Coordenação-Geral de Tributação

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1 Coordenação-Geral de Tributação Solução de Consulta nº 56 - Cosit Data 27 de fevereiro de 2015 Processo Interessado CNPJ/CPF ASSUNTO: IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA - IRPJ COMÉRCIO DE AERONAVES USADAS. OPERAÇÃO DE CONSIGNAÇÃO. EQUIPARAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. As operações de venda de aeronaves usadas, adquiridas para revenda, não poderão ser equiparadas, para efeitos tributários, a operações de Dispositivos Legais: Lei nº 9.716, de 1998, art. 5º; IN SRF nº 152, de 1998; IN SRF nº 247, de 2002, art. 10; Lei nº 9.503, de 1997, Anexo I; Lei nº 7.565, de 1986, art Relatório A pessoa jurídica consulente informa atuar no ramo de indústria, comércio, importação e exportação de peças e aeronaves de recreio, esportivas e para fins industriais e especiais; indústria, comércio, importação e exportação de peças, componentes e acessórios para indústria em geral; montagem e reparos de aeronaves de recreio, esportivas e para fins especiais; instrução de operação e pilotagem de aeronaves de recreio, esportivas e para fins especiais. Dentre tais atividades, importa destacar, conforme evoca a consulente, em face da presente consulta fiscal, o comércio de aeronaves, que engloba a compra e venda de aeronaves usadas. 02. Observa ainda que o parágrafo único, art. 5º, da Lei nº 9.716, de 1998, equiparou, para efeitos tributários, os contratos de compra e venda mercantil de veículos automotores usados ao de consignação quando praticados por pessoas jurídicas que tenham formalmente declarado esse objeto social em seus atos constitutivos. 1

2 03. Em vista do que formula questionamento acerca da possibilidade de sua atividade de compra e venda de aeronaves usadas ser equiparada à consignação para efeitos tributários, nos termos da norma citada, assim como sobre a eventual necessidade de haver inscrição, dentre as atividades praticadas pela pessoa jurídica, especificamente daquela de compra e venda de aeronaves novas e usadas, no caso de a sua descrição atual comércio de aeronaves, constantes dos seus atos sociais, constituir-se em impedimento ao tratamento pretendido. Fundamentos 04. O questionamento da consulente diz respeito à possibilidade de apuração do Imposto de Renda devido sobre receita oriunda de comercialização de aeronaves usadas segundo o regime aplicável às operações de consignação, sob o manto da equiparação prevista no art. 5º da Lei nº 9.716, de 26 de novembro de 1998, a seguir reproduzido. Art. 5º As pessoas jurídicas que tenham como objeto social, declarado em seus atos constitutivos, a compra e venda de veículos automotores poderão equiparar, para efeitos tributários, como operação de consignação, as operações de venda de veículos usados, adquiridos para revenda, bem assim dos recebidos como parte do preço da venda de veículos novos ou usados. Parágrafo único. Os veículos usados, referidos neste artigo, serão objeto de Nota Fiscal de Entrada e, quando da venda, de Nota Fiscal de Saída, sujeitando-se ao respectivo regime fiscal aplicável às operações de (grifou-se) 05. No âmbito administrativo, o assunto foi objeto da IN SRF nº 152, de 16 de dezembro de 1998, onde se determina que nas operações de venda de veículos usados, adquiridos para revenda, inclusive quando recebidos como parte do pagamento do preço de venda de veículos novos ou usados, o valor a ser computado na determinação mensal das bases de cálculo do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro líquido será apurado segundo o regime aplicável às operações de 06. A incidência da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins segue o mesmo regime, a teor dos 4º e 5º, do art. 10, da IN SRF nº 247, de 21 de novembro de 2002: Art. 10. As pessoas jurídicas de direito privado e as que lhes são equiparadas pela legislação do Imposto de Renda, observado o disposto no art. 9 º, têm como base de cálculo do PIS/Pasep e da Cofins o valor do faturamento, que 2

3 corresponde à receita bruta, assim entendida a totalidade das receitas auferidas, independentemente da atividade por elas exercidas e da classificação contábil adotada para a escrituração das receitas. (...) 4º A pessoa jurídica que tenha como objeto social, declarado em seus atos constitutivos, a compra e venda de veículos automotores deve apurar o valor da base de cálculo nas operações de venda de veículos usados adquiridos para revenda, inclusive quando recebidos como parte do pagamento do preço de venda de veículos novos ou usados, segundo o regime aplicável às operações de 5º Na determinação da base de cálculo de que trata o 4 º será computada a diferença entre o valor pelo qual o veículo usado houver sido alienado, constante da nota fiscal de venda, e o seu custo de aquisição, constante da nota fiscal de entrada. 6º O custo de aquisição de veículo usado, nas operações de que tratam os 4 º e 5 º, é o preço ajustado entre as partes. 07. Como se pode perceber, a situação de exceção contempla exclusivamente aquelas operações de venda que tenham por objeto veículos automotores usados, gênero no qual se incluiria, no entendimento da consulente, não apenas os automóveis, os caminhões, os ciclos e demais veículos de circulação terrestre, mas também as aeronaves por ele comercializadas, entendimento, no entanto, que não encontra respaldo na legislação tributária, conforme se demonstrará. 08. Com efeito, para fins da legislação tributária, tendo em vista se tratar de situação excepcional, é preciso, antes, determinar se aeronaves podem ser consideradas veículos automotores, o que impõe exame jurídico da questão. 09. Tal exame deve ser feito mediante a extração, do âmbito das normas de trânsito, consolidadas no Código de Trânsito Brasileiro, instituído pela Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, do conceito de veículo automotor, conforme preceituado no seu Anexo I, a seguir transcrito. VEÍCULO AUTOMOTOR - todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico). [grifou-se]. 3

4 10. O conceito de aeronave, por seu turno, para fins jurídicos, deve ser buscado no Código Brasileiro de Aeronáutica, instituído pela Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, em cujo art. 106 encontramos a seguinte disposição. Art Considera-se aeronave todo aparelho manobrável em vôo, que possa sustentar-se e circular no espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas. Parágrafo único. A aeronave é bem móvel registrável para o efeito de nacionalidade, matrícula, aeronavegabilidade (artigos 72, I, 109 e 114), transferência por ato entre vivos (artigos 72, II e 115, IV), constituição de hipoteca (artigos 72, II e 138), publicidade (artigos 72, III e 117) e cadastramento geral (artigo 72, V). Art As aeronaves classificam-se em civis e militares. 1 Consideram-se militares as integrantes das Forças Armadas, inclusive as requisitadas na forma da lei, para missões militares (artigo 3, I). 2 As aeronaves civis compreendem as aeronaves públicas e as aeronaves privadas. 3 As aeronaves públicas são as destinadas ao serviço do Poder Público, inclusive as requisitadas na forma da lei; todas as demais são aeronaves privadas. 4 As aeronaves a serviço de entidades da Administração Indireta Federal, Estadual ou Municipal são consideradas, para os efeitos deste Código, aeronaves privadas (artigo 3, II).(Revogado pela Lei nº , de 2013) 5 Salvo disposição em contrário, os preceitos deste Código não se aplicam às aeronaves militares, reguladas por legislação especial (artigo 14, 6 ). 11. Sendo assim, existindo, conforme demonstrado, no ordenamento jurídico nacional, tanto a definição de veículo automotor, presente no Código de Trânsito Brasileiro, como a definição de aeronave, presente no Código Brasileiro de Aeronáutica, não se pode negar efeito à opção do legislador tributário pelo uso da expressão veículo automotor quando da instituição, com o advento da Lei nº 9.716, de 1998, de mecanismo de equiparação das operações de venda de veículos automotores usados, adquiridos para revenda, a operações de 12. Quando se pretende, no âmbito da legislação tributária, atingir um universo mais amplo de veículos, tal é expressamente feito, podendo ser citado, a título de 4

5 exemplo, o inciso I, 1º, do art. 25, da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995 que, tratando da legislação do imposto de renda das pessoas físicas, impõe a inclusão, na declaração de bens, dos veículos automotores, das embarcações e das aeronaves, denotando com isso a nítida adesão da legislação tributária à distinção de cada um de tais elementos. Transcreve-se o dispositivo. Art. 25. Como parte integrante da declaração de rendimentos, a pessoa física apresentará relação pormenorizada dos bens imóveis e móveis e direitos que, no País ou no exterior, constituam o seu patrimônio e o de seus dependentes, em 31 de dezembro do ano-calendário, bem como os bens e direitos adquiridos e alienados no mesmo ano. 1º Devem ser declarados: I - os bens imóveis, os veículos automotores, as embarcações e as aeronaves, independentemente do valor de aquisição;(grifou-se) (...) 13. Ainda no mesmo sentido, a Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI), aprovada pelo Decreto nº 7.660, de 23 de dezembro de 2011, ao tratar, no capítulo 87, de veículos automóveis, tratores, ciclos e outros veículos terrestres, suas partes e acessórios, não inclui nesse rol as aeronaves, estas inscritas no capítulo 88, destinado a Aeronaves e aparelhos espaciais, e suas partes, em mais uma clara demonstração da distinção determinada para fins de legislação tributária. 14. Por conseguinte, nítida a distinção, face à legislação tributária federal, entre as expressões veículo automotor e aeronave, razão pela qual as operações de venda de aeronaves usadas, adquiridas para revenda, não se incluem no benefício instituído pel art. 5º, da Lei nº 9.716, de Conclusão Com base nos fundamentos apresentados, conclui-se que a pessoa jurídica que tenha como objeto social a compra e venda de aeronaves usadas não poderá equiparar as operações de venda de aeronaves usadas, adquiridas para revenda, como operação de À consideração da Chefia da Divisão de Tributação da 5 a. Região Fiscal 5

6 Assinado digitalmente EDUARDO GOMES DE ALMEIDA MACIEL Auditor-Fiscal da RFB De acordo. Encaminhe-se à Coordenadora da Cotir. Assinado digitalmente MILENA REBOUÇAS NERY MONTALVÃO Auditora-Fiscal da RFB Chefe da Divisão de Tributação da 5ª Região Fiscal De acordo. Ao Coordenador-Geral da Cosit, para aprovação. Assinado digitalmente CLÁUDIA LÚCIA PIMENTEL MARTINS DA SILVA Auditora-Fiscal da RFB Coordenadora da Cotir Ordem de Intimação Aprovo a Solução de Consulta. Divulgue-se e publique-se nos termos do art. 27 da Instrução Normativa RFB nº 1.396, de 16 de setembro de Dê-se ciência ao consulente. FERNANDO MOMBELLI Auditor-Fiscal da RFB Coordenador-Geral da Cosit 6