Casa e Igreja da Misericórdia de Vila do Conde

Transcrição

1 VILA DO CONDE QUINHENTISTA Casa e Igreja da Misericórdia de Vila do Conde Descrição Casa do Despacho: A Casa do Despacho e Arquivo situam-se num corpo em L de dois pisos, articulado com o corpo da igreja e sacristia através de um pequeno pátio quadrangular, e é sucedânea do edifício quinhentista da Casa da Misericórdia de Vila do Conde. No 1º piso do L localiza-se um arrumo e a passagem para o pátio lajeado. A partir deste pátio, uma escadaria em L coberta e porticada permite o acesso ao 2º piso, ou seja, à sala do Arquivo e ao Salão Nobre. O edifício da Misericórdia é composto por 2 pisos, tendo no primeiro porta de verga recta, janela rectangular e pequeno vão e, no segundo, 3 janelas de sacada, de diferente largura e modinatura, uma delas de arco conopial. No interior, salão soalhado, de planta quadrangular, com tecto em madeira de tábua corrida pintado, com um medalhão oval central onde se insere uma peça em talha dourada de suspensão de lustre. As paredes que o delimitam são rebocadas e encimadas por uma sanca em madeira pintada e apresentam uma sequência de retratos dos benfeitores. Na parede fundeira existem cadeiras de espaldar em torno de uma mesa comprida torneada. Em toda a extensão da sala distribuem-se filas de cadeiras separadas por um corredor central. A anteceder a Sala do Despacho existe outro salão soalhado, de igual dimensão, separado deste por grande vão, com sanefa sobrepujado por peça em talha policromada, com escudo ladeado por dois meninos. Pode-se encontrar nesta Sala duas arcas, numa das quais se colocou uma imagem em madeira policromada e, na outra, um crucifixo. Encostadas às paredes, pode ver-se um cofre pintado e ainda a bandeira da Misericórdia. Este Salão constitui a sala de entrada para o Arquivo e Sala do Despacho. Apresenta também um tecto em madeira de tábua corrida pintado com sanca, donde se destaca ao centro uma sucessão de frisos salientes em forma de losango. A Sala do Arquivo é soalhada e de tecto estucado, apresentando duas enormes estantes envidraçadas.

2 Igreja: Planta longitudinal, ampla e de uma só nave. Volumes articulados com coberturas em telhados de 2 águas. A frente da igreja, terminada em empena, tem dois pares de colunas jónicas a ladear a porta principal e assentes em pesadas bases. A sobrepujar as colunas, duas esculturas em pedra: do lado Norte a imagem de Nossa senhora da Conceição e do lado Sul a imagem figurativa da Visitação. O portal é encimado por um janelão. O interior da igreja é revestido a azulejos de padrão, tipo "tapete", organizados em 2 níveis; coro-alto, púlpito quadrado no lado do Evangelho e 2 capelas colaterais com retábulos. Estes e os retábulos laterais estão separados do resto da nave por balaústres de pau-preto com chapas ornamentais de latão dourado, da autoria do entablador bracarense Agostinho Marques, também ele autor da grade de púlpito. O tecto é de madeira em caixotões com flores douradas nos encontros. Parede testeira em cantaria com alto arco triunfal entre pilastras e com 2 capelas laterais (1780 / 1781) encimadas por painéis em estilo neoclássico. A capela-mor apresenta um retábulo de talha e tecto em abóbada de berço. Utilização Inicial Cultual e devocional: igreja da Misericórdia Propriedade Privada: Misericórdia Época Construção Séculos XVI/ XVII/ XVIII Arquitecto Construtor Autor Autor de riscos: Nicolau Nasoni (tribuna); Ensambladores: Agostinho Margues (grades de comunhão da nave e guarda do púlpito); Entalhadores: Manuel Rocha; Escultores:

3 João d Afonseca Lapa (imagem do Senhor dos Passos); Oleiros: Domingos Francisco (azulejos da nave); Pedreiros: Gabriel Cerqueira de Sá (base do púlpito); Pintores: Luís Soares. Cronologia 1499, 14 Março - Compromisso da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde; a Casa da Confraria e Hospital, situar-se-iam num terreno chamado de Espírito Santo, pertença de Álvaro Fernandes da Rua e sua mulher, que o haviam cedido à irmandade designada por Nossa Senhora da Madre de Deus ou Virgem Maria da Misericórdia; Século XVI - edificação; fundação da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde e construção da sua primeira sede com hospital anexo à Capela do Espírito Santo; 1525, 14 Maio - em assembleia geral, a Irmandade resolve construir uma nova sede no actual sítio da Casa do Despacho, no terreno cedido por Álvaro Fernandes da R. da Misericórdia; 1559, 7 Março - deliberação da Assembleia para construção da Igreja em que o sino e o campanário deveriam ser executados à semelhança dos da Misericórdia do Porto, e o púlpito igual ao da Igreja de Santo Eloy da mesma cidade; 1 Maio - início da construção da Igreja; 1592 / execução da bandeira da misericórdia, por Inácio Ferraz de Figueiroa, mandada executar pelo Provedor, a expensas de 5700 réis dados por Gonçalo Vaz Villas Boas e João Folgueira; execução dos retábulos colaterais; 1663 / o Provedor Capitão João de Lima Abreu entrega a pintura dos retábulos colaterais a Luís Soares; 1665 / conclusão da pintura dos painéis dos retábulos colaterais; revestimento azulejar da nave, com azulejos fabricados em Lisboa pelo mestre oleiro Domingos Francisco; construção do coro e tecto de caixotões; 1692 / execução das guardas do corpo da Igreja e do actual púlpito pelo Mestre de Braga, Agostinho Marques; execução da pedraria do actual púlpito por Gabriel Cerqueira; século XVII - execução do tecto em caixotões da igreja e do coro em pau santo; desenho da tribuna por Nicolau Nasoni e talha executada por Manuel Rocha; 1743 / execução do retábulo-mor; 1773, 17 Julho - o órgão da Igreja foi comprado ao extinto Convento de São Simão da Junqueira por 135 mil réis; 1780 / execução dos retábulos colaterais e colocação de painéis representando a Verónica e outro representando a Deposição no túmulo, do pintor Luís Soares; século XVIII - reforma da Casa do Despacho.

4 Tipologia Arquitectura religiosa, renascentista, manuelina, maneirista, barroca e neoclássica. Igreja de misericórdia com frontaria em estilo clássico, e portal axial. Fachada da Casa do Despacho com abertura referenciada ao manuelino de recorte canopial. Materiais IGREJA: Paredes exteriores de alvenaria de granito rebocadas a branco; molduras de granito aparente; paredes interiores em azulejaria de tipo "tapete"; o tecto revestido a caixotões de madeira. CASA DO DESPACHO: Paredes em alvenaria de granito rebocadas no interior e exterior; Cobertura com estrutura de madeira revestida a telha; Tectos da entrada, alpendre e último piso em madeira pintada; Tecto estucado (sala do arquivo e arrumos); Pavimentos em soalho de madeira; Pavimento em tijoleira cerâmica; Pavimento em lajeado de granito (entrada e pátio); Caixilharias interiores e exteriores em madeira pintada; Escadaria exterior e guarda em granito. Créditos: VIEIRA, José Augusto, O Minho Pitoresco, tomo II, Lisboa, FERREIRA, Pe. José Augusto Ferreira, Vila do Conde e o seu Alfoz, Porto CORTEZ, Russel, Vila do Conde e seus azulejos, Jornal Renovação, 4 de Maio de NEVES, Pe. Serafim Gonçalves das, Azurara, subsídios para a sua monografia, Porto FREITAS, Eugénio de Andrea da Cunha e, Artes e Artistas em Vila do Conde, Revista Museu, II Série, nº 4, Porto, NEVES, Pe. Serafim Gonçalves das, Azurara, Vila do Conde, Breve notícia histórica e etnográfica, Azurara 1965.

5 SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no Séc. XVII, Lisboa, GONÇALVES, Flávio, A Talha no Concelho de Vila do Conde, Exposição Fotográfica, Catálogo, Vila do Conde, ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa ALVES, Natália Marinho Ferreira, De arquitecto a entalhador. Itinerário de um artista nos séculos XVII e XVIII, in Actas do I Congresso Internacional do Barroco, vol. I, Porto, 1991, pp NEVES, Joaquim Pacheco Neves, Vila do Conde, Vila do Conde, Património Arquitectónico e Arqueológico Classificado, IPPAR, Lisboa LIMA. Maria João Pires de, Recenseamento dos Arquivos Locais, 1996 SOUSA, Ivo Carreira de, V Centenário das Misericórdias Portuguesas, CTT, Lisboa / Casa e Igreja da Misericórdia