Ofício 03/2013 Balneário Camboriú, 19 de fevereiro de 2013.
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1 Ofício 03/2013 Balneário Camboriú, 19 de fevereiro de Da Ao Exmo. Vereador Nilson Frederico Probst Presidente Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú Assunto: Análise do Projeto de Lei 0131/2012 e Requerimento de Plano Municipal de Mobilidade Sustentável A ACBC vem acompanhando a tramitação do Projeto de Lei 0131/2012 que Dispõe sobre o trânsito e usos de bicicletas, skates, triciclos, patinetes motorizados, patins e similares, e dá outras providencias de vossa autoria. Visando contribuir com nossos objetivos comuns do mandato, da Associação e de outras instituições de democratizar a mobilidade urbana de nosso município e de proporcionar conforto e segurança aos usuários de todos os meios de transporte, neste documento apresentamos uma análise avaliativa do referido PL e uma proposta de alteração nos procedimentos para o alcance destes objetivos. 1) Do mérito do PL 0131/ ) O PL apresenta propostas para disciplinar o trânsito de veículos e equipamentos auxiliares à mobilidade visando a própria segurança dos seus usuários, a segurança dos pedestres e a fluidez do tráfego dos veículos motorizados; 1.2) O PL aborda veículos e equipamentos que frequentemente são desconsiderados pelo planejamento urbano e pelo tratamento legislativo; 1.3) O PL aborda veículos e equipamentos que são utilizados por crianças e adolescentes, os quais frequentemente não são contemplados pelo planejamento urbano e pelo tratamento legislativo sobre a matéria; 1.4) Entretanto, o PL não leva em consideração a carência de condições estruturais (em quantidade e qualidade) oferecidas pela municipalidade aos usuários destes veículos e equipamentos de esporte e de lazer, sendo que a carência de vias ciclísticas exclusivas, estruturas de acalmação do trânsito, sinalização viária, praças, parques e pistas próprias também está na origem dos eventuais comportamentos inadequados destes usuários; 1.5) O poder executivo também não oferece ao legislador, tampouco à sociedade civil, um diagnóstico sobre a realidade da mobilidade urbana, tampouco um planejamento a médio e longo prazos, com garantias de execução, para proporcionar segurança e conforto aos meios de transporte não motorizados, sendo que a infraestrutura cicloviária atual ficará ainda mais sobrecarregada se a ela forem destinados todos os equipamentos de que trata o PL; 1
2 1.6) Os cidadãos em geral e aqueles que são objeto do PL não dispõem de programas permanentes e suficientemente eficientes de fiscalização viária e de educação para o trânsito que garantam a prioridade dos pedestres e dos ciclistas no trânsito e que os orientem sobre o comportamento adequado no trânsito; 1.7) A cidade não possui legislação que regule, de forma integrada, todos os meios de transporte e a infraestrutura de mobilidade urbana, tampouco legislação específica que promova a sustentabilidade, a igualdade de acesso e a prioridade ao transporte público e aos meios de transporte não motorizados; 1.8) Desta forma o PL imputa culpa e aplica penalidades àqueles que têm sido historicamente lesados pela falta de condições estruturais, legais e educacionais para que possam usufruir plenamente de seus direitos e cumprir corretamente com seus deveres de cidadãos; 1.9) Como resultado, o PL desestimula os cidadãos, desde a tenra idade, a fazerem uso de meios de transporte não motorizados, justamente os meios que promovem a democratização do espaço urbano, a dessaturação do trânsito, a poupança do erário, a qualidade ambiental, a autonomia de deslocamento, a economia da renda familiar e a saúde pessoal. 2) Da legalidade do PL 0131/ ) Fazendo interface com as questões de mérito, é necessário considerar que o PL restringe e penaliza usuários de bicicletas e de equipamentos auxiliares à mobilidade ciclistas antes da municipalidade cumprir o 2º do Art. 1º do Código de Trânsito Brasileiro (CTB - Lei 9.503/1997), segundo o qual o trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito ; 2.2) O PL propõe punir os elementos mais vulneráveis do trânsito antes que o poder judiciário faça cumprir o 3º do Art. 1º do CTB, segundo o qual os órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito respondem, no âmbito das respectivas competências, objetivamente, por danos causados aos cidadãos em virtude de ação, omissão ou erro na execução e manutenção de programas, projetos e serviços que garantam o exercício do direito do trânsito seguro ; 2.3) Também fazendo interface com as questões de mérito, é mister constatar que o PL adota uma perspectiva oposta ao que preconiza a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU - Lei /2012), cuja aprovação PL fatalmente entrará em choque com o Plano Municipal de Mobilidade Urbana a ser elaborado por Balneário Camboriú em breve por exigência do Art. 25 da mesma Lei; 2.4) Dentre outros, cabe citar os seguintes elementos da Política Nacional de Mobilidade Urbana que confrontam com o teor geral do PL em análise: 2.4.1) Ter por diretriz a prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados e dos serviços de transporte público coletivo sobre o transporte individual motorizado (inciso II do Art. 6º); 2
3 2.4.2) Contribuir para o acesso universal à cidade (Art. 2 ); ter por princípio o desenvolvimento sustentável das cidades, a equidade no uso do espaço público, a gestão democrática da mobilidade urbana e a segurança nos deslocamentos das pessoas (incisos II, III, V e VI do Art. 5º); ter como objetivos promover o acesso aos serviços básicos e equipamentos sociais e proporcionar melhoria nas condições urbanas da população no que se refere à acessibilidade e à mobilidade (incisos II e III do Art. 7º). 2.5) No que diz respeito especialmente à bicicleta, o PL contém artigos que já estão contemplados, ainda que com outra redação, no Código de Trânsito Brasileiro (CTB - Lei 9.503/1997), não cabendo, portanto, a uma legislação municipal repeti-lo: 2.5.1) Art. 3 - O trânsito de bicicletas [...] obedecerá as seguintes regras: II - o condutor deverá conduzir seu equipamento com a atenção e os cuidados indispensáveis a segurança do trânsito (Art. 28 do CTB e outros); III - diante de escolas, logradouros estreitos, local onde haja grande movimentação de pedestres, deverá o condutor transitar em velocidade compatível com a segurança (Art. 220, 311 e outros do CTB); IV - obedecer a sinalização (diversos artigos do CTB); V - guardar distância de segurança do veículo que seguir imediatamente a frente (inciso II do Art. 29, Art. 201 e outros do CTB). Parágrafo único: O condutor desmontado, com bicicletas, skates, triciclos, patinetes motorizados, patins e similares, equipara-se a pedestre em direitos e deveres ( do Art. 68 do CTB ) Art. 4 - É proibido a todo condutor [...]: I - desobedecer ao sinal fechado ou parada obrigatória (Art. 208 do CTB); II - transitar pela contra-mão de direção (Art. 208 do CTB); III - transitar fora da ciclovia quando houver trecho com esta finalidade (Art. 58 do CTB). 2.6) O PL também contém artigos que contrariam o CTB, portanto sem eficácia, dado que, segundo o Art. 22 da Constituição Compete privativamente à União legislar sobre: XI - trânsito e transporte : 2.6.1) O inciso I do Art. 3 ( o condutor de qualquer dos equipamentos [...] deverá conduzir o mesmo em área destinada ao seu trânsito, ou seja, em ciclovias ) contradiz o CTB, já que segundo o Anexo I do mesmo, ciclovia é pista própria destinada à circulação de ciclos, separada fisicamente do tráfego comum ; ou seja, não se pode permitir em vias ciclísticas a circulação de pedestres (com ou sem patins ou outro equipamento) ou qualquer outro tipo de veículo, sobretudo os motorizados (segundo o mesmo Anexo, ciclo é veículo de pelo menos duas rodas a propulsão humana ); 2.6.2) O inciso I do Art. 3 e o inciso III do Art. 4º conflitam também com o Anexo I do CTB, que especifica que a ciclofaixa é parte da pista de rolamento destinada à circulação 3
4 exclusiva de ciclos, delimitada por sinalização específica ; em se baseando no PL, que só reconhece as ciclovias como sendo vias ciclísticas, as bicicletas não poderão circular nas ciclofaixas, que perfazem 24% das vias ciclísticas do município (levantamento realizado pela ACBC disponível em ) O mesmo inciso I do Art. 3 contradiz ainda a Resolução CONTRAN nº 315/2009, que estabelece a equiparação dos veículos ciclo-elétricos aos ciclomotores ; ao serem equiparados a ciclomotores, veículos motorizados como patinetes, triciclos ou skates não podem trafegar em vias exclusivas para bicicletas; cabe ainda mencionar que neste momento a Câmara Temática Veicular do CONTRAN discute peça normativa para disciplinar o trânsito dos veículos dotados de motor elétrico; 2.6.4) O inciso II do Art. 4 também contradiz o Parágrafo único do Art. 58 do CTB, segundo o qual A autoridade de trânsito com circunscrição sobre a via poderá autorizar a circulação de bicicletas no sentido contrário ao fluxo dos veículos automotores, desde que dotado o trecho com ciclofaixa ; 2.6.5) O inciso II do Art. 4, ao obrigar os ciclistas a trafegarem pela direita da pista junto a guia da calçada ou acostamento, não reconhece que estes, conforme garante o Art. 58 do CTB, têm preferência sobre os veículos automotores. 2.7) O PL contém artigos confusos e que dificultam a interpretação por parte da população, dos agentes fiscais e do poder judiciário, comprometendo sua aplicabilidade e prejudicando a compreensão dos cidadãos dos quais trata: 2.7.1) O Parágrafo único do Art. 2 permite, em caráter de exceção, o uso de bicicletas de pequeno porte nas praças [...] ; entretanto, não existem critérios objetivos para definir tais tipos de veículo; 2.7.2) O risco à integridade física dos usuários, mencionado no mesmo Parágrafo único do Art. 2, é um critério extremamente subjetivo e de difícil constatação; 2.7.3) No inciso II do Art. 3 não fica claro onde deve trafegar o ciclista caso hajam veículos automotores estacionados ou outros objetos depositados junto a guia da calçada ou acostamento ; 2.7.4) Não se compreende porque o VI do Art. 4 proíbe de transitar fazendo manobras nas vias públicas, pois todos os veículos precisam fazer manobras para estacionar, mudar o percurso e para entrar e sair em uma rua ou imóvel; 2.7.5) É de difícil compreensão o texto do inciso IV do Art. 4 : forçar passagem entre veículos que, transitando em sentidos opostos estejam na iminência de passar um pelo outro ; 2.7.6) O Art. 5 não deixa claro qual tipo de penalidade deve ser imposta ao infrator em função da ocasião, gravidade ou reincidência; 2.7.7) É bastante difícil compreender, e muito temerário fazer a defesa, da aplicação de multa a uma criança, independentemente de sua idade e dos documentos de identificação que possua, o que pode ocorrer de acordo com o Art. 5. 4
5 3) Requisição de encaminhamento 3.1) Tendo em vista: 3.1.1) A fragilidade do mérito da elaboração do Projeto de Lei 0131/2012; 3.1.2) Os conflitos legais do PL com a legislação vigente no Brasil; 3.1.3) A manifestação social contrária ao PL, veiculada na imprensa e nas redes da internet; 3.1.3) A inexistência de legislação municipal para sustentar e estimular as formas de mobilidade sustentáveis e democráticas; 3.1.4) A exigência, da Lei /2012 (Política Nacional de Mobilidade Urbana), de que o município elabore se Plano de Mobilidade Urbana. 3.2) Através desta Requeremos ao autor do Projeto de Lei 0131/2012 e ao Presidente da Câmara de Vereadores: 3.2.1) Que retire o PL de pauta e o remeta ao arquivamento; 3.2.2) Que em até 90 dias dê início ao processo de elaboração da Política Municipal de Mobilidade Urbana Sustentável com ampla participação da população e de representantes da sociedade civil organizada, em atendimento à Lei /2012 (Política Nacional de Mobilidade Urbana); 3.2.3) Que recomende formalmente ao Poder Executivo municipal a criação e execução de políticas públicas sistemáticas e continuadas, com metas de curto, médio e longo prazos, através da implantação de infraestrutura em quantidade e qualidade e de programas educativos e fiscalizatórios para garantir a prioridade do transporte público e dos meios de transporte não motorizados, bem como a necessária segurança e conforto dos seus usuários, políticas públicas estas que já são amparadas e recomendadas pela legislação nacional vigente. Confiantes de vosso compromisso com a democratização da mobilidade urbana e com a segurança viária dos cidadãos balneocamboriuenses, agradecemos a atenção dispensada, colocamonos à disposição para eventuais esclarecimentos e enviamos nossas Cordiais Saudações, Henrique da Silva Wendhausen Presidente ACBC 5
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