RELATÓRIO INTERCÂMBIO ACADÊMICO

Transcrição

1 RELATÓRIO INTERCÂMBIO ACADÊMICO Eduardo M. Kalache Matrícula: Curso de Direito No início do ano de 2013, quando estava cursando o 6º período do curso de Direito Noturno, surgiu a ideia de realizar um intercâmbio acadêmico pela PUC, na Europa. Já havia passado por uma experiência semelhante, antes de ingressar no curso de direito da PUC, quando fiquei cinco meses na Europa fazendo mochilão, mas dessa vez estava à procura de alguma experiência diferente, com mais responsabilidade e um pouco menos de diversão. À medida que a ideia foi se solidificando em minha cabeça, procurei conversar com alguns amigos (todos do curso de direito) que já haviam participado do programa de intercambio pela faculdade. A partir das histórias e dicas contadas, optei por me candidatar para a vaga oferecida na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa recentemente escolhida a melhor universidade do país e uma das melhores da Europa. Após a aprovação, minha primeira preocupação foi conseguir o mais rápido possível um lugar para morar durante os seis meses que iria passar em Portugal. Assim é que entrei em contato com uma amiga que estava morando em Lisboa e participando do programa de intercambio acadêmico oferecido pela PUC, em convenio com o curso de arquitetura. A boa notícia é que minha amiga possuía contrato de locação em um apartamento (quarto e sala) até o fim de janeiro, ao passo que o meu curso tinha início apenas em fevereiro. Por isso, tive a ideia de alugar o apartamento logo após a saída de minha colega. Entrei em contato com a locadora, paguei a primeira mensalidade adiantada e assinei o contrato de aluguel do apartamento, localizado na praça do Rossio em Lisboa, pelo prazo de seis meses. Tendo em vista que o contrato só se iniciava em fevereiro e, por outro lado, eu queria ir para a Europa logo no início de janeiro, resolvi fazer uma viagem de três semanas antes de me instalar em Lisboa. Combinei com dois

2 amigos que já estavam morando na Europa e resolvemos em conjunto passar uma semana e meia na Espanha e mais doze dias na Turquia. Cheguei durante o inverno na Europa, mas aproveitamos muito a viagem e, dentre as cidades visitadas, fiquei admirado com a cultura de Istanbul e a beleza natural da região da Capadócia. De volta a Lisboa, no início de fevereiro, entrei oficialmente no meu apartamento. Localizado entre as estações de metrô do Rossio, Avenida Restauradores e do Bairro Alto, posso dizer que fiquei em lugar privilegiado, com vista direta para o Castelo de São Jorge. O apartamento ficava no 5º andar de um prédio rústico (tombado pelo governo local) e, apesar de não possuir elevador no prédio, era bastante aconchegante. Com um quarto, uma pequena sala e uma cozinha com banheiro, não precisava de mais nada. Como não haveria aula nas duas primeiras semanas de fevereiro, aproveitei para conhecer melhor a cidade, localizar a farmácia e supermercados mais próximos, bem como compareci ao Consulado brasileiro para notificar minha chegada e fazer a minha inscrição nos quadros de brasileiros residentes em Portugal. Aproveitei também para fazer o cartão de transporte para estudantes, através do qual você pagava uma taxa mensal de aproximadamente 50 euros e tinha acesso ilimitado ao metrô, ônibus e carris (bonde) de Lisboa. Como o transporte público era excelente, inclusive funcionava até o início da madrugada, quase não havia necessidade de me locomover de taxi ou carro. Após as duas semanas de adaptação em território português, fui pela primeira vez à Faculdade de Direito para realizar o procedimento definitivo de inscrição e matricula nas disciplinas desejadas, conforme instruções recebidas por . A cerimônia de recebimento era exclusiva para alunos brasileiros e, em poucos minutos fiz amizade com algumas pessoas do Rio Grande do Sul, do Paraná e do Rio de Janeiro. Fomos então recebidos pelo diretor do Departamento de Direito da FDUL, Professor Vasco, e pela Dra. Rosa, chefe do gabinete Erasmus. Passaram-nos algumas informações sobre o cotidiano da faculdade, métodos de avaliação, localização da biblioteca, cafeteria e refeitório etc. Depois de finalizada as formalidades, passamos à inscrição nas disciplinas oferecidas pela faculdade, as quais nós já havíamos requerido inscrição prévia através de . Por sorte, consegui me inscrever em todas

3 as matérias desejadas, quais sejam: Direito Comparado, Direito do Urbanismo, História das Relações Internacionais e Direito Ambiental. Optei por cursar tais disciplinas, pois ainda não havia cumprido as mesmas no currículo da PUC e, de igual modo, consegui aprovação do departamento de Direito da PUC para aproveitamento de créditos de tais disciplinas. Logo na semana seguinte, as aulas tiveram início e, de cara, pude perceber uma diferença muito grande com o sistema de ensino brasileiro. Em Portugal, as matérias são divididas em quatro aulas por semana: duas destinadas às aulas teóricas e duas destinadas às aulas práticas. As aulas teóricas não possuíam presença obrigatória e costumavam ser ministradas por um Professor mais velho, de grande renome na faculdade. Por outro lado, as aulas práticas possuíam presença obrigatória e consistiam na redação de peças processuais, pesquisas e realização de trabalhos na sala de aula. Normalmente eram ministradas por professores mais jovens, recém formados no curso de Mestrado ou Doutorado. De toda forma, a despeito de as provas serem elaboradas e aplicadas pelos professores das aulas práticas, as notas e sistemas de avaliação ficavam a cargo do professor titular, ou seja, o que dava as aulas teóricas. Os alunos poderiam optar por dois métodos de avaliação. No meu caso, optei pelo método nº 2. De acordo com este método, o aluno era obrigado a obter presença de no mínimo 75% das aulas práticas e, ao final do período, obter grau 10 (sobre 20) em prova única. Em caso de não ser atingido o grau 10, os alunos teriam a oportunidade de fazer prova de recuperação/melhoria de nota, na qual deveriam tirar grau superior a 12. As provas foram marcadas com antecedência para a última semana do mês de maio, ou seja, se fossem cumpridos os requisitos de aprovação, entraria de férias já no início de junho. Aos poucos fui fazendo novas amizades, com brasileiros e portugueses da faculdade e me acostumando com a cultura local. Os portugueses, apesar de serem muito fechados e extremamente cordiais, também eram bastante simpáticos e receptivos com os alunos brasileiros. As festas para os alunos, tanto dentro da própria faculdade quanto fora dela, eram constantes. Alunos erasmus tinham direito a entrar gratuitamente em determinadas boates todos

4 os dias da semana, semanalmente havia jogo de futebol para os alunos estrangeiros, passeios e excursões para outras cidades de Portugal. Não demorei muito para perceber que o custo de vida em Portugal é extremamente menor do que o custo de vida no Rio de Janeiro. Desde compras no supermercado até custo de vida noturna, transporte público, restaurantes e até mesmo em lojas, os preços não se comparavam com aqueles praticados no Brasil. Posso dizer que, em razão desses fatores, minha adaptação foi extremamente rápida e natural. Durante o período letivo, tive a oportunidade de fazer algumas viagens curtas como, por exemplo: para Sevilha (na Espanha), Coimbra (para o festival semestral da queima das fitas festival de formatura de uma das Universidades mais antigas do mundo), para Porto, Sintra e Cascais. Já no feriado da Páscoa, o qual teve duração de uma semana, fui para a Polônia visitar um tio brasileiro que reside em Varsóvia. Nesse período, recebi a visita de minha mãe e de um dos meus irmãos, os quais se hospedaram em meu apartamento. Por outro lado, era constante a recepção de amigos brasileiros, ainda que por um fim de semana, que estavam estudando em outros países da Europa. As aulas demandaram mais preparo e dedicação do que o esperado, especialmente em razão da legislação absolutamente nova que tínhamos que lidar todos os dias, e dos trabalhos realizados diariamente nas aulas práticas da faculdade. A despeito disso, fiz as provas relativamente bem, inclusive me destaquei entre os alunos na matéria de Direito Comparado e História das Relações Internacionais. Em maio, ao final do semestre, fui aprovado em todas as disciplinas, sem necessidade de fazer prova de melhoria de nota/recuperação. Por conta disso, ganhei 4 semanas extras para viajar antes de regressar ao Brasil.Na última semana de maio fiz uma das viagens mais incríveis da minha vida: Islândia. Viajei acompanhado de 3 amigos que estavam estudando em Londres, alugamos um mini trailer e circulamos a ilha durante uma semana. A diversidade de paisagens naturais me encantou e, em poucos dias, consegui escalar um vulcão ativo; escalar a maior geleira do continente europeu; mergulhei em termas naturais com águas vulcânicas, vi o sol da meia noite etc.

5 Retornando a Portugal, aproveitei as últimas semanas para fazer uma nova viagem a Sintra, que me deixou encantado, e passei uma semana em um apartamento alugado na cidade de Lagos, na região de Algarve. A região é famosa pelas belas praias do mar mediterrâneo e as formações rochosas na costa. Foi com muitos pesares que, após essa viagem, retornei ao Brasil para assistir a Copa do Mundo, conforme planejei no ano anterior. Após essa experiência maravilhosa, posso concluir que os pontos positivos de estudar em Portugal são infinitamente superiores aos pontos negativos. De imediato, o único ponto negativo que me vem a mente é o fato de já saber falar o idioma local. Caso tivesse optado por viajar para outro país, provavelmente aprenderia mais um idioma. De toda forma, os portugueses são pessoas incríveis e receptivas; a comida é ótima e barata, além de ser parecida com a comida brasileira; os preços são imbatíveis; Portugal é um bom ponto de partida para se visitar outros países europeus; a faculdade era extraordinária tanto em relação aos professores quanto em relação à infraestrutura; o clima em Portugal é melhor do que nos países do norte europeu; a cultura portuguesa é muito rica e o país oferece muito para aproveitar. A viagem foi extremamente importante para o meu crescimento pessoal e amadurecimento. Viver sozinho é uma experiência gratificante, especialmente quando se está em outro país, sem a companhia de nenhum familiar ou amigo próximo. Acredito que isso nos dá uma liberdade enorme e, ao mesmo tempo, nos obriga a ser mais responsáveis. Hoje, mais do que nunca, fico feliz por não ter desistido de realizar o intercambio acadêmico pela PUC. Como já estou trabalhando e próximo de minha formatura, sinto que foi a última oportunidade na vida de participar de uma experiência destas, a qual não me arrependo nem um pouco.

6 Amigos brasileiros Vista do apartamento para o Castelo de São Jorge.

7 Festival da Queima das Fitas - Coimbra Fim de semana no Porto