A ESCRITA NA FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: INSTRUMENTOS USUAIS DE REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA
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- Marco Antônio Aveiro Beretta
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1 A ESCRITA NA FORMAÇÃO CONTINUADA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: INSTRUMENTOS USUAIS DE REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA Maria do Carmo Costa Maciel Especialista PROFEBPAR/UFMA Domício Magalhães Maciel Mestre em Educação (UNICAMP) Universidade Federal do Maranhão Relato de Experiência RESUMO Esse trabalho tem por fim relatar a experiência docente da primeira autora numa disciplina do curso de Segunda Licenciatura do Programa de Formação de professores para a Educação do Plano de Ações Articuladas da Universidade Federal do Maranhão - PROFEBPAR/UFMA. A reflexão sobre a própria prática do professor de Matemática e a discussão com os pares tem sido fortemente orientada pelos programas de Pós-Graduação em Educação Matemática (FIORENTIN; CRISTOVÃO, 2006; CURI, 2010; LOPES; CURI, 2008). Desenvolveu-se na disciplina uma prática docente embasada na potencialidade da escrita como uma ferramenta de reflexão do professor pesquisador. Destacamse resultados dessa prática docente a partir do diário e a memória como registros reflexivos em que se revelam um movimento transformador na prática docente. Palavras-Chave Educação Matemática, formação de professores, professor pesquisador, escrita, diário. JUSTIFICATIVA As dificuldades que os professores de Matemática enfrentam no exercício de sua prática advém de várias causas e podemos citar algumas como a formação inicial e uma formação continuada desprovidas de ações renovadas e incentivadoras. Segundo Kilpatrick (1996) a formação de professores é a função maior da Educação Matemática, paralelamente à busca do conhecimento sólido para ser aplicado. Para isso, aborda-se, entre outras temáticas aquela que trata o professor como pesquisador de sua prática docente. A Matemática deve vista de forma diferente daquela que a apresenta como algo pronto e estático. Mas para que ocorra um ensino que motive a aprendizagem do aluno, e o torne autônomo no âmbito do seu conhecimento, é necessário que o professor faça uma formação inicial dentro das prerrogativas de formação docente atuais e uma formação continuada envolvida em paradigmas que apontam para a necessidade de reflexões diárias de sua prática. Isto leva a
2 resultados avaliativos satisfatórios tanto para o aluno e principalmente para o professor que se vê realizado na sua proposta de ensino. Vemos na escrita em matemática uma ferramenta pedagógica muito poderosa para o processo ensino aprendizagem de Matemática. Tanto o professor quanto o aluno aprendem dentro de suas especificidades. Parateli et al (2006, p. 40) afirma que apesar da escrita do aluno ser uma estratégia pouco utilizada nas aulas de Matemática e termos ainda uma bibliografia bastante restrita sobre o assunto, as nossas experiências iniciais apontam para as potencialidades educativas dessa estratégia. Nacaratto (2004) por sua vez atenta que os discentes em Matemática têm muitas dificuldades em ler e produzir textos nas aulas do curso, e não são motivados para essa prática. Assim, a experiência que aqui é revelada se baseou fortemente na perspectiva de que escrevendo o aprendiz aprende, e refletindo sobre a reflexão escrita do outro colabora com o aprendizado daquele. MARCO TEÓRICO Ser professor é um desafio no qual quem se aventura a enfrentá-lo deve se conduzir como um educador. Essa visão é uma visão do professor que procura diagnosticar sua ação pedagógica e neste processo buscar soluções. Mas neste percurso o professor se vê diante de muitos desafios e um dos principais é ainda a dificuldade de se aproximar mais da Matemática, estreitar laços com seus alunos, estabelecer elos de afetividade entre estes e a Matemática. O professor precisa se envolver no que faz. Nesta parte vale ressaltar sobre a prática docente, que, exercendo-a de modo teórico-crítico, pode-se aprimorá-la a partir dos elementos obtidos dessa prática reflexiva. Essa prática se faz num ciclo açãoreflexão-ação culminando com o que se pode chamar de pesquisa (D`AMBROSIO, 1996). Esta pesquisa seria uma análise sucinta fundamentada de como o professor está se conduzindo nos caminhos para a aquisição de novas práticas. Quando não pesquisa, o professor se vê desmotivado e distante dos anseios e propostas inovadoras de sua área. A adesão a novas propostas e abertura de espaços para pesquisa lhe traria muitos benefícios. A propósito, no âmbito da pesquisa educacional o professor nem sempre é considerado um pesquisador, pois segundo Zeichner (1998) há um distanciamento entre o mundo dos professores pesquisadores e dos pesquisadores acadêmicos. De fato, o que o professor de educação básica produz como pesquisa, que resulta de sua prática, tem pouco respaldo na academia pelos pesquisadores matemáticos. Todavia, alguns programas de pós-graduação e pesquisa, da área de Educação Matemática, têm se debruçado em fazer essa ligação entre pesquisadores da academia e os professores da educação básica (FIORENTIN; CRISTOVÃO, 2006; CURI, 2010; LOPES; CURI, 2008). Vemos que o professor deve ser motivado e acreditar em suas potencialidades. Nesse sentido, Ponte (1992, apud GONÇALVES, 2006, p. 52) afirma que a formação inicial, mesmo quando razoavelmente sucedida, pode ver os seus efeitos varridos no processo de adaptação às realidades da prática pedagógica (...). Então, é quando a academia deve permitir a volta do professor,
3 possibilitando este importante vínculo com a instituição de origem, ou outra, de modo a fortalecer nele as práticas de estudo e pesquisa. Uma formação inicial de professores de Matemática em exercício A experiência docente que trazemos para esse congresso realizou-se no âmbito do PROFEBPAR/UFMA (Segunda Licenciatura), Pólos de Imperatriz-Ma (17 à 22/01/11) e Santa Inês-Ma (24 à 29/01/11) referente à disciplina Ensino de Matemática Elementar II, ministrada pela primeira autora deste trabalho, de forma intensiva. Esses professores-alunos já têm uma licenciatura, mas atuam em disciplina que não aquela que foi formado para atuar. Então, a Segunda Licenciatura foi pensada, em termos de políticas públicas, para corrigir esse desvio de função. O nosso trabalho foi planejado de modo a oferecer momentos de reflexão para todos os professores-alunos; daí termos nos preocupados em trabalhar as relações interpessoais através da escrita onde os professores se expressavam falando de suas vivências em sala de aula, trazendo, para cada momento, relações, enfoques que proporcionavam momentos de troca de experiências. Através de instrumentos como cartas, diário (registro do desenvolvimento da aula e as reflexões produzidas em cada dia) ou memórias (impressões sentidas no decorrer da semana), poesias, mapas conceituais (MACIEL, 2008; MOREIRA; BUCHWEITZ, 1987), paródias colocamos a escrita como uma ferramenta que não só nos aproximou na relação pedagógica do ensinar e aprender, como aproximou os alunos na relação colaborativa de pensar a dificuldade do outro. Iniciamos a nossa proposta de trabalho, nos dois pólos, pedindo que eles, através de uma palavra, escrevessem suas expectativas sobre a disciplina, colocando estas palavras no Mural das Novidades (espaço na parede em que as correspondências entre os alunos são colocadas). Diariamente os discentes deveriam se corresponder com quem quisesse a partir das reflexões que a disciplina estava suscitando. Aos professores de Santa Inês-Ma pedimos que escrevessem dia após dia as memórias narrando de forma sucinta como estava se dando as nossas aulas para apresentarem no final da disciplina uma única memória. Para os professores de Imperatriz-Ma pedimos que escrevessem diários em um caderno. E dessa forma fomos trabalhando, pois precisaríamos nos situar se a relação entre eles a Matemática e o seu ensino estava se dando de modo produtivo, especulando passo a passo a prática de cada um. Segundo Powell e Bairral (2006), a escrita livre e os diários de aprendizagem, ou simplesmente diários, funcionam como importantes ferramentas de reflexão, e, notadamente, era esse o nosso objetivo: levar o professor a reflexão sobre sua prática, e partir daí traçar novas propostas de melhoria, e que de alguma forma a disciplina e os momentos que estávamos trabalhando, etapa por etapa, viessem ajudá-los. Observou-se que o trabalho em conjunto de forma colaborativa, a troca de experiências vividas, ajudaram a construir novas expectativas. Daí buscarmos trabalhar as atividades em sala, sempre em equipes, proporcionando uma interação que proporcionava a aprendizagem.
4 À medida que os professores escreviam, relatavam aquilo que estava ajudando-lhes para as ações pedagógicas futuras. Vimos que o uso da escrita contribuiu com todos, no sentido de verem de forma diferente os seus conflitos como professores da educação básica. APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS Estar em sala de aula e conviver com esses professores significou aprendizagem e uma troca de experiências, uma troca constante de saberes, e, sobretudo, um grande projeto de mudança na prática pedagógica dos mesmos. Suas falas nos diários refletem uma aprendizagem e aquisição de um novo saber docente, como seguem: (...) a cada dia que se passa eu vejo as coisas de uma outra forma, e, hoje, dos dias anteriores, foi o dia em que eu percebi a Matemática de outra maneira, uma forma lúdica de se trabalhar, de mostrar aos outros como é importante o lúdico na aprendizagem e entendimento. [...] Tudo isso me faz pensar e repensar sobre os métodos empregados pelas escolas e como cada indivíduo pode mudar essa concepção (...) Diário de 26/01/11. Esse aluno, num primeiro momento, manifestou para a professora a dificuldade de escrever, mas percebe-se a partir de sua reflexão uma mudança futura na prática pedagógica. (...) Como educadores matemáticos devemos contribuir para que todos os alunos possam ter acesso adequado ao conhecimento matemático, possibilitando-lhes a sua participação de forma efetiva na sociedade. Porém, para que isto efetivamente ocorra, é necessário modificarmos a imagem que a Matemática possui de funcionar como uma máquina seletora que determina quais os alunos irá concluir cada estágio escolar. (...). Díário de 28/01/11. Vemos nessa fala a veia política presente na aluna professora que revela uma das categorias qualificadora de um bom professor: a política (D AMBROSIO, 1996). (...) as aulas foram dinâmicas foi realizado estudo das teorias e fizemos a prática com a construção de jogos e um dos pontos que chamou minha atenção foi a união, solidariedade e afetividade da turma, um ajudando o outro. Em análise geral da disciplina estudada durante a semana o que mais gostei foi a escrita matemática, observei que se você fizer o mapa conceitual dos conteúdos a serem trabalhados e fazer o passo a passo na escrita com certeza aprende-se mais e ainda tu terás um material vivo de pesquisa, acredito que isto é o quebra de paradigmas, na Matemática. Em resumo foi produtivo esta semana e os jogos que realizamos, os estudos matemáticos, irão contribuir significativamente na minha prática pedagógica. Memória. A professora aluna chama a atenção para a solidariedade que trabalhos como esse promovem, bem como para a transformação da pratica pedagógica a partir da reflexão. Os resultados, como produção, estão citados em seus diários/memórias onde eles mesmos narram quando dizem que irão utilizar tudo que aprenderam e construíram em suas salas com seus alunos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O trabalho que realizamos com esses professores foi um projeto, uma experiência, pois partilhamos vivencias, angústia, de forma colaborativa em todo esse período, discutindo sobre as práticas em curso, fazendo reflexões de como esses professores deveriam se conduzir a partir de então no novo ano letivo que começava. Foi gratificante, não resta dúvida, pois plantamos uma semente do conhecimento e esperamos que todos eles sigam em frente buscando cada vez mais aprender. Acredito que a matemática para eles passou a ser vista de uma forma diferente, pois entraram em contato com resultados de pesquisas que a Educação Matemática atualmente oferece dentro do campo da pesquisa, da escrita, leitura e escrita em matemática. Acreditamos que deixamos plantada uma semente que motivará os professores a atuarem mais como professores pesquisadores. Sabemos que existem diferentes tipos de formação continuada promovidos pelos órgãos públicos de educação, assim como os particulares. Mas entendemos que uma formação inicial e/ou continuada em que se estabelece o vinculo entre o professor e as ferramentas metacognitivas de ensino, aprendizagem e avaliação pode oferecer muito mais elementos de melhoria da qualidade do processo ensino aprendizagem de Matemática atrelada a formaçaão de um professor crítico de sua própria prática. Cabe fazermos uma pesquisa para identificar como se dão essas formações continuada e apontar aquelas que mais contribuem para o aperfeiçoamento do professor como educador. REFERÊNCIAS CURI, E. Professores que ensinam Matemática: conhecimentos, crenças e práticas. São Paulo: Terracota, D AMBROSIO. U. Educação Matemática: da teoria à prática. 21ª ed. Campinas: Papirus, FIORENTINI, D.; CRISTOVÃO, E. M. Histórias e investigações de/em aulas de Matemática. Campinas-SP: Alinea, GONÇALVES, T. O. A constituição do formador de professores de Matemática: a prática formadora. Belém: CEJUP ED, KILPATRICK, J. Fincando estacas: uma tentativa de demarcar a Educação Matemática como campo profissional e científico. Zetetiké, Campinas, V.4, n.5, p , jan./jun LOPES, C. E.; CURI, E (Org.). Pesquisas em Educação Matemática: um encontro entre a teoria e a prática. São Carlos: Pedro e João Editores, MACIEL, D. M. Instrumentos Metacognitivos de Avaliação: uma ajuda efetiva à aprendizagem. In: Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, 2, 2008, Recife. Anais... Recife-Pe, MOREIRA, M. A.; BUCHWEITZ, B. Mapas conceituais: instrumentos didáticos, de avaliação e de análise de currículo. São Paulo: Moraes, NACARATO, A. M. A produção de saberes sobre a docência: quando licenciandos em matemática discutem e refletem sobre as experiências de professores em exercício. In: ROMANOWSKI, J. P.; MARTINS, P. L. O.;
6 JUNQUEIRA, S. R. A. (Orgs.). Conhecimento local e conhecimento universal: práticas sociais: aulas, saberes e políticas. Curitiba: Champagnat, PARATELI, C. A. et al. A escrita no processo de aprender matemática. In: FIORENTINI, D.; CRISTOVÃO, E. M. Histórias e investigações de/em aulas de Matemática. Campinas-SP: Alinea, POWER, A.;BAIRRAL, M. A escrita e o pensamento matemático: interações e potencialidades. Campinas: Papirus, ZEICHNER, Kenneth M. Para além da divisão entre professor-pesquisador e pesquisador acadêmico In: GERALDI, Corinta M.; FIORENTINI, Dario & PEREIRA, Elisabete M. (orgs.) Cartografia do trabalho docente: professor(a)- pesquisador(a). Campinas, Mercado de Letras?ABL, pp
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