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- Terezinha Silva Caires
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1 A CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE EM GÊMEOS...o gêmeo tem sempre outro bebê com quem se defrontar, coisa bastante distinta do desenvolvimento de qualquer disposição para permitir um aditamento à família. (Winnicott, 1982, p. 156) Quando os pais recebem a notícia da gravidez, começam a incluir o bebê em suas falas e sonhos, de tal forma a organizar um ninho afetivo para a criança que vai chegar. Mas, pouco depois, quando fazem a primeira ultra-sonografia vem a surpresa: são gêmeos! E, então, o casal que ainda está tentando administrar as emoções da maternidade/ paternidade, precisa se haver com outro nascimento ao mesmo tempo. E aí começam as dificuldades. Muitas vezes os bebês são identificados no plural, como se fossem parte da mesma pessoa: os gêmeos. Para entender o que se passa no desenvolvimento da identidade nos gêmeos, é preciso considerar que sua existência é diferente dos singulares desde o início da vida. Cada bebê gêmeo nunca esteve sozinho com a mãe, já que desde o útero divide a mãe com o seu gêmeo. Este fato tem sido estudado pela psicanalista Piontelli (1995), que relata observações intrauterinas realizadas através de ultra-sonografia, onde os gêmeos se relacionam de forma intensa desde o período pré-natal. Através do acompanhamento dessas crianças nos primeiros quatro anos de vida, constatou-se que alguns padrões de comportamento, iniciados na fase intra-uterina, mantiveram-se após o nascimento. Sendo assim, Winnicott (1982) diz que os gêmeos têm seus próprios problemas particulares para resolver. Eles possuem uma principal dificuldade que é a de formar a base de suas personalidades e individualidade, e a descobrir a importância própria. Ao estudar a evolução emocional da criança, vê-se que isso só ocorre de um modo sadio e estável se estiver baseado numa experiência primária de egoísmo. A experiência de uma boa assistência materna da criança; uma mãe disposta, no princípio, a adaptar-se o
2 máximo possível aos desejos do bebê. De forma que ele sinta que exerce a posse e o controle sobre sua mãe e de que ela foi criada para a ocasião. A mãe de gêmeos tem uma tarefa extra, acima de todas as outras, que é dar-se toda a dois bebês ao mesmo tempo. Até certo ponto, ela deve fracassar, e a mãe de gêmeos deve-se contentar em fazer o melhor possível, esperando que as crianças encontrem finalmente algumas vantagens que compensem essa desvantagem inata ao estado geminal. (Winnicott,1982, p.156) Certamente a principal complicação na criação de gêmeos é essa questão do tratamento pessoal e assistência a cada um deles, de modo que a totalidade e a unicidade de cada um obtenha pleno reconhecimento. Mesmo que se tratasse de gêmeos exatamente iguais, haveria ainda a necessidade de que a própria mãe mantivesse com cada um deles uma relação total. De fato, a mãe verificará que sua finalidade não é tratar cada filho de maneira idêntica, mas tratá-lo como se fosse um único. Quer dizer, a mãe tentará descobrir diferenças entre cada bebê, desde o momento em que nasceram. Usualmente, a mãe acabará por notar que os dois temperamentos são diferentes e que, se ela agir facilmente em relação a cada um como uma personalidade total, cada um deles desenvolverá características pessoais. Pensa-se que grande parte das dificuldades no que diz respeito aos gêmeos decorre do fato deles nem sempre serem reconhecidos como diferentes um do outro, mesmo naquilo em que são diferentes.
3 Os gêmeos precisam que sua própria mãe reconheça a identidade de cada um deles, sem qualquer hesitação. É essencial, em todo caso, que não se estabeleça confusão entre as próprias crianças e, para isso, tem de existir uma pessoa em suas vidas que seja bastante peremptória a respeito delas. (Winnicott, 1982, p. 157) Quando se têm gêmeos, muitas vezes com o objetivo de amenizar a tarefa da mãe, várias pessoas são requisitadas para cuidar dos bebês. Entretanto, a melhor ajuda seria se as pessoas ficassem encarregadas das tarefas domésticas, ficando, a mãe, com seu psiquismo mais liberado para atender às necessidades vitais dos filhos. Pois, sabe-se que os bebês são altamente sensíveis para diferenças no modo de segurá-los, embalá-los e no fornecimento dos cuidados de banho e troca de fraldas. Este é um dos principais motivos pelos quais Winnicott insiste em que os cuidados suficientemente bons devem ser fornecidos pela mesma pessoa. Quando são várias as pessoas a segurar o bebê pai, tias, babás -, este é submetido a variadas técnicas, perdendo ao menos em parte, a familiaridade que funda a previsibilidade. A esse respeito, Winnicott (1999) costumava dizer: A palavra-chave poderia ser previsibilidade. Os pais, sobretudo a mãe no começo, têm um trabalho enorme para proteger a criança do que é imprevisível. (p. 148)
4 Ao longo da infância, os gêmeos, diferentemente dos singulares, se deparam com dois processos de separação simultâneos. Além da separação dos pais, também precisam se haver com a separação de cada um em relação ao seu gêmeo. Pois, eles possuem uma conexão especial dado que compartilharam o útero durante toda a gestação. Isto tanto pode manifestar uma união intensa intrapar, enquanto se separam dos pais, bem como apresentar um intenso conflito envolvendo combate e competição durante o processo de separação/ individuação; os gêmeos apresentam um grau de competitividade raramente encontrado em singulares. Apesar de ser necessário para a construção da identidade que cada gêmeo tenha seu espaço, deve-se tomar um certo cuidado ao separá-los. As evidências sugerem que gêmeos separados inadequadamente costumam regredir e apegar-se ainda mais ao seu relacionamento. Os gêmeos preocupam-se um com o outro quando estão separados, sobretudo em novas situações. A existência desse vínculo entre gêmeos representa um paradoxo incomum para os pais, que precisam estimular o desenvolvimento de independência nos filhos enquanto, ao mesmo tempo, os incentivam a manter um relacionamento positivo. Individualidade, independência e o vínculo entre gêmeos são temas recorrentes para eles durante toda a vida. A responsabilidade dos pais é reagir às necessidades de cada bebê e respeitar o relacionamento entre eles, para que possam desenvolver o senso seguro de si mesmos e uma visão positiva do fato de serem gêmeos. Talvez não sejamos capazes de identificar todas as características de suas personalidades, mas cada bebê demonstrará seu comportamento e temperamento singulares. Diante de toda essa complexidade que é ter filhos gêmeos e ser gêmeo, Winnicott (1982) se perguntava se os gêmeos gostam um do outro. Parece que aceitam com freqüência a companhia um do outro, têm prazer em brincar juntos e detestam que os separem, mas, apesar de tudo, não conseguem convencer que se amam mutuamente. Então, certo dia, descobrem que se odeiam como veneno e, por último, surge a possibilidade de que venham a querer-se muito. (p. 159)
5 Mas, o fato é que: É muito mais fácil tornar-se uma pessoa integral estando sozinha do que na companhia do próprio irmão gêmeo. (p. 160) Árina Precioso Trechos da Monografia apresentada ao Curso de Especialização: A Clínica Interdisciplinar com o Bebê: a Saúde Física e Psíquica na Primeira Infância PUC - SP
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