MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO. Conflito negativo de atribuições entre Membros da PRT 2ª.

Transcrição

1 INTERESSADO 1: ASSUNTO: MPT PROCURADORIA REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª. REGIÃO INSTITUCIONAL Conflito negativo de atribuições entre Membros da PRT 2ª. Região V O T O PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO EM CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. A CCR deliberou, por unanimidade, admitir o pedido de reconsideração e, revendo decisão anterior, em virtude de fatos supervenientes que alteraram o quadro anteriormente julgado, declarar ser competente para prosseguir na investigação o Membro remanescente da Portaria PRT/2ª. nº.17/2006, desde que permaneça no Núcleo de Combate às Irregularidades na Administração Pública da Regional e não tenha declarado também sua suspeição, ou, caso contrário, que se proceda à livre redistribuição dirigida ao referido Núcleo regional da CONAP, por conexão, observadas as compensações e regras próprias. 1

2 I RELATÓRIO Inconformada com a decisão proferida por esta CCR nestes autos, quando do julgamento do Conflito Negativo de Atribuições em epígrafe, protocolou a ilustre Doutora Célia Regina Camachi Stander pedido de reconsideração, pretendendo ver revista aquela decisão, com designação de novo Membro para conduzir as investigações pertinentes ao PP nº.14401/2006. Sustenta que o procedimento em referência nunca pertenceu à sua banca e aponta como Órgão originariamente sorteado para atuar no aludido expediente a não menos ilustre Procuradora do Trabalho, Doutora Vivian Rodriguez Mattos. Alega que praticou inúmeros atos no curso de ações e inquéritos civis relacionados à São Paulo Turismo S/A, inclusive no feito em questão, por conta do disposto na Portaria PRT/2ª. Região nº.17/2006 que, com fulcro na Recomendação nº.3 da Corregedoria-Geral do MPT, determinou a atuação conjunta de Membros integrantes do Núcleo de Combate às Irregularidades na Administração Pública nos feitos relacionados à referida empresa pública, objetivando despersonalizar externamente a atuação do Parquet. Afirma que a Chefia da 2ª. Regional teria acatado pedido de suspeição da Dra.Viviann para dispensá-la de atuar nos feitos alusivos à referida empresa que se encontravam sob a presidência da mesma. Por fim, informa que, em conjunto com a Doutora Alline Pedrosa Oishi, teria requerido à ilustre Procuradora-Chefe da Regional a revogação da mencionada Portaria nº. 17/2006, com concomitante declaração de suspeição por razões de foro íntimo. Diante das novas informações trazidas pelo digno Órgão peticionário, determinei a remessa dos autos à PRT de São Paulo, por entender necessário que a nobre Procuradora-Chefe da Regional se manifestasse acerca dos fatos noticiados. 2

3 Manifestação da Excelentíssima Senhora Procuradora-Chefe da PRT da 2ª. Região, Doutora Oksana Maria Dziura Boldo, acostada às fls.278 e seguintes. S.Exa. noticia que, em , deferiu o pedido de exclusão das Doutoras Célia e Alline da Força Tarefa criada pela Portaria PRT/2ª.Região nº.17/2006, revogando, na mesma oportunidade, dito normativo. Esclarece que, em face da suspeição declarada pela Dra.Viviann, determinou, em , a imediata redistribuição da ACP nº /2008, assim como da peça de informação a ela apensada. Informa que formulará consulta a esta Câmara solicitando orientação sobre como proceder em relação a eventuais declarações de suspeição por motivo íntimo, em hipóteses semelhantes à dos autos. Quanto ao conflito negativo de competência propriamente dito, sugere que a investigação seja conduzida no Núcleo em que se iniciou o procedimento, em decorrência da conexão. Devolvidos os autos a esta CCR e a mim conclusos em 10 de novembro pp., trago ao Colegiado para deliberação, com proposta de voto. É o relatório, em apertada síntese. II VOTO Rememorando, toda a celeuma teve início quando após recebida denúncia sigilosa pela PRT da 2ª.Região dando conta de supostas irregularidades no cumprimento do TAC firmado com a empresa e, bem assim, da demissão de empregados concursados, sem justa causa, a Excelentíssima Senhora Procuradora do Trabalho Doutora Maria Beatriz Almeida Brandt, através do r.despacho de fls.13, constatando inexistir identidade total dos fatos denunciados com a matéria constante do TAC, determinou fosse a mesma instaurada como procedimento preparatório, com as comunicações de praxe. 3

4 Após investigadas as alegações trazidas na denúncia a Ilustre Procuradora Oficiante, que sucedeu à originária, pediu a convocação de reunião específica do Núcleo de Combate às Fraudes visando discutir a situação daquele feito, vindo aquele Colegiado a concluir, pelas razões de fls. 222-verso, que a competência para a continuidade das investigações seria do Núcleo de Combate à Discriminação, motivo pelo qual se deliberou pelo envio dos autos à douta Coordenadoria da CODIN local, com vistas à sua redistribuição. Procedida a nova distribuição dentre os Membros do Núcleo de Combate à Discriminação, o sorteio recaiu na pessoa do nobre Procurador do Trabalho, Doutor Daniel Augusto Gaiotto. S.Exa., mediante despacho de fls.224, verso, devolveu os autos à Ilustre Coordenadora, declinando de sua competência, por entender que o tema tratado na denúncia que dera origem ao Procedimento Preparatório fora instruído e investigado ao longo de dois anos, sempre com o mesmo objeto, não sendo aceitável que a decisão do Núcleo de Moralidade, posterior àquela seja hábil para justificar a redistribuição do mesmo feito, sem alteração do objeto. Havendo possível conflito entre os Membros, S.Exa. a Dra. Graciene Ferreira Pinto, na qualidade de Coordenadora da Codin, houve por bem formalizá-lo a esta CCR, abrindo vistas consecutivas ao Suscitante e Suscitada. Manifestações respectivas às fls. 227/228 e 229/229-verso, mantendo cada qual seu posicionamento. Levada a questão a julgamento em sessão do dia 14 de agosto de 2008, esta Câmara acolheu minha proposta de voto vazada nos seguintes termos, verbis: II MÉRITO Prima facie, necessário reconhecer a existência de conflito negativo de atribuições. 4

5 O Suscitante entende que a questão nuclear remanesce a mesma, ou seja, mesmo que se leve em conta os caminhos a que as investigações originárias conduziram, de eventual ocorrência de assédio moral e quejandos, o objeto do procedimento continua imutável. Por sua vez, os Membros que compõem o citado núcleo especializado entendem tratar-se de matéria diversa, merecendo distribuição aleatória no outro Núcleo. O fato, data venia, lamentável, é que ainda percamos tanto tempo discutindo entre nós quem irá investigar qualquer denúncia. Pela dicção do artigo 127, parágrafo 1 o., da Constituição Federal de 1988, são princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. Destes, o maior em importância, até pela precedência é, sem dúvida, a unidade. Cada vez que ficamos discutindo, em tese, onde deverá ser enquadrada a denúncia cujos fatos sequer chegaram a ser apurados para providenciarmos a correta autuação, de acordo com temário votado pelo colégio regional, o cidadão fica sem o nosso trabalho, a sociedade se decepciona com a Instituição e caminhamos, a passos largos para uma situação em que, de repente, poderão os contribuintes se dar conta que não fazemos falta. Sempre sonhei com um Ministério Público diligente, rápido, que procura resolver as questões que lhe são postas - com todas as dificuldades que todos sabemos, com falta de verbas, de servidores, de mais Membros o mais depressa possível. por nós? Mas e quando os entraves começam a ser criados 5

6 Com todo respeito que tenho por cada um dos Ilustres Procuradores retro nominados e pelo Colégio Regional em si, por cada um dos seus Membros, faço daqui um apelo: não permitam que o temário impeça a atuação dos seus Membros, sob pena de naufragarmos nos próprios nós e emaranhados por nós criados, ainda que com a melhor das intenções Penso que a solução é a observância do princípio do promotor natural, prosseguindo o Membro originalmente sorteado na condução das investigações até seu termo final. Nesse sentido permito-me invocar, aqui, precedente por mim relatado no Conflito de Atribuições PROCESSO PGT/CCR/203/2007, entre Membros da PRT da 5ª. Região, do qual peço vênia para transcrever pequeno trecho, in verbis: Quanto à licitude matéria afeta à Corregedoria esta já se pronunciou entendo perfeitamente cabível a retenção, concluindo, verbis: A Representada, Procuradora Regional do Trabalho, Dra. Edelamare Barbosa Melo, quando muito, pode ter descumprido regras acordadas entre os Membros da PRT da 5ª. Região, mas não cometido infração disciplinar, pois sua conduta não encontra tipicidade com as disposições contidas nos artigos 236 e incisos e 237, da LC 75/93. (grifei) Desse modo proponho que se decida pela manutenção da investigação até seu termo final a cargo da Ilustre Procuradora originariamente sorteada. III - CONCLUSÃO A CCR/MPT, à unanimidade, conhece do conflito negativo de atribuições suscitado pelo Ilustre Procurador do Trabalho Doutor Daniel Augusto Gaiotto e decide pela manutenção do feito sob a direção da Ilustre Procuradora Suscitada, Dra. Célia Regina Stander, competente para 6

7 continuar na instrução e eventualmente ajuizar ação sobre quaisquer dos temas afetos à Codin. Brasília, 14/agosto/2008. GUILHERME MASTRICHI BASSO RELATOR A tese da nobre Procuradora peticionária é no sentido de que... - o procedimento não pertence e nunca pertenceu a sua Banca; - não foi ela parte suscitante ou suscitada do conflito de atribuições PGT/CCR/PP/4919/2008; - trata-se de caso a que se aplicou a Recomendação n.3 da Corregedoria deste MPT (atuação despersonalizada); - há pedido de exclusão da Procuradora infra-assinada da Portaria 17, pelas razões expostas no Ofício 17/2008, anexo. Compulsando minuciosamente os autos, verifico que a Dra.Célia atuou diversas vezes no curso das investigações atinentes ao PP nº.14401/2006, por força da Portaria PRT/2ª. nº.17, de , que designou as nobres Procuradoras do Trabalho Doutoras Vivian Rodriguez Mattos, Cláudia Regina Lovato Franco, Alline Pedrosa Oishi e Célia Regina Camachi Stander, todas integrantes do Núcleo de Combate às Irregularidades na Administração Pública da Regional, para atuarem na Ação Civil Pública ajuizada em face da empresa São Paulo Turismo S/A, bem como nas demais ações e procedimentos conexos (fls.255). Mas dito expediente foi, de fato, originalmente distribuído à Dra. Maria Beatriz Brandt, em substituição à Dra. Viviann, que estava de licença em , retornando em , consoante atesta a certidão de fls.244. Desse modo, mantendo as razões postas no voto condutor daquele julgamento originário, no sentido da observância do princípio do promotor natural, porém, reconhecendo a ocorrência de erro material em relação ao Membro originariamente sorteado para a presidir o feito, a solução seria ratificar os termos da decisão hostilizada para declarar a Doutora Vivian Rodriguez Mattos competente para continuar na investigação até seu termo final. 7

8 Ocorre, entretanto, que fatos supervenientes à decisão proferida por este Colegiado no julgamento do Conflito Negativo de Atribuições alteraram substancialmente o quadro anteriormente considerado. É que a Dra.Viviann, mediante despacho exarado nos autos da ACP nº /2008 (com cópia juntada às fls.283 dos presentes autos), por fatores supervenientes, se deu por suspeita, por motivo de foro íntimo, para prosseguir na condução dos processos envolvendo a SÃO PAULO TURISMO S/A, havendo a imediata redistribuição daquela ação, assim como do feito que tramitava em conjunto, consoante determinação da Chefia da Regional (fls.284). A este Colegiado importa o ocorrido nestes autos; porém, a declaração de suspeição do Órgão originário, naquele feito, abarca, por óbvio, o procedimento aqui examinado. Assim sendo, em face da suspeição da Dra. Viviann, aqui reconhecida, e apesar de revogada a Portaria PRT/2ª. nº.17/2006, a opção seria designar qualquer dos Membros ali nominados, integrantes do Núcleo regional da CONAP, para presidir o PP nº.14401/2006, objeto do conflito negativo, porque conhecem melhor a situação nele retratada, bem como os fundamentos de fato e de direito que ensejaram dita investigação. Todavia, nos termos do Ofício PRT/2ª./CODIN nº. 17/2008, com cópia acostada às fls.252/254 dos autos, as Doutoras Célia e Alline, além de terem requerido a revogação da citada Portaria, também firmaram suspeição... por motivo de foro íntimo para continuar na condução das ações e procedimentos envolvendo a São Paulo Turismo S/A, declaração genérica que, sem dúvida, abrange o procedimento sub examen. Não compete a esta Câmara questionar as razões de foro íntimo que motivaram as sucessivas declarações de suspeição em relação aos expedientes em que figura como investigada a aludida empresa pública. 8

9 Entretanto, tendo em vista as mudanças processadas no quadro fático após a decisão proferida por esta CCR no presente conflito negativo de atribuições, penso que o caminho para a continuidade das investigações é a manutenção da condução do feito com o Membro remanescente da Portaria PRT/2ª. nº.17/2006, desde que permaneça no Núcleo de Combate às Irregularidades na Administração Pública da Regional e não tenha declarado também sua suspeição, ou, caso contrário, que se proceda à livre redistribuição dirigida ao referido Núcleo regional da CONAP, por conexão, observadas as compensações e regras próprias. III CONCLUSÃO Ex positis, proponho a esta Câmara admitir o pedido de reconsideração e, revendo decisão anterior, em virtude de fatos supervenientes que alteraram o quadro anteriormente julgado, declarar ser competente para prosseguir na investigação o Membro remanescente da Portaria PRT/2ª. nº.17/2006, desde que permaneça no Núcleo de Combate às Irregularidades na Administração Pública da Regional e não tenha declarado também sua suspeição, ou, caso contrário, que se proceda à livre redistribuição dirigida ao citado Núcleo regional da CONAP, por conexão, observadas as compensações e regras próprias. É como voto. Brasília, 12/novembro/2008. GUILHERME MASTRICHI BASSO RELATOR 9