EXPRESSÃO MUSICAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "EXPRESSÃO MUSICAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL"

Transcrição

1 EXPRESSÃO MUSICAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL Vanessa Lourenci Piaz Prof.ª Denise Raquel Rosar Centro Universitário Leonardo da Vinci UNIASSELVI Licenciatura em Pedagogia (PED 8501) Prática Educativa Data: 23/07/2011 RESUMO Este trabalho tem por objetivo principal a reflexão sobre a importância da expressão musical na educação infantil. A musicalização, neste sentido, pode se tornar um meio de se trabalhar em sala de aula, focando o desenvolvimento da musicalidade nas crianças da educação infantil. Traz, no corpo do trabalho, os conceitos de música e musicalização, e no que o processo de musicalização pode contribuir, como o desenvolvimento cognitivo/linguistico, psicomotor e socioafetivo da criança. À expressão musical na educação infantil, na sequencia, a pesquisa mostra o método de musicalização do professor suíço Dalcroze, que trabalha a música pelo corpo, através de movimentos rítmico-corporais. Após ser fundamentada a pesquisa, encontra-se no apêndice A um plano de aula elaborado com atividades que contemplam a música como recurso em sala de aula. Palavras-chave: Musicalização; Desenvolvimento; Expressão Musical. 1 INTRODUÇÃO Este paper é resultado de pesquisa bibliográfica, requisito de avaliação na disciplina de Prática Educativa, no curso de Pedagogia do Centro Universitário Leonardo da Vinci Uniasselvi. O trabalho tem como principal objetivo refletir sobre a importância da música e expressão musical na educação infantil. A pesquisa que fala de música e musicalização enquanto conceitos, além de mostrar as contribuições da música no desenvolvimento da criança da educação infantil. Traz, ainda, a prática de musicalização corporal do compositor e professor Dalcroze, fazendo uma relação com a expressão musical na educação infantil. A partir de um conteúdo do curso de Pedagogia foi elaborado um plano de aula que permita experienciar uma educação que contemple a música como subsídio para o

2 2 aprendizado. O conteúdo selecionado foi Pedagogia da Educação Infantil e, no plano de aula buscou-se aplicar estratégias pedagógicas para que os alunos tenham condições de usufruir da música como meio de aprendizagem. Trata-se, entretanto, de uma prática simulada, que tem como principal característica a exploração de temas teóricos. As atividades serão apresentadas no dia da socialização da Prática Educativa, e o plano de aula elaborado encontra-se no apêndice A. 2 MÚSICA E MUSICALIZAÇÃO: CONCEITOS Segundo Bréscia (2003), a música é uma linguagem universal, tendo participado da história da humanidade desde as primeiras civilizações. Conforme dados antropológicos, as primeiras músicas seriam usadas em rituais como: nascimento, casamento, morte, recuperação de doenças e fertilidade. Com o desenvolvimento das sociedades, a música também passou a ser utilizada em louvor a líderes, como a executada nas procissões reais do antigo Egito e na Suméria. Na Grécia Clássica o ensino da música era obrigatório, e há indícios de que já havia orquestras naquela época. Pitágoras de Samos, filósofo grego da Antiguidade, ensinava como determinados acordes musicais e certas melodias criavam reações definidas no organismo humano, e que a sequencia correta de sons, se tocada musicalmente num instrumento, pode mudar padrões de comportamento e acelerar o processo de cura (BRÉSCIA, 2003). Atualmente existem diversas definições para música. Mas, de um modo geral, ela é considerada ciência e arte, na medida em que as relações entre os elementos musicais são relações matemáticas e físicas, a arte manifesta-se pela escolha dos arranjos e combinações. Houaiss apud Bréscia (2003) conceitua a música como combinação harmoniosa e expressiva de sons de modo a agradar o ouvido e como a arte de se exprimir por meio de sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização. Para Bréscia (2003) a musicalização é um processo de construção do conhecimento, que tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade, senso rítmico, do prazer de ouvir música, da

3 3 imaginação, da socialização e afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência corporal e de movimentação. As atividades de musicalização permitem que a criança conheça melhor a si mesma, desenvolvendo sua noção de esquema corporal, e também permitem a comunicação com o outro. Weigel (1988) e Barreto (2000) afirmam que estas atividades podem contribuir no desenvolvimento cognitivo/linguistico, psicomotor e sócio- afetivo da criança da seguinte forma: Desenvolvimento cognitivo/ linguístico: a fonte de conhecimento da criança são situações que ela tem oportunidade de experimentar em seu dia a dia. Dessa forma, quanto maior a riqueza de estímulos que ela receber melhor será seu desenvolvimento intelectual. Nesse sentido, as experiências rítmico-musicais que permitem a participação ativa (vendo, ouvindo, tocando) favorecem o desenvolvimento dos sentidos das crianças. Ao trabalhar com os sons ela desenvolve sua acuidade auditiva; ao acompanhar gestos ou ao dançar ela está trabalhando a coordenação motora e a atenção; ao cantar ou imitar sons ela está descobrindo suas capacidades e estabelecendo relações com o ambiente em que vive. Desenvolvimento psicomotor: as atividades musicais oferecem inúmeras oportunidades para que a criança aprimore sua habilidade motora, aprenda a controlar seus músculos e mova-se com desenvoltura. O ritmo tem um papel importante na formação e equilíbrio do sistema nervoso. Isto porque toda a expressão musical ativa age sobre a mente, favorecendo a descarga emocional, a reação motora e aliviando tensões. Qualquer movimento adaptado a um ritmo é resultado de um conjunto completo e complexo de atividades coordenadas. Por isso, atividades como cantar fazendo gestos, dançar, bater palmas, pés, são experiências importantes para a criança, pois, elas permitem que se desenvolva o senso rítmico, a coordenação motora, fatores importantes também para o processo de aquisição da leitura e escrita. Desenvolvimento sócio-afetivo: a criança aos poucos vai formando sua identidade, percebendo-se diferente dos outros e ao mesmo tempo buscando integrar-se com os outros. Nesse processo, a autoestima e a autorrealização desempenham um papel muito importante. Através do desenvolvimento da autoestima ela aprende a se aceitar como é, com suas capacidades e limitações. As atividades musicais coletivas favorecem o desenvolvimento da socialização, estimulando a compreensão, a participação e a cooperação. Dessa forma a

4 4 criança vai desenvolvendo o conceito de grupo. Além disso, ao expressar-se musicalmente em atividades que lhe deem prazer, ela demonstra seus sentimentos, libera suas emoções, ao desenvolver sentimentos de segurança e autorrealização. É importante salientar a importância de se desenvolver a escuta sensível e ativa nas crianças. Mársico (1982) comenta que nos dias atuais as possibilidades de desenvolvimento auditivo se tornam cada vez mais reduzidas. As principais causas são o predomínio dos estímulos visuais sobre os auditivos, assim como excesso de ruídos com que estamos habituados a conviver. É fundamental, por essa razão, fazer uso de atividades de musicalização que explorem o universo sonoro, levando as crianças a ouvir com atenção, analisando, comparando os sons e buscando identificar as diferentes fontes sonoras (timbre). Isso irá desenvolver, portanto, sua capacidade auditiva, ao exercitar a atenção, a concentração e a capacidade de análise e seleção de sons. 3 EXPRESSÃO MUSICAL Expressão, em música, é o conjunto de todas as características de uma composição musical que podem variar de acordo com a interpretação. Em geral, a expressão engloba variações de andamento (cinética musical) e de intensidade (dinâmica musical), bem como a forma com que as notas são tocadas individualmente ou em conjunto. Em geral o compositor da obra musical fornece na partitura todas as indicações da execução esperada, mas dois intérpretes nunca executarão a música da mesma forma. Mesmo entre duas execuções pelo mesmo intérprete, podem ocorrer pequenas variações. Essas variações não são falhas; ao contrário, são esperadas, e é a expressão que diferencia uma execução mecânica, excessivamente precisa, de uma boa interpretação, que consegue transmitir as emoções planejadas pelo compositor e também as do próprio intérprete (HELLER, 2006). O compositor e professor suíço Emile Jacques-Dalcroze ( ), que além de musicista, foi jornalista, ator, regente de orquestra, diretor teatral e coreógrafo, criou um método de treinamento musical que ele chamou de euritmia (Dalcroze Eurhythmics). Conforme GOULART (2000) Dalcroze conhecia seus alunos, porém, não enxergava neles a musicalidade que a execução de alguma peça musical exigia. A execução, sempre fiel ao que estava escrito nas partituras, era mecânica e pouco musical. Isto o levou a entender que

5 5 faltava aos estudantes a coordenação entre olhos, ouvidos, mente e corpo, necessárias para não somente aprender o repertório, mas, principalmente, para tocar bem. Compreendeu, dessa forma, que o primeiro instrumental a ser treinado deveria ser o próprio corpo. A Euritmia não é uma dança, e sim um meio para se atingir a musicalidade. Com este método, o aluno movimenta todo o corpo no ritmo da música, ocorrendo interação entre melodia e gesto, servindo de estímulo à criatividade, uma vez que está intimamente ligada à improvisação e à percepção auditiva. O senso rítmico é desenvolvido através do corpo, aprendendo ritmo pelos movimentos rítmico-corporais, onde há um gesto para cada som e um som para cada gesto. Na infância, todos os sentidos recebem informações da kinestesia (de kines = movimento, thesia = consciência) - por isso é que as crianças estão sempre se movimentando: estão explorando o mundo e construindo os mapas mentais que serão usados pelo resto da vida. (GOULART, 2000, p. 5) Dentro desta perspectiva, a euritmia pode ser facilmente adotada na educação infantil, buscando nela uma forma de expressão musical, visto que é um meio para musicalizar e ao mesmo tempo movimentar-se buscando criar senso rítmico e desenvolver a própria musicalidade. Segundo Goulart (2000, 0.6): O professor que usa a metodologia de Dalcroze costuma pedir aos alunos: Mostrem-me o que vocês estão ouvindo, em vez de Digam-me o que vocês estão ouvindo. Como a música é arte não verbal, é este universo sem palavras que deve ser explorado durante as aulas [...]. Há muita atividade física, muito movimento enquanto se ouve a música [...]. Nestes jogos e brincadeiras rítmicas os alunos se envolvem e aprendem a aplicar, nas aulas e nas suas performances, os conceitos ali vivenciados. Sempre que possível usam a demonstração ao invés da narrativa. É possível a aplicação de Dalcroze nas aulas na educação infantil, pois, o uso da euritmia independe da idade ou condição física dos alunos. Qualquer pessoa pode se movimentar dentro das suas potencialidades e limites e o movimento inicial é livre. Utilizar Dalcroze resgata o prazer da musicalização ao realizar uma atividade física.

6 6 O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p.61) também aborda a ligação entre o corpo e o som: O gesto e o movimento corporal estão intimamente ligados e conectados ao trabalho musical. A realização musical implica tanto em gesto como em movimento, porque o som é, também, gesto e movimento vibratório, e o corpo traduz em movimento os diferentes sons que percebe. Os movimentos de flexão, balanceio, torção, estiramento etc., e os de locomoção como andar, saltar, correr, saltitar, galopar etc., estabelecem relações diretas com os diferentes gestos sonoros. A musicalização serve como uma importante ferramenta para que os educadores. Aos alunos, a educação formal pode se tornar mais divertida, alegre e mais atrativa (NARDELLI, 2000). As atividades musicais realizadas na escola não visam formação de músicos, e sim, através da vivência e compreensão da linguagem musical, propiciar a abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral e contribuindo para a formação integral do ser. A esse respeito Katsch e Merle-Fishman apud Bréscia (2003, p.60) afirmam que [...] a música pode melhorar o desempenho e a concentração, além de ter um impacto positivo na aprendizagem de matemática, leitura e outras habilidades lingüísticas nas crianças. O trabalho com musicalização infantil na escola é um poderoso instrumento que segundo GOMES et al (1996) desenvolve além da sensibilidade à música, fatores como concentração, memória, coordenação motora, socialização, acuidade auditiva e disciplina. Conforme Barreto (2000) ligar a música e o movimento, utilizando a dança ou a expressão corporal, pode contribuir para que algumas crianças, em situação difícil na escola, possam de adaptar (inibição, debilidade e instabilidade psicomotora, etc). Por isso é tão importante a escola se tornar um ambiente alegre, favorável ao desenvolvimento. Gainza (1988) afirma que as atividades musicais na escola podem ter objetivos profiláticos, nos seguintes aspectos, exemplificados no quadro a seguir: Físico: Ao oferecer atividades capazes de promover o alívio de tensões devido à instabilidade emocional e fadiga;

7 7 Psíquico: Ao promover processos de expressão, comunicação e descarga emocional através do estímulo musical e sonoro; Mental: Ao proporcionar situações que possam contribuir para estimular e desenvolver o sentido da ordem, harmonia, organização e compreensão. Para Bréscia (2003, p.81) [...] o aprendizado de música, além de favorecer o desenvolvimento afetivo da criança, amplia a atividade cerebral, melhora o desempenho escolar dos alunos e contribui para integrar socialmente o individuo. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao terminar este trabalho, chego as seguintes considerações: Não é possível colocar no papel tudo o que a música pode estimular numa criança, numa pessoa e o que ela pode criar e desenvolver no interior das mesmas. A música movimenta todo o ser, provoca todo tipo de reações e respostas distintas, sendo estas mais ou menos significativas, dependendo da experiência e conhecimento musical de cada indivíduo. Acredito que não se pode fazer uso da música em sala de aula na educação infantil apenas com o objetivo de passatempo. Nem mesmo com o intuito único de distrair os pequenos. A riqueza do universo musical está muito além no processo. O profissional da educação infantil precisa, contudo, se conscientizar da importância da musicalização no desenvolvimento infantil. Formar crianças para que se tornem adultos mais sensíveis. Educa-los objetivando o raciocínio lógico, a concentração, a disciplina, socialização, memória entre outros fatores descritos no corpo do trabalho. Se a visão que temos é desenvolver a musicalidade, então, podemos neste aspecto sermos responsáveis pelo estímulo ao talento. Mesmo que a visão não seja formar músicos, porém, todo o trabalho musicalizador na infância pode gerar no futuro sim, na minha visão, um adulto com talento e sensibilidade, pois, quem poderá dizer se alguma dessas crianças que estão sendo musicalizadas se tornará ou não um musicista.

8 8 REFERÊNCIAS BARRETO, Sidirley de Jesus. Psicomotricidade: educação e reeducação. 2. ed. Blumenau: Acadêmica, BRASIL. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil. Vol. 1, 3. Brasília: MEC/SEF, BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3. Ed. São Paulo: Summus, 1988 GOMES, Neide R. et al. A criança é a música. Fermata do Brasil, GOULART, Diana. Dalcroze, Orff, Suzuki e Kodály: Semelhanças, diferenças, especificidades. Rio de Janeiro, RJ: Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro, HELLER, Alberto Andres. Fenomenologia da Expressão Musical. Blumenau: Letras Contemporânea, MÁRSICO, Leda Osório. A criança e a música: um estudo de como se processa o desenvolvimento musical da criança. Rio de Janeiro: Globo, NARDELLI, J. A Escola que canta, encanta (Monografia de especialização em Psicopedagogia)., UNIDAVI, Rio do Sul, ROYER, Angélica. A Musicalização Corporal de Dalcroze. Joinville, SC: Conservatório Belas Artes de Joinville, WEIGEL, Anna Maria Gonçalves. Brincando de Música: Experiências com sons, ritmos, música e movimentos na Pré-escola. Porto Alegre: Kuarup, 1988.

9 9 APÊNDICE A PLANO DE AULA PARA PRÁTICA SIMULADA ÁREA DO CONHECIMENTO: Linguagem musical; Coordenação Motora; Expressão Corporal; Sociabilização; Musicalização; I. Objetivos de aprendizagem: Apresentar música aos alunos como um recurso de aprendizagem; Desenvolver a percepção musical e a expressão; Identificar os elementos presentes na música; Valorizar o talento, e descobrir seu potencial; Aguçar e ampliar a coordenação motora; Desenvolver a musicalidade nas crianças da educação infantil; II. Conteúdos: Escuta musical Repertório musical Canções III. Metodologia: Apresentação de um aquário com peixe para introdução da aula, conversação sobre o que está sendo observado; Em roda ensinar a música Peixe Vivo, cantando com os elementos musicais (propriedades sonoras) e variando o andamento musical (velocidade), de maneira lúdica, onde os movimentos corporais são explorados ao longo de toda a atividade; Distribuir peixinhos de papel de tamanhos variados para as crianças manipularem e interpretarem a música; Questionar as crianças quanto às características do animal, como: habitat, alimentação, cores, tamanhos e outros.

10 10 Criar uma roda aconchegante na sala de convívio diário e retornar a música de maneira lúdica e divertida; Simular um rio de papel no meio da sala para elaboração da atividade de pescaria, retomando a música quando necessário; Distribuir as folhas com um peixe pontilhado para as crianças preencherem o desenho existente e posteriormente criar novos peixes e outros itens que desejarem. IV. Recursos: Aquário providenciado pela professora Papel azul para confecção do rio na sala Aparelho de som Cd com a música Peixes de vários tamanhos recortados Folhas de sulfite com o desenho do peixe pontilhado V. Avaliação: Como essa atividade envolve música, não será comparada as aprendizagens, mas será observado as características de cada criança dentro do grupo.