Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete do Desembargador José Ricardo Porto

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1 DECISÃO MONOCRÁTICA Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete do Desembargador José Ricardo Porto APELAÇÃO CINTEL N /001 CAPITAL RELATOR: Desembargador José Ricardo Porto APELANTE: UNIMED do Estado de São Paulo Confederação Estadual das Cooperativas Médicas ADVOGADO: Patrícia de Carvalho Cavalcanti APELADO: Joanderson Evangelista Lucena, representado por seus pais. ADVOGADO:Richomer Barros Neto OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. CIRURGIA. MATERIAIS IMPORTADOS. COBERTURA EXCLUÍDA. CLÁUSULA CONTRATUAL. ABUSIVIDADE. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. APELAÇÃO CÍVEL. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DO STJ E DO TJPB. ART. 557 DO CPC. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR. As cláusulas dos contratos de plano de saúde que excluem da sua cobertura materiais importados necessários ao sucesso de intervenção cirúrgica são consideradas abusivas. N PLANO DE SAÚDE - CIRURGIA DE ANEURISMA CEREBRAL. UTILIZAÇÃO DE MATERIAL IMPORTADO, QUANDO INEXISTENTE SIMILAR NACIONAL. POSSIBILIDADE. - É abusiva a cláusula contratual que exclui de cobertura securitária a utilização de material importado, quando este é necessário ao bom êxito do procedimento cirúrgico coberto pelo plano de saúde e não existente similar nacional. (STJ 3' Turma. REsp / SP. Relator: MM. Humberto Gomes de Barros. J. em 17/03/2008). Compete ao Relator, monocraticamente, nos termos do art. 557 do CPC, negar seguimento, de plano, aos

2 recursos contrários à jurisprudência pacificada de Tribunal Superior ou do respectivo tribunal, prestigiando, assim, os princípios da celeridade e economia processuais. VISTOS. Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer ajuizada por Joanderson Evangelista Lucena, menor impúbere representado por seus pais, em face da UNIMED do Estado de São Paulo Confederação Estadual das Cooperativas Médicas e da UNIMED João Pessoa Cooperativa de Trabalho Médico. Vislumbra-se na exordial que o Autor foi acometido de um tumor ósseo no úmero direito, que lhe causa fortes dores e dificuldade em realizar movimentos. Em razão de tal patologia, era imprescindível a realização de cirurgia para extrair o tumor e enxertar no local material denominado ""Mig Mini". Ocorre que as Promovidas se negavam a autorizar a realização da cirurgia, eis que antes deveria ser paga a diferença de valor entre o material cirúrgico solicitado pelo médico e o de fabricação nacional, na quantia aproximada de RS (quatorze mil reais). Neste contexto, pugna pela realização da cirurgia sem a necessidade de depositar o valor cobrado pelas Promovidas. Na sentença de fls. 196/201 o pedido inicial foi julgado procedente. confirmando a liminar anteriormente deferida. No entanto. antes da análise do mérito. o Magistrado acolheu a preliminar de ilegitimidade passiva da UNIMED João Pessoa. de modo a exclui-la da demanda. Insatisfeita, a UNIMED do Estado de São Paulo interpôs Apelação Cível (fls. 204/216), sustentando a necessidade de reforma da sentença. Não foram apresentadas contrarrazões (Certidão de fl. 223). Parecer ministerial pelo desprovimento do recurso (fls. 229/235). É o breve relatório. DECIDO.

3 Como se observa nos autos, o Apelado necessitou de urgente cirurgia devido à grave patologia da qual estava acometido e causadora de diversos transtornos. entre dores e impossibilidade de ter uma vida normal. Ocorre que a Apelante se negou a arcar com a intervenção cirúrgica sob o argumento de que o material requisitado não estaria dentre aqueles fornecidos por ela. Aduzia, pois, não haver qualquer obrigatoriedade em custear os utensílios requisitados, uma vez que não havia previsão contratual para tanto. Aponta que no contrato de prestação de serviços de saúde. os materiais importados estão expressamente excluídos da cobertura (item 5.1.3). Diante da negativa da Promovida foi ajuizada a presente ação. cujo pedido de antecipação de tutela fora deferido para instar o pagamento total da cirurgia. Pois bem, como se percebe nos autos, tratava-se de patologia que exigia rápida intervenção cirúrgica a fim de restabelecer as atividades normais do Recorrido. Estava configurada, pois, a emergência da situação que reclamava cuidados médicos imediatos. Ocorre que, em suas razões recursais, a Recorrente tenta se eximir do dever de custear a operação, pelo fato de a cobertura médica oferecida ao Recorrido não abarcar materiais importados. No entanto, o STJ já firmou entendimento no sentido de que as cláusulas dos contratos de plano de saúde que excluem da sua cobertura materiais importados necessários ao sucesso de intervenção cirúrgica são consideradas abusivas. Senão vejamos: PLANO DE SAÚDE - CIRURGIA DE ANEURISMA CEREBRAL. UTILIAÇÃO DE MATERIAL IMPORTADO, QUANDO INEXISTENTE SIMILAR NACIONAL. POSSIBILIDADE. - É abusiva a cláusula contratual que exclui de cobertura securitária a utilização de material importado, quando este é necessário ao bom êxito do procedimento cirúrgico coberto pelo plano de saúde e não existente similar nacional. (STJ 3 8 Turma. REsp / SP. Relator: Min. Humberto Gomes de Barros. J. em 17/03/2008). RECURSO ESPECIAL - PLANO DE SAÚDE - EXCLUSÃO DA COBERTURA O CUSTEIO OU O RESSARCIMENTO DE IMPLANTAÇÃO DE PRÓTESE IMPORTADA IMPRESCINDÍVEL PARA

4 O ÊXITO DA INTERVENÇÃO CIRÚRGICA COBERTA PELO PLANO - INADMISSILIDADE - ABUSIVIDADE MANIFESTA DA CLÁUSULA RESTRITIVA DE DIREITOS - RECURSO ESPECIAL PROVIDO. I - Ainda que se admita a possibilidade do contrato de plano de saúde conter cláusulas que limitem direitos do consumidor, desde que estas estejam redigidas com destaque. permitindo sua imediata e fácil compreensão, nos termos do 4" do artigo 54 do CDC, mostra-se abusiva a cláusula restritiva de direito que prevê o não custeio de prótese, imprescindível para o êxito do procedimento cirúrgico coberto pelo plano, sendo indiferente, para tanto, se referido material é ou não importado; II - Recurso provido. (STJ 3' Turma. REsp n /RJ. Relator: Ministro Massami Uyeda. J. em 15/05/2008). É abusiva a cláusula contratual que exclui de cobertura a colocação de "stent", quando este é necessário ao bom êxito do procedimento cirúrgico coberto pelo plano de saúde. Precedentes. (STJ 3' Turma. REsp / RJ. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. J. em 11/03/2008). No mesmo sentido. a jurisprudência desta Corte de Justiça: APELAÇÃO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA - PLANO DE SAÚDE - TRATAMENTO MÉDICO - RIZOTOMIA PERCUTÂNIA POR SEGUIMENTO; DEKOMPRESSOR -CONCESSÃO DA TUTELA - IRRESIGNAÇÃO - NÃO COBERTURA CONTRATUAL PARA O PROCEDIMENTO -ALEGAÇÕES INFUNDADAS - CONTRATO CELEBRADO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI /98 - IRRELEVÂNCIA - PROTEÇÃO CONTRATUAL HAURIDA DO CDC -DESVANTAGEM AO CONTRATANTE -RECONHECIMENTO DE CLÁUSULA ABUSIVA - DESPROVIMENTO DO RECURSO. - É de se admitir a abusividade de cláusula contratual estipulada em contrato i de plano de saúde, quando acarreta excessiva desvantagem ao contratante, ainda mais em se tratando de exclusão ou limitação de material imprescindível ao êxito do procedimento cirúrgico principal. (TJPB 3' Câmara Cível. AC n Relator: Des. Saulo Henriques de Sá Benevides. J. em 28/07/2009).

5 Interessante APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATORIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. RECUSA DE REALIZAÇÃO DE TRATAMENTO MÉDICO SOLICITADO. CLÁUSULA CONTRATUAL ABUSIVA. TRATAMENTO INCLUÍDO NA ESPECIALIDADE DE ORTOPEDIA. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR. DESPROVIMENTO. - Havendo previsão de cobertura para a especialidade, o plano de saúde não pode restringir o tipo de tratamento para o alcance da cura do segurado, cabendo ao médico o exame desta conveniência. - Demonstra-se abusiva a cláusula que restrinja o custeio de prótese ou material para a viabilização de tratamento médico específico, notadamente quando se verifique a existência de previsão genérica no próprio instrumento contratual para a especialidade vinculada ao caso concreto. (TJPB 1' Câmara Cível. AC n /002. Relator: Juiz Miguel de Britto Lyra Filho. J. em 12/02/2009). destacar que o médico Luciano José Lira Mendes (CRM n. 4290), que acompanha o caso do Apelado. declarou à Apelante a razão pela qual solicitou os materiais importados. conforme se observa no documento de fl. 23. A propósito, trecho da justificativa: "Devido a gravidade da lesão para evitar provável complicação durante o trans e pós-operatório, estou solicitando placa de fios auto-bloqueante, parafusos autobloqueante e enxerto biossintético com o fim de resolver a patologia do paciente, se isto não for cumprido tem um risco de resultado e prognóstico" (fl. 23). Pois bem, vislumbra-se a necessidade de utilização dos materiais, devendo ser aplicado ao caso em exame o entendimento do STJ e do TJPB, segundo o qual a cláusula que veda a cobertura do plano de saúde a determinados equipamentos cirúrgicos é considerada abusiva quando eles forem necessários ao êxito da intervenção médica. Compete ao Relator, monocraticamente. nos termos do art. 557 do CPC, negar seguimento, de plano, aos recursos contrários à jurisprudência pacificada de Tribunal Superior ou do respectivo tribunal, prestigiando. assim, os princípios da celeridade e economia processuais. Por fim, o Apelante prequestionou diversos dispositivos da Constituição Federal (art. 5 0, II, XXXV, LIV e LV; art. 93, IX; art caput e II; art. 196; art. 197; art. 199). do Código Civil (artigos 187 e 757). do Código de Defesa do Consumidor (art. 54, 4 0 ) e da Lei 9.656/98 (artigos 10, 12 e 35-A). No entanto, é desnecessário que o magistrado se pronuncie a respeito de

6 todos os argumentos lançados pela parte, quando o fundamento esposado na decisão afastar o. demais. Nesse sentido, o STJ: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. CONTRIBUIÇÃO AO SESC E AO SENAC. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO. INCIDÊNCIA. PRECEDENTES. REFORMA TOTAL DO ACÓRDÃO. INVERSÃO DOS ÓNUS DA SUCUMBÊNCIA. 1. Não havendo no acórdão omissão, contradição ou obscuridade capaz de ensejar o acolhimento da medida integrativa, tal não é servil para forçar a reforma do julgado nesta instância extraordinária. Com efeito, afigura-se despicienda, nos termos da jurisprudência deste Tribunal, a refutação da totalidade dos argumentos trazidos pela parte, com a citação explícita de todos os dispositivos infraconstitucionais que aquela entender pertinentes ao desate da lide. 2. A jurisprudência desta Corte está assentada no sentido de que a contribuição ao Sesc e ao Senac é exigível das empresas prestadoras de serviço, na medida em que estão enquadradas no plano sindical da Confederação Nacional do Comércio, nos termos da classificação do artigo 577 da CLT e seu anexo. Precedentes. 3. A reforma total do acórdão, ocorrida in casa, enseja a inversão dos anus da sucumbencia. 4. Recursos especiais providos. (STJ 2' Turma. REsp / DF. Relator: Min. Mauro Campbell Marques. J. Em 01/06/2010). PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 165, 458, II, 535 E 536 DO CPC NÃO CONFIGURADA. NOMEAÇÃO À PENHORA. TÍTULO DA DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA. STATE OF BAHIA. OBRIGAÇÃO AO PORTADOR EMITIDA EM RECUSA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. VIOLAÇÃO DO ARTIGO 620 DO CPC. PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE. ANÁLISE DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. SÚMULA 7/STJ. 1. Inexiste violacão dos artigos 165, 458, II, 535 e 536 do CPC, quando o Tribunal de origem aplica, de forma clara, coerente e fundamentada, o direito que entende incidir à espécie. A jurisprudência desta Corte é

7 uníssona no sentido de que o julgador não está adstrito a responder a todos os argumentos das partes, desde que fundamente sua decisão. 2. A mera advertência de que a oposição de embargos declaratórios apenas para fins de prequestionamento poderia ser passível de cominação de multa, conforme asseverado no acórdão recorrido, não tem o condão de impedir a oposição de embargos caso haja na decisão omissão, contradição ou obscuridade. 3. A jurisprudência do STJ é uníssona quanto à possibilidade de recusa da nomeação à penhora de títulos da dívida pública sem cotação na Bolsa de Valores. Precedentes: AgRg nos Eag /RS, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, Dje 9/11/2009; AgRg no Ag /SC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 17/8/2009; AgRg no Ag /RS, desta relatoria, Primeira Turma, DJe 25/5/ A verificação da inobservância ao artigo 620 do CPC demanda o revolvimento de circunstâncias fáticas e probatórias presentes nos autos, o que é inviável em sede de recurso especial, ante o óbice da Súmula 71STJ. 5. Agravo regimental não provido. (ST,1 ja Turma. AgRg no Ag / SC. Relator: Min. Benedito Gonçalves. J. Em 25/05/2010). Por conseguinte, não é obrigatório o exame de todos os argumentos expostos quando a decisão se encontrar devidamente fundamentada. Com estas considerações, NEGO SEGUIMENTO À APELAÇÃO CÍVEL. Publique-se. Intime-se. Cumpra-se. João Pessoa, 16 de lho de J/03 Desembargador JOS Relat O PORTO

8 TRIBUNNI., DE Cootdeuadoria Reglerad o Judia ria