na configuração do sistema internacional contemporâneo. Com isso, pretende-se averiguar quais as assertivas que permitem certificar que a China adota uma postura pacífica em sua recente ascensão. Assim, objetiva-se enfatizar as variáveis internas como principais fatores que condicionam o comportamento da China no cenário internacional. Deste modo, opta-se por analisar, a partir do liberalismo contemporâneo, como se estabelece a atuação da China no cenário atual. A importância do liberalismo para esta análise reside no fato de que tal teoria corresponde como uma das bases da Análise de Política Externa e as suas premissas são aplicáveis nas relações internacionais (SALOMÓN e PINHEIRO, 2013). Conforme estas autoras, o conflito recorrente entre Estados é evitável, a cooperação é possível, e o indivíduo, agindo por meio de instituições, é o principal agente de mudança na política internacional. (2013, p. 45). Ainda nesse contexto, a teoria liberal considera os fatores domésticos como variáveis relevantes para a implementação de política externa. Passa-se a considerar, então, as motivações e grupos de interesse no interior do Estado e, a partir daí, o Estado lança suas demandas no sistema internacional. No entanto, é importante notar que não se desconsidera a relevância dos fatores sistêmicos (SALOMÓN e PINHEIRO, 2013). Apenas não atribui a estes o destaque feito pelos realistas no que toca a anarquia internacional e o condicionamento dos Estados à estrutura, o que suscita conflitos permanentes. As correntes realistas, na sua maioria, atribuem pouca
2 importância ao cenário doméstico, uma vez que os Estados moldam seu comportamento conforme a estrutura internacional (MEARSHEIMER, 2007). POLÍTICA EXTERNA DA CHINA E A INFLUÊNCIA DO CENÁRIO DOMÉSTICO Para a compreensão de como ocorre a implementação da política externa chinesa, primeiro é necessário ressaltar as principais proposições da teoria liberal das relações internacionais. O liberalismo apresenta o nível de análise focado no cenário doméstico, uma vez que há uma relevância na política interna dos países já que a mesma pode determinar a tomada de decisão da política externa (NYE, 2009). À vista disso, tal teoria, então, parte do pressuposto que a forma como um Estado está estruturado internamente, constitui-se um fator relevante que influência o comportamento dos Estados no sistema internacional. Diante do exposto, o foco da China no comércio é de fundamental importância, visto que teóricos do liberalismo observam que o direcionamento para o comércio promove o desenvolvimento do país e, o mesmo não considerará a guerra como fator relevante, pelo contrário, a guerra prejudica o comércio internacional. Como salienta NYE (2009, p. 55), O comércio oferece aos estados um meio de transformar sua posição por intermédio do crescimento econômico em vez de por intermédio das conquistas militares. No aspecto político, o liberalismo enfatiza a importância das instituições e do comércio, diminuindo os efeitos da anarquia e promovendo um ambiente estável e de paz como solução para o conflito (NYE, 2009). Assim, para êxito no desenvolvimento, segundo teóricos liberais, a China deve adotar valores tais como democracia e direitos humanos, bem como focar nas instituições como forma de assegurar a estabilidade do sistema. Ainda sobre o assunto, a República Popular da China é caracterizada por um regime político fechado e ditatorial. O Partido Comunista da China (PCC) é responsável pela
3 implementação da política externa chinesa. Devido a esse sistema político fechado, não se tem, ao certo, uma compreensão das motivações internas referentes ao processo decisório e dos atores envolvidos na implementação da PEx. Contudo, identificam-se três grupos de pressão empresários, militares e intelectuais que agem com o intuito de pressionar o governo e influenciarem na tomada de decisão (MENDES, 2008). No entanto, o PCC é o ator principal no processo de decisão da PEx chinesa que baseia-se na independência nacional e soberania do estado (LYRIO, 2010). Dessa forma, é importante notar que a partir de 1973, com a ascensão de Deng Xiaoping para assumir as posições de primeiro-ministro, vice-presidente do PCC e comandante geral das Forças Armadas (GALVÊAS, 2007), percebe-se reformas significativas e determinantes na política interna e externa do país. Em linhas gerais, essas reformas estão relacionadas com a promoção de uma abertura econômica e, com isso a preconização pela entrada de investimentos estrangeiros no país. Assim, em 1992, como observa Galvêas (2007, p. 40), a China conseguiu os melhores índices mundiais, em três importantes setores: crescimento econômico, exportações e captação de investimentos estrangeiros. Ademais, a economia chinesa vem crescendo com taxa média anual de aproximadamente 10%. Diante da abertura para a economia de mercado e com as capacidades materiais de extenso território (9,561 milhões de km²) e grande população (cerca de 1,3507 bilhões), pode-se considerar que a China atingiu o status de potência econômica hegemônica capaz de superar os EUA (ARRIGHI, 2008). A ascensão econômica da China está baseada na abertura para o livre comércio e na atração de capitais estrangeiros através do estabelecimento das zonas livres de impostos aduaneiros (SHI, 1998, p. 50). O que tem fomentado a instalação de diversas empresas estrangeiras no país. Dada tais considerações da estrutura interna da China, a
4 política externa chinesa é definida como pacífica, de independência e de conformação de sua soberania. Não há um alinhamento claro com outros países e busca contrabalançar a hegemonia dos EUA, bem como a posição deste pautada em ações agressivas. Pretende-se ainda prezar pela cooperação e paz mundial porque dessa forma, o país conseguirá efetuar as modernizações no seu interior (SHI, 1998). Percebe-se, então, as premissas básicas do liberalismo sendo fortemente adotadas pela China, uma vez que as motivações internas têm influenciado a atuação da China no sistema internacional. O que embasa ainda esse aspecto pacífico é a posição no que toca o relacionamento com os países. Assim, a China preza pela cooperação sul-sul e a manutenção de relações pacíficas com países ao seu entorno (CARLETTI, 2012). Com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), houve uma maior participação chinesa nesta e em outras organizações internacionais. O que modela ainda mais a tentativa da República Popular da China de assegurar a sua participação e projeção no cenário internacional e garantir seu crescimento pacífico. Como considerações finais, é importante notar que desde o final da década 1970 a China começou a passar por mudanças significativas na sua estrutura interna, o que provocou uma abertura de mercado mediante a necessidade de modernização do país. Com isso, a China adquiriu o status de potência econômica mundial. Diante do exposto, salienta-se que a política externa da China baseia-se na teoria liberal e nos aspectos que compõem seu cenário doméstico. No entanto, admite-se as limitações dessa teoria por embasar a análise demasiadamente no ambiente interno e não atentar-se de forma devida as variáveis sistêmicas que afetam o comportamento dos países. Nessa perspectiva, percebe-se que é um cenário complexo, sem respostas e consensos definidos, o que vale salientar que uma teoria por si só não é capaz de analisar satisfatoriamente os fenômenos e constantes mudanças no
5 sistema internacional. Lidiane Pascoal da Silva é aluna do programa de Mestrado em Ciência Politica pela Universidade Federal de Pernambuco. Como citar este artigo:. "Política Externa Chinesa após 1980: uma acensão pacífica, por Lidiane Pascoal da Silva". Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, [acessado em 31/01/2017]. Disponível em: <
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