A QUEBRA DA PETROBRAS

Transcrição

1 A QUEBRA DA PETROBRAS No final de 2014, eu fiz um estudo em cima do mercado financeiro brasileiro e nesse estudo eu analisei com propriedade a alta do dólar e a queda do Ibovespa para as mínimas da crise de Dentre todas as empresas que analisei a que me chamou mais atenção, foi a Petrobrás. Eu enxerguei a iminente queda dos preços das ações da empresa e fiz uma projeção sobre até onde poderiam cair essas ações e resolvi publicar num blog pessoal, onde anotava e passava informações de mercado. Eu publiquei essa matéria em 4 partes, entre os dias 16 e 26 de março de Ao contrário do que você possa imaginar, eu não divulguei esse blog. Somente compartilhei essas informações com alguns amigos do mercado financeiro. Naquela época eu já havia usado o título A Quebra da Petrobras, mas eu não acreditava que isso fosse possível pois, logo no início dessa publicação, eu coloquei a seguinte passagem: Esse capítulo é destinado a uma das maiores empresas brasileira e tenta mostrar até onde deve durar a queda das ações da Petrobras. É obvio que a Petrobras não quebrará! A quebra dessa empresa seria uma tragédia para o mercado nacional como um todo! O principal acionista que é o governo federal, se for necessário, fará aportes de dinheiro publico, até porque o governo não tem interesse que a empresa de lucro, pois se tivesse, não interferia no reajuste dos preços de combustível. Na verdade, se tivesse investido mais a fundo no que eu mesmo estava analisando e usado a lógica, ao invés da emoção, teria visto a verdade que consigo enxergar hoje. Essa verdade só acendeu para mim no dia 13/02/16, o dia em que resolvi assistir, no cinema, o filme A Grande Aposta. O filme conta a história de investidores que apostaram contra o mercado imobiliário americano, que era visto como um produto sólido e avaliado como AAA pelas agências de classificação de risco. Em certo momento da história, os

2 investidores que apostaram contra o sistema, começaram a perder dinheiro e passaram a duvidar se de fato estavam certos. E foi nessa hora que eu tive uma epifania: Um dos personagens comenta: Você vê os números, você sabe que está certo mas, lá no fundo, você ainda quer acreditar no sistema. A minha intenção com essa análise, ao contrário do filme, não é somente ter lucro. Mas sim alertar outros investidores que possuem ações dessa empresa e que eles tenham o direito de decidir se vale a pena ainda, acreditar no sistema. A Petrobrás talvez seja a ação mais custodiada entre as pessoas físicas do Brasil e a grande maioria delas já está perdendo bastante dinheiro com a queda recente. Esse não é um relatório político. Eu apenas invisto em empresas! Eu não invisto em quem gerencia e muito menos me dou o direito, como investidor, de colocar algum conceito particular meu sobre as escolhas do meu investimento. Pois esse tipo de conflito entre o cidadão e o investidor só leva a perder dinheiro. Eu também imagino o quanto essa análise possa ser chata para quem trabalha direta ou indiretamente para a Petrobrás. Eu tenho bons amigos trabalhando na empresa, mas como disse antes, eu só posso relatar com a lógica em detrimento de qualquer emoção. Você está se perguntando, quem sou eu Eu sou um investidor ou, melhor, um trader do mercado há 9 anos. Vivo exclusivamente do mercado há 5 anos. Trabalhei como assessor de investimentos numa grande corretora do mercado por 4 anos e fui um dos que apostaram contra as empresas X. Dentre as empresas X, eu investi e acreditei na quebra da OGX desde muito antes, mas fui desencorajado a acreditar várias vezes. Entretanto, consegui surfar a tendência de baixa desde os R$ 9,00 e hoje ela vale R$ 0,05. Eu escrevi um livro sobre a quebra da OGX para investidores enxergarem o que eu vi e o lançarei em breve.

3 Alertei para alta do dólar, quando ele ainda valia R$ 2,80, disse que o dólar estaria em R$ 5,00, até o ano de No blog pessoal, eu escrevi sobre a queda das ações das empresas de siderurgias, com destaque para CSN, além da Oi, empresa de telecomunicação. Há um ano, eu mantenho um canal do Youtube, chamado Trade for Life. Em novembro, coloquei um vídeo com o nome: Porque você não deve comprar Petrobrás! ( veja o vídeo aqui ) Esse vídeo, já chamava a atenção para iminente queda das ações, para o preço de R$ 2,50. A análise Procurei escrever essa análise de forma acessível para todos os interessados. Tentarei não usar termos difíceis e nem postar análises contábeis como um balanço ou auditoria, pois não é essa a minha intenção ao escrever essa análise. Você não verá aqui um culto ao medo, ou mesmo uma previsão apocalíptica sobre as consequências da quebra da Petrobrás, que hoje corresponde a 10% da economia nacional. Vou me ater somente aos dados e previsões sobre a empresa. Com os fatos revelados sobre a operação Lava Jato, ainda em 2014, vimos que a Petrobras, é uma empresa com péssima governança corporativa e os números divulgados assustam e afastam novos investimentos. Ainda mais grave, foi o atraso de divulgação dos resultados do terceiro trimestre de Além disso, o que foi divulgado, possivelmente não sofreu auditoria externa, o que tira a credibilidade de uma empresa já muito abalada por más noticias. Com a acentuada queda da cotação do barril de petróleo desde meados de 2014, a pergunta que fica é: Os patamares de preço do óleo se manterão nesses níveis atuais (que em fevereiro de 2016 está a US$ 30 o barril)? Ou se recuperarão? Além disso, precisamos entender o quanto o preço nesses níveis pode prejudicar a empresa e para isso precisamos entender qual o custo da produção do barril e, principalmente, do barril que vem dos poços do pré- sal que tem um custo maior.

4 Até onde vai a queda do barril de petróleo? Vamos fazer um retrospecto do preço do barril de petróleo, que buscou o fundo de 2008 em U$ 36, esse ponto onde o mercado deve definir se continua em queda ou não. Como podemos ver, o Brent já está sendo negociando abaixo desse patamar.se a queda se estender a uma nova parada em U$ 23, que é um fundo feito em 2003, que é até onde tenho dados para analise. Não entendi seu objetivo com esse parágrafo Para ter mais histórico, eu recorri ao histórico do contrato futuro do petróleo, negociado em Nova York, onde podemos ver a cotação de preço desde 1983, aonde o barril era negociado a U$ 10, conforme gráfico abaixo. Esse patamar é o suporte final e objetivo primário dessa tendência de queda, ou seja, uma previsão de queda de 65% sobre o preço negociado em Fevereiro de Não há no mercado, um consenso sobre o custo do barril produzido pela Petrobras. De acordo com certos analistas, o preço gira entre U$ 45 e U$60, sendo esse último o custo mais caro que é procedente da camada pré-sal.

5 Esses dados podem ser ainda piores porque foi feito há um ano, e não levam em consideração a forte alta do dólar do ano passado. O que resta saber é quanto tempo a empresa aguenta operar com o preço do barril a níveis tão baixos. Principalmente com o tamanho de sua dívida, que ainda por cima, é atrelada ao dólar, e com contratos de empréstimos que estão para vencer no curto prazo. A empresa vai ser obrigada a contrair ainda mais empréstimos, elevando a sua já elevada dívida. Porque o preço do petróleo está em queda? A oferta é maior que a demanda. A produção mundial cresceu. Países como a Líbia e o Iraque, que viveram tempos de guerra, já produzem próximo ao que produziam antes, sem contar o aumento da produção mundial, aí incluída a Petrobras que, em dezembro de 2014, registrou recorde de produção de 700 mil barris ao dia, operados no pré sal. Além disso, a demanda diminuiu devido ao baixo crescimento mundial. As implicações do cenário atual nos números da empresa Dentro dessas informações podemos prever que os próximos anos não serão fáceis para a empresa que investiu para produzir mais, mas não terá retorno no curto prazo e isso pode ter implicações no pagamento das dívidas. Há outro fator na discussão: 80% da dívida da Petrobras esta atrelada ao dólar. A alta da moeda americana em 2015 elevou a dívida da Petrobras em R$ 80 bilhões, se levarmos em consideração os últimos balanços disponíveis.

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7 As consequências da baixa do petróleo no mercado financeiro internacional O risco esta nos contratos de derivativos do petróleo no mercado americano. Muitas empresas de exploração de petróleo no mundo já venderam contratos futuros que venceriam ao longo de 2015, até inicio de Há grandes fundos e players do mercado que torcem pela recuperação do preço do óleo, quando muito desses contratos vencerão. Estima-se que os bancos de Wall Street possuem 3,9 trilhões de dólares em contratos de commodities e, grande parte, baseada no petróleo; feitos imaginando que o preço ficaria acima de U$ 80 o barril. Isso significa que, se o preço não voltar a esses patamares, várias dessas instituições terão um enorme prejuízo. Prejuízo tão grande que alguns o comparam com a crise dos subprime. Se isso se confirmar, entraremos em nova crise de proporções mundiais o que poderá também ajudar na queda da nossa bolsa e possivelmente na grande alta do dólar. A Petrobrás

8 A empresa, criada em 1953, tem um patrimônio líquido de 355 bilhões de reais. Esse número dobrou de valor em apenas 5 anos pois, em 2009, o patrimônio era de R$166 bilhões. Isso mostra como a empresa investiu e cresceu com a descoberta do pré sal em Como consequência disso, a dívida bruta no mesmo período saltou mais de 3 vezes: de 102 bilhões de reais para 308 bilhões, sem contar o prejuízo decorrente da operação lava-jato, que deve aumentar esse número. Conforme avaliamos antes, essa dívida pode ser ainda maior se o dólar continuar a tendência de alta, pois grande parte dessa dívida está em dólar. Com o pré sal, a receita líquida cresceu nesse período mais de 50%, superando os 300 bilhões em 2013, mas a margem líquida foi de apenas 7,5% no mesmo ano. Essa margem, somada à tendência de queda na cotação do barril do petróleo, nos mostra que a empresa passará por um momento bastante delicado, sem contar que podemos avaliar que o lucro, não será suficiente para pagar os juros da dívida e isso teria que ser analisado caso a caso. Com uma dívida alta, não é saudável para a empresa acumular mais financiamentos, que terão seus custos aumentados. Se esse sinal for enviado ao mercado, vai assustar ainda mais os investidores, pois a capacidade de gerenciamento dela será posta à prova, principalmente em um cenário de cotações baixas de petróleo. Para piorar, as custas de refinanciamento ficam mais duras devido ao alto grau de endividamento. A nova diretoria da empresa planeja fazer desinvestimentos em torno de U$ 15 bilhões, para tentar equacionar as dívidas da empresa, vendendo ativos. Mas, a baixa cotação do petróleo afasta investidores, que sabem que podem negociar preços melhores se a empresa estiver mais sufocada em dívidas. Reflexo disso é a queda acentuada das ações da empresa. Os grandes fundos e empresas do mercado já apostam na quebra da Petrobras, que deverá existir no futuro como uma simples fração da empresa que já foi: a décima segunda maior do mundo!

9 A condição da empresa piora, em vista da enfraquecida qualidade do crédito soberano e de perspectivas macroeconômicas mais fracas, que inviabilizam uma ajuda do governo brasileiro. Fora isso, a empresa amarga forte influência das investigações da Lava Jato e do histórico de corrupção recente. Classificação de risco No final de 2015, a S&P, rebaixou o rating da Petrobras, trazendo as ações da empresa para um grau especulativo e com perspectiva negativa. Foi a primeira das três agências a tirar o grau de investimento e deve ser seguida pelas demais. As agências de risco estão justificando a perda do grau de investimento principalmente pelas condições do crédito soberano e pela alta dívida da empresa que é, de fato, uma bomba relógio, caso a cotação do barril chegue a U$ 10 e o dólar, chegue a R$ 5,00. A empresa passa a ter um caminho certo para entrar na categoria de alto risco de inadimplência que afastaria de uma vez por todas investidores da empresa e por consequência o financiamento ficará impraticável, devido ao alto risco de calote. Esse cenário traria, com apetite, especuladores e empresas interessadas nas barganhas dos ativos da empresa que a Petrobrás, sufocada, teria que vender com preço muito abaixo do valor pretendido. O cenário político pode dar uma sobrevida a este gigante endividado, pois se houver impeachment, um governo novo tentará passar credibilidade e segurança para possíveis investidores, principalmente se o preço do barril passar a reagir. Mas o cenário econômico em 2016, passa agora no seu início por uma correção dos principais mercados mundiais, afastando investidores do risco e principalmente de países como o Brasil, que tem grau especulativo.

10 Análise Técnica Analisando o gráfico mensal da PETR4, enxergamos uma tendência de baixa que vem desde 2009 que foi o ponto de partida, conforme escrevemos nos posts anteriores, para o aumento da dívida da empresa.

11 Essa tendência vinha sendo feita, com topos e fundos descendentes e foi quebrada no ano de 2014, com a especulação eleitoral. A forte alta do primeiro semestre de 2014 se assemelha a uma pessoa que busca fôlego antes de mergulhar, e esse mergulho, foi proporcional ao fôlego que ela tomou, ou seja, ela devolveu a alta da mesma forma que subiu. Nesse mergulho, ela acabou deixando para trás um importante suporte em torno de R$ 12,90. Esse suporte vinha sendo um ponto de forte virada de tendência desde 2006, e foi o fundo da crise de 2008, confirmando a tendência primária de baixa, que trouxe o preço da ação direto para os patamares em que se encontram hoje, fevereiro de 2016 por volta de R$ 4,40. No estudo que eu havia feito ainda em 2014, havia um suporte importante em R$ 2,50, no gráfico abaixo, que eu acreditava na época ser o fundo dessa tendência. Mas o gráfico de lá para cá, sofreu ajustes de preço e esse suporte no gráfico mais recente está na região de R$ 3,60.

12 Podemos ver que no movimento passado do ativo, essa região serviu de ponto de acumulação para a forte alta que se sucedeu em seguida. Se repetir essa mesma simetria, podemos ter entre R$ 3,60 e R$ 5,00, um ponto em que a ação ficará distribuindo por um tempo até buscar o verdadeiro fundo dessa tendência de baixa que é R$ 0,76.

13 Para a ação chegar nesse nível de preço, muita coisa do que esta previsto nesta análise já estará acontecendo e será um ponto sem retorno. Acredito fortemente que o maior exemplo para o que se tornará PETR4 são as ações da Telebrás (TELB4). Essa ação no passado, mais precisamente em 1996, chegou a ser o segundo maior grupo empresarial em patrimônio na bolsa, só atrás da Eletrobrás. Era também a terceira em receita atrás da própria Petrobras e do Banco Itaú. Caso você pense ser absurda essa comparação, a Telebrás no ano de 1997, bateu um dos recordes históricos de negociação de ADRs brasileiras na Bolsa de Nova York, alcançando U$ 620 milhões. Em novembro daquele ano, chegou a ser o ativo mais negociado em Wall Street. A Telebrás foi desmembrada em 12 empresas, que foram privatizadas, restando hoje na bolsa uma empresa que representa apenas uma fração do que ela já representou.

14 A Petrobrás poderá ter um destino parecido, já que terá que se desfazer de muitos ativos por causa da alta dívida. Relatório: Leonardo Nunes Trader (investidor), blogueiro e autor do canal Trade for Life com Leonardo Nunes Se quiser conhecer mais sobre Leonardo Nunes, acesse o blog Trade for Life Assista também o canal do Youtube: Canal Trade for Life Referências e fontes de pesquisa: Sites: Livros: História do Mercado de Capitais no Brasil Por Azevedo,Simone/Barcellos, Marta