EFEITO DO PORTA-ENXERTO NO VIGOR, RENDIMENTO E QUALIDADE DO MOSTO DA CASTA JAEN, NUM TERROIR DO DÃO
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- Maria do Loreto Delgado Stachinski
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1 EFEITO DO PORTA-ENXERTO NO VIGOR, RENDIMENTO E QUALIDADE DO MOSTO DA CASTA JAEN, NUM TERROIR DO DÃO Vanda PEDROSO (1) ; Sérgio MARTINS (1) ; Jorge BRITES (1) ; Isabel ANDRADE (2) ; Carlos LOPES (3) (1) DRAPC CENTRO DE ESTUDOS VITIVINÍCOLAS DO DÃO NELAS. vanda@drapc.min-agricultura.pt (2) ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE COIMBRA BENCANTA COIMBRA (3) INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA.TAPADA DA AJUDA, LISBOA RESUMO Com o objectivo de estudar o efeito do porta-enxerto no vigor, produção e qualidade da uva da casta Jaen, o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão italou um eaio comparativo entre três porta-enxertos (, 1103 P e ), apresentando-se neste trabalho resultados relativos aos ciclos de 2002 a Verificaram-se diferenças na produção, no vigor e na qualidade do mosto nos vários anos. O ano de 2005 foi o de maior vigor, 2003 o que apresentou a maior produção e 2004 induziu o maior valor de álcool provável. O porta-enxerto induziu diferenças significativas nos componentes da produção e do vigor. O apresentou uma produção significativamente superior ao e 1103 P, os quais não diferiram entre si. O induziu um vigor significativamente inferior aos restantes que não apresentaram diferenças entre si. O efeito do porta-enxerto não conduziu a diferenças significativas no álcool provável e na acidez do mosto à vindima, mas os fenóis totais e o teor de taninos foram significativamente inferiores no 1103 P. Palavras chave: videira, produção,, 1103 P, SO INTRODUÇÃO O porta-enxerto surgiu na segunda metade do século XIX como forma de resolver o problema da filoxera. Actualmente tem sido coiderado como uma ferramenta no controlo do crescimento vegetativo, rendimento e qualidade da produção. Funciona como um elo de ligação entre a planta e o solo (fonte de nutrientes e água) e desta forma, assume uma importância extrema na fisiologia da videira (Smart et al., 2006). A complexidade dos factores envolvidos, fazem com que os resultados de estudos experimentais relacionando o efeito do porta-enxerto na alteração do vigor, na qualidade da produção e na capacidade de maturação da uva nem sempre sejam estatisticamente significativos nem coistentes (Nuzzo e Matthews, 2006). Ollat e colaboradores (2003) referem, com base num eaio de 25 anos, que os efeitos do porta-enxerto a longo prazo se verificam essencialmente na
2 relação entre o crescimento vegetativo e frutificação da videira. Nuzzo e Matthews (2006) referem que, frequentemente, factores como as técnicas culturais, o tipo de solo e principalmente o stress hídrico se sobrepõem ao efeito do porta-enxerto nas variáveis de rendimento e qualidade. A generalidade dos resultados reportados na bibliografia, mostra que o comportamento do porta-enxerto está dependente da casta e das condições edafoclimáticas em que os estudos são efectuados. Dada a importância que o porta-enxerto tem na italação de uma vinha, a informação obtida localmente é de extrema importância para o acoelhamento ao viticultor. Este trabalho, integra-se num conjunto mais vasto de estudos sobre porta-enxertos, iniciado no ano de 1946 no Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão, e tem por objectivo estudar o efeito de três porta- enxertos muito utilizados na região do Dão (1103 P, e ), no comportamento agronómico da casta Jaen. 2 - MATERIAL E MÉTODOS A parcela, italada em 1989 no Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão (Folha 1C), com a casta Jaen, encontra-se numa zona de clima mediterrânico que se caracteriza por ter Invernos pluviosos e Verões quentes. O solo é de origem granítica, tem textura franco-arenosa, ácido, pobre em matéria orgânica e tem uma fraca capacidade de retenção de água. As plantas estão conduzidas num sistema monoplano vertical ascendente com poda em cordão Royat bilateral. A deidade de plantação é de plantas por hectare (1.80 x 1.00 m). A carga foi de olhos. O dispositivo experimental é do tipo blocos casualisados com três portaenxertos (1103 P, e ) e seis repetições de seis cepas cada. Os registos agronómicos foram efectuados cepa a cepa. Os dados referentes à composição do mosto foram obtidos através de amostras de 100 bagos por unidade experimental mínima, à vindima. São apresentados resultados de cinco anos (2002 a 2006). Os dados foram sujeitos a análise de variância e a comparação de médias foi feita pelo teste de mínima diferença significativa para um nível de probabilidade de 0.05, utilizando-se o programa SAS (SAS Ititute, Cary, NC, USA).
3 3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Rendimento e seus componentes A produção da casta nos cinco anos em estudo apresentou grandes oscilações (Figura 1). O ano de maior produção foi 2003 e o de menor 2004, ano em que os três porta-enxertos apresentaram produções semelhantes. O baixo valor verificado neste ano deveu-se à ocorrência de elevada precipitação no início da maturação (100 mm), que conduziu a uma forte incidência de podridão cinzenta, seguida de um final de maturação caracterizado por tempo seco e quente, que provocou uma forte desidratação das uvas Produção(t/ha) P 99R Figura 1 Efeito do porta-enxerto no rendimento, em 5 anos coecutivos, na casta Jaen. No quadro 1 apresentam-se os valores referentes ao rendimento e seus componentes nos cinco anos em estudo. A produção média dos 5 anos foi significativamente superior no porta-enxerto, devido a um peso do cacho superior associado a um número de cachos ligeiramente superior. Este resultado é semelhante ao obtido neste local na casta Touriga Nacional (Pedroso et al., 2007) e concordante com a característica de indutor de fertilidade do apontada por diferentes autores (Duarte et al., 1991 e Magalhães, 2008). O comportamento médio dos dois outros porta-enxertos foi idêntico, no entanto, em 2003 o 1103 P apresentou uma produção significativamente inferior ao. Segundo Magalhães (2008) o 1103 P é um porta-enxerto que, na generalidade das situações, apresenta uma produtividade inferior aos da série Richter como é o caso do. Clímaco et al. (2003), em eaios na região da Estremadura referem que o 1103 P,
4 quando enxertado em castas mais vigorosas, induz um menor rendimento do que outros porta-enxertos como o, o e o 110 R. Quadro 1 Efeito do porta-enxerto no rendimento e seus componentes, na casta Jaen, ao longo de 5 anos (2002 a 2006). Porta- Enxerto Produção. (Kg/vid) Nº Cachos /videira Peso Cacho (g) P 2.0 b 2.0 b c b 2.8 a a P 3.4 c 13.3 c ab 4.2 b 6.1 a 18.4 b 21.7 a b a P P b b a P 3.1 b 3.4 b 16.4 b 17.8 b a 21.3 a Média 1103 P 2.8 b 12.1 ab b 3.0 b 11.7 b b 4.2 a 12.6 a a Nota: não significativo, e - significativo ao nível de 0,05 e 0,001 respectivamente pelo teste de Fisher. Em cada coluna valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente ao nível de 0,05 pelo teste da MDS. 3.2 Vigor e seus componentes No quadro 2 apresentam-se os valores do vigor e seus componentes.o apresentou um peso médio de lenha de poda significativamente inferior aos outros dois porta-enxertos, devido a um menor número de sarmentos associado a um peso significativamente inferior. Este resultado foi verificado também na casta Touriga Nacional, no mesmo local (Pedroso et al., 2007) e está de acordo com o descrito por Duarte et al. (1991). Os porta-enxertos
5 1103 P e o apresentaram um vigor semelhante o que também foi verificado para a Touriga Nacional no mesmo local. O 1103 P apresentou uma relação frutificação/vegetação significativamente mais baixa, que indica a sua maior tendência para evidenciar uma maior expressão vegetativa. A indução do mais baixo índice de Ravaz pelo 1103 P é também referenciado por Clímaco et al, (2003). No entanto, todos os valores médios obtidos nos três porta-enxertos encontram-se dentro da gama de valores indicadores de equilíbrio da videira (Smart e Robion, 1991). Quadro 2 Efeito do porta-enxerto no vigor e seus componentes, na casta Jaen, ao longo de 5 anos (2002 a 2006). Peso Porta- Peso Lenha. Nº Sarmentos Sarmento Ravaz Enxerto (Kg/vid.) /videira (g) P P b b ab a a a P P 0.51 a b 0.39 b a 0.56 a a P b a 10.1 a Média 1103 P 0.47 a 0.37 b 12.1 ab 11.7 b 39.5 a 31.4 b 6.0 b 9.0 a 0.48 a 12.6 ab 38.1 a 9.1 a Nota: não significativo,, e - significativo ao nível de 0,05, 0.01 e 0,001 respectivamente pelo teste de Fisher. Em cada coluna valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente ao nível de 0,05 pelo teste da MDS.
6 3.3 Qualidade do mosto Da análise da Figura 2, cotata-se que ao longo dos 5 anos de eaio se verificou uma forte oscilação do álcool provável. Os baixos valores dos anos 2002 e 2003, inferiores ao potencial da casta nesta região, estão associados às condições climáticas desfavoráveis ocorridas na fase final de maturação (precipitação elevada) no ano de 2002 e às produções muito elevadas do ano de 2003 (19 t/ha 1103 P a 33 t/ha ) Álcool Provável (%v/v) P 99R Figura 2 Efeito do porta-enxerto no álcool provável do mosto, em 5 anos coecutivos na casta Jaen. O porta-enxerto não influenciou significativamente o álcool provável e a acidez total do mosto. No ano de 2003, a acidez do mosto foi anormalmente baixa para esta casta, facto que poderá ser explicado pela incidência de podridão cinzenta e precipitação elevada (15mm) nas vésperas da colheita. O 1103 P apresentou o ph mais baixo, diferindo significativamente dos dois outros portaenxertos em estudo. O porta-enxerto não influenciou significativamente o teor médio de antocianas das películas (quadro 4). Nos dois anos em que se verificaram diferenças significativas (2002 e 2004), o 1103 P apresentou os valores mais baixos, enquanto que o e o tiveram comportamentos idênticos. Relativamente aos valores médios dos outros componentes cromáticos apresentados, fenóis totais e taninos, o 1103 P apresentou valores significativamente inferiores ao e, que não diferiram entre si.
7 Nesta situação o porta-enxerto 1103 P revelou-se como o menos favorável para a melhoria das componentes cromáticas da casta Jaen, que segundo Brites e Pedroso (2000), é uma casta com baixa concentração fenólica. Quadro 3 Efeito do porta-enxerto na composição do mosto à vindima, na casta Jaen, ao longo de 5 anos (2002 a 2006). Porta- Enxerto Álc. Prov. (% v/v) Ac Tot (g/l ác. tart) ph P a b b P a 4.20 a b 4.10 b a 4.00 b P P P Média 1103 P a b 3.71 b Nota: não significativo, e - significativo ao nível de 0,01 e 0,001 respectivamente pelo teste de Fisher. Em cada coluna valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente ao nível de 0,05 pelo teste da MDS.
8 Quadro 4 Efeito do porta-enxerto no teor em antocianas, fenóis totais e taninos à vindima, na casta Jaen, ao longo de 5 anos (2002 a 2006). Porta- Enxerto Antocianas (mg/l) Fenóis Totais (IFC) Taninos (g/l) P 406 b 576 a 19 b 24 a 5.1 b 5 7 a 540 a 22 a 5.4 ab P P 247 b b 500 a a 470 a a P P Média 1103 P b 5.9 b a 45 a 6.3 a 6.2 a Nota: não significativo,, e - significativo ao nível de 0,05, 0,01 e 0,001 respectivamente pelo teste de Fisher. Em cada coluna valores seguidos da mesma letra não diferem significativamente ao nível de 0,05 pelo teste da MDS. 4 - CONCLUSÕES O porta-enxerto influenciou o rendimento da casta, tendo o apresentado o valor significativamente mais elevado. O vigor foi igualmente influenciado pelo porta-enxerto, tendo o apresentado os menores valores. Apesar do porta-enxerto não ter influenciado de forma significativa os valores médios do álcool provável, da acidez total e das antocianas, verificou-se que o 1103 P induziu os valores mais baixos de ph e o os maiores valores de fenóis e taninos.
9 Em resumo, pode-se afirmar que, para as condições ecológicas deste eaio, a casta Jaen` apresentou uma melhor afinidade com o porta-enxerto, o qual induziu uma produção mais elevada e uma melhor qualidade do mosto, sem comprometer a perenidade da videira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - Clímaco, P.; Lopes, C. M.; Carneiro, L.C.; Castro, R. (2003). Efeito da Casta e do Porta-Enxerto no Vigor e na Produtividade da Videira. Ciência Téc. Vitiv. 18 (1): Duarte, M. & Dias, J. E. (1991). Catálogo de porta-enxertos mais utilizados em Portugal. Itituto da Vinha e do Vinho. - Ezzahouani, A. & Williams, L. (1995). The Influence of Rootstock on Leaf Water Potential, Yield, and Berry Composition of Ruby Seedless Grapevines. Am. J. Enol. Vitic. 46 (4): Magalhães, N. (2008). Tratado de Viticultura A Videira, A vinha e o Terroir. Chaves Ferreira Publicações, S.A. 605p. - Nuzzo, V.; & Matthews, M. A.. (2006). Respoe of Fruit and Ripening to Crop Level in Dry-Farmed Cabernet Sauvignon on Four Rootstocks. Am. J. Enol. Vitic. 57:3: Ollat, N. (2003). Short and Long Term Effects of Three Rootstcks on Cabernet Sauvignon Vine Behaviour and Wine Quality. Acta Hort. 617, ISHS: Pedroso, V.; Marti, S.; Brites, J.; Lopes, C. (2007). Efeito do porta-enxerto no vigor, rendimento e qualidade do mosto da casta Touriga Nacional na Região do Dão. 7º Simpósio de Vitivinicultura do Alentejo. Évora, Vol. 1: Smart, R.. & Robion, M. (1991). Sunlight into wine. A handbook for winegrape. Canopy Management. Winetitles, Adelaide. - Smart, R.; Schwass, E.; Lakso, A.; Morano, L. (2006). Grapevine Rooting Patter: A Compreheive Analysis and a Review. Am. J. Enol. Vitic. 57:
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