EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS

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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS, com fundamento nos artigos 129, IV, da Constituição da República, 29, I, da Lei Federal n , de , 60, V e 117, IV, primeira parte, ambos da Constituição do Estado de Goiás, e 52, II, da Lei Complementar Estadual n. 25, de , vem perante esse Egrégio Tribunal de Justiça propor AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE em face do segmento textual a ser concedido com efeito a partir da data da opção expressa formalizada por meio do próprio requerimento de abono, constante do art. 139 da Lei Complementar n. 77, de , com a redação outorgada pela Lei Complementar Estadual n. 88, de , como fundamento nas razões de direito a seguir externadas. I DO HISTÓRICO DO DISPOSITIVO IMPUGNADO De iniciativa governamental, com aprovação em regime de urgência, a Lei Complementar Estadual n. 88, de , que deu nova redação ao art. 139 da Lei Complementar Estadual n. 77, de , 1

2 fundou-se, segundo alegado no Ofício Mensagem n. 99/2011, na necessidade de ajustar a legislação goiana ao texto constitucional e à Lei Federal n , de , atendendo, assim, à Notificação de Irregularidade n. 12/2010, do Ministério da Previdência Social, sob pena de que o Estado de Goiás sofresse a suspensão de seu Certificado de Regularidade Previdenciária CRP. (Processo Legislativo n , fls. 2-3) litteris: Na sua redação originária, possuía o art. 139 o seguinte teor, Art O segurado ativo que tenha completado as exigências para aposentadoria voluntária de que tratam os arts. 51, 53, 54, 56, 57 e 58 desta Lei Complementar e o art. 3º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, e que opte por permanecer em atividade, fará jus a abono de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária, até completar as exigências para aposentadoria compulsória contidas no art. 50, a ser concedido com efeito a partir da data de implemento das regras de transferência para a inatividade voluntária. (ênfase atribuída) Eis, no ponto, a justificativa contida no ofício do Poder Executivo, reproduzindo exposição de motivos inserta no Processo n , da Presidência da GOIASPREV: A alteração da redação do art. 139, também, segue exisgência do MPS que não coaduna com a ideia da concessão de abono de permanência para servidor que venha a preencher requisitos para aposentadoria por regra diversa das previstas no art. 40, 1º, III, 'a', da Constituição Federal e arts. 2º e 3º da Emenda Constitucional nº 41, de Portanto, a presente proposta visa adequar a concessão do abono às previsões da Constituição Federal e Emenda Constitucional n. 41/03. Ficando assim, excluídas as demais regras 2

3 de aposentação do diretio ao recebimento do abono. (Processo Legislativo n , fls. 3-4) Sobreveio, todavia, por força da edição da Lei Complementar Estadual n. 88, de , sensível alteração redacional, com modificação do termo a partir do qual se há de ter por incidente o direito ao abono de permanência. Eis o texto, pois, do art. 139, com a superveniência da sobredita mutação legal, verbis: Art O segurado ativo que tenha completado as exigências para aposentadoria voluntária de que tratam os arts. 51 e 57 desta Lei Complementar e o art. 3º da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, e que faça opção expressa por permanecer em atividade, fará jus a abono de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária, até completar as exigências para aposentadoria compulsória contidas no art. 50, a ser concedido com efeito a partir da data da opção expressa formalizada por meio do próprio requerimento de abono. (ênfase atribuída) Patente, no entanto, que a alteração do preceito sob análise se centra no termo inicial de fruição do direito ao abono de permanência, que, enquanto na redação originária, era a data do preenchimentos dos requisitos de aposentação, passou, no texto modificado, a ser a do requerimento administrativo. Como se verá, adiante, a nova medida legislativa ingressa no terreno da inconstitucionalidade, por sobradas razões, de que ora se ocupará, não sem antes proceder, por necessário, à prognose legislativa, demonstrando a ausência dos motivos alegados para que se processasse, no ponto, a alteração do mencionado art. 139 da Lei Complementar Estadual n. 77/

4 II PROGNOSE LEGISLATIVA Depara-se, na espécie, com a total ausência, no plano da realidade, dos motivos que, no entender do Poder Executivo, justificariam a alteração do preceito legal objeto da presente ação de controle de constitucionalidade abstrato. Com efeito, nada há na Constituição da República, tampouco na legislação federal, notadamente da Lei Federal n /1998 como, a rigor, nada havia à época da sobrevinda da Lei Complementar Estadual n. 88/2011, que imponha, no regime jurídico do abono de permanência, a projeção de efeitos financeiros somente a partir do requerimento expresso do interessado. Translúcido, destarte, que o equívoco palmar das razões da GOIASPREV se reproduziu nas razões do projeto de lei, tudo com resultado no implemento de regra destituída de constitucionalidade material. III INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL A Constituição do Estado de Goiás, em seu art. 97, 19, em plena consonância com o disposto no art. 40, 19, da Constituição da República, não subordina, no estabelecimento do direito ao abono de permanência, a sua projeção eficacial à data de requerimento de servidor, cingindo-se, no que concerne ao objeto da presente ação, a dizer que o suporte fáctico do direito funcional consiste no preenchimento dos 4

5 requisitos para a aposentadoria nos termos delineados em dispositivo a que se reporta. Leia-se, em textual: 19. O servidor de que trata este artigo que tenha completado as exigências para aposentadoria voluntária estabelecidas no 1º, III, a, e que opte por permanecer em atividade fará jus a um abono de permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária até completar as exigências para aposentadoria compulsória contidas no 1º, II. (ênfase acrescentada) E, sublinhe-se, quando alude ao termo, restringe-se à menção do final, até completar as exigências para aposentadoria compulsória contidas no 1º, I, fornecendo aportes para a única leitura, além de natural, agasalhada na lógica do instituto, intimamente conexionado com o da aposentadoria: a de que o termo inicial de atuação financeira do direito ao abono de permanência há de ser o mesmo em que o haja adquirido, que se confunde, ademais, com o do implemento dos requisitos de aposentação. Não obstante, a norma do art. 139 da Lei Complementar Estadual n. 77/2010, com a redação outorgada pela Lei Complementar Estadual n. 88/2011, diversamente do que nela originariamente se lia, fixou, em relação ao abono de permanência, como termo inicial de eficácia, o da data do requerimento do servidor, vulnerando, desse modo, a ordem constitucional. IV DO PARÂMETRO DE CONTROLE 5

6 Serve de parâmetro de controle de constitucionalidade estadual qualquer norma que encontre expressão textual na Constituição do Estadomembro, mesmo aquela que, a rigor, por consistir em norma constitucional federal central, seja, independente de antecedente inscrição formal na ordem constitucional local (HORTA, Raul Machado, Direito Constitucional, 5ª ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2010, p , v. g.), de sua observância obrigatória. Dessa forma decidiu o Supremo Tribunal Federal, no famoso acórdão prolatado no julgamento, em , de verdadeiro leading case, a Rcl n. 383/SP, Rel. Min. Moreira Alves, RTJ 147/ , a cujos termos, desde então, se mantém fiel (MENDES, Gilmar Ferreira, e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet, Curso de Direito Constitucional, 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 2013, p , v. g.). Logo, as normas constitucionais federais em que assentadas as bases e princípios da Administração Pública, uma vez que tenham sido reproduzidas na Constituição do Estado-membro, servem como parâmetro de controle de constitucionalidade exercido, nos termos do art. 125, 2º, da Constituição da República, pelo respectivo Tribunal de Justiça. Na espécie, portanto, a norma do art. 97, 19 conquanto dimanada de norma central federal, art. 40, 19, da Constituição da República serve de objeto nomológico dotado de parametricidade autônoma e suficiente para o fim de empreender-se juízo, cautelar e de mérito, no domínio do controle de constitucionalidade estadual do segmento textual cuja inconstitucionalidade se deduz na presente ação. IV DA TUTELA DE URGÊNCIA 6

7 Quanto ao sinal do bom direito (fumus boni juris), a argumentação expendida evidencia, sobejamente, a inconstitucionalidade da norma revelada no segmento textual a ser concedido com efeito a partir da data da opção expressa formalizada por meio do próprio requerimento de abono, constante do art. 139 da Lei Complementar n. 77, de , com a redação outorgada pela Lei Complementar Estadual n. 88, de Sobre o risco (periculum in mora) vislumbrado na subsistência da eficácia normativa da normativa impugnada, enquanto pendente de julgamento final o pedido veiculado na presente ação, os dispositivos apontados como inconstitucionais vêm propiciando, de modo continuado, a violação a direito de servidores públicos do Estado de Goiás, além, é certo, de frustar os objetivos que a Constituição Estadual, na esteira da Constituição da República, teve em mira, vale dizer, o incentivo à continuidade do exercício funcional, com a criação do abono de permanência. De todo modo, é mais que ressabida a existência, na jurisprudência constitucional, de utilização de um requisito alternativo ao periculum in mora: a conveniência. Pelo critério da conveniência, segundo magistério de Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira (Ações Constitucionais, 1ª, Salvador: JusPodivm, 2007, p. 376), se avalia o que é mais conveniente ao bem comum: se a manutenção do ato impugnado ou o deferimento da medida cautelar. Acerca da inteira adequação do critério da conveniência para a concessão das providências de tutela de urgência nos processos objetivos da jurisdição constitucional, mostra-se assente a intelecção do Supremo Tribunal Federal, consoante se lê nos acórdãos assim ementados: 7

8 AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - LIMINAR. A CONCESSÃO, OU NÃO, DE LIMINAR EM AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE FAZ-SE CONSIDERADOS DOIS ASPECTOS PRINCIPAIS - O SINAL DO BOM DIREITO E O RISCO DE MANTER-SE COM PLENA EFICÁCIA O ATO NORMATIVO. ESTE ÚLTIMO DESDOBRA-SE A PONTO DE ENSEJAR O EXAME SOB O ÂNGULO DA CONVENIÊNCIA DA CONCESSÃO DA LIMINAR, PERQUIRINDO-SE OS ASPECTOS EM QUESTÃO PARA DEFINIR-SE AQUELE QUE MAIS SE APROXIMA DO BEM COMUM. (...)". (ADI 768 MC, Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, j. de , RTJ 143, t. 3/775, v. g.) (ênfase acrescentada) AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CONSTITUIÇÃO DO AMAZONAS - SERVIDOR PÚBLICO - CONCESSÃO DE VANTAGEM - ALEGADA USURPAÇÃO DO PODER DE INICIATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO - PROCESSO LEGISLATIVO - EXTENSAO E LIMITES DO PODER CONSTITUINTE DECORRENTE - MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA. - (...) - A alta relevância da questão - alcance do poder constituinte decorrente atribuído aos Estados-membros - torna possível invocar o juízo de conveniência, que constitui critério adotado e aceito pelo Supremo Tribunal Federal, em sede jurisdicional concentrada, para efeito de concessão da medida cautelar. Precedentes. (ADI 568 MC, Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, j. de , RTJ 138, t. 1/64, v. g.) (ênfase acrescentada) AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 118 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. ( ) - COMO SE ENTENDEU NO EXAME DA MEDIDA LIMINAR REQUERIDA NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N É POSSÍVEL - UTILIZAR-SE DO CRITÉRIO DA CONVENIÊNCIA, EM LUGAR DO 'PERICULUM IN MORA'. PARA A CONCESSÃO DE MEDIDA CAUTELAR, AINDA QUANDO O DISPOSITIVO IMPUGNADO JÁ ESTEJA EM VIGOR HÁ ALGUNS ANOS. PEDIDO 8

9 DE LIMINAR DEFERIDO, PARA SUSPENDER "EX NUNC", E ATÉ A DECISÃO FINAL, A EFICÁCIA DO INCISO IX DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 118 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. (ADI 1087 MC, Pleno, Rel. Min. Moreira Alves, j. de , DJ de , v. g.) (ênfase acrescentada) Impositiva, por isso, a suspensão cautelar da eficácia do segmento normativo guerreado na presente ação. VI DOS REQUERIMENTOS E DO PEDIDO Ante todo o exposto, requer-se: (a) a concessão, observada a reserva de plenário, de medida cautelar para suspender, até julgamento de mérito, a eficácia normativa do segmento textual a ser concedido com efeito a partir da data da opção expressa formalizada por meio do próprio requerimento de abono, constante do art. 139 da Lei Complementar n. 77, de , com a redação outorgada pela Lei Complementar Estadual n. 88, de ; (b) a requisição, nos termos do art. 6º, caput, da Lei Federal n /1999, de informações à Assembleia Legislativa do Estado de Goiás e ao Governador do Estado de Goiás, acompanhas, no primeiro caso, de cópia integral dos autos do processo legislativo; 9

10 (c) e a citação do Senhor Procurador-Geral do Estado, para exercer, nos autos, a função de curador da presunção de constitucionalidade da legislação impugnada, ex vi do disposto no art. 60, 3º, da Constituição do Estado de Goiás; (d) após, a remessa dos autos ao Ministério Público, antes do julgamento definitivo, para pronunciamento final, por analogia com o disposto no art. 8º da Lei Federal n /1999. Por derradeiro, pede-se, no mérito, o julgamento de procedência do pedido, para que se declare a inconstitucionalidade do segmento textual a ser concedido com efeito a partir da data da opção expressa formalizada por meio do próprio requerimento de abono, constante do art. 139 da Lei Complementar n. 77, de , com a redação outorgada pela Lei Complementar Estadual n. 88, de Goiânia, 27 de agosto de LAURO MACHADO NOGUEIRA PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA 10