UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS- CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL- DESSO

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS- CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL- DESSO RAFAELA VYVIANE DOS SANTOS ROLEZINHO DOS PINTAS: A EXCLUSÃO E A INCLUSÃO MARGINAL DOS JOVENS DE BAIRROS POPULARES DE NATAL (RN). NATAL/RN JUNHO / 2017

2 Rafaela Vyviane dos Santos Rolezinho dos pintas: a exclusão e a inclusão marginal dos jovens de bairros populares de Natal (RN) Monografia submetida à coordenação do Curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientador: Prof. Dr. Roberto Marinho Alves da Silva. NATAL-RN JUNHO/ 2017

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4 Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Santos, Rafaela Vyviane dos. Rolezinho dos pintas: a exclusão e a inclusão marginal dos jovens de bairros populares de Natal (RN)/ Rafaela Vyviane dos Santos. - Natal, RN, f. Orientador: Prof. Dr. Roberto Marinho Alves da Silva. Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço Social. 1. Juventude - Monografia. 2. Pintas - Monografia. 3. Consumo - Monografia. 4. Rolezinhos - Monografia. 5. Inclusão. - Monografia. 6. Exclusão - Monografia. I. Silva, Roberto Marinho Alves da. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA CDU

5 Dedico este trabalho aos jovens brasileiros que são atingidos, cotidianamente, pelo preconceito, pela falta de oportunidades e pela repressão policial.

6 AGRADECIMENTOS À minha mãe, por ser o meu maior exemplo de resistência e de amor, sendo a maior responsável por me sustentar até aqui. Ao meu pai, as minhas irmãs e ao meu irmão, que compreenderam minhas ausências e me apoiaram. Às amizades que me acolheram nas minhas inseguranças, medos e angústias e permaneceram. Em especial, a companheira de graduação, Silvia Emanuelly, por compartilhar o peso das aflições desse processo e à Jéssica Tavares, pelo cuidado dispensado no cotidiano, pois ao dividir a mesma casa temos aprendido a compartilhar também nossas vidas. Aos professores, em sua maioria professoras, que durante a graduação foram desvendadores e desvendadoras ao me auxiliarem no processo de leitura da sociedade a partir de um olhar questionador e inconformado. Aos profissionais dos estágios pelos quais passei, especialmente à Cristiane Silva, (assistente social do CEDECA-Casa Renascer) por me servir de inspiração para a profissional que quero ser. Ao Motyrum, projeto de extensão de educação popular em direitos humanos da UFRN, por me possibilitar o aprofundamento e a vivência nas questões da juventude em contexto de direitos violados. À militância política, sobretudo ao coletivo de mulheres Núcleo Amélias, por me mostrar que as injustiças sociais são combatidas e resistidas coletivamente e do lado dos trabalhadores. Ao meu orientador, Roberto Marinho Alves da Silva, pela sensibilidade em compreender meus limites, pela dedicação nas orientações e pela tranquilidade com que conduziu todo o processo de elaboração dessa monografia. Acredito que sem esse apoio, dificilmente, teria finalizado o trabalho a tempo. Grata!

7 A fase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados acumulados da economia, leva a um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do qual todo ter efetivo deve extrair seu prestígio imediato e sua função útilma. (DEBORD, 1997)

8 RESUMO O presente trabalho buscou analisar a questão dos "rolezinhos na perspectiva de exclusão e inclusão socioeconômica e cultural de jovens de bairros populares de Natal (RN), conhecidos pela alcunha de pintas, caracterizando o perfil da juventude rolezeira e investigando a repercussão midiática que influenciou a opinião pública no período de estopim dos encontros em São Paulo (SP) e em Natal (RN). Para tanto, realizou-se pesquisa exploratória de natureza qualitativa, utilizando-se dos seguintes métodos: revisão de literatura; pesquisas documentais em matérias jornalísticas (online) e blogs através da ferramenta eletrônica de busca: Google, restringindo a busca para três veículos de notícias: o Portal G1, o Jornal Tribuna do Norte e o Blog do BG. A partir do estudo, observou-se as contradições vivenciadas por grupos juvenis, em sua maioria negros e pertencentes a bairros periféricos, a partir da sua inclusão no "mundo do consumo", sobretudo após a consolidação do neoliberalismo, não só no Brasil, mas a nível mundial. Sendo a principal contradição identificada: a inclusão marginal desses jovens através do consumo, pois ao mesmo tempo que existe forte apelo social para que eles façam parte da massa de consumidores, os mesmos não são desejados nos templos do consumo: os shoppings centers, o que é percebido pela repressão policial sofrida pelos participantes dos rolezinhos e o apoio da opinião pública. Desse modo, os rolezinhos se configuram como uma forma de resistência dos jovens das periferias urbanas contra os muros invisíveis da segregação social e espacial no país. Palavras-chave: Juventude. Pintas. Consumo. Rolezinhos. Inclusão. Exclusão

9 ABSTRACT This study aimed to analyze the issue of "rolezinhos" in the perspective of exclusion and socioeconomic and cultural inclusion of young people from popular neighborhoods of Natal (RN), known by the nickname pintas, characterizing the youth profile and investigating media repercussion which influenced public opinion during the period of discussions in São Paulo (SP) and Natal (RN). For that reason, an exploratory research of qualitative nature was carried out, employing the following methods: literature review; Documentary research in journalism (online) and blogs through the electronic search tool: Google, restricting the search for three news vehicles: the G1 Portal, the Tribuna do Norte Journal and the BG Blog. Through this study, was observed the contradictions experienced by youth groups, mostly black and belonging to peripheral neighborhoods, from their inclusion in the "consumption world", especially after the consolidation of neoliberalism, not only in Brazil, but worldwide. Being the main contradiction identified: the declass inclusion of these young people through consumption, because at the same time there is a strong social appeal for them to be part of the mass of consumers, they are not desired in the temples of consumption: the malls, which is perceived by the police repression suffered by the participants of Rolezinhos and the support of public opinion. Thus, the rolezinhos are a form of resistance of the young people of the urban peripheries against the invisible walls of social and spatial segregation in the country. Keywords: Youth. Pintas. Consumption. Rolezinhos. Inclusion. Exclusion

10 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Cronologia dos Rolezinhos em São Paulo Figura 2: Seis mil jovens vão ao Shopping Itaquera (SP)...35 Figura 3: Repercussão dos Rolezinhos em São Paulo...50 Figura 4: Suposta briga entre gangues no Shopping Midway Mall...53 Figura 5: Policiamento para Protesto dos Pintas...56 Figura 6: Protesto dos Pintas no Shopping Midway Mall (Tribuna do Norte)...57 Figura 7: Protesto dos Pintas no Shopping Midway Mall (Blog do BG)...57 Figura 8: Comentários sobre Protesto dos Pintas (Tribuna do Norte)...60 Figura 9: Comentários sobre Protesto dos Pintas (Tribuna do Norte)...60 Figura 10: Comentários sobre Protesto dos Pintas (Blog do BG)...61

11 SUMÁRIO INTRODUÇÃO...10 CAPÍTULO I - JUVENTUDE POPULAR URBANA: OPRESSÃO E RESISTÊNCIAS Juventude popular urbana: uma caracterização no Brasil do século XXI A questão social em tempos de hegemonia do ideário neoliberal e a naturalização da exclusão socioeconômica e cultural da juventude popular urbana Abordagens conservadoras de inclusão e formas juvenis de resistência e contestação..28 CAPÍTULO II JOVENS PINTAS E OS ROLEZINHOS EM NATAL/RN: uma análise das repercussões da mídia que influenciam a formação da opinião pública Rolezinhos no Brasil: expressões e significados Rolezinhos em Natal/RN: os jovens pintas nos templos do consumo Repercussões dos rolezinhos: contestação juvenil e repressão social...46 CONSIDERAÇÕES FINAIS...63

12 10 INTRODUÇÃO Ao olhar minha trajetória durante a graduação em Serviço Social, vejo o quanto, entre tantas outras temáticas dos direitos humanos, as temáticas relacionadas a juventude em situação de opressão e violência me inquietaram. Foi assim no ensino, na extensão, na pesquisa e no estágio supervisionado. A partir da aproximação com essas temáticas, veio a motivação para pesquisar sobre os jovens de bairros populares de Natal (RN), conhecidos pelo imaginário popular potiguar como pintas, partindo da análise dos rolezinhos ocorridos em Natal e São Paulo entre dezembro de 2013 a janeiro de Assim, ao buscar tratar sobre esse grupo social, fez-se necessário considerar que a juventude brasileira é demasiadamente heterogênea, muito devido a extensão territorial do país e a diversidade cultural presente nas suas cinco regiões, por isso, melhor aplica-se neste estudo, o uso do termo juventudes ao invés do singular juventude para referir-se a ela, afim de não cair na padronização e resguardar as singularidades dos grupos juvenis espalhados pelo Brasil. Como também, ao abordar sobre as problemáticas que envolvem esse grupo juvenil específico fez-se necessário caracterizá-lo em suas especificidades e naquilo que se assemelha aos demais, sem desconsiderar o contexto sócio-histórico a partir do qual esse grupo foi forjado, partindo do entendimento que a experiência de ser jovem foi e tem sido construída socialmente e que portanto, nesse sentido juventude é uma categoria sociológica (WAISELFISZ, 2014, p.14) que precisa ser analisada considerando os condicionantes externos aos indivíduos jovens e as influências que perpassam suas vidas. Desse modo, o presente trabalho, com o título "Rolezinho dos pintas: a exclusão e a inclusão marginal dos jovens de bairros populares de Natal (RN)", nasce da necessidade de esboçar uma análise sobre as contradições vivenciadas por grupos juvenis, em sua maioria negros e pertencentes a bairros periféricos, a

13 11 partir da sua inclusão no "mundo do consumo", sobretudo após a consolidação do neoliberalismo, não só no Brasil, mas também no restante da América Latina, em países da Europa e nos Estados Unidos. No entanto, ao mesmo tempo que existe forte apelo social e midiático para que eles façam parte da massa de consumidores, os mesmos não são desejados nos templos do consumo: os shoppings centers. E, de forma macro, sofrem ainda com os rebatimentos de uma tendência global de criminalização e penalização da pobreza, como tem defendido o sociólogo francês, Loïc Wacquant em seus estudos e mais especificamente em seu livro As duas faces do gueto, edição brasileira publicada pela Boitempo em Para além dessa tendência global de perseguição aos pobres, existem também as particularidades do Brasil, um país de herança colonialista e escravocrata, em que, apesar de avanços nas legislações e políticas sociais, as medidas repressivas e higienistas são cotidianamente atualizadas e aplicadas pelo Estado e pelas elites, o que intensifica os problemas sociais dos considerados excluídos, através de uma acentuada segregação socioespacial e racial. Dito isso, compreende-se que existe uma vasta produção na literatura das ciências sociais sobre juventude, pobreza, inclusão/exclusão e violação de direitos, o que pode aparentar um esgotamento da temática, todavia a questão dos rolezinhos tem relevância dado se tratar de uma expressão da questão social brasileira que ainda carece de maior aprofundamento: a inclusão social de jovens pobres através do consumo de marcas caras no mercado que cria uma sensação de ascensão social fictícia, uma vez que não modifica os alicerces da desigualdade socioeconômica, mas os camufla ao disseminar uma lógica de sociabilidade baseada no aparente e na imagem. Ou seja, A sociedade que exclui é mesma sociedade que inclui e integra, que cria formas também desumanas de participação, na medida em que delas faz condição de privilégios e não de direitos (MARTINS, 2008, p.11). Como desdobramento disso, observa-se atualmente, o fenômeno do funk ostentação que tem feito com que uma legião de jovens das periferias do sudeste sonhem em se tornarem cantores MCs para conquistar fama e dinheiro, investindo seus salários ou do seus pais em roupas, sapatos e adereços de marcas

14 12 famosas, como também em videoclipes para o site de compartilhamento de vídeos, Youtube. Diante dessa problemática e com a intenção de fazer um recorte sobre os jovens participantes dos rolezinhos na cidade do Natal, esse trabalho tem como objetivo geral analisar a questão dos rolezinhos na perspectiva de exclusão e inclusão socioeconômica e cultural de jovens de bairros populares de Natal (RN). E, como objetivos específicos: Caracterizar a juventude rolezeira das cidades de São Paulo (SP) e de Natal (RN), traçando um esboço sobre quem são os pintas natalenses; e Analisar a repercussão midiática que influenciou a opinião pública no período de estopim dos encontros, dezembro de 2013 a janeiro a Para alcançar os objetivos propostos, optou-se pela realização de uma pesquisa do tipo exploratória que, conforme Gil (2007, p. 27): têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. A escolha por um estudo exploratório se deu pelas condições objetivas relacionadas ao curto período de tempo para realização da pesquisa, bem como a escassez de material bibliográfico a respeito dos jovens pintas e suas particularidades, o que impossibilitou um aprofundamento na sua caracterização enquanto grupo social. Todavia, a pesquisa foi de natureza qualitativa sendo juventude, rolezinhos, inclusão, exclusão e consumo as principais categorias de análise discutidas no estudo. Já sobre os métodos adotados, utilizou-se dos seguintes meios: revisão de literatura e pesquisa documental em matérias jornalísticas (online) e blogs através da ferramenta eletrônica de busca Google. A busca foi delimitada para três veículos de notícias: o Portal G1, o Jornal Tribuna do Norte e o Blog do BG para uma melhor análise de conteúdo. A opção pelo Portal G1 de notícias e pelo Jornal Tribuna do Norte deve-se a credibilidade que possuem para a construção da opinião pública, o primeiro a nível nacional com a cobertura dos rolezinhos em São Paulo e o segundo no estado do Rio Grande Norte, particularmente na capital

15 13 potiguar. Já a escolha pelo Blog do BG foi em decorrência do mesmo ter dado visibilidade aos fatos, embora com caráter informal e amadorístico do conteúdo do site, com o intuito de ter um contraponto com as notícias veiculadas pelo Tribuna do Norte. A respeito da abordagem metodológica, esclarece-se que ao compreender que a realidade não se explica por si mesma, faz-se fundamental um olhar crítico diante dos fatos postos, considerando os fatores sócio-históricos, econômicos, étnicos e culturais presentes na sociedade sobre a qual debruçou-se para analisar as problemáticas desse estudo. Desse modo, houve uma aproximação com o método histórico-dialético, ressalvadas as limitações acadêmicas dessa aproximação, como ficará nítido no decorrer da leitura. Assim, na perspectiva de abarcar os objetivos mencionados, organizou-se o presente trabalho em dois capítulos, em que cada capítulo possui três subtópicos. No primeiro capítulo, intitulado Juventude popular urbana: opressão e resistências, buscou-se realizar a caracterização da juventude popular urbana no Brasil do século XXI, discorrendo sobre a realidade de jovens empobrecidos que residem em áreas populares urbanas, bem como refletir sobre as novas expressões da questão social com o advento do ideário neoliberal e suas implicações para a exclusão social da juventude pauperizada e por último abordar as formas conservadoras de inclusão pelo consumo e as formas juvenis de resistência e contestação. No segundo capítulo, com o título Jovens pintas e os rolezinhos em Natal/RN: uma análise das repercussões na mídia que influenciam a formação da opinião pública, procurou-se inicialmente caracterizar os rolezinhos ocorridos no Brasil entre os meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014 com enfoque nos rolezinhos realizados em São Paulo e Natal, destacando possíveis expressões e significados para a sociedade e para os próprios participantes. Como também, analisar os rolezinhos em Natal (RN) a partir da sua relação com os jovens pintas, fazendo uma introdutória caracterização do perfil desses jovens e a repercussão dos eventos na opinião pública dos natalenses.

16 14 Por fim, pontua-se que ao analisar as repercussões dos rolezinhos em Natal (RN) a partir de uma visão macro da realidade da juventude popular urbana brasileira e suas contradições, a intenção é de provocar quem leia este trabalho para um olhar amplo e crítico a respeito da problemática da inclusão marginal dos jovens pobres através do consumo, em que permanecem as estruturas de dominação, segregação e criminalização inalteradas e até mesmo acentuadas na sociedade brasileira.

17 15 CAPÍTULO I - JUVENTUDE POPULAR URBANA: OPRESSÃO E RESISTÊNCIAS Antes de qualquer coisa, cabe discorrer brevemente, sobre o que é ser jovem e qual a compreensão adotada aqui. Os conceitos sobre juventude vão variar de acordo com a abordagem de onde se parte a análise. Coimbra e Nascimento (2005, p ) no artigo Ser jovem, ser pobre é ser perigoso?, colocam que vertentes ligadas ao viés biológico defendem a presença de mudanças hormonais e físicas que justificariam características psicológico-existenciais dessa fase da vida: Descrevem, assim, suas atitudes, comportamentos e formas de estar no mundo como manifestações dessas características, percebidas como uma essência e, portanto, como imutáveis. Dessa maneira, qualidades e defeitos considerados típicos do jovem como entusiasmo, vigor, impulsividade, rebeldia, agressividade, alegria, introspecção, timidez, dentre outros, passam a ser sinônimos daquilo que é próprio de sua natureza. No entanto, as autoras ressaltam que essa vertente não tem sido empregada para todos os segmentos sociais, já que os jovens pobres são colocados a margem desse parâmetro de julgamento comportamental, que possibilita certa tolerância por parte da sociedade às atitudes de rebeldia desde que a depender da origem desse ou dessa jovem, seria o conhecido popularmente como dois pesos, duas medidas. Por outro lado, tem-se o viés defendido pelas ciências sociais que compreende a juventude como uma categoria essencialmente sociológica, como apontado por Júlio Jacobo Waiselfisz (2014, p.14) no Mapa da Violência: Os Jovens do Brasil, 2014 : (...) já o conceito juventude resume uma categoria essencialmente sociológica, que remete ao processo de preparação para o indivíduo assumir o papel de adulto na sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional, isto é, tanto na produção quanto na reprodução da vida humana (...).

18 16 E, é a partir da vertente sociológica que esse estudo partirá, não desconsiderando a classificação etária desses indivíduos, atualmente estipulada no Brasil entre 15 a 29 anos de idade, mas compreendendo que a categoria juventude precisa ser analisada e interpretada para além de um espaço de tempo pré-determinado, levando em conta os determinantes sociais, econômicos e culturais que norteiam a concepção de uma identidade juvenil ou de identidades juvenis Juventude popular urbana: uma caracterização no Brasil do século XXI. Joane Araújo (2016) em sua dissertação Juventude, participação e projeto popular: a experiência político-organizativa do movimento Levante Popular da Juventude, partindo do pressuposto analítico da juventude como categoria sociológica, afirma que o jovem é uma construção social moldada pela realidade e recorte sociocultural. Para a pesquisadora, partindo dos estudos de Luís Antônio Groppo sobre juventude e suas contradições na modernidade, a juventude teria sido experienciada, primeiramente, pela burguesia e pela aristocracia e só posteriormente pelos trabalhadores. Segundo Araújo, a classe trabalhadora precisou conquistar o direito de vivenciar a juventude, e acrescenta: Outras construções de juventude não ocidentais, negras, mestiças, rurais e femininas, não legitimadas pelas práticas e discursos das instituições oficiais, liberal-burguesas e capitalistas surgem em contraponto ao ideal de juventude da modernidade burguesa, juventudes que forjaram para si mesmas representações, construíram relações sociais concretas e distintas do padrão típico ou ideal do ser jovem na época. O direito à juventude chega mais tardiamente para as juventudes das classes operárias e segmentos sociais marginalizados, fato que levou essas juventudes a criar, no decorrer do século XIX e principalmente século XX, identidades juvenis a partir do reconhecimento e explicitação de suas diferenças e singularidades (GROPPO, 2000, p.17-18). (ARAÚJO, 2016, p. 23) É interessante pensar sobre essa perspectiva da vivência da juventude como um direito, pois faz refletir que nem todos aqueles, lidos como jovens pela

19 17 sociedade, de fato experienciam essa juventude de forma idealizada e padronizada, o que pode ser observado com relação aos grupos juvenis de segmentos populares. Desse modo, busca-se delinear alguns aspectos como índice populacional, cor, território e camadas sociais da juventude brasileira do século XXI, imprescindíveis à discussão que se propõe neste trabalho, a qual busca analisar a questão dos rolezinhos ocorridos entre 2013 e 2014, na perspectiva de exclusão e inclusão socioeconômica e cultural de jovens de bairros populares de Natal-RN. No que se refere ao índice populacional, o Mapa da Violência 2014 aponta que no ano de 2012, segundo estimativas do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), a juventude (15 a 29 anos de idade) representava o percentual de 26,09% da população brasileira. O mesmo documento informa que esse percentual já foi maior se comparado, por exemplo, a década de 1980, em que os jovens totalizavam 29% dos habitantes e relaciona essa diminuição a variados fatores relacionados fundamentalmente à urbanização e à modernização da sociedade brasileira (WAISELFIESZ, 2014, p.23). Destaca-se como um desses fatores, ainda segundo Waiselfisz (2014) através da análise de dados do Subsistema de Informação sobre Mortalidade SIM (Ministério da Saúde), os índices crescentes de homicídios da juventude brasileira que passaram de 19,6 em 1980 para 57,6 em 2012 por 100 mil jovens, o que representa um aumento de 194,2%... (WAISELFIESZ, 2014, p.177). Quando feito o recorte desses quantitativos por cor, o estudo mostra que em 2002, foram vítimas de homicídios 79,9% mais jovens negros que brancos, tendo essa porcentagem aumentado para 168,6% em 2012 ((WAISELFIESZ, 2014, p.184), o que evidencia a situação de vulnerabilidade social e violência a qual está submetida a juventude negra e pobre do país. No tocante a cor/etnia, pesquisa da Secretaria Nacional de Juventude, aplicada por um conjunto de consultoras e com apoio da Unesco Brasil, entre abril e maio de 2013, que entrevistou jovens (de 15 e 29 anos de idade) em 187 municípios urbanos e rurais, indicou que seis em cada dez desses jovens (garotas e garotos) se declararam pardos ou negros e um terço se considerou de cor branca. A pesquisa que culminou no documento "Agenda Juventude Brasil" (2014) informou

20 18 que a porcentagem de jovens que se autodeclararam negros nesse estudo foi proporcionanalmente maior do que aquela apresentada pelo Censo 2010 e aponta como umas das possíveis justificativas: Uma explicação possível para essa diferença é a de que, no Censo, a informação de cor de todos os que compõem a família é dada por apenas um dos membros comumente a mãe ou o pai enquanto nesta pesquisa coletou-se, exclusivamente, a autodeclaração dos próprios jovens. Essa constatação corrobora a hipótese já apontada em pesquisas anteriores de que há uma tendência, nessa geração, de maior identidade racial entre os jovens negros, acompanhando o aumento da visibilidade da questão racial no país e nas políticas de afirmação racial. (BRASIL, 2014, p.18) Em consonância com os dados acima, o Censo 2010 (IBGE, 2011, p. s/n) mostrou que 51% da população brasileira autodeclara-se negra, parda ou indígena. Contudo, o fato da nossa sociedade ser composta, majoritariamente, por pessoas não brancas não é motivo suficiente para romper com o racismo tão arraigado, tanto institucionalmente quanto nas relações sociais. E, quando se trata da negritude que pertence a segmentos sociais pauperizados o preconceito racial ganha proporções peculiares, onde se associa sua cor e condição socioeconômica à uma tendência natural à criminalidade o que implica na criminalização desse segmento da população. Voltando a pesquisa da Secretaria Nacional de Juventude, no que se refere às camadas socioeconômicas as quais esses jovens pertecem, a pesquisa elenca os seguintes quantitativos: Considerando a renda domiciliar per capita, 28% estão nos estratos baixos (até R$ 290,00/mês), 50% nos médios e 11% nos estratos altos (acima de R$ 1.018,00/mês). O recorte de renda segue o aplicado no estudo sobre estratos econômicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos SAE 1. Ressalta-se que mesmo com uma possível ascensão de segmentos sociais 1 Agenda Juventude Brasil. Brasília: Secretaria Nacional da Juventude, Disponível emhttp:// %20juventude%20snj.pdf. Acesso em 29/05/2017.

21 19 pauperizados aos setores médios ou da redução da pobreza nas últimas décadas devido a medidas de valorização do salário mínimo, políticas de transferência de renda e aumento da linha de crédito, entre outras, o que gera discordância entre alguns estudiosos, o país ainda apresenta uma agravante desigualdade social e econômica, intensificada pela alta concentração de riqueza nas mãos de um grupo pequeno de pessoas e a má gestão dos recursos orçamentários pelo Estado. E, mais recentemente, com o advento de uma crise política e econômica que se iniciou no país em 2013 e tem apresentado desdobramentos assustadores para os trabalhadores como o anúncio de reformas nas leis trabalhistas e na seguridade social, que intensificam o desemprego estrutural, o sucateamento dos serviços sociais públicos e dos programas de transferência de renda, apresentando rebatimentos para essa juventude. Já com relação ao território, observa-se que a maioria da juventude vive nas cidades (84,8%), estando apenas o percentual de 15% no campo. Como esse trabalho trata, justamente, dos grupos juvenis das cidades, a questão urbana mostra-se intrínseca a esta discussão. David Harvey (2008) ao discorrer sobre urbanização e direito à cidade, defende que: A qualidade de vida urbana tornou-se uma mercadoria, assim como a própria cidade, num mundo onde o consumismo, o turismo e a indústria da cultura e do conhecimento se tornaram os principais aspectos da economia política urbana. A tendência pós-moderna de encorajar a formação de nichos de mercado tanto hábitos de consumo quanto formas culturais envolve a experiência urbana contemporânea com uma aura de liberdade de escolha, desde que se tenha dinheiro (...). Este é um mundo no qual a ética neoliberal de intenso individualismo possessivo e a correlata renúncia política a formas de ação coletiva tornaram-se padrão para a socialização humana (Nafstad et al. 2007). (HARVEY, 2008, p.81). E acrescenta: Vivemos progressivamente em áreas urbanas divididas e tendentes ao conflito. Três décadas atrás, a reviravolta neoliberal restaurou o poder de classe das elites ricas (...). Os resultados são indelevelmente cáusticos sobre as formas espaciais de nossas cidades, que consistem progressivamente em fragmentos fortificados, comunidades fechadas e espaços públicos

22 20 privatizados e mantidos sob constante vigilância. (HARVEY, 2008, p.81). Para Harvey (2008, p.82), todas essas alterações nas relações sociais das cidades e que sustenta esses sonhos urbanos individualistas, reflete uma ética neoliberal que Sob estas condições, ideais de identidade urbana, cidadania e pertencimento já ameaçados pela propagação do mal-estar da ética neoliberal tornam-se mais difíceis de se sustentar. Cabe aqui ressaltar que a juventude popular tem sido uma das mais atingidas pelos rebatimentos socioculturais e econômicos de uma socialização imersa na superficialidade, que o filósofo francês, Guy Debord (1997) vai nomear de a sociedade do espetáculo, em livro de mesmo nome. Todavia, se pudesse estabelecer um aspecto que aproxima os mais variados segmentos sociais, econômicos e étnicos dos grupos juvenis urbanos brasileiros do século XXI, seria o da aspiração consumista, onde o ato de consumir tornou-se um fim em si mesmo, não só para população juvenil, mas para os demais indivíduos. No entanto, os adolescentes e jovens têm sido o público preferencial do mercado, como enfatiza o estudioso do tema, Adriano Machado Oliveira (2007 p.5), no texto A juventude perante a sociedade de consumo: paradoxos e novas configurações identitárias. Segundo ele, com a globalização do capitalismo: (...) uma cultura consumidora começa a nascer sob a influência dos meios de comunicação de massa, com o claro intuito de conquistar as diversas fatias de mercado presentes nos países em desenvolvimento. Dentre estas, os adolescentes recebem especial atenção dos publicitários. Oliveira (2007, p.5), ressalta que: Começava-se, pois, a se elaborar uma associação altamente rentável para as empresas multinacionais: a vinculação entre consumo de produtos industrializados e juventude. Em oposição aos jovens sem autonomia para a tomada de decisões e insatisfeitos sexualmente, apresentava-se então, a partir dos anos

23 21 sessenta, um novo perfil de jovem, o qual adquiria sua autonomia através do ato de consumo. Assim, têm-se uma juventude diversa e ao mesmo tempo unida pelo apelo midiático e ideológico de realização através da apropriação da mercadoria. Essa lógica foi absorvida não só pelos jovens de famílias de classes médias e altas, mas também por aqueles pertencentes aos estratos sociais pauperizados, como reflete o pesquisador nessa temática, Jurandir Freire Costa (2004, p.84): Acho, no entanto, que a atitude consumista não depende do nível de renda. É uma atitude diante da vida, e, por conseguinte, diante dos objetos que se pode possuir. No Brasil, a maioria tem uma renda pessoal ou familiar desprezível, mas, mesmo assim, se comporta como se tivesse uma renda alta, quando se trata de usar objetos como coisas descartáveis. Em conformidade com o exposto por Costa (2004), as reflexões realizadas por Oliveira (2007, p.6) apontam que: A cultura jovem brasileira insere-se, pois, dentro dessa nova dinâmica social, onde poucos atendem às superexigências de sempre novas aquisições de mercadorias e quinquilharias do mundo publicitário e, ao mesmo tempo, em que milhares de novos fracassados se aglomeram insatisfeitos - convidados, de fato, a assumirem desejos que se veem interditados precocemente pela falta do que lhes permita substituir em ritmo frenético a avalanche de produtos oferecidos. Em suma, os grupos juvenis populares têm engendrado mecanismos diversos para se sentirem partícipes dessa sociabilidade atrelada aos bens de consumo e assim se afirmarem enquanto cidadãos tal qual aqueles pertencentes a grupos mais abastados. Porém, percebe-se que o ato de consumir em si não é o suficiente para a almejada inclusão social, uma vez que, os jovens pobres esbarram no aparato político-ideológico estabelecido pelas classes dominantes, responsável pela manutenção da estigmatização desses jovens, como potencialmente perigosos, fortalecendo a conservação de um sistema que, ao longo dos séculos, segrega e oprime grupos pela sua condição social, cor/etnia e moradia nesse país.

24 A questão social em tempos de hegemonia do ideário neoliberal e a naturalização da exclusão socioeconômica e cultural da juventude popular urbana. Para adentrar nas expressões da questão social com o advento da ideologia neoliberal e seus rebatimentos na vida da população juvenil é importante apreender que as transformações, em âmbito mundial, se deram após a crise estrutural do capitalismo, iniciada em 1970, que Ana Elizabete Mota (2009, p.58) vai chamar de uma crise orgânica que ocasionou o exaurimento do Estado de Bem-Estar e do pacto fordista-keynesiano nos países de capitalismo maduro e maior dependência dos países em desenvolvimento, que é o caso do Brasil. Segundo Mota (idem) e Sérgio Lessa (2013), as crises são inerentes ao modo de produção capitalista. Essas crises orgânicas ou cíclicas expressam um desequilíbrio entre produção e o consumo (MOTA, 2009, p. 53) que trazem prejuízos ao capital que deixa de arrecadar seus lucros e assim deixa de acumular riqueza, afeta também a classe trabalhadora através do aumento do desemprego e da intensificação da pobreza. Ainda de acordo com a autora, as crises orgânicas expressam a desigualdade estruturalizada que se baseia na riqueza socialmente produzida e privadamente apropriada. No entanto, elas vão ser funcionais ao capitalismo, porque são em meio as crises que o capital se reinventa em condições mais complexas e mantêm dessa forma seu poder de dominação econômica, política e cultural. A autora vai chamar esse processo de crise/restauração (MOTA, 2009, p.55). É a partir da restauração do capital (pós crise) ou da chamada restruturação produtiva que vai se dar a consolidação do neoliberalismo através do imperialismo do capitalismo financeiro, que Lessa (2013, em vídeo) descreve como o capital fictício, pois o próprio capital torna-se o produto de onde se obtém o lucro. O novo padrão de acumulação de capital impõe um conjunto de reformas políticas orientadas para o alcance de ajustes fiscais, sacrificando políticas sociais e

25 23 econômicas (de investimentos), resultando na intensificação da pobreza com o aumento do desemprego; a focalização e a precarização das políticas sociais; as privatizações de empresas públicas e de serviços sociais básicos, sendo esta a fase mais cruel do capitalismo de acordo com os autores. Para Iamamoto (2007, p ), é em meio a essas mudanças econômicas e sociais que irão surgir: (...) novas mediações históricas na gênese e expressões da questão social, assim como nas formas, até então vigentes, de seu enfrentamento, seja por parte da sociedade civil organizada ou do Estado, por meio das políticas sociais públicas e empresariais, dos movimentos sociais e sindicais e demais iniciativas da sociedade civil (...). A questão social é aqui compreendida, a partir da perspectiva defendida pela autora, como uma expressão da produção e reprodução da vida social na sociedade burguesa, da totalidade histórica concreta (IAMAMOTO, 2007, p.114). E ainda de acordo com ela: (...) a gênese da questão social encontra-se enraizada na contradição fundamental que demarca esta sociedade, assumindo roupagens distintas em cada época: a produção, cada vez mais social, que se contrapõe à apropriação privada do trabalho, de suas condições e seus frutos. Uma sociedade em que a igualdade jurídica dos cidadãos convive, contraditoriamente, com a realização da desigualdade. Assim, dar conta da questão social hoje, é decifrar as desigualdades sociais de classes em seus recortes de gênero, raça, etnia, religião, nacionalidade, meio ambiente etc. Mas decifrar, também, as formas de resistência e rebeldia com que são vivenciadas pelos sujeitos sociais. A contradição fundamental a qual a autora se refere é a contradição de classes presentes no modelo capitalista, em que vai existir uma parcela ínfima da população que se apropria da riqueza socialmente produzida, são os segmentos hegemônicos que detêm o poder político e ideológico. Por outro lado, têm-se o restante da população dividida em estratos sociais, mas são todos trabalhadores que necessitam vender a sua força laboral e/ou intelectual em troca de um salário, ficando as distinções a cargo das funções sociais que ocupam na sociedade, mais

26 24 ou menos prestigiosas e das remunerações que recebem, dessa parte da população faz parte também os desempregados. Os excluídos do mercado de trabalho, já que não há espaço para todos, encontram formas de sobrevivência diversas, seja através do trabalho informal, da mendicância ou mesmo de atos ilícitos. O neoliberalismo provocou transformações político-ideológicas em escala global por meio da consolidação de um mercado mundial, prevalecendo um Estado máximo para o mercado e mínimo para o social, o que tem ao longo das últimas décadas, mais precisamente a partir da década de 1990 aqui no Brasil, fortalecido o sucateamento do serviço público e consequentemente a insistente mercantilização de serviços como: saúde, educação e lazer, entre outros. Com a mercantilização dos serviços têm-se o surgimento da imagem de um cidadão-consumidor em detrimento do cidadão sujeito de direitos, numa sociabilidade onde os seus direitos estão à venda e o prestígio social está justamente relacionado ao que você pode consumir e ostentar. Já, para aqueles que não podem pagar pelos serviços e bens mais indispensáveis à vida, como habitação, alimentação, saúde e etc, resta a filantropia e/ou as políticas sociais públicas seletivas que usam o critério do mais miserável entre os miseráveis para selecionar os que terão direito aos benefícios. Nessa nova lógica, ganha espaço um novo binômio de exclusão/inclusão que expressa um pressuposto de que a sociedade não necessita transformar-se para atender as demandas dos cidadãos em sua totalidade, mas que a solução para os problemas sociais é a integração social dos indivíduos através do consumo de bens e serviços para aqueles que podem pagar e da filantropia para os que não detêm meios de acessá-los, onde o Estado se isenta delegando a sociedade civil a responsabilidade sobre os indivíduos ditos excluídos. De acordo com Simionatto (2009, p.95) é através da ideologia consumista, que se colocam novos modos de vida, que implicam em hábitos de lazer, arte, música, cultura, moda, alimentação, até desejos, valores e virtudes. Observa-se, desse modo, o surgimento de uma indústria cultural, ou seja, modos de vida produzidos por este aparato ideológico e apropriado pelas massas. O capital

27 25 invade a vida íntima dos indivíduos, seja sob a forma acentuada de mercantilização e burocratização de necessidades, seja sob a forma de controle dos comportamentos (idem, p.10). A situação de exclusão socioeconômica e cultural e ao mesmo tempo inclusão por meio do consumo, como também, a marginalização da juventude popular dá-se dentro dessa conjuntura global de mercantilização das relações sociais e da vida, onde assiste-se a transição, segundo Loïc Wacquant (2008, p ), de um Estado Social para um Estado Penal que tem atuado numa perspectiva de criminalização da pobreza por meio do encarceramento em massa e políticas de repressão, uma tendência iniciada pelos EUA e copiada por países subdesenvolvidos como o Brasil. O autor caracteriza a regência desse novo modus operandi do capitalismo de liberal-paternalismo e explicita: Ele é liberal no topo, para com o capital e as classes privilegiadas, produzindo o aumento da desigualdade social e da marginalidade; e paternalista e punitivo na base, para com aqueles já desestabilizados seja pela conjunção da reestruturação do emprego com o enfraquecimento da proteção do Estado de bemestar social, seja pela reconversão de ambos em instrumentos para vigiar os pobres. (WACQUANT, 2008, p.94) Wacquant (2008, p.100) enfatiza que, ( ) nas sociedades que vivenciaram experiências autoritárias recentemente, como as do Brasil e da Argentina, a aplicação das penalidades neoliberais significa, na verdade, o restabelecimento da ditadura sobre os pobres. Esta ditadura sobre os pobres é nitidamente percebida na forma como os grupos juvenis de bairros pobres dos centros urbanos são tratados pelo Estado, através das mãos da polícia de forma autoritária, racista e violenta. Para Marisa Feffermann (2013, p.58): No Brasil, essa situação é agravada pela formação do Estado brasileiro atravessada por processos históricos de cunho

28 26 autoritário, racista, excludente e de massacres sistemáticos. Hoje, o Estado Providência sucumbe ante o Estado Punitivo, cuja a assistência social dá lugar à atuação policial e carcerária. Diante desse contexto, a autora vai defender que se instaurou no país um medo social que tem sido uma forma de legitimar a violência contra qualquer manifestação que desestabilize o status quo (FEFFERMANN, 2013, p.58). Considerando a análise realizada por Marilena Chauí (2010), a autora enfatiza que: Na sociedade brasileira, de cunho extremamente autoritário, as diferenças e assimetrias sociais e pessoais são imediatamente transformadas em desigualdades. Relações que têm como fins a dominação, exploração e opressão. As relações sociais caracterizam-se por dependência, tutela, concessão, autoridade e favor, sendo norteadas pelo paternalismo e clientelismo. Uma sociedade que apresenta imensas desigualdades econômicosociais e culturais, e exclusões econômico-políticas e sociais é o autoritarismo que regula todas as relações sociais, a corrupção como forma de funcionamento das instituições, o racismo, o sexismo, as intolerâncias religiosa, sexual e política (CHAUÍ, 2010 apud FEFFERMANN, 2013, p. p.59). Feffermann (2013) citando Chauí (2010) fala sobre uma divisão social do medo em que as classes dominantes têm medo do seu poder e privilégios serem perdidos, já os setores médios receiam a pobreza, o subemprego e a desordem social. E, as classes populares temem a morte cotidiana, a violência patronal e policial, a queda vertiginosa na marginalidade, na miséria absoluta, a arbitrariedade dos poderes constituídos. (CHAUÍ, 2010 apud FEFFERMANN, 2013, p.60) Portanto, devido a todos esses fatores, não é possível falar sobre a população juvenil das cidades sem discutir a sua associação com a problemática urbana, principalmente no quesito violência e exclusão. Sobre isso Feffermann (2013, p. 62) ressalta, (...) a estrutura urbana segregadora da cidade concretiza-se cada vez mais, e os impactos dessa realidade de confinamento são visíveis principalmente nas populações de menor renda e nível educacional. As fronteiras presentificam-se através de muros e grades, fragmentando a cidade, e impedindo o contato de um com o outro que não pertença a mesma classe social. O sentido de

29 27 cidadania se esvai, o discurso do medo e da insegurança invade todos os espaços, impedindo a visualização da realidade. Esses discursos materializam-se, tomam corpo, são vistos como realidades inquestionáveis. Constrói-se a figura do inimigo, protege-se de todas as formas contra ele, não existindo possibilidade de questionar essa verdade, instrumentaliza-se com todos um arsenal para proteção. A indústria do medo fortifica-se com os seguranças particulares e as exigências de um maior reforço da Segurança Pública (...) A indústria cultural encarrega-se de garantir que esse discurso ideológico reverbere em todos os cantos. Sobre esse aspecto o sociólogo Pierre Bourdieu (2007, p.163) relaciona a segregação espacial a uma violência simbólica : Como o espaço social encontra-se inscrito ao mesmo tempo nas estruturas espaciais e nas estruturas mentais que são, por um lado, o produto da incorporação dessas estruturas, o espaço é um dos lugares onde o poder se afirma e se exerce, e, sem dúvida, sob a forma mais sutil, a da violência simbólica como violência desapercebida: os espaços arquitetônicos, cujas injunções mudas dirigem-se diretamente ao corpo, obtendo dele, com a mesma segurança que a etiqueta das sociedades de corte, a reverência, o respeito que nasce do distanciamento ou, melhor, do estar longe, à distância respeitosa, são, sem dúvida, os componentes mais importantes, em razão de sua invisibilidade (para os próprios analistas, muitas vezes ligados, como os historiadores depois de Schramm, aos sinais mais visíveis do poder simbólico, cetros e coroas), da simbólica do poder e dos efeitos completamente reais do poder simbólico. A segregação espacial e/ou territorial vai incidir sobre os jovens moradores de comunidades periféricas. Onde o simples ato de frequentar bairros e ambientes em que predominem a presença de pessoas das classes médias e altas é suficiente para gerar o estranhamento por parte dessas pessoas que não disfarçam o incômodo em dividir o mesmo espaço com sujeitos que destoam seja cultural ou esteticamente do padrão esperado. E, o mais interessante é que o fato desses jovens estarem lá como consumidores, tal qual as demais pessoas que frequentam os templos do consumo, não inibe o estranhamento e a inquietação.

30 Abordagens conservadoras de inclusão e formas juvenis de resistência e contestação. A juventude, ao mesmo tempo que é um reflexo da sociabilidade a qual está inserida, apresenta também posturas de resistência e contestação ao sistema vigente. Todavia, os tipos de resistência e contestação encontrados tende a não serem uniformes, como explica Miriam Abramovay (2012, p. 22): Considera-se que existe uma cultura juvenil característica desses tempos, que tem como propriedade a valorização do espetáculo, usando como cenário uma espécie de presente eterno. Essa cultura se constrói mais que por simples diferenças geracionais, busca caraterísticas identitárias próprias, elabora críticas difusas aos parâmetros da sociedade quanto ao normal e o interdito, tentando afirmar singularidade em ritmo acelerado. Esses jovens usam expressões artísticas sempre com o norte da crítica, da diferença, mesmo reproduzindo muitos dos parâmetros do mercado da cultura política, insistem, tentam, buscam. Valoriza-se o imagético, a linguagem gráfica, trata-se de letras-corpos que lidam de suas formas com inseguranças várias e faltas de poder na macroestrutura, territorializando no corpo ou no muro formas de ser e estar no mundo. Essa cultura juvenil expressa os dilemas da juventude que, ao mesmo tempo que busca a socialização por meio do consumo, também afronta essa lógica, negando os padrões e regras impostos de ajustamento à sociedade que se orienta pelo ideário neoliberal. São grupos ligados ao Rap; aos movimentos estudantis; as gangues, ao grafite e mais recentemente observa-se o surgimento do Funk Ostentação, onde adolescentes e jovens cantores de funk, moradores das comunidades periféricas do Rio Janeiro e de São Paulo têm sido apropriados pela indústria fonográfica após estourarem na internet com videoclipes em grande parte amadores, mas que tornaram-se verdadeiros hits, ganhando milhares de seguidores não só da carreira desses artistas, mas do ideário de vida defendido nas letras das músicas, de um reconhecimento social através do consumo de carros de luxo, roupas e sapatos de marcas, jóias e demais mercadorias que representem ostentação e privilégio na sociedade.

31 29 Para adentrar nas especificidades da relação entre os rolezinhos e a cultura do funk ostentação observemos a análise das cientistas sociais Rosa Pinheiro- Machado e Lúcia Mury Scalco em artigo intitulado Rolezinhos: marcas, consumo e segregação no Brasil, publicado na revista de estudos culturais da Universidade de SP, a respeito do Funk ostentação descrevem: Trata-se de uma versão - que se manifesta mais fortemente em São Paulo, mas não apenas lá - que cultua carros, dinheiro e grifes em níveis propositalmente exacerbados, representando a negação do papel previamente definido socialmente que versa sobre a pobreza como destituição, ausência e carência. (...) O funk é um discurso político que ocorre por meio da estética criativa e positivada (ver MIZRAHI, 2011, 2012), forjando, assim, uma contradição profunda: os grupos mais baixos da sociedade apropriando os símbolos maiores de status e de riqueza. Conforme declarou na televisão o rapper Emicida é um direito nosso cantar a felicidade. A sociedade ostenta, via propaganda, novela; mas quando a favela faz, acha que a favela é que criou o consumismo. No entanto, enquanto esses grupos juvenis são seduzidos principalmente através do apelo midiático a consumirem essas mercadorias, pede-se que o façam dentro dos seus territórios, nas comunidades em que residem e que assim não ultrapassem as fronteiras sociais e culturais estabelecidas entre os bairros populares e os bairros elitizados das cidades urbanas. Para o sociólogo Alyson Freire (2014) em matéria para a revista Carta Potiguar : A sedução do consumo que transforma o ato de comprar em condição indispensável para a felicidade e, sobretudo, para a dignidade social produz o desejo irrefreável e cada vez mais generalizado entre as classes sociais de fazer parte desse universo de fantasia e realização. De modo que, os antes economicamente excluídos do consumo de lazer começam a reivindicar o seu quinhão nesse mundo da ostentação e da fruição consumista, pois enxergam nele, tal como as classes estabelecidas, um meio indispensável para alcançar um lugar no mundo, quer dizer, dar sentido a vida. O mercado convoca todos, inclusive os classificados como indesejáveis. Na medida que o mercado convoca todos, as classes privilegiadas estabelecem os limites dessa integração, surgindo daí a existência de um jovem

32 30 consumidor marginal. O que faz refletir sobre as premissas de exclusão/inclusão colocadas até aqui. Sobre isso, Machado e Scalco (2014) ao referenciarem Foster (2005) vão fazer uso do termo marketing do amor para explicarem essas contradições da própria sociabilidade neoliberal: Esse fenômeno estrutural das periferias globais, nuançado por contextos locais e nacionais, provoca angústia das elites e desespero do setor de marketing das grandes corporações, que hoje precisam responder a um problema que eles mesmos criaram: a produção do sonho e do amor às marcas. Como disse publicamente um CEO da marca Adidas: encontramos o nosso inimigo, somos nós mesmos[2]. Ou como anunciou um dos maiores produtores de pirataria, então preso nos Estados Unidos: Vocês (as marcas) criaram um sonho, agora aguentem[3]. Fica evidente aqui o papel subversivo desses jovens ao desafiarem a racionalidade do marketing e atuarem em um campo não previsto pelos gestores das grandes marcas. O marketing do amor, assim, revela algumas contradições da modernidade: ele é dirigido às elites, mas acaba atingindo as populações mais desprovidas de capitais, as quais, ao se apropriarem do símbolo dos outros, reinventam a sua própria condição de pobreza, ressignificando a carência em abundância. (FOSTER, 2005, apud MACHADO e SCALCO, 2014, p.5). A este respeito, observa-se a pertinência de se discutir sobre as implicações da categoria exclusão dentro da sociedade capitalista. José de Souza Martins (2008), no livro A sociedade vista do abismo, faz uma análise crítica sobre a temática exclusão e suas derivações. O autor vai dizer que exclusão é uma das categorizações imprecisas, criadas atualmente, com o objetivo de definir os aspectos mais problemáticos da sociedade contemporânea no Terceiro Mundo. Ele acrescenta que a partir do termo exclusão passou-se a utilizar o substantivo excluído para identificar determinadas pessoas e relações sociais. Todavia, acredita que essa concepção faz mais sentido para os estudiosos e filantropos que para os ditos excluídos e reflete: É preciso compreender quais são as razões e motivos pelos quais os que se preocupam com a exclusão social querem encaixar a realidade dos pobres nesse conceito, e por que já não serve o conceito de pobre, ou o conceito de trabalhador ou o conceito de marginalizado. Por que, no fim das contas, os agentes de pastoral, os religiosos, os militantes das causas humanitárias e das causas

33 31 partidárias oscilam, ao longo do tempo, nessa busca, imprecisa de uma palavra que diga o que os pobres são ao invés de uma busca precisa que diga o que os pobres querem? (MARTINS, 2008, p. 27) Portanto, Martins (idem) defende que o discurso sobre exclusão é o discurso dos integrados, ou seja, daqueles que se mantêm no status quo da lógica capitalista. E que não há um interesse real para entender como as pessoas ditas excluídas se percebem nessas relações sociais e o que desejam. Além disso, o autor ainda pontua que as categorias: excluído e exclusão apresentam um viés conservador, uma vez que não tocam nas contradições. Apenas as lamentam. E, aprofunda: Os pobres, do mesmo modo que as elites e a classe média, descobriram que na sociedade contemporânea o consumo ostensivo é um meio de afirmação social e de definição de identidade. A identidade na Modernidade é um meio manipulável de realização da pessoa. Cada um é o que parece ser e não o que é de fato. Justamente por isso é que falar em exclusão social, do ponto de vista analítico, não tem propriamente um significado profundo nem denuncia algo significativo. Parece antes a expressão de uma mentalidade conservadora, ainda mergulhada em valores de um passado não muito distante (...). Uma expressão de conservadorismo porque orientada pela valorização da inclusão no existente, no que permanece, e não no que muda e, sobretudo, no que pode mudar. (idem, p.37) De fato, ao referisse aos grupos populares como excluídos parte-se do pressuposto que a solução para os seus problemas seja incluí-los no sistema e mais ainda através do mercado. Entretanto, esse raciocínio é conservador na medida que trabalha para a manutenção do status quo, onde os mecanismos de dominação e privilégios permanecem inalterados. Assim, considerando a perspectiva do autor, defender a inclusão social dos grupos juvenis de baixa condição socioeconômica através do consumo, seria aceitar a impossibilidade de construir e forjar eles mesmos novas formas de viver e se relacionar, dando por imutável as estruturas postas na atualidade. Além disso, Martins destaca que o incentivo permanente do mercado como um modelo de integração pode ser percebido também em formas conservadoras e

34 32 delinquentes ou degradadas e precárias de participação social. Em relação à primeira, destaca que a forma do protesto é reveladora dessa ânsia conservadora de inclusão e não de um afã de transformação social e de superação das contradições responsáveis pela marginalização (MARTINS, 2002, 38). Quanto à segunda forma, envolve aqueles que (...) recorrem à crescente delinquência, pequena e grande, para integrar-se no mundo do ter e do parecer, também afirmam os valores próprios dessa sociedade e de modo algum se sentem excluídos (MARTINS, 2002, 39). Nos dois casos, são formas "crescentemente perversas de inclusão" que resultam na degradação das pessoas. Retomando a discussão sobre resistência e contestação, vejamos o que diz Machado e Scalco (2014, p.06): Observando o consumo dos jovens da periferia brasileira que se apropriam de símbolos que não foram projetados para eles, nós tendemos a concordar com a posição sintética de Newell (2012) que procura uma posição intermediária entre a subversão de Bhabha e o apelo de ser igual de Ferguson. Há resistência simplesmente pelo fato de que esses jovens negam o papel da pobreza e confundem as fronteiras de classe, ou ao menos, fazem com que essas tenham que ser reinventadas muito rapidamente. Mas há concomitantemente um apelo, bastante conservador, de reprodução das estruturas de poder por meio do desejo de se aliar aos símbolos de poder. A partir dessa análise, indaga-se se é possível existir contestação das estruturas dominantes nas atitudes desses grupos juvenis, uma vez que os esforços deles têm sido na perspectiva de inserção e não de ruptura, como assinala Feffermann (2013, p.70) ao referir-se à formação das gangues e do tráfico de drogas, mas que pode perfeitamente dizer respeito aos demais grupos juvenis marginalizados, A exclusão social ou inclusão marginal, a necessidade de ser reconhecido, o desejo de pertencer, a busca de realização das promessas da Indústria Cultural, o fato de serem jovens e a necessidade de correrem riscos são alguns dos ingredientes que levam jovens urbanos a se integrarem no universo das gangues e do tráfico de drogas. Um universo associativo ambíguo, cheio de

35 33 refúgios e esconderijos, mas que nele só se pode realizar por meio de ações espetaculares. Numa sociedade em que a imagem e o aparente sobressaem em detrimento da essência das pessoas, pois a todo momento as relações sociais são atravessadas pelos rituais do consumo, onde os sujeitos são valorizados pelo que possuem, os jovens, ao agruparem-se, vão em busca de identidade, destaque e autonomia (FEFFERMANN, 2013) reivindicando seu espaço, sendo estas algumas das motivações para a existência das gangues juvenis, por exemplo. E porque não, do surgimento de movimentos como os rolezinhos ocorridos entre o final de 2013 e início de 2014 no Brasil. CAPÍTULO II JOVENS PINTAS E OS ROLEZINHOS EM NATAL/RN: uma análise das repercussões da mídia que influenciam a formação da opinião pública. Os rolezinhos surgiram como encontros organizados pela juventude e para a juventude, principalmente, através das redes sociais, com o intuito de diversão, socialização e consumo. Os eventos iniciaram-se na capital paulista e na grande São Paulo, entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014, ocorrendo, principalmente, no interior dos shoppings centers, e posteriormente em parques e praças, concomitantemente. Os rolezinhos ganharam notoriedade em todo o Brasil após o primeiro evento ocorrido no Shopping Metrô Itaquera (São Paulo), em 07 de dezembro de 2013, com cerca de seis mil jovens participantes. Ressalta-se que nacionalmente a cobertura midiática deu visibilidade aos rolezinhos que ocorriam em São Paulo, porém, simultaneamente estavam ocorrendo em outras capitais brasileiras, entre elas a capital potiguar, conforme abordaremos no próximo subitem. Abaixo a figura 1 apresenta a cronologia dos rolezinhos ocorridos em São Paulo, divulgada pelo site de notícias G1:

36 34 Figura 1 - Cronologia dos Rolezinhos em São Paulo Fonte: Nessa cronologia o evento com 6 mil jovens teria acontecido em 08 de dezembro de 2013, mas como mencionado anteriormente, o rolezinho com seis mil jovens ocorreu em 07 de dezembro, como o próprio G1 noticia:

37 35 Figura 2: Seis mil jovens vão ao Shopping Itaquera (SP) Fonte: A concentração de seis mil jovens nas instalações do Shopping Metrô Itaquera, obviamente alterou a rotina comum do estabelecimento, ainda mais se tratando de um evento que não foi organizado pelo próprio shopping. O que, aparentemente, justifica a medida de acionar a força policial para conter os agitadores e possíveis furtos às lojas. Compreende-se que dificilmente os criadores do evento na rede social facebook possuiriam controle da quantidade de participantes e das atitudes que cada um poderia adotar. Porém a essência do evento era dar o rolê, a socialização e ocupar um espaço que lhes atraem. A maneira como esse primeiro evento e os demais foram recebidos, mostram características que podem ser comparadas a qualquer protesto organizado por partidos políticos e/ou movimentos sociais. Assim, enfatiza-se que os rolezinhos, nesse aspecto, tiveram repercussão e tratamento semelhantes aos protestos sociais que são realizados nas vias públicas, principalmente tendo em comum: o incômodo social e a transgressão. Desse modo, cabe discorrer sobre as motivações e significados desses eventos.

38 Rolezinhos no Brasil: expressões e significados Os rolezinhos não surgiram do nada, mas estavam relacionados a uma conjuntura nacional de mobilizações sociais de insatisfação popular, ocorridas em junho de 2013, conhecidas como Jornadas de junho, Movimentos de junho e/ou Manifestações dos vinte centavos. As mobilizações foram impulsionadas pelos protestos nacionais do Movimento Passe Livre - MPL, composto basicamente pela juventude, que reivindicava através do mote do não aumento da tarifa do transporte público, o direito à cidade. De fato, a juventude do MPL não é a mesma que vai ocupar massivamente os shoppings em dezembro, pois o perfil geral da primeira é de jovens universitários organizados em movimentos sociais e partidos políticos, sendo o da segunda de adolescentes, provavelmente secundaristas, considerando a faixa etária, em busca de diversão, consumo e socialização. Mas ambas tinham uma reivindicação em comum: o direito de viver a cidade. A juventude participante dos rolezinhos em São Paulo e, adianta-se, em Natal (RN), possui características comuns: são jovens em sua maioria negros, provenientes de camadas populares e moradores de comunidades periféricas. A respeito disso, vejamos a análise de Machado e Scalco (2014, p. 02), ainda no artigo Rolezinhos: marcas, consumo e segregação no Brasil : Recentemente, o fenômeno conhecido como rolezinho ganhou ampla visibilidade nacional e internacional. Trata-se de adolescentes das periferias urbanas que se reúnem em grande número para passear, namorar e cantar funk nos shopping centers de suas cidades. O evento causou apreensão nos frequentadores e, consequentemente, fez com que alguns proprietários dos estabelecimentos conseguissem o direito na justiça de proibir a realização dos rolezinhos, barrando o acesso dos jovens. Deste então, emergiu um amplo debate sobre a ferida aberta da segregação racial e social na sociedade brasileira, uma vez que a maioria desses jovens é composta por negros e pobres. Nesse trecho, as autoras ressaltam que esse fenômeno reacendeu a discussão sobre segregação racial e social no país. Mas, por que a ida de grupos de jovens da periferia a esses estabelecimentos causou grande inquietação na sociedade brasileira? Sobre isso, a especialista em antropologia social com ênfase

39 37 nos temas de violência social, cidadania e segregação espacial, Teresa Caldeira (2014, p.13) em artigo intitulado Qual a novidade dos rolezinhos?, ressalta: Desde os primórdios das cidades modernas, circular por circular, andar em grupos (sobretudo de homens jovens), dar uma volta, ou dar um rolê, são atividades que acabam sendo escrutinadas e, no limite, criminalizadas, a não ser que os protagonistas (em geral homens) pertençam a grupos privilegiados. O maior esforço das polícias nas cidades industriais nascentes era controlar as desordens, os crimes sem vítimas, principalmente a vadiagem [2]. Desde então, circular por circular, simplesmente desfrutar o espaço público das cidades em grupos, são práticas que geram apreensão e atraem a presença da polícia. Causam desordem. Não é de estranhar, portanto, que rolezinhos, esses encontros de grande número de jovens em shopping centers simplesmente para curtir e se divertir, venham gerando tanta ansiedade e repressão em São Paulo e pelo Brasil afora. O incômodo tanto das elites como dos setores médios na circulação dos moradores das periferias pelo espaço público também é apontado por Machado e Scalco (2014, p.11): A marginalidade tem assumido múltiplas faces na história do Brasil, mas há algo de estrutural: ela é vista como algo fora do lugar, uma massa de vagabundos. Nos anos 1970, Durham (1987) e Oliveira (2003), já mostravam que, na história do país, criou-se a imagem de um Brasil moderno e desenvolvido, e de um outro, arcaico e subdesenvolvido. É possível ainda acrescentar: um, branco e de elite, outro, negro nas periferias. Esses "dois Brasis" não se tocam, mas, quando isso acontece, o primeiro lado usa de suas armas mais poderosas: a força policial. Tanto Machado e Scalco quanto Caldeira enfatizam a postura repressiva e higienista adotada pelas elites e pelo Estado no trato com as classes populares no que se consolidou, ao longo da história do Brasil, numa tentativa de restringir a circulação desses sujeitos ao espaço onde habitam, com a criação de muros invisíveis que cristalizam a segregação social e racial, criando um legado de marginalização para a população negra e oriunda dos bairros populares. Desse modo, para Caldeira (2014), a ideia de dar um rolê não é algo novo, surgido do nada. Mas uma prática que vem ocorrendo há acerca de vinte anos por parte dos jovens das periferias paulistas. Dessa forma, ela destaca que:

40 38 Fazer uma genealogia dos rolezinhos significa retraçar as conexões entre um desejo crescente de jovens das periferias de circular pela cidade, a proliferação de várias formas de produção cultural como o rap, o grafite, a pixação, o break e, mais recentemente, o funk e modos alternativos de mobilidade, como o parkour, o skate e o motociclismo, todos com raízes fortes nas periferias urbanas [4]. Enquanto o resto da cidade se fechava atrás de muros a partir dos anos 1980 e sobretudo nos anos 1990, os jovens das periferias não apenas fizeram da circulação uma forma de lazer associada a diversas produções culturais como, sobretudo, transformaram sua experiência de viver nas periferias em diversas formas de produção cultural e de intervenção no espaço urbano. (CALDEIRA, 2014, p.14) As expressões culturais destacadas pela autora, principalmente o rap, o grafite e a pixação têm como característica comum a contestação social: Os artistas envolvidos nesses gêneros culturais situam se nas periferias urbanas e expõem suas precariedades, a violência cotidiana, a constante repressão policial, o racismo do dia a dia. Eles articulam uma voz poderosa e complexa que simultaneamente afirma seu pertencimento a esse universo sempre descrito em termos distópicos como um espaço de precariedade e desespero e tenta transformar o que é pejorativo e ofensivo em fonte de dignidade (...). Não é de se estranhar que agressividade e um claro antagonismo de classe e de raça sejam marcas dessa produção. (CALDEIRA, 2014; p.14-15) A partir dessa análise a autora defende que o ato de circular e ocupar os espaços públicos e semipúblicos (ex.: shopping center) é também para esses jovens experimentação, transgressão, prazer e risco (CALDEIRA, 2014; p. 15). No entanto, a provável novidade dos rolezinhos que os diferencia dessas outras formas de expressões culturais têm sido sua proximidade com o funk ostentação, estilo musical que, diferentemente do rap, tem reproduzido um ideal de consumo como um fim em si mesmo, o que tem relacionado intrinsicamente os rolezinhos ao consumo. Caldeira (2014, p.17) vai ser bastante certeira ao pontuar que: Os rolezinhos atuais e o funk ostentação revelam não apenas quanto já mudou a estrutura de consumo popular, como também os desejos de que esse continue a se expandir. Apesar do pânico

41 39 gerado pela ameaça de rolezinhos nos shoppings de elite, é significativo que a maioria tenha ocorrido nos shoppings das periferias. Há vinte anos, esses shoppings não existiam. Agora, estão por toda parte e talvez sejam a melhor prova da expansão do consumo de massas que ocorreu nas últimas duas décadas. Muitas de suas lojas são as mesmas que se encontram em shoppings em áreas mais ricas da cidade. Seus frequentadores são moradores das periferias, famílias, crianças, adultos e, e claro, jovens, para os quais os shoppings são um espaço fundamental de lazer. São também de todas as raças. Embora não haja dúvidas de que o racismo continue enraizado na sociedade brasileira, também não há dúvidas de que a situação social dos afrodescendentes tem mudado e que eles igualmente fazem parte da circulação e do consumo ampliado que vem transformando o cotidiano dos moradores das periferias. Entretanto, a expansão do consumo de massas não significa democratização dos espaços, inclusive dos próprios estabelecimentos de consumo. Como bem trata Machado e Scalco (2014, p.10-11): Um dos pontos altos da midiatização dos rolezinhos foi a sua capacidade de trazer à tona o debate da segregação social e espacial e da desigualdade, especialmente a partir do momento em que o critério para barrar a entrada de jovens nos shoppings centers passou a ser completamente aleatório, calcando-se na classe e na cor. A força policial foi usada para que se cumprisse a ordem judicial de proibição dos rolezinhos e isso foi amplamente legitimado pela população (...). Em suma, os negros da periferia estavam sendo uma vez mais vítimas de um apartheid velado a la brasileira (nesse caso, nem tão velado assim). Partindo do já esboçado e retomando as discussões do capítulo I, sobre as contradições inerentes a inclusão através do consumo em meio ao ideário neoliberal, reforça-se o entendimento dos jovens participantes dos rolezinhos estarem situados numa categoria que podemos nomear de consumidores marginais, ou seja, assim como as classes abastadas são alvo dos apelos publicitários e midiáticos para adquirirem bens de consumo, as classes populares também o são. Todavia, os ambientes onde esses sujeitos podem consumir devem ser aqueles que não ultrapassem as fronteiras invisíveis da segregação espacial. De modo que, uma vez que a juventude rolezeira rompe com essas fronteiras, impondo sua presença de forma impactante dado o poder de

42 40 mobilização desses jovens, principalmente pelas redes sociais, gera-se incômodo por parte daqueles preocupados em manter a ordem e com isso manter também os muros imaginários que separam os detentores de prestigio social, os tão mencionados midiaticamente de cidadãos de bem, daqueles ditos como diferentes, inferiores cultural e socialmente Rolezinhos em Natal/RN: os jovens pintas nos templos do consumo. Em São Paulo os participantes dos rolezinhos são jovens ligados à cultura do funk ostentação. Já na cidade do Natal, Rio Grande do Norte, a juventude rolezeira, apesar de não está ligada diretamente ao funk, também comunga dos símbolos de ostentação e é identificada, pela população natalense, pela alcunha de pintas. Ao tratar nesse tópico sobre os jovens pintas não se tem a pretensão de apresentar um estudo sociológico de profundidade sobre esse grupo social, devido as limitações da literatura existente e da própria pesquisa. As fontes encontradas até o momento da conclusão desse trabalho se limitam a matérias de jornais e revistas da mídia eletrônica local, bem como artigos acadêmicos com conceitos introdutórios. No artigo #Rolezinhos: análise de redes sociais e construção de sentidos no discurso dos tuiteiros acerca do #ProtestodosPintas em Natal (RN), Coelho e Lemos (2015, p.163, no rodapé) conceituam: São conhecidos como pintas em Natal os jovens negros de periferia, normalmente reconhecidos por um ethos que inclui uma vestimenta característica, gosto musical, adereços e modos de andar e dançar, correspondendo ao que, em outras cidades brasileiras, como maloqueiros (em São Paulo), ou pirangueiros (em fortaleza), entre outros. O termo surgiu na cena natalense como caracterização do jovem descolado nos anos de Em matéria intitulada O pinta: cidadão natalense, de dezembro de 2013, na revista (online) Carta Potiguar, o mestre em filosofia Túlio Madson, coloca que O Pinta é o único personagem tipicamente natalense. Sua vestimenta comumente

43 41 identificável bermuda de praia, camiseta folgada, boné é perfeitamente adaptada ao clima de uma cidade quente e praieira E mais à frente pontua: O Pinta é essencialmente um antiplayboy. Arrisco-me a dizer que o Pinta é uma invenção playboyniana para caracterizar tudo aquilo que ele renega e exclui. Não era raro encontrar, no final da década de 90 e início do nosso século, playboys que iam para o Vila Folia, ou qualquer outro local da moda, apenas para quebrar os pinta. Ainda sobre o conceito dessa expressão, no artigo Imaginários de uma outra diáspora: consumo, urbanidade e acontecimentos pós-periféricos, Rocha et al (2014, p. 7) infere que: Para os natalenses, o termo pinta é familiar; designa jovens que fogem ao modo de vestir usual daqueles com padrão de consumo médio alto. Em geral, quem se veste assim mora em bairros periféricos, na zona norte da cidade, estudou em escolas públicas ou comunitárias ou ainda é universitário com postura política afirmativa em favor da justiça social. Dessa forma, o termo pinta faz parte do imaginário social potiguar e principalmente dos natalenses e apresenta uma conotação pejorativa, utilizada para designar grupos de adolescentes e/ou jovens, em sua maioria do sexo masculino, negros e moradores de áreas periféricas, que costumam ostentar através de roupas e acessórios de marcas caras e o domínio de gírias próprias, destoando dos demais pelo jeito peculiar de vestir-se e comportar-se. Sendo comum a palavra pinta ser usada como sinônimo para maconheiro, pivete, trombadinha, malandro, vagabundo, entre outras denominações de cunho discriminatório. No período do estopim dos rolezinhos, dezembro de 2013, os pintas foram os protagonistas na capital potiguar, sendo o ponto de encontro o maior shopping center da cidade, o Midway Mall, e não diferente de São Paulo, a juventude foi recebida de forma hostil e agressiva, sendo impedida de adentrar o estabelecimento. Sobre esse ponto, o sociólogo e professor do IFRN, Alyson Freire (2014) posicionou-se a respeito na revista (online) Carta Potiguar, em que expôs:

44 42 A atitude do Midway é mais um dos mecanismos para assegurar a exclusão urbana dos mais pobres, privando-os da sociabilidade, do interagir e do fruir que os shoppings centers proporcionam. Ora, e a maneira de garantir tal objetivo é apelar aos estereótipos generalizadores que criminalizam os jovens de periferia, suas roupas, seu andar, seu vocabulário, seu corpo, sua estética e ethos. E, assim, garantir que eles continuem a estar onde devem estar, quer dizer, longe das boas famílias e dos jovens asseados que deslizam candidamente sobre o piso reluzente dos largos corredores das catedrais do consumo moderno, os shoppings. Que continuem como párias do consumo, mesmo que para isso se tenha que lesar e impedir sua cidadania. Aliás, situações como a que estamos a assistir no Midway Mall mostram como a cidadania, o direito a ter direitos e exercê-los sem impedimentos não é uma condição adquirida ou garantida de uma vez por todas e para todos, mas um processo instituído tenso e desigual, que precisa ser continuamente conquistado e reassegurado. Nesse sentido, é imprescindível os protestos e a crítica social 2. Ressalta-se que apesar dos rolezinhos não serem mais temática nos meios midiáticos desde 2014, eles continuam ocorrendo, em menor proporção nos shoppings de Natal, não somente no Shopping Midway Mall, localizado na zonal leste, como no Norte Shopping, situado na zona norte da cidade. Os encontros acontecem, via de regra, nos finais de semana e nesses dias a segurança costuma ser reforçada nas entradas desses estabelecimentos comerciais. Onde, a juventude rolezeira é barrada sob a alegação de serem menores de idade, sendo necessário estarem acompanhados de um adulto responsável, por exemplo. No entanto, o argumento da necessidade de um adulto responsável é infundado, visto que adolescentes que estejam dentro do padrão de comportamento e vestimenta adequados ao pré-estabelecido como socialmente aceito, têm livre acesso aos estabelecimentos. Porém, quando pintas são autorizados a entrarem nos shoppings, estes têm os seus passos vigiados pela equipe de segurança desses locais. Os pintas natalenses são consumidores não só dos produtos, mas da lógica de ostentação e representação social agregadas a esses bens, assim como a 2 Midway Mall, os pintas e a criminalização da periferia. Publicado em 17 de dezembro de 2013 na Revista eletrônica Carta Potiguar. Disponível em: < Acesso em: 07/09/16.

45 43 juventude funkeira do sudeste. Contudo, esses jovens são os consumidores marginais, que não são bem-vindos aos templos do consumo. Lugares em que até se tolera as famílias de camadas populares, desde que saibam comportar-se, tendo consciência de quais ambientes lhes são reservados, quais lojas podem adentrar, quais pisos do shopping lhes são destinados. Enfim, desde que saibam qual é o seu lugar. Sobre isso, Caldeira (2014, p. 18) afirma que: A expansão do consumo desestabiliza um dos modos mais arraigados de construir hierarquias sociais: o julgamento fácil pelas aparências. O consumo cria certa homogeneidade que mina possibilidades de distinção. Os shoppings que chamam a polícia para correr atrás de jovens são os mesmos que precisam atraí los como consumidores. Como distinguir a classe de um cidadão da de outro quando vestem produtos semelhantes? O solapamento dos meios fáceis e corriqueiros de estabelecer hierarquias e separações está na base da irritação que muitos exibem em relação a presença dos jovens das periferias nos espaços públicos (ou semipúblicos, como os shoppings) das cidades. Nessa relação contraditória, se convoca as camadas populares para consumir e ao mesmo tempo cria-se mecanismos para manutenção da segregação socioespacial e racial através dos aparatos de poder do Estado e das classes hegemônicas, sendo os principais: a polícia, detentora do uso legitimo da força para repressão e criminalização e os meios convencionais de comunicação (televisão, rádio, jornal, etc) responsáveis por disseminar a ideologia dominante para toda a população. Sobre isso, Miriam Abromavay (2010, p. 46) pontua: O estigma territorial no cotidiano produz marcas indeléveis. O preconceito em relação ao local de moradia produz uma generalização em relação aos moradores do bairro. A imagem produzida pelo discurso político e pela mídia engendra uma imagem negativa dos bairros, que macula também seus habitantes. O que a autora coloca a respeito do estigma territorial compactua com a análise sobre a qual o sociólogo Pierre Bourdieu (2007, p.166) se debruça no artigo Efeitos de Lugar, no livro A miséria do mundo, obra em que Bourdieu e demais sociólogos, como Loïc Wacquant, vão discorrer a respeito das atuais formas de

46 44 misérias sociais presentes no mundo. No que se refere às distinções espaciais, o autor reflete: O bairro chique, como um clube baseado na exclusão ativa de pessoas indesejáveis, consagra simbolicamente cada um de seus habitantes, permitindo-lhe participar do capital acumulado pelo conjunto dos residentes: ao contrário, o bairro estigmatizado degrada simbolicamente os que o habitam, e que, em troca, o degradam simbolicamente, porquanto, estando privados de todos os trunfos necessários para participar dos diferentes jogos sociais, eles não têm em comum senão sua comum excomunhão. A distinção espacial mantida por uma sociedade baseada num sistema que se sustenta das desigualdades sociais é uma barreira complexa de ser ultrapassada, assim a circulação desses jovens nos espaços em que historicamente suas famílias têm sido impedidas de experienciarem livremente é sem dúvida uma forma de resistência e de contestação desses aparelhos ideológicos e repressivos de poder. Entretanto, compreende-se a impossibilidade de superação dessa distinção por meio, meramente, do consumo, visto que as estruturas ainda se mantêm desiguais e hierarquizadas. Para Bourdieu (2007, p. 160): Não há espaço, em uma sociedade hierarquizada, que não seja hierarquizado e que não exprima as hierarquias e as distâncias sociais, sob uma forma (mais ou menos) deformada e, sobretudo, dissimulada pelo efeito de naturalização que a inscrição durável das realidades sociais no mundo natural acarreta: diferenças produzidas pela lógica histórica podem, assim, parecer surgidas da natureza das coisas (basta pensar na idéia de "fronteira natural"). É o caso, por exemplo, de todas as projeções espaciais da diferença social entre os sexos (na igreja, na escola, nos lugares públicos e até em casa). O sociólogo vai defender que dentro da sociabilidade baseada no capital o espaço social vai ser atravessado pelas hierarquias e as distâncias sociais, mesmo que simbólicas, sendo estas tão enraizadas ideologicamente que chegam a ser naturalizadas.

47 45 Thiry-Cherques (2006) em artigo intitulado Pierre Bourdieu: a teoria na prática, vai discorrer sobre os conceitos desenvolvidos por Bourdieu ao longo da sua vasta obra, sendo um desses conceitos, o de campos. Sobre os campos, Thiry-Cherques (idem, p.38), explica que: Os campos resultam de processos de diferenciação social, da forma de ser e do conhecimento do mundo. Como tal, cada campo cria o seu próprio objeto (artístico, educacional, político etc.) e o seu princípio de compreensão. São espaços estruturados de posições em um determinado momento. Podem ser analisados independentemente das características dos seus ocupantes, isto é, como estrutura objetiva. São microcosmos sociais, com valores (capitais, cabedais), objetos e interesses específicos (...). Dentro dos campos, que seriam espécies de espaços sociais, coexistem quatro expressões do capital: a econômica, a social, a cultural e a simbólica, funcionando como subdivisões do status quo, sendo compreendidas por Bourdieu, de acordo com Thiry-Cherques (2006, p.38-39), da seguinte forma: Quadro 1: Tipos de Capital para Bourdieu segundo Thiry-Cherques Fonte: elaboração própria com base na leitura do artigo Pierre Bourdieu: a teoria na prática. Partindo dessa compreensão, o status quo não se limita ao poder econômico, mas compreende um entrelaçado de recursos sociais, culturais e espaciais que agrupados configuram-se na forma de capital simbólico. Trazendo esse conceito para a temática aqui estudada, vê-se que as barreiras colocadas com

48 46 intuito de limitar e/ou cercear o acesso da juventude rolezeira a determinados lugares que no entendimento das elites e de uma classe média insatisfeita e temerosa seriam exclusivos aos seus, seria com a finalidade de manutenção do capital simbólico. A esse respeito, Bourdieu (2007, p ), ainda no artigo Efeitos de lugar, discorre: De fato, certos espaços, e em particular os mais fechados, os mais "seletos", exigem não somente capital econômico e capital cultural, como também capital social. Eles proporcionam capital social e capital simbólico, pelo efeito de clube que resulta da associação durável (nos bairros chiques ou nas residências de luxo) de pessoas e de coisas que, sendo diferentes da grande maioria, têm em comum não serem comuns, isto é, na medida em que elas excluem, em direito (por uma forma de numerus clausus ou de fato o intruso está fadado a provar um sentimento de exclusão capaz de privá-lo de certas regalias associadas à pertença), todos os que não apresentam todas as propriedades desejadas ou que apresentam uma (pelo menos) das propriedades indesejáveis. Dessa forma, tanto os jovens pintas em Natal quanto os jovens ligados a cultura do funk em São Paulo estão sendo forjados dentro dessa contradição contemporânea, em que o aparente, a imagem e o possuir mostram-se como imprescindíveis para a realização do indivíduo diante da sociabilidade atual, porém o acesso aos bens de consumo não têm sido suficientes para uma efetiva inclusão social, prova disso é o antagonismo de classes presente nos meios de comunicação que midiatizaram os rolezinhos entre 2013/2014, como será tratado no próximo tópico Repercussões dos rolezinhos: contestação juvenil e repressão social O que se pretende aqui não é a vitimização da juventude rolezeira e tampouco recriminá-la em suas práticas. Mas buscar compreender as faces desse emaranhado de novas expressões da questão social presentes no âmago de uma sociedade que para Debord (1997), tornou a vida uma espécie de espetáculo, onde a mercadoria ganhou vida e significados próprios. Para ele:

49 47 O espetáculo constitui o modelo atual da vida dominante na sociedade. É a afirmação onipresente da escolha já feita na produção, e o consumo que discorre dessa escolha. Forma e conteúdo do espetáculo são, de modo idêntico, a justificativa total das condições e dos fins do sistema existente. O espetáculo também é a presença permanente dessa justificativa, como ocupação da maior parte do tempo vivido fora da produção moderna. (DEBORD, 1997; p.15) Segundo o filósofo, o espetáculo é a alienação dos indivíduos da sua condição de humanos através do fetichismo da mercadoria, ou seja, as relações mercadológicas tornam-se mais importantes que as relações humanas, como já havia sido mencionado no primeiro capítulo deste trabalho ao falar sobre o consumo no ideário neoliberal e suas repercussões para a juventude. Entretanto, no que diz respeito ao trabalhador assalariado e os sujeitos das camadas populares, a sociedade do espetáculo vai ser permeada de contradições, como mencionado pelo autor a seguir: Na fase primitiva da acumulação capitalista, a economia política só vê no proletário o operário, que deve receber o mínimo indispensável para conservar sua força de trabalho, jamais o considera em seus lazeres, em sua humanidade. Esse ponto de vista da classe dominante se inverte assim que o grau de abundância atingido na produção das mercadorias exige uma colaboração a mais por parte do operário. Subitamente lavado do absoluto desprezo com que é tratado em todas as suas formas de organização e controle da produção, ele continua a existir fora da produção, aparentemente tratado como adulto, com uma amabilidade forçada, sob o disfarce de consumidor. Então, o humanismo da mercadoria se encarrega dos lazeres e da humanidade do trabalhador, simplesmente porque agora a economia política pode e deve dominar essas esferas como economia política (...). (DEBORD, 1997; p. 31) Ora, a reflexão apresentada na citação acima reafirma a discussão feita até o momento de que a inclusão através do consumo é uma resposta a necessidades do capitalismo. Os trabalhadores e a juventude pobre, sendo ela também composta de jovens trabalhadores, são convocados a consumirem bens, em boa parte para uso individual, para compensarem suas insatisfações com as carências cotidianas. Na mesma medida em que a segregação social e espacial é resposta ao medo

50 48 social (FEFFERMANN, p.65). Ou seja, as elites e o Estado, maiores interessados na espetacularização das relações sociais, usa esses indivíduos conforme as necessidades da produção e do lucro, mas delimitam tanto social quanto territorialmente a participação dos mesmos, cabendo de certa forma a estes o papel de figurantes dispensáveis à sociedade do espetáculo, para que dessa forma seja mantida a conservação das hierarquias sociais e dos privilégios. Nessa empreitada, os meios convencionais de comunicação (tv, rádio, jornal) presentes também nos veículos online funcionam como um aparelho ideológico para as classes dominantes disseminarem valores, crenças, medos e a ideia de certo e errado no imaginário popular. E a população com acesso restrito a meios alternativos de informação acaba por reproduzi-los sem questionar. Sobre isso, Debord (1997, p ) reflete: Se o espetáculo, tomado sob o aspecto restrito dos meios de comunicação de massa, que são sua manifestação mais esmagadora, dá a impressão de invadir a sociedade como simples instrumentação, tal instrumentação nada tem de neutra: ela convém ao automovimento total da sociedade. Se as necessidades sociais da época na qual se desenvolvem essas técnicas só podem encontrar satisfação com sua mediação, se a administração dessa sociedade e qualquer contato entre homens só se podem exercer por intermédio dessa força de comunicação instantânea, é porque essa comunicação é essencialmente unilateral; sua concentração equivale a acumular nas mãos da administração do sistema os meios que lhe permitem prosseguir nessa precisa administração. No entanto, se há algumas décadas só se tinha acesso a comunicação de massa, como via única, em que a tendência era o indivíduo atuar como mero receptor da informação, hoje com a revolução tecnológica, quase todas as pessoas, por mais limitadas financeiramente que sejam, possuem aparelhos celulares que funcionam como computadores portáteis, capazes de conectá-las com todo o planeta por meio da internet. Assim, qualquer um pode produzir informação, discorrendo sobre suas impressões e juízos de valor a respeito de acontecimentos sociais. Dessa forma, as mídias e redes sociais possibilitaram o surgimento de meios alternativos de comunicação, que veem oportunizando o acesso das camadas

51 49 populares a contraposição de ideias e pensamentos, o que não, necessariamente implica em qualidade e aprofundamento das informações e discussões, mas que criou um espaço de democratização necessário diante do cenário histórico de não abertura por parte da grande mídia à imprensa crítica. Assim, na cobertura midiática dos Rolezinhos, observou-se o travamento de uma verdadeira disputa ideológica, nas redes sociais e sites de notícias, entre os que apoiavam e os que caminhavam na tendência de criminalizar os eventos. Dessa forma, destaca-se que a proposta aqui é realizar uma análise introdutória a respeito das repercussões dos rolezinhos em São Paulo (SP) e mais destacadamente em Natal (RN), utilizando análise de notícias veiculadas pelo Portal G1, jornal eletrônico Tribuna do Norte e o Blog do BG, bem como os comentários deixados pelos internautas. Salienta-se que não se trata da ferramenta de análise do discurso, tarefa que melhor se adequa aos estudiosos da comunicação social, como a pesquisa que os professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Maria das Graças Pinto Coelho e Daniel Dantas Lemos (2015), condensaram no artigo: #Rolezinhos: análise de redes sociais e construção de sentidos no discurso de tuiteiros acerca do #ProtestodosPintas em Natal (RN). Na pesquisa, a partir da aplicação de uma análise de redes alinhada a ferramentas da análise do discurso (COELHO; LEMOS, 2015,.164), os professores obtiveram uma amostra da repercussão dos rolezinhos dos pintas a partir da opinião pública no twitter. Todavia, antes de adentrar nos rolezinhos dos pintas, falemos brevemente sobre a repercussão dos rolezinhos dos funkeiros paulistas. Para tanto, observemos a manchete a seguir do portal de notícias G1, que realizou uma ampla cobertura dos rolezinhos durante seu estopim em São Paulo (SP). As notícias desse veículo, de forma geral, foram escritas com um caráter de informar a sociedade sobre o que seriam os rolezinhos, quem eram os participantes e quais as próximas ações. Em algumas delas, estão registradas as opiniões de estudiosos das temáticas sociais, de representantes dos shoppings centers e dos próprios rolezeiros, observemos a seguir:

52 50 Figura 3: Repercussão dos Rolezinhos em São Paulo Fonte: Acima, no trecho da notícia, a primeira frase em destaque é uma referência ao que seria os rolezinhos para seus participantes: grito por lazer e consumo, mas adiante destaca-se trecho de música entoada pelos jovens no qual aparece referência a uma droga ilícita, Eita p...que cheiro de maconha. A canção mencionada é a Deixa eu ir do jovem cantor de funk Daniel Pellegrini, conhecido pelo nome artístico de MC Daleste, morto em junho de 2013 enquanto realizava show na cidade de Campinas (SP). Na referida notícia, o portal G1 aborda sobre os eventos a partir de alguns pontos de vista, entre eles: dos jovens participantes e simpatizantes, de um especialista na temática, dos lojistas e da polícia. No primeiro, destaca-se a entrevista com Jefferson Luís (20 anos), conhecido como MC Jota L, que seria um dos organizadores do rolezinho no Shopping Internacional de Guarulhos, para ele o evento Não seria um protesto, seria uma resposta à opressão. Não dá para ficar em casa trancado. Apesar de Jefferson negar se tratar de um protesto, reflete que

53 51 os rolezinhos seriam uma resposta a negação do direito de lazer a ele e ao seus amigos. Já outra entrevistada, a MC Fabiola (35 anos) considera os eventos como uma forma de protesto ao argumentar: Protesto é para perturbar. Para se fazer ouvir. É um grito. Esses moleques precisam ser ouvidos. O cantor André Luiz Moura Pimentel (MC Danado, 32 anos) por sua vez, concorda com os rolezinhos, mas ressalta não concordar com os supostos atos de violência: Eu acho legal o pessoal se reunir, mas o que alguns fazem é ridículo. Tem que ter paz e acrescenta O funk está em alta, os jovens acabam cantando (nos corredores dos shoppings) e fazem essa relação incorreta. Mas teve arrastão no Rock in Rio e lá a música era rock. Em todas as falas há um ponto em comum, a compreensão da legitimidade desses jovens ocuparem os espaços de lazer e consumo sem que sejam discriminados e hostilizados. No segundo posicionamento, aparece o delegado Luiz Antônio da Cruz (65º Distrito Policial Artur Alvin), que ao ser questionado sobre as medidas que a polícia estaria tomando, explica: Vou apurar essa confusão que houve. Vi imagens e diante do que vi abri um boletim e vou apurar contravenção por perturbação da paz pública e argumenta: Eu resolvi abrir inquérito porque não pode ficar barato. Porque há uma criminalidade: perturbação do sossego. Pegando o gancho da colocação feita pelo delegado, têm-se em consonância, o exposto pelo superintendente do Shopping Metrô Itaquera, Bruno Câmara: As medidas, a gente entende que isso é um problema de segurança pública. A gente está mandando ofício, estamos conversando com a polícia, com batalhão [ da PM], estamos tendo apoio. Por último, destaca-se na mesma matéria, a posição do antropólogo e professor da Unifesp, Alexandre Barbosa Pereira. Para ele, os participantes dos rolezinhos são jovens pobres que estão reivindicando o direito de frequentar um espaço de encontro, de diversão, de paquera, que antes não tinham acesso. E acrescenta: Os shoppings são símbolos de segregação das cidades, que querem se proteger da violência.

54 52 Diante da notícia mencionada e de tantas outras publicadas sobre os rolezinhos, observa-se que a forma adotada pelo G1 para informar a população, pareceu assumir uma certa imparcialidade jornalística ao dar voz aos participantes dos rolezinhos, o que soa incomum, visto que se trata de um veículo de comunicação instrumentalizado historicamente pelas elites do país. Porém, com olhar mais atento percebe-se o tom de denúncia, desordem e de caos noticiado, que por vezes é nítido e por outras vezes camuflado pela argumentação de que estão noticiando fatos. Na mesma reportagem (figura 3), o site descreve que após os jovens começarem a cantar a música Deixa eu ir, consumidores bateram em retirada, os lojistas desceram as portas e a polícia foi acionada, o que faz perceber o tratamento policialesco adotado para lidar com os participantes dos rolezinhos em São Paulo, o que não difere daquele adotado em Natal (RN). Em Natal, o portal da Tribuna do Norte seguiu a mesma linha do portal G1. Já no Blog do BG, site independente de notícias do potiguar Bruno Giovanni, as notícias sobre os rolezinhos dos pintas apresentaram cunho sensacionalista que o fez diferenciar do Tribuna do Norte. De antemão, pontua-se que os pintas já vinham realizando eventos como os rolezinhos, nas instalações do Shopping Midway Mall, antes mesmo dos rolezinhos nos shoppings de São Paulo tornarem-se assunto nacional. Segundo Rocha et al (2014, p. 8) no artigo Imaginários de uma outra diáspora: consumo, urbanidade e acontecimentos pós-periféricos : Em 2008, em Natal, os jovens dos bairros periféricos já frequentavam o shopping Midway Mall, que mesmo localizado num bairro central, é passagem para ônibus que ligam todas as zonas da cidade[22]. Os encontros aconteciam nos finais de semana e eram marcados já pelas redes sociais, por exemplo o Orkut, rede social encerrada em 2014 e substituída pelo Facebook. Ao pesquisar por indícios desses encontros em período anterior a dezembro de 2013, encontra-se notícias referentes a supostos conflitos envolvendo adolescentes dentro das instalações do Shopping Midway Mall, uma delas foi publicada pelo site da Tribuna do Norte, em 09 de janeiro de 2010, com o título Adolescentes em conflito no Midway, como verifica-se abaixo:

55 53 Figura 4: Suposta briga entre gangues no Shopping Midway Mall Fonte: A notícia inicia com a frase Pânico no Midwayl Mall, hoje, início da noite, mas adiante, informa que a briga entre gangues (não informa quais seriam as gangues), se trata de uma garotada que costuma frequentar a praça de alimentação, principalmente no final de semana e se desentende. Diz ainda, que o conflito foi entre duas garotas, mas que os seguranças não conseguiram controlar, sendo necessário fechar os acessos do estabelecimento e acionar a polícia. No final da matéria, conclui-se que são adolescentes delinquentes, que são visivelmente notados por frequentadores que tem seu jeito estranho, mas que não podem ser barrados por causa do tal preconceito ao jeito de se vestir, etc. Assim, nota-se, que já existiam espécies de rolezinhos realizados por pintas pelo menos desde 2008 e que a presença desses jovens era tolerada, mas que a qualquer sinal de indisciplina a polícia rapidamente era acionada. Contudo, para que seja possível analisar a repercussão dos rolezinhos dos pintas, a partir do que

56 54 foi noticiado, se levará em conta o período de dezembro de 2013 a janeiro de 2014, pois foi nesse período que a mídia natalense se voltou para noticiar os encontros dos pintas no shoppings, mais precisamente sobre o Protesto dos Pintas como ficou conhecido ato ocorrido em 21 de dezembro de 2013 em frente do Shopping Midway Mall e organizado pelos próprios pintas, como esclarece Coelho e Lemos (2015, p. 164): O Protesto dos Pintas foi marcado para o dia 21 de dezembro de 2013, no Midway Mall. Tal manifestação foi motivada pelos relatos de diversos sujeitos em redes sociais de que no sábado anterior, dia 14 de dezembro de 2013, os seguranças do referido shopping center impediram o acesso às dependências do estabelecimento de jovens negros e vestidos de acordo com o estereótipo dos chamados pintas (...). Como colocado pelos autores, no dia 14 de dezembro do 2013, sete dias após o rolezinho de 6 mil jovens no Shopping Itaquera (SP), em Natal um grupo de jovens pintas se dirigiu até Shopping Midway Mall para mais um rolezinho. Porém, foram impedidos de entrar no estabelecimento. Em notícia publicada pela Jornal Tribuna do Norte no dia 17 de dezembro 2013, a informação foi de que o protesto estaria marcado, através das redes sociais, para o dia 28 de dezembro. Todavia, o protesto dos pintas ocorreu de fato no dia 21, como depois foi noticiado. Na publicação do dia 17 de dezembro, o Tribuna do Norte menciona a mesma motivação elencada por Coelho e Lemos (2015) para o protesto, mas enfatiza que ainda não se sabe concretamente o que teria ocorrido no dia 14: A confusão registrada na tarde de sábado passado ainda não foi completamente explicada. Uma foto de uma das entradas do shopping onde seguranças supostamente impedem a entrada de algumas pessoas foi divulgada nas redes sociais e ganhou comentários raivosos da maioria dos internautas. A ação dos seguranças seria o desdobramento de outras ações, há algumas semanas, quando jovens de torcidas organizadas rivais promoveram baderna na praça de alimentação do Midway. (Jornal (online) Tribuna do Norte, publicado em: 17/12/2013).

57 55 A matéria ressalta que, supostamente, a ação dos seguranças em barrar os jovens no dia 14/12 seria em decorrência de uma baderna realizada semanas antes por torcidas organizadas rivais na praça de alimentação do shopping. O que relaciona novamente os pintas frequentadores do Midway Mall à gangues rivais, como havia sido publicado em matéria do mesmo jornal no ano de 2010, destacada na figura 4. Pontua-se que a relação entre os jovens pintas, os rolezinhos e as torcidas organizadas necessita de olhar mais aprofundado que não será possível nesse momento haja vista o caráter exploratório dessa pesquisa, ficando o apontamento para a realização de pesquisas futuras. Voltando ao conteúdo da matéria, mais adiante, a notícia destaca um depoimento feito pelo jovem Jordson Martins nas redes sociais, em que relata ter sido expulso do shopping e sofrido agressão por parte dos seguranças: Ainda nas redes sociais, o jovem Jordson Martins contou que foi expulso do shopping pelos seguranças. Dia 14 fui ao Midway com meus colegas. De repente fui abordado pelos seguranças. Eles alegaram que eu tinha me envolvido na última confusão. Cinco seguranças me levaram à força para um corredor onde me espancaram, escreveu o rapaz. Estou fazendo os procedimentos necessários para defender todos que ali frequentam. Peço a colaboração de todos, completou Martins. (Jornal (online) Tribuna do Norte, publicado em: 17/12/2013). Assim, percebe-se que a motivação para a realização do Protesto dos Pintas não foi simplesmente de seguir o fluxo dos protestos paulistas, mas sim, aproveitando a visibilidade midiática dada aos rolezinhos, denunciar as discriminações que já vinham sofrendo em períodos anteriores ao estopim dos rolezinhos no resto do país. No 21 de dezembro de 2013, o Tribuna do Norte publicou notícia em que informa sobre reforço policial nos arredores do Shopping Midway Mall devido a manifestação dos pintas marcada para às 17h daquele dia, como se confere abaixo:

58 56 Figura 5: Policiamento para Protesto dos Pintas. Fonte: Após a realização do Protesto dos Pintas a Tribuna do Norte e o Blog do BG publicaram as seguintes notícias, respectivamente:

59 57 Figura 6: Protesto dos Pintas no Shopping Midway Mall (Tribuna do Norte) Fonte: Figura 7: Protesto dos Pintas no Shopping Midway Mall (Blog do BG) Fonte:

60 58 Na íntegra da publicação no Tribuna do Norte (figura 6), estimou-se a participação de no mínimo 50 jovens na manifestação e que esta havia acabado em confronto com a polícia após tentativa frustrada de entrar no Midway Mall por parte de alguns jovens e que após terem sido barrados quebraram uma das portas de vidro do estabelecimento e arremessaram pedras, no que a força policial reagiu com teor de violência, chegando a disparar balas de borracha e prendendo três jovens, ainda segundo a matéria um policial teria sido atropelado por uma viatura, mas passava bem. A notícia também informa que a polícia teria agredido um manifestante que estava fotografando/filmando o confronto, como descrito nesse trecho: Um deles filmava a ação quando teve a câmera arrancada da mão por um PM. Ignorando a presença da imprensa, o policial disse que jogaria o cartão de memória no lixo, para eliminar as imagens. "Ele tomou minha câmera e ainda me agrediu. Bateu em todo o canto do meu corpo e eu só estava filmando o protesto", disse o estudante de Direito, Hugo Fernandes. (Jornal (online) Tribuna do Norte, publicado em: 21/12/2013). Diferentemente do Tribuna do Norte, no Blog do BG (figura 07) a notícia na sua íntegra aparece resumida carecendo de detalhes e com um tom sensacionalista, como o próprio título do informativo sugere: NOITE DE TERROR em caixa alta, seguido de Protesto dos Pintas causa tumulto e pânico no Midway, no conteúdo da publicação não se fala em possíveis abusos por parte da polícia como relatado no Tribuna, o enfoque é dado aos possíveis atos de terror provocados pelos pintas: O nervosismo foi grande hoje no shopping Midway Mall. O protesto dos Pinta que estava marcado, através das redes sociais, para acontecer no fim de tarde e início da noite de hoje, superou as expectativas de medo e terror. O vidro da porta principal foi quebrado após tentativas frustradas de alguns pintas tentarem entrar individualmente no shopping. Após grupos conseguirem entrar, lojas foram fechadas e pessoas que passeavam no interior do estabelecimento foram impedidas de sair, causando tumulto e muita correria nos corredores do shopping. Após a chegada de muitos policiais, o tumulto foi controlado. No protesto, um policial se feriu após ser atropelado por uma viatura da PM, e seis pintas foram detidos. O shopping voltou a funcionar normalmente neste

61 59 momento. (Jornal (online) Tribuna do Norte, publicado em: 21/12/2013). Destaca-se no informativo que seis jovens teriam sido detidos pela polícia durante o protesto, o que difere do publicado pelo Tribuna do Norte de que teriam sido três jovens. No entanto, o jornal Tribuna do Norte, no dia seguinte (22/12/2013), publicou noticia em que menciona que teriam sido sete jovens detidos no total, mas que já haviam sido liberados. A partir das notícias analisadas e do conteúdo discutido nos tópicos anteriores desse trabalho, no que se refere a segregação socioespacial e racial, bem como o método adotado pelo Estado através do uso da força para o controle social daqueles que confrontam a ordem estabelecida, percebe-se o caráter policialesco com que são tratadas as demandas sociais das camadas populares. Sendo essa postura criminalizadora, a mesma utilizada para tentar impedir os movimentos sociais e sindicais de realizarem manifestações em vias públicas, por exemplo. Ou seja, não se trata só de defender um estabelecimento comercial de possíveis prejuízos financeiros, mas da manutenção da ordem estabelecida. De modo que, a criminalização não fica só nas ações do Estado, mas ganham apoio do restante da sociedade que reproduz uma visão, disseminada pelas elites, que além do cunho racista construiu no imaginário popular a ideia maniqueísta de cidadão de bem versus vagabundos. Onde, o cidadão de bem é o trabalhador, seja ele pobre ou das camadas médias, que não confronta o status quo e os vagabundos são todos aqueles que fogem do padrão, são as pessoas em situação de rua, os dependentes de entorpecentes, os artistas de rua, os meninos do farol, os flanelinhas e por que não os jovens da periferia dando rolê no shopping? Como se nota pelo discurso da maior parte daqueles que comentaram as notícias elencadas anteriormente, como confere-se a abaixo:

62 60 Figura 8: Comentários sobre Protesto dos Pintas (Tribuna do Norte) Fonte: Figura 9: Comentários sobre Protesto dos Pintas (Tribuna do Norte) Fonte: Os comentários destacados acima são a respeito da notícia veiculada pelo jornal Tribuna do Norte de acordo com a manchete da figura 6 sobre o confronto

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