A reforma metrológica nas Ordenações Manuelinas. 17 de Dezembro A Reforma Metrológica nas Ordenações Manuelinas
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- Luiza Escobar Gesser
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1 A reforma metrológica nas Ordenações Manuelinas 1
2 Sumário: Contexto e antecedentes A reforma metrológica A reforma dos pesos As outras medidas Os padrões nacionais O controlo metrológico A evolução até
3 Contexto e antecedentes Situação no tempo de D. João II: Existiam diversos centros de aferição, cada um com seus padrões (D. Afonso V tinha permitido 6 centros em 1455) Os sistemas de pesos usados para produtos de baixo valor (haver de peso) diferiam dos usados para metais preciosos e moeda, havendo arráteis de 13 onças, de 14 onças, etc. Usavam-se diversos tipos de pesos: marco de Colónia, marco de Tria (de Troyes), marco de marçaria (de mercearia), etc. 3
4 Contexto e antecedentes Medidas tomadas por D. João II: 1482 mandou usar em todo o reino, para os cereais, vinho e azeite, as medidas de Santarém; 1487 pediu à câmara de Lisboa e procuradores dos mesteres parecer sobre a ideia de utilizar marcos de um único tipo; 4
5 Contexto e antecedentes Proposta de D. João II para o sistema de pesos (1487): onça = 6 grãos; marco = 8 onças; arrátel = 2 marcos, ou seja 16 onças; arroba = 32 arráteis; quintal = 4 arrobas 5
6 Contexto e antecedentes Medidas tomadas por D. João II 1488 proibiu a utilização do marco de Tria, obrigando a que tudo se pesasse pelo marco de Colonha 1490 a pedido de alguns concelhos, permitiu que parte do país utilizasse as medidas (os padrões) do Porto e não as de Santarém 6
7 Contexto e antecedentes Fora de Portugal, também noutros países se tentava uniformizar: 1488 na península ibérica, após a unificação dos reinos de Castela e Aragão, os reis católicos mandaram usar um único padrão de pesos; 7
8 Contexto e antecedentes Henrique VII efetuou uma reforma metrológica em Inglaterra, mandando distribuir cópias dos padrões de pesos e medidas por dezenas de cidades; 8
9 A reforma metrológica D. João II faleceu sem aplicar as reformas que propusera (a dos pesos e a dos forais) 1497 D. Manuel convocou representantes dos concelhos para discutir reforma dos pesos 1499 Executaram-se os novos padrões de pesos 1500 O primeiro foral novo baseia-se já nos novos sistemas 1502 Ordenação do rei define a nova estrutura de pesos, manda distribuí-los pelo país e estabelece prazo de 6 meses para obrigação da utilização dos novos padrões 9
10 Os documentos Regimento dos oficiais das cidades Ordenações do reino Editadas em Ordenações do reino Editadas em
11 em nossos reinos se costumava pesar por desvairadas maneiras de pesos, porque uns pesavam por pesos de marçaria e outros por maiores e mais pequenos o que era causa de se fazerem muitos enganos e falsidades ( ) E querendo nós a isto prover em maneira que tais enganos se evitem, Ordenamos e pomos por lei e mandamos que daqui em diante pessoa alguma de qualquer estado e condição que seja não seja ousado de ter desvairados pesos, nem por eles vender, comprar receber nem entregar coisa alguma. E todos comprem vendam e entreguem por arrátel de dezasseis onças. E a este respeito o quintal em que há cento e vinte e oito arráteis das ditas dezasseis onças e por arroba e meia arroba e quarta de arroba segundo os padrões que ora mandamos fazer e dar a todas as cidades vilas e lugares de nossos reinos e senhorios 11
12 A reforma dos pesos 1504? publicação do Regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares destes reinos, que inclui: a Ordenação (1502); o Regimento dos pesos; o título dos Almotacés e cousas que a seus ofícios pertence 12
13 A reforma dos pesos O Regimento dos pesos estabelece: Que as pilhas de pesos mandadas fazer na Flandres são distribuídas pelas cidades, vilas e lugares, conforme necessário; Quem tem que ter pesos ou medidas e quais; Controlo metrológico: prazos de aferição e penas aos que não cumprirem; Como utilizar e onde guardar os padrões municipais 13
14 A reforma dos pesos Os pesos distribuídos pelos concelhos são os seguintes: 1 quintal que pesa 128 arráteis, composto por 16 peças, sendo a maior a caixa que pesa meio quintal; 1 arroba; 1 meia arroba e ¼ de arroba (= 8 arráteis); 1/8 de arroba(= 4 arráteis) e uma peça de 2 arráteis; 1 arrátel; 1 marco (= ½ arrátel, = 8 onças); ¼ de arrátel (= ½ marco, = 4 onças); oitava de arrátel (= 2 onças); 1 onça; ½ de onça; 2 oitavas; 1 oitava (= 1 cruzado) 2 peças de ½ oitava cada uma. 14
15 A reforma dos pesos 15
16 As outras medidas (secos) Cada concelho deveria ter as seguintes medidas de pão : fanga (referido em 1512, não aparece em 1521) alqueire; meio alqueire; quarta de alqueire; Para o azeite, deveriam ter: alqueire; meio alqueire; quarta de alqueire; as outras medidas miúdas que se costumavam usar em cada lugar; 16
17 As outras medidas (líquidos) Cada concelho deveria ter as seguintes medidas de vinho : almude; meio almude; canada; meia canada; quartilho; meio quartilho 17
18 As outras medidas (comprimento) Cada concelho deveria ter padrão de: vara; côvado; 18
19 As outras medidas D. Manuel só mandou distribuir padrões de peso. Quanto às restantes, as Ordenações e o regimento não mencionam os múltiplos do alqueire (excepto a fanga) e do almude, nem outras medidas de comprimento que não o côvado e a vara. No entanto, sabemos que existiam outras medidas: Carga cavalar = 16 alqueires (= 12 almudes), o que supõe uma relação entre o alqueire e o almude 19
20 As outras medidas Para os líquidos, existe documentação do séc. XVI que refere a utilização de múltiplos do almude: Tonel (= 50 almudes de Lisboa?); Pipa (meio tonel); Quarto (1/4 do tonel) Para os secos, a Ordenação de 1512 refere também a fanga (= fanega? = 4 alqueires) 20
21 As outras medidas Em 1575, D. Sebastião mandou distribuir pelos concelhos medidas de volume de secos e de líquidos, segundo os padrões de D. Manuel (iguais às de Lisboa); Alguns autores defendem que o alqueire de Lisboa, que teria pouco mais de 13 l, seria diferente do usado em grande parte do país e poderá ter sido ligeiramente aumentado nesta altura para o aproximar da medida usada em Castela. No entanto, as recolhas efectuadas no séc. XIX provam que, mesmo assim, se encontraram alqueires e almudes com capacidade bastante variável. 21
22 Os padrões nacionais Regimento das Cidades, vilas e lugares destes reinos: Mandam distribuir os pesos (quintal de 128 arráteis, etc) Ordenações de 1512: Entre Douro e Minho, Beiras, Trás os Montes, Algarve e Setúbal seguem medidas (padrões) do Porto; o resto do país mede pelas medidas de Santarém. Mas quanto aos pesos todos e varas serão iguais e tamanhas em um lugar como em outro pelos padrões que ora mandámos fazer. Ordenações de 1521: Todas as medidas, e pesos, e varas, e côvados sejam tamanhas como os da nossa cidade de Lisboa e não sejam maiores nem menores. 22
23 O controlo metrológico As Ordenações (como o Regimento atrás citado) especificam: Os padrões que devem existir nos concelhos; As pessoas, que por razão de seus ofícios devem ter determinados pesos ou medidas; Os prazos de verificação e aferimento; As multas aplicáveis (e quem fica com esse rendimento); Como utilizar e onde guardar os padrões municipais 23
24 O controlo metrológico Que padrões devem existir nos concelhos: Segundo o Regimento: Regimento dos oficiais das cidades Padrão de peso de 1 quintal de 128 arráteis com as 16 peças postos nas cidades, vilas e lugares onde e quantos nos pareceu necessário a cada um lugar 24
25 O controlo metrológico Que padrões devem existir nos concelhos: Segundo as ordenações de 1512: Ordenações do reino Editadas em Além do padrão de peso referido no Regimento, devem ter: Padrão de peso de ouro (especifica quais); Padrão de vara e côvado; Medidas de pão: fanga, alqueire, meio alqueire e quarta; Medidas de vinho: almude, meio almude, canada, meia canada, quartilho e meio quartilho; Medidas de azeite: alqueire e meio alqueire e quarta e medidas miúdas que se costumam usar 25
26 O controlo metrológico Que padrões devem existir nos concelhos: Segundo as ordenações de 1521: Ordenações do reino Editadas em 1521 As medidas de comprimento e capacidade são as mesmas, excepto a fanga, que não é mencionada. Quanto ao peso, não se referem os padrões de peso de ouro e só as cidades e vilas com 400 vizinhos ou mais, terão o peso de 1 quintal de 128 arráteis com 16 peças; os concelhos entre 200 e 400 vizinhos, terão apenas meio quintal e daí para baixo; os concelhos com menos de 200 vizinhos terão somente arroba e daí para baixo 26
27 O controlo metrológico Que padrões devem ter os particulares: Segundo o Regimento, devem ter pesos (descriminados por cada ofício) e afiná-los de 2 em 2 meses pelos padrões do concelho: Regimento dos oficiais das cidades Carniceiros Cirieiros (fazem velas de cera) Os que fazem candeias de sebo Caldeireiros Picheleiros (pichéis, funis) Fazem bestas de aço Boticários Fruteiras Vendem sabão a peso Especieiros Moleiros, atafoneiros e azenheiros 27
28 O controlo metrológico Que padrões devem ter os particulares: Regimento dos oficiais das cidades Segundo o Regimento, devem ter pesos (descriminados por cada ofício) e afiná-los uma vez por ano : Tecelães de panos de linho Tecelães de panos de lã Tintureiros Tecedeiras de veios 28
29 O controlo metrológico Que padrões devem ter os particulares: Segundo as ordenações de 1512: Ordenações do reino Editadas em Passam a incluir-se os vendedores de peixe e ourives, e medidas de comprimento: Mercadores de panos de cor: terão varas e côvados Trapeiros (panos de diversos tipos) terão varas medidas de capacidade: Vendem vinhos a grosso (medidas maiores) Vendem vinho atavernado (medidas mais pequenas) Compram e vendem azeite em grosso (medidas maiores) Vendem azeite pelo miúdo (medidas mais pequenas) 29
30 O controlo metrológico Que padrões devem ter os particulares: Segundo as ordenações de 1521: Ordenações do reino Editadas em 1521 Mantém-se o disposto em 1512, com uma alteração: Só os Regatães de pescado e carniceiros são obrigados a aferir de 2 em 2 meses. Os outros passam a aferir 2 vezes por ano, em Janeiro e Julho; Os tecelães continuam a aferir 1 vez por ano, em Janeiro 30
31 O controlo metrológico Utilização dos padrões municipais: Segundo o Regimento: Regimento dos oficiais das cidades Os padrões municipais devem estar numa arca ou armário com duas fechaduras (procurador e escrivão) Multa para uso indevido dos padrões municipais = 4000 reais 31
32 O controlo metrológico Utilização dos padrões municipais: Nas Ordenações de 1512, Ordenações do reino Editadas em acrescenta-se que devem estar marcados da marca do concelho Multa para uso indevido dos padrões municipais = 2000 reais (metade) 32
33 O controlo metrológico Utilização dos padrões municipais: Nas Ordenações de 1521, Ordenações do reino Editadas em 1521 acrescenta-se que os afinadores terão outros pesos e medidas concordantes com os do concelho, para afinar os pesos inferiores a meia arroba. Daí para cima terão que afinar na Câmara. Multa para uso indevido dos padrões municipais = 1000 reais (metade) 33
34 A evolução até 1521 Regimento dos oficiais das cidades Ordenações do reino Editadas em Ordenações do reino Editadas em
35 A evolução até 1521 Os padrões nacionais e municipais: Padrões Nacionais: deixam de ser vários, passando a seguir-se os de Lisboa; Os pesos que cada concelho deve ter passam a depender do número de habitantes (nem todos têm que ter até ao quintal); As multas por uso indevido dos padrões municipais, vão descendo de 4000 para 2000 e depois para 1000 reais em 1521; 35
36 A evolução até 1521 O controlo metrológico: Com algumas excepções, a verificação dos pesos e medidas deixa de ser de 2 em 2 meses e passa a ser 2 vezes por ano (em Janeiro e Julho); Incluem-se algumas profissões e medidas não previstas inicialmente (vinho e azeite capacidade; tecidos côvado e vara) Não pagam multa quando vão fazer a aferição; Nas outras situações, se o erro nos pesos ou medidas for culpa do afinador, é este que paga a multa; Efectuam-se algumas clarificações (ex: multa para erro no côvado) Há outras alterações menores 36
37 A evolução até 1521 Parece existir um aperfeiçoamento e ajustamento, conforme determinado pela prática ao longo destas duas décadas, no sentido de tornar o sistema mais rigoroso, mas também mais praticável O sistema manteve-se quase sem alterações até ao séc. XIX, na redação que ficou conhecida por Ordenações Filipinas 37
38 Bibliografia Regimento dos oficiais das cidades, vilas e lugares destes reinos: Edição facsimilada do texto impresso por Valentim Fernandes em 1504 e neste ano de 1955 reimpresso pela Fundação de Casa de Bragança com prefácio do Professor Doutor Marcello Caetano, Lisboa, 1955 Ordenações Manuelinas : Livros I a V : Reprodução em fac-símile da edição de Valentim Fernandes (Lisboa, ) [...] / Introdução e descrição Codicológica de João José Alves Dias. Lisboa : Centro de Estudos Históricos da Universidade Nova de Lisboa,
39 Obrigado pela atenção 39
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