I - RESUMO DOS FATOS. A decisão de inabilitação foi proferida da seguinte forma:

Transcrição

1 ILUSTRÍSSIMA SENHORA PREGOEIRA DA CENTRAIS ELÉTRICAS DE RONDÔNIA S.A. - CERON PREGÃO ELETRÔNICO nº 002/2014 ORGANIZAÇÃO LEVÍN DO BRASIL LTDA., pessoa jurídica de direito privado, com sua sede estabelecida na Capital do Estado de São Paulo, na Av. Engenheiro Luiz Carlos Berrini, n.º º andar (CEP: ), inscrita no CNPJ/MF sob o n.º / , por seu representante legal no termo assinado, já qualificado nos autos do respectivo processo administrativo, doravante denominada Recorrente, vem, à elevada presença de Vossa Senhoria, interpor RECURSO ADMINISTRATIVO, contra decisão do Ilustre Presidente da Comissão Permanente de Licitação de inabilitar a Recorrente no certame em destaque, o que passa a fazer com base nas razões contidas a seguir, nos termos do artigo 56 do Decreto nº 5.450/05, e item 14.1 do Edital, por intermédio dessa Douta Comissão, permissa vênia: 1

2 I - RESUMO DOS FATOS A Organização Levín do Brasil ( Recorrente ) participou do certame em destaque, tendo sido julgada inabilitada por, no entendimento da r. Pregoeira, não atender ao item 2.1 do Anexo II do Edital, que relaciona a Certidão de Regularidade relativa ao INSS como documento necessário à habilitação jurídica dos licitantes. A decisão de inabilitação foi proferida da seguinte forma: Data/Hora : 25/02/ :03:11 Fornecedor : ORGANIZACAO LEVIN DO BRASIL LTDA. Observação : Conforme consulta feita no SICAF e no site da Receita Federal foi verificado que a Certidão de Regularidade relativa ao INSS, exigência do subitem 2.7 do Anexo II do Edital, está vencida. Ocorre que a Recorrente não apenas apresentou a certidão, como apresentou uma certidão em pleno prazo de validade (válida até 8 de março de 2014), - a qual está anexada ao presente Recurso -, como restará comprovado, não podendo, portanto, prosperar a decisão de inabilitação da Recorrente, sob o risco de macular todo o processo licitatório. A Recorrente, ao apresentar a certidão mencionada, cumpre estritamente os termos legais e editalícios, não havendo razoabilidade para mantê-la inabilitada. Deve-se, preliminarmente, separar os fatos tais como ocorreram, para que a análise do caso seja coerente e a Recorrente não seja injustamente prejudicada, senão vejamos: 2

3 a) A Recorrente apresentou certidão válida, a qual compõe desde então o presente processo administrativo, com validade até 8 de março de 2014; b) A Pregoeira, ao consultar o SICAF, não pôde verificar tal certidão relacionada no sistema do SICAF; e c) A Pregoeira, ao buscar a confirmação da autenticidade de tal certidão no sítio eletrônico da Receita Federal do Brasil, verificou que a certidão também não estava relacionada no sistema daquele órgão. Equivoca-se, portanto, a r. Pregoeira ao afirmar que a certidão apresentada está vencida, posto que não estava vencida à época da apresentação dos envelopes. Tampouco deve-se argumentar que o SICAF estava desatualizado, uma vez que não era obrigatória a inscrição no SICAF para participação no certame. Portanto, entendemos que a questão ora discutida reside no fato da certidão não estar relacionada no sistema da Receita Federal do Brasil, quando da busca por sua autenticidade. Para tanto, deve ser considerado que a Recorrente teve a diligência e responsabilidade de providenciar todos os documentos de habilitação exigidos, incluindo a certidão em questão, não podendo ser penalizada pela indisponibilidade de sistema da Receita Federal do Brasil, ou qualquer outra razão que tenha levado aquele órgão a não atualizar sua base de dados. Ao afirmar que a Recorrente apresentou certidão inválida, tacitamente esta r. Comissão de Licitação acena que considera falso o documento apresentado, já que a data de validade e o teor do documento estão em consonância com tudo o que exige o Edital. Ora, seria um absurdo entender dessa maneira. 3

4 Fato é que a Recorrente apresentou documento válido, e qualquer eventual dúvida sobre a validade do documento em questão deveria ter sido dirimida através de diligências da Pregoeira e respectiva Comissão. Concluir sobre a irregularidade de um documento válido configura discricionariedade excessiva da Sra. Pregoeira, uma vez que ela dispõe de ferramentas para averiguar a veracidade do documento apresentado. Por fim, esclareça-se que a Recorrente, além de tudo, classificou-se em primeiro lugar, o que significa que ofereceu a melhor proposta para a CERON. Como fica evidenciado nas argumentações acima, a Recorrente não pode ser considerada inabilitada por tal motivo, pois tal decisão feriria os princípios da legalidade, razoabilidade e eficiência do processo administrativo. Saliente-se, ainda, o fato de que a inabilitação da Recorrente prejudicaria a busca pela proposta mais vantajosa e indicaria que a Comissão não ateve-se ao Edital, descumprindo o princípio da vinculação ao instrumento convocatório. II DO DIREITO Como já esclarecido, tendo a Recorrente apresentado um documento válido e, portanto, probatório da correspondente exigência editalícia, caberia à Sra. Pregoeira e respectiva comissão promoverem diligência a fim de esclarecer eventual dúvida sobre o documento. Assim determina a Lei nº 8.666, em seu artigo 43, parágrafo terceiro: 3º É facultada à Comissão ou autoridade superior, em qualquer fase da licitação, a promoção de diligência destinada a esclarecer ou a complementar a instrução do processo, vedada a inclusão posterior de documento ou informação que deveria constar originariamente da proposta. 4

5 (destacamos) O próprio Edital prevê a promoção de diligências: É facultado ao Pregoeiro ou à autoridade a ele superior, em qualquer fase da licitação, promover diligências com vistas a esclarecer ou a complementar a instrução do processo; Não é defeso à Pregoeira fazer juízo de valor sobre um documento de conteúdo objetivo, e nem imputar à Recorrente a culpa por uma inconsistência do órgão emissor do documento, no caso, a Receita Federal do Brasil. Nesse sentido, temos o ensinamento de Marçal Justen Filho 1 :...não é possível decidir a questão (seja para desclassificar o licitante, seja para reputar superada a questão), mediante uma escolha de mera vontade. (...)...deve-se interpretar a Lei e o Edital como veiculando exigências instrumentais. A apresentação de documentos, o preenchimento de formulários, a elaboração das propostas não se constituem em condutas ritualísticas. Não se trata de verificar a habilidade dos envolvidos em conduzir-se do modo mais conforme ao texto da lei. Todas as exigências são o meio de verificar se o licitante cumpre os requisitos de idoneidade e se sua proposta é satisfatória e vantajosa. 1 JUSTEN FILHO. Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Dialética, 2008, 12ª ed., p. 77;556. 5

6 Portanto, deve-se aceitar a conduta do sujeito que evidencie o preenchimento das exigências legais, ainda quando não seja adotada a estrita regulação imposta originariamente na Lei ou no Edital.. (destacamos) Uma vez não tendo observado as ferramentas que a própria legislação e o Edital oferecem, a Pregoeira e respectiva Comissão deixam também de observar os princípios que norteiam o processo licitatório, fato esse que macula todo o processo, passando a discricionariedade conferida pela lei a ser arbitrariedade. Como ensina o Mestre Hely Lopes Meirelles, os princípios, mormente os inerentes à atividade administrativa constituem, por assim dizer, os fundamentos da ação administrativa, ou, por outras palavras, os sustentáculos da atividade pública, concluindo que relegá-los é desvirtuar a gestão dos negócios públicos e olvidar o que há de mais elementar para a boa guarda e zelo dos interesses sociais. Vale ainda destacar os importantes dispositivos colacionados abaixo, em perfeita consonância com tudo o quanto aqui submetido à elevada apreciação dessa Comissão, vênia: Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos.. (destacamos) 6

7 Sobre o princípio da razoabilidade, buscamos a importante lição de Celso Antônio Bandeira de Mello 2 : Enuncia-se com este princípio que a Administração, ao atuar no exercício de discrição, terá de obedecer a critérios aceitáveis do ponto de vista racional, em sintonia com o senso normal de pessoas equilibradas e respeitosa das finalidades que presidiram a outorga da competência exercida. Vale dizer: pretende-se colocar em claro que não serão apenas inconvenientes, mas também ilegítimas - e, portanto, jurisdicionalmente invalidáveis -, as condutas desarrazoadas e bizarras, incoerentes ou praticadas com desconsideração às situações e circunstâncias que seriam atendidas por quem tivesse atributos normais de prudência, sensatez e disposição de acatamento às finalidades da lei atributiva da discrição manejada. Com efeito, o fato de a lei conferir ao administrador certa liberdade (margem de discrição) significa que lhe deferiu o encargo de adotar, ante a diversidade de situações a serem enfrentadas, a providência mais adequada a cada qual delas.. Em razão de todo o aqui exposto, as alegações da Recorrente merecem prosperar, devendo ser reconsiderada a decisão de sua inabilitação. III - CONCLUSÃO Assim, considerando que segundo os da razoabilidade e eficiência, bem como a explanação de nossa melhor doutrina e das argumentações trazidas pela Recorrente sobre a legalidade do documento apresentado, não há que se falar em descumprimento dos requisitos de habilitação, devendo ser reformada a decisão de inabilitação da Recorrente, com a consequente admissão de todas as alegações da Recorrente em seu Recurso Administrativo. IV - DO PEDIDO 2 2 BANDEIRA DE MELLO. Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. Malheiros, 2002, 14ª ed., p

8 Por todo o exposto, a Organização Levín do Brasil Ltda. requer seja PROVIDO o presente Recurso Administrativo interposto, reconsiderando-se a decisão de sua inabilitação e declarando-a habilitada, prosseguindo-se com a abertura das propostas. Nos presentes termos, sempre contando com os superiores critérios dessa Douta Comissão, e com a minuciosa análise de tudo o quanto aqui submetido à elevada apreciação, pede deferimento e aguarda pronunciamento. É o que se tem, até então, a consignar. São Paulo, 10 de março de ORGANIZAÇÃO LEVÍN DO BRASIL LTDA. MAURÍCIO VALENTIM GUGLIANO DIRETOR CPF/MF Nº