Superior Tribunal de Justiça

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1 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº SC (2008/ ) RELATOR AGRAVANTE ADVOGADO AGRAVADO REPR. POR ADVOGADO INTERES. : MINISTRO SIDNEI BENETI : ASSEC - ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL E CARITATIVA HOSPITAL SÃO PAULO : ARCIDES DE DAVID E OUTRO(S) : L H K (MENOR) : C J K E OUTRO : ADAIR PAULO BORTOLINI E OUTRO(S) : ROGÉRIO ANTÔNIO GAIO DECISÃO 1.- O Acórdão ora recorrido (fls. 21/55) da 1ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, nos autos de ação indenizatória por danos morais, materiais e estéticos decorrentes de erro médico, por unanimidade, deu provimento à apelação interposta por L.H.K., restando assim ementado (Relª. Desª. MARIA DO ROCIO LUZ SANTA RITTA fls. 21/22): ERRO MÉDICO. OXIGENOTERAPIA. FIBROPLASIA RETROLENTICULAR - RETINOPATIA DO NASCITURO. 1. Em face do Direito Civil e da Legislação Consumerista, a responsabilidade dos médicos, via de regra subjetiva, enquanto profissionais liberais (art. 14, 4º, CDC), oscila, não obstante, conforme a obrigação se afigure de meio ou de resultado. Na primeira hipótese, o profissional se compromete a empregar, na execução do serviço, as técnicas, cautelas e temperamentos de estilo, realizando a obrigação de forma a envidar o máximo de esforços para a obtenção do resultado, sem comprometer-se, todavia, a atingi-lo. A ilicitude pressupõe o desmazelo e a atuação culposa. Na segunda hipótese, em obrigações de resultado, o médico assume a tarefa de alcançar um efeito prático certo e determinado, à míngua do qual haverá inadimplemento e responsabilidade civil, independentemente de efetiva falta no dever de cuidado. Nesse caso, reservado a situações excepcionais, a responsabilidade se aproxima da objetiva. 2. Paralelamente ao regime de erro médico, também os hospitais e clínicas se sujeitam à responsabilidade perante terceiros que, comparecendo aos nosocômios, são atendidos em suas instalações por profissionais da medicina a eles ligados na prestação do serviço, por convênio, integração ao corpo clínico Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 10/12/2008 Página 1 de 7

2 ou vínculo lato de preposição, não havendo necessidade de relação formal de emprego entre médico-atendente e hospital-instituição, tampouco sendo impositiva a existência de fim lucrativo, distributivo de lucros, por parte da casa hospitalar. Na verdade, prestando os hospitais e clínicas privadas verdadeiro serviço mediante remuneração (art. 3º, 2º, CDC), em estabelecimentos que constituem elemento de empresa (art. 966, parágrafo único, CC/02), há implicações no regime de imputação: a) havendo atribuição de erro exclusivo ao profissional da medicina, em violação a obrigação de meio, a responsabilidade civil depende da prova de culpa do médico - profissional liberal -, presumindo-se a do nosocômio, na vigência do Código de 1916, e firmando-se-lhe objetivamente a responsabilidade, no Código Civil de 2002 (art. 933); b) existindo, porém, imputação de falha aos serviços hospitalares alheios ao conhecimento médico (estadia, aparelhos etc), ou na execução de ordens passadas por estes (serviços de enfermagem etc.), a responsabilidade da casa hospitalar é objetiva (art. 14, CDC), porque há a prestação de serviço por parte de estabelecimento não mais sujeito às regras dos profissionais liberais; c) configurada, por fim, alegação de erro médico e falha nos serviços hospitalares, a responsabilidade se subdivide conforme as causas de pedir, isto é, se revela subjetiva por aquela causa petendi e objetiva por força desta. 3. Hipótese em que a apuração da responsabilidade do profissional da medicina, por infração a obrigação de meio, se impõe aferida de acordo com os pressupostos da responsabilidade subjetiva, e em que o nosocômio é parte legítima para responder, em caráter solidário, subjetivamente em função dos atos do médico que nele atua no atendimento direto dos pacientes que a ele comparecem, e objetivamente pela falha nos serviços auxiliares por ele disponibilizados. 4. A bibliografia médica especializada é assente em alertar sobre os riscos que a técnica da oxigenoterapia infunde à integridade visual de recém-nascidos, ressaltando que o nível de oxigênio a ser ministrado deve sê-lo na menor quantidade e pelo menor tempo possíveis, exigidos constante monitoramento de equipe técnica e eficaz acompanhamento médico. Caso em que, na análise dinâmica do plexo probatório, se configuram o desmazelo do profissional da medicina e falha da equipe hospitalar, uma vez que bebê nascido após 7,5 (sete meses e meio) de gestação, pesando 2,350 kg, regularmente desenvolvido e apresentando cianose em baixa proporção, foi submetido a prolongado e excessivo tratamento com O2, sem Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 10/12/2008 Página 2 de 7

3 que no período houvesse monitoramento idôneo quanto aos níveis necessários e supervisão constante por profissionais habilitados, não sendo os genitores da criança, de resto, alertados sobre os riscos da técnica e a obrigatoriedade da ulterior consulta a médico oftalmologista. Circunstâncias que, de acordo com a etiologia própria listada na literatura médica, deram causa inequívoca à doença da fibroplasia retrolenticular - retinopatia do nascituro -, a comprometer mais de 90% da visão da criança, eclodindo, por culpa médica e falha em serviços auxiliares, o dever de indenizar. 5. Condenação do médico e da casa hospitalar, em caráter solidário: a) ao pagamento de danos emergentes com a posterior tentativa de tratamento da doença; b) ao pagamento de pensão mensal em função da redução da capacidade laborativa, tendo como termo inicial o cômputo dos 14 (quatorze) anos de idade (art. 7º, XXXIII, CF) e como termo final o óbito do beneficiário, incluídos 13º (décimo terceiro) salário e 1/3 (um terço) de férias; c) à constituição de capital que assegure o cabal cumprimento da obrigação (Súmula n. 313, STJ, e art. 475-Q, CPC); d) ao pagamento de indenização por danos morais e estéticos e, finalmente, e) ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios fixados em 15% sobre o valor da condenação, neste compreendidas as prestações a serem pagas de uma só vez e a soma de uma anuidade (12 - doze) das prestações mensais vincendas. 6. Recurso, nestes termos, provido. 2.- Nas razões do recurso especial, fundado na alínea a do permissivo constitucional, alega-se a existência de julgamento ultra petita quanto à duração da pensão mensal, bem como a irresponsabilidade do Hospital, ora Agravante, por falta de nexo causal e de ato ilícito praticado pelo médico que cuidou do Agravado, além de exorbitância do valor indenizatório, apontando violação dos artigos 2º, 128, 333, I, 332, 2º, 436 e 460 do Código de Processo Civil, 159 do Código Civil de 1916, 944 do Código Civil de 2002, 14 do Código de Defesa do Consumidor. É o relatório. 3.- Em que pese ao alegado, o agravo não merece provimento. 4.- De início, observa-se também que o conteúdo normativo dos Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 10/12/2008 Página 3 de 7

4 artigos 2º, 128 e 460 do Código de Processo Civil não foi objeto de análise pela decisão impugnada, apesar da oposição de embargos de declaração, não servindo de fundamento à conclusão adotada pelo Tribunal local, restando desatendido, portanto, o requisito do prequestionamento, nos termos do enunciado 211 da Súmula desta Corte. Ressalte-se que o recurso sequer apontou violação ao disposto no artigo 535 do Código de Processo Civil. Assim, torna-se inviável a alegação de julgamento ultra petita. 5.- A responsabilidade da ASSEC - Associação Educacional e Caritativa Hospital São Paulo, por sua vez, pôde ser aferida a partir de um acurado exame dos autos realizado pelo Tribunal de origem. Como destacado no Acórdão hostilizado, houve falha na prestação dos serviços hospitalares de acompanhamento do recém-nascido (fls. 25/33). Ademais, como bem fundamentado no Aresto, "o corpo clínico, ainda que com autonomia funcional, se subordina administrativamente aos regulamentos da entidade, relação de dependência a caracterizar, em acepção ampla, o vínculo da preposição, e porque - também como no caso - o Hospital recebia da Previdência Social por força dos atendimentos realizados pelo INSS, repassando parte da arrecadação aos médicos e permanecendo com o restante" (fls. 33). Com idêntica orientação, os seguintes precedentes deste Tribunal: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. ART. 535, I E II, DO CPC. INOCORRÊNCIA DOS ALEGADOS VÍCIOS. ART. 159 DO CC DE RESPONSABILIDADE DO HOSPITAL RECONHECIDA NA INSTÂNCIA A QUO. NOVA ANÁLISE DA CULPA. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REVOLVIMENTO DO CONTEÚDO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7 DO STJ. QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALOR QUE NÃO SE MOSTRA NEM IRRISÓRIO, NEM EXAGERADO. IMPOSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO PELO STJ. RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. Não há que se falar em violação do art. 535, I e II, do CPC, se não se verificam nenhum dos vícios de tal dispositivo (obscuridade, omissão ou contradição). Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 10/12/2008 Página 4 de 7

5 2. Tendo o Tribunal a quo apontado, de forma fundamentada, a responsabilidade por negligência, é descabida nova análise da culpa do hospital, em sede de recurso especial, por implicar na necessidade de revolvimento do conteúdo fático-probatório. Súmula 7 do STJ. 3. In casu, a indenização a título de danos morais não se mostra irrisória e nem exagerada, a evidenciar que não comporta reapreciação, nesta instância superior. 4. Recurso não conhecido. (REsp /MT, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, julgado em 22/05/2007, DJ 04/06/2007 p. 357); CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INDENIZAÇÃO. SEGURO SAÚDE. DEMORA NO FORNECIMENTO DE TRASLADO. MORTE DO MENOR. CULPA CONCORRENTE. MATÉRIA DE PROVA. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO NÃO COMPROVADO NOS MOLDES LEGAIS. I - Em âmbito de recurso especial não há campo para se revisar entendimento assentado em provas, conforme está sedimentado no enunciado 7 da Súmula desta Corte. II - Só se conhece do recurso especial pela alínea c, se o dissídio jurisprudencial estiver comprovado nos moldes exigidos pelos artigos 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil e 255, parágrafos 1º e 2º, do Regimento Interno desta Corte, com a descrição da similitude fática e os pontos divergentes das decisões. Recurso especial não conhecido. (REsp /SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/08/2006, DJ 23/10/2006 p. 296); CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. ERRO MÉDICO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA IDENTIFICADA. IMPERÍCIA MÉDICA NA ADMINISTRAÇÃO DE ANESTESIA. CULPA. PROVA. MATÉRIA DE FATO. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N. 7-STJ. INCIDÊNCIA. DANO MORAL DEVIDO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO PREVIAMENTE. EMBARGOS INFRINGENTES. SUCUMBÊNCIA FIXADA ANTE ALTERAÇÃO DO JULGAMENTO PROCEDIDO EM 2º GRAU. JULGAMENTO Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 10/12/2008 Página 5 de 7

6 EXTRA PETITA NÃO OCORRIDO. I. Identificada a ocorrência de erro médico na anestesia do paciente com base nos elementos fáticos dos autos, a condenação lastreou-se na responsabilidade subjetiva do hospital onde efetuado o tratamento e a revisão da matéria esbarra no óbice da Súmula n. 7 do STJ. II. O ilícito civil lastreado em culpa não afasta o cabimento do dano moral. III. Recurso especial interposto contra acórdão da apelação, sem ratificação após haver sido o tema alusivo à verba honorária decidido em sede de embargos infringentes. IV. Caso, ademais, em que não houve julgamento extra petita, pois a sentença de improcedência foi reformada em 2a instância e, daí, fixada a sucumbência pelo acórdão, ante o resultado do julgamento colegiado. V. Recurso especial não conhecido. (REsp /MG, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 30/05/2006, DJ 26/06/2006 p. 148). 6.- No tocante à alegada irresponsabilidade pelo dano sofrido pelo paciente, bem como com relação à inexistência de nexo causal entre a conduta do médicos e dos profissionais do Hospital e o ocorrido, torna-se inviável a pretensão por não se tratar de mera revaloração da prova. Verifica-se que tal pretensão recursal, na realidade, implica revolvimento do quadro fático-probatório, o que não se admite por força da Súmula 7 desta Corte: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial. Concluiu o Tribunal "como configurada a culpa, ainda que alguns dos argumentos recursais não sejam procedentes, como a ausência de oxímetro - faltante em todos os hospitais da região - e de proteção aos olhos da criança - irrelevante na espécie (perícia de fl. 356). O procedimento culposo, na verdade, deriva, resumidamente, da prescrição da oxigenoterapia em intensidade e período injustificados, da falta de monitoramento adequado, periódico e eficiente, por médicos e enfermeiras, e, ainda, da ausência de informação e recomendação de acompanhamento oftalmológico especializado" (fls. 44). Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 10/12/2008 Página 6 de 7

7 7.- Quanto ao valor da indenização, registre-se que não existem critérios fixos para a quantificação do dano moral, devendo o órgão julgador ater-se às peculiaridades de cada caso concreto. Importa observar, outrossim, que a reparação do dano deve ser estabelecida em montante que desestimule o ofensor a repetir a falta, sem constituir, de outro lado, enriquecimento sem causa, como, aliás, reiteradamente tem se pronunciado esta Corte. Anote-se, portanto, que a intervenção deste Tribunal limita-se aos casos em que o quantum é desproporcional (para mais ou para menos) diante do quadro delimitado em primeiro e segundo graus de jurisdição para cada feito. A propósito: REsp n /RS, Rel. o E. Min. CASTRO FILHO, DJ de ; REsp n /PB, Rel. o E. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ de , e REsp n /SE, Rel. o E. Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, DJ de Desse modo, não obstante os argumentos apresentados pelo agravante, não há motivo para a alteração pretendida em face da razoável quantia, fixada pelo Acórdão a quo, em R$ ,00 (setenta e seis mil) pelos danos morais e em R$ ,00 (trinta mil e quatrocentos reais) pelos danos estéticos. 8.- Pelo exposto, nega-se provimento ao Agravo de Instrumento. Intimem-se. Brasília (DF), 28 de novembro de Ministro SIDNEI BENETI Relator Documento: Despacho / Decisão - Site certificado - DJ: 10/12/2008 Página 7 de 7