VITICULTURA NA CASTA BAGA ANABELA ANDRADE
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- Débora Carneiro Bentes
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1 VITICULTURA NA CASTA BAGA ANABELA ANDRADE 13 de Novembro de 2010
2 Com uma área total de hectares de vinha (IVV, 2009), Portugal vitivinícola dispõe de dois factores que o caracterizam e projectam no mundo globalizado: a diversidade de climas e solos proporcionadores de terroirs específicos, responsáveis pelas distintas regiões demarcadas, e o rico e elevado património genético autóctone.
3 Destaque-se a Bairrada e a casta tida como ex-libris, a Baga, ainda dominante no encepamento tinto da Região
4 Baga e características agronómicas maturação tardia; 1 elevada fertilidade; 1 porte retombante; 1 vigor forte; 1 Outro; 2 cacho compacto; 1 sensibilidade a podridões; 1
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9 Sabemos A legislação de 1979 partiu da existência de uma casta dominando esmagadoramente as plantações, a Baga, contrariando o que acontece noutras regiões vitícolas, onde a evolução dos encepamentos é por vezes muito rápida, dez a vinte anos: evoluções estas que ocorrem na sequência de factores de ordem vária.
10 Factores culturais, tecnológicos e económicos orientação do gosto do consumidor; 1 sensibilidade ao desavinho; 1 sensibilidade à podridão; 1 aptidão do vinho para o envelhecimento; 1 adopção de determinado sistema de condução; 1
11 Nos finais do século XX, a Bairrada envereda por alterações no seu encepamento tinto, inicialmente ténues, através do incremento de outras castas, nacionais e internacionais. As exigências de mercado, as alterações de hábitos do consumidor, aliadas à predominância da casta Baga ditaram uma revisão da legislação. Decreto-lei 301/2003, de 4 de Dezembro
12 Cria a categoria Bairrada Clássico (designativo de qualidade específico da Bairrada, apenas para vinhos tintos), com sujeição à regra de um mínimo de 50% de Baga, num lote que deve compor-se de 85% das chamadas castas tradicionais da região: (Alfrocheiro, Baga, Camarate, Castelão, Jaen e Touriga- Nacional), podendo incluir, contudo, 15% de outras castas tintas consagradas, nacionais e estrangeiras, como a Aragonez, Tinta Barroca, Tinto Cão, Pinot-Noir, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah.
13 Alarga o portfólio de castas aptas para a produção de vinhos tintos com a denominação Bairrada, mantendo a exigência de 50% de Baga apenas para o Bairrada clássico Liberaliza o uso de castas tintas para a categoria Bairrada genérico, sendo aceites castas tintas consagradas, nacionais e estrangeiras, como : a Aragonez, Tinta Barroca, Tinto Cão, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah;
14 A figurar obrigatoriamente no vinho de menção Bairrada Clássico AMADA E ODIADA CAPAZ DO MELHOR E DO PIOR EMBLEMÁTICA, E PROBLEMÁTICA A BAGA CONTINUA PRESENTE!
15 Mesmo quando se assiste a plantações de outras castas Cabernet Sauvignon Merlot Pinot Noir Syrah
16 A Baga continua a ter um peso forte nos encepamentos tintos da Bairrada; A Baga permanecerá associada à Bairrada, enquanto região tradicionalmente produtora de vinhos de qualidade. Importando: a adopção de cuidados de condução que contribuam para a expressão do potencial da casta Baga no seu solar de eleição, os solos argilo-calcários, a par com a promoção dignificante dos produtos dela oriundos.
17 Que sistema de condução adoptar? Que cuidados adoptar?
18 Sem esquecer que: as variações anuais da qualidade dos vinhos estão sob estreita dependência das flutuações anuais do clima: acção directa na maturação das uvas e indirecta sobre o desenvolvimento e intensidade dos inimigos da vinha maturação tardia; 1 elevada fertilidade; 1 Outro; 2 cacho compacto; 1 porte retombante; 1 vigor forte; 1 sensibilidade a podridões; 1
19 SISTEMA DE CONDUÇÃO: O QUE É? disposição e orientação das linhas poda de formação poda de renovação intervenções em verde outras técnicas geometria e densidade de plantação poda de manutenção conduçao da vegetação modo de vindima associado
20 É escolhido em função de numerosos critérios:
21 o nível de vigor ou de produção o tipo de produto e o nível de qualidade desejado o tipo de colheita associado (manual ou mecânica) Sem esquecer aspectos sócio económicos e costumes locais, os quais contribuem para estruturar a paisagem e imagem da vinha...
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24 Assegurada inicialmente por sistemas considerados na actualidade verdadeiras obras de arte, a produção da videira adaptou-se aos novos sistemas de condução decorrentes do impacto da mecanização e do custo de mão-de-obra. A BAGA NÃO FOI EXCEPÇÃO!
25 Formas de base e a poda Inicialmente executada com o objectivo de: baixar a altura de frutificação para níveis de fácil alcance humano e, também, de obter produtos menos ácidos e de maior riqueza sacarina; A poda, prática que remonta à antiguidade, visa aumentar e/ou melhorar a sua produção de flores e, assim, de frutos.
26 A poda tende, na actualidade, a simplificar-se sobretudo como consequência da maior sistematização da condução e da necessidade de adequação ao apoio mecânico. São muitos os sistemas de poda. Diferem, fundamentalmente, na forma dada ao tronco e eventuais braços da videira, e no número e dimensão das unidades de frutificação; Podem ser classificados de acordo com a disposição e quantidade de estrutura permanente: Guyot; Royat
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29 É com o intuito de controlar o nível de produção e de qualidade que o viticultor confere à planta uma condução apropriada aos seus objectivos, adquirindo a mesma uma arquitectura particular.
30 O melhor conhecimento da fisiologia da vinha, nomeadamente do papel essencial do clima ao nível das folhas e dos cachos, fonte da qualidade do vinho, aliado a racionais exigências económicas de rendimento, provocou o desenvolvimento de numerosas práticas novas ou a retoma de outras esquecidas: As Intervenções em verde
31 Ganham cada vez mais adeptos. São efectuadas sobre órgãos herbáceos da videira e passíveis de modificar o seu número, peso, superfície e posição, modificam a estrutura do coberto vegetal: Melhorar o microclima do coberto Atenuar o risco de desenvolvimento de doenças criptogâmicas Adaptação das sebes à vindima mecânica Estabelecer o equilíbrio entre vegetação e produção
32 Desladroamento, supressão de lançamentos Consiste na supressão dos ramos (pâmpanos) ladrões e infrutíferos que aparecem ao nível do tronco; Compreende a eliminação, no início do crescimento, dos pâmpanos estéreis ou inúteis para a poda seguinte e dos férteis que, pela sua localização, possam prejudicar o equilíbrio da parte aérea: Operação realizada manualmente, sobre órgãos vegetativos infrutíferos, ou frutíferos de menor qualidade.
33 Um menor adensamento da sebe
34 Uma maior intercepção de radiação no interior da sebe; Um maior arejamento dos cachos
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38 A orientação da vegetação Enquanto liana, e na ausência de tutores, a maioria dos sarmentos assume uma posição vertical (após o abrolhamento e com a continuidade do crescimento) curvando-se depois sob a acção do seu próprio peso; quando providos de muitas uvas, os sarmentos retombam.
39 A orientação dos sarmentos, além de facilitar a passagem das máquinas quando da realização dos tratamentos fitossanitários e amanhos do solo, pois evita a ligação entre lançamentos de linhas contíguas, tem efeitos directos sobre a fisiologia da videira e qualidade da produção, sendo das intervenções em verde a que se tem revelado propiciadora de maiores ganhos.
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43 Monda de cachos a intervenção mais polémica! marketing; 1 quantitativos; 1 legislativos; 1 qualitativos; 1
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48 Monda qualitativa
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52 Avaliar o efeito de diferentes sistemas de condução sobre a ecofisiologia da planta/vinha de Baga, bem como sobre parâmetros do rendimento e da qualidade - 2 formas de base; - 4 níveis de monda.
53 F O R M A S D E - MA: A mais habitual das formas de base em sistemas com aramação; Grande implantação é consequência da sua operacionalidade e facilidade de mecanização Monoplano ascendente podado em cordão permanente sob talões B A S E janela de divisão -LYS: Surge integrado nos sistemas de grande SFE: vinha larga em volume com 2 andares de produção Dois planos retombantes, um de cada lado da sebe ascendente
54 Metodologias Poda e carga 2 e 3-4 olhos 5-6 unidades 2 unidades: 8 olhos 4 unidades: 3 olhos
55 N Í V E I S D E M O N D A M1 supressão dos ladrões do tronco e braço (sem monda); M2 supressão dos ladrões do tronco e braço e com monda, ficando 1 cacho/sarmento, ao bago de ervilha;
56 N í V e I s d e m o n d a M3: supressão dos ladrões do tronco e braço, com monda, ficando 1 cacho/ sarmento, ao pintor ; M4: supressão dos ladrões do tronco e braço e com monda qualitativa a culminar no pintor.
57 12-Ago 19-Ago 2-Set 9-Set 16-Set 23-Set 27-Set 12-Ago 19-Ago 2-Set 9-Set 16-Set 23-Set 27-Set TAP (% V/V) Evolução da maturação e qualidade à vindima Evolução do TAP, nas formas LYS e MA/nível de monda 14,0 12,0 LYS MA 10,0 8,0 6,0 M1 M2 M3 M4
58 12-Ago 19-Ago 2-Set 9-Set 16-Set 23-Set 27-Set 12-Ago 19-Ago 2-Set 9-Set 16-Set 23-Set 27-Set Antocianas (mg/l) Evolução, ao longo da maturação, do teor de antocianas nas formas LYS e MA/nível de monda LYS MA 0 M1 M2 M3 M4
59 12-Ago 19-Ago 2-Set 9-Set 16-Set 23-Set 27-Set 12-Ago 19-Ago 2-Set 9-Set 16-Set 23-Set 27-Set Polifenóis Totais (DO 280nm) Evolução, ao longo da maturação, dos polifenóis totais, nas formas LYS e MA/nível de monda LYS MA 0 M1 M2 M3 M4
60 Características dos mostos e dos vinhos Influência do sistema de condução e da supressão de cachos nos parâmetros analíticos do mosto à entrada da adega Parâmetros Unidade Lys M1 Lys M2 Lys M3 Lys M4 MA M1 MA M2 MA M3 MA M4 Acidez total g ác. tart./l 5,7 5,5 5,4 5,2 6,2 5,5 5,6 5,4 ph 3,2 3,23 3,23 3,24 3,15 3,26 3,21 3,26 Açúcar total g/l ,9 217,4 172,4 204,5 201,7 209,9 Ácido málico Ácido málico g/l 1,9 1,9 1,9 1,8 2,3 2,2 1,9 2,0 Ácido tartárico g/l 4,6 4,7 4,6 4,5 4,8 4,5 4,4 4,6 TAVP % vv 11,4 12,2 12,0 12,4 9,8 11,7 11,5 12,0
61 Características dos mostos e dos vinhos Influência do sistema de condução e da supressão de cachos nos parâmetros analíticos do vinho Parâmetr os Unid Lys M1 Lys M2 Lys M3 Lys M4 MA M1 MA M2 MA M3 MA M4 Massa volúmica a 20 º g/ml 0,9943 0,9947 0,9944 0,9944 0,9951 0,9941 0,9939 0,9938 TAV a 20 º % vol 11,5 12,6 12,3 12,6 9,9 11,8 11,7 12,3 Acidez volátil Acidez total Ac acét (g/l) Ac tart (g/l) 0,26 0,27 7,7 8,3 0,27 0,29 0,27 0,27 0,29 8,1 8 7,7 7,7 7,9 ph 3,4 3,37 3,38 3,39 3,31 3,44 3,35 3,4 Antociana s Açúcares redutores Extracto seco total ÍPT (DO 280 nm) Ácido málico mg/l g/l 2,2 4,4 g/l 29,4 33, g/l 2,6 2, ,7 4,3 2,4 2,0 2,1 32,2-26,9-29, ,7 2,6 2,5 2,6 2,5 0,3 7, ,2 30,8 36 2,7
62 Apreciação organoléptica dos vinhos (prova realizada em Outubro de 2007) Modalidades / Apreciação global Lys M1 Lys M2 Lys M3 Lys M4 MA M1 MA M2 MA M3 MA M
63 Rendimento e componentes Valores médios Factores Nº cachos/cepa Kg/cepa Peso/cacho (g) Rendimento (t/ha) LYS 17,2 4,55 267,6 14,6 MA 12,9 4,28 337,3 13,7 Sig. *** ns *** ns M1 20,9 a 5,83 a 279,5 b 18,7 a M2 13,2 b 3,82 b 294,8 b 12,2 b M3 14,2 b 3,81 b 280,6 b 12,2 b M4 12,0 c 4,20 b 355,0 a 13,4 b Sig. * *** ** *** LYS M1 21,2 a 5,22 ab 246,4 b 16,7 ab LYS M2 15,6 b 3,94 bc 248,4 b 12,6 bc LYS M3 16,9 ab 4,10 bc 244,1 b 13,1 bc LYS M4 15,1 bc 4,96 abc 331,6 a 15,9 abc MA M1 20,7 a 6,44 a 312,7 ab 20,6 a MA M2 10,8 d 3,71 bc 341,7 a 11,9 bc MA M3 11,4 cd 3,53 c 317,1 ab 11,3 c MA M4 8,8 d 3,44 c 378,3 a 11,0 c Sig. * * * *
64 Lys vs MA: LYS - melhor estrutura do coberto vegetal com reflexos no rendimento e qualidade: maior número de cachos, mas menos pesados; bagos mais açúcarados, menos ácidos, mais ricos em antocianas e polifenóis totais; produções elevadas aliadas a melhor maturação. Monda: Diferenças entre níveis de monda ao nível quantitativo e qualitativo: monda provocou menor rendimento; um aumento do peso dos cachos; maior teor de açúcar; menor acidez total. No MA a monda ao bago de ervilha (M2) é a mais exequível, com reflexos positivos na luta contra a Botrytis cinerea Pears. O MA sem monda revelou-se inapto para vinhos de qualidade
65 CONCLUSÕES É inegável a modificação do microclima induzida pelo sistema de condução, com reflexos na qualidade e na quantidade de produção, pelo que: sublinhe-se, quando extrapolado para uma dada região/local vitícola, o sistema de condução óptimo, não deve negligenciar os princípios universais ligados à fisiologia da videira, nem as particularidades regionais ou locais relativas ao meio, aos genótipos e ao contexto sócio económico.
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