TRANSPORTE. 1. Referência legal do assunto. Arts. 730 a 756 do CC. 2. Conceito de transporte
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- Vítor Gabriel da Cunha Marinho
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1 1. Referência legal do assunto Arts. 730 a 756 do CC. 2. Conceito de transporte TRANSPORTE O CC define o contrato de transporte no art. 730: Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas. Em relação ao regime jurídico aplicável, o legislador ressalvou que ao transporte exercido em virtude de autorização, permissão ou concessão são aplicadas as regras dos regulamentos específicos, sem prejuízo, todavia, das normas do CC (art. 731) e dos tratados e convenções internacionais (art. 732). Como legislação específica relacionada com o contrato de transporte, podemse citar: a) O Código Brasileiro de Aeronáutica (Lei n /86, art. 10); b) A Lei n /98, regulamentada pelo Decreto n /2000, que trata do transporte multimodal; c) A Lei n /91, art. 8º, 2º, que dispõe sobre o seguro de cargas; É bom ressaltar, que o CDC, também é aplicável aos contratos de transporte
2 diante da ocorrência de uma relação de consumo. 2. Partes As partes do contrato de transporte são: de um lado, o transportador (ou condutor) e, de outro, o passageiro ou usuário (no transporte de pessoas) ou o expedidor ou remetente (no transporte de coisas). Não é parte o destinatário das coisas. 3. Terminologia No transporte de pessoas, a remuneração chama-se passagem; no de coisas, chama-se frete. O documento, no transporte de passageiros, chama-se bilhete; no de coisas, conhecimento. O bilhete nem sempre é utilizado. 4. Natureza O contrato é bilateral, consensual, oneroso e, quase sempre, de adesão. 5. Espécies Pode haver transporte de pessoas e transporte de coisas, tendo o CC disciplinado estas duas espécies de forma diversa, respectivamente, em seus arts. 734 a 742 e 743 a 756. Quanto ao meio, o transporte pode ser terrestre (rodoviário ou ferroviário), aquático (marítimo, fluvial e lacustre) e aéreo, ou misto, abrangendo sucessivamente as várias modalidades.
3 6. Direitos e deveres (a) Transporte de pessoas No transporte de pessoas, mediante o pagamento do valor da passagem pelo usuário, o transportador obriga-se a cumprir o contrato, deslocando a pessoa e a sua bagagem, com segurança, sem danos, até o lugar previsto, obedecendo aos horários e aos itinerários. Se ocorrer evento alheio à vontade do transportador que interrompa a viagem, o transporte deverá ser concluído em outro veículo da mesma categoria ou em modalidade diferente, desde que haja a anuência do usuário, correndo todas as despesas por conta do transportador, nos termos do art. 741 do CC. O transportador não pode recusar passageiros, salvo se existir justificativa em regulamentos ou o motivo decorrer das condições de saúde ou de higiene do interessado (art. 739 do CC). O passageiro tem a obrigação de observar as normas estabelecidas pelo transportador, especificadas nos bilhetes ou que de outra forma lhe tenha sido dado conhecimento, bem como de se comportar de maneira a não incomodar ou prejudicar os demais passageiros, a não danificar o veículo, dificultar ou impedir a prestação do serviço (art. 738 do CC). O passageiro pode rescindir o contrato antes de iniciada a viagem e, se comunicado ao transportador em tempo hábil para a revenda do bilhete, terá direito à restituição do valor pago. Mesmo que a viagem já tenha começado, o passageiro pode rescindir o contrato de transporte, mas somente receberá a restituição do trecho não utilizado se demonstrar que outra pessoa foi transportada em seu lugar na continuação da viagem. Da mesma forma, o passageiro que não embarcar somente terá direito à restituição do valor do
4 bilhete se comprovar que outra pessoa ocupou o seu lugar, sendo lícito ao transportador cobrar uma multa compensatória de 5% da importância a ser devolvida. Todas essas regras sobre rescisão do contrato e direito de restituição da quantia estão especificadas no art. 740 e seus parágrafos do novo Código Civil. Na hipótese de o passageiro ainda não ter pago o valor do bilhete ao final da viagem, é permitido que o transportador retenha a sua bagagem e outros objetos pessoais para garantir o adimplemento da obrigação (art. 742). (b) Transporte de coisas No transporte de coisas, o transportador tem a obrigação de levar o bem que lhe foi entregue ao destino solicitado, dentro do prazo contratado ou previsto, devendo tomar todas as providências e os cuidados para manter o seu bom estado. A conferência das condições da mercadoria deve ser feita no ato de entrega pelo destinatário ou por pessoa que apresentar o conhecimento de transporte endossado. As eventuais reclamações deverão ser feitas, neste momento, sob pena de decadência de tal direito, salvo se a avaria não for perceptível desde logo, hipótese na qual há o prazo de dez dias para reclamar (art. 754 do CC). Ao remetente cabe pagar o preço ajustado e informar a natureza da coisa, o seu valor, peso, quantidade e outros dados importantes para a sua identificação e diferenciação de outras mercadorias, bem como indicar o nome e endereço do destinatário. Entretanto, a obrigação do transportador de avisar ao destinatário a chegada da mercadoria ou de entregar em domicílio depende de convenção entre as partes, que constará do conhecimento de embarque (art. 752 do CC). Quando houver dúvida de quem seja o destinatário, o transportador deverá buscar informações e instruções com o
5 remetente e, se tal tarefa não tiver êxito, deverá depositar a mercadoria em juízo ou vendê-la quando houver risco de perecimento, depositando o valor judicialmente (art. 755 do CC). O transportador é obrigado a emitir documento especificando as características que identifiquem a coisa a ser transportada, podendo, inclusive, exigir do expedidor uma relação dos bens devidamente assinada, em duas vias, ficando uma parte integrante do conhecimento (art. 744 e seu parágrafo único do CC). A falsidade das informações ou a sua inexatidão implica o dever de o remetente indenizar o transportador pelos danos causados por tal ato. O legislador, todavia, estipulou um curto prazo decadencial de 120 dias para o exercício desse direito, no art. 745 do CC. Ademais, o remetente deve atender às exigências do transportador com relação à natureza da coisa e à embalagem utilizada, podendo ser recusada quando o empacotamento configurar-se como inadequado ou se a mercadoria colocar em risco a saúde de pessoas ou o bom estado do veículo ou de outros bens. Essa faculdade de recusa do transportador transforma-se em obrigação legal quando o transporte ou a comercialização da coisa a ser enviada for vedada pela legislação ou quando não vier acompanhada dos documentos exigidos pela lei ou regulamento específico. É permitido ao remetente desistir do contrato de transporte e requerer a devolução da coisa ou, ainda, mudar o destino da entrega, ficando obrigado, no entanto, a pagar as despesas decorrentes de tais alterações e eventuais perdas e danos, se houver (art. 748 do CC). Ao manter a coisa a ser transportada em seus armazéns, o transportador submete-se à disciplina legal do depósito, em virtude do art. 751 do CC. Por outro lado, se o transporte não se realizar ou for longamente interrompido, o
6 transportador deverá informar a situação ao remetente e pedir-lhe instruções de como proceder, tendo a obrigação de atuar com cautela, sendo responsável pelo eventual perecimento do bem, salvo por motivo de força maior (art. 753 do CC). Caso o expedidor não se pronuncie e o impedimento perdure, sem culpa do transportador, este poderá depositar a coisa em juízo ou vendê-la, sempre observando as regras legais e regulamentares aplicáveis ao caso. Se o impedimento for imputável ao transportador, este deverá depositar a coisa e ficará responsável pelo seu bom estado, podendo vendê-la apenas se for de natureza perecível. Na hipótese de depósito da mercadoria nos armazéns do transportador, este poderá exigir uma remuneração pela custódia, a ser estipulada contratualmente ou determinada conforme os usos do sistema de transporte. Todas essas regras estão estipuladas pelo novo Código Civil, nos parágrafos do art Transporte gratuito e transporte benévolo Alguns distinguem o transporte gratuito, feito por empresas transportadoras, como os de bens de passageiros (malas e bagagens), que seria um acessório do contrato de transporte do passageiro, do chamado transporte benévolo (vulgarmente chamado carona), feito por cortesia, gratuitamente ou por amizade. A este último não se aplicam as regras próprias do contrato de transporte. No entanto, se o condutor aufere vantagem indireta, não se considera gratuito o transporte, mesmo sem remuneração (art. 736, parágrafo único, do novo Código Civil). 8. Responsabilidade civil Inicialmente, o antigo Código Comercial passou a regular o transporte marítimo e a responsabilidade dele decorrente. Depois, tivemos o Decreto n.
7 2.681, de (decreto com força de lei), que regulou a responsabilidade civil das estradas de ferro e, como lei especial, continuou vigendo mesmo após o Código Civil de 1916, que não cuidou do transporte. As regras estabelecidas foram aplicadas, por analogia, aos demais transportes coletivos, como os das empresas de carris urbanos (bondes) e ônibus. O CC atual estabeleceu algumas regras referentes à responsabilidade do transportador. Com relação ao transporte de pessoas, o art. 734 do CC determina que os danos causados aos usuários e às suas bagagens são de responsabilidade do transportador, podendo este, para resguardar o limite da sua responsabilidade, exigir que o cliente preste declaração do valor da bagagem. Para tornar inequívoca essa regra, o legislador enfatizou que qualquer convenção em contrário é nula. Por outro lado, tal responsabilidade é excluída por motivo de força maior, mas não é afastada quando o dano for causado por culpa de terceiro. Neste caso, o transportador permanece responsável perante o passageiro, tendo, todavia, ação regressiva perante o terceiro (art. 735 do CC). Neste ponto, o Código acolheu a jurisprudência sumulada do Supremo Tribunal Federal: Súmula 187. A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. Exemplo desta hipótese encontra-se em decisão do STJ no seguinte sentido: A empresa responde pelo dano sofrido por passageira que sofre queda no interior do coletivo, provocada por freada brusca do veículo, em decorrência de estilhaçamento do vidro do ônibus provocado por terceiro. O motorista que age em estado de necessidade e causa dano em terceiro que não provocou o perigo, deve a
8 este indenizar, com direito regressivo contra o que criou o perigo. Tratando-se de transporte de coisas, a própria lei (art. 750 do CC) estabelece que a responsabilidade do transportador começa ao receber o bem e cessa no ato de entrega da coisa ao destinatário ou com o seu depósito em juízo, nos casos previstos na lei. Com relação ao valor devido, a responsabilidade restringe-se ao montante constante do conhecimento de transporte. Está prevista ainda regra específica de responsabilidade por transporte cumulativo. Cada transportador é responsável pelo cumprimento das suas obrigações e eventuais danos causados ao passageiro ou à coisa transportada no respectivo percurso. Para proteger os interesses do remetente, o legislador previu a responsabilidade solidária de todos os transportadores pelos danos causados ao remetente da coisa, existindo, todavia, o direito de regresso, considerando o trecho em que ocorram os prejuízos (art. 756 do CC).
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