Vistos, relatados e discutidos os autos deste Processo, etc...

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1 Processo nº Acórdão nº 001/2012 Recurso HIE/CRF-492/2010 RECORRENTE: GERÊNCIA EXEC. DE JULGAMENTO DE PROC. FISCAIS - GEJUP RECORRIDA: NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS REPARTIÇÃO: COLETORIA ESTADUAL DE BAYEUX AUTUANTES: RAMANA JODAFE NUNES FERNANDES/MARIA JOSÉ A. MELO RELATOR: CONS. JOÃO LINCOLN DNIZ BORGES RECURSO HIERÁRQUICO PROVIDO. AQUISIÇÃO POR PESSOA FÍSICA. MERCADORIAS EM QUANTIDADE QUE CARACTERIZA INTUITO COMERCIAL. REFOMADA A DECISÃO RECORRIDA. AUTO DE INFRAÇÃO PROCEDENTE. Quando se trata de produtos que, pela sua quantidade e em razão de sua própria natureza, são incompatíveis com o consumo direto e próprio da pessoa física, temos como certo a destinação comercial, inobstante a argüição, sem prova, de que ocorreu erro de faturamento da empresa emitente. No caso, a atividade médica da pessoa do adquirente não descaracteriza a deflagração do intuito comercial das mercadorias, não se constituindo em elemento de prova de que se destinariam ao uso e consumo de pessoa jurídica diversa. Vistos, relatados e discutidos os autos deste Processo, etc... A C O R D A M os membros deste Conselho de Recursos Fiscais, a unanimidade, e de acordo com o voto do relator, pelo recebimento do recurso hierárquico, por regular, e, quanto ao mérito, pelo seu PROVIMENTO, para que seja reformada a sentença singular que julgou IMPROCEDENTE para considerar PROCEDENTE o Auto de Infração Apreensão e Termo de Depósito nº 6063, lavrado em 19 de abril de 2010(fls. 03), contra NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS, CPF nº , fixando o crédito tributário em R$ 3.248,31, sendo R$ 1.624,16 de ICMS, por infringência ao art. 27, 1º, art. 36, art. 119, inciso I, art. 610, art. 659, inciso III c/ fulcro no art. 38, inciso IV, todos do RICMS/PB, aprovado pelo Dec. nº /97 e R$ 1.624,16 de multa por infração, nos termos do art. 82, inciso II, alínea e da Lei nº 6.379/96. P.R.I. Sala das Sessões do Conselho de Recursos Fiscais 06 janeiro 2012.

2 Continuação do Acórdão nº 001/ JOÃO LINCOLN DINIZ BORGES CONS. RELATOR R E L A T O R I O Trata-se de recurso obrigatório interposto pela GEJUP, nos moldes do art. 128 da Lei 6.379/96, visto que a decisão monocrática julgou IMPROCEDENTE o libelo fiscal, contrariando as exigências da Fazenda Estadual. De conformidade com o Auto de Infração e Apreensão e Termo de Depósito nº 6063, lavrado em 19/04/2010 (fls. 03), consta a seguinte denúncia: O autuado acima qualificado está sendo acusado de adquirir mercadorias em quantidade que revela o intuito comercial, para revendê-las dentro do território paraibano a destinatário incerto, onde a operação subseqüente será realizada sem o recolhimento do imposto devido. O autuado, pessoa física, comprou medicamentos em grande quantidade, o que demonstra o seu intuito comercial. Pelo fato, foi exigido ICMS no importe de R$ 1.624,16, com infração enquadrada no artigo 27. 1º c/c 36 e 119, I, c/c 120, I c/ fulcro 610 e 659, III c/c artigo 38, IV, todos do RICMS/PB, aprovado pelo Decreto nº /96, sendo proposta aplicação de multa por infração no valor de R$ 1.624,16, com fulcro no art.82, inciso II, alínea e, da Lei nº 6.379/96. Ocorrendo ciência da acusação ao contribuinte, mediante Aviso de Recebimento em 05/05/2010, o denunciado compareceu aos autos, informando que adquiriu através da empresa individual NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS, denominada de CLINICA DE OLHOS PARAIBANA, produtos oftálmicos para serem utilizados em sua clinica, porém, por erro, da empresa vendedora a nota fiscal emitida fez constar o CPF do proprietário ao invés do CNPJ da empresa. Por fim, alega que os produtos foram adquiridos para consumo próprio da clinica e não para comercialização com terceiros, visto que a mesma tem atividade principal voltada ao atendimento clinico e cirúrgico pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além de particulares que procuram consultas médicas, solicitando a improcedência da exigência fiscal. Constam às fls. 014/16, Certidão de regularidade de Médico, Diploma de conclusão do curso de Medicina do Sr. NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS, e CNPJ da empresa individual. Em fase de contestação, os autuantes discordam das alegações defensuais apresentadas, vindo a historiar os fatos ocorridos no dia da autuação, destacando que a nota fiscal evidenciou

3 Continuação do Acórdão nº 001/ uma grande quantidade de medicamentos adquiridos (600 caixas) destinadas à pessoa física e que não se reportavam à distribuição gratuita, pois não são amostras grátis de medicamentos, portanto comercializáveis. Informa que a declaração fornecida pelo Médico NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS de que as mercadorias se destinariam a clinica de sua propriedade e não a pessoa física não serve de prova material, já que a personalidade jurídica da empresa se distingue da personalidade jurídica da pessoa física, o que configura intuito comercial, requerendo, assim, a manutenção do feito fiscal. Seguindo a marcha processual, os autos foram conclusos à instância prima com a informação de não haver reincidência (fls. 11), sendo distribuído à julgadora fiscal Dra. Ivônia de Lourdes Lucena Melo, que após a análise quanto ao aspecto legal, julgou o libelo basilar, ementando sua decisão conforme explicitado abaixo. INTUITO COMERCIAL Não caracterização do ilícito fiscal. Constata-se que a aquisição das mercadorias em quantidade que revela o intuito comercial não pode prosperar dada sua aplicação em pacientes do autuado no exercício da medicina. Improcedência do feito. AUTO DE INFRAÇÃO IMPROCEDENTE O acusado foi notificado da decisão singular através do Ofício nº 050/2010. A fiscalização instada a se pronunciar acerca do recurso hierárquico demonstra discordância quanto à sentença monocrática, visto que eclodiu o fato gerador do imposto pela circulação em quantidade que revela intuito comercial a pessoa física, já que se ocorreu engano na emissão da nota fiscal, esta deveria ter sido corrigida, imediatamente, antes da circulação das mercadorias, levando a inobservância da legislação e conseqüente infração fiscal. fiscal na forma original. Pugna pela reforma da decisão monocrática, para que seja mantida a exigência Consta às fls. 045, Termo de Juntada acerca de diligência efetuada no estabelecimento situado a Rua Duque de Caxias, 531, sala 06-08, que atestou tratar-se da Clinica de Olhos Dr. Rodrigues, conforme fotocópia em anexo, além de que não havia mercadorias em estoque, bem como de que não há comercialização de produtos na clinica de propriedade do Dr. NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS. Este é o RELATÓRIO. V O T O Versam os autos sobre o flagrante de aquisição de mercadorias em quantidade e volume que revelam o intuito comercial, destinada a pessoa física não inscrita no CCICMS/PB.

4 Continuação do Acórdão nº 001/ Ao adentrarmos nas considerações de mérito acerca da matéria, vislumbro que a legislação paraibana é cristalina ao disciplinar que a aquisição de mercadorias destinadas à pessoa física ou jurídica não inscrita no CCICMS/PB, em quantidade que caracterize intuito comercial, caberá a exigência do ICMS referente à operação subseqüente, em virtude da ilação de que as mercadorias estão sendo adquiridas para revenda, sendo o adquirente considerado contribuinte para efeito de exigência do imposto, conforme dispõe o art. 36 c/c art. 27, 1º e 2º, todos do RICMS/PB, transcrito abaixo: Art. 36. Contribuinte é qualquer pessoa, física ou jurídica, que realize, com habitualidade ou em volume que caracterize intuito comercial, operações de circulação de mercadorias ou prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações se iniciem no exterior. Art. 27. Nas entradas de mercadorias trazidas por contribuintes de outras unidades da Federação sem destinatário certo neste Estado, a base de cálculo será o valor constante do documento fiscal de origem, inclusive as parcelas correspondentes ao Imposto sobre Produtos Industrializados e às despesas acessórias, acrescido de 30% (trinta por cento), se inexistir percentual de agregação específico para as mercadorias respectivas, observado o disposto no art º - omissis.... ; ; ; 2º Ocorrendo a situação descrita neste artigo, deduzir-se-á, para fins de cálculo do imposto devido a este Estado, o montante cobrado na unidade da Federação de origem. Conforme histórico disposto no caderno processual, a fiscalização do Posto Fiscal do Aeroporto Castro Pinto constatou, conforme nota fiscal de n , a aquisição de 600 caixas de medicamentos oftálmicos em quantidade excessiva para consumo próprio, cuja finalidade, o adquirente alegou se tratar de medicamento para uma clinica de sua propriedade denominada de CLÍNICA DE OLHOS PARAIBANA, com justificativa de erro de faturamento da empresa emitente, ao utilizar o CPF do Sr. NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS, médico graduado, devidamente registrado no CRM sob n 4799, conforme Certidão constante às fls. 014 dos autos. A decisão singular foi lastreada na hipótese de que ocorreu uma aquisição para uso e consumo da clinica de propriedade do profissional médico, inobstante a documentação fiscal constar para pessoa física, fato que fez gerar a decisão de improcedência do feito fiscal. Em verdade, vejo ser equivocada, com todo respeito, a douta decisão monocrática, visto que não há nos autos qualquer elemento de prova capaz de assegurar o pleno convencimento de que ocorreu, de fato, erro de faturamento por parte da empresa emitente da nota fiscal nº , muito menos qualquer prova documental que assegure que aquisição foi realizada pela CLINICA DE OLHOS PARAIBANA, já que a pessoa física do médico NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS não se confunde com a pessoa jurídica da citada clinica, inobstante ao fato da atividade de medicina da pessoa do adquirente ter relação com a atividade principal da clinica da qual é proprietário. Denota-se, também, que sequer há nos autos qualquer comprovação financeira de pagamento por meio de duplicata ou outro meio financeiro que possa estabelecer o liame na aquisição constante na nota fiscal n com a CLÍNICA DE OLHOS PARAÍBANA, o que presume suporte de vinculação com a pessoa física estampada na documentação, revelando intuito comercial.

5 Continuação do Acórdão nº 001/ Cabe ressaltar que a profissão de médico não se enquadra, normalmente, com venda de medicamentos, porém nada justifica a aquisição elevada de mercadorias, mesmo na hipótese destas serem para consumo, visto que conforme consulta da especificação dos compostos químicos farmacêuticos verificou-se trata de solução oftálmica estéril para redução da pressão intra-ocular para pacientes com glaucoma ou hipertensão ocular, não havendo nas embalagens das mesmas qualquer referência de que se destinaria a entrega gratuita ou de amostra grátis à pacientes do SUS, em face do tratamento ocular cabível. Outrossim, consta a informação colhida por diligência fiscal in loco, de que não há medicamentos em estoque no estabelecimento da clinica, bem como de que não existe comercialização destes no recinto, o que faz comprovar que a aquisição das 600 caixas dos produtos constantes na nota fiscal de nº não tiveram fins de uso e consumo, vez que a clinica não mantém tais medicamentos em estoque, caracterizando, portanto, o intuito comercial na operação de aquisição em nome da pessoa física do Sr. NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS, fato atestado pelo requerimento de Guarda e Termo de Depósito das mercadorias, conforme se vislumbra na documentação acostada às fls. 039/041 dos autos. Assim, conforme colmatação da norma ao fato concreto infere-se que as mercadorias consignadas no documento fiscal se reportam a quantidade que não condiz com o consumo normal do adquirente nem da clinica, fato este suficiente para a caracterização da infração de aquisição com intuito comercial para destinatário não inscrito no cadastro da SEFAZ. Faço registrar que o entendimento é pacificado, a exemplo do Acórdão nº 357/2011, desta instância ad quem, cujo conteúdo faço transcrever abaixo: RECURSO HIERARQUICO PROVIDO. MERCADORIA EM TRÂNSITO INTUITO COMERCIAL CORRETA DETERMINAÇÃO DA NATUREZA DA INFRAÇÃO - AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO NA DENÚNCIA EM FACE DE PALAVRA INDEVIDA EXCESSO DE FORMALISMO - REFORMADA DECISÃO RECORRIDA AUTO DE INFRAÇÃO PROCEDENTE. O transporte ou aquisição de mercadorias por pessoa não inscrita no CCICMS em quantidade ou habitualidade que caracterize intuito comercial impõe a responsabilidade pelo recolhimento do ICMS referente à operação subseqüente ao proprietário da mercadoria. In casu, a utilização da palavra transportar, em vez de adquirir, não trouxe qualquer dúvidas quanto ao fato infringente denunciado ou a pessoa do infrator, tendo a denúncia segurança necessária para embasar a exação fulcrada na falta de recolhimento do ICMS em decorrência do destinatário das mercadorias não ser inscrito no CCICMS, caracterizando o intuito comercial. Recurso nº CRF- 325/2010 Acórdão nº 357/2011 Relator: CONS. Rodrigo Antônio Alves Araújo Decisão: Unânime Data: 23/09/2011 Destarte, resta-me reformar a decisão da Instância Prima, rechaçada pelos autores em suas contra-razões, que julgou improcedente o libelo acusatório, dando provimento ao recurso hierárquico, imputando ao acusado o crédito tributário devido no valor de R$ ,33, sendo R$ 6.211,44 de ICMS e R$ ,89 de multa por infração, conforme a peça basilar. EX POSITIS,

6 Continuação do Acórdão nº 001/ V O T O Pelo recebimento do recurso hierárquico, por regular, e, quanto ao mérito, pelo seu PROVIMENTO, para que seja reformada a sentença singular que julgou IMPROCEDENTE para considerar PROCEDENTE o Auto de Infração Apreensão e Termo de Depósito nº 6063, lavrado em 19 de abril de 2010(fls. 03), contra NIDIVALDO RODRIGUES MARTINS, CPF nº , fixando o crédito tributário em R$ 3.248,31, sendo R$ 1.624,16 de ICMS, por infringência ao art. 27, 1º, art. 36, art. 119, inciso I, art. 610, art. 659, inciso III c/ fulcro no art. 38, inciso IV, todos do RICMS/PB, aprovado pelo Dec. nº /97 e R$ 1.624,16 de multa por infração, nos termos do art. 82, inciso II, alínea e da Lei nº 6.379/ Sala das Sessões do Conselho de Recursos Fiscais, em 06 de janeiro de JOÃO LINCOLN DINIZ BORGES Conselheiro Relator

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