Museus como plataformas para a inovação social:
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- Alfredo Dreer di Azevedo
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1 Museus como plataformas para a inovação social: Projecto-piloto educativo em espaços culturais Um projecto-piloto para jovens em situação de vulnerabilidade e exclusão social a desenvolver em colaboração com profissionais do sector cultural (artistas, designers, arquitectos, etc), e outros profissionais em parceria com instituições do sector cultural e social. 1. Razão de ser Os museus e instituições culturais do séc XXI assumem novos papéis, nomeadamente um papel fundamental como agentes/plataformas de mudança social, enquanto criadoras de oportunidades que potenciam o desenvolvimento de competências e habilitações pessoais e técnicas profissionais, que podem contribuir para uma melhoria de condições de vida. Num altura em que:. Se acentua o fosso entre os contextos sócio-económicos privilegiados e aumentam os grupos de pessoas em risco de vulnerabilidade e exclusão social;. A percentagem de desempregados em Portugal é muito elevada, bem como os números de pessoas com poucas qualificações;. Há ainda poucos projectos sociais, de carácter replicável, nas indústrias criativas, é fundamental que as instituições culturais apostem na partilha de conhecimentos e experiências e fomentem o desenvolvimento pessoal de pessoas em situação de vulnerabilidade. 2. Porquê os museus e outras instituições culturais A superação da crise económica depende também de uma mudança de paradigma do nosso modelo de desenvolvimento. O novo paradigma assenta no conhecimento, na criatividade e na inovação. Na transição para esse novo modelo, é necessária uma diversidade de agentes participativos com uma preparação/formação que promova,
2 por um lado, o contacto com a prática da criação artística e, por outro lado, o contacto com a área empresarial. Este processo exige uma mobilização de recursos materiais e humanos congregando, numa parceria inovadora, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade social, artistas e artesãos, bem como empresários. Os Museus e outras instituições culturais estão particularmente bem posicionados para levar este projecto a cabo pois:. Têm um contacto privilegiado com o mundo artístico;. Congregam um conjunto representativo de profissionais do sector cultural, mas não só;. tem experiência de concepção e organização de actividades para públicos diversificados, numa perspectiva de integração social e em rede de parcerias; 3. População-alvo Os participantes deste Projecto serão jovens adultos com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos, de contextos sócio-económicos e etnias diversificados e inseridos em contexto escolar ou de organização social. Pretende-se atrair jovens adultos de contextos menos privilegiados, mas com motivações mínimas, para que se tornem também agentes multiplicadores nos seus círculos sociais. NOTA: A experiência da Coordenadora do Projecto com grupos de contextos menos privilegiados (Victoria&Albert Museum, Londres) prova que a eficácia de objectivos e o impacto geral dos projectos numa população com carências educacionais e sociais é maior, se forem desenvolvidas relações de confiança e um trabalho próximo com pessoas à partida motivadas. Estes vão ser exemplos nas suas comunidades, vão passar palavra nos seus círculos de contactos e inspirar os seus pares. 4. Beneficiários directos e indirectos do projecto; Replicabilidade O que eu faço é simplesmente activar essas redes e através delas acontecem várias actividades que nos alimentam a todos. (Fernando Árias, Cantos, Cuentos Colombianos, Arte é Educação, Casa Daros, p.51)
3 Este Projecto baseia-se numa aproximação entre profissionais altamente qualificados das várias áreas, nomeadamente das indústrias criativas, e pessoas em situação de vulnerabilidade que à partida não teriam oportunidades de contactar com esta rede qualificada. O projecto pretende beneficiar não só os participantes, mas a comunidade em geral. O Projecto poderá ter continuidade em outros locais com diversos grupos em situação de vulnerabilidade e exclusão social. O carácter de replicabilidade é assegurado pela criação de um manual (toolkit) para grupos comunitários e instituições que pretendam liderar novos projectos com base neste projecto-piloto, bem como pela capacidade de formação de líderes. 5. Objectivos oportunidades, novas competências, mudança Networking, quebra de barreiras hierárquicas e burocráticas, desenvolvimento de competências, inspirar/motivar Este projecto tem como objectivos gerais:. Aproximar profissionais altamente qualificados a grupos em situação de vulnerabilidade. Esse contacto contribuirá para:. Aumentar graus de auto-estima, abrir novos horizontes e perspectivas nos seus percursos pessoais e profissionais, e criar estímulos;. Formar jovens adultos mais criativos, qualificados e mais competitivos, através do desenvolvimento de habilitações práticas, organizacionais e de comunicação, aumentando as suas aspirações;. Conceber e desenvolver uma metodologia inovadora participativa que parte das necessidades dos jovens adultos e utiliza a prática artística em articulação com a experiência empresarial e do mentoring e que pode ser replicável por outras instituições.. Dar visibilidade e voz a grupos em risco de exclusão social e ao seu trabalho e inspirar a participação de outros grupos, com impacto positivo nas suas comunidades;
4 . Quebrar barreiras sociais e hierárquicas, e gerar projectos inovadores.. Criar uma rede de profissionais, contribuindo para facilitar o contacto com o mercado de trabalho, identificar obstáculos e oportunidades. 6. Metodologia e actividades planeadas Este Projecto adopta uma metodologia inovadora já testada pela Coordenadora em programas bem sucedidos no Victoria&Albert Museum em Londres. São principais características da metodologia:. Participação e co-programação: a programação de conteúdos, regularidade dos encontros, horários, e outros detalhes do projecto parte das necessidades e interesses dos participantes e é definida em colaboração com o grupo;. Responsabilização dos participantes: Os participantes são envolvidos em todas as fases do projecto, desde a elaboração até à avaliação, sendo que serão também responsáveis pelo sucesso do projecto;. Mentoria e coaching individualizado;. Crianção de redes de contactos qualificados: através de uma aproximação a profissionais;. Avaliação contínua. Flexibilidade O Projecto-piloto apresentado divide-se em sub-projectos de cerca de quatro meses cada. Cada um aborda uma temática a definir com o grupo (dentro das áreas do Design de Produto:Mobiliário/Têxtil e Artes e do Design de Comunicação: Ilustração/Gráfico/Audiovisual). Cada um destes sub-projectos desenvolve-se em três fases: 1ª fase: Encontros - Conversar, Inspirar 2ª fase: Cursos/Oficinas - Aprender, Fazer 3ª fase: Espaço Pop Up - Mostrar, vender
5 1ª fase: Encontros - Conversar, Inspirar Interessante é quando a fala encontra o outro, quando existe troca e diálogo. Aí se desvelam as possibilidades, o imponderável, o imprevisível, o novo. É bom quando a pessoa tem o que falar, principalmente quando a intenção é o benefício do outro e não do próprio ego. (Carlos Barmak em Cantos Cuentos Colombianos, p.27, Arte é Educação, Casa Daros) O contacto directo e informal em conversas e debates entre os participantes e profissionais qualificados - artistas, designers, artesãos, carpinteiros, estofadores, restauradores, fotógrafos, empresários, etc. -, é uma oportunidade para partilhar experiências, identificar características do mercado de trabalho, quebrar barreiras sociais, hierárquicas e comportamentais, promover a auto-confiança e a aprendizagem de habilitações práticas e criar oportunidades de networking. 2ª fase: Cursos/Oficinas - Aprender, Fazer Trabalhar com um designer profissional foi uma oportunidade incrível. Nunca imaginei ter jeito para desenhar e fazer roupa. Agora quero estudar design de moda. (participante num curso de Moda organizado pelo V&A Museum em parceria com uma instituição de solidariedade social) Numa segunda fase os participantes irão trabalhar com um monitor (artista-educador) designers, artistas, artesãos. Os grupos participam em cursos práticos/oficinas de produção de trabalho, desde a fase conceptual até à produção final de obra/produtos. 3ª fase: Espaço pop up - Mostrar, vender Gostei de criar, produzir e fazer o projecto acontecer. Foi muito bom poder expressar nossa opinião sobre os assuntos e poder mostrar ao público. (participante no projecto Oi Kabum, p.11, Novos Olhares sobre o Mundo) Os participantes, com o apoio da coordenadora da equipa e do monitor (artistaeducador), poderão ocupar temporariamente um espaço desocupado na cidade e preparar a apresentação do projecto ao público. A apresentação passa por uma exposição dos processos de trabalho e obra final, possível venda de produtos realizados e evento público de partilha de experiências.
6 Possíveis resultados finais de cada sub-projecto: peças de mobiliário, revista / plataforma online, vídeos, trabalhos artísticos. 7. Duração do projecto e Replicabilidade Este Projecto decorrerá durante um ano terá continuidade depois desse período. O Projecto-Piloto culmina com um evento de apresentação pública dos processos de trabalho e de produtos finais. Pretende-se publicar um manual (toolkit) e uma plataforma online destinados a líderes de instituições e grupos para que possam utilizar a metodologia e replicar o projecto. O Museu/instituição cultural tem capacidade para dar formação a estes líderes de grupos depois da primeira fase do projecto-piloto. 8. Avaliação A qualidade dos encontros, da mentoria e dos facilitadores de todas as actividades, bem como o impacto directo no desenvolvimento de competências e habilitações pessoais e profissionais pela participação no projecto, serão avaliados junto de todos os participantes. A avaliação será feita através de:. Formulários de avaliação aos participantes jovens e seniores;. Testemunhos documentados;. Monitorização das consequências directas da participação no Projecto depois do projecto acabar.. Elaboração de relatório por uma equipa de avaliação independente. Educação não é aquilo que eu ou o outro sabemos, mas o que nós conseguimos trocar e aprender juntos. (Tião Rocha em Cantos Cuentos Colombianos, p.28, Arte é Educação, Casa Daros)
7 9. Problemas encontrados - Visão estratégica dos museus e instituições culturais. Porque é que museus e instituições culturais querem apostar neste projecto?. Será que este projecto se insere nos serviços educativos das insts. culturais? Se sim, tem uma metodologia muito diferente, especialmente porque trabalha de início com as necessidades dos públicos, o que o faz mais imprevisível e torna a gestão muito mais complicada para a equipa do Museu. Se não, onde deve inserir-se? Há organizações, como a Gulbenkian que têm departamento educativo e departamento de inovação social, mas a maior parte dos museus em Portugal trabalhar ainda de uma forma muito tradicional.. Como convencer os Museus e instituições culturais de que vale a pena? - Financiamento e sustentabilidade. Sector cultural tem pouco dinheiro e isto é um projecto com uma metodologia nova. - Requere um acompanhamento muito personalizado, logo, um investimento num Coordenador de projecto que se dedique ao grupo de participantes, perceba as suas necessidades e que ao mesmo tempo desenvolva, em colaboração com os artistas, designers, etc, os conteúdos. Que encontre relações nas empresas que possam ser criadas, espaços para expor os produtos, gerir o orçamento, etc.. Será que este projecto deve estar associado a uma instituição cultural ou ser uma associação que vende estes projectos. Parceiros e participantes As IPSS com quem criámos parcerias estão muito interessadas em estar envolvidas no projecto, mas a sua natureza também é precária. Timings Os timings dos museus e instituições culturais e os das IPSS nem sempre são os mesmos.
8 Visibilidade Como mostrar que isto é realmente um projecto de qualidade com impacto social. 10. Coordenação do projecto Filipa Alves de Sousa será a Coordenadora do projecto. Em 2005 Filipa começou a trabalhar no Serviço Educativo da Fundação de Serralves, onde, no seguimento das suas experiências em voluntariado, apresentou um projecto de Inclusão Social para o Museu. Passou por uma experiência empresarial de um ano na Cisco Systems (2008) e seguiu para Londres como bolseira da Gulbenkian, para realizar o mestrado em Indústrias Culturais e Criativas no King s College (2008). Estagiou na Clore Leadership Foundation e em 2009 ingressou no Serviço Educativo do Victoria & Albert Museum onde coordenou até 2013 alguns dos programas para novos públicos, incluindo visitantes com deficiência física e intelectual, minorias étnicas e religiosas e outros públicos com dificuldades de acesso ao Museu. Em 2011 fica responsável por programas educativos para jovens, que têm como principais objectivos dar formação e criar oportunidades para o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais através do Museu. Informações sobre alguns projectos desenvolvidos em Em 2014 e iniciou um projecto educativo e de inovação social em Lisboa, na Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva FAZ15-25 que está a ser muito bem sucedido, provou ter um impacto social muito grande e conta neste momento com 83 jovens inscritos. Mais informações em Facebook FAZ1525 ou fasvs.pt/educacao/crianças.
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